Aspectos clínicos e terapêuticos da ceratite superficial

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XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP
Aspectos clínicos e terapêuticos da ceratite superficial crônica canina
Clinical and therapeutic aspects of chronic superficial keratitis canine
FILGUEIRA, K. D.1*; RODRIGUES, R. T. G. A.1; FERREIRA, M. B.1;
MEDEIROS, V. B.1; BEZERRA, J. A. B.1
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UFERSA
*e-mail: [email protected]
Palavras-chave: Canis familiaris, córnea, inflamação imunomediada.
Revisão da literatura
A ceratite superficial crônica (CSC), também denominada de pannus oftálmico ou
degenerativo, é uma inflamação do epitélio e estroma da córnea anterior, com infiltração
de plasmócitos e linfócitos, neovascularização, formação de tecido de granulação e
depósito de pigmento (HERRERA, 2008; LAUS, 2009). A CSC é progressiva e
bilateral, afetando principalmente a córnea de cães da raça Pastor Alemão, Pastor Belga
e seus cruzamentos e mestiços. A etiologia ainda não foi totalmente estabelecida, mas
equivale a uma enfermidade imunomediada e a luz ultravioleta, poeira e vento atuam
como fatores predisponentes. Clinicamente, é observado de forma bilateral, o
crescimento de tecido conectivo vascular subepitelial, que geralmente tem origem no
limbo esclerocorneal, no quadrante temporal inferior (HERRERA, 2008). O tempo de
progressão para a invasão do restante da córnea é variável e a cronicidade pode levar à
ausência visual por perda da transparência corneal (LAUS, 2009). Os animais afetados
não costumam apresentar desconforto ocular, pois não se trata de uma enfermidade
ulcerativa, não levando ao surgimento de dor (TURNER, 2010). Embora sem cura, há
controle clínico, através do uso de drogas imunossupressoras, como corticosteroides e
ciclosporina, e/ou tratamento cirúrgico, mas sem possibilidade de suspensão da terapia
pelo risco de recidivas intensas (GELATT et al., 2013). Em virtude do impacto da CSC
na qualidade de vida do paciente, objetivou-se descrever a enfermidade em um canídeo.
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Relato do caso
Um canino, macho, doze anos, Pastor Alemão, possuía lesão ocular com tempo de
evolução de dois meses. Na avaliação física, o animal demonstrou normalidade nos
parâmetros vitais. O exame oftalmológico revelou a presença de tecido vascularizado,
no quadrante temporal inferior de ambas as córneas. Baseado nos achados clínicos
estabeleceu-se diagnóstico de CSC. Como tratamento, prescreveu-se solução oftálmica
de prednisolona 1% (uma gota por olho, a cada seis horas) e posteriormente colírio de
ciclosporina 2% (uma gota por olho, a cada doze horas). Além disso, recomendou-se
evitar à exposição do cão a incidência solar. Após 45 dias do corticosteroide, o cão teve
remissão dos sinais e foi iniciada terapia de manutenção com a ciclosporina, até novas
recomendações, objetivando prevenir recidiva.
Discussão
A maioria dos cães afetados por CSC tem de três a seis anos de idade. Contudo alguns
são mais velhos, refletindo maior tempo dos fatores etiológicos no estímulo da doença
(LAUS, 2009). A idade do paciente em discussão cogitou a hipótese de contato
prolongado com os agentes causais. Geralmente, a doença é mais benigna em cães mais
velhos, necessitando de tratamentos menos intensivos para a obtenção do controle
(TURNER, 2010). Esse pode ter sido um fator prognóstico favorável para o caso
relatado, que apresentou uma boa resposta à terapia instituída. A CSC afeta
principalmente exemplares da raça Pastor Alemão e seus cruzamentos, estando o padrão
racial do canino em evidência em consonância com a literatura (HERRERA, 2008). A
etiologia não é totalmente conhecida, mas se sabe que é uma enfermidade
imunomediada, genética, em que se acredita que haja uma hipersensibilidade a proteínas
corneais induzida por fatores predisponentes, como luz ultravioleta, poeira e vento
(HERRERA, 2008; GELATT et al., 2013). Tal afirmação foi repassada para o tutor do
cão, assim como medidas preventivas para evitar o agravamento da afecção. A CSC é
caracterizada por invasão de tecido conjuntivo vascularizado. De ocorrência bilateral,
tende a se iniciar no canto temporal inferior da córnea e posteriormente invade os outros
quadrantes (LAUS, 2009). A sintomatologia do paciente sugeriu que a oftalmopatia
estava em fase incipiente. A apresentação clínica é suficiente para estabelecer o
diagnóstico. Deve-se distinguir a CSC de ceratite pigmentar, ceratoconjuntivite seca e
tecido de granulação cicatricial resultante de úlcera de córnea (GELATT et al., 2013). O
exame oftalmológico minucioso executado no animal em questão foi essencial para a
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exclusão dessas outras enfermidades e um correto diagnóstico definitivo. A terapia
inicial consiste no uso de corticoide oftálmico. A ciclosporina é efetiva no controle da
CSC (GELATT et al., 2013). Essa conduta foi extremamente satisfatória no caso
descrito. A terapia médica é a opção preferencial para os pacientes com CSC, porém,
aqueles animais que apresentam a doença em estágios mais avançados e possuem
dificuldade visual devido a grave pigmentação corneal, o tratamento cirúrgico é
recomendado, o que não foi o caso do animal relatado (HERRERA, 2008). O
prognóstico para a CSC é bom quanto à remissão dos sintomas e o controle da doença,
entretanto não possui cura, requerendo manejo durante o resto da vida do animal
(TURNER, 2010).
Considerações finais
Os médicos veterinários devem ser sensibilizados para a existência da CSC, para
estabelecer um diagnóstico precoce e correto controle terapêutico da oftalmopatia.
Referências
GELATT, K. N.; GILGER, B. C; KERN, T. J. Veterinary ophthalmology. 5.ed. Iowa:
Wiley-Blackwell, 2013. p. 2170.
HERRERA, D. Oftalmologia clínica em animais de companhia. São Paulo: Medvet,
2008. p. 300.
LAUS, J. L. Oftalmologia clínica e cirúrgica em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2009.
p. 230.
TURNER, S. M. Oftalmologia em pequenos animais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
p. 370.
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