RELATÓRIO DAS VIVÊNCIAS VER SUS OESTE DE INVERNO 2015 Vivente: Marilei Maria Kielb Facilitadora: IanKa Cristina Cellupi Data: 13 de julho de 2015. Local de vivência: HEMOSC. A partir do eixo Financiamento do SUS e relação Público Privado, construímos a pergunta norteadora do nosso grupo: “Os recursos arrecadados são suficientes para que a população tenha acesso a uma saúde de qualidade?”. Desta forma, elaboramos alguns critérios para observar a qualidade do serviço visitado, tais como: a estrutura do serviço, o quadro de funcionários, a existência de projetos e/ou ações desenvolvidas, o repasse dos recursos, o acesso à medicação pelos usuários, a humanização do serviço, o relacionamento da equipe de saúde, entre outros. Nossa primeira vivência ocorreu no hemocentro de Santa Catarina - HEMOSC – Unidade Chapecó. No referido local, foi possível conhecer a realidade deste serviço e o funcionamento do mesmo, que se resume sucessivamente em: cadastro, pré-triagem, entrevista, doação do sangue, processamento e fracionamento dos hemoderivados, etiquetagem e armazenamento. O grupo constatou que o financiamento do HEMOSC é oriundo de recursos do estado, que são repassados a uma Organização de Saúde denominada FAHECE – Fundação de Apoio ao Hemosc e Cepon. O grupo debateu sobre essa modalidade de administração e concluiu que essas fundações exigem um recurso maior das esferas. Sendo assim, se este capital fosse repassado primeiramente a um gestor público apto, haveria um menor desperdício dos recursos. Entretanto, nas circunstâncias atuais, é visível a deficiência na formação e qualificação de gestores. Acerca das particularidades da instituição, o grupo constatou as seguintes considerações: Local físico organizado; Estrutura física adequada; Equipamentos de qualidade; Transporte térreo próprio; Funcionários qualificados; Atendimento humanizado; Distribuição de medicamentos aos hemofílicos; Projetos de incentivo à doação de sangue e medula em escolas e empresas parceiras. A partir dos debates fomentados, surgiram questionamentos sobre os prós e contras da terceirização/privatização dos serviços de gestão em saúde. Apesar das boas condições de funcionamento do HEMOSC, nos indagamos até que ponto será viável aos cofres públicos a manutenção dessas empresas por meio da privatização. SEGUNDO DIA: No segundo dia de vivências no período matutino, visitamos o programa Saúde em Casa. Este é um projeto do ministério da saúde articulado com os municípios que possuem população superior a 70 mil habitantes, ficando a critério de cada município optar pela adesão. O principal objetivo do serviço é reabilitar o usuário em situação aguda de saúde (Ex: Acidente Vascular Cerebral, Traumatismo Craniano Encefálico, politraumatismos, dentre outros), capacitar o cuidador deste usuário e ainda disponibilizar os materiais necessários ao cuidado. O programa em Chapecó é executado por 3 equipes sendo cada uma composta por: enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, auxiliares de enfermagem, fonoaudiólogos e recebe apoio de uma nutricionista. A partir do relato da equipe, foi identificada a necessidade de psicólogos e assistentes sociais ingressarem à equipe multiprofissional. Isto se deve porque a família e o usuário precisam de amparo psicossocial neste tipo de situação de fragilidade. Para realizar as atividades programadas, as equipes contam com o auxílio de 2 carros. Entretanto, há apenas um motorista disponível para o programa, o que acaba inutilizando um destes transportes, causando prejuízo à operacionalização do programa. Outra característica do serviço é seu financiamento federal repassado diretamente ao município, sendo este o gestor deste recurso. Segundo o relato das profissionais, esta verba supre as necessidades de manutenção do serviço, bem como seus recursos materiais. Todavia, percebe-se a falta de mais profissionais para compor a equipe, assim como a implantação das especialidades acima referidas - psicologia e assistência social. Contudo, esta vivência nos proporcionou conhecer um programa que recentemente foi implantado e que possui grande relevância na reabilitação daqueles que usufruem deste serviço. Além disso, estas pessoas conseguem ter um cuidado domiciliar de maior qualidade e o processo de recuperação do paciente é agilizado. TERCEIRO DIA: O terceiro dia de vivência (15\07) no período matutino, nos reunimos com todos os viventes e debatemos sobre o plano de contingência dos municípios da região, devido ao atual momento de alagamentos no oeste de Santa Catarina. Já, na parte da tarde, nosso grupo visitou o Hospital Regional do Oeste (HRO) na cidade de Chapecó. O setor visitado foi o da oncologia, com o acompanhamento da Enfermeira Rafaela. Conhecemos a estrutura desta unidade, a qual possui cerca de 40 leitos, sendo 24 para administração de quimioterapia e 16 para tratamento clínico de pacientes oncológicos. Sendo assim, o grupo refletiu a partir dos relatos dos profissionais e da observação alguns pontos positivos e negativos do serviço prestado. São eles: POSITIVOS - estrutura organizada. - ambiente higienizado. - equipamentos adequados. - não há falta de medicações e materiais. - educação permanente e continuada aos profissionais. - projetos de educação em saúde realizados com a comunidade. NEGATIVOS - falta de profissionais. - falta de humanização no que diz respeito à privacidade dos pacientes. - baixa remuneração dos profissionais. - falta de algumas especialidades como Psicólogo e Nutricionista. - o serviço é médico-centrado tornando dependentes as outras profissões. O HRO é uma instituição gerida por uma associação filantrópica que recebe os recursos das 3 esferas bem como dos municípios menores da região que são referenciados para Chapecó. Além disso, observamos que esta associação sem fins lucrativos desempenha funções que não condizem com sua premissa de não visar lucros, tais como a existência do setor privativo, terceirização dos serviços de fisioterapia, banco de sangue e laboratório de análises clínicas. O setor privativo foi também visitado. Constatamos que a estrutura física vai de encontro ao programa de humanização quando se refere à ambiência respeitando a privacidade do usuário. Entretanto, o serviço prestado é desempenhado pelos mesmos profissionais que atuam pelo SUS e com a mesma forma no atendimento. QUARTO DIA: O local de vivência no turno matutino do dia 16 de julho foi a Clínica Renal do Oeste, em Chapecó. É uma instituição privada que presta serviços para o SUS (estimativa de 98%) cujo repasse vem por meio do Ministério da Saúde que recolhe os tributos do referido município e das cidades adjacentes. Além disso, a Clínica presta serviços de Hemodiálise, consultas médicas especializadas, encaminhamento de usuários na lista de espera estadual para transplantes e acompanhamento de transplantados. A Clínica possui excelente e ampla infra-estrutura, ambiente higienizado, equipamentos de tecnologia de ponta, equipe multiprofissional qualificada, suficiente para suprir as demandas e atendimento humanizado. Com isso, o grupo conseguiu ter uma perspectiva de que embora a terceirização gere maiores custos, ela garante um serviço de qualidade neste local. Entretanto, o grupo refletiu que a gestão em saúde e operacionalização implicam na qualidade do serviço. Outro ponto de reflexão foi que o Sistema não é falho, possuim uma boa estruturação de regimentos. No período vespertino, o grupo se dirigiu à Unidade de Acolhimento - Rede de Atenção Psicossocial. Ao adentrarem no local, os viventes foram recepcionados pela psicóloga X. Atualmente, a equipe profissional é composta por duas psicólogas, uma assistente social, técnicos e auxiliares de enfermagem. A Unidade de Acolhimento foi pensada como um "apêndice" (sic) ao CAPS AD III, cujo objetivo é a reinserção dos usuários e usuárias à sociedade e a restituição dos vínculos interpessoais e familiares. O serviço é mantido por subsídios federais repassados ao município. O local físico é alugado pela prefeitura e os funcionários são concursados pelo município. Além disso, existem outros dois serviços tercerizados, sendo estes: a higienização e a alimentação. A psicóloga relatou que as verbas seriam suficientes se fossem repassadas em sua totalidade. A Unidade representa um espaço importante no processo de reinserção desses usuários à sociedade. Também possibilita que os residentes formem laços afetivos uns com os outros. É oportunizado aos moradores o cuidado com a horta, bem como a divisão de tarefas domésticas. O ambiente é projetado de forma a se assemelhar a um lar, permitindo a sensação de acolhimento e pertencimento. Como pontos a melhorar, os viventes ressaltam a necessidade da adesão de um enfermeiro na composição da equipe multiprofissional a fim de coordenar o grupo de técnicos e auxiliares de enfermagem. Além deste ponto citado, o grupo também percebeu a necessidade de políticas públicas municipais a fim de concretizar a saída dos usuários da unidade citada após os seis meses previstos pela portaria. Há também a necessidade de maior explicitação das funções atribuídas na legislação às psicólogas e às assistentes sociais para que o serviço em questão não se reduza a apenas uma casa de passagem. RELATÓRIO FINAL: A partir do eixo Financiamento do SUS e relação Público Privado, construímos a pergunta norteadora do nosso grupo: “Os recursos arrecadados são suficientes para que a população tenha acesso a uma saúde de qualidade?”. Desta forma, elaboramos alguns critérios para observar a qualidade do serviço visitado, tais como: a estrutura do serviço, o quadro de funcionários, a existência de projetos e/ou ações desenvolvidas, o repasse dos recursos, o acesso à medicação pelos usuários, a humanização do serviço, o relacionamento da equipe de saúde, entre outros. O grupo debateu sobre as modalidades administrativas dos serviços, e percebeu que são poucos os locais visitados adeptos a uma gestão pública, sendo majoritariamente desempenhado por associações filantrópicas e empresas terceirizadas. O repasse para os gestores que não são públicos exigem um recurso maior das esferas, o que não ocorreria caso estes fossem repassados diretamente aos serviços de saúde. Outro fato constatado foi que determinadas associações denominadas “sem fins lucrativos” desempenham funções que não condizem com a premissa de não visar lucros, fortalecendo um pequeno grupo de empresários em detrimento do desempenho dos serviços. Contudo, por meio das visitas realizadas percebemos aspectos positivos nos serviços terceirizados, o que fomentou a seguinte discussão: Apesar da terceirização envolver maiores custos ao governo, os serviços que se utilizam dessa modalidade aparentemente apresentam uma melhor estruturação física e prestação qualificada de serviço. Todavia, tal afirmação levou o grupo a fomentar outra reflexão: Porque alguns serviços também terceirizados/privatizados apresentam as mesmas dificuldades dos públicos? E como alguns serviços públicos são de excelência? Atribuímos esta questão à deficiência e má formação de gestores comprometidos com setor público. Concebemos a saúde enquanto bem comum de to do o povo, sendo dever do Estado honrar com a boa prestação desses serviços à população. O Sistema não é falho, pois suas postulações possuem uma boa estruturação de regimentos e articulação entre os setores. Todavia, nem sempre o que está preconizado nas portarias e legislações é cumprido pelos gestores, profissionais e usuários resultando na ineficiência do serviço. Além do que se compete realizar no âmbito gerencial, profissional e popular, torna-se imperativo um reajuste na distribuição da renda da União destinada aos municípios para a saúde a fim de potencializar a rede de serviço, proporcionando a atenção à saúde integral e humanizada como está instituído legalmente.