do Arquivo

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MELQUISEDEQUE DE ANDRADE PESSOA
UROLOGIA FELINA
URETROPLASTIA FUNCIONAL EM GATOS:
REVISÃO DE LITERATURA
RECIFE - 2008
1
Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e
catalogação da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA
P475u Pessoa, Melquisedeque de Andrade.
Urologia felina, uretroplastia funcional em gatos: revisão
de literatura / Melquisedeque de Andrade Pessoa. -- Mossoró:
2008.
36f. il.
Monografia (Especialização em Clínica Médica e Cirurgia
de Pequenos Animais) – Universidade Federal Rural do SemiÁrido/EQUALIS- PE.
Orientadora: Prof.ª M .Sc. Rosileide dos Santos Carneiro.
1. Felinos. 2. Urologia. 3. Uretroplastia. I.Título.
CDD: 636.8
Bibliotecária: Margareth M. Figueiredo Dias Furtado
CRB/4 - 1446
2
MELQUISEDEQUE DE ANDRADE PESSOA
UROLOGIA FELINA
URETROPLASTIA FUNCIONAL EM GATOS:
REVISÃO DE LITERATURA
Monografia apresentada à Universidade
Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA,
como parte das exigências para a obtenção
do título de Especialização em Clínica
Médica de Pequenos Animais
Orientador: M.Sc. Rosileide dos Santos
Carneiro – Medica Veterinária do
HVUFCG-Paraiba.
RECIFE - 2008
3
MELQUISEDEQUE DE ANDRADE PESSOA
UROLOGIA FELINA
URETROPLASTIA FUNCIONAL EM GATOS:
REVISÃO DE LITERATURA
Monografia apresentada à Universidade
Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA,
como parte das exigências para a obtenção
do título de Especialização em Clínica
Médica de Pequenos Animais
Orientador: M.Sc. Rosileide dos Santos
Carneiro – Medica Veterinária do
HVUFCG-Paraiba.
Aprovada em: ____/ ____/ _____
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. M.Sc.Otavio Pedro Neto (EQUALIS)
Presidente
______________________________________
Prof. M.Sc.Wirton Otavio Pedro Neto (UFERSA)
Primeiro Membro
______________________________
Prof. D.Sc. Eraldo Barbosa Calado (UFERSA)
Segundo Membro
RECIFE - 2008
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos que acreditaram na realização deste sonho,
inclusive aqueles que mesmo não estando mais fisicamente ao meu lado,
continuam, de longe, torcendo pela minha realização.
5
AGRADECIMENTOS
À toda equipe EQUALIS, pela realização deste curso, tão valoroso e que
tanto contribuiu para o meu crescimento pessoal e profissional.
6
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE SIGLAS
1. INTRODUÇÃO
10
2. REVISÃO DE LITERATURA
11
2.1. Considerações anatômicas
11
2.2. Fisiologia da micção
12
2.3. Etiologia e fisiopatologia
13
2.4. Diagnóstico
16
2.5. Tratamento clínico
18
2.6. Tratamento cirúrgico
21
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
27
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
28
APÊNDICE
31
7
RESUMO
Os gatos machos possuem anatomicamente uma predisposição para o desenvolvimento
de obstruções do trato urinário inferior, fato este proporcionado pela brusca diminuição
no diâmetro luminal da uretra peniana. Os principais fatores que podem levar ao
desenvolvimento das obstruções do trato urinário inferior são: tampões uretrais,
neoplasias vesicais, uretrais ou prostáticas, lacerações e esmagamentos penianos,
anormalidades anatômicas, estenoses uretrais induzidas por sondagens inadequadas,
distúrbios neurológicos (disfunção do neurônio motor inferior, dissinergia reflexa,
atonia vesical e cistite intersticial onde esta ultima ainda sem esclarecimentos
adequados sobre sua fisiopatologia), além da hiperplasia granulomatosa uretral. Esta
revisão permitira distinguir as principais causas de obstruções do trato urinário inferior
de gatos machos e as indicações para o tratamento cirúrgico.
Palavras chaves: Urologia, Felino, Uretroplastia, Obstruções.
8
ABSTRACT
The male cats have anatomically a predisposition to the development of obstructions of
the lower urinary tract, a fact that provided by the sudden decrease in luminal diameter
of the urethra peniana. The main factor that can lead the development of the
obstructions of the lower urinary tract is: urethral plugs, neoplasms bladder, urethral and
prostate, lacerations and penianos, anatomical abnormalities, urethral strictures induced
by polls inadequate, neurological disorders (lower motor neuron dysfunction,
dissinergia reflex, atonia interstitial cystitis and bladder where it last we have adequate
information about its pathophysiology), in addition to urethral granulomatous
hyperplasia. This review would distinguish the main causes of obstruction of the urinary
tract and male cats bottom of the indications for surgical treatament.
.
Key words: Urologyc, Feline, Uretroplastic, Obstruction.
9
LISTA DE SIGLAS
BID – duas vezes ao dia.
GAGs – glicosaminoglicanos.
HPO – hidróxido de fósforo.
Kg – kilograma.
IV – intravenoso.
L 1 – primeira vértebra lombar.
L 4 – quarta vértebra lombar.
mEq – miliequivalente.
Mg – magnésio.
NaCl – cloreto de sódio.
NH – nitrito.
SID – uma vez ao dia.
SNC – sistema nervoso central
S 1 – primeira vértebra sacral
S 3 – terceira vértebra sacral
TID – três vezes ao dia
Vit – vitamina
10
1.
INTRODUÇÃO
Os gatos machos possuem anatomicamente uma predisposição para o
desenvolvimento de obstruções do trato urinário inferior, principalmente aquelas
induzidas por urólitos e tampões uretrais, fato este proporcionado pela brusca
diminuição no diâmetro luminal e da elasticidade da uretra peniana (CORGOZINHO,
2003).
Outros fatores que podem levar o desenvolvimento das obstruções do trato
urinário inferior são: desenvolvimento de neoplasias vesicais, uretrais ou prostáticas,
lacerações e esmagamentos penianos, anormalidades anatômicas, estenoses uretrais
induzidas por sondagens inadequadas, distúrbios neurológicos (disfunção do neurônio
motor inferior, dissinergia reflexa, atonia vesical e cistite intersticial onde esta ultima
não temos esclarecimentos adequados sobre sua fisiopatologia), além da hiperplasia
granulomatosa uretral.
Quase 1% de todos os casos clínicos que dão entrada nos hospitais e clínicas
veterinárias de todo o mundo são de gatos apresentando quadro clínico de obstrução
uretral. Os principais dados e características destes pacientes são: gato macho, castrado,
obeso, com idade variando entre 2 a 6 anos, alimentado principalmente por ração
peletizada desidratada e que vive exclusivamente dentro de casa e tem caixa de
necessidades fisiológicas (BOOVEE, 1996; CORGOZINHO, 2003; DIBARTOLA,
1998; HOSGOOD, 1992; JUNIOR, 1993; NELSON, 1994; OSBORNE, 1997; SOUZA,
2008). Apesar de a maioria possuir estas características, nenhuma delas é incriminada
como fator desencadeante. Os fatores incriminados como co-adjuvantes no
desenvolvimento de tampões e urólitos são o pH urinário superacidificado ou alcalino,
cistite séptica ou asséptica, persistência de úraco ou existência de microorganismos
produtores de uréase, além de dietas ricas em cálcio, magnésio, aminoácidos e purinas,
e neoplasias uretrais e vesicais (BOOVEE, 1996; NELSON, 1994; OSBORNE, 1997),
além de distúrbios neurológicos.
As obstruções uretrais promovem disfunções metabólicas graves, pondo
em risco a vida ou trazendo lesões permanentes ao paciente. Estas disfunções são
ocasionadas
pela
azotemia
pós-renal,
ocasionando
disfunções
nos
sistemas
cardiovascular, respiratório, renal e nervoso.
Quase 50% dos animais que desenvolvem obstruções uretrais induzidas
por urólitos e tampões tem recidiva em um período de mais ou menos 6 meses, após a
11
primeira obstrução (OLIVEIRA, 1999). Nestes casos a terapia mais comumente
utilizada é a indicação cirúrgica utilizando a técnica de uretrostomia perineal com
peniectomia, descrita por Wilson e Harrison, e suas modificações (DIBARTOLA, 1998;
HOSGOOD, 1992; HOSGOOD, 1996; OLIVEIRA, 1999), onde sugerimos neste texto
uma nova denominação para tal procedimento denominando-o de uretroplastia
funcional.
Esta revisão permitira distinguir as principais causas de obstruções do
trato urinário inferior de gatos machos e as indicações para o tratamento cirúrgico.
12
2.
REVISÃO BIBLIOGRAFICA
2.1
CONSIDERAÇÕES ANATOMICAS DO TRATO URINARIO INFERIOR
O trato urinário inferior dos gatos machos é basicamente constituído por 2
órgãos: A bexiga (órgão armazenador de urina); e a uretra (órgão que condiciona a
eliminação da urina). A bexiga também é denominada de vesícula urinária constituindose em um órgão oco, de localização, forma, tamanho e posição variável, dependendo
diretamente da quantidade de urina armazenada (CHHRISTIE, 1998; LAING, 1999;
SOSON, 1998). Quando cheia a bexiga move-se cranialmente, localizando-se ao longo
do assoalho do abdômen podendo chegar á cicatrização umbilical, alongando-se na
borda anterior do púbis. Este órgão é dividido em corpo, ápice, superfície ventral e
dorsal, porção proximal da uretra, e colo vesical (CHHRISTIE, 1998; LAING, 1999;
SOSON, 1998). É constituída por uma série de feixes de fibras musculares lisas e
interdigitantes, onde coletivamente forma o músculo detrusor (FENNER, 1996;
LAING, 1999; WALDRON, 1998), que só irá ter funcionamento com três semanas de
vida (FENNER, 1996). A inervação da vesícula urinária é promovida pelos nervos
hipogástrico, pélvico e pudendo realizando as funções autônomas, somáticas, e
parassimpáticas. A irrigação sangüínea deste órgão é realizada pelos ramos arteriais
vesico caudal e cranial, originados da artéria pudenda interna e o escoamento sangüíneo
feito pela veia prostática. A bexiga é revestida por peritônio, que a protege em
determinadas ocasiões (FENNER, 1996; LAING, 1999). A uretra é um órgão tubular
oco que vai desde a bexiga até o meato uretral externo. Nos felinos machos é constituída
por 4 segmentos: uretra pré-prostática, prostática, pós-prostática e peniana (BOJRAB,
1995; CHHRISTIE, 1998; HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; SMITH, 1989;
SMITH, 1991; WILSON, 1991), onde cada segmento possuindo diversificações quanto
a sua musculatura, inervação, localização e principalmente o diâmetro.
A uretra pré-prostática ou colo alongado da bexiga se origina no colo
vesical e vai até a próstata tendo um comprimento variando de 3 a 4 cm. A porção distal
deste segmento possui feixes de fibras musculares originados da musculatura detrusora,
sendo estes classificados como músculos estriados, que quando estimulados
simpaticamente exercem função constritora e relaxa quando influenciada pela ação
parassimpática. O seu diâmetro interno varia em 2,4mm, na maioria dos gatos machos.
A uretra pré-prostática ao longo do seu comprimento possui um diâmetro mais reduzido
variando em 2,0mm. A uretra prostática é constituída por músculo liso, sofrendo ação
nervosa dos nervos pélvicos, tendo um diâmetro de 2,3mm. Na altura das glândulas
13
bulbouretrais o diâmetro cai para 1,3mm, afunilando-se drasticamente para 0,7mm na
uretra peniana (CORGOZINHO, 2003; BOJRAB, 1995; CHHRISTIE, 1998;
HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; SMITH, 1989; SMITH, 1991; WILSON, 1991).
Estes dois últimos segmentos são inervados pelo nervo pudendo que exerce função
somática no processo da micção. A musculatura desta uretra é constituída por músculo
estriado esquelético. O pênis tem sua sustentação muscular proporcionada pelos
músculos isquiocavernosos, músculo pilar do pênis e ligamento peniano, além da
estrutura vaginal do pênis, todas estas estruturas se fixam nos ossos pélvicos (BOJRAB,
1995; SMITIH, 1998; WILSON, 1991).
2.2.
FISIOLOGIA DA MICÇÃO
A micção é um ato reflexo proporcionado por uma interação complexa e
não totalmente elucidada, onde diferentes autores propõem uma complementação ou
diferenciação do mecanismo proposto por Guyton em 1900 (FENNER, 1996).
Este processo é dividido em duas fases: A primeira consiste na fase de
armazenamento e a segunda na fase, de eliminação da urina. Na primeira fase a
musculatura vesical detrusora encontra-se relaxada por influência direta da ação
simpática do nervo hipogástrico ( -adrenérgica), que ainda realiza função constrictora
no esfíncter do colo vesical, promovendo um armazenamento urinário. Quando a bexiga
encontra-se altamente distendida, receptores enviam impulsos para o SNC que responde
bloqueando a ação simpática, ativando a ação parassimpática promovendo contração da
musculatura detrusora e relaxamento autônomo do esfíncter do colo vesical, dando
passagem inicial à urina, que só consegue ser expelida quando a pressão excede a
pressão somática exercida pelo esfíncter uretral externo, proporcionada pelo nervo
pudendo.
Gatinhos com 3 meses de idade são insensíveis ao reflexo detrusor, e sua
micção parece ser realizada por um reflexo somatovesical, isto sendo evidenciado
somente por cistometrograma (FENNER, 1996).
2.3
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
As obstruções do trato urinário inferior afetam de forma significativa os
gatos machos. A causa mais comum do problema é a formação de urólitos ou tampões
14
uretrais. Outras causas são as neoplasias uretrais, vesicais e prostáticas, estenose uretral
induzida por sondagem inadequada ou por Uretroplastia funcional com falha na técnica
cirúrgica, laceração ou esmagamento peniano, anormalidades anatômicas e disfunções
neurológicas (Distúrbios do neurônio motor inferior, dissinergia reflexa, atonia vesical e
cistite intersticial onde esta ultima não têm esclarecimentos adequados sobre sua
fisiopatologia).
Obstruções uretrais induzidas por urólitos ou tampões podem ter etiologias
diferentes, pois o conteúdo e a formação dos mesmos variam. Os urólitos e tampões
mais comumente encontrados nas obstruções uretrais em gatos machos são os de
estruvita, recebendo o primeiro lugar com 60% de todos os urólitos naturalmente
ocorrentes em uma pesquisa realizada em 1993, pela Universidade de Minnesota por
médicos veterinários americanos e canadenses. Em relação a outras pesquisas realizadas
em anos anteriores, estes urólitos tiveram uma queda de 20% em relação a 1989 e de
30% em relação à pesquisa de 1983. Em relação aos tampões uretrais, de 100% de todos
os tampões, 78% eram basicamente compostos por estruvita, tendo um decréscimo de
12% em relação a 1989 e de 16% a pesquisa realizada em 1984 (OSBORNE, [199-?]).
Estes decréscimos na produção de urólitos e tampões de estruvita é atribuída
principalmente a reformulação das rações comerciais quanto à concentração de
magnésio, que acredita-se ser principal mineral indutor para a formação deste urólito e
tampão (OSBORNE, 1997).
Pesquisas realizadas na década de 70 referem concentrações médias de
magnésio na dieta alimentar de 0,03 a 0,15 em peso seco nas rações enlatadas; 0,07 a
0,16% de peso seco nas rações semi-solidas e de 0,15 a 0,16% de peso seco nas rações
desidratadas (OSBORNE, 1997).
Para a formação de um tampão ou urólito são praticamente obrigatórias duas
fases: formação de ninho/núcleo do cristal e crescimento do urólito ou tampão. A
formação de um urólito ou um tampão não esta totalmente esclarecida, mas para cada
tipo de urólito ou tampão uma teoria é proposta - Teoria da precipitação e cristalização;
Teoria da nucleação pela matriz; Teoria da inibição da cristalinização (OSBORNE,
1996; OSBORNE, 1997), e para o desenvolvimento também varias teorias são
propostas - Crescimento cristalino; Crescimento epitaxial; Agregação cristalina e
Crescimento versus Tempo (OSBORNE, 1996; OSBORNE, 1997), contudo para que
um urólito se desenvolva e cresça é preciso que o material tenha capacidade de
permanecer no lúmen da via excretora do sistema urinário, do grau e da duração da
15
hipersaturação da urina com cristalóides idênticos ou diferentes dos cristalóides do
núcleo e as características físicas do núcleo do cristal (OSBORNE, 1996).
Para que ocorra a formação do urólito ou tampão de estruvita, é preciso que
varias condições ocorram: pH urinário alcalino, hipersaturação de Mg na urina,
bactérias produtoras de uréase e todos os outros fatores que contribuam para favorecer
estas condições como: Neoplasias uretrais, vesicais e prostáticas, infecções uretrais ou
vesicais, divertículos vesico uracais, persistência de úraco, atonia vesical, distúrbio do
neurônio motor inferior, dieta rica em Mg, ou outras substâncias alcalinizantes
(BOVEE, 1996; NELSON, 1994; OSBORNE, 1996; OSBORNE, 1997).
Com alta concentração de Mg na urina, pH urinário alcalino e produção
elevada de uréase promovida por S. áureos, Micoplasmas e Ureaplasmas, a agregação
deste material fica facilitada. Isto é proporcionada pela maior concentração de HPO (BELONE, 2002) que libera um próton que se combina com o Mg e o NH para a
formação da estruvita (DIBARTOLA, 1998).
Os urólitos de estruvita possuem varias classificações, sendo dividos em: 1.
Urólito estéril ou asséptico de estruvita de ocorrência natural (Urólitos que possuem
maior quantidade de substância mineral ou cristalóide, não estão insento em sua matriz
de bactérias e isto é verificado através de cultura bacteriana, microscópia óptica, ou
eletrônica. Este tipo de urólito tem sua formação incriminada por: aumento do pH
urinário acima de 6,5 (OSBORNE, 1996; OSBORNE, 1997), ocorrendo quando
encontramos altas concentrações de magnésio na urina; obesidade relacionada ao
aumento da ingestão de alimento e conseqüentemente o aumento da ingestão magnésio;
diminuição da ingestão de água ocorrendo um desvio no organismo para a lubrificação
do bolo fecal, e isto ocorre principalmente em animais que tem dieta alimentar a base de
ração desidratada,; outra causa ainda incriminada são as inflamações assépticas da
bexiga); 2. Urólitos induzidos por infecção naturalmente ocorrente (este tipo de urólito
possui maior quantidade de matriz, constituída principalmente de células inflamatórias e
bactérias presentes na urina. São produzidos principalmente, por que as bactérias
produtoras de uréase alcalinizam a urina e ao mesmo tempo fornecem quantidades
adequadas de matriz para a formação do urólito. Os microorganismos hidrolisam a uréia
fazendo com que altas quantidades de amônia e íons fosfatos estejam presentes,
aumentando assim as condições para a agregação do magnésio (OSBORNE, 1996;
OSBORNE, 1997). Além disto, a matriz firmada por células inflamatórias exerce uma
função de gel agregando o material cristalóide com maior facilidade); e 3. Tampões
16
uretrais (estes são formados com quantidades iguais de matriz e substância cristalóide, o
desenvolvimento é promovido por qualquer quebra da homeostase do sistema urinário).
As neoplasias uretrais, vesicais e prostáticas, divertículos vesicouracais, persistência de
úraco, cateterizações prolongadas, estenoses uretrais por sondagens e uretrostomias
perineais inadequadas, distúrbios neurológicos, cistites sépticas e assépticas, defeitos
anatômicos e hiperplasia granulomatosa uretral são fatores que contribuem para o
desenvolvimento dos urólitos e tampões de estruvita por afetarem o processo fisiológico
normal da micção e por quebrarem a defesa normal do trato urinário inferior.
Outros tipos de urólitos que acometem os felinos são os de oxalato de cálcio
(formados principalmente por pH ácido, altas concentrações de cálcio na dieta e baixas
concentrações de magnésio na urina), os de cistina (formados por altas quantidades de
aminoácidos na dieta) e os de urato de amônia e ácido úrico (formados por altas
quantidades de purinas na alimentação).
As outras causas de obstruções do trato urinário inferior dos gatos machos
são as neoplasias vesicais (o mais comum são os carcinomas das células transicionais,
de células escamosas e os adenocarcinomas. Outros tipos de neoplasias vesicais
constituem
em
fibroma,
fibrossarcoma,
leiomioma,
leiomiossarcoma,
rabdomiossarcoma, mixossarcoma, papiloma, hemagioma, carcinoma epidermóide e
linfoma), este tipo de obstrução pode ser de forma aguda, crônica, podendo ainda se
apresentar de forma parcial ou completa. O carcinoma de células transicionais e o
carcinoma epidermóide, podem ser encontrados mais comumente nas neoplasias uretrais
(HAMER, 1997; JOHNSTON, 1998; LAING, 1999). Obstruções do trato urinário
inferior dos gatos machos podem ser causadas também por uretrites principalmente
aquelas induzidas por infiltração granulomatosa, estenoses uretrais (BOJRAB, 1995;
DIBARTOLA, 1998; GRIFFIN, 1989; HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; SMITH,
1991; WILSON, 1991).
Devido a uma quebra na homeostase, quaisquer uns dos fatores que levam a
estes distúrbios podem promover o desenvolvimento do outro, como por exemplo: a
distensão exarcebada da bexiga que pode levar a uma atonia vesical, ou uma obstrução
uretral por dissinergia reflexa leva a altas quantidades de substancias cristalóides,
facilitando a formação de urólitos e tampões.
O mais novo distúrbio encontrado que induz a obstrução uretral em gatos
machos é a cistite intersticial dos felinos. Acredita-se que este distúrbio tenha sua
origem no sistema neurológico e uma baixa produção de glicosaminolicanos (GAGs).
17
Em pesquisas realizadas foram encontrado um excesso de fibras nervosas sensoriais do
sistema nervoso simpático que regula fisiologicamente o relaxamento da musculatura
detrusora vesical, havendo um excesso da fase de relaxamento juntamente com a
diminuição na produção das (GAGs) que realizam a proteção da vesical (JUNIOR
2003). Com a ocorrência destes fatores tem-se um ambiente extremamente propicio para
a ocorrência de hemorragias intraluminais, com formação secundaria de tampões
hemáticos e a promoção das obstruções uretrais.
2.4
DIAGNÓSTICO
Durante o exame clinico, o medico veterinário deverá investigar durante a
anamnese todo o histórico do animal indagando o proprietário, com um rol de perguntas
guiadas para a diferenciação de vários distúrbios clínicos do trato urinário inferior.
Nestas perguntas é importante investigar (letargias, convulsões, vômitos, apatia, se o
paciente está urinando ou não, qual a cor da urina, freqüência, quantidade, se sente dor
durante o processo de micção, há quanto tempo esta exibindo estes sintomas, se levou
alguma pancada, se estar se locomovendo normalmente ou apresenta claudicação, se
está cansando facilmente, o qual alimentação, se o mesmo é castrado e se esta ingerindo
água se vive mais tempo fora de casa). Com estas informações o clínico poderá se guiar
para a realização de um diagnóstico uma vez que os proprietários chegam aos hospitais
e clínicas veterinárias referindo envenenado e em muitos casos o animal é portador de
azotemia pós-renal, como também podem ser apresentados com histórico de portador de
síndrome urológica felina, e posteriormente com a realização de exames
complementares constatar um caso de neoplasia vesical ou outra doença.
Devido a complexidade diagnóstica deve-se proceder um exame físico
completo, onde o clínico deverá avaliar o estado geral do animal observando
(hidratação, coloração das mucosas, nível de consciência, T 0C, freqüência e
funcionamento cardíacovascular e respiratório), esses parâmetros são importantíssimos
para a estabilização do paciente quando preciso, pois a maior parte dos pacientes
portadores
de
obstrução
uretral
apresentam-se
hipercalêmicos,
hipotérmicos,
desidratados, acidóticos com bradicardia e arritmias, taquipnéicos e dispnéicos, e em
muitos dos casos devemos inicialmente prestar pronto atendimento realizando o ABC
18
emergencial (CORCOZINHO; 2003 SOARES; 2005), para depois realizarmos a
anamnese e exame físico acurado.
Durante o exame físico deve-se investigar como se apresenta a bexiga
analisando o seu tamanho, consistência, posição, e conformação (massas em sua
superfície ou saculações), se existem a presença de urólitos de tamanho considerável no
órgão. Se for realmente incriminado obstrução do fluxo urinário o clinico então deverá
investigar o pênis tentando evidenciar a presença de urólitos, tampões, massas tumorais,
estenoses uretrais ou esmagamento peniano. Se nada for evidenciado o clinico então
deverá-se realizar exame neurológico completo para confirmar ou descartar lesões na
medula espinhal a nível de L1 e L4 indo até S1 a S3. Se a suspeita clinica for uma
ruptura vesical o exame ortopédico dos ossos pélvicos, deve ser realizado, pois fraturas
púbicas induzem secundariamente a ruptura vesical, outro procedimento utilizado nessa
suspeita é a sondagem vesical para a confirmação do diagnóstico. Estudos radiográficos
simples e contratados devem ser realizados em qualquer tipo de obstrução uretral, pois
ele pode ser de grande valia para a confirmação e descarte das diversas causas.
Exames laboratoriais devem ser requisitados, a urinálise é imprescindível
para a verificação de alguma lesão renal, presença de inflamação ou infecção vesical
que nestes casos o paciente não tem indicação para o procedimento cirúrgico e sim
tratamento clínico, como também a identificação do tipo do possível urólito ou tampão
uretral. Uroculturas e antibiogramas auxiliam na identificação de possíveis
microorganismos envolvidos no processo, ajudando diretamente na escolha do
antibiótico de eleição. Hemogramas são requisitados para a verificação de toxemias,
septicemias e o grau de infecção vesical ou uretral presente no processo patológico. A
bioquímica sérica é de extrema importância para avaliação da função renal, hepática e o
desequilíbrio hídrico eletrolítico e ácido-básico.
Eletrocardiograma está indicado, para que seja avaliado o grau de toxicidade
que a hipercalêmia esta causando ao músculo cardíaco. Neste exame verifica-se as
ondas cardíacas P,Q,R,S e T (DIBARTOLA, 1998; NELSON, 1994; OSBORNE,
1997), onde seus picos e intervalos deveram ser minuciosamente examinados, em
busca de parada atrial, bradicardia sinusal, fribrilação atrial ou ventricular
(CORCOZINHO; 2003 SOARES; 2005).
Em casos de obstrução uretral induzida por uropatia obstrutiva parcial,
neoplasia obstrutiva parcial, cistite séptica ou asséptica, o paciente apresenta-se com
quadro de hematúria, disúria, polaciúria ou estrangúria, sensibilidade a palpação
19
abdominal, bexiga urinária repleta, quadro de acidose metabólica hipercalêmica,
desidratação variável e em muitas vezes apresentando vômitos, hipotermia, sinais de
infecção sistêmica, convulsões e estupor (DIBARTOLA, 1998).
2.5
TRATAMENTO CLÍNICO
O clínico ao se deparar com um quadro de obstrução uretral deve tomar
algumas providências onde a primeira de todas, é promover o restabelecimento do
paciente instituindo o ABC de emergência, seguindo-se para a desobstrução ou
drenagem da urina, através de vários procedimentos existentes como massagem peniana
com compressão vesical, sondagem uretral através de sonda flexível ou rígida,
cistocentese ou até mesmo implantação de uma sonda de Foley. Diante de uma
obstrução uretral induzida por urólito ou tampões uretral ou por qualquer outro fator, a
primeira manobra a ser executada é a compressão vesical com massagem peniana, onde
em casos de obstrução uretral induzida por urólitos ou tampões esta medida é quase
sempre bem sucedida, já nas outras causas etiológicas de obstrução uretral esta manobra
apresenta um insucesso quase que certo. Alguns autores recomendam que, com o
insucesso da primeira manobra o próximo passo é a realização de cistocentese, mas esta
manobra pode ser perigosa, pois um extravasamento de urina por menor que seja na
cavidade abdominal poderá levar a ocorrência de uma peritonite séptica, sem contar que
este procedimento pode acarretar em uma ruptura vesical (JUNIOR, 1993; LAING,
1999; OSBORNE, 1997; SOUZA, 2000), agravando o quadro do paciente, mais esta
conseqüência dificilmente ocorre e na maioria dos pacientes e esta manobra traz
benefícios facilitando fisicamente a desobstrução uretral. A realização de sondagem
uretral com sonda flexível ou rígida está indicada após a realização da compressão
vesical e massagem peniana mal sucedida, este procedimento tem várias vantagens,
pois, durante o mesmo é possível realizar manobras alternativas como hidropropulsão
para o retorno dos urólitos para a bexiga ou jateamento direto nos urólitos e tampões
uretrais (DIBARTOLA, 1998; JUNIOR, 1993; OSBORNE, 1997; SOUZA, 2000),
causando dissolução destes. Durante a sondagem devemos dar preferências para a
utilização de sondas flexíveis produzidas com polivinil ao invés de polipropileno, pois
estas sondas apresentam uma maior flexibilidade e um menor poder de reação tecidual,
diminuindo assim o traumatismo uretral. Estes dois últimos procedimentos são
realizados com solução fisiológica NaCl 0,9% ou solução de ringer com lactato. Se com
20
a realização destas manobras não foi possível a desobstrução uretral o paciente deverá
ser encaminhado para a realização de radiografias simples a contrastadas, para a
identificação do local exato da obstrução.
Após o estabelecimento de uma via de drenagem da urina, uma lavagem
vesical deve ser realizada para a remoção de todos os debris e secreções presentes na
bexiga, esta lavagem só deverá ser interrompida quando o lavado apresentar uma
coloração límpida, e sem a apresentação de nenhum material sólido. A fluidoterapia é
imediatamente iniciada após a desobstrução, para a correção dos distúrbios hidroeletroliticos e ácido-básico utilizando soluções que convertam este quadro. Como quase
todos os animais apresentam-se com um quadro de acidose metabólica hipercalêmica as
soluções mais indicadas para este quadro é a administração de NaCl 0,45% com
dextrose a 2,5% ou ringer com lactato na infusão 50 a 60ml/Kg/hora/IV, onde estas
dosagens não desenvolveram nenhum quadro de edema pulmonar (DIBARTOLA,
1998; SOUZA, 2008), repondo rapidamente a volemia. A administração de bicarbonato
de sódio em dose reduzida de 1 a 2 mEq/Kg esta indicada para a correção do distúrbio
ácido-básico , pois o bicarbonato se liga aos ácidos promovendo um pH alcalino no
meio extracelular promovendo um influxo de potássio para o interior celular, outras
duas associações que podem ser administradas são insulina regular na dose de 1
unidade/Kg/IV para cada 2g de glicose, promovendo um influxo de potássio. A outra
droga que pode ser administrada é o gluconato de cálcio de 2 a 10ml a 10% por via
intra-venosa, esta administração deve ser cuidadosa pois induz a calcificação dos
tecidos moles principalmente os rins em casos de hiperfosfatemia, de forma que sua
concentração sérica deverá ser determinada antes da administração do cálcio
(DIBARTOLA, 1998).
Quando encontramos um paciente apresentando um quadro de hipotermia
este deverá ser devidamente aquecido tomando cuidados desde o aquecimento da
solução a ser administrada por via intravenosa, como a utilização de bolsas de
compressa ou garrafas pet de refrigerante com água devidamente aquecida colchões
aquecedores elétricos ou ededrons, para proporcionar um aumento da temperatura.
Antibióticoterapia deve ser realizada após o resultado da urinalise e se o
diagnóstico for de cistite séptica, em caso contrario devemos evitar. Devemos utilizar
sempre antibióticos de amplo espectro (Amoxicilina 11 a 20mg/Kg tid ou
bid/IM/SC/VO; Amoxicilina com ácido clavulônico 12,5 a 25mg/Kg/bid/VO ou
8,75mg/Kg/bid/IM/SC;
Ampicilina
10
a
20mg/Kg/bid/IM;
Cefalexina
20
a
21
40mg/Kg/tid/VO;
Enrofloxacina
2,5
a
5mg/Kg/sid/IM/SC/IV;
Norfloxacina
22mg/Kg/bid/VO).
A administração de antiinflamatórios esteróides está indicada, pois somente
estes possuem alguma atuação sobre a mucosa uretral, sendo somente vetada em
pacientes portadores de insuficiência renal. Em pacientes que apresentem obstrução
uretral induzida por urólito ou tampões de estruvita a acidificação urinária está indicada,
pois esta induz a dissolução destas estruturas, devendo ser monitorada, quanto a
superacidificação que poderá induzir a formação de urólitos de cistina e oxalato de
cálcio.
Em casos de obstrução induzida por urólito de oxalato de cálcio, urato de
amônia, sílica, ácido úrico e cistina, dependendo do seu tamanho e quantidade a
indicação para a realização de um procedimento cirúrgico é quase certa, podendo ser
realizada desde uma cistotomia até uma uretroplastia funcional., dependendo
diretamente do tamanho e da localização do urólito, nestes casos a administração de
rações terapêuticas podem estar indicada, no pós-operatório.
Se a obstrução é causada por processo neoplásico está indicada a exérese do
tumor devendo-se obedecer no mínimo de um cm de distância, em alguns casos de
tumoração uretral às vezes não é possível a exérese total e aconselha-se eutanásia destes
pacientes. Se a retirada foi bem sucedida a terapia anti-neoplasica esta indicada após o
estudo anatomopatológico do tumor para a determinação do tipo neoplásico.
Quando a obstrução é induzida por distúrbios neurológicos são usadas como
betanecol, diazepam, fenoxibenzamina, fenilpropanolamina e complexo vit B1 e B6
(DEWEY, 2006; DIBARTOLA, 1998; NELSON, 1994; OSBORNE, 1997; SOUZA,
2008). Onde estas drogas promovem aumento do tônus muscular da bexiga,
relaxamento do esfíncter uretral externo como também função de neuroprotetora.
Nos casos de obstrução uretral induzida por uma cistite intersticial a
administração de amitriptilina na dose de 2mg/kg/bid esta indicada, pois diminuem a
liberação de neurotransmissores específicos.
2.6
TRATAMENTO CIRURGICO
Como foi visto anteriormente a principal causa que induz a obstrução do
trato urinário inferior dos gatos machos é a presença de urólito ou tampões uretrais de
22
estruvita na uretra peniana, e tampões hemáticos, estas obstruções podem ser
ocasionadas por outros tipos de urólitos como os de oxalato de cálcio, urato de amônia,
ácido úrico, ou cistina.
Estas obstruções acometem principalmente o segmento uretral peniano
devido à redução brusca no seu diâmetro luminal. Em pesquisas realizadas foi
identificado que 50% dos gatos acometidos por obstrução uretral induzida por urólitos
ou tampões, sofreram recidivas no período de até seis meses (OLIVEIRA, 1999). Para
estes animais que apresentam recidiva de urólitos e tampões a uretroplastia funcional
está indicada, pois após a segunda recidiva provavelmente a terceira e outras mais
aconteceram com maior facilidade.
Outras indicações para a realização da uretroplastia funcional são: neoplasia
uretral e peniana, estenose uretral peniana induzida por cateterização inadequada, além
de traumas penianos severos.
Para a realização do procedimento cirúrgico exames complementares
deverão ser realizados, principalmente radiografias simples e contrastada para a possível
identificação de urólitos de grandes dimensões na bexiga, além de neoplasias vesicais,
persistência de úraco ou divertículos vesicouracais, pois, a correção destes distúrbios é
imprescindível para a cura definitiva do processo obstrutivo, além da identificação exata
da localização do processo e qual o tipo de processo instalado (DIBARTOLA, 1998;
HOSGOOD, 1996; OLIVEIRA, 1999). Uroculturas e antibiogramas, além de outros
exames já citados anteriormente que devem ser realizados para uma adequada
estabilização do paciente e para a adequada aceitação cirúrgica. Antibióticoterapia préoperatório deve ser realizada utilizando antibióticos de amplo espectro. Tricotomia
ampla é realizada envolvendo toda área genital e perineal do paciente. O animal é
levado para a sala cirúrgica onde é anestesiado e posicionado na mesa cirúrgica em
decúbito ventro esternal em cima de uma calha cirúrgica virada e acolchoada deixando
o paciente em uma angulação de 300, tendo seus membros e cauda fixada
adequadamente na mesa e calha cirúrgica (BOJRAB, 1995; GAMBARDELA, 1984;
HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999). A sondagem uretral deverá ser realizada neste
momento utilizando sonda uretral flexível ou rígida lubrificada com gel atóxico,
evitando a utilização de gel que contenha lidocaína, pois este anestésico local poderá ser
absorvido deprimindo ainda mais o paciente que já está exposto a agentes anestésicos e
provavelmente é portador de acidose metabólica hipercalêmica, e só realizar o
procedimento cirúrgico sem sondagem uretral quando o paciente for portador de
23
obstrução uretral severa. A sondagem uretral durante o procedimento é imprescindível,
pois este dispositivo permite a excreção continua de urina eliminando os metabólicos
constantemente e melhorando a homeostase, isolando ainda o campo cirúrgico em
relação à contaminação urinária, além de servir como referencial para a incisão da uretra
peniana.
Anti-sepsia é realizada utilizando solução de clorexidina a 2,5% ou
iodopovidona em todo o campo cirúrgico e posteriormente realizando sutura em padrão
bolsa de fumo no ânus, evitando contaminação fecal, descartando o instrumental
utilizado, e trocando as luvas posteriormente (BOJRAB, 1995; CHHRISTIE, 1998;
GAMBARDELA, 1984; GRIFFIN, 1989; HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999;
SMITH, 1989; SMITH, 1991; SMITH, 1998; WILSON, 1991). Em seguida realizar
novamente a anti-sepsia do campo cirúrgico. Panos de campos são colocados em
formato de três cantos e posteriormente utiliza-se outro pano com orifício circular.
A técnica de uretrostomia perineal com peniectomia em gatos foi descrita
por Carbone em 1963, onde o mesmo promoveu uma incisão desde a uretra peniana até
a uretra pélvica, suturando-a posteriormente à pele. Em 1968 Chistensen descreveu a
amputação da porção distal do pênis fixando-a a pele e tentando manter o máximo
possível a angulação do orifício. Em 1971 Wilson e Harrison descreveram modificações
na técnica de Carbone (GAMBARDELA, 1984), até hoje esta técnica é realizada
obtendo-se bons resultados se a mesma for seguida adequadamente (BOJRAB, 1995;
GAMBARDELA, 1984; HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; WILSON, 1991).
Incisão elíptica da pele indo desde a região médio dorsal até a região média
ventral períneo, circundando o escroto e prepúcio é realizado (BOJRAB, 1995;
GAMBARDELA, 1984; HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; SMITH, 1989; SMITH,
1991; SMITH, 1998; WILSON, 1991). Em seguida o divulsionamento é executado com
uma pinça hemostática mosquito curva ou com uma tesoura de Metezenbaum curva
romba-romba, isto deve ser realizado adequadamente isolando toda a pele do escroto e
prepúcio de todo o tecido subcutâneo circunjacente. A hemostasia por técnica de
pinçamento e torção das artérias escrotais caudal, cranial e veia dorsal do pênis está
indicada, evitando hemorragias que comprometam a visualização do campo cirúrgico
(BOJRAB, 1995; HOSGOOD, 1992; WILSON, 1991).
Se o animal é inteiro a orquiectomia é realizada utilizando a técnica de
isolamento do cordão espermático dos vasos testiculares com posterior ligadura
utilizando estas duas estruturas. Antes da exérese do escroto e prepúcio é aconselhável o
24
pinçamento da extremidade peniana com uma pinça de Allis (BOJRAB, 1995;
GAMBARDELA, 1984, HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; SMITH, 1989; SMITH,
1998; WILSON, 1991), pois o cirurgião poderá se deparar futuramente com uma torção
peniana. O divulsionamento cego da região do períneo é procedido para a identificação
e divulsionamento adequado do músculo isquiocavernoso posicionando o pênis dorso
lateralmente em uma angulação de 45 o, facilitando este procedimento e a excisão deste
músculo, que é realizada na sua inserção isquiática, está manobra é realizada
bilateralmente (BOJRAB, 1995; GAMBARDELA, 1984; HOSGOOD, 1992; SMITH,
1989; SMITH, 1991; SMITH, 1998; WILSON, 1991), evitando ao máximo,
hemorragias que dificultam muito a visualização do campo cirúrgico além de evitar
outras complicações pós-operatória. Se este músculo acidentalmente for excisado de
forma errônea a eletrocoagulação (GAMBARDELA, 1984) poderá ser procedida, mas
dificulta a cicatrização da ferida cirúrgica podendo ocorrer deiscência da mesma. Se
estes músculos não forem divulsionados adequadamente a mobilização das glândulas
bulbouretrais e a incisão da uretra pélvica é quase que impossível, realizando assim não
uma uretrostomia perineal e sim uretral peniana distal, mantendo um diâmetro uretral
inadequado para a prevenção de obstruções uretrais induzidas por urólitos e tampões. O
pênis é então posicionado dorso medialmente e a excisão do músculo e ligamento pilar
do pênis é realizado, liberando totalmente o pênis de suas inserções isquiáticas. O pênis
é tracionado ventro medialmente realizando um divulsionamento e retração cuidadosa
para a exposição total das glândulas bulbouretrais e da vagina peniana, sempre
utilizando divulsionamento cego evitando assim lesões aos nervos pélvicos
(GREGORY, 1984; GRIFFIN, 1989; HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; SMITH,
1998; WILSON, 1991) - pudendo, femoral cutâneo caudal, reto caudal e plexos
nervosos pélvicos, que podem levar complicações pós-operatória como incontinência
fecal e urinária que leva a contaminação da ferida cirúrgica, ocasionando infecção da
ferida, deiscência da sutura podendo ocorrer estenoses. A lesão nervosa também leva
facilmente a perda da função do esfíncter uretral externo, levando a quebra das defesas
fisiológicas (GREGORY, 1984; GRIFFIN, 1989). A avaliação destes músculos pode ser
realizada através de eletromiografia duas semanas após o procedimento cirúrgico
(GREGORY, 1984; GRIFFIN, 1989).
O divulsionamento e isolamento do músculo retrator do pênis é realizado
com tesoura Mayo reta rombo-romba, tendo critérios durante esta manobra para não
acarretar em lacerações uretrais desnecessárias. Com o auxilio de uma sonda uretral
25
(HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; SMITH, 1998) ou uma tenta-cânula fina
(WILSON, 1991), o divulsionamento e isolamento do músculo é realizado. Com o
músculo isolado é realizada a sua exerese nas proximidades do músculo do esfíncter
anal externo, com cuidado para que não ocorra a lesão ao reto e nervos pélvicos
(SMITH, 1998).
A visualização da uretra fica bastante favorável após a retirada do músculo
retrator do pênis e a incisão uretral é então planejada indo desde a uretra peniana até a
uretra pélvica. Com o dedo indicador o cirurgião deve apoiar o pênis (BELONE, 2002)
apoiando então a uretra evitando assim lacerações penianas. Com um bisturi realiza-se
uma incisão na região dorso medial do terço médio da uretra peniana, depois utilizando
uma tesoura de tenotomia reta fina-fina para o término da confecção da incisão
(WILSON, 1991), o cirurgião deverá ultrapassar em até 1 cm das glândulas
bulbouretrais (BOJRAB, 1995; HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; SMITH, 1989;
SMITH, 1991; SMITH, 1998; WILSON, 1991), atingindo a uretra pélvica. O restante
da uretra peniana é utilizada para a confecção de um flap. Esta manobra tem que ser
precisa, pois qualquer descuido pode levar a laceração do músculo esquelético do
esfíncter uretral externo. Incisões errôneas no momento da passagem da incisão pelos
músculos bulboesponjoso pode acarretar em hemorragias pós-operatórias devendo-se
incisionar a fáscia (WILSON, 1991), prevenindo hemorragias. Durante a incisão da
uretra pélvica, não se deve ultrapassar nenhum milímetro a mais daquele espaço que foi
citado anteriormente (GREGORY, 1984; GRIFFIN, 1989), pois, poderão ocorrer lesões
nervosas. Em alguns casos a sondagem do animal não é possibilitada principalmente em
casos de uropatia obstrutiva severa, utilizando então uma tenta-cânula fina inserida na
uretra pélvica promove-se uma a visualização da uretra expondo o corpo cavernoso
uretral (WILSON, 1991). A introdução desta tenta-cânula tem continuação até que a
desobstrução esteja realizada.
A introdução de uma pinça hemostática mosquito reta até a altura da base da
crenalheira ou uma sonda uretral de grosso calibre está indicada para que o diâmetro do
orifício seja verificado (HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; WILSON, 1991). Se o
orifício estiver adequado a confecção de suturas é então realizada, de preferência com
fio não absorvível monofilamentar, utilizando fio de nylon cirúrgico 5-0 ou 4-0 ou
polipropileno 5-0 ou 4-0 (OLIVEIRA, 1999; SMITH, 1998), não utilizando fio
absorvível pois estes além de promover uma maior reação tecidual aumenta os riscos de
infecção e dificulta a cicatrização da ferida (OLIVEIRA, 1999) podendo causar estenose
26
uretral. Suturas simples separadas evita o máximo de tensão e assim são confeccionadas
nas bordas dorso laterais da uretra pélvica fixando a pele, não realizando a redução do
tecido celular subcutâneo, esta manobra deverá ser realizada bilateralmente, obedecendo
a uma angulação de 45 o (GAMBARDELA, 1984; HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA,
1999; SMITH, 1998) para que a uretra pélvica fique anatomicamente com a forma mais
normal possível após o procedimento. Uma sutura em U é realizada na porção distal da
uretra peniana fixando o flap no tecido celular subcutâneo. Esta sutura é
importantíssima, pois promove principalmente a hemostasia no momento da amputação
de 1/3 do pênis. Suturas em padrão simples separado são realizadas nas bordas ventro
laterais da pele e da mucosa uretral obedecendo também uma angulação de 45 o, para
ajudar na orientação necessária da nova uretra. Suturas em padrão simples separado nas
bordas laterais são fixadas na pele e na uretra devem ser realizadas com perfeição, pois
a técnica indevidamente realizada pode acarretar em complicações pós-operatórias
como, por exemplo, fistula uretral e anal, deiscência de sutura, infiltração de urina no
tecido celular subcutâneo acarretando em infiltração na cavidade abdominal se o
divulsionamento dorsal foi excessivo. Uma última sutura em padrão simples separado é
realizada na região médio dorsal, ocluindo a incisão cirúrgica. Após esta manobra não
esquecer de retirar da sutura em bolsa de fumo.
Lavagem vesical deverá ser realizada para a remoção de todo material
presente na bexiga, até que a urina adquira um aspecto límpido e translúcido.
Administração de vitamina C está indicada em casos de uropatia obstrutiva induzida por
estruvita para a acidificação urinária e conseqüentemente dissolução dos urólitos.
(ultrapassado, usar cloreto de amônio) Após a lavagem vesical a retirada da sonda
uretral é realizada para que a função do esfíncter uretral volte ao normal o mais rápido
possível, provendo escoamento urinário normal, resistência uretral adequada,
peristaltismo uretral, função vesicouretral, defesas normais da mucosa promovidas por
substâncias
antibióticas
compostas
por
mucoproteinas
mucopolissacaridicas,
glicosaminoglicana, imunoglobulina A e células da esfoliação normal que promovem a
aderência bacteriana e que são eliminadas no momento do escoamento urinário
(BOVEE, 1996; HOSGOOD, 1992; OSBORNE, 1997) e evitando também estenoses
pós-operatória,
Uma limpeza do campo cirúrgico é promovida utilizando uma solução de
NaCl com clorexidina a 0,5%, administrando nitrofurazona tópica. Colar elizabetano é
colocado no paciente antes que ele retorne da anestesia e é retirado somente após a total
27
cicatrização da ferida cirúrgica, prevenindo que ocorra automutilação, as suturas são
retiradas com 10 a 14 dias.
Antibióticoterapia é realizada por no mínimo 10 dias, utilizando antibióticos
de amplo espectro já citados acima. Essa terapia evita infecções da ferida cirúrgica, e
cistites sépticas que provavelmente venha a acontecer, pois as defesas naturais foram
quebradas deixando que infecções ascendentes ocorram. A administração de
antiinflamatórios esteróides está indicada, para a diminuição do edema e dores pósoperatórias facilitando a micção do animal, quando o paciente esta insento de
comprometimento renal grave verificado na urinálise. Pomadas tópicas composta de
substâncias cicatrizantes (vitamina A, D, E e oxido de zinco), estão indicadas. Betanecol
está indicada em quadros de atonia vesical pós-operatória grave (BELONE, 2002), onde
em casos brandos massagem vesical solucionando o problema (OLIVEIRA, 1999).
A dieta alimentar do animal deve ser de consistência pastosa para melhorar
o transito intestinal, pois, se as dores pós-operatória forem severas o desenvolvimento
de megacolón pode ser um fator complicante.
Os proprietários devem ser orientados das possíveis complicações e como
identificá-las e incentivados a realização de exames de eletromiografia ou perfil da
pressão uretral, além de urinálise e urocultura periódicas no animal.
As principais complicações da uretroplastia funcional em gatos é o
aparecimento de hemorragias (HOSGOOD, 1992; SMITH, 1989), estenoses
(GAMBARDELA, 1984; HOSGOOD, 1992; SMITH, 1989), cistites (HOSGOOD,
1992; SMITH, 1989), deiscências (HOSGOOD, 1992; SMITH, 1989), extravasamento
de urina no tecido celular subcutânea (HOSGOOD, 1996), automutilação (HOSGOOD,
1992; SMITH, 1989), incontinência fecal (BELONE, 2002; BOJRAB, 1995;
GREGORY, 1984; GRIFFIN, 1989; HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA, 1999; WILSON,
1991), piodermatite intertriginosa principalmente em gatos obesos (OLIVEIRA, 1999;
SMITH, 1989), insuficiência renal (BOJRAB, 1995; HOSGOOD, 1992; OLIVEIRA,
1999; WILSON, 1991), morte (SMITH, 1989), hérnias perineais, fistula uretrais
(GREGORY, 1984), atonia vesical (SMITH, 1991), fistulas uretroanais (OLIVEIRA,
1999; SMITH, 1991) e anemias induzidas pela supressão medular devido a azotemia
pós-renal (WILSON, 1991), ou ainda por insuficiência renal crônica.
28
2.7
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A nossa experiência clinica tem revelado que pacientes portadores de
obstrução uretral induzidas por urolitos ou tampões de qualquer origem, como também
os portadores de neoplasias, esmagamentos penianas, e estenoses uretrais são pacientes
que devem ser encaminhados a uretrosplastia funcional. Os procedimentos clínicos
podem tornar-se onerosos e perigosos, pois podemos nos deparar com varias novas
obstruções, estenose uretral por sondagens repetitivas, agressão uretral crônica e
possível desenvolvimento neoplásico. Outro fator de extrema relevância para a
realização da uretroplastia funcional é que muitos proprietários costumam ficar longos
períodos ausentes, podendo neste período ocorrer um quadro obstrutivo e seus fatores
complicadores podendo levar o paciente a óbito.
29
3
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32
APÊNDICE
PP
T
A: Introdução de gaze para oclusão anal; B: Anti-sepsia; C: Confecção de sutura para a
oclusão anal; D e E: Colocação de panos de campo; F e G: Incisão cutânea ao redor do
escroto e prepúcio; H: Divulsionamento da pele do subcutâneo; I: Deslocamento do escroto
e prepúcio; J: Divulsionamento das túnicas testiculares; L(PP: Plexo pampiniforme e T:
Testículo); e M: Isolamento e ligadura do cordão espermático.
33
pp
T
U
MRP
MIC
MIC
MIC
MPP
LP
GBU
GBU
MBC
N: Exerese do testículo (PP: Plexo pampiniforme; T: Testículo); O e P: Retração do
escroto e prepúcio, posterior exerese; Q: Exposição do músculo retrator do pênis; R eS:
Divulsionamento do tecido subcutâneo; T: Exposição do músculo isquiocavernoso; U:
Divulsionamento do músculo isquiocavernoso (MIC); V: Incisão do músculo
isquiocarvernoso em sua insersão; W e X: Incisão do ligamento e músculo pilar do pênis
(MPP e LP); Y: Exposição das glândulas bulbo uretrais (BGU) e Músculo bulbocavernoso
(MBC)
34
MRP
MRP
U
MRP
U
U
UP
UP
UP
G
G’
L’
N’
M’
O'
Z, A’ e B’: Isolamento e exerese do músculo retrator do pênis (MRP);
C’,D’,E’,F’,G’ e H’: Identificação e incisão iniciando na uretra peniana (UP) indo
até a uretra pélvica; I’,J’,L’,M’, e N’: Identificação e confecção de suturas em
padrão simples separado em 45o nas bordas dorso laterais e laterais; O: Termino da
confecção das suturas formando a nova uretra.
35
P’: Vinte e cinco dias após o procedimento cirúrgico notar a sonda uretral calibre
12 passando facilmente no canal da uretroplastia perineal.
36
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