O ENVOLVIMENTO EM ATIVIDADES DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DOS LICENCIANDOS EM FÍSICA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DO CEFET QUÍMICA DE NILÓPOLIS - RJ Miguel Cantanhede Sette e Câmaraa [[email protected]] Grazielle Rodrigues Pereirab [[email protected]] Maura Ventura Chinellic [[email protected]] a Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis - RJ Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis - RJ c Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis - RJ b R ESUMO O CEFET Química de Nilópolis conta com um Centro de Ciência e Cultura que desenvolve e promove eventos de popularização/divulgação científica. Neste trabalho são relatadas as diversas atividades das quais participaram os alunos do Curso de Licenciatura em Física e as relevâncias na sua formação como professores de Física. As atividades incluíram o planejamento, produção e apresentação de uma exposição interativa de física e o acompanhamento de alunos de nível médio na sua utilização.As dificuldades na integração desse tipo de atividade na estrutura curricular do curso de Licenciatura também são apresentadas assim como as soluções propostas e aplicadas no Cefet Química. Também é discutido a principal conseqüência deste tipo de trabalho, segundo o depoimento dos licenciandos: que as atividades proporcionaram oportunidades para construção do conhecimento interdisciplinar, tanto no que diz respeito à ampliação e ao aprofundamento dos conhecimentos na área de formação, quanto oportunizando relações com outros campos do saber, possibilitando que fossem assimiladas as contribuições de outras áreas, que serão agregadas à prática profissional futura. Como o Cefet Química de Nilópolis ainda oferece ensino médio, ensino técnico, ensino superior tecnológico e realiza cursos de qualificação, requalificação e reprofissionalização também são apresentados os benefícios para o trabalho da instituição da existência do Centro de Ciência e Cultura e do envolvimento de seus alunos. Entre estes benefícios está a diminuição do distanciamento existente entre as instituições formadoras, os sistemas de ensino da educação básica e a população sabidamente carente de recursos financeiros, que reside distante dos campi, oferecendo, no mesmo espaço e com programas integradores, o Ensino Médio/Técnico, a formação do professor e a divulgação científica. 1. INTRODUÇÃO: O C ENTRO DE CIÊNCIA E C ULTURA DO CEFETEQ (“C4”) O CEFET Química oferece, em regime regular, cursos de Ensino Médio e de Educação Profissional Técnica de Nível Médio, cursos de Graduação de Tecnologia e de Licenciatura e cursos de Pósgraduação, bem como promove eventos de caráter técnico-científico, artístico-cultural e social, garantindo acesso à população que deles queira participar. A Instituição mantém, em suas dependências, o Centro de Ciência e Cultura, na Unidade Nilópolis, que é um espaço institucional onde exposições são apresentadas e disponibilizam-se experimentos interativos, sendo um local aberto à comunidade, de entrada franca. O Centro de Ciência e Cultura do CEFETEQ (“C4”) iniciou suas atividades em 1999, na Unidade Nilópolis, como projeto de popularização e divulgação científica. Um de seus objetivos institucionais é divulgar o conhecimento científico às populações de baixa renda e promover a busca de novas tecnologias no ensino de Ciências. Outro objetivo consiste em fornecer ambiente apropriado para complementação da formação de professores de Física. De forma específica, podemos discriminar os objetivos desse centro de ciência, enquanto espaço educativo, lúdico e complementar à educação formal, nos seguintes itens: - Possibilitar a ampliação e a melhoria do conhecimento científico de estudantes, bem como, da população em geral, permitir o questionamento dos estudantes acerca dos conceitos científicos explorados em cada experimento exposto; -Desenvolver na Baixada Fluminense atividades de divulgação, alfabetização e popularização científicas em um espaço físico a ser freqüentado por professores, por alunos de diferentes níveis do ensino e pela população em geral. - Promover a formação continuada de professores, especialmente os da Baixada Fluminense, com base em atividades práticas que envolvam as Ciências Naturais e Humanas como também na oferta de cursos de pós- graduação, senso lato ou senso estrito. -Contribuir com a formação inicial de professores, através de seu envolvimento com atividades de divulgação, alfabetização e popularização científica, compondo equipes multidisciplinares para atividades temáticas a serem desenvolvidas nos dois projetos citados acima, articulados em projetos de pesquisa que ofereçam oportunidades de iniciação científica. -Contribuir com a formação de profissionais na área de Lazer e Desenvolvimento Social, envolvendo estudantes da área na realização de eventos científico-culturais e na preparação de atividades educativas realizadas em espaços não- formais. - Realizar anualmente, feiras, cursos e atividades congêneres, sendo muitos deles abertos à comunidade, como a Semana de Tecnologia (SEMATEC – Unidade Nilópolis) e Semana da Química (Unidade Rio de Janeiro), realizada anualmente, consistindo em mostras técnicocientíficas de projetos discentes e docentes. Em sua programação incluem-se exposições, cursos, palestras e mesas redondas, nas quais colaboram empresas e instituições de ensino e pesquisa convidadas, onde se enfatizam vivências educacionais que estreitam os laços do CEFETEQ com a própria comunidade e a comunidade externa. Vale citar também a realização do Encontro EscolaComunidade (Unidade Nilópolis) e da Semana da Cultura (Unidade Rio de Janeiro), que são momentos de integração entre as comunidades interna e externa, onde são oferecidas atividades educacionais, culturais e sociais, tais como peças teatrais, shows, sessões de cinema, exposições e palestras objetivando descobrir, no alunado, potenciais que não têm como ser desenvolvidos adequadamente no cotidiano. Atualmente, o C4 tem acolhido os estudantes de licenciatura em Física do próprio CEFETEQ, os quais atuam em atividade articuladas com a proposta político - pedagógica do referido curso. Neste trabalho apresentamos as atividades realizadas por tais estudantes e um estudo sobre como estas contribuem para sua formação. 2. A INSERÇÃO DOS LICENCIANDOS NAS ATIVIDADES DO CENTRO DE CIÊNCIAS. Ancorado em sua própria tradição no ensino de Ciências e consciente da importância do seu papel educativo e social na região (Baixada Fluminense), o CEFET Química tem, através de suas Licenciaturas em Física e Química, investido na formação de profissionais de nível superior em uma área carente de oportunidades nesse sentido e, ao mesmo tempo, contribuir para a formação de professores que ajudarão a suprir a falta desses profissionais nos sistemas de ensino local e regional. A construção curricular destes cursos no CEFETEQ parte do pressuposto de que um professor devidamente habilitado, qualificado e competente deve ter uma formação profissional que abranja os âmbitos ético, social e crítico, conduzindo-o a atividades intelectuais que produzam um conjunto de conhecimentos a serem efetivamente utilizados por ele, ou seja, que possa levá- lo a uma posição crítica, inquiridora e reflexiva de sua realidade social, política, filosófica e educacional. O professor, dessa forma, deve ter um embasamento teórico, prático e pedagógico que o habilite a ministrar uma aula como uma pessoa de conhecimento em sua área especifica, bem como com capacidade de lidar com problemas e dificuldades que possam surgir no seu âmbito de trabalho, seja na área propedêutica profissional, seja na de relacionamentos inter-pessoais. Além disso é preciso que educadores e instituições façam reflexões em torno de sua prática pedagógica, propondo alternativas mais motivadoras, produtivas e lúdicas. Como um meio de fornecer esta formação diferenciada aos licenciandos que futuramente estarão atuando como professores, foi proposta pelas Coordenações das Licenciaturas do CEFETEQ e pelo C4 um planejamento pedagógico que estimulasse os licenciandos a trabalhar nas atividades de divulgação e popularização científica deste último. Tal planejamento visa fornecer um novo perfil, onde uma das tarefas do professor é selecionar conteúdos, adequar metodologias de ensino que permitam atividades variadas e estimulem o interesse dos alunos. A aplicação destas atividades não se deve restringir ao sistema de educação formal, pois os espaços não-formais de aprendizagem, constituem um ambiente favorável à aquisição de saberes e desenvolvimento de práticas que levem em consideração os conhecimentos científicos do processo de ensino-aprendizagem e as relações interpessoais. Estes ambientes nãoformais de aprendizagem indicam ser um local plausível para que ocorram aprendizagens significativas. As atividades envolveram alguns licenciandos do 2o , 3o e 4o período, totalizando 15 alunos, e ocorreram durante o segundo semestre de 2005 e no primeiro semestre de 2006. Os licenciandos participaram de um curso de capacitação no qual tiveram contato com uma literatura específica sobre divulgação e popularização de ciências (vide referências).AS atividades por fim realizadas são discriminadas a seguir: ? Instalação de oficinas para a confecção de equipamentos, tal que 90% de nossos aparatos experimentais foram construídos localmente pela equipe do C4 (alunos e professores); ? Instalação dos equipamentos, desenvolvimento das atividades em escala experimental e operação seqüencial dos diversos setores de atividades; ? Realização de exposições científicas com o viés interativo para estudantes, professores e público em geral. A primeira exposição conjugou duas temáticas distintas, a saber: a relevância do estudo da Óptica, bem como suas aplicações no cotidiano, ao passo que a outra exposição suscitou toda problemática por trás da relação Homem, Natureza e Sociedade. ? Elaboração e execução de um projeto itinerante durante o primeiro semestre de 2006. Esse projeto visou levar para algumas escolas da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro alguns aparatos experimentais portáteis. Nossas primeiras atividades consistiram em exposições de oito experimentos interativos, versando sobre temas em Óptica (Quadro1), contendo cartazes com as instruções de como utilizá- los, os aspectos introdutórios e os teóricos referentes a cada assunto. Ao logo desse semestre, realizamos seis visitas, a saber: Escola Municipal Janir Clementino Pereira, localizada no distrito de Miguel Couto em Nova Iguaçu; na Escola Municipal Scintilla Exel em Queimados (onde atuamos em três ocasiões distintas); e CIEP 335 Professor Joaquim de Freitas, também em Queimados. A escolha dessas escolas se deu aleatoriamente. Quadro 1 – Aparatos experimentais Experimento Motivação Cortina de Sabão Gigante Sombras Coloridas Imagens filtradas Formando o Arco-Íris Disco de Newton e Discos coloridos Tensão superficial (força de coesão intermolecular); Interferência em filmes finos; Composição de cores (sombra e subtração); Seleção de imagens por meio de filtros coloridos Decomposição espectral da luz Composição espectral da luz branca Máquina Fotográfica Focalização usando diferentes tipos de lentes e comparação com o uso de fendas para obtenção da origem do pincel de luz; Funcionamento de dispositivos simples de registro de imagens; “Pegue o Porquinho” Formação de imagem real e invertida utilizando um par de espelhos côncavos. Formação de Imagens 3. METODOLOGIA Um levantamento feito através de entrevistas com os licenciandos participantes, no final do segundo semestre de 2006, procurou registrar o efeito dessas atividades em um ambiente de ensino não formal tiveram em sua formação. A base da investigação foi orientada pelos padrões utilizados dentro da perspectiva de pesquisa qualitativa desenvolvidas no campo educacional não formal (Minayo, 1994; Bardin, 1997; Hooper-Greenhil, 2004; Lüdke e André, 2004). Procuramos na presente pesquisa utilizar como instrumento de avaliação uma entrevista semi-estruturada “aplicada a partir de um pequeno número de perguntas abertas” (Thiollent, 1987 apud Santos, 1997). “Suas qualidades (entrevista semi-estruturada) consistem em enumerar de forma mais abrangente possível às questões que o pesquisador quer abordar no campo, a partir de suas hipóteses ou pressupostos, advindos obviamente, da definição do objeto de investigação”. (Minayo, 1992, p.121). Segundo Lüdke e André (2004), nesse tipo de entrevista: “... não a imposição de uma ordem rígida de questões, o entrevistado discorre sobre o tema com base nas informações que ele detém (...) na medida em que houver um clima de estímulo e aceitação mútua, as informações fluirão de maneira notável e autentica.” Ainda, de acordo com os autores Lüdke e André (2004), “essa metodologia permite que o entrevistador faça as necessárias adaptações”. Portanto nossa entrevista, de acordo com a perspectiva semi- estruturada, teve como base roteiros com perguntas abertas. 4. RESULTADOS DA PESQUISA JUNTO AOS LICENCIANDOS. As principais observações dos licenciandos, retiradas dos registros de suas entrevistas, quando perguntados sobre o trabalho em um ambiente não formal estão listados a seguir: • A diferença entre o ambiente formal e não-formal é a forma como o conteúdo é ensinado. No formal só se aprende a teoria, anotada nos cadernos ou lidas em livros. Já no não formal podemos ver como as coisas acontecem; • A aula no ambiente não- formal marca por ser algo novo e diferente, despertando a curiosidade e conseqüentemente a vontade de aprender; • O visitante pode retornar quantas vezes quiser. Por isso existirá a possibilidade de aprendizado em ritmo pessoal; • O envolvimento lúdico é o único que pode atingir ao público como um todo e que aparecerá sempre em todas as atividades; • A utilização do lúdico como método pedagógico permite não só a participação da criança, mas também o envolvimento do adulto, explorando as capacidades de concatenação de informações e formulação de hipóteses; • Os experimentos e modelos buscam permitir o envolvimento direto do público com o fenômeno natural focalizado, desafiando-o a usar e desenvolver sua capacidade perceptiva, hipotética, dedutiva e experimental; • O adulto que não aceita brincar, se reprime e se deprime, enquanto o que vive o jogo se liberta. Quando perguntados sobre as consequências do trabalho na sua formação como professores foram majoritariamente citados os seguintes aspectos: • O trabalho permitiu um contato direto com variados recursos pedagógico-experimentais; A confecção dos equipamentos ajudou a compreensão de conceitos e estruturas pois permitiu a interação direta com alguns conteúdos estudados nas aulas teóricas de física; A percepção de que os experimentos participativos e menos demonstrativos possibilitam abordagens mais interessantes e motivadoras sobre os problemas e podem ser usados também em sala de aula; A importância de tentar gerar um ambiente lúdico e prazeroso também em sala de aula. 4. CONCLUSÕES Em nossa avaliação o envolvimento dos licenciandos no trabalho não formal possibilitou uma oportunidade para eles debaterem e realizarem como tornar experimentos científicos do ensino formal em atividades que possam ser levadas para outros ambientes. E nesse processo também aprimorarem as abordagens usadas em sala de aula. Ficou reforçada a proposição de que o ambiente não- formal é um espaço lúdico, que desperta nos alunos o querer aprender e que construir um ambiente assim em sala de aula poderia ajudar o ensino formal. Também possibilitou aos futuros professores a percepção de que isso pode ser feito com experimentos interativos e participativos pois estes permitem abordagens mais interessantes sobre os conteúdos disciplinares abordados, o melhor desenvolvimento do raciocínio lógico (hipotético, crítico e analítico) e a participação direta do aluno. Geram o ambiente lúdico e prazeroso, quando o prazer de descobrir e conhecer se junta ao prazer de brincar a partir de uma motivação Uma iniciativa como essa significa uma oportunidade de formação que os capacita a desenvolver, dentro de suas futuras instituições escolares, oficinas, palestras,e módulos interativos com os quais se pode aprender ciências. Também dá instrumentos que os permitem aproximar os saberes científicos aos saberes escolares e oferece amplas possibilidades para a abordagem interdisciplinar de temas científicos de interesse social, de modo a instrumentar alunos, pais de alunos, professores e outros profissionais do ensino para o desempenho consciente da cidadania. R EFERÊNCIAS Bardin, Laurence. Análise de Conteúdo, 3ª Edição. Lisboa: Edições 70. 2004. Cazelli, Sibele et all. Tendências Pedagógicas das Exposições de um museu de ciências. In: Guimarães, Vanessa; Silva, Gilson Antunes, (coods.). Implantação de Centros e Museus de Ciências. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002, p. 208 - 218. Coutinho-Silva, Robson; Persechini, Pedro Muanis; Masuda, Masako; Kurtenbach, Eleonora. Interação Museu de Ciências - Universidade: Contribuição para o Ensino Não Formal de Ciências. Ciência e Cultura, v.57, no.4, p.24-25, out./nov. 2005. Gaspar, Alberto. Museus e Centros de Ciências: Conceituação e Proposta de um Referencial Teórico. São Paulo: USP, Pós – Graduação em Educação, 1993. (Tese de Doutorado). Hooper-Greenhil, Eilean. Educational Role of the Museum (Leicester Readers in Museum Studies), 2nd Ed. New York: Routledge, 1999. Ludke, Menga; Andre, Marli Elisa D. A. DE. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. Minayo, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: Tória, Método e Criatividade, 22ª Edição. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. Padilla, Jorge. Conceptos de Museos y Centros Interactivos. In: Crestana, Silvestre, (coord.), Educação para a Ciência: Curso para Treinamento em Centros e Museus de Ciências. São Paulo: Livraria da Física, 2001, p.113 – 142. Santos, Giovani Lima dos. Tese de Mestrado, UERJ, 1997. Schall, Virgínia Torres. Pedagogia e Didática/Pesquisa e Avaliação. In: Guimarães, Vanessa; Silva, Gilson Antunes. (coods.). Implantação de Centros e Museus de Ciências. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002, p. 313 – 318.