INFORMÁTICA E EDUCAÇÃO: COM A PALAVRA OS LICENCIANDOS Edison SILVA (UNIFRAN) [email protected] Miriam Cardoso UTSUMI (ICMC – USP, São Carlos) [email protected] INTRODUÇÃO Não é difícil constatar a importância dos computadores na sociedade moderna. A difusão dessas máquinas no comércio, na indústria e no cotidiano das pessoas já é algo comum para o mais simples dos cidadãos. Em bancos, lojas, farmácias, padarias ou em setores públicos, onde, mesmo não estando acessíveis aos usuários, os computadores afetam diretamente a vida dos mesmos, como, por exemplo, no INSS, na Receita Federal, DETRAM, entre outros, uma vez que agilizam os processos, permitindo aos usuários um maior conforto e segurança nas operações. Imagine-se em um hipermercado de grande porte, onde se formam filas enormes nos caixas, incumbidos de contabilizar milhares de produtos diferentes. Seria uma loucura: procurar o valor do produto na tabela, digitá-lo em equipamentos mecânicos, contar a quantidade de produtos repetidos e multiplicá-los ou somá-los e, ao final, conferir tudo. Quantas horas se teria que ficar nessa fila? A tecnologia é algo que afeta a todos, com suas vantagens e desvantagens. A sociedade moderna já não pode fugir a essa realidade, e sendo a escola parte integrante da sociedade e fundamental na formação dos cidadãos não pode ficar alheia a esta revolução. É fato que as pessoas das classes menos favorecidas, em sua grande maioria, ainda estão privadas da aquisição e uso contínuo de computadores, porém o acesso a locais em que eles são utilizados diariamente é uma realidade inegável. Logo, essas pessoas, certamente, terão de ter conhecimentos mínimos da tecnologia para ingressarem no mercado de trabalho. Isto, de certa forma, já passa a ser uma imposição da sociedade, dos meios de comunicação, do comércio e das indústrias. Cada vez mais é necessário saber sobre informática para poder estar empregado ou informado. E a escola não pode ficar à parte dessa nova cultura que surge. Não participar do processo de “tecnologização” da sociedade pode fazer da escola uma instituição defasada, desinteressante e alienada (SAMPAIO e LEITE, 1999). A tecnologia deve ser um fator comum entre o professor e seus alunos. Utilizar a informática nas aulas é compartilhar com os alunos as experiências que já fazem parte de seu dia-a-dia. Essa proximidade poderia ser um facilitador nas interações entre professores e alunos. As investigações mostram, no entanto, que o processo de apropriação da tecnologia, pelos professores, é complexo e tradicionalmente problemático (RIBEIRO e PONTE, 2000; BORBA e PENTEADO, 2003). Segundo Ponte, Oliveira e Varandas (2003, p. 3), parte importante do conhecimento profissional dos professores diz respeito ao uso das tecnologias como ferramentas cada vez mais presentes na prática dos professores de Matemática, constituindo: um meio educacional auxiliar para apoiar a aprendizagem dos alunos; um instrumento de produtividade pessoal, para preparar materiais para as aulas, para realizar tarefas administrativas e para procurar informação e materiais, e um meio interativo para interagir e colaborar com outros professores e parceiros educacionais. Numa lógica inovadora, a capacidade de atuação dos professores neste domínio da prática profissional, certamente está relacionada à adequação das oportunidades de formação que eles receberam. Por conseguinte, não se pode esquecer a formação do professor para a utilização da informática no ensino, pois, de acordo com Rosalen e Mazzilli (2005, p. 1), ela “não tem sido priorizada tanto quanto a compra de computadores de última geração e de programas educativos pelas escolas, transparecendo a idéia de que os equipamentos sozinhos podem melhorar a qualidade das práticas educativas”. Para Andrade (2002), a educação escolar atual, frente a essa realidade, se configura não só com os novos ambientes físicos computacionais para aprendizagem, mas, também, com as demais dimensões da vida, na lógica de construção do conhecimento, que implicam a formação do cidadão. Cabe às instituições governamentais, gerarem recursos para a implantação de projetos funcionais, na parte de infra-estrutura, e capacitação dos profissionais da educação, de forma ampla, criando, assim, uma cultura de informática. Segundo Cysneiros (1999), em linhas gerais, é necessário que os recursos de informática sejam utilizados freqüentemente por uma parcela significativa das pessoas que compõem os vários grupos da escola e do sistema escolar, interagindo entre eles e com a comunidade, inclusive fora da escola, de forma a democratizar a tecnologia. Os professores mais próximos às camadas mais humildes da população podem pensar: “para que serviria o professor ser mais tecnológico?”. “Por que devo usar o computador em minhas aulas se nenhum de meus alunos tem computador em casa? Eles não podem comprar, mesmo”. Acredita-se que, nesse caso, o trabalho seria ainda mais desafiador e interessante, pois, se o professor não propiciar ao aluno o acesso à tecnologia – a qual, em um primeiro momento, é inacessível, para ele –, quem vai facultar-lhe? Onde mais ele terá acesso à tecnologia e à informação nela contida através da rede? O professor pode ser parte ativa no processo de inclusão digital, simplesmente utilizando as ferramentas tecnológicas e, assim, desmistificando o uso do computador. Além disso, o uso das novas tecnologias na escola é defendido não só porque permite aos alunos usarem as ferramentas correntes na sociedade atual, mas, como lembrado por Ribeiro e Ponte (2000), também porque os tornam capazes de se envolverem ativamente na exploração das idéias matemáticas. No início, os computadores ofereciam poucos recursos gráficos aos usuários. O professor precisava, basicamente, ser mais do que um simples usuário, se quisesse tirar um proveito razoável da máquina, ou utilizar uns poucos programas que, muitas vezes, tinham de ser adaptados para uso educacional. Hoje, essa realidade é diferente. Com a Internet, a quantidade de softwares livres para os professores utilizarem é muito grande. As empresas do ramo apresentam preços diferenciados de seus produtos para as escolas. Quando nenhuma das soluções acima é viável, fica a possibilidade de o professor prover seu próprio conteúdo eletrônico, utilizando programas específicos gratuitos ou pagos. O problema é que, na maioria das vezes, o educador não está preparado, nem do ponto de vista intelectual nem do ponto de vista técnico, para elaborar seus programas. Existe uma grande diferença entre criar um programa de computador e criar um conteúdo eletrônico para apoio pedagógico. Muitas vezes, o professor sente-se na obrigação de, primeiro, saber tudo sobre informática para, somente depois, utilizar os computadores em suas aulas. Com essa postura, além de não utilizar programas prontos em suas aulas, ele também não cria conteúdos próprios, que poderiam, até, ser melhores do que aqueles disponíveis no comércio, uma vez que ele pode levar em consideração, por exemplo, aspectos regionais, contextualizando as suas aulas, de forma mais adequada, como evidenciado na fala, a seguir, de uma professora da UERJ (Professora 3): “Eu acho que falta falar um pouco sobre as questões mais local, regional. Quando a gente fala do mundo atual me dá uma idéia desse mundo que ‘taí’, global. Mas, e as peculiaridades, as regionalidades? Porque essa coisa da tecnologia facilita muito essa coisa do ser global – a infovia, a Internet, a TV, massificação. Para ficar mais adequado à formação de professores falta essa discussão mais local, de um planejamento mais participativo baseado nas características regionais, principalmente se a gente pensa num professor de 1ª a 4ª séries” (SAMPAIO, 1999, p. 87). Para que o professor seja produtor de conteúdo eletrônico, necessariamente ele não precisa ser programador, basta ser, tão somente, usuário de computador, ou seja, precisa ter conhecimentos básicos do sistema operacional que gerencia o funcionamento da máquina e de alguns programas, para montagem de suas “aulas eletrônicas”. Para tanto, precisa de um treinamento técnico, onde, através de procedimentos mecânicos, ele poderá inserir, em sua apresentação, o conteúdo de sua pesquisa ou seu próprio material intelectual. Percebe-se que esse é um fato menor se comparado à importância de um educador no processo ensino-aprendizagem, pois dominar a ferramenta é algo que pode ser feito por qualquer pessoa. Segundo Sampaio (1999), não existem divergências significativas entre professores da educação básica e da educação superior quanto ao conceito relacionado à utilização da tecnologia no campo da educação. Contudo, nota-se uma desigualdade em relação à postura, à forma de encarar a Informática: os professores do ensino médio, das escolas estaduais, utilizaram o termo “abandono e sucateamento da escola pública”, com um clima de bastante desânimo, enquanto os professores universitários demonstraram, em geral, possuir uma visão mais ampla da tecnologia e mais ligada aos aspectos sociais e políticos. Dentre as maiores preocupações dos professores com relação à utilização da tecnologia educacional, foram ressaltadas: seu despreparo para utilização da tecnologia; necessidade de tempo para aprender a lidar com as novas tecnologias; falta de vontade e disposição para esse novo aprendizado; más condições gerais das escolas e a burocracia que, por vezes, impede a concretização desse aprendizado. Ribeiro e Ponte (2000, p. 4), revendo alguns estudos sobre a utilização de informática educativa, por professores em exercício, referem, como fundamentais para aumentar a confiança dos professores: “o apoio sustentado durante um período de pelo menos três anos, a disponibilidade de hardware e software, o acesso a mentores com experiência, a realização de encontros regulares para troca de experiências e a disponibilidade de tempo”. A entrada dos computadores na Educação não pode ser vista de forma isolada, desconectada de uma realidade social, na qual a tecnologia tem um papel decisivo no processo produtivo, cultural e científico. Com a utilização crescente de computadores em vários setores, das mais diversas formas, criou-se um aumento na demanda por profissionais qualificados no segmento de informática. A repercussão, no seio da escola, não tardou: ela foi chamada a formar indivíduos capacitados para esse novo mercado de trabalho. Pesquisas realizadas pelo GPIMEM – Grupo de Pesquisa de Informática outras Mídias e Educação Matemática – apontam para a possibilidade de que trabalhar com computadores abre novas perspectivas para a profissão docente: “O computador, portanto pode ser um problema a mais na vida já atribulada do professor, mas pode também desencadear o surgimento de novas possibilidades para o seu desenvolvimento como um profissional da educação” (BORBA; PENTEADO, 2003, p. 15). De acordo com Borba e Penteado (2003) o professor é fundamental nesse processo, mas não é suficiente. Existem casos em que os diretores criam um número excessivo de normas, muitas vezes responsabilizando o professor por qualquer problema que possa haver com o computador; o acesso à chave nem sempre é algo fácil; salas impróprias, com dimensões reduzidas, e poucas máquinas à disposição, fazem com que as turmas sejam divididas, gerando, assim, outros problemas; linhas telefônicas comuns à secretaria e à Internet tornam o acesso a ela, quase sempre, impossível; além do mais, também falta suporte técnico. Não é comum ter-se à disposição um técnico em informática para cada escola, o que leva o diretor, no caso de uma pane nas máquinas, não ter como resolver a situação. Com a falta de verba de manutenção, os computadores podem ficar parados por longos períodos. Diante desses fatos, alguns diretores criam uma burocracia enorme para liberar o uso dos equipamentos. Valente (2002) relata uma situação inusitada, que expressa algo inimaginável:: O exemplo mais interessante neste sentido é a escola cujo diretor, após ter o laboratório de informática instalado e tendo uma das máquinas roubadas, mandou construir uma parede na porta do laboratório, mantendo as máquinas dentro. Construiu uma verdadeira tumba computacional, de modo que ninguém pudesse ter acesso às máquinas – nem para roubá-las nem para usá-las. Porém, se um dia, o Governo viesse solicitar as máquinas de volta ou querer saber o que aconteceu com elas, o diretor seria capaz de recuperá-las, intactas, em perfeito estado, como quando elas foram instaladas! (VALENTE, 2002, p. 6). Com tantos obstáculos, os professores, já desmotivados por não se sentirem preparados, aumentam sua resistência ao uso do equipamento. Dessa forma, não é possível criar-se uma cultura de uso do computador, limitando-o a algumas aulas, apenas. Criar um ambiente favorável ao uso da informática não é algo fácil, mas é possível. Todos os envolvidos no processo devem participar e compreender que a mudança é resultado de ações coletivas, e não individuais, e se localizarem no contexto com uma nova mentalidade, uma consciência coletiva (ANDRADE, 2002). Para Oliveira (2001, p.101), “[..] as tecnologias, são produtos da ação humana, historicamente construídos, expressando relações sociais das quais dependem, mas também são influenciados por eles”. Mas, de que forma o professor, como parte fundamental no processo, pode contribuir para que seus alunos tenham acesso à tecnologia, não como um mero repetidor de ações pré-definidas em programas de computador, mas, sim, como agente intelectual, refletindo, continuamente, sobre suas ações e resultados, ensinando e aprendendo com o uso da tecnologia. Que momento, então, seria adequado para que o professor tivesse acesso às inovações, de forma que sua utilização não parecesse algo tão difícil? Em geral, as publicações sobre o assunto estão mais focadas no estudo de professores que já atuam no segmento, com preocupações semelhantes, que expressam condições semelhantes na maioria delas. Para Andrade (2002, p.67), “a maioria dos professores está à margem dessa inovação na prática pedagógica, desconhecendo as potencialidades desses recursos como aliados do processo educativo”. Talvez, o principal motivo desse “ficar à margem” do processo possa estar relacionado à falta de uma disciplina, com enfoque específico na capacitação dos futuros professores, voltada para o uso de Tecnologia Educacional. Para utilizar um termo mais adequado, podemos dizer que falta a “Alfabetização Tecnológica do Professor”, onde o licenciando, futuro professor, pudesse ser preparado para utilizar pedagogicamente as tecnologias, na formação dos novos cidadãos (SAMPAIO; LEITE, 1999). Não se deve entender, com isso, que o uso mecânico dos equipamentos deve ser a eles ensinado, mas deve abranger também o domínio crítico da linguagem tecnológica bem como sua aplicação no contexto pedagógico. Segurança, talvez esta seja uma palavra-chave nessa relação entre o professor e a tecnologia. Em qualquer profissão ou ato que se faça, procura-se, na maior parte das vezes, o caminho mais seguro. Para isso, o domínio da situação é fundamental. Segundo Borba e Penteado (2003), o professor pode seguir basicamente em dois caminhos: um, no sentido da zona de conforto, onde há o total domínio da situação; ou, no sentido contrário, para a zona de risco, em que ele se sente mais inseguro, com um domínio relativo, onde, em caso de imprevistos, tem dificuldade em solucionar problemas, sejam eles relacionados ao programa ou ao equipamento, colocando em risco sua aula e sua reputação junto aos alunos. Considerando-se que, muito em breve, um número cada vez maior de instituições de ensino terá essas ferramentas à disposição dos professores, se instaurou a seguinte preocupação: qual a atitude dos licenciandos em relação ao uso do computador no processo educativo? Partindo do princípio de que as práticas dos professores dependem, de algum modo, das suas concepções, atitudes, como asseverado por Ponte (2001), acredita-se que faça todo o sentido procurar saber quais são, afinal, as atitudes dos futuros professores sobre a utilização da informática na Educação. Para responder a essa pergunta, foram investigados 106 licenciandos de Matemática, Letras, Filosofia e Pedagogia, oriundos de uma instituição privada de ensino superior do Estado de São Paulo, a qual é dotada de recursos de laboratório e audiovisual, conectados à Internet, e que se encontravam à disposição dos alunos, tanto para a preparação e pesquisa, quanto para a apresentação de suas aulas de prática de ensino e trabalhos escolares. Alguns objetivos foram estabelecidos: - Verificar se existia diferença de atitude em relação à área de licenciatura, gênero e formação em nível médio; - Verificar se os licenciandos utilizavam, ou não, o computador em seu cotidiano (trabalho, lazer e estudo) ou na preparação de suas aulas; - Verificar se havia a intenção de utilizar o computador como ferramenta em sua futura profissão de professor, seja na preparação de suas aulas (como fonte de pesquisa, consulta) ou no uso em sala. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa exploratória, realizada em nível de iniciação científica, em uma instituição privada de ensino superior, localizada no interior do estado de São Paulo, que oferece cursos de Licenciatura nas áreas de Matemática, Filosofia, Letras e Pedagogia. Os licenciandos dos referidos cursos, do turno noturno, responderam dois instrumentos de pesquisa. O primeiro deles, um questionário de caracterização do sujeito, contendo 20 questões, com o objetivo de caracterizá-los quanto à idade, gênero, curso e período ao qual pertenciam, sobre os conhecimentos específicos relacionados à pesquisa, acesso à tecnologia, tempo como usuário de informática, auto-avaliação do nível de conhecimento, conhecimento de programas, cultura de utilização e questionamentos diretos, referentes à tecnologia em assuntos relacionados à educação, como usuário e futuro professor. De forma intencional, foram selecionados dois tipos de questões: aquelas com aspectos técnicos, que poderiam contribuir, ou não, para a utilização do computador; e as que expressariam as opiniões dos licenciandos em relação ao uso do mesmo. O outro instrumento, uma escala de atitudes em relação ao uso do computador, (elaborado e validado por SELWYN, adaptado por SANTOS, 2004) era composto de 21 proposições, sendo 11 positivas e 10 negativas, nas quais o sujeito era solicitado a expressar se concordava ou discordava com o sentimento evidenciado em cada uma. Cada proposição apresentava quatro alternativas de respostas: Concordo totalmente; Concordo; Discordo e Discordo totalmente. Dessa forma, a escala utilizada é do tipo Likert, em que são somadas as respostas, a fim de se obter a pontuação total, que representa a atitude geral do indivíduo em relação ao uso do computador. Essa pontuação pode variar de 21 pontos, atitudes mais negativas, a 84 pontos, atitudes mais positivas. Após a aplicação dos instrumentos, todos os dados foram organizados e conferidos cuidadosamente, o que levou à exclusão dos instrumentos de 3 participantes: dois deles não apresentavam o preenchimento de nenhuma questão da escala e, outro assinalou a opção concordo nos 21 itens da escala, levando a crer que suas respostas não refletiam uma forma de pensar, mas, sim, uma forma de se livrar do preenchimento da mesma. A análise dos dados quantitativos obtidos foi realizada com o apoio do software computacional SPSS – Statistical Program for Social Sciences – (NORUSIS, 1993), que fez a descrição e o cruzamento de algumas variáveis, tais, como: gênero, curso, tanto para a escala quanto para algumas perguntas respondidas no questionário de caracterização do sujeito. As demais questões do questionário foram analisadas de maneira qualitativa, a fim de fornecerem um contexto para os dados obtidos. Para a análise estatística, foram utilizadas estatísticas descritivas, enquanto para a análise inferencial foi utilizada a análise de variância (ANOVA), com nível de significância α = 0,05 (LEVIN, como citado em SANTOS, 2004). RESULTADOS E DISCUSSÃO A amostra analisada era composta por 106 licenciandos, sendo que 84 deles estavam ligados à área de Humanidades (79,25%) e 22, à área de Exatas (20,75%). Verifica-se que a média das atitudes entre os cursos foi semelhante, logo, não mostrou uma diferença estatística significativa em nível de 5% [F (3,102) = 0,661, p = 0,578]. A média das atitudes, 60,8585 pontos, ficou acima do ponto médio da escala. Logo, considera-se que o grupo apresentava uma tendência positiva em relação ao uso do computador na Educação. Entretanto, os licenciandos do curso de Matemática foram os que apresentaram a menor média (59,5818 pontos), contrapondo-se ao curso de Letras (63,7500 pontos), conforme mostrado na Tabela 1. Tabela 1 – Média de Atitudes por curso curso Letras F média dp mínimo máximo 16 63,7500 8,5206 52,00 82,00 Matemática 22 59,6818 9,1046 43,00 78,00 Pedagogia 57 60,5263 9,3045 42,00 78,00 Filosofia 11 60,7273 10,5175 41,00 81,00 Total 106 60,8585 9,2349 41,00 82,00 Para este artigo, focalizamos mais os dados obtidos com os licenciandos de Matemática, a fim de contextualizar a atitude desses licenciandos, fornecendo pistas sobre o desenvolvimento dessas atitudes. Quase a totalidade, 90,9% dos licenciandos de Matemática afirmou que o computador era um bom suporte para a aprendizagem; 95,5%, que a sua utilização tornava a aprendizagem mais interessante e 90,9%, ou seja, 20 dos 22 licenciandos, defendiam o uso do computador pelo professor nas aulas, parecendo indicar, assim, uma predisposição bastante positiva para utilizarem a informática em suas aulas, quando no exercício do magistério. Entretanto, quando se investiga a cultura de utilização1 do computador pelos licenciandos, observa-se que ela é muito limitada: 86,4% dos alunos usam e-mail; 59,1% fazem uso de comunicação entre comunidades eletrônicas, utilizando-se de ferramentas como Chat/MSN e Orkut; 81,8% utilizam a Internet para realização de pesquisas e 68,2%, para a leitura de notícias. há uma cultura de utilização quando o usuário inclui em sua rotina diária, atividades repetitivas utilizando o computador. 1 Além da pouca cultura de utilização da informática, a análise de outros aspectos, como se descreve a seguir, parece evidenciar poucas possibilidades de incorporação do computador ao ensino de Matemática, pelos futuros professores pesquisados. Dos 22 alunos que participaram da pesquisa, poucos utilizavam o computador para auxiliar as apresentações de seus trabalhos, na Graduação, e a quantidade de atividades de micro-ensino, que contaram com o uso de tecnologias não tradicionais, foi baixa, se comparadas com as tradicionais, sendo que alguns fatores contribuíram para isso, de forma decisiva. A infra-estrutura da Instituição pesquisada não favorecia a utilização das tecnologias, de forma natural: nem sempre havia disponibilidade dos equipamentos multimídia. Antes de se pensar em como fazer apresentação, precisava-se ter a certeza de que o equipamento estaria disponível, o que poderia não ocorrer, mesmo com agendamento prévio. Quando há limites de acesso aos computadores, a produção de material ou utilização em casos específicos (como elaboração de trabalhos e apresentação de aulas) fica prejudicada. Dentre os respondentes, um licenciando de Matemática afirmou não ter acesso a computadores. Entretanto, também foi verificado que aproximadamente 68% dos licenciandos possuíam computador em seus domicílios, o que possibilitaria acesso facilitado à tecnologia, ficando, assim, independente de recursos externos que pudessem inviabilizar seus trabalhos. Se o problema não era tanto o acesso, poderia ser o domínio da máquina, posto que alguns autores (BORBA e PENTEADO, 2003; RIBEIRO e PONTE, 2000) postulam que alguns professores acreditam que primeiro tenham de dominar completamente a ferramenta antes de começar a utilizá-la em suas aulas. Contudo, uma parcela significativa dos licenciandos afirmou ser usuário de computador há mais de dois anos (81,8%). Desse total, 13 alunos (59,1%) utilizavam a tecnologia há mais de 5 anos. Conclui-se, portanto, que o computador não era algo novo em suas rotinas diárias, um desconhecido que surgiu recentemente. Em uma auto-avaliação, um único aluno considerou seu nível de conhecimento como avançado; nove alunos afirmaram ter um nível básico; dez, um nível médio de conhecimento e dois avaliaram seu conhecimento como sendo nenhum. Considerando-se que o nível básico dê a um usuário condições de ligar o computador, localizar um arquivo em um disquete e, em seguida, executá-lo, dentro do grupo pesquisado, os alunos com nível igual ou superior a esse, eram em número de 20, que corresponde a 90,9% do total. Ressalta-se que, apesar de 72,7% dos licenciandos de Matemática afirmarem terem feito algum tipo de curso de informática, 100% asseveraram que investiriam recursos para se capacitar para a utilização da informática no ensino. Logo, o segundo e, provavelmente, maior problema relacionava-se à insegurança na utilização, uma vez que as novas tecnologias aplicadas a aulas regulares no Curso de graduação não faziam parte do cotidiano dos licenciandos. Não viam “modelos” para basear suas apresentações. A grande maioria dos professores-formadores no Curso de graduação, com maior experiência e conhecimento didático, apresentava quase que a totalidade de suas aulas baseadas em métodos tradicionais de ensino. É normal que os professores iniciantes se espelhem em algum professor que lhes foi marcante enquanto alunos (MARQUES, 2004). No caso da incorporação da informática no ensino de Matemática não haverá o que se espelhar! Se algum licenciando do grupo pesquisado quiser utilizar, vai ter que criar um modelo próprio ou basear-se em alguém fora do ambiente escolar. Dessa forma, não há um “mentor”, que venha despertar no futuro professor a vontade de usar a informática para ensinar. Uma vez que haja a necessidade e a vontade, surge outro empecilho ao uso do computador: o conhecimento dos softwares. No grupo pesquisado, nem todos os licenciandos de Matemática estavam familiarizados com programas que pudessem auxiliar o estudo de funções, geometria, cálculo, trigonometria, álgebra, entre outros. De acordo com Ponte, Oliveira e Varandas (2003), é essencial os professores saberem como usar os novos equipamentos e softwares, bem como suas potencialidades e fragilidades, pois essas tecnologias mudam o ambiente em que os professores trabalham e o modo como se relacionam com outros professores, modificando, de modo importante, a natureza do seu trabalho. Infelizmente, as instituições de ensino superior nem sempre se preocupam em ter à disposição programas específicos e em quantidade suficiente para que os licenciandos façam uso ou aprendam como utilizá-los com seus futuros alunos. O conhecimento da tecnologia de hardware (mouse, teclado, monitor, disquete) e conhecimentos básicos de sistema operacional (procurar, abrir ou copiar um arquivo) são habilidades elementares necessárias aos usuários. Acredita-se que a construção de tais conhecimentos, considerados básicos, permitem que esses usuários desenvolvam um nível mais elevado de habilidades. Com base em ferramentas, identificadas como capazes de auxiliar o futuro professor em seu dia-a-dia, na confecção de trabalhos, organização de aulas e apresentação de produtos multimídia, tais, como: enciclopédias e dicionários – como Encarta e Aurélio; editores de texto – como o Word; programas de apresentação de conteúdo eletrônico multimídia – como o PowerPoint; as planilhas eletrônicas (Excel) e os programas específicos da Matemática – como o Cabri, Logo, Geometricks, Winplot, entre outros, indagou-se ao grupo sobre a utilização dessas ferramentas. Os editores de texto foram os que apresentaram uma maior concentração de usuários, com 90,9%; os programas específicos para o ensino de Matemática, os de menor concentração, com apenas 27,3%. Destaca-se a utilização de planilhas, por 77,3% dos licenciandos e os softwares de apresentação com 72,7%. Na pesquisa não se avaliou o grau de conhecimento em relação aos softwares, de forma que não se pode afirmar se são especialistas ou usuários com poucos recursos, mas, apenas, que são usuários. Na falta de softwares específicos, cabe ao professor prover um conteúdo eletrônico necessário para a execução de sua aula, porém, muitos licenciandos não foram capacitados a utilizarem programas necessários para elaborarem suas aulas, como o PowerPoint, por exemplo. No caso do curso de licenciatura em Matemática, pesquisado, a Disciplina de informática era baseada em linguagem de programação Pascal, visando ao desenvolvimento da lógica. Contudo, o programa utilizado não tem a interface gráfica necessária para a apresentação de alguns conteúdos que exigem um desenho mais bem definido, como no caso de funções e geometria, por exemplo. Com isso, quando se falava em informática, os alunos associavam o computador à linguagem de programação. Para alguns professores de outras áreas pode parecer simples criar conteúdos eletrônicos de Matemática. Basicamente, eles devem estar se referindo a números e fórmulas, algo previsível e imutável: o Teorema de Pitágoras é um só, não muda, é sempre a mesma coisa. Onde está a dificuldade em se criar uma aula que no final diz somente que: “em um triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos”? Realmente, escrever isso em uma transparência ou em um slide do PowerPoint é fácil. No entanto, criar um conteúdo organizado, que leve o aluno a entender seus princípios, identificar e mostrar alguns usos em nosso cotidiano é algo bem mais complexo! E esse deve ser o objetivo do professor que tem interesse em construir conhecimento, e não, simplesmente, passar a informação. Essa afirmação pode levar a crer que, então, para possibilitar ao professor elaborar essa aula, ele deva conhecer muito de softwares ou de programação. Felizmente isso não é verdade, pois o principal é a forma como vai ser exposto o conteúdo. Sendo assim, com um conhecimento básico de um programa de slides, como o PowerPoint, e um programa de desenho, como o Photoshop, isso pode se tornar um conteúdo interessante. Mas, como a falta de conhecimento supera a predisposição de utilizar informática, não pode se esperar que os alunos invistam recursos na compra de softwares específicos, para criar suas apresentações que, futuramente, servirão de modelo para suas aulas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados obtidos junto aos licenciandos em Matemática parecem indicar que a utilização de computadores, como ferramenta de auxilio nas aulas, poderá gerar facilidades à compreensão de conteúdos, que hoje são apresentados de maneira tradicional. A modernização do ensino da Matemática é um problema que demanda solução. Assim, o uso da tecnologia no ensino da Matemática poderia contribuir para essa modernização, porém, isso dependeria da capacidade do professor para conseguir definir, não só como e quando usar a tecnologia mas, também, por quê e para quê. Os respondentes acreditavam na necessidade de adquirir os conhecimentos técnicos e pedagógicos necessários para uma boa utilização do computador. Para isso, precisariam receber orientações específicas, preferencialmente de profissionais da educação. A formação inicial, portanto, deveria dar especial atenção a essa problemática e contribuir para que o futuro professor assumisse novas atitudes e compromissos na sala de aula, ou seja, na medida do possível, a formação em novas tecnologias deveria: fornecer perspectivas sobre as razões educacionais e didáticas que aconselham seu uso; se prolongar para a sala de aula, proporcionando situações de reflexão; e, estar atenta às necessidades individuais dos formandos e das escolas (RIBEIRO e PONTE, 2000). Como já destacado por Rosalen e Mazzilli (2005), a formação de professores, capazes de utilizarem informática no ensino, não exige apenas o domínio dos recursos, mas uma prática pedagógica reflexiva, visto que o uso de computadores não garante, por si só, uma melhor qualidade do ensino. Finalizando, acredita-se que, para incorporar as novas tecnologias nas práticas pedagógicas dos professores de Matemática, da forma como os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000) preconizam, parece ser necessário que os cursos de formação sejam capazes de contemplar, além do domínio técnico de cada tecnologia, ou softwar,e e as suas potencialidades relativas aos tópicos de Matemática, o modo como essas ferramentas podem ser usadas na sala de aula e o modo como criar, na escola, as condições organizacionais adequadas à sua efetiva utilização. No entanto, para o Curso pesquisado, isso estava longe de se tornar uma realidade. REFERÊNCIAS ANDRADE, P. F. Aprender por projetos, formar Educadores. In: VALENTE, J. A. (Org.). Formação de educadores para o uso da informática na escola. Campinas: Unicamp, 2002. p. 57-83. BORBA, M. C; PENTEADO, M. G. Informática e educação matemática. 3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. 99p. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. 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