percepções e discursos dos alunos do curso de

Propaganda
PERCEPÇÕES E DISCURSOS DOS ALUNOS DO CURSO DE
APERFEIÇOAMENTO PARA CAPACITAÇÃO DE TUTORES EM EAD:
TRAÇANDO UM PERFIL
RUARO, Laurete Maria – SEED/PR
[email protected]
PEROTTI, Eleni Elizabeth Gotrifid – UFPR
Eixo Temático: Comunicação e Tecnologia
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
O presente trabalho é resultado da sistematização de pesquisas bibliográficas e análises da
produção de alunos do “Curso de Aperfeiçoamento para Capacitação de Tutores em EaD”
ofertado pelo Núcleo de Educação a Distância da Universidade Federal do Paraná no período
entre agosto de 2008 e maio de 2009. Tem-se por finalidade discutir a educação a distância
como instrumento para formação continuada sinalizando características necessárias a
professores/tutores e alunos considerando as especificidades didático-pedagógicas desse
processo educacional, uma vez que no contexto contemporâneo observa-se crescente oferta e
procura por essa modalidade de formação e capacitação devido, entre outros fatores, às
características de flexibilidade, adaptação e, principalmente, economia. Será analisado o perfil
dos estudantes desse curso a distância para formação de tutores comparando suas impressões
iniciais com suas produções no decorrer da capacitação a fim de pontuar a construção do
processo ensino-aprendizagem desses sujeitos a partir de sua formação inicial e da
profundidade e complexidade das suas produções e construções teóricas. A observação dessas
construções se dará a partir das postagens nos fóruns de discussões durante o curso
observando-se o conteúdo e a interação entre os educandos, assim como a mediatização e
suporte oferecidos pela figura do tutor. O referencial teórico que fundamenta a pesquisa se
constitui das contribuições de autores como BELLONI (2006), MORAN (1997), PRETI
(2005), dentre outros que se mostram abertos a um movimento de pesquisa lúcida e
consistente nessa área emergente da educação que surge como possibilidade de se oferecer
nichos educacionais pelos mais diversos canais além das tradicionais modalidades
presenciais.
Palavras-chave: Educação a distância. Formação continuada. Processo ensino-aprendizagem.
2015
Introdução
A função social do processo de escolarização se caracteriza pela organização de
estratégias didático-pedagógicas capazes de instrumentalizar cientificamente os sujeitos a fim
de levá-los a um nível tal de esclarecimento sobre as relações sociais capaz de minimizar a
situação de alienação e constituição de espaços de opressão.
Para tanto, unem-se esforços no sentido de garantir acesso e permanência a todos os
cidadãos em uma escola de qualidade. E, considerando a educação como um processo:
portanto permanente, há necessidade de organizar políticas para sua democratização
independente de que essa formação seja de âmbito inicial ou continuado.
Nesse contexto, potencializado pelo advento das tecnologias da informação e
comunicação, surge a possibilidade de se oferecer nichos educacionais pelos mais diversos
canais além das tradicionais modalidades presenciais. Destacam-se as iniciativas de formação
por meio de recursos audiovisuais na modalidade semipresencial e os cursos ofertados pela
internet, a distância.
Pensando na educação a distância como modalidade de ensino capaz de suprir as
necessidades da demanda por educação continuada, qualificação e aperfeiçoamento, o
presente texto – que é fruto de pesquisas e análises construídas durante o Curso de
Aperfeiçoamento para Capacitação de Tutores em EAD – tem por objetivo analisar essa
modalidade sob a perspectiva de instrumento para formação continuada; sinalizar as
características necessárias a alunos e professores nessa modalidade de ensino e discutir o
perfil dos estudantes de curso a distância para formação de tutores comparando suas
impressões iniciais com suas produções no decorrer da capacitação. Dessa forma, pode-se
avaliar a relevância do instrumento online por meio da metassignificação.
Num primeiro momento, sob a luz de pesquisas bibliográficas, serão abordadas
questões referentes à estrutura e organização da EaD e sinalizadas características necessárias à
alunos e docentes que apostam nessa modalidade. A partir desses apontamentos será
apresentada análise dos discursos dos alunos de turma de capacitação online. Pretende-se por
meio da investigação, nos fóruns de discussões, pontuar a construção do processo ensinoaprendizagem desses sujeitos considerando em sua trajetória contradições, equívocos e
superações.
A modalidade de EaD como formação continuada e os sujeitos que a constituem
2016
A modalidade a distância de educação começa a tomar corporeidade nas discussões
pedagógicas brasileiras mais efetivamente a partir da década de 1990, sendo normatizada pela
a LDB 9394/96 que em seu artigo 80 menciona que “o Poder Público incentivará o
desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e
modalidades de ensino, e de educação continuada”.
Os cursos de educação de jovens e adultos foram os primeiros a se beneficiar da
organização em formato semipresencial e a distância devido, principalmente a peculiaridade
das necessidades educacionais dessa demanda: sujeitos que foram marginalizados do processo
da educação básica em idade regular e que necessitam suprir a defasagem sem prejuízos à sua
vida profissional e social.
No que se refere à educação continuada, surgem cursos de especialização, capacitação
e aperfeiçoamento no intuito de beneficiar parcela significativa da população que não teria,
em condições regulares, condições de cursar módulos educacionais de formação e/ou
aperfeiçoamento. Moran (1997, s/p) menciona, acerca da educação a distância, que “a
internet, ao tornar-se mais e mais hipermídia, começa a ser um espaço privilegiado de
comunicação de professores e alunos, já que permite juntar a escrita, a fala e proximamente a
imagem a um custo barato, com rapidez, flexibilidade e interação até a pouco tempo
impossíveis”.
Surgem, nesse contexto, ambientes específicos para disponibilizar as orientações
necessárias a alunos e professores quanto à organização do processo de ensino/aprendizagem.
Esses espaços para construção do conhecimento são constituídos, geralmente, como tutoriais
que organizam conteúdos, avaliações, fóruns de discussão e produções. Eles podem ser mais
ou menos interativos e dinâmicos dependendo dos objetos que os constituem, da mediação do
professor e do envolvimento do aluno. Conforme Neder (1999) a estrutura da EaD modifica o
esquema de referência associada à presença do professor e do estudante, uma vez que
decompõe o ato pedagógico em dois momentos e dois lugares: o ensino é mediatizado, a
aprendizagem resulta do trabalho do estudante, a reação do aluno em face do conteúdo vem
indiretamente ao docente por meio dos tutores.
A função pedagógica do professor/tutor como mediador e dinamizador do processo de
educação via meios online – seja como complemento à educação presencial, educação
semipresencial ou a distância, é bastante determinante para o (in) sucesso do processo. O mito
da substituição do professor pela máquina é, nesse contexto, suprimido pelas evidências de
2017
que a interatividade entre educador e educandos é de fundamental importância para se
estabelecer processos comunicativos capazes de mobilizar à pesquisa e transcender o senso
comum pela explicação científica, capaz de libertar paradigmas de dominação (FREIRE,
1992).
Em relação ao papel do professor/tutor e a pedagogia selecionada para organizar a
ação docente em ambientes virtuais, é relevante discutir a necessidade de aprimoramento de
metodologias e quebra de paradigmas mais tradicionais de ensino, pois, segundo Okada e
Santos (2000) quando não há uma organização interativa e envolvente das situações de
aprendizagem disponibilizadas via online, tornando as atividades modelos de pura
transmissão ou distribuição em massa de informação, não há educação e, sim, banalização da
educação e subutilização do ciberespaço” (OKADA e SANTOS, 2000, p.169).
Nesse sentido, reafirma-se a necessidade de se estabelecer um projeto pedagógico
lúcido para as iniciativas educacionais no ciberespaço, considerando a especificidade da
demanda educacional e garantido qualidade no processo de formação. O professor assume
posição de destaque no que se refere a mediatização desse processo, conforme Belloni (2006,
p. 81), “em EaD como na aprendizagem aberta e autônoma da educação do futuro, o professor
deverá tornar-se parceiro dos estudantes no processo de construção do conhecimento, isto
é, em atividades de pesquisa e na busca da inovação pedagógica” (grifos da autora).
A formação do profissional nessa modalidade de ensino deve ser pensada de forma
bastante séria e capaz de subsidiar maior interatividade entre alunos e conhecimento por meio
de ambientes virtuais sem negligenciar os princípios de qualidade e eqüidade; será necessário
desenvolver uma postura de atualização constante não só no que se refere aos aspectos
técnicos pertinentes à sua área de atuação, mas, também, postura inovadora no que se refere à
organização de novas metodologias, contextos e situações de aprendizagem, pois, “sua
atuação tenderá a passar do monólogo sábio da sala de aula para o diálogo dinâmico dos
laboratórios, salas de meios, e-mail, telefone” (ibid, p.82).
São sinalizadores de competência pedagógica para EaD características docentes que
envolvem compromisso com o processo de ensino-aprendizagem; domínio dos conteúdos
técnico-científicos que fazem parte da disciplina ou módulo trabalhado; habilidade com o
manuseio e exploração de sistemas e softwares de suporte; mediatização relacional e
simbólica.
2018
Quanto ao aluno que opta pela educação a distância, tem-se observado que geralmente
é adulto e busca oportunidade, na maioria das vezes, de formação continuada no nível de
qualificação e aperfeiçoamento. Pode-se mencionar que, para haver movimento de real
aprendizagem e produtividade em ambientes virtuais por parte desse perfil de aluno, seja
necessário desenvolvimento da autonomia, uma vez, que a aprendizagem deverá ser autoorganizada com disciplina e predisposição para superar as possíveis dificuldades de
aprendizagem (para tanto retoma-se a importância de o professor/tutor acompanhar com
seriedade e profissionalismo todos os alunos de seu curso virtual).
Em síntese, pode-se afirmar em relação à estrutura e organização de processos
formativos em EaD, corroborando o posicionamento de Alonso (2005, p.23), que
na proposição de sistemas não-presenciais de ensino-aprendizagem, os processos de
comunicação, para estabelecer o diálogo, ainda que os sujeitos estejam distantes
geograficamente; que a sistematização do conhecimento, no sentido de sua constante
elaboração e reelaboração; e, que os processos de acompanhamento e avaliação, para
se validar os processos formativos, seriam seus elementos fundantes.
Dessa forma, independente de não se apresentar na modalidade tradicional de
educação em ambientes presenciais, os sistemas que propõem formação por meio de
instrumentos tecnológicos em espaço não presencial são pensados sob égide de estrutura
pedagógica complexa, pautada em projetos educacionais comprometidos com a oferta não
apenas do aligeiramento ou democratização retórica da cultura. Conforme Preti (2005, p.98)
essa modalidade “não pode ser percebida como oferta ‘supletiva’, paralela ao sistema regular
de educação, mas sim como parte integrante do mesmo, inspirada em princípios, valores e
práticas, solidamente fundamentada nas atuais teorias científicas da educação e da
comunicação”.
Além de garantir acesso à educação básica regular a um número cada vez mais
crescente de população, Garcia Aretio (1995) menciona que a EaD traz inúmeras outras
vantagens tais quais: diversifica a oferta de cursos; oportuniza àquele que não pode iniciar ou
concluir uma formação, de fazê-la o mais próximo de sua moradia; facilita a continuação de
qualificação daqueles que já estão formados, mas que precisam de atualização; alcança um
grande número de pessoas em diferentes localizações geográficas; flexibiliza o tempo, o local
e o ritmo de estudo de cada um; propicia uma eficaz combinação de estudo e trabalho; garante
a permanência do estudante em seu entorno laboral, cultural e familiar; coloca o estudante
2019
como centro do processo ensino-aprendizagem e como sujeito ativo desse processo; trata-se
de uma formação teórico-prática ligada à experiência e em contato imediato com a atividade
de trabalho e social; potencializa a iniciativa individual colaborando para que o estudante
adquira atitudes, interesses, valores e hábitos educativos positivos.
Os sujeitos da EaD: um olhar sobre particularidades dessa demanda educacional
A turma de capacitação da qual pertencem os alunos sujeitos dessa pesquisa conta com
21 alunos inscritos sendo que, por meio da observação da assiduidade nas atividades
realizadas nos fóruns, pode-se constatar participação efetiva de 19 desses. Observa-se, quanto
ao nível e área de formação, que a maioria (totalizando dezoito alunos) tem formação
universitária na área de licenciatura abrangendo as áreas de Pedagogia (07); Ciências e
Matemática (05); Geografia (02); Pedagogia e Geografia (01); Biologia (01); Educação Física
(01); Letras (01). Da área de bacharelado há um profissional formado em curso superior de
Ciências Econômicas, um de Ciências Sociais e um de Artes Visuais. Todos esses
profissionais atuam na área educacional, em sua maioria em escolas públicas de educação
básica ou, na minoria, prestam serviços a mantenedoras (secretarias municipais e estaduais de
educação). Verifica-se, ainda, que todos já haviam estabelecido contato anterior com a
modalidade de EaD por meio de participação em cursos ou por meio de pesquisa na área.
Quanto à amplitude espaço-territorial, o curso atendeu educandos de 10 cidades de
diferentes regiões do Paraná e dois municípios do Estado de Mato Grosso. Em relação ao
gênero, atendeu a apenas três sujeitos do sexo masculino.
A totalidade desses cursistas desenvolve atividades profissionais na área da educação,
seja por meio da docência em espaços presenciais ou assessorias em órgãos mantenedores
desses espaços. Esse fator permite inferir, quanto à sua adesão em curso de capacitação para
tutoria online, que: 1. há aceitação da utilização da EaD como possibilidade de formação
continuada; 2. há preocupação com a necessidade de incorporação das tecnologias da
informação e comunicação na prática pedagógica;
3. ressalta-se a preocupação com o
redimensionamento e ampliação da área de atuação do magistério frente à tecnologia.
Os cursistas admitem em seus discursos que a contemporaneidade assume caráter de
inovação dos meios de ensinar e que há necessidade de que o profissional se reorganize frente
a tal situação: [...] acredito na formação permanente pois o profissional deve estar sempre
procurando novos conhecimentos para desempenhar melhor o seu trabalho e agora com
2020
as tecnologias sendo mais acessíveis às pessoas , o processo fica mais fácil e
interessante (Fórum 2).
Com a finalidade de organizar as análises dos discursos dos cursistas nos fóruns
de discussões, num primeiro momento serão listados os temas discutidos nesse espaço
para, então, discutir sobre as construções teóricas dos envolvidos.
Nº
Tema
01
Fórum: "EaD e Cidadania"
Tabela 1 – Fóruns, temas e orientações
Orientação
Acreditamos que atualmente a educação é uma das fundamentais
condições de acesso a cidadania. Deste modo deveria chegar
indiscriminadamente a todas as pessoas.
•
•
•
02
03
Fórum: "Características da
EaD"
Fórum: "Construção de
Textos"
O que você pensa da afirmação anterior?
Estará a cidadania tão intimamente ligada à educação?
Você acredita que a EaD pode colaborar no desenvolvimento
do homem e da sua condição de cidadão?
Neste fórum faremos uma análise das principais características da
modalidade da EaD. Retorne ao Capítulo 3, escolha uma das
características citadas e apresente a sua análise no Fórum. No mesmo
Fórum, você deverá selecionar pelo menos uma característica
diferente da escolhida por você e comentá-la.
A esta altura do Curso de Capacitação de Tutores em EaD surge uma
questão quanto à fundamentação teórica, ao posicionamento crítico
do aluno e “respeito às autorias”.
Como você avalia estes três aspectos na construção de textos pelo
aluno da EaD?
04
05
06
Fórum: "Desenvolvimento
de Equipes"
Fórum: "Conhecimentos e
Habilidades"
Em EaD é imprescindível o trabalho e a articulação de equipes
multidisciplinares. Baseado nas leituras das Etapas anteriores,
explicite neste Fórum a sua opinião acerca da composição de equipes
para o funcionamento de sistemas de EaD.
Na sua opinião, quais os conhecimentos e habilidades que um tutor
deve adquirir para exercer a EaD?
Fórum: "TICs e Educação"
Leia a entrevista com o prof. Arnaud Soares sobre a utilização da
Internet na educação (Texto complementar - Entrevista). São
abordadas questões como inclusão digital, acesso à informação e ao
conhecimento, fluência tecnológica, uso pedagógico da Internet,
entre outras.
O curso de Capacitação de Tutores do NEAD/UFPR utiliza a Internet
como meio de interação.
Certamente você conhece ou até mesmo participou de algum curso
que tenha utilizado outra(s) tecnologia(s) que não a Internet. Quais
tecnologias utilizadas? Quais os pontos positivos que você verificou?
E as dificuldades? Participe do fórum, respondendo estas questões.
2021
Comente, faça sugestões, colocando a sua opinião.
07
08
Fórum: "O uso pedagógico
de ferramentas AVA"
No Curso de Capacitação de Tutores da UFPR você está utilizando o
Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Moodle. Este ambiente
possui diversas ferramentas, como envio de tarefas, fórum, chat e
ferramenta wiki. Escolha uma das ferramentas que você tenha
utilizado neste curso. Proponha um uso pedagógico para esta
ferramenta, que possa ser utilizado na sua prática educacional ou
num possível treinamento de sua empresa/setor/unidade. Leia as
propostas dos colegas, fazendo seus comentários. Participe
Fórum: "Contextualização"
Considerando o que você aprendeu sobre as duas posturas de
avaliação e suas próprias experiências pessoais, tanto como aluno
quanto como professor, discuta a divisão de responsabilidades entre
professor e aluno em relação ao processo ensino-aprendizagemavaliação na EaD.
09
Fórum: "Critérios de
Avaliação"
Nesta semana abordamos o que e o que não avaliar. Dentre os vários
aspectos tratados escolha aquele que lhe parece o mais relevante e
apresente no fórum sua argumentação a favor de sua escolha. Discuta
de forma construtiva a posição de seus colegas.
Fonte: Curso de Aperfeiçoamento para Capacitação de Tutores em EaD / NEAD-UFPR – CINFOP Turma 12
Analisadas os posicionamentos referentes ao fórum 1, percebe-se que grande parte dos
cursistas acredita na EaD como possibilidade de estender a prática educativa por meio da
tecnologia, entretanto os discursos são marcados, ainda, por algumas contradições como é
possível observar no depoimento seguinte:
Sim, como já foi dito através desse curso todos têm oportunidade de participar
e enriquecer seu conhecimento, sem precisar deixar seu lar, seu trabalho,
também não precisamos ‘desprover’ de recursos financeiros, porque este curso
possibilita a toda pessoa interessada em se atualizar.
As principais contradições são marcadas pelo nível de informação acerca da
modalidade: mesmo no lar ou no trabalho há necessidade de planejamento, programação e
disciplina quanto a horários e cumprimento de atividades; nem toda ação de EaD se manifesta
de forma gratuita – a maior parte dos programas advém da iniciativa privada; a atualização
por meio desses programas exige pré-requisitos mínimos como acesso à internet,
conhecimento de informática...
Cabe, nesse momento, ratificar que embora a EaD seja um meio de democratização de
acesso ao conhecimento, há uma grande lacuna no que se refere a real incorporação de todo o
cidadão nesse processo, mesmo porque a inclusão digital não é uma realidade em nossa
2022
sociedade. E mesmo que seja assegurado o acesso, a permanência e terminalidade desse
processo evoca outras discussões que envolvem a organização pedagógica desse sistema que
não deve ser considerada de forma simplificada.
Percebe-se, também, que alguns cursistas questionam a postura do profissional quando
se fala em educação de qualidade, podendo ser resumida a produção do fórum no seguinte
questionamento:
Penso que o que falta é uma educação de qualidade. Todos falamos que a Educação
é um direito de todos. E porque não colocar "EDUCAÇÃO DE QUALIDADE". Ao
analisar a educação hoje, o meio onde trabalhamos como "Profissionais da
Educação" será que estamos mesmo ofertando uma educação de qualidade?
No fórum 2, são apontadas como principais características da EaD principalmente a
flexibilidade e a adaptação, justificando-se essa escolha devido à possibilidade de organização
dos estudos em espaço-tempo específicos. São defendidas, em menor escala, as características
de democratização do acesso ao saber formal; economia; eficácia e autonomia; formação
constante.
Nas discussões desse fórum observa-se nitidamente maior entrosamento entre os
cursistas que participam com comentários e críticas às opiniões postadas pelos colegas. O
grau maior de criticidade continua sendo verificado no que se refere a indagações sobre o real
sentido da formação continuada dos professores:
Olá meninas concordo com vocês no quesito democratização do conhecimento, mas
vejo que por experiência de alguns colegas que buscam esses cursos de formação a
distância, apenas pelo certificado. Acreditam ser mais fácil, o que na prática
sabemos que não é, e não se dedicam ao máximo as atividades (respondem qualquer
coisa só para dizer que contribuiram, copiam trechos da internet na elaboração de
atividades, não fazem contribuições interessantes sobre a discussão/tema).
Entretanto, assim como há restrições em relação aos alunos, sabemos que há cursos
que não possuem um objetivo claro ou a avaliação não contempla a discussão do
tema abordado durante o curso, não provoca uma reflexão no aluno.
Essa produção sinaliza pelo menos três pontos nevrálgicos no que se refere à formação
continuada de educadores (que se aplicam também à modalidade presencial, mas com maior
ênfase nos cursos a distância): necessidade de certificação; aligeiramento no processo de
2023
formação com interesses financeiros; superficialidade no desenvolvimento das atividades e
pesquisas.
Os fóruns 3 e 4, ao incitarem reflexões sobre a produção teórica nos cursos e sobre o
desenvolvimento de equipes, de certa forma, corroboram a crítica tecida acima, já que
evidenciam algumas falhas e superficialidades no envolvimento real dos cursistas em
atividades de formação continuada; conforme observa-se nesse apontamento: se não houver
interesse e força de vontade, o texto e as discussões são apenas superficiais, sem
conteúdo ou que propicie a continuidade da discussão.
São apresentadas, no fórum 5, como conhecimentos e habilidades necessários à
tutores em EaD formação superior; domínio de conteúdo; conhecimento de informática e
internet; determinação e disposição. Todos concordam na necessidade de formação
continuada e de competência humana para manter a interatividade. Conforme uma das
cursistas, torna-se imprescindível, paciência, domínio da língua materna e extenso
vocabulário, pois em uma assistência totalmente on line, a principal ferramenta é o texto.
Dependendo da maneira como escrevo um recado ao meu aluno, posso desmotivá-lo ou
incentivá-lo a continuar o curso.
Dando continuidade a construção dos saberes do tutor, os fóruns 6 e 7 provocam
análises sobre o uso das TICs e dos AVAs como instrumentos pedagógicos. É possível
obsefvar, nessas postagens, maior grau de maturidade nos discursos dos participantes sobre a
real função da EaD (que parecia outrora pouco consolidada nos fóruns 1 e 2). E ressurgem
contradições sobre a produtividade nessa modalidade: [...] para mim a grande dificuldade é
realmente o tempo para o estudo e realização das tarefas, gostaria de me dedicar mais,
entretanto o cansaço e o stress me impedem. Ou seja, a defesa veemente e por vezes
alienada dá espaços para a análise real das limitações dessa modalidade quando não há
tempo concreto de dedicação aos estudos.
Os fóruns 8 e 9 abrem espaço para discussão bastante oportuna sobre o papel da
avaliação no processo ensino-aprendizagem e faz ressurgir críticas às formas tradicionais
de planejamento e avaliação. A avaliação a serviço da mensuração e da classificação
deve ser abolida não só nos modelos a distância de educação. Nesse espaço surge a figura
do tutor como fator importante para ajudar na ressignificação de conceitos e mediatizar
um curso menos alienado na formação.
2024
Em síntese, embora os fóruns não permitam maior aprofundamento nas temáticas
propostas, são sinalizadores efetivos das construções e produções cognitivas dos alunos
cursistas. É possível perceber, ao analisar essas vozes, que a interação necessária à
criação de tensões e novas sínteses apareceu timidamente nesses espaços. Mesmo assim,
o saldo pode ser considerado positivo, uma vez que a impressão é que o objetivo foi
alcançado. Observe esse recorte acerca das discussões sobre organização do trabalho
pedagógico com tecnologias:
Postagem: Concordo com o prof. Soares quando ele menciona que os meios
digitais não garantem (por si só) a inclusão digital; há a necessidade de "tratar"
pedagogicamente esses recursos a fim de que se tornem aliados do processo
educativo. Nem sempre estamos preparados para isso... percebemos isso quando
nos colocamos na situação de alunos em um curso a distância. O que precisamos é
de mais investimento econômico e de formação humana para operacionalizar as
possibilidades de utilização dos recursos digitais; aprender e ensinar a "ler" esse
recurso é o primeiro passo.
Entretanto, a internet por ser um recurso organizado a partir de hipertextos,
possibilita maior interatividade e menos marasmo que, por exemplo, cursos via
televisão (como o salto para o futuro e o telecurso).
Resposta: Olá ‘colega’ concordo com as suas afirmações, não podemos repetir os
mesmos erros da educação presencial na Educação a Distância. Não basta apenas
disponibilizar os recursos multimídia nas salas de aulas se não capacitar os
professores.
Considerações Finais
No contexto contemporâneo, em que a tecnologia se estabelece como base das
relações produtivas, não há mais como negar a tendência de que os processos de educação
formal também se beneficiem de ferramentas que permitam maior oferta e acesso ao
conhecimento.
Instauram-se, então, alguns pontos que apresentam relevância para discussão: o perfil
dos sujeitos que se beneficiam dessas ações; a qualidade da oferta; o projeto pedagógico e a
estrutura didática dos programas. O presente texto apresentou concepções acerca dessa
modalidade de educação em curso de formação continuada, cujos participantes são sujeitos
que atuam na área da educação escolar pública presencial.
Os apontamentos permitem concluir que nem sempre essa modalidade de ensino
cumpre com seu papel de formação devido a inúmeros fatores, dentre os quais: limitação de
2025
tempo para assumir as leituras e tarefas do curso de forma aprofundada; motivação pela
certificação; proposta pedagógica enfraquecida.
Entretanto, quando há interesse em construir novos saberes e ampliar o referencial
científico acerca de determinada temática, os cursos online cumprem com seu papel de
incentivar, por meio de instrumentos e ferramentas de interatividade, diálogo e pesquisa, a
formação que se almeja: crítica, lúcida e de qualidade.
Cabe destacar, nesse contexto, que professores/tutores e mantenedoras precisam se
aprofundar em discussões teóricas mais consistentes acerca do processo didático-pedagógico
específico para essa modalidade de ensino. Afinal, ela rompe com a perspectiva tradicional de
educação presencial e propõem movimento mais ousado no que se refere ao papel de alunos e
professores e sua relação com o conhecimento; movimento esse que exige interatividade,
cooperação, comunicação efetiva e autonomia.
REFERÊNCIAS
BELLONI, Maria Luiza. Educação à distância. São Paulo: Autores Associados, 4ªed.,
2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1992.
GARCIA ARETIO, L. La Educación a Distancia y la UNED. Madrid: UNED, 1995.
MORAN. José Manoel. Como utilizar a Internet na educação. Revista Ciência e
Informação, Mai/Ago. 1997, vol.26, nº2 p.-. ISSN 0100-1965.
NEDER, M. L. C. A Formação do Professor a Distância: diversidade como base conceitual.
1999. Tese (Doutorado), Universidade Federal Mato Grosso, Cuiabá, 1999.
OKADA, Alexandra L. P.; SANTOS, Edméia Oliveira dos. Comunicação educativa no
ciberespaço: utilizando interfaces gratuitas. In Revista Diálogo Educacional PUCPR, vol.4,
n.13 (set/dez 2004). Curitiba: Champagnat, 2000, 187p.
ALONSO, Katia Morosov. Algumas considerações sobre a educação a distância,
aprendizagens e a gestão de sistemas não presenciais de ensino. In: Educação a distância:
ressiginificando práticas. PRETTI, Oreste (org). Brasília: Liber Livro, 2005.
PRETI, Oreste. O núcleo de educação aberta e a distância da UFMT: marcas de uma
travessia. In: Educação a distância: ressiginificando práticas. PRETTI, Oreste (org).
Brasília: Liber Livro, 2005.
Download