Dezembro 2012 - Banco Central

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A Evolução Recente do Custo Unitário do Trabalho no Brasil
O mercado de trabalho é fonte importante
de indicadores para a condução da política monetária.
Entre as variáveis utilizadas na mensuração do grau
de ociosidade (aperto) do mercado de trabalho, a taxa
de desemprego e, mais precisamente, o hiato do
desemprego (i.e. a diferença entre a taxa de
desemprego e a taxa natural de desemprego) se
destacam. Essa relação é bastante conhecida na
literatura econômica por meio da chamada Curva de
Phillips1 . Assim como o hiato do desemprego, outro
indicador-chave que procura avaliar se existem
pressões inflacionárias latentes na economia
advindas do mercado de trabalho é o chamado Custo
Unitário do Trabalho (CUT).
Além da questão relacionada à inflação, a
queda contínua e acentuada da taxa de desemprego
e o desempenho aquém do esperado do setor
industrial em relação ao resto da economia também
tem sido objeto de várias análises. Uma hipótese
central, nesse caso, é a de que esse resultado é
explicado, em grande parte, pela perda de
competitividade da indústria brasileira. Um dos
fatores que podem ajudar a explicar esse fenômeno
é o CUT. A dinâmica do mercado de trabalho afeta
diretamente o custo da mão de obra e, portanto, o
CUT2 . Dessa forma, dada a relevância do assunto,
este boxe atualiza o texto “O Custo Unitário do
Trabalho na Indústria”, publicado no Relatório de
Inflação de dezembro de 2007.
O Gráfico 1 mostra a correlação mensal entre
as variações do CUT – definido formalmente em
1/ A relação teórica destacada por essa curva implica que quando o hiato está negativo (i.e. a taxa de desemprego é inferior à taxa natural de
desemprego) a inflação tende a subir, e vice-versa. Ver, por exemplo, DA SILVA FILHO (2008).
2/ Tanto o mercado de trabalho como o CUT foram objeto de análises recentes. Com relação ao primeiro, ver DA SILVA FILHO (2008 e 2012).
Sobre o CUT, o Relatório de Inflação de dezembro de 2007 apresentou boxe sobre o assunto.
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Gráfico 1 – Correlograma cruzado entre CUT e inflação
Janeiro de 2003 a setembro de 2012
1,0
0,8
0,5
0,3
0,0
-0,3
-0,5
-0,8
-1,0
1
5
9
IPCA x CUT
13
17
CUT x IPCA
21
25
seguida – e a taxa de inflação em doze meses, medida
pela variação do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA).
De fato, pode-se notar que as correlações
entre a variação do IPCA e as defasagens do CUT
são estatisticamente significativas a partir da segunda
defasagem, e permanecem significativas até a décima
quarta defasagem. A correlação máxima ocorre entre
o sétimo e o nono mês. Essa evidência mostra que
parece haver uma precedência temporal entre
aumentos do CUT e aumentos da inflação, sugerindo
que o CUT é um indicador antecedente relevante de
pressões inflacionárias. Além disso, note que o
inverso não é verdadeiro, ou seja, o CUT não
apresenta correlação significativa com defasagens
da inflação.
O CUT procura medir o custo do fator
trabalho envolvido em cada unidade de produto.
Dessa forma, é definido como a razão entre os custos
totais do trabalho e o nível real de produção, como
mostra a equação (1):
CUT =
C
y
(1)
na qual C representa os custos totais nominais do
trabalho e y o produto real. Deve-se notar que esses
custos devem incluir não apenas os custos salariais,
mas todos os gastos efetivamente realizados pelo
empregador em benefício do trabalhador. Ou seja,
além dos salários, incluem-se também as
contribuições previdenciárias feitas pelo
empregador, eventuais participações em lucros ou
resultados, horas extras, custos com treinamento e
planos de saúde, impostos sobre a folha de
pagamento e quaisquer outros gastos relacionados
direta ou indiretamente com o empregado. Ou seja,
o CUT mostra quanto custa – em termos do insumo
trabalho – produzir uma unidade de produto. Notese, portanto, que esse indicador também pode ser
utilizado para avaliar a competitividade de algum
setor ou país, e não apenas para se analisar a
existência de pressões inflacionárias.
Para se entender com maior clareza a
dinâmica do CUT é útil expressá-lo de maneira
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alternativa. Ao se dividir o numerador e o
denominador pela quantidade do insumo trabalho
(e.g. horas trabalhadas) utilizada na produção, podese expressar o CUT como sendo a razão entre o custo
médio do trabalho e a produtividade da mão de obra,
como definido na equação (2) 3 .
CUT =
C H h
=
y H
A
(2)
em que h é o custo médio por hora trabalhada e A é a
produtividade por hora trabalhada.
A equação (2) mostra que o CUT subirá
apenas se o custo médio do trabalho aumentar mais
que a produtividade do trabalho. Ou seja, se os custos
referentes ao fator trabalho estiverem subindo, mas
de forma mais comedida que os ganhos de
produtividade, então as pressões inflacionários
estariam, em princípio, controladas.
Gráfico 2 – Indústria de transformação: CUT e componentes
% em doze meses
20
15
10
5
0
-5
Mai Jan
2003 2004
Set
Mai Jan
2005 2006
Set
CUT
Mai Jan
2007 2008
Set
Mai Jan
2009 2010
Custo-hora do trabalho
Set
Mai Jan
2011 2012
Produtividade
Obs.: Evolução nos últimos doze meses em relação a igual período imediatamente anterior.
Set
O Gráfico 2 mostra a evolução do CUT para
a indústria de transformação desde 2003, assim como
sua decomposição de acordo com a equação (2).
Alguns fatos se destacam no comportamento do CUT
desde então. Durante o período compreendido entre
o último trimestre de 2006 até o primeiro trimestre
de 2008 a tendência do CUT, que era declinante,
parecia ter se estabilizado em torno de patamar
levemente acima de 3%. Desde então, e claramente
nos doze meses que se seguiram à eclosão da crise
internacional, em setembro de 2008, o CUT sofreu
forte aceleração para, logo depois, cair de maneira
intensa, fase que durou até fins de 2010. Essas
oscilações abruptas são de difícil explicação sob o
ponto de vista unicamente econômico, e parecem
estar intimamente ligadas a problemas de
mensuração que permeiam os indicadores do
mercado de trabalho4 . Entretanto, pode-se observar
que a produtividade tem um caráter pró-cíclico e esse
fato pode ser visto de maneira clara nos meses
seguintes à eclosão da crise de 2008, assim como na
recuperação acentuada que adveio posteriormente.
3/ Outra maneira de se decompor o CUT é dividindo pelo número de trabalhadores, ao invés de usar o número de horas. O número de trabalhadores,
entretanto, não é a melhor maneira de se medir os serviços do trabalho, tendo em vista que os erros de mensuração são maiores, comparados aos
erros quando se utiliza o número de horas. Não obstante, a dinâmica seria similar à apresentada no Gráfico 2.
4/ Ver DA SILVA FILHO (2012).
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Essa dinâmica explicaria, em parte, as fortes
oscilações observadas naquele período.
Desde 2011, contudo, mais de dois anos após
o início da crise internacional de 2008/2009, o CUT
começou a subir de maneira consistente e,
atualmente, se encontra em patamar elevado,
mostrando que o quadro atual sugere pressões
inflacionárias oriundas do mercado de trabalho. De
fato, contribuíram para a elevação recente tanto o
aumento do custo médio do trabalho como a evolução
menos favorável da produtividade 5 .
Referências
DA SILVA FILHO, T. N. T. (2008).
Searching for the Natural Rate of Unemployment in
a Large Relative Price Shocks’ Economy: the
Brazilian Case. Banco Central do Brasil, Working
Paper Series, n. 163.
DA SILVA FILHO, T. N. T. (2012). Going
Deeper into the Link Between the Labour Market
and Inflation. Banco Central do Brasil, Working
Paper Series, n. 279.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (2007).
O Custo Unitário do Trabalho na Indústria. Relatório
de Inflação, v. 9 (4), 121-125.
5/ Apesar de o CUT ter sido calculado para o setor industrial – mais precisamente para a indústria de transformação –, é bastante plausível assumir,
dada a evolução dos demais setores da economia, que as inferências aqui contidas possam ser estendidas para o resto da economia. De fato, além
de o desempenho recente do setor industrial ter sido inferior ao de outros setores da economia (e.g. serviços), indicadores desagregados do
mercado de trabalho mostram que a redução da taxa de desemprego ocorre de maneira ampla, se estendendo por diversos setores econômicos.
A esse respeito, vide o Trabalho para Discussão nº 279 (2012) e, mais indiretamente, o boxe “Salário Real e Produtividade, alterações recentes”
(http://www.bcb.gov.br/pec/boletimregional/port/2011/04/br201104b4p.pdf), no Boletim Regional do Banco Central de abril de 2011.
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