FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS: NOVA ABORDAGEM EM SALA DE AULA COM O USO DE IMAGENS DE SATÉLITE COMO FERRAMENTA NO ENSINO DE ECOLOGIA SANTOS, Juliana Mariani – PUCRS [email protected] BORGES, Regina Maria Rabello- PUCRS [email protected] LAHM, Regis Alexandre – PUCRS [email protected] Área temática: Formação de Professor Agência financiadora: não contou com financiamento Resumo O artigo apresenta uma reflexão sobre a formação de professores de Ciências na contemporaneidade e traz o relato de uma pesquisa realizada junto a licenciandos em Ciências Biológicas, que é tema de dissertação de mestrado e tem por objetivo central avaliar uma proposta educacional sobre ecossistemas, em especial biomas brasileiros, utilizando o sensoriamento remoto como ferramenta, bem como sua influência no processo de formação inicial de professores de Ciências. Como os licenciandos avaliam a aplicabilidade da proposta no ensino fundamental e em que essa reflexão pode contribuir à formação inicial desses futuros professores? A proposta foi aplicada como oficina em aulas da disciplina Metodologia e Prática do Ensino de Ciências e houve acompanhamento do envolvimento dos alunos, fez-se levantamento dos conhecimentos prévios sobre os assuntos referentes à proposta no início das atividades, seguido de avaliação escrita por eles ao final. Seus depoimentos escritos e orais foram submetidos a uma análise textual discursiva (MORAES, 2007). Pelos resultados parciais da análise dos dados, os licenciandos entendem que o estudo do meio ambiente é importante na educação básica para a formação de cidadãos atuantes e responsáveis, com consciência ecológica e respeito ao meio ambiente. Reconhecem a ferramenta do sensoriamento remoto como instrumento de ensino e análise crítica, demonstram interesse pela didática e destacam avanços e construção de novos saberes ao longo do trabalho. Houve, portanto, um espaço de construção, pensamento crítico e reflexão sobre a formação dos próprios professores quanto à sua prática docente e impactos da ciência e da tecnologia na educação, em nossa sociedade. Palavras-chave: Formação de professores; Ecologia; Sensoriamento Remoto; Educação em Ciências. 3557 Introdução É importante para o professor de Ciências aprender a aprender com seus alunos, pois eles são indivíduos com uma história e cada um deles traz consigo seus próprios conhecimentos e formas de construir o aprendizado. O aluno estabelece conexões com o conceito ensinado pelo professor e seus conceitos prévios, por isso é necessário que o professor tome conhecimento, leve em consideração e, antes de tudo, valorize os conhecimentos prévios do aluno, a fim de promover uma aprendizagem mais significativa. Neste contexto, a pesquisa em sala de aula, por parte do professor, para entender melhor o aluno e as conexões que estabelece entre o que é ensinado e o que é aprendido, é de extrema importância para que o aluno não seja mero espectador, e que possa, de fato, construir novos saberes. O orientador e mediador entre a realidade escolar e a de fora da sala de aula é o professor. Além desse constante olhar ao conhecimento do aluno, para auxiliá-lo no processo de aprendizagem, o professor necessita estar atento as mudanças na sociedade e o contexto em que ele e a comunidade escolar estão imersos. Se o ensino do professor estiver estagnado, também estará a aprendizagem do aluno. Buscar atualizações de acordo com a realidade da sociedade, da tecnologia e da ciência faz parte do trabalho do profissional da educação. As tecnologias na educação podem ser um meio de ajudar o aluno a estabelecer relações entre seus conhecimentos e os conhecimentos científicos, integrando conhecimentos das ciências e do cotidiano, constituindo uma forma de não limitar os estudos do aluno à cópia e permitindo ao professor uma superação da maneira tradicional de ensinar. Este artigo aborda a importante questão educacional e social que é a formação dos professores de Ciências na atualidade, com o compromisso de ir em busca da incrementação do ensino e atender as exigências da educação científica contemporânea. Neste sentido, é apresentada uma vivência de professores de Ciências em formação em uma oficina na qual tiveram oportunidade de conhecer uma nova proposta educacional para o ensino de Ecologia, utilizando imagens de satélite como ferramenta educacional. A dimensão formativa de professores de Ciências 3558 É fundamental o debate sobre a formação docente, a qual é aspecto importante para o desenvolvimento de nossa sociedade, pois o professor tem papel fundamental na formação dos estudantes como cidadãos. O professor precisa ser especialista em sua área, ser pesquisador e educador. Muito se espera do docente e muito se cobra de sua prática. As necessidades formativas do professor de Ciências são muitas, no sentido de atender ao processo de ensino e de aprendizagem. Como orientador e mediador na construção da aprendizagem, promove o desenvolvimento da criticidade do aluno, faz da sala de aula espaço emancipatório, considera o aluno como sujeito histórico possuidor de seus próprios conhecimentos, incentiva a curiosidade do aluno e não abafa suas incertezas, instiga o debate, a discussão e propicia desafios aos alunos, promove a avaliação como processo de evolução e não de estagnação. Além disto, permite-se aprender com seus alunos, é autônomo e incentiva-os a pesquisar, investigar e formular suas próprias hipóteses e opiniões. O professor não pode se limitar somente ao conhecimento acadêmico, precisa ser atualizado, precisa atender as necessidades dos alunos, dos pais, de sua instituição e do sistema educacional. Partimos do pressuposto que, para isso, o professor dispõe de uma formação que contemple estes requisitos. Mas, como em outros níveis de ensino, a educação superior, muitas vezes, falha em formar professores dispostos a promover mudanças na educação e na sociedade. Assim, às vezes encontramos nas salas de aula profissionais alienados, despreparados, desmotivados e estagnados na prática tradicional de ensino, em que o aluno é encorajado a copiar e memorizar, teme avaliações e não consegue perceber a integração entre os conteúdos trabalhados em sala de aula e seu cotidiano ou conhecimentos já existentes. O profissional da educação pode estar descontextualizado e ensinar saberes compartimentalizados, desassociados da realidade dos alunos, agravando problemas educacionais e impossibilitando um trabalho pertinente aos acontecimentos da sociedade, globais, planetários (MORIN, 2006). Os cursos de licenciatura, em geral não são valorizados e a sociedade não ignora o professor, mas o trata com desdém e não valoriza seu trabalho. Precisamos de transformação neste setor que trata da formação de seres humanos. Muitos autores argumentam sobre as competências da universidade e dos professores e, não surpreendentemente, muitas das idéias destes são por eles 3559 compartilhadas, escritas sob diferentes perspectivas e ópticas, mas relacionam-se ao demonstrar que as preocupações com a dimensão formativa dos professores são estreitamente ligadas e similares. Nestas preocupações, discussões e argumentações encontramos abordagens políticas, sociais e culturais, tanto quanto científicas e epistemológicas. Começando pela universidade, existem requisitos esperados para a importante função de formar os profissionais da educação, segundo Enricone (2006, p.9) “Para os educadores, a formação da pessoa, com conhecimento de si mesma e do contexto, natureza, sociedade e cultura herdada, continua sendo a tarefa prioritária da universidade e pede o compromisso de todos os que nela atuam.” Sendo assim, o docente começa na universidade a reflexão sobre sua realidade, conhecimento científico e pedagógico, aprendizagem e, neste espaço, serão potencializados os sabres sobre o ensino que este professor levará consigo em sua vida profissional. Com uma visão que acompanha as mudanças na sociedade, que se refletem na realidade e contexto escolar, não podemos negar que uma nova abordagem por parte dos professores para contemplar estas mudanças é necessária. Essas podem ocorrer a partir de sua formação, com a incrementação do seu próprio aprendizado com novas técnicas, pesquisa, reflexões acerca de ciência, sociedade e tecnologia e diálogos com diferentes níveis de ensino. Além disso, não se ensina sem aprender, e o processo de ensino também é aprendizagem para o professor. O maior beneficiário de uma formação adequada a este pensamento é a sociedade. O preparo dos profissionais da educação se revela na universidade, muitas vezes alheia a esse pensamento, desestimulando o professor em formação e preparando-o precariamente para a prática docente. Enricone (2006, p.16) coloca que O aprender a aprender parte da descoberta da relevância do aprendizado e do conhecimento da capacidade de aprendizagem. É um produto de um processo complexo que depende de pesquisa docente, de cultura experiencial, da introdução de inovações no fazer pedagógico. Tudo isto tem a ver com o aprender a aprender para aprender a ensinar. Sobre este aspecto do aprender do professor, para que este esteja melhor qualificado a ensinar com qualidade e possa fazer parceria com o aluno na construção da 3560 aprendizagem mais significativa, é importante salientar que a universidade é um espaço importante nesta formação. O professor é responsável, por sua vez, pela formação de diversos cidadãos que por ele serão ensinados e, com sorte, com ele aprenderão conceitos, conteúdos, habilidades, valores etc. A sala de aula é de onde “... se originam diversas representações a partir de vivências, crenças e conhecimentos desses mesmos atores, influenciando na concretização de variadas modalidades de docência.” (GRILLO, 2006, p.59). Em sua vida profissional, o professor aprende com a experiência em sala de aula melhores maneiras de conduzir seu trabalho, mas as bases teóricas que alicerçarão sua docência ganham embasamento em sua formação. Para D’Ambrosio (1997), o conhecimento está subordinado ao nosso contexto de vida, visando saber e fazer, e são importantes as teorias e práticas para a própria sobrevivência e transcendência do ser humano. Os professores têm suas dimensões socioculturais, de acordo com Mosquera (2006, p.109) “Os educadores são pessoas que também estão em desenvolvimento, que precisam continuamente educar-se, para poder melhor educar.” Cada professor é um ser humano com sentimentos e valores, assim como formação pessoal e história única, por isso a formação acadêmica qualificada é importante para que ele possa ajudar os alunos no processo pedagógico. Cunha (2005, p.76) afirma que “Alterar as práticas tradicionais da sala de aula não é uma tarefa simples, pois estas estão alicerçadas numa consistente trajetória cultural.” Esta é a trajetória positivista, empirista e de um ensino segmentado e segregado do conhecimento do todo que faz com que, até hoje, muitos professores tenham impregnados em si uma prática tão tradicional e limitada. A autora continua dizendo que “Por outro lado, se não é fácil a mudança, é quase impossível a permanência”. A universidade tem o poder de começar a mudança em diversos níveis de ensino, começando com uma pedagogia com visão ampla e para o futuro, criando novas possibilidades e estratégias de ensino para a emancipação do professor e de seu aluno. Rompendo com a tradicional forma de ensinar conscientizando o professor de que “... ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p.26) pelo próprio estudante. 3561 Segundo Demo (2000, p.58), o “Professor não é quem dá aula, mas quem sabe fazer o aluno aprender. [...] Professor como profissional da aprendizagem, não do ensino, pode significar guinada na teoria e na prática da educação.” A educação precisa atender as dimensões do saber aprender a aprender, a relacionar o conhecimento científico com o todo, fazer e saber pensar com autonomia, sem fazer o professor acreditar que é estoque de conhecimento ou que os alunos devam sê-lo. Um novo profissional pesquisador e inovador é necessário para as mudanças da sociedade e do contexto escolar. Encarar este desafio cabe a cada um dos educadores e professores. Demo (2005, p.70.) enumera algumas das expectativas do professor moderno, como: “pesquisa, atualização permanente, auto-avaliação, visão geral, discutir e (re)fazer qualidade, trabalho de equipe e teorização das práticas” e afirma que isso não se consegue com treinamento, nem com cópia ou imitações. Por isso os cursos de formação precisam se preocupar com o desenvolvimento do profissional, não somente com sua “carga teórica”. Para tanto, é necessário muito esforço por parte da comunidade acadêmica para lidarmos com os problemas de ordem formativa dos professores, e isso não acontecerá, de acordo com D’Ambrosio (1997), sem acompanhar as mudanças da sociedade, sem mudar a filosofia da educação e empreender uma reflexão profunda sobre o conhecimento. Novas ferramentas de ensino na formação de professores: o estudo da Ecologia utilizando imagens de satélite Valente (1997, pg.1) afirma que, desde os anos 80, apesar do crescente apelo da mídia, “A informática na Educação ainda não impregnou as idéias dos educadores e, por isso, não está consolidada no nosso sistema educacional.” O que impregna ainda hoje o professor é o tradicional modo de ensino e este enfrenta dificuldades de implementar o uso da informática em sua prática docente. O mesmo autor defende que, no Brasil, ... o papel do computador é o de provocar mudanças pedagógicas profundas ao invés de “automatizar o ensino” ou promover a alfabetização em informática como nos Estados Unidos, ou desenvolver a capacidade lógica e preparar o aluno para trabalhar na empresa, como propõe o programa de informática na educação na França. Essa peculiaridade do projeto brasileiro aliado aos avanços tecnológicos e a ampliarão da gama de possibilidades pedagógicas que os novos computadores e os diferentes softwares disponíveis oferecem, demandam uma nova abordagem para os cursos de formação de professores e novas políticas para os projetos na área. (p.1) 3562 Então, “Mais atenção deve ser dada aos avanços na comunicação e na teleinformática, e menos aos clássicos enfoques de metodologia da educação.”, coloca D’Ambrosio (1997, p. 68). Assim, os professores podem, por exemplo, ter mais força na luta contra a desatualização do ensino, a evasão escolar e a falta de interesse pelos conteúdos científicos pelos alunos. As novas tecnologias e os computadores podem ser utilizados como ferramentas educacionais, auxiliando o trabalho do professor em sala de aula e ajudando o aluno na construção do conhecimento, dando-lhe chances de atribuir significado aos conteúdos e estabelecer relações entre o que já conhece e os novos saberes. Implementação da proposta Na busca pela incrementação, atualização e qualificação de professores de Ciências em formação e da educação, foi realizado um estágio docente supervisionado do Mestrado em Educação em Ciências e Matemática em uma turma de 19 alunos de um curso de Ciências Biológicas, no segundo semestre de 2007, totalizando 16h/aula. As atividades de estágio possibilitaram o intercâmbio entre alunos da graduação e da pósgraduação, a partir de uma proposta significativa para os alunos, que propiciou as ações do pensar, fazer e sentir. Dentro dessa perspectiva, foram consideradas e debatidas atividades que propiciassem a construção de propostas inovadoras relacionadas ao ensino e à aprendizagem de Ciências no ensino fundamental. Aos licenciandos foi apresentada uma nova proposta de ensino de Ecologia, utilizando o sensoriamento remoto com ferramenta educacional, possibilitando contato e interatividade com este novo recurso na educação. Com as imagens de satélite , podemos ver de outra maneira o que nos é apresentado em livros e na sala de aula, a partir de um recurso inovador na escola, que muito tem a contribuir para a aprendizagem do aluno, para trabalhos interdisciplinares e para a formação de cidadãos mais bem informados sobre sua realidade. Foram desenvolvidos trabalhos em grupos, com espaço para debates, discussões, com aulas expositivo-dialogadas, utilizando a tecnologia do sensoriamento remoto, com o recurso das imagens de satélite, para o estudo de conceitos de Ecologia. Foram estudados 3563 os biomas brasileiros, sua importância, localização, biodiversidade, clima, pluviosidade, solo e relevo, impactos ambientais a partir das informações contidas nas imagens de satélite provenientes do aplicativo Goole Earth1. A partir das atividades licenciandos puderam manifestar-se quanto à possibilidade de aplicar a proposta em sala de aula, elaborar roteiro e planejar aulas se imaginando em uma situação que permita a aplicação de atividades utilizando a tecnologia do sensoriamento remoto como auxílio pedagógico, no estudo dos biomas, com seus alunos de ensino fundamental. Então, a proposta deste estágio, na turma de Metodologia e Prática de Ensino de Ciências consistiu em refletir com os alunos sobre a atualização do ensino de Ecologia, por meio da utilização do sensoriamento remoto como recurso. Além disto, buscou debater as possibilidades de um trabalho interdisciplinar e potencialidades deste recurso na escola, promovendo uma reflexão sobre o que são os biomas brasileiros, sua importância e como nós os afetamos. O objetivo geral da pesquisa, portanto, foi avaliar uma proposta educacional sobre ecossistemas em um trabalho integrado com licenciandos de Ciências Biológicas, utilizando o sensoriamento remoto como ferramenta. O problema da pesquisa, em coerência com o objetivo geral, foi o seguinte: como um trabalho integrado com licenciandos de Ciências Biológicas, utilizando o sensoriamento remoto como ferramenta para o estudo de biomas no ensino fundamental, pode contribuir para sua formação inicial como professores de ciências? O sensoriamento remoto é um sistema de aquisição de informações que, conforme Novo (1992, p.2), podemos definir como sendo a utilização conjunta de modernos sensores, equipamentos para processamentos de dados, equipamentos de transmissão de dados, aeronaves, espaçonaves etc., com o objetivo de estudar o ambiente terrestre através do registro e da análise das interações entre a radiação eletromagnética e as substâncias componentes do planeta terra em suas mais diversas manifestações. Florenzano (2002, p.9) define o termo sensoriamento remoto desta maneira: “O termo sensoriamento refere-se à obtenção dos dados, e remoto, que significa distante, é utilizado porque a obtenção é feita a distância, ou seja, sem o contato físico entre o sensor 1 Aplicativo gratuito disponível na internet pelo endereço eletrônico http://earth.google.com/intl/pt/. 3564 e a superfície terrestre.”. As imagens de satélite que podem ser utilizadas em sala de aula como recursos pedagógicos são obtidas desta maneira, por sensores, que remotamente captam energia refletida da superfície terrestre e convertem em dados que são analisados novamente em Terra. Assim como outros autores, Freire (1996) defende a idéia de que é importante levar-se em consideração os saberes dos alunos, suas experiências, e respeitando os conhecimentos já existentes, assim como suas potencialidades para a construção de novos saberes. E Como é crescente o apelo dos computadores, meios eletrônicos e audiovisuais na vida dos alunos, “... não podemos fugir da realidade de um mundo que cada vez mais depende das novas tecnologias...” (ENRICONE, 2006, p.11). Assim, fazer destes recursos aliados nos processos de ensino e aprendizagem é possibilidade de incrementação e qualificação da prática do professor, sendo e possível incentivo e motivação para o aluno. Mas é preciso ter cuidado para não se utilizar um novo recurso da mesma maneira que como se utiliza o quadro negro ou livro didático (PERRENOUD, 2000). É necessário que o professor, independentemente de sua técnica, desassocie-se do tradicional ensino acrítico, limitado e fortemente positivista que foi mencionado anteriormente. Análise parcial dos resultados A análise dos dados é uma aventura em que o pesquisador não será o mesmo, nem seus dados serão, ao final. O pesquisador descobre-se durante a pesquisa e continua a se descobrir durante a análise dos dados por impregnar-se, desmontar-se e ressurgir junto a novas informações. É uma maneira de colocar a transformação dos dados como processo construtivo e desconstrutivo para o que é analisado e para quem o analisa. O pesquisador tende a perseguir a postura neutra, mas acaba por influenciar e ser influenciado no processo da pesquisa. Isto se manifesta na metodologia escolhida para análise dos dados obtidos, a análise textual discursiva (MORAES, 2007), tanto pela pesquisa em si como durante a leitura, desmontagem, categorização, organização das categorias, percepção de novos significados e interpretação das informações. A pesquisa encontra-se ainda em desenvolvimento. Pelos resultados parciais da análise dos dados, pode-se notar que os licenciandos entendem que o estudo do meio 3565 ambiente é importante na educação básica para a formação de cidadãos conscientes do meio em que vivem, com consciência ecologia e respeito ao meio ambiente. O estudo dos biomas é importante neste sentido. Os participantes reconheceram o sensoriamento remoto e as imagens de satélite como recurso educacional importante para sua prática pedagógica, que pode ser inovadora e inspiradora tanto para professores quanto para alunos de diferentes níveis. Os licenciandos, além de reconhecerem a ferramenta do sensoriamento remoto como um instrumento de ensino e análise crítica, demonstraram interesse pela didática e relataram avanços na construção de novos saberes. Isto é muito importante para a atualização do ensino de Ciências nas escolas, que tem, como ponto de partida, a atualização dos profissionais da educação. Considerações Finais Existem diversas estratégias para o desenvolvimento socioeconômico e dos sistemas de ensino. A ciência e a tecnologia têm papéis importantes para a solidificação destas estratégias, no sentido de possibilitar mudanças positivas e desenvolvimento, trazendo benefícios para a sociedade em geral. Projetos educacionais que tenham a proposta de enriquecer a educação, qualificar professores e criar condições para reflexão e novas abordagens em ambientes educacionais são extremamente necessários e fator essencial contra o empobrecimento do ensino de Ciências na contemporaneidade. O ambiente universitário é essencial para a educação de qualidade em nossas escolas, há uma preciosa possibilidade de interação entre a educação superior e a educação básica, à qual este trabalho buscou contribuir. Além de propor uma nova abordagem para o ensino de Ciências, buscou ultrapassar o distanciamento do ensino dogmático, fechado, linear e limitado. Propôs, por outro lado, uma possibilidade de maior contextualização, estabelecendo sentido ao saber ensinado, mas não transmitido. Possibilitou espaço de construção, pensamento crítico e reflexão sobre a formação dos próprios professores quando sua prática docente e impactos da Ciência e tecnologia na educação. Estas expectativas foram contempladas na avaliação dos licenciandos e isto tornou gratificante o esforço empreendido. REFERÊNCIAS 3566 CUNHA, Maria Isabel da. Sala de aula: espaço de inovações e formação docente. IN: ENRICONE, Délcia; GRILLO, Marlene (Org.). Educação superior: vivências e visão de futuro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005. p. 71 – 82. D’AMBROSIO, Ubiratan. Transdisciplinaridade. São Paulo: Palas Athena, 1997. DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 7. ed. Campinas: Autores Associados, 2005. DEMO, Pedro. Educação e conhecimento: relação necessária, insuficiente e controversa. Petrópolis: Vozes, 2000. ENRICONE, Délcia (Org.). A docência na educação superior: sete olhares. Porto Alegre: Evangraf, 2006. ENRICONE, Délcia; GRILLO, Marlene (Org.). Educação superior: vivências e visão de futuro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005. FLORENZANO, Teresa Gallotti. Imagens de satélite para estudos ambientais. São Paulo: Oficinas de Textos, 2002. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GRILLO, Marlene, C. Percursos da constituição da docência. In: ENRICONE, Délcia (Org.). A docência na educação superior: sete olhares. Porto Alegre: Evangraf, 2006. p. 59 - 72. MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise textual discursiva. Ijuí: Unijuí, 2007. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 11ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2006. MOSQUERA, Juan J. M.; STOBÄUS, Claus D. Auto-imagem, auto-estima e autorealização na universidade. In: ENRICONE, Délcia (Org.). A docência na educação superior: sete olhares. Porto Alegre: Evangraf, 2006. p. 101 – 118. NOVO, Evlyn M. L. de Moraes. Sensoriamento remoto: princípios e aplicações. São Paulo: Edgard Blücher, 1992. PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. VALENTE, José Armando; ALMEIDA, Fernando José de. Visão analítica da informática na Educação no Brasil: a questão da formação do professor. Revista Brasileira de 3567 Informática na Educação. v.1, nov. 1997, p.2-28. Disponível em: www.sbc.org.br/bibliotecadigital/download.php?paper=924. Acesso em: 04 abr. 2008.