Produção e disponibilidade de nutrientes para mamoneira (Ricinus

Propaganda
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA
ISSN 1519-5228
Volume 8 - Número 1 - 1º Semestre 2008
Produção e disponibilidade de nutrientes para mamoneira (Ricinus communis)
adubada com NPK
Dilermando Dourado Pacheco1, Nívio Poubel Gonçalves1, Heloisa Mattana Saturnino1, Patrik Diogo Antunes2
RESUMO
O trabalho objetivou determinar a produtividade da mamoneira cv IAC 226 e a disponibilidade de
nutrientes num solo de chapada da bacia do Rio Jequitinhonha adubado com fertilizantes
nitrogenado, fosfatado e potássico. Testaram-se doses de 0, 36, 72, 108 e 144 kg/ha de P2O5; e 0,
20, 40, 60 e 80 kg/ha de N, segundo matriz experimental Quadrado Duplo sob 30 e 60 kg/ha K2O.
Amostrou-se o solo à época de florescimento da cultura e quantificou-se a produtividade de
sementes. A adubação nitrogenada não influiu na produção, aspecto provavelmente explicado pela
alta concentração de matéria orgânica do solo (MOS), o que, através de processo de mineralização,
disponibilizou as quantidades exigidas de N. Houve resposta negativa à adubação potássica, e
positiva à fosfatada, detectando-se produções de 1700 e 2.956 kg/ha de sementes respectivamente
com 0 e 61 kg/ha de P2O5. A máxima produtividade econômica (MPE) foi de 2.837 kg/ha de bagas,
estimada associando as doses de 20 P2O5, 30 K2O e 0 N, em kg/ha. Para essa combinação de doses
estimaram-se valores de 5,7 pH(água); 5,45 dag/dm3 MO; 43,39 P e 94 K, mg/dm3; 4,73 Ca e 1,36
Mg, cmolc/dm3; e 0,5 B, 0,5 Cu, 9,7 Mn e 1,8 Zn, mg/dm3.
Palavras-chave: Ricinus communis, produtividade, adubação, nutrientes disponíveis.
Production and available nutrients by castor (ricinus communis) in response to the
NPK fertilizers
ABSTRACT
The work aimed at to determine the castor plant productivity cv IAC 226 and the available of
nutrients in the soil in response to the adubation PNK in it Jequitinhonha Valley. The studied
factors were doses of 0, 36, 72, 108 and 144 kg/ha of P2O5; and of 0, 20, 40, 60 and 80 kg/ha of N,
combined for the experimental mould Double-Square in presence of 30 and 60 kg/ha of K2O. The
soil was showed at the flowering of the culture and quantified it productivity to the end of the cycle.
The nitrogen fertilization didn’t influence on the production, and this is probably explains by the
stimulation to the mineralization of the soil organic matter (MOS), what would make available the
demanded amounts of N. There was negative answer to the potassium fertilizer and positive to the
phosphorum, being detected productions of 1700 and 2.956 kg/ha of seeds respectively with 0 and
61 kg/ha of P2O5. The maxim economical productivity (MPE) it was: 2.836,8 kg/ha of seeds,
associating 20 P2O5, 30 K2O and 0 N, in kg/ha. Para that combination of doses was considered
values of 5,66 pH (água); 5,45 dag/dm3 MO; 43,39 P and 94 K, mg/dm3; 4,73 Ca and 1,36 Mg,
cmolc/dm3; and 0,45 B, 0,46 Fe, 9,65 Mn and 1,75 Zn, mg/dm3.
Keywords: Ricinus communis, production, available nutrients, phosphorus, nitrogen, potassium.
153
1 INTRODUÇÃO
A matriz energética biodiesel, que visa
fundamentalmente reduzir a emissão de
poluentes derivados de combustíveis fósseis e
atender, assim, as exigências do Protocolo de
Kioto, incentivou estudos com plantas
potenciais acumuladoras de óleo. Entre estas,
podem ser citadas a mamoneira e o pinhãomanso, objetos de estudos recentes (Saturnino et
al., 2005; Gonçalves et al., 2005).
Nas chapadas da bacia do Rio Jequitinhonha,
Nordeste de Minas Gerais, atualmente cafezais
são abandonados, dada à relação desfavorável
entre os preços de produto e de insumos. Além
do alto custo de produção, há dificuldades de
disponibilidade
hídrica
para
irrigação.
Considerando a fertilidade corrigida desses
solos, tais áreas poderiam ser usadas na
implantação de espécies de maior interesse
econômico e social, entre elas as oleaginosas.
Consórcio de cafezais recepados com
mamoneira foi estudado por Castro Neto et al.
(2005) que constataram boa produção da
segunda cultura, aproveitando a fertilidade
corrigida dos solos para a primeira.
A mamoneira pertence a um grupo de cultura
extremamente exigente nutricionalmente para
atingir elevadas produtividades; com a produção
de 1 t de baga de mamoneira exportam-se 40 kg
de N, 9 kg de P2O5, 16 kg de K2O, 6,5 kg de
CaO e 5 kg de MgO (Nakagawa e Neptune,
1971). Já a cultura do milho exporta em 1 t de
grãos quantidades bem menores: 16,5, 4,5 e 6,1
kg/ha de N, P2O5 e K2O, respectivamente
(Fornasieri Filho, 1992).
Apesar da elevada exigência nutricional da
mamoneira, principalmente para N, P e K,
poucas são as pesquisas que relacionam o
fornecimento desses nutrientes com os teores
disponíveis de nutrientes no solo e com a
produtividade da cultura nas condições da bacia
do rio Jequitinhonha. Estes trabalhos são
fundamentais para se gerar níveis críticos locais,
separando populações de plantas com alta e com
baixa produtividade (Alvarez et al., 1991). Isto
torna possível evitar a importação dos dados de
outras localidades, os quais podem resultar uso
de fertilizantes em dose aquém ou acima das
reais necessidades das plantas.
O presente trabalho objetivou determinar a
produção e a disponibilidade de nutrientes no
solo para mamoneira cultivada num solo de
chapada da bacia do rio Jequitinhonha em
resposta à adubação NPK.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho foi conduzido na
EPAMIG – Fazenda Experimental de Acauã,
município de Leme do Prado, MG. A
caracterização físico-química da amostra de solo
da área experimental anterior à implantação da
pesquisa foi: pH em água (6,0); matéria
orgânica, areia, silte e argila respectivamente
4,3; 30; 30 e 40 dag/kg; P, K, B, Cu, Fe, Mn e
Zn respectivamente 46,8; 95; 0,8; 0,2; 50,0;
10,7 e 1,0 mg/dm3; Ca, Mg, Al e H+Al
respectivamente 3,8; 0,9; 0,0 e 4,5 cmolc/dm3.
Trabalhou-se com mamoneira, cv IAC 226,
testando as doses de 0, 36, 72, 108 e 144 kg/ha
de P2O5; 0, 20, 40, 60 e 80 kg/ha de N
combinadas pela matriz experimental do
quadrado duplo (Alvarez et al., 1991). As
combinações de doses entre P2O5 e N foram
testadas dentro de 30 e 60 kg/ha de K2O (Tabela
1),
totalizando
26
tratamentos,
num
delineamento de blocos casualizados com três
repetições. Utilizaram-se os adubos superfosfato
simples, sulfato de amônio e cloreto de potássio
como fontes de P2O5, N e K2O. Todo P2O5 e
K2O foram aplicados no plantio, enquanto
forneceu-se
N
para
plantas
com
aproximadamente 50 cm de altura, aos 45 dias
após a emergência (DAE).
Tabela 1 – Tratamentos definidos pela matriz
experimental do quadrado duplo
K2O (30 kg/ha)
Tratamento
P 2O 5
N
kg/ha
1
0
0
2
0
40
3
0
80
4
36
20
5
36
60
6
72
0
7
72
40
8
72
80
9
108
20
10
108
60
11
144
0
12
144
40
13
144
80
K2O (60 kg/ha)
14
0
0
15
0
40
16
0
80
17
36
20
154
18
19
20
21
22
23
24
25
26
36
72
72
72
108
108
144
144
144
60
0
40
80
20
60
0
40
80
O experimento foi conduzido em sequeiro,
implantando-o em 9/12/2004. Cada parcela
experimental constou de quatro fileiras, com
seis plantas/fileira, totalizando 24 plantas no
espaçamento de 3 m entre linhas e 1 m entre
plantas. Considerou-se como área útil, as oito
plantas centrais da parcela.
Os tratos culturais foram normais à cultura,
destacando-se a realização de cinco capinas em
33, 47, 55, 96 e 152 dias pós-plantio, para
controle de ervas daninhas; seis pulverizações
com o fungicida Iprodiona (Rovral), para
controle de mofo cinzento; e duas aplicações de
iscas formicidas, para controle de formiga aos
13 e 18 dias pós-plantio. O cultivo foi de
sequeiro, dispensando-se o fornecimento de
água via irrigação.
No pleno florescimento das plantas,
tomaram-se amostras de solo para determinar a
disponibilidade de nutrientes. Colheram-se,
então, na camada de 0-20 cm, amostras
individuais na projeção da copa das oito
mamoneiras da área útil, distando 40 cm do
caule. As amostras individuais foram
misturadas, formando-se a amostra composta de
cada parcela. As amostras de solo foram
processadas sequencialmente através de
secagem à sombra e de tamisação em peneira
com 2 mm de malha. As amostras peneiradas
foram analisadas, determinando-se os valores de
pH, matéria orgânica, P, K, Ca, Mg, Al, Na,
H+Al, B, Cu, Fe, Mn, Zn e condutividade
elétrica (CE) (Comissão de Fertilidade do Solo
do Estado de Minas Gerais, CFSEMG, 1999).
A mamoneira foi colhida em 06/06/05,
considerando a produção de cada área para
estimar a produtividade (kg ha-1) de mamona em
sementes. Determinou-se também o peso de 100
sementes.
Os dados de produção da mamoneira e de
composição química do solo foram submetidos
às análises de variância e de regressão,
considerando-os variáveis dependentes das
doses de P2O5 e N. A partir da 1ª derivada da
equação de regressão para produção, igualada a
zero, determinou-se a combinação de doses de
P2O5 e N associada à máxima produtividade
física (MPF) de sementes de mamoneira.
Para determinar a renda bruta e o lucro foram
considerados preços de R$ 0,35 a cada kg de
baga de mamona; e de R$ 24,80 e R$ 30,00 para
sacos de 50 kg dos adubos comerciais
superfosfato simples e cloreto de potássio,
respectivamente. Não foram computados custos
fixos como preço de semente, mão-de-obra,
defensivos químicos, etc... A partir da renda
bruta e lucro foram ajustadas equações de
regressão, estabelecendo-se com a 1ª derivada,
as doses de adubos associadas com MPE.
Determinou-se também o retorno de capital em
relação à produção do tratamento testemunha,
considerando a diferença financeira entre o
máximo lucro e o lucro no tratamento
testemunha, ou seja, sem aplicação de adubo.
As doses de fertilizantes associadas com
produções de MPF e MPE foram substituídas
nas equações de regressão ajustadas para
características
analisadas
no
solo,
estabelecendo, assim, os níveis críticos
recomendados para produção da mamoneira.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Produção e renda dependentes da adubação
NPK
As mamoneiras cultivadas com 30 kg/ha de
K2O foram significativamente mais produtivas
em comparação àquelas com 60 kg/ha de K2O
(Tabela 2). O estresse osmótico, pouca
precipitação pluviométrica em determinados
estádios da cultura e alta disponibilidade de K
no solo ao início da experimentação,
possivelmente atuando de forma combinada,
explicam uma maior produtividade das plantas
adubadas com menos potássio.
Quanto ao estresse osmótico, embora não
tenha ocorrido variação significativa no valor de
CE do solo, verificou-se que a concentração
salina foi mais elevada com a aplicação de
maior dose do adubo potássico (Tabela 2). Esse
efeito salino provavelmente explica uma menor
produtividade das plantas submetidas à maior
dose de cloreto de potássio. Segundo Vale et al
(2005)
o
estresse
osmótico
reduz
significativamente o crescimento inicial de
155
mamoneira, reduzindo o potencial produtivo da
planta.
Tabela 2 – Produtividade (Prod) e massa de 100 sementes
(M100), e caracterização química de amostras de solo nos
cultivos com 30 e 60 kg/ha de K2O.
Variáveis
Quantidade de K2O
30 kg/há
60 kg/há
Prod (kg/há)
2.729 a
2.462 b
M100 (g)
34,46 a
34,59 a
pH
5,7 a
5,5 b
P (mg/dm3)
42,2 b
54,8 a
K (mg/dm3)
87 a
85 a
Na (cmolc/dm3)
0,10 a
0,10 a
Ca (cmolc/dm3)
4,68 a
4,50 a
Mg (cmolc/dm3)
1,36 a
1,41 a
Al (cmolc/dm3)
0,0 b
0,1 a
H+Al (cmolc/dm3)
5,91 b
6,72 a
MO (dag/kg)
5,40 b
6,00 a
B (mg/dm3)
0,46 a
0,46 a
Cu (mg/dm3)
0,4 a
0,3 b
Fé (mg/dm3)
38 a
9,2 b
Mn (mg/dm3)
35 b
10,3 a
Zn (mg/dm3)
1,7 b
2,1 a
CE (dS/m)
0,40 a
0,45 a
Médias seguidas por mesma letra, na coluna, não diferem
significativamente entre si, pelo teste Tukey, ao nível de
5% de probabilidade.
A precipitação pluviométrica foi baixa em
períodos críticos de desenvolvimento da
mamoneira, podendo isto ter diminuído o
potencial produtivo das plantas submetidas à
maior dose de adubo potássico, via acentuação
do estresse osmótico. Este processo foi
notadamente marcante durante dois estádios: de
crescimento inicial da planta – final de
dezembro até início de janeiro – e de acúmulo
de reserva no grão – meados de março em
diante (Tabela 3), quando as quantidades de
chuvas acumuladas foram baixas, contribuindo
para reduzir a produção, principalmente de
plantas com a maior dose de adubo potássico.
Quanto à disponibilidade de K, conforme
análise laboratorial, o valor de 95 mg/dm3 de K,
detectado antes da implantação do experimento,
indica um solo como de alta fertilidade para o
nutriente (CFSEMG, 1999). Assim, a
disponibilidade de K no solo possivelmente
atendeu às exigências nutricionais das plantas
mesmo com a aplicação de uma menor dose do
adubo potássico.
Tabela 3 – Precipitação pluviométrica durante a condução do experimento de adubação NPK para mamoneira no Vale
do Jequitinhonha.
2004
2005
Período
Novembro
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
(dias)
mm
1-5
0,0
27,6
0,0
10,2
79,5
0,0
0,0
3,0
6-10
0,0
48,1
34,8
0,0
32,6
0,0
0,0
3,0
11-15
0,0
92,2
121,2
41,2
20,8
0,0
5,0
0,0
16-20
69,1
8,6
3,6
94,6
2,2
0,0
0,0
0,0
21-25
0,0
3,6
8,0
1,8
0,0
0,0
0,0
1,4
26-30/31
85,0
2,0
34,2
4,2
0,0
1,2
17,0
0,0
Total
154,1
182,1
201,8
152,0
135,1
1,2
22,0
7,4
Nas duas situações de adubação potássica, a
produtividade de mamona foi significativamente
influenciada pelas doses de P2O5, não havendo
resposta ao fator N (Figura 1). Esse resultado
discorda dos verificados por Severino et al.
2006a que constataram maior resposta à
adubação nitrogenada, seguida pela fosfatada e
potássica, que utilizaram solo de baixa
fertilidade para MOS e P, e de alta fertilidade
para K. Em outro ensaio, Severino et al. 2006b,
verificaram que a produtividade foi mais
influenciada pela adubação fosfatada, havendo
pouco efeito do N fornecido pela adubação
orgânica, havendo efeito mais significativo
desse último nutriente quando aplicado via
adubação mineral.
A máxima produção de bagas (2956 kg/ha)
foi estimada ao se combinar doses de 61 kg/ha
de P2O5 e 30 kg/ha de K2O sem adubação
nitrogenada. Esse patamar de produtividade foi
muito acima daqueles verificados para
mamoneiras cultivadas na região nordeste do
Brasil (Severino et al. 2006a e Severino et al.
2006b), demonstrando a viabilidade de se
produzir essa oleaginosas nas condições
edáficas e climáticas das chapadas da bacia do
rio Jequitinhonha, em Minas Gerais.
156
Ŷ(+) = 2.309,01 + 165,17*P2O50,5 – 10,55*P2O5 R2 = 0,8299
Ŷ(•) = 1.711,10 + 313,79*P2O50,5 – 20,95*P2O5 R2 = 0,9249
Ŷ(+) = 34,10 + 5,48x10-3*P2O5 R2 = 0,6202
Ŷ(•) = Y = 34,07
36
Massa 100 sementes (g)
Produtividade (kg/ha)
3200
2800
2400
2000
1600
0
36
72
108
144
P2O5 (kg/ha)
35
34
33
32
0
36
72
108
144
P2O5 (kg/ha)
Figura 1 – Produção e massa de 100 sementes de mamona em resposta às doses de P2O5 dentro de 30 (- - - +) e 60 (___
•) kg/ha de K2O. * significativos pelo teste t a 5 % de probabilidade.
Uma influência positiva da adubação
fosfatada sobre a produtividade da mamoneira
foi particularmente acentuada no intervalo de 0
e 36 kg/ha de P2O5 (Figura 1). Nesse intervalo,
detectou-se aumento de produtividade, acima de
1 t/ha de bagas. A partir da dose 36 kg/ha de
P2O5, os aumentos de produtividade foram
pouco expressivos, estabilizando-se com
aplicações de 108 e 72 kg/ha de P2O5,
respectivamente nos cultivos com 30 e 60 kg/ha
de K2O (Figura 1). Aumentando-se a adubação
fosfatada,
a
produtividade
declinou,
demonstrando efeito inibidor desse nutriente
sobre algum outro fator.
Relativo ao desenvolvimento do grão,
verificou-se um aumento inferior a 1 g na massa
de 100 sementes à medida que se elevou a dose
aplicada de P2O5 nas mamoneiras cultivadas
com 30 kg/ha de K2O (Figura 1). No cultivo
com 60 kg/ha de K2O não foi constatada
variação na massa de 100 sementes em função
das adubações nitrogenada e fosfatada. Portanto,
com menor dose de adubo potássico, o aumento
da produtividade em resposta ao P2O5 explica-se
pelos itens do desenvolvimento da baga e do
maior número em que essas foram produzidas.
Utilizando a maior dose de potássio, a resposta
ao adubo fosfatado foi exclusivamente devido
ao segundo item.
A resposta produtiva da mamoneira, não
significativa às doses de N, é um forte
indicativo que a disponibilidade de N no solo
atendeu às exigências desse nutriente no
metabolismo da planta. Possivelmente, o
favorecimento à mineralização, dado a alta
concentração de MO no solo, tenha
disponibilizado as quantidades necessárias de N
às plantas, anulando o efeito da adubação
nitrogenada sobre a produção.
A margem de lucro com a produção de
mamoneira demonstrou vantagem econômica
com a aplicação do adubo fosfatado (Figura 2).
Para 30 kg/ha K2O, registraram-se maiores
renda bruta e lucro, R$ 1034,39 e R$ 908,08 por
ha, aplicando-se 61 e 20 kg/ha de P2O5,
respectivamente. No cultivo com 60 kg/ha de
K2O, as maiores renda bruta e lucro foram R$
1004,51 e R$ 837,81 por ha, estimadas dentro
de 57 e 29 kg/ha de P2O5, respectivamente. Na
situação de máximo lucro – R$ 908,08 por ha –
o retorno de capital em relação à produção do
tratamento testemunha foi de R$ 129,03 por ha.
Portanto, nas condições experimentais, a
adubação foi item indispensável ao aumento da
renda.
157
Ŷ(∆) = 598,88 + 109,83*P2O50,5 – 7,33*P2O5 R2 = 0,925
Ŷ( ) = 778,15 + 57,81*P2O50,5 – 6,45*P2O5 R2 = 0,910
Ŷ( ) = 538,88 + 109,83*P2O50,5 – 10,09*P2O5 R2 = 0,927
1200
1200
900
900
600
R$/ha
R$/ha
Ŷ(∆) = 808,15 + 57,81*P2O50,5 – 3,69*P2O5 R2 = 0,830
K2O (30 kg/ha)
600
300
300
0
0
0
36
72
108
P2O5 (kg/ha)
144
K2O (60 kg/ha)
0
36
72
108
P2O5 (kg/ha)
144
Figura 2 – Renda bruta (∆), custo variável da adubação (Ο) e margem de lucro ( ) em resposta às doses de P2O5 dentro
de 30 (- - -) e 60 (___) kg/ha de K2O. *, significativos pelo teste t a 5 % de probabilidade.
Disponibilidade de nutrientes em função da
adubação NPK
As características analisadas no solo
apresentaram variadas respostas à adubação
potássica. Os maiores valores de pH, Cu e Fe
foram estimados com a aplicação de 30 kg/ha de
K2O, enquanto os de P, Al, H+Al, MO, Mn e Zn
ocorrem utilizando 60 kg/ha de K2O (Tabela 2).
As demais características, K, Na, Ca, Mg, B e
CE, não foram influenciadas significativamente
pela adubação potássica.
A adubação fosfatada, comparada à
nitrogenada, influiu mais significativamente na
disponibilidade de nutrientes no solo (Tabela 4).
Considerando que plantas respondem às
quantidades disponíveis de nutrientes no solo
(Bailey, 1993), a adubação fosfatada foi um
item mais importante para definir a
produtividade da mamoneira.
O valor de pH do solo não foi afetado
significativamente pelas doses de P2O5 e N
(Tabela 4). Entretanto, os valores médios de pH,
5,7 e 5,5, estabelecidos respectivamente para 30
e 60 kg/ha de K2O, se mostrou inferior ao pH
original do solo, (6,0). Isto sugere processo de
acidificação do meio durante a condução do
experimento, estimulada provavelmente pela
mineralização da MO.
Figura 4 - Equações de regressão para características determinadas nas amostras de solo
Variáveis
pH
Y = Y = 5,66
MO
Y = Y = 5,45
P
Y = Y = 43,39
K
Na
Ca
Mg
Al
H+Al
Zn
B
K2O (30 kg/ha)
Y = 109,2 – 7,43x10-1**(P2O5) +5,29x10-3**(P2O5)2
– 2,85x10-1*(N)
R2 = 0,6887
Y = 0,11 – 2,55x10-3**(P2O5)0,5 + 1,39x10-4*(P2O5)
R2 = 0,9867
Y = Y = 4,73
Y = Y = 1,36
Y = 0,11 – 3,42x10-3**(N)0,5 +2,51x10-4*(N)
R2 = 0,9867
Y = Y = 5,97
Y = Y = 1,75
Y = 0,48 – 1,16x10-2***(P2O5)0,5 + 1,39x103***
(P2O5)
R2 = 0,9981
K2O (60 kg/ha)
Y = Y = 5,52
Y = 6,277 – 5,53x10-3*(N) R2 = 0,6761
Y = 27,62 + 4,54 x10-1*(P2O5) –2,51x10-3*(P2O5)2 –
3,62x10-1**(N)
R2 = 0,7
Y = 86,80 + 3,874*(N)0,5 – 0,5777*N)
R2 = 0,9509
Y = 0,11 – 1,23x10-4*(P2O5)
R2 = 0,8000
Y = Y = 4,60
Y = Y = 1,45
Y = Y = 0,10
Y = Y = 6,57
Y = Y = 2,09
Y = Y = 0,46
158
Cu
Mn
Y = 1,02 – 0,1592*(P2O5)0,5 +7,80x10-3*(P2O5)
R2 = 0,9776
Y = 9,24 + 2,51x10-2*(P2O5) –2,27x10-4**(P2O5 )2
– 1,70x10-2*(N) + 2,15x10-4*(NxP2O5)
R2 = 0,7072
Y = Y = 0,44
Y = 0,24 + 1,22x10-3*(N)
R2 = 0,6514
Y = 8,92 + 0,74*(P2O5)0,5 – 5,52x10-2*(P2O5)
R2 = 0,8500
Y = 0,46 – 6,22x10-2*(P2O5)0,5 +4,71x10-3*(P2O5)
R2 = 0,8720
*, ** e ***, significativos pelo teste F a 5, 0 e 0,1 % de probabilidade
CE
Referente à MO, a sua concentração não foi
afetada significativamente pelas adubações
fosfatada e nitrogenada na presença de 30 kg/ha
de K2O (Tabela 4). No cultivo com 60 kg/ha de
K2O, a MO declinou em resposta à adubação
nitrogenada, indicando estímulo à ação de
microrganismos decompositores.
Associados à MPF, 2.956 kg/ha, os níveis
críticos para as características estudadas no solo
foram: pH, 5,7; 5,45 dag/kg de MO; 43,4 P e 84
K, em mg/dm3; 4,73 Ca e 1,36 Mg, em
cmolc/dm3; 0,5 B; 0,3 Cu; 9,9 Mn; 1,8 Zn, em
mg/dm3. Para a MPE, 2.837 kg/ha, os níveis
críticos foram de 5,7 pH; 5,45 MO; 43,39 P; 94
K; 4,73 Ca; 1,36 Mg; 0,5 B; 0,5 Cu; 9,7 Mn; 1,8
Zn.
As características químicas analisadas no
solo apresentaram variadas correlações com a
produção da mamoneira (Tabela 5). No cultivo
com 30 kg/ha de K2O, o Zn foi o nutriente com
maior correlação positiva (0,870***) com a
produção. Na dose de 60 kg/ha de K2O, a
produção melhor correlacionou-se com Ca e
Mg, obtendo-se valores respectivos de 0,733** e
0,702**. Correlações significativas também
foram apontadas entre os teores de P e Mn com
a produção, havendo valores significativos nos
cultivos com 30 e 60 kg/ha de K2O.
Tabela 5 – Coeficiente de correlação linear de Pearson da
variável produção com características analisadas em
amostras de solo adubadas com 30 e 60 kg/ha de K2O
Variáveis
Quantidade de K2O
30 kg/há
60 kg/há
pH
-0,403ns
0,521
MO
0,679**
-0,083ns
P
0,614*
0,595
K
-0,500*
-0,407ns
0,733**
Ca
0,411ns
ns
Mg
-0,053
0,702**
ns
Na
-0,163
-0,304ns
ns
H+Al
0,325
-0,685**
ns
B
-0,352
-0,229ns
***
0,494*
Cu
-0,773
*
Fe
-0,498
-0,301ns
***
Mn
0,782
0,689**
***
Zn
0,870
0,468ns
ns
CE
0,243
-0,385ns
4 CONCLUSÕES
A MPF de bagas de mamoneira, 2.956 kg/ha,
foi estimada na associação das doses 61 kg/ha
de P2O5 e 30 kg/ha de K2O, sem adubação
nitrogenada.
A MPE de bagas de mamoneira, 2.837 kg/ha,
estimada na combinação de 20 kg/ha de P2O5,
30 kg/ha de K2O e 0 kg/ha de N proporcionou
um lucro de R$ 908,08 por ha. Para tal situação,
o retorno de capital comparado à ausência de
adubação foi de R$ 129,03 por ha.
A disponibilidade de nutrientes no solo, na
maioria das situações, teve resposta mais
pronunciada ao adubo fosfatado em comparação
ao nitrogenado.
AGRADECIMENTOS
Ao Ministério de Desenvolvimento Agrário e
pelo Banco do Nordeste do Brasil pelo
financiamento da pesquisa. E a FAPEMIG pela
concessão de Bolsa de Incentivo a Pesquisa e ao
Desenvolvimento Tecnológico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVAREZ V., V.H. Avaliação da fertilidade
do solo: superfícies de resposta – modelos
aproximativos para expressar a relação fator
resposta. UFV, Viçosa, MG. Imprensa
Universitária. Boletim Técnico no 228, 75p.
1991.
AMORIN NETO, M.S.; ARAÚJO, A.E.;
BELTRÃO, N.; E.M. Clima e solo. In:
AZEVEDO e LIMA. ed. O Agronegócio da
mamona no Brasil. Campina Grande,
EMBRAPA Algodão, 2001. p.63-76.
BAILEY, J.S. Sustainable fertiliser use. The
Fertiliser Society. Proceedings, 343. 44p, 1993.
159
CAMARGO,
A.P.M.;
ZABINI,
A.V.
Diagnóstico nutricional da mamoneira em
resposta a adubação foliar no oeste da Bahia. In:
Anais... II Congresso Brasileiro de Plantas
Oleaginosas, óleos, gorduras e biodiesel.
Varginha, MG, 2005.
CASTRO NETO, P.; FRAGA, A.C.;
FERREIRA, J.B.; CASTRO, H.P.; AVELAR,
R.C.; DOURADO, D.C.; DEPERON JUNIOR,
M.A.; DANFÁ, S.; QUINTILIANO, A.A.
Mamona em consórcio com lavoura de café
recepado. In: Anais... II Congresso Brasileiro de
Plantas Oleaginosas, óleos, gorduras e biodiesel.
Varginha, MG, 2005.
COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS.
Recomendações para o uso de corretivos e
fertilizantes em Minas Gerais. 5a Aproximação.
RIBEIRO, A.C.; GUIMARAES, P.T.G.;
ALVAREZ V., V.H. Viçosa, MG, 359p, 1999.
FORNASIERI FILHO, D. A cultura do milho.
Jaboticabal: FUNEP, 1992. 273p.
GONÇALVES, N.P.; FARIA, M.A.V.R.;
SATURNINO, H.M.; PACHECO, D.D. Cultura
da
mamoneira.
Informe
Agropecuário:
Produção de Oleaginosas para Biodiesel. IA,
v.26, n.229; p.28-32, 2005. Belo Horizonte,
MG.
Agropecuária Brasileira. Brasília, v.41, n.4,
p.563-568, 2006a.
SEVERINO,
L.S.;
FERREIRA,
G.B.;
MORAES,
C.R.A.;
GONDIM,
T.M.S.;
CARDOSO, G.D.; VIRIATO, J.R.; BELTRÃO,
N.E.M. Produtividade e crescimento da
mamoneira em resposta à adubação orgânica e
mineral. Pesquisa Agropecuária Brasileira.
Brasília, v.41, n.5, p.879-882, 2006b.
VALE, L.S.; BELTRÃO, N.E.M.; SEVERINO,
L.S.;
ANUNCIAÇÃO
FILHO,
C.J.;
MONTENEGRO, A.A.A. Efeito da salinidade
na cultura da mamoneira. In: Anais... II
Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas,
Óleos, Gorduras e Biodiesel. Varginha, MG,
2005.
__________________________________
1
Pesquisadores da EPAMIG – CTNM. Caixa
Postal 12, CEP 39525-000, Nova Porteirinha,
[email protected];
MG,
[email protected]; [email protected]
2
Acadêmico de Mestrado em Ciência do Solo,
UFRPE. Rua Dom Manoel de Macedo s/n –
Dois Irmão UFRPE, Recife, PE, CEP 52171900, E-mail:. E-mail: [email protected]
NAKAGAWA, J.; NEPTUNE, A.M.L. Marcha
de absorção de nitrogênio, fósforo, potássio,
cálcio e magnésio na cultura da mamoneira
(Ricinus communis L.) cultivar “Campinas”.
Anais da ESALQ, 28: 323-337, 1971.
SATURNINO, H.M.; PACHECO, D.D.;
KAKIDA, J.; TOMINAGA, N.; GONÇALVES,
N.P. Cultura do pinhão-manso (Jatropha curcas
L.). Informe Agropecuário: Produção de
Oleaginosas para Biodiesel. IA, v.26, n.229;
p.44-78, 2005. Belo Horizonte, MG.
SEVERINO,
L.S.;
FERREIRA,
G.B.;
MORAES,
C.R.A.;
GONDIM,
T.M.S.;
FREIRE, W.S.A.; CASTRO, D.A.; CARDOSO,
G.D.; BELTRÃO, N.E.M. Crescimento e
produtividade de mamoneira adubada com
macronutrientes e micronutrientes. Pesquisa
160
Download