Palestra

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Implicação não agronômica ficou na mensagem final de que
a interferência do glifosato na absorção e transporte dos micronutrientes dentro da planta pode causar deficiências e representar
uma ameaça potencial para a nutrição e saúde humana.
Palestra: O NÍQUEL NA NUTRIÇÃO MINERAL E NA
DEFESA DAS PLANTAS CONTRA DOENÇAS
Bruce Wood, USDA, Byron-GA, e-mail: [email protected]
A vinda do Dr. Wood ao Brasil para visitas a pomares cítricos e cafezais foi fruto de muitas coincidências felizes e com resultados altamente positivos para a agricultura brasileira e americana.
Meu primeiro contato com a pesquisa do Dr. Wood foi quando fiz a revisão do artigo sobre níquel, escrito pelo Professor
Malavolta e seu aluno de pós-graduação Milton Moraes, entitulado
“Nickel – from toxic to essential nutrient”, que foi publicado na
Revista Better Crops (v. 91, n. 3, p. 26-27, 2007). Para ilustrar a matéria, meu bom amigo Don Armstrong, editor do Better Crops, pediu
emprestado para Dr. Bruce Wood, hoje o maior nome para problemas relacionados ao níquel na agricultura, algumas fotos ilustrando a deficiência de níquel, entre elas, a da Figura 15. Assim que vi a
foto selecionada por Don, liguei para ele pedindo o endereço do
Dr. Wood. Tinha certeza (quase absoluta) que o que a foto mostrava era, de fato, intoxicação da planta por glifosato! Poderíamos
estar falando a mesma coisa, mas de forma diferente: que a intoxicação por glifosato pode causar deficiência de níquel. E que esta
deficiência poderia ser corrigida com aplicações foliares de Ni.
o vôo de Springfield para Chicago tinha sido cancelado! Após muitos telefonemas para Atlanta e para Piracicaba consegui outro vôo.
Mas, na conexão em Chicago para Atlanta, a atendente do check-in
não conseguia localizar meu nome na lista de passageiros. Foi longa espera, até que finalmente apareceu meu nome na tela do computador. Foi alívio geral na fila do check-in, principalmente da preocupada senhora logo atrás de mim. Chegando em Atlanta, encontreime logo com Terry. Mas não com a bagagem, que ficou extraviada
em Chicago! E dentro dela muitos equipamentos de pesca, hobby
que pretendo curtir após aposentar-me, em 30/11/2007. Fizemos a
notificação do extravio e saímos “a toda” para Byron. Felizmente,
Dr. Charles Reilly, assistente do Dr. Wood havia sido informado e
ficou nos esperando. Quando lá chegamos estava só ele, pois era
o fim do dia de uma 6a feira. Apesar das dificuldades, foi uma
visita fantástica. Confirmei minha suspeita. Tive a certeza que
não só os pés de pecã (Figura 16), mas os de outras perenes,
principalmente os pessegueiros, estavam com os inequívocos
sintomas de intoxicação por glifosato. Antes que me esqueça,
localizei minha mala em Chicago e consegui ainda viajar na manhã
do dia seguinte de volta ao Brasil com os meus preciosos equipamentos de pesca.
Deficiência de Ni ou toxidez por glifosato?
T. Yamada com Dr. Charles Reilly – USDA Station,
Byron, GA, 13/07/2007
Figura 16. Visita do Dr. Yamada à Estação Experimental do USDA em
Byron, GA, Estados Unidos, onde observou que os sintomas
de deficiência de níquel em pecã eram semelhantes aos de
toxidez por glifosato observados no Brasil.
Figura 15. Foto que ilustrou o artigo de Malavolta e Moraes com a seguinte
legenda: Este pé de pecã estava deficiente em Ni. O ramo da
direita foi tratado no início da primavera com aplicação foiliar
única de sulfato de níquel, enquanto o ramo da esquerda não foi
tratado. Efeitos no crescimento foram visíveis 14 dias após o
tratamento.
Como tinha uma visita programada para os Estados Unidos
para Julho, decidi visitar Dr. Wood na Estação Experimental do
USDA, em Byron, GA. Era uma sexta-feira, 13 de Julho! Voaria cedo
de Springfield, IL, via Chicago, para Atlanta, GA, de onde Dr. Terry
Roberts, presidente do IPNI, gentilmente se dispôs a levar-me para
Byron. Foi uma viagem atribulada, própria para uma sexta-feira 13:
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Daqui, liguei para Dr. Wood contando sobre a minha suspeita de que o que ele estava observando poderia ser, de fato, toxidez
por glifosato, e o convidei para vir ao Brasil. Cientista com grande
conhecimento de fisiologia vegetal e de nutrição de plantas teve a
curiosidade aguçada e atendeu prontamente ao meu convite. Foi
assim que tivemos o privilégio de contar com ele em nosso Simpósio.
Como regra, antes de um Simpósio, costumo levar os palestrantes para visitas ao campo. Assim, eles ficam familiarizados com
os problemas que queremos discutir no Simpósio.
Na primeira parada da nossa excursão, em um cafezal na região de São José do Rio Pardo, mostrei ao grupo, mas principalmente
ao Dr. Wood, um cafeeiro com os sintomas típicos de intoxicação
por glifosato. Suas palavras: “Estou 99% convencido que estes
sintomas são de deficiência de níquel”(Figura 17) foram a recompensa de uma longa busca! Tinha, agora, o níquel como uma nova
ferramenta para mitigar os sintomas de intoxicação por glifosato.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 119 – SETEMBRO/2007
Deficiência de Ni ou
toxidez por glifosato?
Figura 17. Dr. Bruce Wood confirmando a semelhança dos sintomas de
toxidez de glifosato em cafeeiro com os de deficiência de níquel.
Após esta longa introdução, vamos agora aos pontos principais de sua apresentação.
Dr. Wood explicou que a essencialidade do Ni como nutriente de planta foi descoberta pelo Dr. Patrick Brown, da Universidade
da California, Davis, e validada em pecã pela sua equipe. Ou seja, a
planta de pecã não completou o ciclo de vida sem o Ni.
Explicou que o Ni é importante catalisador de muitas enzimas,
como: urease, superóxido dismutase, NiFe hidrogenases, metilcoenzima M reductase, monóxido de carbono dehidrogenase, acetil
coenzima A sintase, hidrogenases, RNase-A e, provavelmente, muitas outras. Enfatizou que é preciso entender que o Ni afeta a atividade de 3-4 ou mais enzimas críticas em rotas bioquímicas fundamentais da planta, afetando a ciclagem de C e N e também dos
metabólitos secundários. Como conseqüência final há comprometimento do mecanismo de defesa da planta contra doenças.
Explicou que as plantas defendem-se dos patógenos através de: (1) barreiras físicas lipídicas, como ceras, cutina e suberina
e (2) compostos químicos nocivos ou armamento químico, que são
os metabólitos secundários (por exemplo, terpenos, compostos
fenólicos e compostos secundários contendo nitrogênio).
Mostrou que a síntese destes compostos pode ser comprometida pela deficiência de Ni, principalmente devido à sua influência na produção de acetil CoA, que é vital no processo (Figura 18).
Mencionou que os principais sintomas de deficiência de Ni
em pecã são:
• Folhas e folíolos com manchas escuras na ponta e formato
arredondado (orelha-de-rato), devido ao acúmulo de uréia e possivelmente de ácido lático e oxálico;
• Afilamento das folhas e folíolos e crestamento das margens;
• Necrose da ponta das folhas e folíolos com zona verde
adjacente à necrose;
• Tronco e galhos quebradiços, provavelmente devido à diminuição da lignificação;
• Diminuição do vigor, crescimento e florescimento;
• Enfezamento dos internódios;
• Gemas anormalmente pontudas;
• Perda da dominância apical, com efeito “roseta”;
• Morte de brotos e galhos;
• Morte da planta.
Para quem conhece o glifosato diria que ele estava descrevendo os sintomas de toxidez causados por este herbicida.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 119 – SETEMBRO/2007
Figura 18. O carbono fotossintetizado termina em uma das quatro categorias
de produtos anti-patogênicos. Os produtos do metabolismo
primário originam compostos que funcionam como barreira
física. Os produtos do metabolismo secundário podem se mover
através das três rotas bioquímicas para a síntese de compostos
que atuam como protetores contra patógenos. A disponibilidade
de acetil CoA é crítica para a produção das quatro classes de
protetores. E a deficiência de níquel afeta potencialmente a
síntese de acetil CoA via ação sobre sua sintase.
Fonte: Adaptada por Bruce Wood de Taiz e Zeiger, Plant Physiology, 3.ed.
Mostrou que estes sintomas podem ser corrigidos com aplicação de Ni, como já ilustrados na Figura 15, e com detalhes na
Figura 19.
Figura 19. Efeito da pulverização foliar de níquel no sintoma de orelha-derato em brotação de planta de pecã deficiente no elemento. À
direita, ramo deficiente em níquel; à esquerda, ramo deficiente
após tratamento com níquel via foliar.
Comentou que a faixa de suficiência para Ni na folha varia de
partes por bilhão (ppb) até partes por milhão (ppm), dependendo da
espécie da planta. Assim, para gramíneas e para culturas anuais e
perenes, com N transportado na forma amídica, o teor de Ni foliar
varia de 1 a 200 ppb. Para pecã e outras árvores perenes, com N
transportado como ureídas, estima-se em 3-30 ppm, e para as leguminosas tropicais, em 1-30 ppm.
À guisa de informação, o laboratório ICASA (Rua Reine
Germana Cazes, no 20, Jardim Miranda, CEP 13032-220, Campinas,
SP, fone 19-3032-0066) analisa Ni em solo e planta, quando solicitado.
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Entre os problemas patogênicos induzidos por deficiência
de Ni, citou: nematóide de galhas em pecã (Meloidogyne partityla),
ferrugens em diversas culturas, mancha parda (Helminthosporium
oryzae) e brusone (Pyricularia oryzae) no arroz. Para a ferrugem da
soja, disse que em algumas situações o Ni tem potencial para reduzir a incidência da doença em variedades resistentes, mas que não
acredita neste efeito em variedades altamente suscetíveis.
Observou ainda que o tratamento com duas pulverizações
de Ni com 50 ppm Ni como Ni-lignosulfonato aumentou a produtividade em 11% nos ensaios de 2005 e em 15% nos ensaios de 2006,
apesar de não significativas estatisticamente.
Citou que a maioria dos solos agrícolas nos Estados Unidos
tem Ni em quantidade suficiente para as plantas, mas que pode ter
a biodisponibilidade reduzida pelos seguintes fatores:
• Solo frio ou seco no início da primavera;
• Teores demasiadamente altos de Ca e Mg na solução do solo;
• Altos teores de Fe, Mn, Co, Cu e Zn;
• Alto pH, alto P e baixa CTC; e
• Glifosato (após sua visita ao Brasil).
Apresentou o manejo do Ni que ele recomenda no programa
de adubação de pecã, experiência esta que acreditamos ser transferível para perenes de outras regiões do mundo.
Assim, para plantas com sintomas evidentes de deficiência
de Ni, recomenda:
• Deficiências leves a moderadas: 1 a 2 aplicações foliares de
solução com 50-100 ppm de Ni, a primeira no início da brotação e a
segunda duas semanas depois;
• Deficiências severas: pulverizar também, no final do outono, com solução de 100 ppm de Ni, para promover sua remobilização.
• No caso de “fome oculta”, ou aplicação de “seguro”, recomenda 1 a 2 aplicações de 25-100 ppm de Ni, cerca de 10 e 24 dias
após o início das brotações.
Concluiu dizendo que:
• O Ni , este esquecido nutriente de plantas, tem papel fundamental no aumento da resistência contra doenças, especialmente
nas plantas em que o transporte de N é feito na forma de ureídeos,
como é o caso da pecã, da soja e, talvez, do cafeeiro;
• O maior conhecimento das interações do Ni com a nutrição
mineral favorecerá a redução de doenças.
Notas do editor: Ainda a respeito do níquel na agricultura
1. Após o Simpósio, recebi em 26/09/2007 e-mail do Dr. Bruce
Wood que dizia:
Caro Yamada, envio anexo duas cartas sobre minha recente
viagem ao Brasil. Uma é um relatório para Washington, DC, sobre o
que foi observado, e a outra para você sobre minhas idéias a respeito do níquel e de greening em citros no Brasil.
De novo, o Simpósio foi de 1a classe, e gostei muito da
oportunidade de participar, de conhecer você e os outros cientistas do grupo, de entender os problemas agrícolas no Brasil, de
observar os problemas de micronutrientes/níquel/glifosato e de
visitar o novo enfoque de manejo de pomares. Sua hospitalidade
foi excepcional (sic). Que os melhores desejos se realizem no novo
capítulo de sua vida.
Cordiais saudações,
Bruce Wood, PhD
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USDA-ARS-SEFTNRL
21 Dunbar Road
Byron, Geórgia 31008
Fones: 478 956 6420/6421 - 478 262 1279
E-mail: [email protected]
2. Alerto que esta carta é de caráter pessoal e não um trabalho científico. Como ela tem muitas informações relacionadas com o
níquel, ela foi traduzida e está sendo reproduzida na íntegra para
que os leitores possam testar algumas das suas interessantes sugestões para o controle do greening dos citros.
3. Fiquei muito impressionado com o eficiente trabalho do
Dr. Bruce Wood junto ao USDA. Como ele mencionou, a mensagem sobre problemas potenciais do glifosato na agricultura foi
captada rapidamente e já chegou em Washington, DC. Aqui, lutei
durante anos mas não consegui passar a mensagem para Brasília.
4. Segue abaixo a carta traduzida.
Byron, GA, 25 de Setembro de 2007
Prezado Dr. Yamada:
Quero sinceramente agradecer a você, seus colegas e o IPNI
por organizarem um oportuno Simpósio, criticamente importante e
que foi de grande sucesso. Seu grupo fez um trabalho excelente –
verdadeiramente de 1a classe – e sua hospitalidade inigualável.
Sou grato por ter participado deste desafio científico, que serve à
agricultura do mundo ao “despertar” para os potenciais efeitos
colaterais negativos das culturas transgênicas, com genes de bactérias, e do uso do glifosato. Embora estas tecnologias tragam grandes benefícios positivos para a agricultura, é também igualmente
importante que os usuários estejam cientes das conseqüências negativas na produtividade e qualidade da cultura e ramificações relacionadas à saúde das criações e dos homens. Obrigado por sua
liderança neste importante assunto.
Falei ontem com nossa especialista na cultura do pêssego,
na Universidade de Geórgia, a respeito do programa de mulch com
gramíneas de cobertura que você desenvolveu. Ela está curiosa a
respeito do seu enfoque, pois a nossa indústria de pêssego está
convencida que precisa colocar de lado as atuais estratégias de
manejo com solo quase nu devido ao uso de herbicidas. (Contudo)
vemos dois problemas potenciais com a adoção do enfoque de
manejo (com mulch) de vocês, na cultura de pêssego nos Estados
Unidos. Eles são: a) aumento do dano dos troncos das árvores
pelas brocas, que multiplicam em mulch orgânico, e b) aumento de
danos nos troncos pelas ratazanas e camundongos. Pensamos (porém) que poderemos controlar estes problemas nas condições de
mulch. (Para tal) estamos incluindo um nematologista e um entomologista no nosso time, e assim juntar expertise suficiente para
responder simultaneamente às muitas questões (desta mudança).
Obrigado pela sua assistência em nos ajudar a reconhecer os efeitos adversos do uso do glifosato e por nos lembrar o enfoque “de
volta à natureza” no manejo dos pomares. Eu penso verdadeiramente que este enfoque provará ser vantajoso e aceitável. Planejamos tentativamente estabelecer um talhão para pesquisa de campo, e com sua permissão gostaríamos de creditar sua contribuição,
incluindo você como um dos autores, nas publicações subseqüentes.
Das discussões coletivas com você e outros cientistas, eu
estou convencido que estamos vendo, pelo menos em pecã, um
aumento na suscetibilidade de doenças como conseqüência do
uso do glifosato nos pomares. Eu espero ser capaz de delinear
alguns estudos para provar esta hipótese.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 119 – SETEMBRO/2007
Estou convencido de que o glifosato está induzindo deficiências de micronutrientes em várias culturas. Níquel (Ni) é um
destes nutrientes. Como você sabe, a deficiência de Ni nos solos
dos pomares é muitíssimo raro. Assim, o aparecimento dos sintomas de deficiência sugerem fortemente que existe algo seriamente
errado com a fisiologia da cultura, ou com a química do solo/ambiente ou com ambos.
Acredito que os sintomas aparentes de deficiência de Ni
observados nos cafeeiros (visitados no Brasil) são consistentes
com os que se esperaria da ligação de cátions divalentes, como o
Ni, com o glifosato. Excetuando as hiperacumuladoras de Ni, todas
as plantas absorvem apenas quantidade pequena de Ni e como (só)
os transportadores de ureídas necessitam de concentrações relativamente altas de Ni endógeno, é razoável esperar que plantas com
este tipo de transporte de N serão as primeiras a apresentar danos
fisiológicos como conseqüência da quelação dos micronutrientes
pelo glifosato.
Em outras palavras, as inter-relações entre Ni, transporte de
ureídas e glifosato são como as entre canário, mina de carvão e o
homem (no passado, o canário era usado como indicador do nível
tóxico de gás; assim, se o pássaro morria, era sinal de que havia
nível tóxico de gás e que os mineiros deveriam evacuar as minas),
onde (a deficiência) o Ni seria o “alarme precoce indicador” (early
warning indicator, no original) do problema (do glifosato).
A deficiência de Ni em cafeeiro, seja (ela causada) por falta
(de Ni) no solo ou por indução pelo glifosato poderá ser corrigida
com 1 a 2 pulverizações foliares de sais de Ni na concentração de 100
ppm de Ni (+ 1 a 2 kg de uréia em 378 litros de água + um surfactante
não iônico) feitas (a primeira) alguns dias após o início das brotações
e mais uma (a segunda) após duas semanas. Funcionará ou como
correção da deficiência de Ni ou como antídoto parcial contra danos
induzidos pelo glifosato. Espero que os administradores de fazendas
testem o Ni, mas que deixem um controle para que possamos melhor
entender o que está acontecendo com o cafeeiro. Eu suspeito que a
faixa foliar (de Ni) para o cafeeiro está entre 3 e 5 ppm.
Também vi (no Brasil) algumas laranjeiras com folhas exibindo três sintomas diferentes associados com a deficiência de Ni.
Citros aparentemente é uma planta com o N transportado como
amida, possuindo, assim, necessidade muito baixa de Ni (pode ser
cerca de 200-500 ppb). Por conseguinte, suspeito que o uso do
glifosato tem o potencial de causar problemas de “fome oculta”
mesmo em culturas relativamente insensíveis ao Ni, como os citros.
Suspeito que existe também problemas (de deficiência) de Ni na
cana-de-açúcar e na soja.
Em relação ao greening de citros e o uso de fosfito, acredito que é razoável concluir que ambos podem ter papéis (na doença); contudo é provável que seja um tiro de longa distância (longshot ou “chutão”). Apesar disto, ainda é, na minha opinião, (uma
hipótese) válida de ser estudada. O fosfito pode provar sua eficácia, pois possui ação contra certas classes de bactérias. Assim,
parece razoável esperar que o uso combinado de Ni e fosfito poderia suprimir ou prevenir o crescimento ou a reprodução bacteriana e assim constituir numa maneira eficaz para controlar o
greening. Existe ainda o trabalho vietnamita mostrando que o
greening é controlável através do plantio intercalar de goiabeira
com laranjeira, na base de 1:1, ou seja, cada pé de citros circundada por 4 pés de goiabeira (e vice-versa). A goiabeira produz
terpenos, que repelem os Psilídeos, que são os vetores das bactérias causadoras da doença. Outro enfoque é controlar os Psilídeos
com pesticidas, mas este será muito caro.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 119 – SETEMBRO/2007
A combinação Ni2+-fosfito foliar, ou o encharcamento do
solo com ambos Ni2+ e fosfito, parece-me um enfoque viável com
razoável probabilidade na redução dos impactos adversos do
greening. Eu falei recentemente num encontro no México sobre o
grande sucesso obtido com o encharcamento do solo circundando
o tronco com fosfito na cura de certas doenças afetando o carvalho na Califórnia. Daquelas discussões concluí que os encharcamentos de solos com soluções constituem meios altamente eficazes de colocar compostos orgânicos e inorgânicos dentro da
planta. Como regra geral, os volumes aplicados devem ser cerca
de 1,5 L por cm de diâmetro do tronco. A solução necessita de um
surfactante apropriado para facilitar o movimento dentro da planta. Uma “baixa” concentração de um surfactante organo-silicone
na dose de 0,26 ml L-1 da solução parece melhorar a absorção
radicular das árvores.
Vejo, portanto, que o enfoque potencialmente viável para
controlar o greening de citros que envolveria a cessação do uso do
glifosato incluiria as opções:
1. Pulverizações foliares ou injeções com Ni, em tempo oportuno;
2. Pulverizações foliares ou injeções com fosfito, em tempo
oportuno;
3. Pulverizações de ambos, Ni e fosfito, em tempo oportuno;
4. Encharcamento do solo com Ni;
5. Encharcamento do solo com fosfito;
6. Encharcamento do solo com ambos, Ni e fosfito.
Adicionalmente, é possível que a inclusão de salicilato, ou
análogo, poderia ter eficácia contra bactéria afetando o floema; assim, o tratamento foliar com salicilato poderia estimular as defesas
da planta de modo a suprimir ou matar a bactéria.
Mais uma vez, obrigado pela oportunidade de participar. Foi
uma viagem muito benéfica para mim.
Saudações cordiais,
Bruce W. Wood
Research Leader
Palestra: PROBLEMAS RELACIONADOS AO
GLIFOSATO E DOENÇAS DE PLANTAS NO CANADÁ
Myriam Fernandez, Agriculture and Agri-Food, Canadá, e-mail:
[email protected]
Segundo a Dra. Fernandez, desde meados da década de 90,
na parte oeste da região dos Prairies do Canadá, onde o clima é mais
chuvoso e os solos são mais pesados, a fusariose do trigo (FHB)
tornou-se um problema sério.
Esta doença reduz a produtividade e a qualidade dos grãos
(Figura 18), acumula micotoxinas e diminui a germinação e vigor das
plântulas, sendo a fonte mais importante do inóculo da fusariose os
restos culturais dos cultivos anteriores.
De 1999 a 2002 ela buscou identificar práticas de manejo que
reduzissem os danos da doença nas áreas de cultivo do trigo bem
como sua disseminação para outras áreas do Canadá. Nos 851 campos de trigo e cevada analisados (resíduos e raízes), foram encontradas
várias espécies de Fusarium, como: F. graminearum, F. avenaceum,
F. culmorum, F. poae e F. sporotrichioides.
Resultados do estudo demonstraram que quatro fatores agronômicos foram significativos no aumento da severidade da doença:
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