BV581 - Fisiologia Vegetal Básica - Desenvolvimento Aula 7: Ácido Abscísico e outros hormônios Prof. Marcelo C. Dornelas Ácido Abscísico Histórico O ácido abscísico foi descoberto na década de 1960, com nomes diferentes, por dois grupos trabalhando independentemente nos EUA e na Inglaterra. O grupo americano, liderado por L.T. Addicott (Univ. California at Davis) pensaram ter isolado a substância que causava abscisão de folhas e frutos de algodoeiro e deram a ela o nome de abscisina. O grupo britâ nico liderado port P.F. Wareing (Univ. Walles, Inglaterra), trabalhando com a dormência de gemas da árvore Bétula, isolaram o que chamaram de dormina. O grupo de Wareing comparou as duas substâncias e chegou à conclusão de que a eram idênticas! Em uma reunião à portas fechadas, provavelmente cm grande influência de Addicott, chegou-se ao consenso de chamar a substância de ácido abscísico (ABA). Por ironia, mais tarde descobriu-se que o efeito da substâ ncia sobre a abscisão era um artefato... O ácido abscísico NÂO induz a abscisão na maioria das plantas!! Ácido abscísico NÃO participa de abscisão na maioria das plantas! (S)-cis-ABA Síntese inicia-se em terpenóides (IPP, cloroplasto), passa por intermediários carotenóides (zeaxantina) que sofrem a ação de desidrogenasess e oxidases Metabolismo do ABA A síntese do ABA inicia-se no cloroplasto, com a modificação de terpenóides até um intermediário carotenoide (zeaxantina). Com a posterior ação de várias desidrogenases e oxidases, forma-se o ácido abscísico. Uma vez que é necessária a participação de plastídeos, o ABA é sintetizado em todas as partes verdes da planta e acredita-se que seja transportado para outros tecidos via xilema e floema. O ABA pode ser neutralizado por conjugação (e.g. com ésteres de glucose) ou por oxidação. Funções Biológicas - O ABA induz a dormência de gemas caulinares, principalmente de tubérculos (como a batata) e de ápices caulinares de espécies arbóreas perenes de clima temperado. A dormência de gemas inclui a produção de brácteas protetoras, geralmente cobertas de ceras ou pelos e a redução drástica do metabolismo das gemas para um nível mínimo. Acredita-se que este tipo de dormência seja uma adaptação aos rigores do inverno das regiões de clima temperado e frio. Assim, o ABA pode ser aplicado artificialmente com fins comerciais para evitar que tubérculos de batata brotem em condições indesejadas ou para conservá-los por mais tempo. - O ABA induz a dormência de sementes. Uma vez que o embrião inicia sua formação, o endosperma inicia o acúmulo de reservas. Este acúmulo inicial é induzido por ABA. Igualmente, após o desenvolvimento do embrião, a semente não germina imediatamente, para maximizar a dispersão. O ABA induz a dormência do embrião (redução do metabolismo da semente a um nível mínimo) e aumenta sua tolerância a vários tipos de estresses, incluindo o dessecamento. Mutantes para a síntese de ABA em várias espécies de plantas são muito sensíveis a qualquer tipo de estresse e possuem sementes vivíparas (ou seja, germinam ainda no corpo da mãe). No que diz respeito à germinação de sementes, o ABA possui, portanto, uma ação antagônica às giberelinas, que induzem a germinação! - O ABA induz o fechamento dos estômatos. Isso pode ocorrer tanto em resposta a estresses hídrico ou de calor. O ABA age modulando a ação de bombas de potássio (K out e Kin) e de outros íons (como Cl-), através da elevação de teores de cálcio. O cálcio neste caso age como mensageiro secundário tanto no fechamento quanto na abertura dos estômatos. ABA induz fechamento dos estômatos ABA reprime abertura dos estômatos -Ação sobre bombas de potássio e outras bombas iônicas - Cálcio age como mensageiro secundário, tanto para abertura quanto para fechamento dos estômatos Mecanismo de ação Apesar de se saber que o ABA age modulando a expressão diferencial de genes como todos os outros hormônios vegetais, a forma com que ele faz isso, sobretudo em se considerando seus diferentes papéis biológicos, ainda não é completamente esclarecido. Sabe-se que há vários receptores de ABA (RCARs, PYR1, PYLs), que uma cascata de fosforilação está envolvida na transdução do sinal (com a participação de fosfatases ABI1 e ABI2) e que a atividade de vários fatores de transcrição é modulada por ABA. Brassinosteróides Desde a década de 1970 sabia-se que extratos alcoólicos de grãos de pólen de Brassica possuíam atividade biológica (Mitchel et al., 1970). Estes efeitos eram semelhantes aos da auxina e causavam alongamento celular. M.D. Grove em 1979 conseguiu isolar, a partir de 227Kg de pólen de Brassica, 4mg de uma molécula que ele nomeou brassinolídeo. Hoje em dia mais de 70 formas diferentes de brassinosteróides, com função biológica semelhante ao brasinolídeo, já foram isolados de plantas. Os brassinosteróides são provavelmente sintetizados por toda a planta, a partir de campesterol. O transporte de brassinosteróides a longas distâncias pelo corpo da planta é considerado possível, mas não se sabe sobre a relevâ ncia biológica deste transporte. Sabe-se que os brassinosteróides promovem o alongamento do tubo polínico, induzem alongamento e divisão celular, participam da indução de manutenção da dominância apical, em associação com o papel conhecido neste fenômeno para as auxinas. Induzem ainda a diferenciação de tecidos vasculares e parecem promover um incremento da resistência das plantas a diferentes tipos de estresses (hídrico, salino, de temperatura, etc). Mais de 70 compostos com função BR já foram isolados de plantas O mecanismo de ação de brassinosteróides é relativamente bem estudado e implica na regulação diferencial de genes. O processo envolve a participação de receptores transmembranares com domínio serina-treonina kinase intracelular. Há ainda a participação de serina-treonina kinases intracelulares do tipo GSK3 (BIN2) e fosfatases (BSU1) que controlam a atividade dos modulares de transcrição BZR1/2. BZR1/2 pode ser encaminhada para degradação pelo proteassomo dependendo de seu estado de fosforilação. Jasmonatos O ácido jasmônico foi isolado no início da década de 1970 por E. Demole como um óleo essencial que participa na produção do aroma do jasmin (Jasminum grandiflorum ). Durante a década de 1980 pesquisadores japoneses elucidaram a via de síntese do ácido jasmônico e observaram que a aplicação exógena de jasmonatos afetava o desenvolvimento em várias espécies de plantas. Durante as décadas de 1980-1990 descobriu-se que os jasmonatos participavam como elicitores de resistência sistêmica das plantas ao ataque de patógenos necrófagos e de herbívoros, principalmente larvas de insetos. Os jasmonatos naturais mais ativos são o ácido jasmônico e seus derivados o metil-jasmonato (MeJA, que é volátil) e o conjugado de Isoleucina (JA-Ile). Os jasmonatos são produzidos pela oxidação de ácidos graxos e são derivados do ácido linoleico. Assim, a síntese de jasmonatos se inicia no cloroplasto e depois continua no peroxissomo e no citoplasma. A síntese aparentemente pode ser realizada em qualquer verde da planta (uma vez que deve haver participação dos cloroplastos). O transporte pode se dar entre plantas, pelo ar (MeJA sendo um composto volátil) ou dentro da própria planta, através do transporte de precursores ou de compostos conjugados. Jasmonatos incluem ácido jasmônico (JA) e seus derivados O principal papel biológico dos jasmonatos é na indução de respostas sistêmicas das plantas ao ataque de herbívoros (principalmente insetos), mas possuem também um papel secundário no desenvolvimento de estruturas reprodutivas, no desenvolvimento de tricomas e no controle do ciclo celular e senescência. A síntese de jasmonatos é induzida de forma muito rápida pela planta se a mesma for ferida (fisicamente ou quimicamente). A produção de JAs se dá tanto na parte ferida diretamente ou nos tecidos não-perturbados adjacentes. Plantas feridas podem emitir MeJa no ar ao seu redor e induzir respostas nas plantas vizinhas! JAs podem induzir os sistemas de defesa diretos da planta, através da promoção da expressão de genes codificadores de inibidores de protease. Se insetos ingerirem uma grande quantidade de inibidores de protease, não conseguem digerir as proteínas do seu alimento e literalmente ¨morrem de fome¨! JAs igualmente podem induzir os sistemas de defesa indiretos da planta, através da promoção da expressão de genes de terpeno sintases, que induzem a produção de compostos voláteis (pelas partes aéreas, mas também pelas raízes) que atraem predadores ou parasitóides do herbívoros que estão atacando a planta. Plantas não são vítimas passivas! Plantas possuem sistemas de defesa constitutivos e induzidos Constitutivos: sempre presentes: Químicos: toxinas, irritantes (e.g. compostos cianogênicos, taninos, alcalóides, etc.) Físicos: Espinhos, acúleos, etc. Linamarina Glucosídeo Cianogênico da mandioca Induzidos: Diretos: toxinas, compostos anti-nutritivos (e.g. inibidores de proteinase) Indiretos: voláteis reconhecidos por carnívoros ou parasitóides Vespa Geocoris, atraída por compostos voláteis da planta, alimentando-se de ovos de Manduca Existe um cross-talk entre as vias de sinalização de jasmonatos e salicilitatos (Derivados do ácido acetilsalicílico) . Enquanto os jasmonatos estão envolvidos na indução de respostas a patógenos necrófagos (que se alimentam de tecido morto) e herbívoros, os salicilatos estão envolvidos nas respostas a patógenos (bactérias fungos e virus) biotróficos (que se alimentam de compostos subcelulares e não matam os tecidos da planta). Os salicilatos inibem as respostas induzidas pelos jasmonatos. Assim, é um problema muito grande para a planta se ela já estiver sendo atacada por um patógeno biotrófico e for atacada também por um herbívoro! Existe ¨cross-talk¨ entre as vias de defesa controladas por Jasmonatos e as controladas por Salicilatos Jasmonatos Salicilatos O Mecanismo de ação dos jasmonatos é muito semelhante àquele das auxinas! Assim, em concentrações muito baixas de jasmonatos, os genes responsivos a estes compostos encontram-se sempre reprimidos pelo repressor de transcrição JAZ, que está associado aos fatores de transcrição do tipo MYC2, 3 ou 4. Quando a concentração de jasmonatos aumenta, estes ligam-se ao seu receptor, COI1 que por sua vez interage com um complexo de ubiquitinação (SCF-COI1). Uma vez ativado, este complexo marca o repressor JAZ para degradação pelo proteassomo. Com a degradação de JAZ, o complexo se dissocia, a repressão da transcrição é inativada e o gene regulado por jasmonatos (e.g. inibidor de protase) entra em atividade. Mecanismo de ação dos Jasmonatos A COI1 A COI1 Quando a concentração de jasmonatos atinge um certo limite, eles ligam-se ao seu receptor, interagindo com um complexo de ubiquitinação, SCF/COI1, que reconhece JAZ SCF COI1 JAZ MYC2, 3 e 4 Promotor Transcrição inibida Gene controlado por Jasmonatos