INFORME ECONÔMICO Ano 18 ● Número 14 ● 4 de abril de 2016 Reformas. Não há alternativa. A gravidade da crise gerada pela Nova Matriz Econômica apressaram o “ponto sem retorno” ao qual a Constituição nos direcionou em 1988: a falência do modelo de Estado paternalista. A mudança na dinâmica do comércio exterior da Argentina As exportações da Argentina no primeiro bimestre do ano foram beneficiadas pela diminuição dos impostos e pela livre flutuação da taxa de câmbio. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO GRANDE DO SUL Av. Assis Brasil, 8787 Fone: (051) 3347.8731 Fax: (051) 3347.8795 UNIDADE DE ESTUDOS ECONÔMICOS www.fiergs.org.br/economia As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Reformas. Não há alternativa. A gravidade da crise gerada pela Nova Matriz Econômica apressaram o “ponto sem retorno” ao qual a Constituição nos direcionou em 1988: a falência do modelo de Estado paternalista. I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S Na década de 1980 era comum a então primeiraministra britânica Margaret Thatcher (1979-1990) usar a expressão “não há alternativa”, para enfatizar a importância de suas políticas de redução da interferência do Estado na vida econômica e social da Grã-Bretanha. No Brasil de hoje, as finanças do Governo Central (Federal, Banco Central e Previdência) cada vez mais demonstram a gravidade do cenário ao qual o Estado brasileiro foi conduzido, especialmente nos últimos seis anos. Em parte, pelas Políticas Fiscal e Monetária equivocadas da “Nova Matriz Econômica”. Mas também em função do “Estado de bem-estar social” que a Constituição de 1988 tentou implementar, inspirado no modelo europeu que aquela Administração Thatcher precisou reformar há quase 40 anos. Os dados mais recentes mostram que o Setor Público Consolidado teve um déficit primário de R$ 23,0 bilhões em suas contas em fevereiro, reduzindo o Resultado Primário acumulado em 12 meses para -R$ 128,9 bilhões (-2,1% do PIB). As informações surpreenderam por ser o pior resultado para fevereiro nessa base comparativa, o que exigirá do Setor Púbico uma economia de R$ 159,4 bilhões nos próximos dez meses para atingir sua meta de R$ 30,8 bilhões (+0,5% do PIB). Teoricamente possível; na prática, improvável. Do total de R$ 128,9 bilhões o resultado do Governo Central foi responsável por um déficit de R$ 129,2 bilhões, as Empresas Estatais por R$ 4,4 bilhões, sendo ambos compensados pelo resultado positivo do conjunto de Governos Regionais em R$ 4,7 bilhões. Desta forma, o Governo Central também está muito distante de sua meta para o Resultado Primário do ano (R$ 24,0 bilhões, ou 0,4% do PIB). A abertura do orçamento do Governo Central mostra que o cenário calamitoso de suas contas não decorre apenas da queda na atividade econômica. A recessão afetou sobremaneira as receitas, que apresentaram queda real de 6,8% no acumulado em 12 meses até fevereiro. As estatísticas fiscais mostram que as maiores influências nessa queda se concentraram nas Receitas Previdenciárias (-1,7 p. p.), COFINS (-1,4 p. p.), IR (-1,0 p. p.) e CSLL (-0,9 p. p.). Em outras palavras, tributos bastante dependentes da atividade no mercado de trabalho formal e do resultado das empresas privadas. Se as receitas permitem observar os efeitos efêmeros da péssima conjuntura econômica sobre o Erário, as despesas mostram a gravidade dos problemas estruturais da economia brasileira. Em fevereiro, o Governo Central apresentou expansão das suas Despesas Primárias (descontando Juros Nominais da dívida) em 0,7% acima da inflação. Muito embora as despesas Discricionárias caíssem 13,5% real, o seu peso apenas gerou influência de -2,5 p. p. sobre o total. Desta forma, a expansão real de 15,8% (na mesma base comparativa) das despesas Obrigatórias exerceram +4,0 p. p. de influência sobre o total. A maior contribuição desse agregado se mantém a cargo dos Subsídios e subvenções (+3,5 p. p.) pela tentativa do Governo Central em reduzir os débitos das fraudes fiscais (“pedaladas”) junto aos fundos e bancos públicos. A Desoneração da Folha de Pagamento (+0,3 p. p.) e os Benefícios Previdenciários (+0,1 p. p.) foram as outras principais pressões sobre esse agregado. A composição das chamadas Despesas Obrigatórias mostra a necessidade das reformas no Brasil. Considerando os dados fechados de 2015, elas representam 26,7% do orçamento do Governo Central. Nessa medida, estão inclusas as despesas com Pessoal e encargos (13,5%), Subsídios e subvenções (3,0%), Abono e seguro-desemprego (2,7%) e Assistência social (2,4%), entre outras. Contudo, há ainda mais despesas de difícil contenção sem aprovação do Congresso: as Transferências aos Estados e Municípios (11,6%), os Benefícios Previdenciários (24,8%) e os Juros Nominais (22,6%). Esta última conta, por sua vez, consome tamanho volume de recursos federais pois a legislação de 1988, e os programas criados pelos sucessivos governos após a Redemocratização exigem recursos crescentes do orçamento. Desta forma, quando a arrecadação não cresce ininterruptamente (como aconteceu ao longo de boa parte do Boom das Commodities, entre 2004-2008), a única forma de manter o custeio dessas medidas é o endividamento do Estado. Esse frágil equilíbrio fiscal, por sua vez, gera dois efeitos colaterais: inflação elevada pela pressão dos gastos estatais, e uma economia com taxas de juros básicas muito elevadas pelo risco do crédito do Setor Público. Como é fácil perceber, os efeitos econômicos e financeiros diretos e indiretos gerados pelas escolhas sociais que exigem de forma irracional cada vez mais concessões do Estado se acumulam a medida que a análise se aprofunda. Não só isso, se entrelaçam de forma cada vez mais caótica como no clássico jogo infantil “cama de gato”. Nesse jogo, a solução só aparece quando o jogador age para desatar todos os nós simultaneamente. Da mesma forma, a solução para a economia brasileira passa por encaminhar mudanças de forma coordenada tanto na Constituição, quanto na elaboração e execução do orçamento. Não há alternativa: a sociedade brasileira precisa escolher se deseja uma crise econômica sem fim, ou reformas amplas em seu Estado. Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS www.fiergs.org.br/economia A mudança na dinâmica do comércio exterior da Argentina As exportações da Argentina no primeiro bimestre do ano foram beneficiadas pela diminuição dos impostos e pela livre flutuação da taxa de câmbio. I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S Recentemente, o Instituto responsável pelo levantamento das principais estatísticas econômicas da Argentina (INDEC) divulgou os dados referentes à balança comercial do país no primeiro bimestre do ano. O que se percebe, de maneira geral, é que a dinâmica do comércio exterior apresentou importantes alterações, na esteira das ações executadas pelo presidente Maurício Macri desde o fim do ano passado. Nos dois primeiros meses do ano, as exportações totais da Argentina alcançaram US$ 7,98 bilhões, o que representa um crescimento de 4,0% em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado só não foi melhor porque os preços caíram 15,0%. Cabe lembrar que 70% da pauta argentina é composta por produtos primários (commodities) e mercadorias de origem agropecuária, como Alimentos, Bebidas, Peles e Couros. De uma maneira geral, esses bens sofreram uma redução severa de seus preços ao longo dos últimos meses, fruto, entre outros motivos, da expectativa de menor crescimento da China nos próximos anos. As quantidades embarcadas, por sua vez, explicam o avanço do valor: 23,0%. Na abertura por setores de atividade, os principais destaques ficaram por conta das gorduras e azeites (+68,0%), cereais (+55,0%) e resíduos e desperdícios da indústria alimentícia (+20,0%). Com relação ao primeiro, destaque para o óleo de soja, com crescimento de 82,2%. No que diz respeito ao segundo, as maiores contribuições positivas vieram do milho (+99,0%), trigo (+46,3%) e cevada (75,5%). Em relação aos resíduos e desperdícios, houve elevação dos embarques do farelo de soja (+23,0%). Esses resultados podem ser atribuídos a uma das primeiras ações tomadas pelo atual governo da argentina: diminuição do imposto de exportação sobre mercadorias agropecuárias, tornandoas mais competitivas no exterior. Os maiores beneficiados foram os produtores de trigo e milho, que viram suas alíquotas de 23% e 20%, respectivamente, caírem para zero. No caso da soja, a taxa também caiu, ainda que sem uma redução expressiva: de 35% para 30%. Outro fator que também contribuiu para ajudar o segmento exportador da Argentina foi a desvalorização da taxa de câmbio. O governo anterior mantinha o Peso Argentino artificialmente valorizado em relação ao Dólar, numa tentativa de criar uma âncora para ajudar a conter a inflação – nesse cenário, os produtos são importados relativamente mais baratos –. Para se ter uma ideia da magnitude, a taxa de câmbio no último dia útil de outubro de 2015 valia AR$ 9,52. Já no último dia útil de março alcançou AR$ 14,6: desvalorização de 53,3%. Vale ressaltar que essa medida ajuda não só o segmento de Alimentos, mas todos os exportadores. Por sua vez, as importações registraram uma leve queda de 2,0%, totalizando US$ 8,1 bilhões no bimestre. Na abertura dos dados conforme a categoria de uso, chama a atenção o aumento das compras no exterior de Bens de Capital, que são utilizados para a fabricação de outros produtos, em 8,0%. Isso se deveu principalmente ao desempenho do subgrupo de equipamentos de transporte industriais, que avançou 109,0%. Outro componente importante é de Veículos Automotores, que apresentou incremento de 67,0% em janeiro e fevereiro. As perspectivas a médio prazo para o comércio exterior da Argentina são positivas, fruto da mudança na condução da política econômica, agora mais orientada de acordo com os princípios básicos das economias de mercado. O governo já está buscando saldar suas dívidas com credores externos para acessar novamente o mercado internacional de dívida. Se isso, de fato, for feito, as taxas de juros devem reduzir significativamente, estimulando a oferta e a demanda por produtos estrangeiros. Além disso, grandes multinacionais já anunciaram vultuosos investimentos no país, o que também contribui para aumentar o intercâmbio com as outras nações. De uma maneira geral, a indústria do Rio Grande do Sul tende a se beneficiar com a redução dos desequilíbrios econômicos da Argentina. Isso porque o país vizinho continua um dos principais parceiros comerciais do nosso estado: segundo principal destino das exportações totais (respondendo por 7,3% da pauta total em 2015) e o principal demandante de produtos manufaturados (18,1% do total). Outro elemento favorável para o RS foi a revogação das Declarações Juramentadas Antecipadas de Importação (DJAI’s), que constituíam importante barreira estabelecida para a importação de qualquer mercadoria. No entanto, é importante ressaltar que o setor de Alimentos gaúcho já enfrenta dificuldades em função do recrudescimento da concorrência da Argentina, que é importante player no mercado global do “complexo soja”. No primeiro bimestre, as vendas externas de farelo e óleo do RS caíram 66,3% e 32,7%, respectivamente. Essa tendência deve permanecer ao longo do ano, gerando perdas para o segmento mais importante da pauta gaúcha, responsável por um quarto do valor total embarcado pelo nosso estado. O novo governo na Argentina traz importantes lições para o Brasil, no sentido de que é possível é adotar medidas de reequilíbrio econômico e de melhora das condições de concorrência do setor exportador. É fundamental, portanto, a resolução da crise política para centrar fogo em ações que permitam a geração de um crescimento sustentado da nossa corrente de comércio. Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS www.fiergs.org.br/economia