informe econômico

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INFORME
ECONÔMICO
Segunda-feira, 30 de junho de 2008 / Nº 27
ARTIGOS
Matei as aulas do primeiro ano de economia
A combinação de políticas econômicas equivocadas na Argentina
produz bons “cases” sobre o quê não fazer.
Palavras-Chave: Economia internacional, vantagens comparativas
Vietnã: o próximo tigre asiático em construção
O País segue a receita dos vizinhos e começa a apresentar uma
trajetória de crescimento que já dura 20 anos.
Palavras-Chave: Crescimento econômico, tigres asiáticos.
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO GRANDE DO SUL
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Matei as aulas do primeiro ano de economia
A combinação de políticas econômicas equivocadas na Argentina produz bons “cases” sobre o quê não fazer.
Por vezes se escuta alguém dizer que o Brasil
deveria seguir o exemplo da Argentina no que diz
respeito à política econômica. Pois bem, por pelo
menos duas vezes em menos de 10 anos, nossos
vizinhos nos provam o contrário. A Argentina adotou
antes do Brasil um controle cambial para dar fim às
altas taxas de inflação. Funcionou lá e aqui. Mas, os
políticos não conseguiram se ver livres da tentação de
gastar os recursos que não tinham, e o descaso em
controlar os gastos. Felizmente o Brasil aprovou a Lei
de Responsabilidade Fiscal, decretou o fim do regime
de câmbio fixo ao final de 2001 e silenciou os poucos
que ainda defendiam o modelo Argentino. Aos que
ainda nutrem alguma dúvida, de 1994 a 2008 o PIB do
Brasil e da Argentina cresceram na mesma magnitude,
com uma diferença, por lá a emoção foi maior, com
uma queda do PIB de quase 11% em 2002 (veja
gráfico que fixa o ano de 1994=100).
Sete anos depois, a história se repete. A atual
crise política no País, que deve resultar em problemas
econômicos de difícil solução, ou pelo menos, de
elevado custo para a sociedade, não está sendo muito
bem entendida por parte dos analistas que ainda
teimam em defender a combinação de políticas
econômicas que são, no mínimo, estranhas. Destacase que a origem dessa crise vai muito além da
elevação da retenção das exportações de produtos
(prática antiga naquele País). Sua origem remonta ao
calote da dívida, à perda de credibilidade do setor
público e ao conjunto das políticas heterodoxas “a la
Brasil dos anos 1980”, como o congelamento de
preços. Ao controlar preços, o governo inibe os
investimentos e a expansão da oferta em pontos chave
para o bom funcionamento dos mercados, como a
oferta de energia e o equilíbrio dos custos dos fatores
de produção, como capital e trabalho. Além disso, ao
tentar aplicar o planejamento da produção e
comercialização, contribui para inibir o “espírito
animal” do empreendedor que quer investir e correr
riscos, mas também quer um retorno para isso.
A restrição de exportações vai contra o
imaginário dos livros de economia e a experiência
internacional, e atinge em cheio uma veia importante
da produção de riqueza local, os produtores primários.
Responsáveis por 9,5% do PIB do País, e gerando
receitas da ordem de US$ 14 bilhões/ano com
exportações, nada mais correto aos produtores
argentinos reclamarem a liberdade de comercialização
do fruto de seu trabalho. Escolheram produzir e correr
o risco sistêmico da atividade, e agora querem colher
os resultados comercializando onde os preços são
maximizadores do lucro. Poucos estão se dando conta
de que a maior receita do produtor primário será a
garantia de novos investimentos no aumento da
produção e com impactos sobre o mercado de
trabalho, na arrecadação de impostos e, na própria
determinação dos preços no futuro.
Seria fácil controlar as exportações como uma
torneirinha a ponto de determinar o exato equilíbrio
entre oferta e demanda interna que não prejudique a
evolução dos preços e mantenha o nível de retorno
para o produtor? Ainda mais, tudo isso em um
ambiente de câmbio desvalorizado e saldo positivo em
transações correntes. Porque ninguém pensou nisso
antes? As primeiras aulas de graduação dos cursos de
economia nos ensinam o contrário. Sendo proibido de
exportar seu produto, a solução para o produtor é o
mercado clandestino ou a venda legal no mercado
interno. Vale lembrar que a restrição à
comercialização de produtos no mercado externo só
deve acontecer em duas ocasiões: (a) quando a
economia não mantém relações com o exterior; (b)
quando a demanda está maior que a oferta e, portanto,
o equilíbrio somente se dará via aumento de preços. É
natural supor que esse movimento irá representar um
aumento da oferta no mercado interno, derrubando
preços. Entretanto, os agentes são racionais, como
podemos verificar inclusive na Argentina, onde há a
formação de ágio para compensar a venda do produto,
gerando pressões inflacionárias ou, simplesmente, a
falta de mercadorias nas prateleiras (alguma
semelhança com o Plano Cruzado?)
A retenção de exportação é um inimigo da
rentabilidade do produtor e vai contra a eficiência
alocativa. Também se escuta falar que a retenção é
boa para o produtor, pois o mesmo fica livre das
variações dos preços internacionais. Mas, esse mesmo
produtor já está no mercado há anos, conhece os
riscos e os instrumentos financeiros que estão
disponíveis para se proteger de oscilações na taxa de
câmbio, como o mercado de derivativos. Deixe que
ele corra os riscos de perda e lucro. Os eventos dos
últimos anos na Argentina são úteis para ilustrar os
resultados de políticas econômicas equivocadas em
livros de macroeconomia, microeconomia e economia
internacional de cursos de graduação. Parece que as
salas de aula do primeiro ano de economia andam um
pouco vazias por lá.
Evolução do PIB do Brasil e da Argentina
138
Argentina
128
Brasil
118
108
98
88
1994
Unidade de Estudos Econômicos
www.fiergs.org.br
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Vietnã: o próximo tigre asiático em construção.
O País segue a receita dos vizinhos e começa a apresentar uma trajetória de crescimento que já dura 20 anos.
O Vietnã obteve taxas de crescimento econômico
nos últimos cinco anos comparáveis à China e Índia.
Após iniciar um processo desenvolvimento voltado
para o mercado interno, o país, também, começa a
buscar seu espaço no mercado internacional.
Depois da reunificação em 1975, as economias
do norte e do sul se integraram em uma economia
centralizada-planificada e fechada. O início das
reformas econômicas ocorreu com a aprovação do Dói
Moi (renovação) pelo governo em 1986. Nos anos
subseqüentes, o governo deu início a uma série de
reformas para reduzir a quantidade de setores que
estavam sob sua propriedade (desde o início de 1987),
ainda destacam-se descoletivização do direito do uso
da terra (em 1988), a quase completa liberalização dos
preços (em 1989), redução das barreiras ao comércio
interno e a abertura ao comércio e investimento
externo (desde o final de 1987). Essas reformas
estabeleceram as condições básicas para o país criar
uma economia orientada para o mercado interno na
década seguinte.
Nem mesmo a crise da financeira da Ásia
(1997/99) que atingiu muitos vizinhos brecou o
crescimento vietnamita. A conseqüência foi “apenas”
de desaceleração, o PIB real que cresceu 9,6% em
1996 apresentou a taxa mais baixa, 4,8%, em 1999.
Nos anos 2000, o restabelecimento do rápido
crescimento econômico foi acompanhado de um alto
comprometimento do governo com as privatizações.
Além disso, foram firmados acordos bilaterais de
comércio com os EUA e a criação de instituições
legais para o desenvolvimento empresarial.
A despeito do sucesso econômico proporcionado
pelas reformas, essa performance não descola muito
do padrão observado em muitos países da Ásia nos
últimos 20 anos. Na comparação das taxas de
crescimento, outras economias da região obtiveram
resultados semelhantes ou mais expressivos como é o
caso da China, Índia, Indonésia, Coréia e Singapura.
Sempre que uma economia começa a apresentar
expressivas taxas de crescimento surge uma
indagação: esse dinamismo é construído com base em
acréscimo na produtividade total dos fatores da
economia ou consiste apenas em acumulação de
capital? A resposta para essa pergunta é importante,
pois dirá sobre a sustentabilidade desse crescimento
no longo prazo. Economias que crescem fortemente
baseadas no aumento da proporção capital/trabalhador
podem apresentar o que os economistas chamam de
“crescimento a lá Solow”, em referência ao
economista ganhador do prêmio Nobel em 1987. Essa
teoria mostra que, para um dado nível de
produtividade, a expansão de uma economia com
mão-de-obra farta acelera-se até um ponto, chamado
de estado estacionário, a partir do qual a economia
passa a expandir com uma taxa semelhante a do
crescimento da população. Grosso modo, pode se
pensar no caso em que todos os trabalhadores são
dotados de bens para produzir bens, mas são incapazes
de produzir endogenamente inovações ou formas de
produção mais eficientes. Portanto, essa economia
expande com altas taxas de crescimento até convergir
para um nível em que o produto se expandirá a taxas
menores.
Por outro lado, o crescimento com base no
aumento na produtividade dos fatores torna os agentes
da economia capazes de gerar conhecimento e inovar,
elementos essenciais para a competição no mercado
externo. Claro que o acumulo do capital é um
condicionante para o crescimento, mas quando o
aumento do PIB é acompanhado de maior nível de
desenvolvimento humano, esse processo tende a ocorrer
de forma menos volátil e mais duradoura.
Ao que tudo indica, a performance que a economia
do Vietnã apresenta nas últimas décadas parece ser do
segundo tipo, voltada para o aumento da produtividade.
Estima-se que entre 1986 e 2006 a produtividade total
dos fatores da economia vietnamita cresceu em média
3,05% por ano. Os fatores chave que possibilitaram essa
expansão foram a abertura a empresas estrangeiras e ao
investimento externo direto, que possibilitaram
alocações mais eficientes dos recursos, reduzindo as
perdas de eficiência comuns no setor público. Além
disso, o país possui a população mais jovem da região,
40% situa-se na faixa de 5-24 anos, e cerca de 99% das
crianças na idade do ensino primário estão
matriculadas, entretanto essa taxa cai para 63% nas
matrículas do ensino secundário.
É fácil fazer uma relação entre o Vietnã e a China,
dadas as similaridades dos dois países, as quais vão
além de aspectos culturais e sociais. Para realizar a
transformação de uma economia planificada para uma
economia mais orientada para o mercado, ambos os
países começaram pela descoletivização do uso da terra
e iniciaram um processo de privatização e abertura ao
comércio e investimento externo. A transformação e
liberalização econômica dos dois países não foram
precedidas ou acompanhadas de liberalização política.
Assim como a China, o Vietnã também experimentou
uma rápida urbanização durante o processo de reformas,
a redução da pobreza e da desigualdade de renda
também veio a passos largos. Dessa forma, o Vietnã é
candidato a escrever uma história de crescimento
sustentável do mesmo modo que a China fez.
Entretanto, deve-se ter claro que a economia Vietnamita
ainda é cerca de quarenta vezes menor que a da China.
Fonte: Global Economics Papers Nº 165, Goldman Sachs.
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