PRIMEIRO REGISTRO DO SIRÍ Charybdis hellerii (MILNE

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NOTA CIENTÍFICA
PRIMEIRO REGISTRO DO SIRÍ Charybdis hellerii
(MILNE EDWARDS, 1867) (CRUSTÁCEA, DECAPODA,
PORTUNIDAE) NA LAGUNA DE ARARUAMA, CABO
FRIO – RJ.
Francisco Carlos Soares da Silva¹
¹ Universidade Veiga de Almeida, MBA em Gestão e Planejamento Ambiental, Campus IV, Cabo Frio, RJ.- Brasil, email: [email protected]
Resumo
Este trabalho registra a primeira ocorrência da espécie Charybdis hellerii (Milne Edwards, 1867) na Laguna de
Araruama, município de Cabo Frio no Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma espécie exótica, nativa da
região Indo-Pacífico que teve sua presença registrada em meados da década de 90 para a região nordeste e,
posteriormente, no litoral dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Palavras-chave: Sirí; Portunidae; Bioinvasão; Laguna de Araruama.
Abstract
This paper records the first occurrence of the species Charybdis hellerii (Milne
Edwards, 1867) in the estuary of the Lagoon of Araruama, municipality of Cabo Frio in
Rio de Janeiro. This is an exotic species native of Indo-Pacific region that has
registered its presence in the mid-90s to the Northeast and at the coast of the States of
Rio
de
Janeiro,
São
Paulo,
Paraná
and
Santa
Catarina.
Keywords: Sirí; Portunidae; Bioinvasion; Lagoon of Araruama.
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INTRODUÇÃO
tratamentos
A bioinvasão ou invasão biológica se
dá quando um organismo é introduzido de
mais
drásticos,
que
podem comprometer as espécies nativas
locais (WITTENBERG & COCK 2001).
forma acidental ou intencional decorrente de
A introdução de organismos aquáticos
atividades humanas, ou por qualquer outro
em diferentes ecossistemas se dá por
meio, em uma área fora dos limites de seu
diferentes formas, sendo as mais comuns,
habitat
modificações
incrustações em embarcações de finalidades
ambientais e sócio-econômico na região de
diversas, plataformas para exploração de
introdução e em seu entorno.
petróleo, bóias e outras estruturas ou objetos
natural,
causando
Uma espécie exótica é considerada
que viajam carregados pelas correntes
invasora quando introduzida se adapta ao
marinhas, água de lastro, pesca e cultivo
ecossistema local formando uma população
comercial de espécies exóticas.
reprodutiva. Grande parte das espécies
No Brasil acredita-se que as primeiras
introduzidas não é invasora, podendo
introduções se deram através de incrustações
tornar-se invasora em algumas regiões e em
em navios da época do descobrimento,
outras não, dependendo das facilidades
seguido
competitivas com as espécies nativas e aos
traficantes
fatores limitantes locais que podem dificultar
colonização,
ou mesmo impossibilitar a adaptação.
África e do continente europeu. A partir do
As espécies invasoras ocupam os
século
de
embarcações
de
escravos
comerciais
na
principalmente,
e
faze
de
vindos
da
XX com os grandes
avanços
nichos de organismos nativos alterando a
econômicos e tecnológicos no país e no
estrutura e composição das populações
mundo
locais, por se tratar de um fenômeno ainda
intensificado
pouco estudado, porém reconhecido como
conseqüência o transporte de organismos
uma das mais importantes formas de
entre diferentes regiões, principalmente, por
ameaças à biodiversidade do planeta, faz-se
água de lastro cresceu em alta escala,
necessários estudos de como lidar com esse
ganhando notoriedade na década de 90.
problema
que
a
partir
da
economia
globalizada cresce exponencialmente.
o
comércio
e
marítimo
globalizado.
foi
Por
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O sirí Indo-Pacífico Charybdis hellerii
Existem vários estudos que apontam
(Figura 1), é uma espécie exótica para o
como forma de manejo das espécies, o
litoral brasileiro tendo como habitat natural,
controle
a
Japão, Nova Caledônia, Austrália, Havaí,
erradicação em áreas naturais geralmente, é
Filipinas e Oceano Índico em geral,
populacional,
visto
muito difícil, uma vez que isso exige
que
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incluindo o mar Vermelho e o Mar
Janeiro em dezembro de 2008 através da
Mediterrâneo (Sakai, 1986; Lemaitre, 1995).
pesca artesanal.
FIGURA 1 – C. hellerii coletado em dezembro de
2008 na Laguna de Araruama (detalhes da carapaça,
do abdômen e gonópodo masculino)
Os indivíduos foram coletados à noite
por pescadores ocasionais, utilizando puçás
Atualmente o C. hellerii está distribuído
de arames galvanizados entrelaçados em
pela América Central onde se expandiu para
forma de rede, medindo 78 cm de diâmetro
o sul e norte com ocorrências na Colômbia
por 15 cm de profundidade.
em 1987 e 1988; Venezuela em 1987; Cuba
em 1987; e na Flórida em 1995(Dineen et al.,
2001).
MATERIAL E MÉTODOS
Para este trabalho foram realizadas
No Brasil a literatura indica que os
duas coletas, a primeira em dezembro de
primeiros registros ocorreram nos Estados
2008 e outra em abril de 2009. A proporção
da Bahia (Carqueija; Gouvêa, 1996), Alagoas
de C. hellerii capturada em relação às espécies
(Calado, 1996), São Paulo (Negreiros-
nativas foi de 5% do total, sendo 5
Fransozo, 1996), Rio de Janeiro (Tavares;
indivíduos na primeira coleta e 3 na segunda,
Mendonça,
todos machos.
1996),
Santa
Catarina
(Martelatto; Dias, 1999), Rio Grande do
De cada coleta foram separados dois
Norte (Ferreira et al., 2001), Pernambuco
indivíduos de forma aleatória, cada espécime
(Coelho; Santos, 2003) e Paraná (Frigotto;
foi medido com auxílio de um escalímetro, o
Serafim-Junior, 2007).
comprimento da carapaça – CC (medido
A ocorrência do sirí exótico C. hellerii
dorsalmente entre a região intra-ocular e a
foi registrada pela primeira vez no sistema
margem posterior mediana) e a largura da
lagunar Lagoa de Araruama, município de
carapaça – LC (medida dorsalmente entre os
Cabo Frio, litoral do Estado do Rio de
dois espinhos antero-laterais).
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Comprimento e largura da carapaça
permitem a rápida reprodução da espécie
de cada indivíduo: 1 macho, CC. 46 mm,
promovendo o crescimento populacional e a
LC. 65 mm, 1 macho, CC. 54 mm, LC. 74
dispersão para outras áreas. Há estudos que
mm, 1 macho, CC. 47 mm, LC. 66 mm, 1
indicam que as fêmeas de C. hellerii atingem a
macho, CC. 50 mm, LC. 65 mm.
maturidade
Características: Coloração esverdeada da
medindo apenas 35 mm de largura da
carapaça quando fora da água; margem
carapaça (Dineen et al., 2001; Silva; Souza,
antero-lateral com 6 dentes pontiagudos
2004). Que estocam esperma produzindo
dirigidos para fora; região frontal com 6
desovas múltiplas com alta fecundidade em
dentes: 2 orbitais internos e 4 sub-medianos.
sucessões rápidas expandindo rapidamente
Local de captura: O local estudado foi o
populações primárias.
entorno da Ilha do Japonês (Figura 2),
Esta
sexual
espécie
de
forma
pode
precoce,
provocar
a
próximo à boca da barra da Laguna de
diminuição ou desaparecimento das espécies
Araruama.
de siris nativos causando perdas para a pesca
artesanal local, além de ser potencial
hospedeiro do temido vírus síndrome da
mancha branca (WSSV – White Spot
Área de ocorrência
Syndrome Vírus). Por todos esses aspectos
seria prudente um estudo aprofundado do
quanto e como o C. hellerii está distribuído
no estuário; se fatores limitantes, como
temperatura e hipersalinidade da água no
interior da laguna serão eficientes barreiras
FIGURA 2: Área de captura do sirí C. hellerii
(posição geográfica - 22º52’57.66”S; 42º00’09.94” O)
de contenção na dispersão da espécie; se
existe a possibilidade do cruzamento natural
CONSIDERAÇÕES FINAIS
com espécies nativas gerando híbridos
Por ser este o primeiro registro da
espécie C. hellerii no sistema lagunar Lagoa
adaptados ao ecossistema local. Quais as
medidas de controle a serem tomadas?
de Araruama e considerando tratar-se de
uma espécie exótica sem valor comercial no
Brasil, porém com capacidade de causar
grandes impactos
ambientais
e
sócio-
AGRADECIMENTO
Agradeço a Drª. Adriana Miguel Saad,
Doutora
em
Ciências
Biológicas
que
econômicos nas regiões invadidas, pois
gentilmente contribuiu na identificação dos
possui
exemplares e confirmação da espécie.
características
biológicas
que
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