POLÍTICAS ECONÔMICAS IMPLEMENTADAS NO GOVERNO LULA: UMA ANÁLISE SOBRE O CONTROLE DA INFLAÇÃO E O ENDIVIDAMENTO EXTERNO. Lindoirdi Flavia Santana de Medeiros1, Marisa Silva Amaral2 1-Graduada em Curso de Ciências Econômicas – Uni Itumbiara – UEG. 2 – Orientadora do Curso de Ciências Econômicas - Uni Itumbiara – UEG. RESUMO Este artigo foi desenvolvido com base nas políticas macroeconômicas aplicadas durante o primeiro mandato do Governo Lula correspondeu ao período relativo do ano de 2003 a 2006, e que encontra no presente no Plano Plurianual (PPA), onde estão descritos os planejamentos das políticas econômicas, como: políticas fiscais, monetárias e cambiais para governar o país. A pesquisa dá enfoque às políticas de taxa de juros, metas de inflação e superávit primário, avaliando os reflexos destas políticas sobre a economia brasileira. No que refere a realidade econômica e social do país, e ao crescimento e desenvolvimento econômico proposto pelo PPA. O governo primou por assumir uma política do tipo inserção passiva, ficando subordinando aos capitais externos e as especulações financeiras derivadas que elevaram o endividamento do país, por conseqüências das elevadas taxas de juros, justificadas como instrumento utilizado para controlar a inflação e atrair capital externo. Palavras-chaves: inflação, endividamento externo e crescimento econômico. Introdução A pesquisa buscou avaliar as principais políticas macroeconômicas implementadas no seu primeiro mandato de governo e o impacto destas políticas para a economia, em particular: política fiscal, política monetária e política cambial utilizadas como instrumentos do governo Luis Inácio Lula da Silva, e a condução das mesmas para economia brasileira. Dado que a continuidade da política de cunho neoliberal com medidas baseadas em mudança do câmbio fixo para flutuante em 1.999 no governo FHC, regimes de metas de inflação, para controlar os 1 Graduada em Curso de Ciências Econômicas – Uni Itumbiara – Goiás 1 preços, emissão de títulos da dívida pública ancorada às taxas de juros elevadas, com intuito de melhorar a economia, mas que levou o governo a recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) algumas vezes em busca de recursos para controlar as contas externas. Diante desse contexto a questão é será que as políticas monetária e fiscal contribuíram para o crescimento do país? As adoções dessas políticas colaboraram para reduzir as fragilidades da economia brasileira em relação à dependência do capital externo. Material e Método A pesquisa fora desenvolvida no decorrer do ultimo ano do Curso de Ciências Econômicas na Universidade Estadual de Goiás - Uni Itumbiara, o desenvolvimento da pesquisa foi baseado na leitura e análise de textos que abordam o tema em questão, no sentido de construir as bases sobre as quais a discussão se fundamentada com pesquisas bibliográficas e pesquisa qualitativa e levantamento de dados secundários, que deram suporte a pesquisa. Os dados foram coletados em site oficiais tais como: Banco Central do Brasil, Instituto brasileiro de Geografia e Estatística, que forneceram embasamento para o desenvolvimento desta pesquisa. Resultados e Discussão As medidas adotadas pelo governo Lula para restringir o avanço da inflação, e controlar os preços, a fim de garantir a estabilidade, deu-se continuidade ao regime de metas de inflação estipulado pelo Conselho Monetário Nacional, que depende da conciliação da política monetária, cambial para que a inflação permaneça dentro das metas estipuladas. Para os defensores da adoção do regime de metas de inflação, como Robert Lucas (1937) e Robert Barros (1944), o principal objetivo da política monetária deverá ser a manutenção de uma taxa de inflação baixa e estável, mas defendem que a política monetária não deve ser utilizada como instrumento para estimular o investimento. Economistas heterodoxos como John Minard Keynes e James Tobin, defendem a teoria de uma taxa de juros mais baixas e estável para estimular os investimentos produtivos e desestimular os investimentos financeiros. A tabela 1 mostrará a meta estipulada, e efetiva de cada ano e a relação conjuntamente com outros dados importantes para o monitoramento e controle dos preços que são: a taxa de juro e a taxa de câmbio no Brasil. 2 Tabela 1: Centro intervalo de meta de inflação efetiva, taxa de juros e câmbio. –1999-2006. Intervalo da Meta Inflação Efetiva Taxa de juros Ano de Inflação (Variação do IPCA) (Selic) Taxa de Câmbio (mês base = junho) 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 6 a 10% 4a8% 2a6% 1,5 a 5,5% 8,5%* 3 a 8% 2 a 7% 2,5 a 7% 8,94% 5,97% 7,67% 12,53% 9,30% 7,60% 5,69% 3,80% 19% 15,75% 19% 24,90% 26,5% 17,74% 18% 13,19% 1,76 1,8 2,3 2,84 2,87 3,1 2,35 2,16 Fonte: Teoria e evidências do regime de metas inflacionárias SICSU J. (2006) e Banco Central do Brasil (2006). * A meta do era inicialmente 3,25% (+/- 2%); posteriormente, foi modificada de novo para o limite máximo de 8,5%, que ficou conhecido como “meta ajustada”. Esta meta foi proposta pelo próprio Banco Central em carta enviada ao ministro da Fazenda em 21 de janeiro de 2003, que aceitou a mudança. O governo atribuiu ao Banco Central à responsabilidade de tomar as decisões cabíveis com relação à política monetária para conter a inflação, mediante as metas estipuladas, cabe ao Banco Central coordenar a taxa Selic, para que a inflação fique dentro do intervalo estipulado pelo CMN. O índice de inflação é medida pelo IPCA, que considera como indicadores de preços para determina o índice inflacionário: os preços administrados e os preços livres. No processo inflacionário os preços administrados exercem uma pressão sobre a inflação, maior que os preços livres que são determinados pela interação entre oferta e demanda, e como medida para restringir a inflação o Governo eleva a taxa de juros, que tem como conseqüência o crescimento da dívida publica (CARCANHOLO, 2004: p.4). O impacto disso na restrição ao crescimento é enfatizado do por “uma relação divida/PIB crescente que diminui a taxa de crescimento econômico de longo prazo”. (Ministério da Fazenda 2003: p.5 apud Carcanholo, 2004, p.04). Essa relação dívida pública crescente como proporção do PIB é um dos indicadores utilizado para mensurar a vulnerabilidade externa do país. E como forma de reduzir a vulnerabilidade externa, é necessário que o governo esteja efetuando os pagamentos de juros aos credores dessa dívida, e garantindo assim a sua credibilidade requerida pelo capital externo para dar continuidade ao fechamento das contas publicas O financiamento desse déficit pode ser feito de três formas: emissão de moeda (monetização), venda de ativos públicos (privatização) e emissão de títulos de dívida pública. No caso brasileiro, está ultima 3 costuma ser a mais utilizada e tem impacto direto no estoque da dívida pública, sendo que desta forma: O estoque da dívida depende diretamente da emissão de títulos da dívida, da rolagem dessa dívida que significa financiar o pagamento do serviço dessa dívida com o lançamento de títulos, do hedge cambial, uma vez que parte dessa dívida pode estar indexada a variações cambiais, e da esterilização da entrada de recursos externos. (Carcanholo 2004: p.16) A correlação entre o serviço da dívida, é que o pagamento dos compromissos referentes como juros e amortizações, a taxa de juros tem um papel de destaque, pois a elevação dessa taxa implica diretamente no maior pagamento de juros aos credores dos títulos dessa dívida, gerando uma elevação nas despesas financeiras, que aumentam o déficit operacional. O gráfico 2, exemplifica a elevação da dívida pública em decorrência da elevação das taxas de juros. Gráfico 2: Variação da Dívida Líquida do Setor Público em Relação à taxa de Juros Médio(%) entre 2001 e 2006 Grafico 2: Variação da Dívida Líquida do Setor Público (R$ milhões)/ Media da taxa de juros/PIB (%) 10 6 7 3 6 3 10 0 2 4 8 5 9 56 9 9 6 15,41 51,5 19,04 51,7 16,44 9 13 14 5 8 8 1 10 8 50 57,2 23,23 55,5 19,55 660 687 17,48 56 3 16 4 17,62 53,3 49,4 mé d ia d a Tx d e J uro s e % P IB Média da Taxa de juros (Selic)(%) (%)PIB Fonte: Banco Central do Brasil No entanto, nota-se que a relação dívida/PIB reduziu, porque em 2003 representava 57,2% do PIB e em 2006 já havia reduzido para 50% do PIB, entretanto, essa redução gradativa da dívida pública em relação ao PIB é explicada pela elevação do superávit primário que se elevou logo após Governo Lula ter assumido o comando do país. Segundo Ávila (2006) o endividamento é uma forma de o governo captar recursos através do setor público, para financiar suas despesas, oferecendo uma remuneração atrativa para atrair parte 4 da poupança privada para esse propósito, o governo emite títulos da dívida interna para financiar seus gastos, ao fazer há taxa de juros elevada, a dívida interna explodiu, atingindo R$ 1 trilhão em 2006. Para Ávila (2006), após a liberalização financeira, muitos investidores estrangeiros puderam trazer seus dólares ao Brasil e troca-los por reais no Banco central. Depois de trocadas as moedas os investidores estrangeiros podem fazer investimentos no país comprando “títulos da dívida interna”, com isso ganham juros e são reembolsados pelo governo brasileiro e novamente podem trocar seus reais por dólares e remeter ao exterior. A tabela 2 mostra a variação da dívida líquida externa durante o primeiro mandato do governo Lula, comparando aos últimos dois anos (2001 e 2002) de mandato do governo FHC. Tabela 2: Variação da Dívida Líquida Externa em relação ao %do PIB. Ano Dívida Líquida Externa % PIB Dez./01 Dez./02 130 845 226 796 10,40% 14,30% Dez./03 Dez./04 Dez./05 Dez./06 186 458 138 931 50 300 - 63 538 11,90% 7,50% 2,30% -2,70% Fonte: Banco Central A tabela 2 mostra a redução da dívida externa, mediante pagamentos efetuados pelo governo com intuito de propagandear a redução da vulnerabilidade externa do país, pois à medida, que o país consegue resgatar parte de sua dívida, isto lhe garantirá mais credibilidade no mercado. Porém, o que ocorre no caso do Brasil, é justamente o inverso ao que o governo propaga, pois os pagamentos antecipados correspondem a uma pequena parte da dívida externa. Outro fato preocupante no que diz respeito essa redução da vulnerabilidade externa, em razão dos pagamentos antecipados realizados, e a troca da dívida externa por dívida interna, a taxas de juros mais altas, que as taxas dos títulos resgatados antecipadamente. Para efeito de comparação as taxas de juros do FMI era cerca de 4% ao ano, “Bradies” cerca de 5,7% a.a, enquanto os títulos emitidos no inicio do ano de 2005, possuíam juros de 8,5% em média. Outra forma utilizada pelo governo para propagandear a suposta redução da vulnerabilidade externa é que se chama de operação swap reverso, realizado pelo Banco Central. Nessa operação, o governo troca dívida interna que está indexada ao dólar por dívida 5 interna indexada a taxa de juros, que estava entre a mais alta do mundo. Os beneficiados nesta operação são os investidores, pois se o dólar cai, eles ganham com a variação cambial, além dos juros. Conclusão: O governo Lula propôs um mandato no qual prevaleceria um modelo econômico, “capaz de assegurar a retomada do crescimento econômico, do desenvolvimento econômico, com geração de emprego” (GONCALVES, 2003, P.02). Mas quando este se efetiva como presidente do Brasil, da continuidade as políticas ortodoxas de cunho neoliberal, onde para manter o controle da inflação, eleva as taxas de juros, atraindo capital externo e pagando a esses credores juros elevadíssimos, sendo necessário a elevação da taxa de superávit primário pra o cumprimento com os credores de títulos da dívida pública. Referencias Bibliográficas ÁVILA, Rodrigo Vieira de. Dívida Interna: a nova face do endividamento externo. PRIMER SIMPOSIO INTERNACIONAL, sobre deuda pública, auditoria popular y alternativas de abro e inversión para los pueblos de América Latina. Caracas, Venezuela- 22 23 y 24 de Septiembre de 2006. Disponível em: < http://www.oidido.org/IMG/pdf/Vieira_de_Avila_Rodrigo_Divida_Interna_A_nova_face_do_endividamento_ex terno_.pdf>. Acesso em: 03 out. 2007. Banco Central do Brasil. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br >Acesso vários. CARCANHOLO, Marcelo Dias. PASCHOA Juan Pablo Pancieira. A Ortodoxia NeoCompanheira: Vulnerabilidade externa. Política econômica e determinação dos fluxos de capitais. 2004. 25f. Congresso IX Encontro Nacional de Economia Política. Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia. GONÇALVES, Reinaldo. Política econômica e macrocenários nacionais: 2003-2006. 2003. Disponível em: <http://www.larivistadelmanifesto.it/originale/40A20030613.html>. Acesso em: 20 ago. 2007. PPA 2004-2007. Disponível em <http://www.planobrasil.gov.br Acesso em 02 abr. 2007 SICSÚ, João. In: Teorias e evidências do regime de metas de inflacionárias. Emprego, Juros e Câmbio Finanças Globais e Desemprego. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2007. 350 p. 6