provável oonglomerado de base no preoâmbrico superior de portugal

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PROVÁVEL OONGLOMERADO DE BASE NO
PREOÂMBRICO SUPERIOR DE PORTUGAL
POR
FRANCISCO GONÇALVES
Investigador da Universidade de Lisboa
Como hipótese de trabalho admitimos que a série xisto-grauváquica das Beiras tem como conglomerado de base, essencialmente, um conglomerado fino, com aspecto porfiróide, às
vezes, muito. metamorfizado. A rocha, nalguns pontos, passa late.
ralmente a conglomerado grosseiro.
A formação conglomerática observa-se desde a fronteira de
Esperança, no Alto Alentejo, prolongando-se, para leste, pelo território do país vizinho e, para noroeste, até perto de Figueiró dos
Vinhos; sendo coberta, em grande extensão, pelos depósitos ceno-antropozóicos da bacia do Tejo. É interrompida, junto da estação
de Portalegre, pela grande mancha de granito tectonizado de Portalegre, que a recorta e metamorfiza em vários pontos, bem como
a série xistenta que lhe sucede.
Foram observadas, em lâmina delgada C), rochas com fácies
textural do tipo «porfiróide», das regiões de Portalegre e de
Tomar. São rochas conglomeráticas, muito deformadas e recristalizadas. Entre os elementos há materiais de composição granítica, ou .afim, e outros provàvelmente de natureza xistenta,
além de grãos piroxénicos que podem provir de rochas eruptivas
básicas. A existência de material granítico revela-se q\ler pela
(!)
Estudo realizado por C. T.
ASSUNÇÃO.
110
abundância de pertites (e de albite) quer pela presença de clastos
mistos, com feldspatos alcalinos, quartzo e biotite. A natureza
eruptiva de muitos clastos é, aliás, demonstrada pela corrosão que
alguns oferecem e pela euédria, às vezes reconhecível a despeito
da deformação sofrida.
N as regiões em que os elementos do conglomerado são grosseiros (às vezes de dimensões apreciáveis), estes podem apresentar-s,e quer em concentrações, quer dispersos numa matriz argilo
gresosa, xistificada. Pode observar-se este aspecto, perto da povoação de Urra, a sul de Portalegre. Os elementos, fàcilmente destacáveis da matriz, são, essencialmente, de natureza quartzítica
(quartzitos esbranquiçados e negros); há, também, calhaus de
quartzo, lidito, metavulcanito ácido, xisto, feldspato, etc.
A matriz destas rochas é, em geral, essencialmente quartzo-filítica. As filites compreendem sericite (ou mesmo lâminas
maiores de moscovite), biotite e mais raramente clorite. A biotite
apresenta-se, às vezes, lixiviada, com perda da forte coloração
habitual. Nalguns casos, a matriz é dominantemente quartzo-feldspática.
É de assinalar a orientação dos elementos da matriz nos
diferentes exemplares estudados, a qual se pode traduzir por
simples lineação. A deformação e o esmagamento afectaram,
portanto, a rocha conglomerática; muitos clastos têm carácter
fragmentário. Um aspecto estrutural interessante consiste no envolvimento de clastos por faixas estiradas e encurvadas de minerais
filíticos. Semelhante dispositivo pode observar-se também no material conglomerático grosseiro, onde é visível, às vezes, a não c01ncidência do diâmetro maior dos clastos com os planos de xistosidade.
Os minerais acessórios da matriz do conglomerado são: zircão,
magnetite e outros óxidos metálicos (como ilmenite) e calcite que
ocorre associada a clastos pertíticos.
Nem sempre é evidente o carácter sedimentar da formação
conglomerática. Em muitos pontos a rocha não apresenta· os elementos bem definidos e o carácter metamórfico é muito acentuado
ultrapassando o tipo epizonal. O conglomerado foi em grande
parte granitizado.
Seguidamente, referimo-nos ao enquadramento geológico do
material conglomerático, descrevendo sucintamente os seus prin-
III
cipais afloramentos integrados, na maior parte, no Precâmbrico (Z)
das edições das cartas geológicas de Portugal nas escalas de
1/500000 e de 1/1000000.
Em toda a extensão a assentada conglomerátíca (às vezes
bastante espessa, sobretudo no vale do Tejo) repousa em discordância sobre os xistos com liditos do Precâmbrico superior, equivalentes da «Série negra». Ao conglomerado, com aspecto semelhante ao «Olho de sapo» da Galiza, sobrepõem-se, nalguns pontos,
arcoses (região da Urra) às quais sucede assentada espessa de grauvaques, seguida de xistos cinzentos azulados, parcialmente cloritizados, luzentes em determinadas regiões e, noutras, simplesmente
argilosos, alternantes sempre com grauvaques. No conjunto, estamos em presença de «flysch» xisto-grauvacoso com intercalações
de natureza diversa (calcários, quartzitos, xistos anfibólicos, conglomerados, etc.), situadas em níveis diferentes da série comummente
designado por Complexo xisto-grauváquico ante-ordovícico por
sobre ele assentar, em discordância, o conglomerado de base do
Ordovícico.
Citemos agora os principais afloramentos do conglomerado
com aspecto porfiróide, incluídos no Precâmbrico (Z).
No Alto Alentejo a rocha conglomerática prolonga-se desde
o monte do Cavaleiro (a norte da estação de Portalegre) até
para lá de Esperança (Arronches) onde a faixa respectiva cruza a
fronteira.
A faixa principal repete-se, por dobramento, entre Outeiro
do Alho e Vale das Abertas e, a leste de Esperança, onde é
ladeada por cristas quartzíticas do Ordovícico. É acompanhada
em quase toda a extensão (até Nave Fria) pela série xisto-gresosa
superior, bem como a leste de Esperança. A assentada conglomerátioa foi desligada em diversos pontos por fracturas com
orientação N-S, NW-SE e NE-SW. Como se disse, o granito de
Portalegre recorta e metamorfiza as referidas faixas,' aflorando, às
vezes, no meio delas, como acontece junto do monte da Fadagosa.
Outra faixa de rocha conglomerática observa-se a sul de
Ouguela. Aí, o conglomerado, tal camo noutros lugares, contacta
discordantemente com a «Série negra» do Precâmbrico superior.
Nesta região estão representados, embora mal, os xistos do «flysch»
xisto-grauvacoso. Aqui, não é o' Ordovícico que repousa em dis-
I 12
I
cordância sobre o Complexo xisto-grauváquico, mas sim o Câmbrico de Ouguela, estrutura sindinal na série precâmbrica.
As séries precâmbrico-câmbrico-ordovícicas estão invertidas,
isto é, a «Série negra» tomba sobre o Complexo xisto-grauváquico
e este, por sua vez, sobre os tenenos ordovícicos. A orientação
geral das referidas séries, na região, é WNW-ESE.
O leito conglomerático prolonga-se para noroeste, cruzando
o rio Tejo, em Alvega.
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Repartição da "Série negra» (3),' conglomerado de base (2), e cflysch:o xisto-grauvacoso (I), com diversas falhas (4); segundo. levantamentos de C. TEIXEIRA e do autor
(região do Alto Alentejo).
Na regtao de Tomar, na sérieprecâmbrica, xistenta, com
intercalações de quartzitos negros, liditos e calcários, série equivalente da «Série negra», há. lllIl sinclinal cujo núcleo é preenchido
pelo' conglomerado de base .elo Complexo -xisto-grauváquico. Por
dobramento, a assentada conglomerática :repete-se em dobras antielinais, no núeleo das quais há xistos da «Série negra» que na
região apresenta grande desenvolvimento.
Ao conglomerado seguem-se xistos cinzentos, em geral,.luzentes, que contactam a nordeste, por falha, com os xistos do Ordo-
,
.
VlClCO.
O conglomerado basal e os xistos que se lhe sobrepõem, são
interrompidos, do lado noroeste, por falhas com orientação
NE-SW e ENE-WSW. O conglomerado está, nalguns pontos,
granitizado, apresentando-se, às vezes, também silicificado; por
exemplo, junto de Figueira Redonda a ESE do lugar da Serra.
Na estrada que passa no Sardoal, vinda de Abrantes, observa-se um corte no Complexo xisto-grauváquico; estando, a sul
da vila, representado o conglomerado, mais ou menos granitizado, também com zonas silicificadas. Para nordeste do Sardoal
ocorrem xistos que se sobrepõem ao conglomerado, com intercalações de grauvaques que se observam na trincheira da estrada,
entre aquela vila e Venda Nova. Nos xistos, com orientação NW-SE,
instalaram-se filões muito espessos de pórfiros graníticos que os
metamorfizaram, originando no contacto xistos mosqueados. Filões
da mesma natureza ocorrem também nos terrenos do Ordovícico.
Na estrada de Mouriscas para Abrantes, um corte na série
xisto-grauváquica permite observar aspectos similares aos anteriores,
tanto no conglomerado basal como nos xistos que lhe sucedem.
No conglomerado, embora granitizado, reconhece-se o carácter
detrítico, por conter frequentes calhaus de quartzito negro.
Um corte a sul do rio Tejo, ainda dentro da grande mancha
que se estende até perto de Tomar, permitiu verificar a existência
de sucessão litológica semelhante e a mesma inversão das séries.
No leito da ribeira situada junto e a oeste de Alvega, observa-se o conglomerado granitizado. A leste de Areia de Baixo há
janelas de conglomerado nos depósitos de terraços do rio Tejo,
particularmente desenvolvidos nesta margem do rio.
Na janela principal, a rocha granitizada e alterada não permite
a identificação como conglomerado. Noenta,nto, numa pequena
janela, mais a sul, há aspectos que não deixam dúvida sobr,e o
carácter detrítico; além disso, há continuidade de uma rocha a
114
outra, estMldo os respectivos afloramentos no prolongamento sueste
dos atrás citados.
Com o conglomerado, inicia-se a série xisto-grauváquica a que,
como em Urra, sucedem grauvaques que contêm fragmentos de
quartzo e de quartzito negro. Os xistos têm a mesma direcção
(NW-SE) que o conglomerado, inclinando ambos para sudoeste.
A série xistenta, com largo desenvolvimento para nordesfe,
constitui a mancha mais extensa do Complexo xisto-grauváquico
das Beiras, de que se observa um belo corte ao longo do vale
do Tejo.
Para noroeste, na estrada de Águas Belas para Tomar, há uma
pedreira abandonada numa lentícula de conglomerado. É uma rocha
com elementos ligeiramente maiores que no conglomerado normal,
que lembra as rochas de Casa Branca (Alvega) e de Urra (Portalegre).
. Continuando para norte, observa-se a mancha de conglomerado
de Ferreira do Zêzere. A rocha ocorre a leste da vila e, para
oeste, observam-se os xistos e grauvaques que lhe sucedem. Esta
m(\!ncha foi compartimentada por falhas que põem as rochas do
Complexo em contacto com terrenos ordovícico-silúricos.
Um corte na serra de Santa Catarina, de Águas Belas para
ocidente, mostra ;a seguinte sucessão: conglomerado fino assente
sobre xistos luzentes, micaxistos e gnaisses migmatíticos da «Série
negra». As séries têm a mesma orientação que anteriormente
(NW-SE), inclinando, no entanto, para nordeste. Nesta região,
não se apresentam, portanto, invertidas.
A mancha de Ferreira do Zêzere está desligada relativamente
à de Paio Mendes (atribuídas ao Precâmbrico Z) em virtude de
uma falha arqueada que se segue de Venda da Serra até Cruz
dos Canastreiros. Os terrenos ordovícico-silúricos associados, foram
também atingidos pelo desligamento. Em relação com a fractura,
são nítidos os desvios de direcção, sobretudo nos terrenos ordovícícos.
O compartimento de Paio Mendes tem, como é óbvio, a
mesma constituição litológica; no entanto, está mais dobrado,
repetindo-se alternadamente o conglomerado e os xistos que lhe
sucedem. Assim, há duas faixas de conglomerado e o mesmo
número de faixas xistentas.
Mais para norte, na serra da Arega,- junto de Alqueidão dos
Justos, há uma faixa de conglomerado basal (atribuída também
ao Precâmbrico Z), isolada nos terrenos ordovícicos, contactando,
provàvelmente, por falha, do lado noroeste, com depósitos do
Reciano. Esta faixa situa-se perto da extremidade sul da mancha
precâmbrica (Z) de Aguda-Arega, numa zona complexa do ponto
de vista tectónico; atingida, principalmente, por fracturas NW-SE
que parecem condicionar também os terrenos recianos.
O gabro de Ral parece recortar o conglomerado da mancha
de Paio Mendes; no entanto, o grau de alteração da rocha não
permite apreciar a naturez,a dos contactos tanto com aquele, como
com os depósitos do Reciano que parecem, no entanto, cobri-lo em
discordância.
A mancha de Aguda-Arega é constituída, em grande parte
também, por conglomerado com aspecto porfiróide. O corte da
estrada que parte, um pouco a N de Cabaços, para Figueiró dos
Vinhos, mostra a rocha conglomerática, profundamente alterada;
no entanto é possível observá-la, em blocos soltos, na povoação
de Carreira e reconhecer a sua natureza detrítica. Nalguns pontos,
parece que se intercalam, no conglomerado, leitos de grauvaques.
O corte na estrada que segue ao longo da ribeira Pequena
(linha de água muito encaixada) e que conduz a Figueiró dos
Vinhos, passando a sul de Aguda, é mais elucidativo, sobretudo
na trincheira da estrada, cortada reoentemente, para al.argamento,
na Cova da Salga. Neste local é bem evidente o carácter conglomerático da rocha, em grande parte granitizada, para norte do
rio Tejo;
Há calhaus de grandes e pequenas dimensões, dispersos na
matriz micro conglomerática, de diferente natureza; os mais abun·
dantes são de quartzito, grauvaque e xisto; alguns elementos estão
mal individualizados em virtude de a rocha constituinte ter sido
também granitizada com a matriz. Os elementos geralmente bem
rolados, apr,esentam-se, com frequênóa, estirados, nem sempre se
dispondo segundo os planos de xistosidade.
Os xistos luzentes que lhe sucedem, com grauvaques em faixas
alternanbes, são cortados pela mesma estrada, 500 m a SE do t>
lugar de Olival, a sudoeste de Aguda.
u6
A mancha da Agrida-Arega é a mais setentrional, constituída
por conglomerado que admitimos ser a base do Complexo xisto-grauváquico. Para norte dela, nas manchas precâmbricas (Z),
só afloram os xistos que lhe são superiores.
A grande mancha do Precâmbrico Z, situada a leste de Coimbra é constituída por xistos luzentes, com grauvaques em faixas
alternantes, com orientação NNW-SSE, com inclinações variáveis,
parecendo predominar, no entanto, as inclinações para nordeste,
Nalguns pontos observam-se leitos de grauvaques dobrados
pela xistosidade predominante, que, nalguns casos observados, é
uma clivagem de crenulação. Sl coincide, em geral, com a estratificação.
Na estrada de Miranda do Corvo para Lubases há um corte
recente na série xisto-grauváquica. Os xistos apresentam os mesmos
caracteres litológicos do que os que se sobrepõem ao conglomerado
basal, estando, além disso, no seu prolongamento.
Na estrada desta vila para Coimbra, os xistos e os grauvaques
observam-se até perto de Lamas, onde são cobertos em discordância
pelos depósitos do Reciano.
A estrada de Coimbra para Penacova passando por Eiras,
Brasfemes, Granja e Figueira de Lorvão, atravessa a mancha de
xistos cinzentos, luzentes, com grauvaques também cinzentos, em
faixas alternautes. Em Mata de Maxial, passa-se bruscamente destes
xistos luz entes a xistos argilosos com grauvaques semelhantes aos
anteriores; estes, às vezes, em faixas espessas, como é comum no
«flysch» xisto-grauvacoso.
A série xistenta, atribuída ao Precâmbrico (Z) por Nery
Delgado, parece ser da mesma idade da série que a ladeia, a
leste, atribuída pelo mesmo autor ao Complexo xisto-grauváquico
e dela separada por falha bem visível nalguns pontos. As séries,
dispostas lado a lado, apresentam o mesmo tipo de sedimentação
( «fl ysch» xisto-grauvacoso) apenas se diferenciando pelo grau de
metamorfismo regional. A fractura. citada seria responsável pela
,existência, lado a lado, de rochas da mesma formação e
idade situadas a profundidades diferentes aquando das acções
metamórficas que as atingiram. Aliás, dentro do Complexo
xisto-grauváquico, há faixas com grau de metamorfismo regional
117
diferente. Um corte de Coimbra para oriente, passando por S. António dos Olivais, Casal do Lobo, Cova do Ouro, Dianteiro e Carapinheira, mostra os mesmos aspectos já observados nos xistos
luzentes da mancha do Precâmbrico (Z). Em Carapinheira, observa-se a passagem brusca aos xistos argilosos do Complexo. Há, portanto, a nosso ver, apenas um limite metamórfico, mas não geológico.
Os xistos luzentes, tal como os da mancha de Anadia (assinalados também no Precâmbrico Z) têm abundante quartzo de
exsudação. Esta mancha tem constituição litológica semelhante à
anterior; também não se diferencia, localmente, da mancha do
Complexo xisto-grauváquico.
CONCLUSÕES
As manchas ora descritas, estão, como se disse, todas incluídas,
excepto a de Portalegre, na última edição da carta geológica
de Portugal, na escala de 1/1000000, no Precâmbrico assinalado
com a letra Z, juntamente com o Precâmbrico superior repr,esen~
tado pela série equivalente da «Série negra». Sea nossa hipótese
inicial se confirmar, elas devem ser integradas no conjunto assinalado na mesma carta com a letra (X) que, na Legenda, é atribuída
ao Complexo xisto-grauváquico ante-ordovícico.
No «flysch» xisto-grauvacoso que constitui o complexo citado
há, segundo cremos, terrenos do Precâmbrico superior e terrenos
câmbricos.
A provável base do Complexo assenta, como foi dito, em
discordância sobre Precâmbrico superior (Precâmbrico III) constituído por xistos negros e grauvaques, em faixas alternantes, com
intercalações de quartzitos negros, liditos, caLcários, metarcoses,
xistosanfibólicos e metavulcanitos ácidos que, às vezes, ~e lhes
aSSOCIam.
Os granitos tectonizados que ocorrem na «Série negra» são
granitos circunscritos com aspecto estratiforme. As gr3initizações
ter-se-Íam dado em estruturas dobradas como o atesta a orientação
II8
das intercalaçôes de anfibolitos, calcários, quartzitos negros, etc.,
relíquias do soco primitivo.
No eixo Crato-Campo Maior há uma rocha cam aspecto de
diorito que constitui um maciço estratiforme, provàvelmente sintectónico, apresentando a rocha foliação secundária.
A «Série negra» foi, recentemente, atribuída definitivamente ao
Precâmbrico superior, em virtude dos depósitos da base do Câmbrico bem datado (representado pelas manchas de Elvas, Assumar
e Ouguela) , cobrirem em discordância a referida série. Portanto
o Complexo xisto-grauváquico ante-ordovícico é pós-série negra.
Aliás, são frequentes nos conglomerados do Complexo elementos
arrancados a este soco precâmbrico (liditos, quartzitos, metavulcanitos, etc.).
O facto dos depósitos da base do Câmbrico de Ouguela assentarem em discordância sobre rochas que atribuímos, provisoriamente,
ao Complexo xisto-grauváquico, como anteriormente se disse, prova
a existência neste, de terrenos do Precâmbrico superior (Precâmbrim IV). Aliás, já W. FRICKE (1951) tinha encontrado elementos do conglomerado do Complexo (rochas porfiróides) no conglomerado basal do Câmbrico (<<Série de Sotillo»).
O conglomerado intraformacional do Complexo xisto-grauváquico parece ser o equivalente do conglomerado interestratificado
do topo do Câmbrico de Elvas.
A existência de raras intercalações de calcário, no Complexo
xisto-grauváquico, largamente representado no Câmbrico inferior,
parece indicar apenas l+ma simples variação lateral de fácies devida
a condições paleogeográficas particulares. Aliás, a presença de
lingulídeos (fósseis que, se admite, só serem conhecidos a partir
do Câmbrico) vem corroborar a hipótese de estarem também
representados, no Complexo, terrenos desta idade.
Do Complexo xisto-grauváquico apenas podemos atribuir, com
segurança, idade precâmbrica superior (talvez Precâmbrico IV),
ao seu provável conglomerado de base. Este, poderia ser equivalente da formação «Olho de sapo» da Galiza. A série xisto-grauváquica que lhe sucede é, em parte, de idade câmbrica. Admitimos
a hipótese de poder estar, também, representado, pelo menos, o
Acadiano.
119
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Provável c()11glomerado de base no Pl'ecâmbrico
superior de Portugal
F RA NC IS CO GOl\ÇALYES -
EST. I
Fig. 1 - Aspecto do provávd con glo merado de base do C omplexo xisto-grau v.áquico,
perto da po voação da Urra (Po rtalegre) . Nota'r a disposição desordenada dos elementos
na matri z, às vezes, conglomerado fino .
Fig. 2 ~ Outro a s p~cto 'do ' conglomerado, mos,t rando .os elementos orientados
'segundo 'a xistosidade 52"
Boi, da Soe. Gea i, de p o,·tugal, Vol. XVII, 1969
Provável conglomerado de base no PrecâmbYlco
superior de Portugal
F RANCISCO GONÇALVES -
Fig. 1 - Outro aspecto do conglomerado, de elementos grosseiros dispersos
na matri z quartzo -filí tica .
Fig. 2 - Leito conglomerático, com elementos estirados de quartzito, lidito,
grauvaque, etc. No mesmo local das figuras anteriores_
EsT.
Provável conglomerado de base no Precâmbrico
superior de Portugal
FRANCISCO G ONÇALVES -
E ST. III
fig. 1 - P rovável conglomerado basa l, a ENE da Estação de Portalegre (Monte Bonito).
fi g. 2 - Outro aspecto do conglomerado fino, do mesmo local da fig. 1 (Est. III).
B oi. da Soco Geo l, de P ortugal, Vol. XVII, 1969
Proi;ável conglomerado de base no Precâmbrz'co
superior di! Portugal
,FtR.ANCrSC O G Ol' ÇALVES -
Fig. 1 -
Fig. 2 -
ESl
Conglo merado com aspecto porfiróide, a 2 km a NNE de Monte da Boa Vi sta,
Ouguela (Campo Maior).
A rocha conglomerática a ENE da .Estação do C. F. de Portalegre (Mont!! BOrjito).
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