UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Avaliação da atividade biológica do Taro [(Colocasia esculenta (L.) Schott)] no ensaio de letalidade com Artemia salina Leach, no teste antifúngico de microdiluição em caldo e na hipercolesterolemia em coelhos Ouro Preto – Minas Gerais – Brasil Abril, 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Avaliação da atividade biológica do Taro [(Colocasia esculenta (L.) Schott)] no ensaio de letalidade com Artemia salina Leach, no teste antifúngico de microdiluição em caldo e na hipercolesterolemia em coelhos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Orientador: Prof. Dr. Tanus Jorge Nagem Co-Orientadora: Drª Tânia Toledo de Oliveira Graciene Dias e Reis R375a Reis, Graciene Dias e. Avaliação da atividade biológica do taro [(Colocasia esculenta (L.) Schott)] no ensaio de letalidade com Artemia salina Leach, no teste antifúngico de microdiluição em caldo e na hipercolesterolemia em coelhos [manuscrito] / Graciene Dias e Reis. – 2011. vii, 64 f.: il. color.; tabs. Orientador: Prof. Dr. Tanus Jorge Nagem. Coorientadora: Profa. Dra. Tânia Toledo de Oliveira. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Farmácia. Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas. Área de concentração: Fármacos e Medicamentos 1. Plantas medicinais - Teses. 2. Colocasia esculenta - Teses. 3. Hipercolesterolemia - Teses. 4. Antifúngicos - Teses. I. Nagem, Tanus Jorge. II. Oliveira, Tânia Toledo de. III. Universidade Federal de Ouro Preto. IV. Título. CDU: 615.282:612.397 Catalogação: [email protected] Dedico esta dissertação aos meus pais, meus irmãos e ao Léo. Pilares da minha fortaleza. AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Drº Tanus Jorge Nagem pela seriedade e competência. Além de ser referência em conhecimento e excelência profissional é também um exemplo de força e superação pessoal. Tenho orgulho de tê-lo como meu orientador. À minha co-orientadora, Prof. Drª Tânia Toledo de Oliveira pela sabedoria e atenção. Exemplo de que dinamismo, competência e feminilidade podem existir em conjunto e harmonia. À minha mãe pela confiança e amor incondicional. Obrigada, mãe, por me apoiar com tanto carinho e compreensão, pela paciência e empenho para o meu crescimento pessoal. Te admiro muito! Ao meu pai, que mesmo não estando mais aqui, é meu exemplo de vida. Saudade! Aos meus irmãos queridos. Amo muito! Ao Léo, meu amor, pelo companheirismo, carinho e cumplicidade. Agradeço também pelas buscas de serragem, por ajudar a cuidar dos coelhinhos, pelos açaís, por estar sempre ao meu lado e por tantas outras coisas! À Denise e ao Leonardo por me acolherem com tanto carinho. Obrigada, Denise, pelas palavras de encorajamento e motivação quando tudo parecia tão difícil. Ao Willian pela amizade e por ter me ajudado na tradução do artigo. Ao Prof. Mário Puiatti pela colaboração em ceder o material vegetal. Aos amigos e toda a equipe do Laboratório de Produtos Naturais da Universidade Federal de Ouro Preto e do Laboratório de Biofármacos da Universidade Federal de Viçosa pela colaboração, amizade e disposição em ajudar. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS.........................................................................................................................i LISTA DE TABELAS........................................................................................................................ii LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS...............................................................................iv RESUMO...........................................................................................................................................vi ABSTRACT......................................................................................................................................vii INTRODUÇÃO..................................................................................................................................1 REVISÃO DA LITERATURA.........................................................................................................2 1. Colocasia esculenta.......................................................................................................................2 1.1. Constituição do taro........................................................................................4 1.2. Etnofarmacologia............................................................................................6 1.3. Atividades biológicas.......................................................................................7 1.3.1. Efeito hipolipemiante..........................................................................7 1.3.2. Efeito antiinflamatório........................................................................8 1.3.3. Efeito anticancerígeno.........................................................................8 1.3.4. Efeito antidiabético.............................................................................9 1.3.5. Efeito modulador do sistema imune................................................10 2. Ensaio de letalidade com Artemia salina..................................................................................10 3. Atividade Antifúngica................................................................................................................11 4. Hipercolesterolemia...................................................................................................................12 OBJETIVOS.....................................................................................................................................19 1. Objetivos específicos.............................................................................................................19 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................................................19 1. Material vegetal....................................................................................................................19 2. Preparo do vegetal................................................................................................................20 2.1. Obtenção da tintura de taro....................................................................................20 2.2. Resíduo seco da tintura de taro..............................................................................21 2.3. Obtenção do extrato de taro....................................................................................21 3. Ensaio de letalidade com Artemia salina Leach.................................................................21 4. Teste antifúngico de microdiluição em caldo.....................................................................22 5. Hipercolesterolemia in vivo..................................................................................................24 RESULTADOS.................................................................................................................................27 1. Tintura e extrato de taro......................................................................................................27 2. Ensaio de letalidade com Artemia salina Leach.................................................................27 3. Teste antifúngico de microdiluição em caldo....................................................................29 4. Hipercolesterolemia in vivo.................................................................................................31 4.1. Análise bioquímica ao final do experimento.........................................................31 4.2. Avaliação do peso corporal dos animais ...............................................................53 4.3. Avaliação macrosc[opica do fígado dos animais....................................................55 CONCLUSÃO...................................................................................................................................56 REFERÊNCIAS...............................................................................................................................57 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Espécie Colocasia esculenta com identificação das suas partes. Fonte: arquivo pessoal do pesquisador...........................................................................................................................................2 Figura 2: Esquema da via biossintética do colesterol.......................................................................17 . Figura 3: Constituintes de C. esculenta: MGDG e DGDG. Fonte: SAKANO et al, 2005...............18 Figura 4: Esquema de diluição do extrato de taro.............................................................................22 Figura 5: Esquema do plaqueamento para teste antifúngico.............................................................24 Figura 6: Placa multipoço com o teste antifúngico do extrato de taro em relação ao fármaco Fluconazol..........................................................................................................................................30 Figura 7: Placa multipoço com o teste antifúngico do extrato de taro em relação ao fármaco Cetoconazol........................................................................................................................................31 Figura 8: Valores médios de colesterol total em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...............................................................................................................................33 Figura 9: Valores médios de HDL em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...........................................................................................................................................35 Figura 10: Valores médios de triglicerídios em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...............................................................................................................................37 Figura 11: Valores médios de glicose em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...........................................................................................................................................39 Figura 12: Valores médios de AST em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...........................................................................................................................................41 Figura 13: Valores médios de ALT em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...........................................................................................................................................42 Figura 14: Valores médios de gama-GT em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento......................................................................................................................................44 Figura 15: Valores médios de fosfatase alcalina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento..........................................................................................................................46 Figura 16: Valores médios de albumina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento......................................................................................................................................48 Figura 17: Valores médios de proteína total em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...............................................................................................................................49 Figura 18: Valores médios de uréia em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...........................................................................................................................................51 i Figura 19: Valores médios de creatinina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento......................................................................................................................................52 Figura 20: Pesagem dos animais. Fonte: arquivo pessoal do pesquisador........................................53 Figura 21: Aspecto macroscópico do fígado dos coelhos após o experimento.................................55 ii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Toxicidade do extrato de taro frente a A. salina................................................................27 Tabela 2: Controle positivo do teste de toxicidade...........................................................................28 Tabela 3: Controle negativo do teste de toxicidade..........................................................................28 Tabela 4: Resultado do teste antifúngico do extrato de taro e do fármaco Fluconazol.....................29 Tabela 5: Resultado do teste antifúngico do extrato de taro e do fármaco Cetoconazol...................30 Tabela 6: Valores médios de colesterol total em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...............................................................................................................................33 Tabela 7: Valores médios de HDL em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...........................................................................................................................................35 Tabela 8: Valores médios de triglicerídeos em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...............................................................................................................................37 Tabela 9: Valores médios de glicose em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...........................................................................................................................................39 Tabela 10: Valores médios AST em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...........................................................................................................................................40 Tabela 11: Valores médios de ALT em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...........................................................................................................................................42 Tabela 12: Valores médios de gama-GT em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento......................................................................................................................................44 Tabela 13: Valores médios de fosfatase alcalina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento..........................................................................................................................46 Tabela 14: Valores médios de albumina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento......................................................................................................................................47 Tabela 15: Valores médios de proteína total em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...............................................................................................................................49 Tabela 16: Valores médios de uréia em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento...........................................................................................................................................50 Tabela 17: Valores médios de creatinina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento......................................................................................................................................52 Tabela 18: Avaliação do ganho de massa dos animais.....................................................................54 iii LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS ABST Co-transportador ácido biliar Na+/bile ileal ALT Alanina aminotransferase ApoB Apolipoproteína B AST Aspartato aminotransferase BGH Banco de Germoplasma de Hortaliças BHT/g Butilhidroxitolueno CLSI Clinical and Laboratory Standards Institute cmolc Centimol de carga CTC (T) Capacidade de troca catiônica a pH 7,0 CTC(t) Capacidade de troca catiônica efetiva Dag Decagrama DGDG Digalactosildiacilglicerol 3 dm Decímetro cúbico DMSO Dimetilsulfóxido DPPH 1,1-difenil-2-picrilhidrazil FPP Farnesil difosfato gama-GT Gama glutamil transferase GPP Geranil difosfato H + Al Acidez potencial ha Hectare HDL lipoproteína de baixa densidade HMG-CoA 3-Hydroxy-3-Methyl-Glutaryl Coenzyme A INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas Kcal Quilocaloria (s) KJ Quilojoule LDAO Laurildimetilamina N-óxido LDL Do inglês: Low Density Lipoprotein, lipoproteína de baixa densidade m Índice de saturação por alumínio MGDG Monogalactosildiacilglicerol MIC Concentração inibitória mínima MO Matéria orgânica mRNA Ácido ribonucléico mensageiro NO Óxido nítrico iv NOS Óxido nítrico sintase RPMI Meio de cultura Roswell Park Memorial Institute SB Soma de bases SCFA Produto fermentado da mucilagem TGO Transaminase glutâmico-oxalacética TGP Transaminase glutâmico-pirúvica UFV Universidade Federal de Viçosa U/L Unidades por litro V Índice de saturação por bases VLDL lipoproteína de muito baixa densidade v RESUMO A espécie Colocasia esculenta, conhecida como taro, inhame ou cará, é uma planta da família Araceae e apresenta em sua constituição várias moléculas com atividade farmacológica, como flavonóides, fitosteróis, saponinas, entre outras. Relatos etnofarmacológicos indicam o seu potencial como agente terapêutico natural. A busca por tratamentos naturais é de grande interesse já que a intervenção farmacológica está sempre associada a efeitos colaterais indesejáveis. A partir dos tubérculos de C. esculenta, pretendeu-se avaliar a ação do taro no bioensaio de letalidade com Artemia salina Leach para se ter um indicativo preliminar da toxicidade do extrato; no teste antifúngico de microdiluição em caldo sobre quatro espécies de Candida para verificar possível ação fungicida; e no teste de hipercolesterolemia in vivo para analisar a atuação sobre o metabolismo lipídico de coelhos. Como resultado, observou-se que o extrato de taro não apresentou toxicidade aguda significante, não oferecendo risco toxicológico na utilização do mesmo. Apresentou atividade antifúngica contra 4 espécies de Candida: C. Albicans, C. tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei. E, a tintura de taro 20% mostrou-se eficaz na redução do perfil lipídico sérico de coelhos. Assim, considerando que o taro é um alimento bastante nutritivo, a avaliação de sua ação medicinal associará a ele mais um efeito benéfico, sendo de grande valia incentivar o seu consumo em prol da saúde, podendo ainda fazer com que o taro se torne um fitoterápico promissor. vi ABSTRACT The species Colocasia esculenta, also known as taro or yam, is a plant of the Araceae family and presents in its constitution several molecules with pharmacological activity, such as flavonoids, phytosterols, saponins, among others. Ethnopharmacological reports indicate its potential as a natural therapeutic agent. The search for natural treatments is of great interest since pharmacological intervention is always associated with undesirable side effects. From the tubers of C. esculenta, we sought to assess the action of taro in the bioassay of lethality with Artemia salina Leach to have a preliminary indication of the extract toxicity; in the microdilution antifungal test about four Candida species to verify possible fungicidal effect, and in in vivo hypercholesterolemia test to analyze the performance on the lipid metabolism of rabbits. As a result, it was observed that the extract of taro showed no significant acute toxicity, offering no toxicological hazard in use. Showed antifungal activity against four Candida species: C. Albicans, C. tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei. And dye taro 20% was effective in reducing serum lipid profile of rabbits. Thus, considering that the tarot is a very nutritious food, the assessment of its medicinal properties associate him with one more beneficial effect, being very important to encourage consumption for health and may even cause the taro becomes an herbal promising. vii INTRODUÇÃO O uso de plantas medicinais é uma prática milenar que, por muito tempo, foi baseada no empirismo e no relato popular. A partir do período medieval até o fim do século XIX, os medicamentos eram produzidos em farmácias, manipulados artesanalmente e em pequena escala. Com a consolidação da energia elétrica, da era Industrial e da pesquisa científica, a produção de medicamentos pelas farmácias deu espaço para a indústria farmacêutica. A partir das plantas, foram isoladas e sintetizadas diversas substâncias que passaram a ser comercializadas como princípio ativo isolado. Com o desenvolvimento da química medicinal, moléculas já conhecidas passaram a ser modificadas estruturalmente com a finalidade de se obter fármacos mais potentes e com menor toxicidade. Porém, logo surgiram alguns obstáculos: a molécula de interesse quase sempre está presente no vegetal em pequenas quantidades e, para o isolamento de princípios ativos em escala industrial, é necessário uma grande quantidade de planta, o que muitas vezes não é viável; e a síntese de moléculas muito complexas nem sempre é possível metodológica e economicamente. Diante disso, a partir da década de 60, as atenções retornaram com maior interesse para as vantagens de se utilizar as plantas medicinais. Assim, houve uma revalorização da fitoterapia, que busca associar qualidade, eficácia e segurança à matéria-prima vegetal. Entre as vantagens da utilização de produtos naturais está o fato de que cada planta é constituída de inúmeros princípios ativos que agem em sinergia, o que torna o efeito do conjunto mais potente. Como existem várias moléculas atuando juntas, cada uma delas vai estar presente em menor concentração em relação ao princípio ativo isolado, diminuindo, assim, os efeitos colaterais associados. Além disso, a grande biodiversidade da flora terrestre favorece e incentiva o estudo de atividades biológicas presentes nas plantas para a sua utilização no tratamento de doenças. Relatos etnofarmacológicos e alguns poucos estudos já realizados indicam o potencial da planta Colocasia esculenta, conhecida como taro ou inhame, em atuar como agente terapêutico. E considerando que o taro é um alimento bastante nutritivo, a avaliação de sua ação medicinal associará a ele mais um efeito benéfico, tornando de grande valia o incentivo do seu consumo em prol da saúde, podendo ainda fazer com que se torne um fitoterápico promissor. Com esse intuito, então, pretendeu-se avaliar a ação do taro no ensaio de letalidade com Artemia salina Leach para se ter um indicativo preliminar da toxicidade do extrato; no teste antifúngico de microdiluição em caldo sobre quatro espécies de Candida para verificar possível ação fungicida; e no teste de hipercolesterolemia in vivo para analisar a atuação da tintura sobre o metabolismo lipídico. 1 REVISÃO DA LITERATURA 1. Colocasia esculenta (L.) Schott FOLHA PSEUDO CAULE RIZOMA-MÃE RIZOMA-FILHO Figura 1: Espécie Colocasia esculenta com identificação das suas partes. Fonte: arquivo pessoal do pesquisador. A espécie Colocasia esculenta é uma planta pertencente à família Araceae, mundialmente denominada de taro, “dasheen” ou “eddoe”. No sudeste, centro e sul do Brasil é conhecida como inhame, possivelmente em razão da semelhança entre os tipos de tubérculos subterrâneos das Dioscoreáceas com aqueles das Aráceas. Em razão da confusão quanto à nomenclatura desses vegetais, estabeleceu-se que o “inhame”, Colocasia esculenta, passa a ter a denominação definitiva de “taro”, e as Dioscoreáceas, Dioscorea spp., chamadas popularmente no norte/nordeste brasileiro de “carás” e “inhames” passam a ter a denominação definitiva de “inhame” (PEDRALLI, et al., 2002). Além disso, há confusão também quanto à taxonomia. É controverso a existência de apenas uma espécie com duas variedades botânicas, C. esculenta var antiquorum e C. esculenta var. 2 esculenta, ou a existência de duas espécies diferentes, C. esculenta e C. antiquorum (ONYILAGHA, et al., 1987). Apesar da incerteza, evidências tendem a agrupar o taro em duas espécies separadas (JIANCHU, et al., 2001). Dentro da espécie C. esculenta existem diferenças morfológicas e por isso o taro recebe outras denominações para identificar suas variedades comerciais, entre elas podem-se citar o taro japonês, taro macaquinho, taro chinês, taro branco, e outras. Entre as características que mais contribuem para a distinção entre as variedades de taro estão: número máximo de folhas por planta, modelo da nervura, cor do pecíolo, cor da bainha foliar, comprimento do rizoma principal e peso médio de rizomas secundários (PUIATTI & PEREIRA, 2002). As aráceas são conhecidas na China desde 100 anos a.C., são típicas de regiões tropicais e subtropicais e possuem cerca de 100 gêneros e mais de 3000 espécies. No Brasil existem 35 gêneros e 400 espécies nativas. Entre as espécies utilizadas como ornamentais cita-se o antúrio, o copo-deleite, o lírio-da-paz, o comigo-ninguém-pode, e outras. E entre as espécies usadas na alimentação tem-se o taro e a taioba (SOUZA & LORENZI, 2005) e o mangarito (Xanthosoma mafaffa). A espécie C. esculenta é originária da Ásia, cultivada desde a Antiguidade, onde era alimento de faraós na Índia e no Egito. A introdução da espécie no Brasil foi promovida provavelmente pelos portugueses e, desde então, houve expressivo crescimento do seu cultivo. As lavouras concentramse principalmente no sul da Bahia e sudeste brasileiro. A mais conhecida utilização do taro é na alimentação, mas vem se ampliando os seus usos, como por exemplo, na extração de amido para a indústria alimentícia. O desenvolvimento de produtos alimentícios para o consumo humano à base de farinha de taro é crescente e apresenta a vantagem de não conter glúten, diferentemente do trigo, do centeio, da cevada e da aveia. Assim, a farinha de taro é uma alternativa para os portadores da doença celíaca, que apresentam intolerância ao glúten (BROWN & VALIERE, 2004). Outro produto a base de taro com essas mesmas características é o “Poi”, uma massa de amido feita a partir do taro cozido e amassado, que é considerado um alimento pró-biótico com inúmeros benefícios para a saúde (BROWN & VALIERE, 2004). Porém, os problemas de palatabilidade associados ao taro prejudicam a sua utilização. As causas desses problemas antinutricionais estão relacionadas à presença de cristais de oxalato de cálcio (ráfides) e outras substâncias acídicas e proteináceas. Ráfides são estruturas em formato de cristais finos e alongados com funções de proteção e de estoque de cálcio na forma de oxalato de cálcio. Sua presença nos alimentos provoca acridez (SEFA-DEDEH & SACKEY, 2002); todavia, alguns tipos de processamento melhoram as características do produto, como por exemplo, o cozimento, que reduz o conteúdo de oxalato de cálcio, provavelmente por degradação térmica das estruturas (IWUOHA & KALU, 1995). Outra possível e recente utilidade do taro está na sua 3 atuação em processos de fitorremediação, ou seja, C. esculenta é uma planta promissora para a recuperação de águas poluídas por chumbo (Pb) e cádmio (Cd). A presença desses metais pesados na água é um problema ambiental que afeta o sistema aquático e a saúde humana. O processo foi testado a partir do crescimento hidropônico da planta utilizando água contaminada com esses metais. Verificou-se acúmulo em altas concentrações nas raízes do vegetal, sugerindo que ocorreu migração dos metais para as células da planta (BINDU, et al., 2010). Além dessas utilidades, têm-se relatos sobre as propriedades medicinais do taro, como será apresentado a seguir. 1.1. Constituição do taro Sob o ponto de vista nutricional, o taro é superior à batata inglesa, batata doce, mandioca, cará e arroz. Seus rizomas são ricos em carboidratos, proteínas, vitaminas, minerais e ácidos orgânicos. Entre as vitaminas cita-se a tiamina ( B1), a piridoxina ( B6) e a vitamina C. Embora de baixo conteúdo lipídico, o taro apresenta alto nível de ácidos graxos insaturados, como o ácido linoléico (ômega-6) e ácido linolênico (ômega-3). Possui ainda antocianinas, fitosteróis, glicolipídios, antioxidantes, e outros. É facilmente assimilado pelo organismo, podendo ser usado em alimentos para crianças, hipoalergênicos e para celíacos (RAMOS FILHO, et al., 1997). A composição dos vegetais depende da variedade, local de cultivo, estação do ano, método de processamento e armazenagem. A constituição do taro apresenta variações decorrentes dos fatores citados acima, mas tem-se os seguintes valores como referência: (SEFA-DEDEH & SACKEY, 2004; NEPA-UNICAMP, 2006). Energia: 97 Kcal e 405 KJ/100g de amostra crua; fibra: 1,7 g/100g de amostra crua; umidade: 59,30% a 72,06%; proteína: 2,98 a 4,69 g/100g de amostra seca; amido: 17,8 a 32,5 g/100g de amostra seca; lipídio: 0,64 a 0, 97 g/100g de amostra seca; cinzas: 1,56 a 1,88 g/100g de amostra seca; Entre os minerais tem-se: Ca (cálcio): 4,68 a 7,09 mg/100g, Fe (ferro): 2,68 a 3,75 mg/100g, Mg (magnésio): 48,7 a 64,8 mg/100g, Zn (zinco): 17,0 a 28,4 mg/100g, K (potássio): 763 a 1004 mg/100g, Na (sódio): 28,5 a 34,6 mg/100g, P (fósforo): 54,7 a 61,5 mg/100g. E quanto ao conteúdo de oxalato de cálcio: Amostras frescas: 459 µg/100g A quantidade expressiva de oxalato de cálcio (459 µg/100g) é a responsável pela acridez e toxicidade do taro fresco, já que o limiar para humanos é de 71 µg/100g. Porém, as amostras processadas têm a quantidade de oxalato de cálcio diminuída. Assim, o taro, principalmente as 4 folhas, não deve ser consumido cru em grandes quantidades. E pacientes com cálculos renais por oxalato de cálcio devem diminuir o seu uso na alimentação (SEFA-DEDEH & SACKEY, 2004). Através de ensaios fitoquímicos foi constatada a presença de flavonóides, alcalóides, taninos e saponinas no taro (MCEWAN, 2008; GOMEZ-BELOZ & RIVERO, 2006). Foram identificados flavonóides-glicosídeos, sendo seis C-glicosilflavonóides e um O-glicosilflavonóide. São eles, respectivamente: escaftosídeo, isoescaftosídeo, orientina, isoorientina, vitexina, isovitexina e luteolina 7-O-soforosídeo. As antocianinas identificadas no taro são pelargonidina-3-glicosídeo, cianidina-3-ramnosídeo e cianidina-3-glicosídeo. Uma característica importante dessas substâncias é a sua atividade antioxidante com consequente proteção aos danos causados pelos agentes oxidantes, principalmente radicais livres, presentes no organismo (LEONG, et al., 2010). No talo do taro, um pseudocaule, foi identificada outra antocianina, cianidina-3-rutinosídeo, que teve sua atividade antioxidante investigada utilizando o método DPPH (1,1-difenil-2-picrilhidrazil). Essa atividade apresentou o valor de 114 mg, equivalente ao antioxidante sintético padrão BHT/g (Butilhidroxitolueno) (TERASAWA, et al., 2007). Tem-se também a presença de quantidades apreciáveis de aminoácidos essenciais como fenilalanina e leucina. Os principais ácidos orgânicos presentes no taro são o ácido málico, ácido oxálico e ácido cítrico. As principais moléculas de esteróis presentes são o β-sitosterol, stigmasterol e campesterol (MAGA, 1992). Cita-se ainda a saponina esteroidal γ-sitosterol, um isômero do β-sitosterol que é conhecido por gerar uma variedade de atividades biológicas (MCEWAN, 2008). Outra substância isolada dos rizomas do taro, a fitocistatina, que exibe atividade inibitória da cisteína protease, revelou forte ação antifúngica, indicando o potencial dessa tarocistatina em se tornar um agente fungicida (YANG & YEH, 2005; WANG, et al., 2008). Cita-se ainda a presença de substâncias com atividade antibacteriana em Colocasia esculenta (WEI, et al., 2008, NAIR, et al., 2005). Foram identificados, no taro, constituintes considerados antinutricionais, tais como inibidores de proteases e certos compostos fenólicos, que afetam a digestão das proteínas; inibidores de amilase e lecitinas que interferem na digestão dos carboidratos; alcalóides que tem ação no sistema nervoso; oxalato que tem ação irritante para o trato gastrointestinal e pode ocasionar problemas de cálculo renais; saponinas que são capazes de se ligarem ao colesterol e aos ácidos biliares; além de fitato e cianogeninas (MCEWAN, 2008). Esses componentes em níveis normais não são tóxicos, mas contribuem para as propriedades antinutricionais, principalmente no taro não processado utilizando calor. Não se pode deixar de enfatizar que fatores como espécie, cultivar, clima, tipo de solo, uso de fertilizantes, maturidade, condições de armazenamento, e outras 5 variáveis, influenciam na composição bruta de qualquer produto agrícola. Assim, rizomas de taro oriundos de locais diferentes apresentam variações na sua constituição química (MAGA, 1992). 1.2. Etnofarmacologia Existem na literatura centenas de relatos sobre os usos medicinais de C. esculenta. No Brasil, têm-se indicações sobre a utilização do taro, na forma de cataplasma, como antiinflamatório em processos agudos e crônicos. Cita-se, também, sua ação como energético e depurativo (CAMPOS, 1993) e no tratamento do reumatismo (BRUNING, 1996). Na comunidade de Conceição-Açu, Mato Grosso, o taro é considerado um remédio. Para doenças de pele e do tecido subcutâneo é usado em alergias, prurido e manchas; relacionado às doenças do aparelho circulatório atua na hipertensão, varizes, hemorróida, malária e hiperuricemia; e para doenças hematológicas e órgãos hematopoiéticos tem ação na anemia, fraqueza, reumatismo e como depurativo do sangue (PASA, et al., 2005). No exterior, o taro é base da alimentação de muitos povos. Na Jamaica, por exemplo, são indicadas atividades medicinais para o taro para as seguintes doenças: asma, tuberculose e constipação (MITCHELL & AHMAD, 2006). Na Ásia, C. esculenta é considerada boa para a saúde em geral (PIERONI, et al., 2007). Na Coréia, os usos medicinais do taro incluem o tratamento de trombose, furúnculos, inflamação, desintoxicação (venenos de cobra e abelha), e mastite (KIM, et al., 2006). Na China, é indicada para psoríase, queimadura, sudorese noturna, carbúnculo, úlcera, prolapso uterino e hemorróida (LI, et al., 2006). Na região de Rajasthan, na Índia, tem-se relatos do seu uso para o crescimento de cabelo, no tratamento de doenças do trato digestivo, tais como constipação, indigestão, dor abdominal e desinteria; de doenças da pele como ferimentos, tumores, furúnculos, queimadura de sol e carbúnculo (CHOUDHARY, et al., 2008) e ainda para fraqueza, tosse e desordens brônquicas (JAIN, et al., 2005). Cita-se ainda, outros relatos que confirmam os benefícios do taro em desordens digestivas (MACCAUGHEY, 1917), em alergias a alimentos como cereais, trigo, arroz (DERSTINE & RADA, 1952; ROTH, et al., 1967), para crianças com baixo desenvolvimento, para recuperação em pacientes com caquexia e outras condições de perda de massa (GLASER, et al., 1967), para prevenir inchaço e dor e para reduzir febre (WEI, et al., 2008). Mas, apesar de várias evidências, ainda são poucos os estudos científicos voltados para a confirmação dos efeitos medicinais de C. esculenta. 6 1.3. Atividades biológicas 1.3.1. Efeito hipolipemiante A espécie Colocasia esculenta, apresenta na sua constituição substâncias com ação hipolipemiante: fitosteróis, saponinas, ácido linoléico, mucilagem, niacina, ácido oléico, ácido ascórbico, etc (MCEWAN, 2008; GYLLING, et al, 1995). O conteúdo de fibras solúveis presentes no taro também contribui para o controle dos níveis de lipídios séricos. A mucilagem isolada dos rizomas de C. esculenta, arabinogalactana, teve seu efeito hipolipidêmico avaliado. Foi observado diminuição do colesterol total, da fração VLDL + LDL, triglicerídeos e ApoB (Apolipoproteína B), a principal apoproteína em VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade) e LDL (lipoproteína de baixa densidade). A dosagem de lipídios a partir dos tecidos hepático e aórtico também apresentou níveis de colesterol e triglicérides diminuídos e o conteúdo de ácidos biliares e esteróis neutros fecais aumentaram (BOBAN, et al, 2006). O tratamento de ratos diabéticos com o extrato etanólico de taro diminuiu o colesterol total sérico e a glicemia desses animais, quando comparados ao grupo controle normal, demonstrando, então, seu efeito benéfico tanto na diabete quanto em dislipidemias (GRINDLEY, et al., 2000). Os constituintes monogalactosildiacilglicerol (MGDG) e digalactosildiacilglicerol (DGDG), presentes em Colocasia esculenta, causaram inibição da enzima lanosterol sintase, que atua na via biossintética do colesterol (SAKANO, et al, 2005; TANAKA, et al., 2005). Animais alimentados com dieta suplementada com taro apresentaram significante redução na concentração de colesterol hepático total, livre e esterificado, assim como nos níveis de fosfolipídios hepáticos. Esse fato sugere que dieta a base de taro é recomendada para redução e manutenção de baixas concentrações lipídicas (IGWE, et al, 2004). Pessoas que têm o taro como base da alimentação da sua cultura, como ocorre em Nova Guiné, Oceania, apresentaram níveis séricos de colesterol mais baixos quando comparadas com os europeus (LUYKEN & JANSEN, 1960). Além do efeito hipolipemiante, o taro atua também na proteção contra a aterosclerose através de constituintes com ação antioxidante e antiinflamatória. Constituintes com atividade antioxidante evitam o aparecimento da LDL oxidada que se liga a macrófagos no endotélio vascular e dá início à formação da placa aterosclerótica. E, a ação antiinflamatória inibe o processo inflamatório que precede a formação das células espumosas que se desenvolvem no vaso sanguíneo durante o processo aterosclerótico (POLLAK & KRITCHEVSKY, 1981). 7 1.3.2. Efeito antiinflamatório Compostos presentes no taro agem em sinergia promovendo uma ação antinflamatória. Entre eles cita-se fitosteróis e flavonóides, e entre estes as antocianinas. O β-sitosterol apresenta o benefício da sua propriedade antiinflamatória (BOUIC, 2001; CAMBIE & FERGUSON, 2003). E a presença de antocianinas no vegetal também está envolvida nesse processo, visto que apresentam atividade antioxidante e antiinflamatória (SUBARNAS & WAGNER, 2000; OSZMIANSKI, 2001). O mesmo é observado nos flavonóides-glicosídeos, entre eles o escaftósido, o isoescaftósido, a orientina, a isoorientina, a vitexina, a isovitexina e a luteolina-7-O-soforosídeo. O grupo catecol presente no anel B de orientina, isoorientina e luteolina-7-O-soforosídeo apresenta forte atividade antioxidante (LEONG, et al, 2010). Em função da atividade antiinflamatória do extrato etanólico das folhas de C. esculenta houve redução do edema de pata de ratos induzido por carragenina (BIREN, et al 2007). Em testes de geração de O2 e NO, o extrato clorofórmico de C. esculenta demonstrou ação antioxidativa e antinitrosativa (MURAKAMI, et al, 2005). E considerando a similaridade de constituição entre espécies de uma mesma família, outra Araceae, Anthurium cerrocampanense, também apresentou atividade antiinflamatória nos testes de edema de pata induzido por diferentes agentes flogísticos e de edema de orelha induzido por óleo de cróton em ratos (SEGURA, et al, 1998). 1.3.3. Efeito anticancerígeno Dentre os compostos envolvidos na atividade anticâncer de C. esculenta estão incluídos triterpenos e saponinas esteroidais (BERHOW, et al, 2000; KERWIN, 2004). O β-sitosterol e os flavonóides também estão envolvidos nessa ação biológica (ROMERO & LICHTENBERGER, 1990; JANEZIC & RAO, 1992; CAMBIE & FERGUSON, 2003). Foi demonstrado que ratos expostos a agentes carcinogênicos que tiveram sua dieta suplementada com 0,3% de β-sitosterol apresentaram significativamente menor incidência de desenvolvimento de tumor quando comparados à ratos com dieta sem β-sitosterol (RAICHT, et al, 1980). Foi verificado que a fração heptano do extrato das folhas de taro demonstrou forte ação anticancerígena (BOTTING, et al, 1999). Outra evidência da ação anticâncer do taro envolve as diferenças de incidência de câncer entre polinésios e europeus. Dados revelaram fortes propriedades antimutagênicas em várias plantas utilizadas frequentemente como alimento pelos polinésios, entre elas a C. esculenta (LUO, et al, 2007). A dieta nativa havaiana também tem como base o taro, e vem sendo associado a isso, a baixa prevalência de câncer intestinal nessa população. Em estudos 8 utilizando pasta de taro, denominada “Poi”, foi observado inibição da proliferação e indução da apoptose de células intestinais cancerosas. Essa ação ocorreu de forma específica, visto que em testes com células normais não-cancerosas não foi verificada inibição do crescimento celular, ou seja, o “Poi” não inibiu a proliferação de todas as células, mas seletivamente inibiu o crescimento de células cancerosas (BROWN, et al, 2005). Esse efeito é decorrente também do alto conteúdo de fibra, já que a prevenção do câncer de cólon está associada à dietas ricas em vegetais. O taro possui uma combinação de substâncias, que em conjunto com os metabólitos de microrganismos endofíticos, o torna um alimento funcional com características únicas que, ao ser ingerido, mantémse em contato direto com o epitélio intestinal, ao contrário de outras substâncias anticancerígenas que agem de forma indireta através da circulação sanguínea. A partir disso, constata-se que o consumo de taro contribui para diminuir a incidência de câncer de intestino por dois principais mecanismos: indução da apoptose de células de cólon cancerosas e ativação de linfócitos que lisam células anormais. Além do mais, a relação existente entre inflamação crônica e carcinogênese sugere que alimentos com atividade antioxidante desempenham importante papel na prevenção do câncer, sendo esse, então, o caso de C. esculenta (FERGUSON, 1992; KIM, et al, 2002; MURAKAMI, et al, 2005). É válido citar ainda que Colocasia antiquorum, uma espécie muito próxima do taro, tem potencial uso como anticancerígeno (NASSR-ALLAH, et al, 2009). 1.3.4. Efeito antidiabético Ao extrato etanólico de taro foi atribuída propriedade hipoglicêmica decorrente de diversos mecanismos (GRINDLEY, et al, 2002). O taro apresenta na sua constituição inibidores de amilases, as α-amilases e as α-glicosidases. As amilases são enzimas de hidrólise de carboidratos. Com a diminuição da digestão dos carboidratos tem-se a redução da biodisponibilidade da glicose, caracterizando uma ação antidiabética. Nesse contexto, o taro é um alimento negligenciado, já que seu consumo beneficia pacientes diabéticos e hipertensos (MCEWAN, 2008). Ratos diabéticos alimentados com extrato etanólico de taro apresentaram valores próximos de normoglicêmicos, quando comparados à ratos diabéticos tratados com dieta normal (GRINDLEY, et al, 2001). O taro conta com outros constituintes com esse potencial, atribuindo-se esse efeito ao β-sitosterol (IVORRA, et al, 1988). 9 1.3.5. Efeito modulador do sistema imune Citocinas são importantes compostos orgânicos que atuam na proliferação, diferenciação e morte celular. Elas são responsáveis pela regulação de proteínas que controlam a sobrevivência, o crescimento e a função efetora de células teciduais. Algumas plantas possuem substâncias que mimetizam a função das citocinas na regulação celular, sendo então, considerados compostos com propriedades citocino-miméticas. Esse processo é decorrente da ligação da citocina no seu receptor de membrana, que dá início a uma cascata de transdução de sinal até o núcleo celular, levando à indução da divisão da célula. A propriedade estimulatória do crescimento celular, particularmente de duas importantes células do sistema imune, sugere que plantas com atividade citocino-mimética são capazes de aumentar a população de células da imunidade. Entre essas plantas está a Colocasia esculenta que tem a capacidade de induzir proliferação de células da medula óssea e esplenócitos (TULIN e ECLEO, 2007). Além de atuar como mitogênica do sistema imunológico, o taro foi capaz de ativar linfócitos. A pasta de taro ativou células T, TCD4+ e TCD8+ (BROWN, 2005). Estudos clínicos sugerem que as saponinas, presentes no taro, atuam como adjuvantes no sistema imune (CHEEKE, 1999), melhorando a resposta à antígenos (BOMFORD, et al; 1992; FRANCIS, et al; 2002). 2. Ensaio de letalidade com Artemia salina Apesar da comprovada eficiência terapêutica de muitas plantas, os prováveis efeitos tóxicos que as mesmas podem apresentar quando usadas inadequadamente ainda são desconhecidos ou, muitas vezes, ignorados. Uma vez que tradicionalmente é disseminado o relato de que o uso de produtos naturais não é prejudicial à saúde, o cuidado com a utilização desses produtos é imprescindível e de suma importância no controle dos possíveis efeitos adversos que o uso crônico e/ou agudo pode acarretar no organismo. Por isso, a toxicidade de plantas medicinais constitui hoje um problema de saúde pública, sendo um motivo de preocupação crescente nos meios científicos que envolvem estudos fitoterápicos, pois tem sido comum a ocorrência de adulterações e toxicidade dos mesmos. Assim, a investigação do potencial tóxico de plantas medicinais pode elucidar importantes aspectos farmacológicos de seus princípios naturais, permitindo uma utilização segura, respeitando seus possíveis riscos toxicológicos. A fim de estabelecer a toxicidade de novos produtos naturais, muitos ensaios podem ser utilizados, como o ensaio de letalidade com o microcrustáceo Artemia salina, que foi desenvolvido para detectar compostos bioativos em extratos vegetais (RUIZ et al; 2005). O ensaio de letalidade 10 permite a avaliação da toxicidade aguda e, portanto, é considerado essencial como bioensaio preliminar no estudo de compostos com potencial atividade biológica. O animal utilizado neste bioensaio é uma espécie de crustáceo marinho, Artemia salina Leach. (CAVALCANTE et al; 2000). O ensaio de letalidade com Artemia salina Leach é viável devido à semelhança dos limites dos efeitos tóxicos produzidos em A.salina com aqueles produzidos no homem, ou seja, com base na dose por unidade de superfície corporal, os efeitos tóxicos no homem estão consideravelmente nos mesmos limites que os observados na A.salina, sendo possível descobrir possíveis riscos nos humanos. A espécie Artemia salina é uma espécie de microcrustáceo marinho da ordem Anostraca. É considerado um bom indicador devido ao seu reduzido e específico grau de tolerância a um determinado fator ambiental, de modo que apresente uma resposta nítida em face de pequenas variações na qualidade do ambiente. A sua utilização tem como vantagem a sua capacidade para formar cistos dormentes, fornecendo, desse modo, material biológico que pode ser armazenado durante longos períodos de tempo (superiores a seis meses) sem perda de viabilidade e sem necessidade de se manter culturas contínuas de organismos-teste, além de ser uma espécie de fácil manipulação (AMARAL & SILVA, 2008). 3. Atividade Antifúngica Através de clonagem molecular, foi codificada da espécie C. esculenta uma fitocistatina que exibiu forte atividade inibitória cisteína protease. Essa tarocistatina, fitocistatina presente no taro, revelou sua atividade antifúngica por causar um efeito tóxico no crescimento do micélio de fungos fitopatogênicos tais como Sclerotium rofsii Sacc; e também demonstrou ser capaz de bloquear a cisteína protease endógena do micélio fúngico. Isso indica que a tarocistatina tem potencial para desenvolver um agente fungicida (YANG & YEH, 2005). As infecções hospitalares causadas por fungos tem-se tornado um problema crescente de saúde publica em muitos países. Segundo o Sistema Nacional de Vigilância das Infecções Hospitalares dos Estados Unidos, a prevalência de infecções fúngicas passou de 6% em 1980 para 10,4% em 1990. Cerca de 80% dessas infecções foram causadas por leveduras do gênero Candida. (BECK-SAGUÉ & JARVIS, 1993). Aproximadamente, 200 espécies de Candida são reconhecidas e cerca de 10% podem causar infecções em seres humanos. Destas, a C. albicans é a espécie mais frequentemente descrita em casos de infecções hospitalares em vários países. Entretanto, outras espécies como C. parapsilosis, C. tropicalis e C. glabrata também apresentam altas prevalências. 11 No Brasil, as espécies mais prevalentes são C. albicans, C. parapsilosis e C. tropicalis (MALUCHE & SANTOS, 2008). A espécie C. albicans é comum do trato gastrointestinal, genital e cutâneo dos seres humanos. A espécie C. parapsilosis é encontrada frequentemente na pele, sendo transmitida com freqüência às crianças e recém-nascidos prematuros internados em unidades de terapia intensiva. Os fatores de risco associados à sua transmissão são a nutrição parenteral e uso prolongado de cateteres. A C. tropicalis apresenta uma alta prevalência em casos de candidemia. Considera-se que 50 a 60% dos pacientes colonizados por esta espécie desenvolvam infecções sistêmicas. C. glabrata representa a quarta causa de infecção hospitalar fúngica por leveduras no Brasil. Esta espécie está associada tanto a casos de candidemia em pacientes mais idosos quanto em casos de candidúria. Além disso, esta espécie desenvolve resistência a terapêutica pelo fluconazol com freqüência. As candidíases são infecções oportunistas e acometem com frequência pacientes com o sistema imunológico comprometido, pacientes neutropênicos, aidéticos, diabéticos e em casos de câncer e doenças hematológicas (LIMA et al; 2006; MALUCHE & SANTOS, 2008). Avaliar a ação antifúngica do extrato de C. esculenta sobre esses patógenos auxiliará na busca por novos tratamentos, já que é crescente o desenvolvimento de resistência pelos agentes terapêuticos existentes. Não existe um consenso sobre o nível de inibição aceitável para produtos naturais quando comparados com antibióticos padrões, tanto que há relatos na literatura que consideram somente resultados similares aos de antibióticos, enquanto outros consideram com bom potencial mesmo aqueles com níveis de inibições inferiores. ALIGIANIS et al. (2001) propuseram uma classificação para materiais vegetais com base nos resultados de MIC (concentração inibitória mínima), considerando: forte inibição – MIC até 500 µg/mL; inibição moderada – MIC entre 600 e 1500 µg/mL e como fraca inibição - MIC acima de 1600 µg/mL. Já no trabalho de MAGINA et al. (2007), foram considerados ativos, os extratos com MIC menor que 1000 µg/mL, e, muito ativos os extratos com MIC inferior a 100 µg/mL. 4. Hipercolesterolemia O fato de coelhos serem sensíveis a dietas ricas em colesterol e acumularem grandes quantidades no plasma faz com que a utilização destes animais como modelo experimental para avaliar o desenvolvimento de hipercolesterolemia e aterosclerose seja de grande relevância, trazendo informação sobre fatores que contribuem para progressão e regressão aplicadas a situações humanas (DORNAS et al; 2010). Para induzir hipercolesterolemia em animais têm-se utilizado 12 dietas contendo colesterol, as quais variam de rações comerciais suplementadas com níveis substancialmente diferentes de colesterol, assim como modificações nas porções de lipídio e carboidrato e nas diferentes fontes e conteúdos de gordura, contendo ou não ácido cólico (LICHTMAN et al; 1999). Coelhos com 1% de suplementação de colesterol na dieta por 8-10 semanas apresentam prejudicada vasodilatação do endotélio na artéria carótida e anormalidades na síntese do óxido nítrico (NO) demonstradas em vasos ateroscleróticos. Considerando a hiperlipidemia e aterosclerose, os segmentos aórticos de coelhos hipercolesterolêmicos mostram redução significante de óxido nítrico sintase (NOS) endotelial em relação aos animais controle (KAWASHIMA & YOKOYAMA, 2004; JIMÉNEZ et al; 2001). O aumento de óxido nítrico basal e de vasodilatadores derivados do endotélio é visto em maior quantidade em anéis aórticos do endotélio de coelhos do sexo feminino do que em machos e depende da concentração de estradiol circulante; portanto, fêmeas são menos inclinadas à dieta para indução de lesões ateroscleróticas do que machos, mas dependem do estado do endotélio arterial. Estradiol inibe a adesão de monócitos sobre células endoteliais com migração transendotelial, componentes de uma resposta inflamatória que ocorre continuamente através do processo aterogênico após hipercolesterolemia induzida em coelhos (HOLM et al; 1998; NATHAN et al; 1999). O coelho é uma espécie animal que tem vários aspectos similares aos dos humanos em relação ao metabolismo de lipoproteínas, exceto pela deficiência de lipase hepática. Várias características dos coelhos fazem deles um excelente modelo para avaliar os efeitos dos transgenes humanos sobre metabolismo de lipoproteínas e susceptibilidade para aterosclerose: 1) lipoproteínas contendo ApoB são similares àquelas vistas em humanos; 2) fígado de coelhos produzem VLDL contendo ApoB-100, como em humanos; 3) abundância de proteína de transferência de ésteres no plasma de coelhos (CHAPMAN, 1980; NAGASHIMA et al; 1988; GREEVE et al; 1993). Pelo menos 4 mecanismos são responsáveis pela homeostase do colesterol e afetam as concentrações de colesterol plasmático: • Síntese através do acetato como regulador pela formação de ácido mevalônico para 3hidroxi-3-metilglutaril coenzima A que é catalisada pela enzima taxa limitante HMG-CoA redutase; • Expressão de receptores LDL, especialmente no fígado, onde mais da metade dos receptores estão localizados, com diminuição do colesterol plasmático acompanhado pela redução dos níveis de LDL; • Consumo dietético de colesterol; • Transformação do colesterol em ácido biliar, a maior via catabólica para colesterol que, 13 regulada pela formação da 7 α-hidroxicolesterol, é catalisada pela enzima 7α-hidroxilase (DORNAS et al, 2010). Em coelhos, a atividade da 7α-hidroxilase e níveis de mRNA são inibidos após dieta hipercolesterolêmica com níveis de colesterol plasmático substancialmente elevados. Entretanto, alimentando coelhos com 0,1% de suplementação de colesterol por 7 meses, estes não produziram hipercolesterolemia, ao passo que aumentando gradualmente o consumo de colesterol dietético, aumentou-se o tamanho do pool de ácidos biliares inversamente à atividade da 7α-hidroxilase (OVERTURF et al; 1989). A excreção de ácidos biliares aumenta a taxa do clearance, o qual diminui a concentração efetiva do colesterol intracelular, impedindo que o colesterol exerça influência sobre a expressão do receptor de LDL, já que os ácidos biliares são predominantemente reabsorvidos pela circulação êntero-hepática e retornam ao fígado para exercer controle de retroalimentação negativa sobre a enzima 7α-hidroxilase e para regular o metabolismo do colesterol (POORMAN et al; 1993). Ácidos biliares são conhecidos por serem reabsorvidos no intestino por mecanismos passivos e ativos. Passivamente, o consumo ocorre via não iônica, iônica e difusão de micelas conjugadas ou não conjugadas a ácidos biliares e, ativamente, a absorção saturável ocorre via Na+ dependente de ácidos biliares conjugados contra o gradiente de concentração. Várias espécies, incluindo coelhos, demostram possuir ambos os processos de reabsorção de ácidos biliares. E, no entanto, devido à natureza hidrofílica relativa de ácidos biliares conjugados eles sofrem uma reabsorção intestinal passiva mínima. O sítio primário de reabsorção de ácido biliar predominantemente é mediado por co-transportador ácido biliar Na+/bile ileal (ABST) e, a interrupção da circulação êntero-hepática dos ácidos biliares pela atenuação da reabsorção de ácidos biliares intestinais é considerada uma das melhores vias de redução dos níveis de colesterol plasmático. Foi demonstrado com inibidor de ABST redução das quantidades de retorno de ácido biliar para o fígado e aumento da conversão de colesterol para ácido biliar em coelhos alimentados com colesterol (HIGAKI et al; 1998). O efeito inibitório do colesterol dietético sobre 7α-hidroxilase em coelhos pode ajudar a explicar porque alguns indivíduos são mais sensíveis ao colesterol na dieta e aumentam as concentrações plasmáticas. Esses indivíduos podem responder a dieta hipercolesterolêmica com diminuída síntese de ácido biliar contribuindo para elevar os níveis de colesterol plasmáticos e reduzir os receptores de LDL. Alternativamente, outras pessoas respondem para dieta rica em colesterol com a síntese de ácido biliar sendo estimulada e, assim, os níveis de colesterol plasmáticos não aumentam. Identificando esses indivíduos, pode-se ajudar a esclarecer seu risco aterogênico e, assim, usar recomendações dietéticas mais sensíveis para o tratamento (DORNAS et al; 2010). 14 Nesse sentido, o coelho como modelo experimental é uma importante ferramenta para o estudo da hipercolesterolemia e aterosclerose. Representa, dentre outros animais estudados, como o rato, o único que tem tendência para exibir hipercolesterolemia pela acumulação de colesterol exógeno com poucos dias de altas concentrações na dieta, já que não pode aumentar a excreção de esteróis. No entanto, cuidadosas extrapolações devem ser realizadas em relação ao grau de hipercolesterolemia produzido em animais de laboratório, uma vez que excedem o que usualmente encontramos em humanos (DORNAS et al; 2010). Diante do quadro hipercolesterolêmico é crescente o interesse em se obter tratamentos alternativos e/ou complementares e, dentro do reino vegetal, existe um grande potencial para alcançar esse fim. Os quatro grandes grupos de compostos bioativos presentes nas plantas: substâncias nitrogenadas, terpênicas, fenólicas e compostos com enxofre, são fitoquímicos muito importantes para a saúde humana. Especificamente, na prevenção de problemas cardiovasculares e cerebrovasculares esses fitoquímicos atuam nos seguintes processos: (MARTÍNEZ-NAVARRETE et al; 2008) • modificação oxidativa do LDL e seu papel na aterogenia; • atenuação dos processos inflamatórios na aterosclerose; • redução da trombose; • promoção da função normal do endotélio; • bloqueio da expressão de moléculas que controlam a adesão celular e • aumento da capacidade antioxidante do plasma e reatividade das plaquetas. Estudos demonstraram que alguns polissacarídeos possuem efeito hipolipemiante, principalmente os glicoconjugados, moléculas abundantes do taro, em que uma proteína carreia uma ou mais cadeias de carboidratos ligados covalentemente ao esqueleto polipeptídico usualmente via ligações N- ou O-. Além do efeito de diminuir o colesterol total plasmático, triglicerídeos, LDL e aumentar HDL (lipoproteína de baixa densidade), esses polissacarídeos também contribuem para a inibição da aterosclerose (NIE & XIE, 2011). A arabinogalactana é uma mucilagem presente nos tubérculos de C. esculenta com potencial para diminuir o nível de colesterol sérico e tissular. Ratos normocolesterolêmicos alimentados com mucilagem extraída do taro não apresentaram diferença estatisticamente significativa quanto ao ganho de massa corporal, níveis de AST (Aspartato aminotransferase, também chamada TGO: Transaminase glutâmico-oxalacética), ALT (Alanina aminotransferase, também chamada TGP: Transaminase glutâmico-pirúvica), proteína total e razão albumina:globulina quando comparados ao grupo controle. Porém, em relação ao perfil lipídico sérico observou-se diminuição do colesterol total, dos triglicerídeos, da fração VLDL+LDL e da 15 ApoB (principal apoproteína presente em VLDL e LDL) e aumento da fração HDL/VLDL+LDL. Quanto aos lipídios teciduais também observou-se ação hipolipemiante no fígado e na aorta. Verificou-se que a excreção de ácidos biliares e esteróis fecais aumentaram em relação ao grupo controle. A diminuição da síntese e secreção de ApoB no fígado desses animais indica redução da síntese e secreção de partículas de VLDL (BOBAN et al; 2006). O tratamento de ratos diabéticos com o extrato etanólico de taro diminui o colesterol total sérico e a glicemia desses animais quando comparados ao grupo controle normal, demonstrando, então, seu efeito benéfico tanto na diabetes melitus quanto em dislipidemias (GRINDLEY, et al; 2000). Animais alimentados com dieta suplementada com taro apresentaram significante redução na concentração de colesterol hepático total, livre e esterificado, assim como nos níveis de fosfolipídios hepáticos. Esse fato sugere que dieta à base de taro é recomendada para redução e manutenção de baixas concentrações lipídicas (IGWE, et al; 2004). Além disso, Colocasia esculenta, apresenta na sua constituição outras substâncias com ação hipolipemiante: fitosteróis, saponinas, ácido linoléico, mucilagem, niacina, ácido oléico, ácido ascórbico, etc. Os fitosteróis presentes no taro, entre eles o β-sitosterol, desempenham funções estruturais análogas ao colesterol e reduzem a colesterolemia por diferentes mecanismos (MCEWAN, 2008; GYLLING, et al; 1995). Relatos sugerem que os níveis de colesterol total e LDL em animais e humanos diminuem após o consumo de fitosteróis ricos em β-sitosterol (POLLAK & KRITCHEVSKY, 1981; PELLETIER, et al; 1995; MOGHADASIAN, et al; 1997; JONES, et al; 1997). Foi demonstrado em animais e em humanos que as saponinas têm efeito hipolipemiante por formarem complexos com o colesterol e sais biliares diminuindo, então, a absorção e reabsorção, respectivamente, dessas moléculas (OAKENFULL & SIDHN, 1990; MATSUURA, 2001; JONES, et al; 1997). Diferentes mecanismos, que podem agir em conjunto e/ou em sinergia, têm sido sugeridos para explicar a ação hipolipemiante de fibras solúveis, entre eles: • Diminuição da reabsorção de ácidos biliares, • Interferência com o metabolismo lipídico pelo SCFA (produto fermentado da mucilagem) produzido no cólon pela fermentação microbiana, • Redução de VLDL, LDL e ApoB associada a essas lipoproteínas plasmáticas, • Aumento da excreção de colesterol e ácidos biliares nas fezes e • Diminuição da absorção de colesterol da dieta. Os fármacos mais utilizados para tratar a hipercolesterolemia, as estatinas, são inibidores de uma enzima da via biossintética do colesterol (Figura 2), a HMG-CoA redutase. 16 Figura 2: Esquema da via biossintética do colesterol. A administração em longo prazo desses fármacos está relacionada ao surgimento de efeitos indesejáveis relacionados à diminuição da produção de metabólitos isoprenóides não-esteroidais fisiologicamente essenciais, tais como: dolicol, geranil difosfato (GPP) e farnesil difosfato (FPP). A enzima lanosterol sintase também faz parte da biossíntese do colesterol e se encontra mais no fim da via, assim um fármaco que atue na sua inibição promoveria menor possibilidade de desenvolvimento de efeitos colaterais. Em um estudo de inibição da enzima lanosterol sintase foram testados os extratos etanólicos de 130 amostras de vegetais e a espécie C. esculenta foi a que demonstrou o maior efeito inibitório chegando a 55% de inibição dessa enzima, com variação entre cultivares. Os constituintes de C. esculenta identificados como ativos foram Monogalactosildiacilgliceróis (MGDGs) e Digalactosildiacilgliceróis (DGDGs) (Figura 3). MGDGs e DGDGs são menos potentes que inibidores conhecidos como laurildimetilamina N-óxido (LDAO) e lanofilinas, mas não os exclui de se tornarem agentes na prevenção e tratamento auxiliar da 17 hipercolesterolemia. Figura 3: Constituintes de C. esculenta: MGDG e DGDG. Fonte: SAKANO et al. (2005). A capacidade do extrato de taro em inibir a enzima lanosterol sintase sugere que a espécie C. esculenta tem uma potencial habilidade para reduzir o nível de colesterol sanguíneo. Em conformidade com isso, estudos relataram que pessoas em Nova Guiné, que têm o taro como base da sua alimentação possuem o nível de colesterol sérico mais baixo que os europeus e ainda, ratos alimentados com dieta rica em colesterol suplementada com tubéculos cozidos de taro apresentaram redução dos níveis séricos de colesterol e triglicerídeos (SAKANO et al; 2005) (TANAKA, et al; 2005). Além do efeito hipolipemiante, o taro atua também na proteção contra a aterosclerose através de constituintes com ação antioxidante e antiinflamatória presentes, entre eles os fitosteróis e flavonídes. Compostos com atividade antioxidante evitam o aparecimento da LDL oxidada que se liga a macrófagos no endotélio vascular e dá início à formação da placa aterosclerótica. E, constituintes com atividade antiinflamatória inibem o processo inflamatório que precede a formação das células espumosas que se desenvolvem no vaso sanguíneo durante o processo aterosclerótico (POLLAK & KRITCHEVSKY, 1981). Observa-se que existem diversos mecanismos pelos quais o taro pode agir como hipolipemiante, sendo que estes podem atuar em conjunto e/ou sinergia. 18 OBJETIVOS a) A partir dos rizomas-filhos de Colocasia esculenta, objetiva-se obter a tintura e o extrato de taro. b) Avaliar a ação do extrato de taro no ensaio de letalidade com Artemia salina Leach. c) Avaliar a ação do extrato de Colocasia esculenta em ensaio antifúngico. d) Avaliar a ação da tintura de taro na hipercolesterolemia in vivo. 1. Objetivos específicos • Preparar a matéria-prima vegetal • Produzir a tintura de taro para ser usada no teste da hipercolesterolemia • Determinar o resíduo seco da tintura de taro • Obter o extrato seco de Colocasia esculenta para ser usado nos testes de letalidade e antifúngico • Avaliar a toxicidade aguda do taro frente ao teste de letalidade com Artemia salina • Avaliar a concentração inibitória mínima (MIC) do extrato de taro no teste antifúngico de microdiluição em caldo sobre quatro espécies de Candida. • Induzir hipercolesterolemia e tratar os animais com 3 doses diferentes da tintura de taro. • Cálculo de doses da tintura de taro para o teste da hipercolesterolemia • Analisar os parâmetros bioquímicos sanguíneos dos animais para verificar a eficácia do tratamento com a tintura de taro na hipercolesterolemia. • Acompanhar o peso dos animais no teste de hipercolesterolemia. • Verificar o aspecto macroscópico do fígado dos animais ao final do experimento de hipercolesterolemia. MATERIAL E MÉTODOS 1. Material vegetal Foram utilizados rizomas-filhos de taro [(Colocasia esculenta (L.) Schott)], variedade Japonês (BGH - Banco de Germoplasma de Hortaliças - 5925), obtidos de cultivo realizado em sistema orgânico, na Horta de Pesquisas do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de 19 Viçosa, em Viçosa, MG, durante o período de 10/09/2009 a 10/06/2010. O solo utilizado para o cultivo é classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo, textura argilosa, e apresentou os seguintes resultados após as análises químicas: pH em H2O = 6,3; P = 90,7 e K = 90,0 mg/dm3; Ca2+ = 5,3, Mg2+ = 0,9, Al3+ = 0,0, H + Al = 4,13, SB = 6,43, CTC(t) = 6,43 e CTC (T) = 10,56 cmolc/dm3; V = 61 e m = 0,0 %; MO = 3,7 dag/kg; Zn = 12,8, Fe = 59,4, Mn = 235,4, Cu = 3,5 e B = 1,3 mg/dm3. O plantio foi realizado em sulcos espaçados de 1,0 m e as plantas a cada 0,30 m dentro da linha, com população de 33.333 plantas/ha. Não foi realizado nenhum tipo de adubação, nem aplicação de defensivos agrícolas. As capinas, em número de seis ao longo do ciclo, foram realizadas manualmente, com auxílio de enxada, de acordo com o surgimento das plantas invasoras. Foram realizadas irrigações semanais, por aspersão, de maneira a fornecer lâmina de água de 40 mm/semana. As irrigações foram suspensas 25 dias antes da colheita. Nove meses após o plantio, a colheita foi realizada manualmente, com auxílio de enxadão, estando as plantas amadurecidas, ou seja, com 90 % das folhas senescentes. 2. Preparo do vegetal Após a aquisição do vegetal, foi realizada a triagem e limpeza dos rizomas de C. esculenta com descarte daqueles com sinal de deterioração. Aqueles selecionados foram descascados, lavados, fatiados e colocados em estufa com circulação forçada de ar, à 40°C, até peso constante, para secagem. Posteriormente, esse material foi triturado em moinho de facas obtendo-se, então, a droga vegetal pulverizada. 2.1. Obtenção da tintura de taro Tintura é uma preparação líquida, resultante da ação dissolvente e/ou extrativa de um solvente sobre uma determinada droga, animal ou vegetal, considerada uma forma farmacêutica básica. A tintura de taro foi preparada por maceração segundo o procedimento descrito na FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2° Ed, 1959. A droga pulverizada foi macerada em álcool etílico de cereais, 93,8°INPM, lote 035-01-10, de origem nacional, fabricado pela AGRO INDL. TARUMÃ, na proporção de 1:5, durante 8 dias com agitação freqüente. Após filtração, a tintura foi acondicionada em recipiente bem fechado ao abrigo da luz e do calor. 20 2.2. Resíduo seco da tintura de taro O resíduo seco é uma característica específica das tinturas, ou seja, cada tintura possui um valor diferente de resíduo seco. Para a determinação do resíduo seco, partiu-se de um peso fixo da tintura, 10,043g, colocada em recipiente tarado, a 100-105°C, para evaporação do solvente, até peso constante (PRISTA et al; 1979). 2.3. Obtenção do extrato de taro Como a tintura é obtida através de um processo de extração, a evaporação do solvente fornece o extrato seco do vegetal. Assim, o extrato seco do taro foi obtido pela evaporação do álcool etílico em rotavapor. 3. Ensaio de letalidade com Artemia salina Leach O ensaio foi realizado segundo o procedimento descrito na literatura por Meyer et al. (1982). 20 mg do extrato de taro foi dissolvido em 2 mL de álcool etílico e dessa solução, amostras de 5, 50, 250 e 500 µL foram transferidas, em triplicata, para frascos de 5 mL. Após a remoção total do solvente, 5 mL de solução salina 0,38 g/L, foi adicionada em cada um dos frascos, resultando em soluções do extrato de taro com as seguintes concentrações finais: 10, 100, 500 e 1000 µg/mL, respectivamente. Larvas de A. salina (10/frasco) foram adicionadas e após 24 h de contato, os sobreviventes foram contados. Para a preparação das larvas, os cistos de A. salina foram incubados em um pequeno aquário contendo a solução salina pH 9,0 (10mg de cistos/100mL de solução). Foi mantida uma iluminação artificial de 28ºC e o estado de saturação de oxigênio foi conseguido com auxílio de uma bomba. Após 24 horas, as larvas (náuplio) foram filtradas e recolocadas no aquário, mantendo-as em incubação por mais 24 horas, nas mesmas condições de luz e de calor mencionados. Após essas incubações, as larvas atingiram o estágio de metanáuplio do microcrustáceo, que é mais sensível ao tratamento. Assim, o bioensaio envolvendo Artemia salina consistiu em distribuir dez larvas em cada placa de cultura na presença de concentrações graduais do extrato de taro em triplicata. A análise foi feita comparativamente ao controle positivo e negativo, após 24h e 48h de incubação no escuro. Foram consideradas larvas mortas todas que não apresentavam qualquer movimento ativo em cerca de vinte segundos de observação. O resultado foi avaliado a partir da quantidade de larvas mortas: 21 morte inferior a 50%, próximo a 50% e superior a 50%, e ainda, um controle que continha apenas as larvas e a solução salina (controle negativo) e o controle positivo, com as larvas e lapachol, que é uma substância conhecidamente tóxica a A. salina. 4. Teste antifúngico de microdiluição em caldo O teste antifúngico foi realizado segundo o método de microdiluição em caldo preconizado pelo CLSI (Clinical and Laboratory Standards Institute), documento M27-A29. A metodologia para esse teste é dividida em quatro etapas: 1) Preparo das diluições do extrato de taro; 2) Preparo das diluições dos fármacos (Cetoconazol e Fluconazol); 3) Preparo dos inóculos: 4 espécies de Candida (C. Albicans, C. tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei); 4) Plaqueamento. Na etapa 1, 12,0 mg do extrato foram diluídas em 6,0 mL de DMSO (dimetilsulfóxido), resultando em uma solução com concentração 2000 µg/mL. Dessa solução, retirou-se uma alíquota de 5,12 mL e adicionou-se 4,88 mL do meio de cultura RPMI (Roswell Park Memorial Institute), obtendo-se, então, um preparado de 10 mL na concentração de 1024 µg/mL. Esse preparado representa o tubo inicial para as diluições. Em seguida, foram feitas diluições sucessivas a fim de se obter as seguintes concentrações: 512,0; 256,0; 128,0; 64,0; 32,0; 16,0; 8,0; 4,0; 2,0 e 1,0 µg/mL. Para isso, utilizou-se dez tubos de ensaio, cada um contendo 5 mL de meio RPMI, transferiu-se 5 mL do tubo inicial para o tubo 1 obtendo-se 10 ml de preparado na concentração 512 µg/mL, o procedimento foi repetido, seqüencialmente, até completar as dez diluições diferentes, conforme esquema abaixo: 5 mL 5 mL 1 Tubo inicial: solução do extrato de Taro em meio RPMI 1024 µg/mL 512 μg/mL 5 mL 5 mL 2 3 256 μg/mL 128 μg/mL ... 4 64 μg/mL 10 1 μg/mL Figura 4: Esquema de diluição do extrato de taro. 22 Na etapa 2, para as diluições dos fármacos padrões, procedeu-se igualmente às diluições do extrato, porém, as concentrações obtidas foram diferentes. Para o fluconazol obteve-se as seguintes concentrações: 64 µg/mL, 32 µg/mL, 16 µg/mL, 8µg/mL, 4µg/mL, 2 µg/mL, 1 µg/mL, 0,5 µg/mL, 0,25 µg/mL, 0,125 µg/mL. E para o cetoconazol: 32 µg/mL, 16 µg/mL, 8µg/mL, 4µg/mL, 2 µg/mL, 1 µg/mL, 0,5 µg/mL, 0,25 µg/mL, 0,125 µg/mL, 0,0625 µg/mL. Na etapa 3, 24 horas antes do plaqueamento, os inóculos foram semeados em um tubo separado. Após o crescimento das colônias, em tubos de ensaio contendo 5 mL de salina, diluiu-se cada inoculo, separadamente, a fim de se obter uma concentração de 103 células, segundo a Escala Mcfarland de turvação. Uma alíquota dessa suspensão de células foi diluída em DMSO, formando um preparado na proporção de 1:1000. Na etapa 4, o plaqueamento iniciou-se da menor para a maior concentração para minimizar erros analíticos. Foram feitos dois testes cada um em duplicata, uma placa comparando extrato/ Fluconazol e a outra extrato/ Cetoconazol. Primeiramente, colocou-se o controle negativo que é formado apenas de 200 µL de RPMI; e depois o controle positivo, composto por 100 µL de RPMI + 100 µL de inóculo. Feito isso, seguiu-se o plaqueamento do extrato, seguido pelo plaqueamento do fármaco e, por fim, do inóculo. Segue abaixo o esquema da placa: 23 - 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 - C. Albicans + A extrato C. tropicalis + B extrato C. parapsilosis + C extrato C. krusei + D C. Albicans + E extrato fármaco C. tropicalis + F fármaco C. parapsilosis + G fármaco C. krusei + H fármaco - C- C+ Teste do extrato de taro C+ Controle positivo Teste do antifúngico padrão (cetoconazol/fluconazol) C- - Controle negativo Figura 5: Esquema do plaqueamento para teste antifúngico. A placa foi mantida em estufa aquecida a 28 °C e a leitura dos resultados foi realizada após 2 dias. A ausência de turvação do meio foi considerada como resultado positivo, ou seja, ocorreu inibição do crescimento fúngico, e a MIC foi definida como a menor concentração com ação antifúngica. Como resultado negativo considerou-se a ocorrência de turvação do meio. 5. Hipercolesterolemia in vivo Utilizou-se 36 coelhos machos da raça Nova Zelândia com idade de 55 dias e peso médio de 2,3 Kg. Os animais foram fornecidos pelo setor de Cunicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa. Durante o experimento, eles foram mantidos na área experimental 24 do Laboratório de Biofármacos da UFV, em gaiolas individuais, com temperatura na faixa de 22 a 24ºC e fotoperíodo de 12 horas. Os animais passaram por um período de adaptação de sete dias e após esse período o experimento teve duração de 28 dias. Diariamente e concomitantemente, foram alimentados com 120 g de ração e água ad libitum, sofreram indução de hipercolesterolemia pelo suplemento de 1% (1,2 g) de colesterol (Vetec®) na dieta e foram tratados com tintura de taro 20% e o fármaco referência Sinvastatina. Os coelhos foram pesados no início, após 15 dias e ao final do experimento para avaliar o ganho de massa corporal. Passados os 28 dias 12h e o sangue obtido pela punção cardíaca foi submetido à análise bioquímica dos seguintes parâmetros: Colesterol total, frações HDL, LDL, VLDL e triglicérides para verificar a eficácia do tratamento sobre o perfil lipídico sérico; glicose , foram sacrificados. Após a administração dos anestésicos Xilazina (5 mg/kg) e Cetamina (20 mg/kg) por via intramuscular, foi feita a exanguinação (punção cardíaca) e coletou-se o fígado para análise macroscópica. Antes da eutanásia, os animais foram submetidos a jejum de para avaliar o perfil glicêmico; uréia e creatinina para ver possíveis influências na função renal; e ALT, AST, fosfatase alcalina, gama-GT, albumina e proteínas totais para analisar a função hepática. Foram utilizados Kits reagentes Bioclin – Quibasa e equipamento multiparamétrico – Alizé (Analisador Automático de Bioquímica). Para a análise da glicose o sangue foi coletado em tubo com fluoreto e para as demais análises foi utilizado sangue heparinizado. Diluição e cálculo das doses da tintura de taro Devido ao alto teor alcoólico das tinturas, para sua utilização, deve-se fazer uma diluição. Assim, a partir da mistura de tintura de taro/água filtrada na proporção de 20:80 obteve-se a tintura de taro a 20%. A concentração das doses da tintura de taro 20% foi calculada a partir do valor do resíduo seco: 0,49%. Assim têm-se os seguintes valores expressos em miligrama de resíduo vegetal por mililitro de tintura. • Dose I (2 mL): 1,9 mg/mL • Dose II (5 mL): 4,9 mg/mL • Dose III (10 mL): 9,8 mg/mL 25 Delineamento experimental - Seis grupos com seis animais por grupo. • G1 – controle normal o dieta normal (apenas ração) • G2 – controle doente não tratado o dieta com colesterol 1% (ração suplementada com colesterol) • G3 – doente tratado dose I o dieta com colesterol 1% e 2 mL de tintura de taro 20% • G4 – doente tratado dose II o dieta com colesterol 1% e 5 mL de tintura de taro 20% • G5 – doente tratado dose III o dieta com colesterol 1% e 10 mL de tintura de taro 20% • G6 – doente tratado fármaco padrão o dieta com colesterol 1% e Sinvastatina 20 mg Análise estatística O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, com seis grupos e seis repetições. Os dados foram apresentados como média ± desvio padrão, com n ≥ 6 para cada grupo experimental. Os resultados foram submetidos à análise de variância (one-way ANOVA) seguida do teste de Dunnet, para análise dos grupos testes em relação ao grupo controle e Teste de Tukey para análise dos grupos entre si. Para todas as análises foi utilizado intervalo de confiança de 95%, com p ≤ 0,05. O programa utilizado para realizar as análises estatísticas foi o SAEG 9.1. Aspectos éticos O presente projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética Animal da Universidade Federal de Juiz de Fora. 26 RESULTADOS 1. Tintura e extrato de taro A tintura produzida caracterizou-se como um líquido límpido, amarelo claro, com cheiro e sabor fortes. O resíduo seco é 0,49% e representa uma característica específica da tintura de taro. 2. Ensaio de letalidade com Artemia salina Leach As tabelas abaixo mostram os resultados obtidos. Tabela 1: Toxicidade do extrato de taro frente a A. salina EXTRATO DE TARO LARVAS VIVAS LARVAS MORTAS TOTAL 10 µg/mL 10 - 10 10 µg/mL 10 - 10 10 µg/mL 10 - 10 100 µg/mL 9 1 10 100 µg/mL 10 - 10 100 µg/mL 10 - 10 500 µg/mL 7 3 10 500 µg/mL 8 2 10 500 µg/mL 10 - 10 1000 µg/mL 7 3 10 1000 µg/mL 10 - 10 1000 µg/mL 10 - 10 27 Tabela 2: Controle positivo do teste de toxicidade LAPACHOL LARVAS VIVAS LARVAS MORTAS TOTAL 10 µg/mL 10 - 10 10 µg/mL 7 3 10 10 µg/mL 9 1 10 100 µg/mL 3 7 10 100 µg/mL 1 9 10 100 µg/mL 1 9 10 500 µg/mL - 10 10 500 µg/mL - 10 10 500 µg/mL - 10 10 1000 µg/mL - 10 10 1000 µg/mL - 10 10 1000 µg/mL - 10 10 Tabela 3: Controle negativo do teste de toxicidade SALINA LARVAS VIVAS LARVAS MORTAS TOTAL 0,38 g/L 10 - 10 0,38 g/L 10 - 10 0,38 g/L 10 - 10 De acordo com os dados obtidos, observou-se que na concentração de 10 µg/mL o extrato de taro não foi letal, quando em 100 µg/mL ocorreu a morte de 3,3% e nas dosagens de 500 e 1000 µg/mL, 16,6% e 10,0% das larvas morreram, respectivamente (Tabela 1). Assim, o extrato de taro provocou morte inferior a 50%. Em comparação com os dados obtidos no controle positivo (Tabela 2), o extrato de taro apresentou baixa toxicidade, pois com a utilização do lapachol, substância conhecidamente tóxica, a letalidade foi de 13,3% na concentração de 10 µg/mL, 83,3% em 100 µg/mL e nas concentrações de 500 e 1000 µg/mL ocorreu morte de 100,0%. O controle negativo, onde há apenas salina, indica que não há interferência do meio no desenvolvimento das larvas, já que não houve nenhuma larva morta. 28 3. Teste antifúngico de microdiluição em caldo As tabelas e fotos abaixo demonstram os resultados obtidos no teste antifúngico. Tabela 4: Resultado do teste antifúngico do extrato de taro e do fármaco Fluconazol Poço 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 512 256 128 64 32 16 8 4 2 1 µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL nc nc nc c c c c c c c c c nc nc nc c c c c c c c c c nc nc nc c c c c c c c c c nc nc nc c c c c c c c c c 32 16 8 4 2 1 0,5 0,25 0,125 0,0625 µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL nc nc nc nc nc nc nc nc c c c c nc c c c c c c c c c c c nc nc nc nc nc nc nc nc c c c c nc nc nc nc nc nc nc nc c c c c 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 C C. Albicans + extrato C. tropicalis + extrato C. parapsilosis + extrato C. krusei + extrato CC. Albicans + Fluconazol C. tropicalis + Fluconazol C. parapsilosis + Fluconazol C. krusei + Fluconazol Poço 12 C+ C - : controle negativo; C + : controle positivo; nc: não houve crescimento fúngico; c: houve crescimento fúngico 29 C+ Figura 6: Placa multipoço com o teste antifúngico do extrato de taro em relação ao fármaco Fluconazol. Poços brancos: turvação/Poços límpidos: ausência de turvação. Tabela 5: Resultado do teste antifúngico do extrato de taro e do fármaco Cetoconazol Poço Teste Extrato e Fluconazol C. Albicans + extrato C. tropicalis + extrato C. parapsilosis + extrato C. krusei + extrato 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 512 256 128 64 32 16 8 4 2 1 µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL nc nc nc c c c c c c c c c nc nc nc c c c c c c c c c nc nc nc c c c c c c c c c nc nc nc c c c c c c c c c 64 32 16 8 4 2 1 0,5 0,25 0,125 µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL µg/mL nc nc nc nc nc nc nc nc nc nc nc c nc nc nc nc c c c c c c c c nc nc nc nc nc nc nc nc nc nc nc c nc nc nc nc nc nc nc nc nc nc nc c 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 C - CC. Albicans + Cetoconazol C. tropicalis + Cetoconazol C. parapsilosis + Cetoconazol C. krusei + Cetoconazol Poço 12 C+ C - : controle negativo; C + : controle positivo; nc: não houve crescimento fúngico; c: houve crescimento fúngico 30 C+ Figura 5: Placa multipoço com o teste antifúngico do extrato de taro em relação ao fármaco Cetoconazol. Poços brancos: turvação/Poços límpidos: ausência de turvação. A concentração inibitória mínima (MIC) verificada no extrato de taro contra as 4 espécies de Candida foi de 256 µg/mL. A MIC do fluconazol e do cetoconazol é para C. Albicans: 0,5 e menor que 0,125 µg/mL; para C. tropicalis: maior que 32 e 16 µg/mL; para C. parapsilosis: 0,5 e menor que 0,125 µg/mL; e para C. krusei: 0,5 e menor que o,125 µg/mL, respectivamente. Em comparação com as concentrações inibitórias mínimas do fluconazol e do cetoconazol, o extrato de taro apresentou menor eficácia, mas, segundo a classificação de ALIGIANIS et al. (2001) é considerado um extrato com forte inibição do crescimento fúngico e, de acordo com MAGINA et al. (2007) é classificado como um extrato ativo. 4. Hipercolesterolemia in vivo 1.1. Análise bioquímica ao final do experimento: Após a indução da hipercolesterolemia, a ação da tintura de taro sobre o perfil lipídico sanguíneo foi avaliada com a utilização dos seguintes testes: colesterol total, frações HDL, LDL e VLDL e triglicerídeos. As outras análises realizadas tiveram o objetivo de verificar possíveis interferências da utilização da tintura de taro sobre o funcionamento do organismo. A análise do colesterol total permite avaliar o risco aterogênico, já que em níveis elevados se torna um dos fatores contribuintes para a formação de ateromas. O risco de contrair doença cardíaca coronariana aumenta proporcionalmente, com o aumento do colesterol total. Assim, a avaliação dessa substância contribui para detectar e prevenir o desenvolvimento de doenças cardíacas. Dentro 31 do perfil lipídico, a fração HDL do colesterol representa uma proteção para a saúde cardiovascular do organismo pois remove o colesterol do sangue e o transporta de volta ao fígado para ser excretado. É chamado de “bom colesterol” e é desejável que seus níveis sejam os mais elevados possíveis, ao contrário do LDL que é considerado o “mau colesterol” e espera-se que seus níveis sejam os mais baixos possíveis, pois é ele o responsável pelo transporte do colesterol a partir do fígado para os tecidos periféricos. O acúmulo de LDL no plasma resulta em hipercolesterolemia e o aumento de VLDL resulta em hipertrigliceridemia. O VLDL é formado no fígado a partir de triacilgliceróis oriundos de ác. graxos e carboidratos em excesso na dieta, ele transporta os ác. graxos para os músculos e adipócitos. A glicemia foi analisada com o objetivo de verificar se a tintura de taro interfere no índice glicêmico, pois o taro é um vegetal com elevado índice de carboidratos. As análises de uréia e creatinina permitem verificar possíveis interferências na função renal. A uréia é a principal fonte de excreção do nitrogênio, produto do metabolismo das proteínas, e é excretada pelos rins. Desta forma, a uréia está diretamente relacionada à função excretória renal. E a creatinina é produzida nas células a partir do catabolismo da creatina e liberada ao plasma para ser posteriormente filtrada nos glomérulos e excretada na urina. Os outros parâmetros bioquímicos ALT, AST, fosfatase alcalina, gama-GT (gama glutamil transferase), albumina e proteína total dão indícios do funcionamento hepático. A enzima AST é encontrada no fígado, músculos e outros órgãos, já a enzima ALT é encontrada apenas no citoplasma do fígado, tendo maior especificidade para avaliar lesão hepática, ambas são utilizadas para avaliar lesão hepatocelular. A fosfatase alcalina e a gama-GT inferem sobre o fluxo biliar e lesão de vias biliares. E as proteínas totais e albumina servem para avaliar a função de síntese do fígado, já que a albumina é a principal proteína circulante no organismo e é produzida no fígado (BOBAN et al; 2006). 32 Tabela 6: Valores médios de colesterol total em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (mg/dL) A G1 A G2 55,85 A/b --- -91,6% 665.90 B/a +1092,3% --- 759,93 B/a +1260,7% +14,1% 609,73 B/a +991,7% -8,4% 178,46 A/b +219,5% -73,2% 56,68 A/b +1,5% -91,4% GRUPOS G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. 800 700 600 500 400 Colesterol total (mg/dL) 300 200 100 0 G1 G2 G3 G4 G5 G6 Figura 8: Valores médios de colesterol total em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento 33 A partir do experimento realizado, a indução da hipercolesterolemia foi confirmada pela elevação do nível de colesterol total no grupo doente em relação ao grupo controle, representando um aumento cerca de 12 vezes. Isso indica que o modelo experimental utilizado foi adequado, assim como preconizado por DORNAS et al; 2010. De acordo com os resultados, os grupos G5 e G6 apresentaram valores estatisticamente semelhantes ao grupo controle. Foi observado redução do nível de colesterol total nos grupos G4, G5 e G6 quando comparados ao grupo doente. Entre os grupos tratados com a tintura de taro, o G4 apresentou uma discreta redução do colesterol, 8,4%. Já o grupo G5 demonstrou uma maior diminuição, 73,2%, porém esse nível não alcançou a mesma marca do grupo G6 tratado com o fármaco referência, 91,4%. Isso indica que, nas dosagens testadas, apesar da tintura de taro ser menos eficaz que a sinvastatina, ela é capaz de promover redução do colesterol total sérico. Provavelmente, uma maior redução da colesterolemia poderia ser obtida com uma dosagem mais alta ou com a tintura mais concentrada. O fato do tratamento com o fármaco sinvastatina ter apresentado maior eficácia que o tratamento com a dose de 10 mL, não impede que a tintura de taro venha a se tornar um medicamento fitoterápico para a hipercolesterolemia. A sinvastatina é bastante utilizada na terapia da hipercolesterolemia, mas o seu uso contínuo pode levar à rabdomiólise ou desordens do tecido muscular e miopatias diversas. Portanto, um fitoterápico que com 28 dias seja capaz de reduzir em 73,2% o nível de colesterol no sangue pode atuar como preventivo ou co-tratamento auxiliando na terapia da hipercolesterolemia e diminuindo os efeitos colesterais das estatinas. O efeito hipocolesterolêmico da tintura de taro se deve à presença de MGDG e DGDG que inibem a atividade da enzima lanosterol sintase na rota biossintética do colesterol (SAKANO et al; 2005; TANAKA et al; 2005). O conteúdo de fibras, mucilagens, fitosteróis e saponinas também pode contribuir para este efeito. Outro mecanismo envolvido seria o aumento da eliminação de sais biliares (BOBAN et al; 2006). Assim, pode-se verificar que a tintura de taro possui potencial para se tornar um agente hipocolesterolêmico com diferentes mecanismos de ação, agindo em conjunto e em sinergia. O resultado obtido está de acordo com os estudos de IGWE et al. (2004) que demonstrou que animais alimentados com dieta suplementada com taro apresentaram redução na concentração de colesterol; e de LUYKEN & JANSEN (1960) que indicou que pessoas que tem o taro como base da alimentação da sua cultura, como em Nova Guiné, Oceania, apresentam níveis séricos de colesterol mais baixos quando comparados com os europeus. 34 Tabela 7: Valores médios de HDL em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento GRUPOS % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (mg/dL) A G1 A G2 37,85 A/a --- +7,2% 35,30 A/a -6,7% --- 30,70 B/ab -18,9% -13,0% 25,36 B/b -32,9% -28,2% 30,68 B/ab -18,9% -13,0% 24,81 B/b -34,4% -29,7% G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. 40 35 30 25 20 15 HDL (mg/dL) 10 5 0 G1 G2 G3 G4 G5 G6 Figura 9: Valores médios de HDL em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento 35 A partir da análise da fração HDL do colesterol, todos os grupos apresentaram diminuição do nível plasmático de HDL quando comparados ao grupo controle. A maior redução ocorreu no grupo G6, indicando que a sinvastatina promoveu maior diminuição do HDL do que a tintura de taro. A fração HDL é responsável pelo transporte do colesterol das células periféricas para o fígado, onde ele é transformado em ácidos biliares e assim excretado através das vias biliares para o intestino. Existe uma correlação inversa entre as concentrações séricas de HDL colesterol e o risco de doença ateroesclerótica. Concentrações elevadas de HDL protegem contra as cardiopatias coronárias, enquanto que as concentrações diminuídas, sobretudo as associadas a concentrações aumentadas de triglicerídeos, aumentam o risco de doença cardiovascular. Por isso, o HDL é chamado de “bom colesterol”, sendo desejável que seu nível sanguineo seja aumentado. O tratamento para hipercolesterolemia tem como objetivo baixar o nível de colesterol total, principalmente através da fração não-HDL composta por LDL e VLDL, e, além disso, busca-se também elevar o nível da fração HDL. O tratamento com a tintura de taro foi eficaz em reduzir a colesterolemia, porém não promoveu elevação da fração HDL. 36 Tabela 8: Valores médios de triglicerídeos em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (mg/dL) A G1 A G2 78,78 A/b --- -3,2% 81,40 A/ab +3,3% --- 100,51 B/a +27,6% +23,5% 83,28 A/ab +5,7% +2,3% 71,51 A/b -9,2% -12,1% 74,31 A/b -5,7% -8,7% GRUPOS G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. 120 100 80 60 Triglicerídios (mg/dL) 40 20 0 G1 G2 G3 G4 G5 G6 Figura 10: Valores médios de triglicerídeos em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento. 37 Triglicerídeos são lipídios compostos por três ácidos graxos ligados a uma molécula de glicerol e representam a forma de reserva lipídica nos vertebrados, sendo armazenados nos adipócitos. Eles são ingeridos na dieta, estando presentes em alimentos como óleos vegetais, laticínios e gordura animal. Além disso, carboidratos ingeridos em excesso são convertidos em triglicerídeos sendo também estocados no tecido adiposo. A dieta utilizada composta por ração e suplemento de colesterol não provocou alteração relevante no nível de triglicerídeos dos animais por não ser rica em ácidos graxos. A elevação dos triglicerídeos sofreu influência da ingestão de carboidratos presentes na tintura, pois o taro é um vegetal que contém entre 17,8 e 32,5g/100g de amido (NEPA-UNICAMP, 2006). Os dados obtidos indicaram que o tratamento com a tintura de taro nos grupos G3 e G4 não foi capaz de reduzir a trigliceridemia, mas no grupo G5, com a dose de 10 mL, observou-se diminuição de 9,2% no nível de triglicerídeos em relação ao grupo controle. Essa diminuição foi maior que a obtida com o fármaco sinvastatina, que reduziu a trigliceridemia em apenas 5,7%. Um estudo realizado por BOBAN et al. (2006) demonstrou redução de triglicerídeos quando se testou a mucilagem isolada de C. esculenta. O mesmo efeito foi observado com a utilização da tintura de taro, caracterizando seu potencial em baixar o nível plasmático de triglicerídeos. 38 Tabela 9: Valores médios de glicose em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento GRUPOS % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (mg/dL) A G1 A G2 252,31 A/ab --- +8,2% 233,28 A/ab -7,5% --- 353,36 A/a +40,0% +51,5% 357,51 A/a +41,7% +53,2% 280,46 A/ab +11,2% +20,2% 179,48 A/b -28,8% -23,1% G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. Figura 11: Valores médios de glicose em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento 39 O taro é um vegetal que contém entre 17,8 e 32,5g/100g de amido (NEPA-UNICAMP, 2006). Assim, o aumento da glicemia nos animais tratados com a tintura é decorrente da presença desses carboidratos. Os grupos G3 e G4 apresentaram elevação no nível de glicose em torno de 40% e o grupo G5, apesar de ainda promover hiperglicemia, apresentou uma menor variação, aumento de apenas 11,2% em relação ao grupo controle. Isso indica que, mesmo sendo constituída por carboidratos, a tintura de taro, na dose de 10 mL contém ativos em quantidade suficiente para atuar como hipoglicemiante, assim como indicado por GRINDLEY et al. (2000), que verificou diminuição do colesterol total e da glicemia em ratos diabéticos tratados com extrato etanólico de C. esculenta. Tabela 10: Valores médios AST em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento GRUPOS % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (U/L) A G1 A G2 41,26 A/c --- +47,3% 28,00 B/d -32,1% --- 58,00 B/b +40,5% 107,1% 74,00 B/a +79,3% +164,3% 41,68 A/c +0,9% +48,8% 51,26 B/b +24,2% +83,1% G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. 40 Figura 12: Valores médios de AST em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento Os grupos G3 e G4 apresentaram as maiores porcentagens de variação na atividade da AST, respectivamente 40,5% e 79,3% em relação ao grupo controle. As menores doses testadas da tintura de taro aumentaram a atividade desta enzima. O tratamento com o fármaco sinvastatina também provocou elevação da AST, 24,2%. O estudo de BOBAN et al. (2006) que testou a mucilagem arabinogalactana isolada de C. esculenta em ratos normocolesteroêmicos não demonstrou alterações significativas quanto ao nível de AST, o que foi verificado apenas na dosagem de 10 mL da tintura. A AST catalisa a conversão do ácido oxaloacético + ácido glutâmico para produzir ácido αceto glutárico + ácido aspártico. Ela é encontrada nas mitocôndrias de muitas células, estando presente no fígado, coração, músculos e outros órgãos. Elevações na atividade dessa enzima podem ocorrer em hepatites e hepatopatias crônicas, icterícias, infarto do miocárdio. A análise da AST serve como parâmetro para avaliar a função hepática, assim pode-se dizer que a tintura de taro na dose de 10 mL não interfere no funcionamento do fígado. 41 Tabela 11: Valores médios de ALT em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento GRUPOS % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (U/L) A G1 A G2 74,26 A/ab --- 29,8% 57,20 B/b -22,9% --- 77,16 A/ab +3,9% +34,9% 84,80 A/a +14,2% +48,2% 76,66 A/ab +3,2% +34,0% 92,00 B/a +17,7% +60,8% G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. Figura 13: Valores médios de ALT em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento 42 A ALT, assim como a AST, também é uma enzima que infere sobre o funcionamento hepático, porém ela tem um caráter mais específico, pois está presente apenas no citoplasma dos hepatócitos, enquanto a AST se encontra no interior das mitocôndrias. Assim, a ALT reflete uma lesão aguda já que diante de um dano primário na membrana do hepatócito ocorrerá primeiramente a sua liberação na corrente sanguinea. A maior variação foi observada no grupo G6, tratado com a sinvastatina, que apresentou elevação de 17,7% no nível de ALT em relação ao grupo controle. Os grupos tratados com a tintura de taro não apresentaram alterações estatisticamente significativas nos valores de ALT, assim como verificado no estudo de BOBAN et al. (2006), que testou a mucilagem arabinogalactana isolada de C. esculenta em ratos normocolesteroêmicos. Esse resultado indica que o tratamento com a tintura não causou danos ao fígado. 43 Tabela 12: Valores médios de gama-GT em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento GRUPOS % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (U/L) A G1 A G2 15,00 A/abc --- -11,7% 17,00 A/ab +13,3% --- 14,16 A/bc -5,5% -16,6% 13,83 A/c -7,7% -18,6% 17,33 B/a +15,5% +1,9% 15,83 A/abc +5,5% -6,8% G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. Figura 14: Valores médios de gama-GT em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento 44 Entre os grupos tratados com a tintura de taro, apenas o G5 apresentou elevação no nível de gama-GT em relação ao grupo controle, 15,5%. O grupo tratado com sinvastatina também apresentou aumento, porém em menor grau, 5,5%. No fígado, esta enzima está localizada nos canalículos das células hepáticas e particularmente nas células epiteliais dos ductos biliares. Devido a esta localização característica, a enzima aparece elevada em quase todas as desordens hepatobiliares, sendo um dos testes mais sensíveis no diagnóstico destas condições. Assim, ela é um marcador sensível a agressões hepáticas induzidas por medicamentos e álcool. Devido aos efeitos do consumo de álcool nos níveis de gama GT, aceita-se este como um marcador sensível de alcoolismo crônico, embora não seja um marcador específico, especialmente quando seus aumentos não são acompanhados de aumentos similares de outras enzimas hepáticas. Como a dosagem isolada de gama-GT tem pouco significado clínico ela deve ser associada a outros exames. O fato das outras enzimas hepáticas, AST e ALT, não terem apresentados alterações significativas indica que o álcool e os outros constituintes da tintura de taro não provocaram danos aos hepatócitos. 45 Tabela 13: Valores médios de fosfatase alcalina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento GRUPOS % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (U/L) A G1 A G2 199,16 A/bc --- +17,2% 170,00 A/c -14,6% --- 302,50 B/a +51,8% +77,9% 273,83 B/ab +37,5% +61,1% 293,66 B/a +47,4% +72,7% 205,50 A/bc +3,2% +20,9% G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. Figura 15: Valores médios de fosfatase alcalina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento 46 A enzima fosfatase alcalina é produzida em diversos órgãos como ossos, fígado e placenta. No fígado, ela está presente nas células que delineam os ductos biliares. Seu nível no plasma aumenta com obstruções do ducto biliar, colestase intrahepática ou doenças infiltrativas do fígado. Os três grupos tratados com a tintura de taro, G3, G4 e G5, apresentaram elevação no nível da fosfatase alcalina sanguinea. Tabela 14: Valores médios de albumina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento GRUPOS % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (g/dL) A G1 A G2 4,53 A/a --- +1,3% 4,47 A/a -1,3% --- 4,71 A/a +3,9% +5,4% 4,52 A/a -0,2% +1,1% 4,62 A/a +1,9% +3,3% 4,86 A/a +7,3% +8,7% G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. 47 Figura 16: Valores médios de albumina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento A albumina é uma proteína sintetizada especificamente pelo fígado, sendo o principal constituinte das proteínas totais sanguíneas. É catabolisada pelos tecidos periféricos sendo a principal responsável pela manutenção da pressão osmótica intravascular e pela ligação e transporte de várias substâncias no sangue. Os níveis de albumina estão diminuídos em doenças crônicas do fígado, como a cirrose; na síndrome nefrótica, na qual a albumina é perdida através da urina e na desnutrição ou estado de catabolismo de proteína. A hiperalbuminemia tem pouco significado clínico. Não houve alterações estatisticamente significativas nos valores de albuminemia entre os grupos. Isso indica que o fígado e rins não foram afetados com o tratamento. 48 Tabela 15: Valores médios de proteína total em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento GRUPOS % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (g/L) A G1 A G2 74,18 A/c --- -4,5% 77.66 A/c +4,7% --- 86.33 B/ab +16,4% +11,2% 79,56 A/bc +7,2% +2,4% 80,15 A/bc +8,0% +3,2% 88,88 B/a +19,8% +14,4% G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. Figura 17: Valores médios de proteína total em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento 49 As proteínas totais sanguíneas são representadas pela albumina e as globulinas. As causas de alterações de proteínas totais estão relacionadas com mudanças no volume de água no plasma ou a mudanças na concentração de proteínas no sangue. Em casos de hepatopatias e nefropatias também são observadas altas variações. Os valores obtidos a partir da análise das proteínas totais sanguineas não apresentaram variações clinicamente relevantes. Esse resultado é decorrente da inalteração da albuminemia, caracterizando mais um indicativo de que a tintura de taro não provocou danos ao fígado e rins. Estes dados estão de acordo com os estudos de BOBAN et al. (2006), que testou a mucilagem arabinogalactana isolada de C. esculenta em ratos normocolesteroêmicos e verificou através da análise bioquímica de AST, ALT, proteínas totais e razão albumina:globulina que a função hepática e renal não foi afetada. Tabela 16: Valores médios de uréia em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento GRUPOS % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (mg/dL) A G1 A G2 43,53 A/ab --- +14,9% 37,88 A/b -12,9% --- 39,66 A/ab -8,8% +4,7% 38,00 A/b -12,7% +0,3% 45,41 A/ab +4,3% +19,8% 49,86 A/a +14,5% +31,6% G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. 50 Figura 18: Valores médios de uréia em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento No metabolismo de mamíferos, a principal forma de excreção de nitrogênio é a uréia, mas em herbívoros, como o coelho, é a amônia. Esse animal possui microorganismos no intestino grosso que podem utilizar o amoníaco e a uréia para promover a atividade proteolítica, hidrolisando-os como fonte de nitrogênio não-protéico a ser utilizado na síntese protéica microbiana. Há indícios de que ocorre absorção de aminoácidos no intestino grosso de herbívoros monogástricos ou mesmo de amônia, sendo esta utilizada como fonte de aminoácidos essenciais. Em coelhos, é bem conhecido o mecanismo da cecoprofagia, onde a reingestão do bolo alimentar faz com que a proteína microbiana formada no intestino grosso seja digerida quimicamente no estômago. Este mecanismo pode influenciar os níveis de uréia, creatinina, AST e ALT. A análise da uréia serve como parâmetro para a avaliação da função renal. Após sua síntese no fígado, é liberada na corrente sanguínea, seguindo até os rins, onde é filtrada pelos glomérulos. A maioria da uréia filtrada é excretada na urina, porém até 40% pode ser reabsorvida por difusão passiva durante a passagem pelos túbulos renais. A quantidade reabsorvida depende do fluxo urinário e do estado de hidratação do indivíduo. Pequenas quantidades de uréia são excretadas pelo trato gastrointestinal e pele. Os níveis plasmáticos de uréia são mantidos por um equilíbrio entre perfusão e função renal, conteúdo protéico da dieta e catabolismo protéico. A uréia, embora menos específica para função renal do que a creatinina, é mais sensível a alterações iniciais da função renal, sendo importante marcador nestas condições. A partir dos dados obtidos, nenhum dos grupos apresentou alterações estatisticamente significativas na uréia sanguinea. A maior alteração observada ocorreu no grupo tratado com sinvastatina com um aumento de 14,5% em relação ao grupo controle. Assim, pode-se dizer que o tratamento com a tintura de taro não interferiu no funcionamento renal. 51 Tabela 17: Valores médios de creatinina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento GRUPOS % DE VARIAÇÃO % DE VARIAÇÃO MÉDIAS EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO (mg/dL) A G1 A G2 1,36 A/a --- +5,4% 1,29 A/a -5,1% --- 1,31 A/a -3,7% +1,5% 1,39 A/a +2,2% +7,3% 1,32 A/a -2,9% +2,3% 1,64 A/a +20,5% +27,1% G1 Controle normal G2 Controle hipercolesterolêmico G3 Hipercolesterolêmico tratado 2mL tintura G4 Hipercolesterolêmico tratado 5mL tintura G5 Hipercolesterolêmico tratado 10mLtintura G6 Hipercolesterolêmico tratado Sinvastatina Testes estatísticos a 5% de significância. Letras maiúsculas representam o Teste de Dunnett e letras minúsculas representam o Teste de Tukey. Médias que contém a mesma letra não diferem entre si. Figura 19: Valores médios de creatinina em plasma de coelhos hipercolesterolêmicos após 28 dias de tratamento 52 A creatinina é produzida nas células a partir do catabolismo da creatina que é um componente de alto conteúdo energético. O processo se dá em grande parte nas células musculares. A creatinina é então liberada ao plasma para ser posteriormente filtrada nos glomérulos e excretada na urina. Pequenas quantidades de creatinina são secretadas no túbulo proximal, e quantidades mínimas são reabsorvidas nos túbulos renais distais. O equilíbrio entre a produção de creatinina, a massa muscular do indivíduo e a função renal, determina as concentrações plasmáticas da creatinina sérica. Geralmente, a massa muscular e as produções de creatina e creatinina tendem a ser mais estáveis, fazendo desta determinação um bom indicador da função renal. Os valores obtidos não foram estatisticamente significativos. As variações ocorridas estão dentro da faixa de valores normais para coelhos em torno de 0,8 a 2,5 mg/dL. Isto indica que o tratamento com a tintura de taro não provocou desordens renais. 53 1.1. Avaliação do peso corporal dos animais: Figura 20: Pesagem dos animais. Fonte: arquivo pessoal do pesquisador. O peso corporal dos animais foi acompanhado durante o experimento a fim de verificar se o tratamento com a tintura de taro provocaria o ganho de massa já que o taro é um vegetal calórico. Tabela 18: Avaliação do ganho de massa dos animais Peso médio após 2 semanas (Kg) 2,59 Ganho de massa após 2 semanas G1 Peso médio inicial (Kg) 2,33 G2 2,36 G3 Ganho de massa nas 3º e 4º semanas Ganho de massa total 11,1 % Peso médio após 4 semanas (Kg) 2,70 4,2 % 15,9 % 2,58 9,3 % 2,66 3,1 % 12,7 % 2,43 2,62 7,8 % 2,72 3,8 % 11,9 % G4 2,43 2,66 9,5 % 2,81 5,6 % 15,6 % G5 2,17 2,37 9,2 % 2,51 5,9 % 15,7 % G6 2,22 2,39 7,6 % 2,44 2,1 % 9,9 % No decorrer do experimento, observou-se que todos os grupos apresentaram um percentual de ganho de massa corporal semelhante entre si, sendo o grupo G6 com o menor percentual de aumento de peso. A partir disso, infere-se que o tratamento com a tintura de taro não interfere no processo de ganho de peso corporal. Esse resultado está de acordo com o estudo de BOBAN et al. 54 (2006) onde ratos normocolesterolêmicos alimentados com mucilagem isolada do taro não apresentaram diferença estatisticamente significativa quanto ao ganho de massa corporal. 1.2. Avaliação macroscópica do fígado dos animais: Figura 21: Aspecto macroscópico do fígado dos coelhos após o experimento 55 O acúmulo de gordura no interior dos hepatócitos é um mecanismo natural, utilizado para estocar energia. Porém, uma dieta rica em gordura e carboidratos pode levar ao acúmulo de gordura no fígado, formando macrovesículas lipídicas o que caracteriza a esteatose hepática. A partir da visualização macroscópica do fígado dos animais ao final do experimento, observou-se no grupo G2 a presença de macrovesículas de gordura indicando o aparecimento da esteatose, fato decorrente da dieta hipercolesterolêmica sem tratamento. Os grupos G3 e G4, também apresentaram esteatose, porém de forma mais discreta. Já o grupo G5 e G6 mantiveram o fígado com aspecto macroscópico normal semelhante ao grupo controle G1, indicando que os tratamentos com a tintura de taro na dose de 10mL e com o fármaco referência, ao diminuir os níveis lipídicos sanguíneos, também impediram o surgimento de esteatose hepática. CONCLUSÃO A partir do bioensaio de letalidade com Artemia salina Leach, o extrato de Colocasia esculenta não apresentou toxicidade aguda significante, não oferecendo risco toxicológico para Artemia salina. Através do teste antifúngico de microdiluição em caldo, o extrato de Colocasia esculenta apresentou atividade antifúngica contra 4 espécies de Candida: C. Albicans, C. tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei. A dosagem mais eficaz da tintura de taro 20% foi a de 10 mL. Ela mostrou-se eficaz na redução do perfil lipídico sérico de coelhos. Houve uma diminuição de 73,2% do colesterol total em relação ao grupo doente. Ocorreu diminuição da fração HDL, mas em menor grau que a observada no grupo que utilizou a sinvastatina. O nível de triglicerídeo também foi reduzido. Observou-se aumento da glicose sérica dentro dos grupos que receberam a tintura, decorrente do conteúdo de carboidratos presente no taro, sendo que a dose de 10 mL promoveu o menor aumento. A partir dos outros parâmetros analisados: uréia, creatinina, AST, ALT, fosfatase alcalina, gama-GT, albumina e proteínas totais, pode-se dizer que o tratamento com a tintura de taro não prejudicou as funções renal e hepática dos animais, pois não ocorreram alterações clinicamente significativas nesses parâmetros. Apesar de ser um vegetal calórico, a utilização da tintura de taro não promoveu o ganho de peso corporal. E, quanto à análise macroscópica do fígado, a dose de 10 mL inibiu o aparecimento de esteatose decorrente da dieta hipercolesterolêmica. Assim, a tintura de taro mostrou-se eficiente no tratamento da hipercolesterolemia em coelhos, o que torna a espécie Colocasia esculenta um alvo para mais estudos na busca por novos medicamentos fitoterápicos. 56 REFERÊNCIAS ALIGIANIS N, KALPOTZAKIS E, MITAKU S, CHINOU L B. (2001). Composition and Antimicrobial Activity of the Essential Oils of two Origanum Species. J Agric Food Chem , 40, 4168-4170. AMARAL E A, SILVA R M G. (2008). Avaliação da Toxidade Aguda de Angico (Anadenanthera falcata), pau-santo (Kilmeyera coreacea), aroeira (Myracrodruon urundeuva) e cipó-de-são-joão (Pyrostegia venusta), por meio do bioensaio com Artemia salina. Perquirere , Ed. 5. Ano 5. BECK-SAGUÉ M C, JARVIS W R. (1993). Secular Trends in the Epidemiology of Nosocomial Fungal Infections. J Infect Dis , 167(5), 1247-1251. BERHOW M A, WAGNER E D, VALGLM SF, PLEWA MJ. (2000). Characterization and antimutagenic activity of soybean saponins. Mutation Research , 488, 11-22. BINDU T, SUMI M M, RAMASAMY E V. 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