A presença dos gêneros digitais nos livros didáticos do ensino fundamental II Amanda Carla Silvestre Teixeira1 (UPE) Resumo: Neste trabalho, analisamos o livro didático (LD), ferramenta típica do domínio pedagógico, com base em um corpus de cinco coleções de livros didáticos avaliados e recomendados pelo PNLD, a fim de identificar os gêneros digitais mais trabalhados, bem como analisar as atividades que costumam ser desenvolvidas. Para isso, baseamo-nos nas pesquisas sobre gêneros digitais desenvolvidas por diversos autores, entre eles, Bezerra (2009), além da teoria sociorretórica de Swales (2004) e Bhatia (2004). Palavras-chaves: gêneros digitais, livros didáticos, ensino. Abstract: In this paper, we analyze the textbook, a typical tool in teaching domains, based on a corpus of five collections of textbooks evaluated and recommended by PNLD in order to identify the use of digital genres as well the activities that tend to be developed. For this, we base our research on digital genres developed by several authors, among them, Bezerra (2009), besides the socio-rhetorical theory developed by Swales (2004) and Bhatia (2004). Keywords: digital genres, textbooks, teaching. Introdução Segundo Marcuschi (2002, p. 22), os gêneros “são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos.” Conforme o autor, os gêneros são uma forma de ação social, de categoria cultural, servindo de subsídio para a organização social por meio de ações retóricas e estruturas textuais. Pois trata-se de acontecimentos textuais, caracterizados como artefatos colaboradores da interação sócio-cultural, os quais proporcionam variadas formas de transmissões comunicativas, sócio-discursivas e cognitivas. O estudo dos gêneros embasado na teoria sociorretórica de John Swales (2004) e Vijay Bhatia (2004) tem como preocupação o significado que têm as ações e os eventos para as pessoas ou grupos estudados, tendo como referência uma determinada circunstância social envolvendo o uso da linguagem para se obter o Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -1- propósito comunicativo ambicionado,ou seja, trata-se de um estudo etnográfico. Swales afirma que a compreensão a respeito de gêneros só é possível se entendemos a noção de comunidade discursiva e vice-versa. Ele define comunidades discursivas como “redes sociorretóricas que se formam a fim de atuar em favor de um conjunto de objetivos comuns” (SWALES, 1990). Os gêneros digitais Tratando-se de um recurso fundamental para interação humana, os gêneros textuais se encontram em constante evolução, de acordo com as necessidades cotidianas de cada meio cultural. Acoplados ao progresso tecnológico, os gêneros vão surgindo, se ajustando e evoluindo nos múltiplos ambientes linguísticos, tornando-se, consequentemente, pré-requisito para a compreensão dos processos de interação. Mediante o uso diário do computador e da Internet, grande parte da interação social é estabelecida via comunicação virtual, ocasionando o surgimento de inúmeros gêneros como, por exemplo, o fórum e o chat, ou ainda a evolução de outros gêneros já existentes nos suportes impressos, como é o caso da carta pessoal, comparada com o e-mail em sua função de correio eletrônico. Conforme Marcuschi (2002, p. 13), Os gêneros emergentes nessa nova tecnologia digital são relativamente variados, mas a maioria deles tem similaridades em outros ambientes, tanto na oralidade como na escrita. Muitos desses gêneros digitais são evoluções de outros já existentes nos suportes impressos (papel), ou em vídeos (ex.: vídeos, fotografias). Porém essa tecnologia comunicativa verdadeiramente gerou novos gêneros, como por exemplo: os chats e os fóruns. Assim a Internet não só envolve uma gigantesca multiplicidade de registros inseridos em um continuum que envolve da escrita à oralidade, como também, através da sua tecnologia torna-se possível a superação dos limites de espaço e tempo, além de proporcionar grandes contribuições para o enriquecimento e Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -2- desenvolvimento das produções textuais, que se tornaram graficamente mais originais e criativas. Uma característica muito peculiar desses “novos” gêneros seria o conjunto de aspectos existentes em sua função. Como exemplo, podemos citar a hipertextualidade, que oferece diversificadas possibilidades de integração de textos, por meio de suas formas semióticas: textos, sons e imagens. A diferenciação e definição dos gêneros podem ser decididas não só por características dos aspectos sociocomunicativos, como também por suas formas e pelos ambientes em que estão situados. Na atualidade, os gêneros textuais encontrados nos suportes digitais acham-se em grande evidência, uma vez que, diante do surgimento e uso crescente das novas tecnologias de informação e comunicação, adquirem maior atenção não só da academia, mas também da escola e dos domínios profissionais, pois se trata de uma ferramenta fundamental de socialização universal. Essa inovação na visão a respeito da interação social virtual servirá como um grande impulso à evolução dos gêneros, ressaltando “o papel da linguagem na internet e o efeito da internet na linguagem” (CRYSTAL apud MARCUSCHI, 2008). A postura da escola diante dos gêneros digitais Ainda que ante a gramática a linguagem virtual pareça desordenada, nota-se que os usuários independentemente de suas variações regionais unificaram alguns recursos utilizados em suas interações. Pois todos os internautas brasileiros conseguem compreender uns aos outros independentemente da região em que se encontrem, utilizando abreviaturas, emoticons (risos e expressões faciais), sinais gráficos mais ou menos padronizados, entre outros recursos. Essas características surgem frequentemente pela necessidade de rapidez e objetividade na interação mediada por esses gêneros. É notório que, com o surgimento da era digital, a linguagem “da internet” passa a apresentar inúmeros novos aspectos, em meio a eles, escrita com traços Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -3- orais, uma nova ortografia e novas palavras criadas para dar conta de novas situações (neologismos). A mídia digital torna possível romper os preconceitos existentes na linguagem oral e escrita, fornecendo diversas fontes de pesquisas e estudos sobre os gêneros digitais, inclusive com fins pedagógicos. Boa parte dos estudos desenvolvidos possuem como finalidade romper os obstáculos existentes entre professores e alunos, possibilitando assim maior interatividade entre os mesmos. É nesse sentido que Bezerra afirma: A meu ver, impõe-se [para a escola] a necessidade de reflexão a respeito do fascínio que esses recursos comunicativos e interacionais [do Orkut] exercem sobre os jovens, uma vez que os estudantes, que de acordo com o senso comum não gostam nem têm o hábito de ler e escrever, de fato escrevem e lêem bastante quando se trata dos gêneros do Orkut (2009, p. 116). Considerando o grande fascínio exercido pelas mídias e gêneros digitais sobre a juventude, por que não utilizá-lo também como uma das ferramentas auxiliares nas práticas pedagógicas? Os objetivos de tal uso poderiam ser, entre outros, diminuir as distâncias entre professores e alunos, trabalhar e desenvolver novas práticas de leitura e escrita, conhecer os novos gêneros pertencentes à mídia digital e ampliar a capacidade do aluno interagir com o meio social através dessas novas formas comunicativas. Esses novos recursos podem trazer grandes descobertas e aprendizagens para o ambiente escolar, desde que não sejam vistos com olhares retrógrados e preconceituosos por parte da escola e professores. Nesse sentido, afirmamos com Bezerra (2009) que “é de se supor e esperar que a escola e os professores a cada dia se mostrem mais preparados para lidar com as práticas discursivas dos estudantes onde quer que estas se manifestem. E a continuidade das pesquisas sobre a linguagem desejavelmente terá um papel a desempenhar nesse processo”. A escola deve ter como uma de suas funções formar cidadãos preparados para interagir com competência no meio virtual, não se restringindo somente ao ensino da produção de dissertações, cartas, bilhetes, ou seja, não trabalhar com o aluno unicamente os gêneros convencionais do meio impresso, ou como se constituem os Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -4- discursos presenciais, face a face. É preciso que sejam trabalhados também os gêneros digitais e, quando trabalhados, que sejam da forma adequada, pois esses gêneros fazem parte da realidade e prática diária dos jovens. Percebe-se também que os gêneros virtuais são os mais emergentes na atualidade e embora possuam uma escrita próxima de aspectos da oralidade mantêm suas bases na escrita convencional, apesar da sua multimodalidade. Entende-se que não há uma “fala por escrito”, mas uma hibridização dos gêneros e das modalidades oral e escrita. Fenômenos como as mesclas de gêneros, em que uma forma de gênero serve à função de outro gênero, são bastante frequentes no ambiente virtual e não só nele. Por exemplo, um gênero com a forma de uma receita culinária, mas com a função de instruções ou de um guia de caráter didático, com a intenção de instruir e convencer o interlocutor para que assuma um determinado comportamento para conseguir êxito nas avaliações escolares. Embora o texto traga as características de uma receita, não o é de fato, porque o leitor compreende que não se trata de instruções para que se possa preparar uma comida. Marcuschi (2008. p. 165) apresenta um exemplo de hibridização utilizando uma “bula” com função publicitária de uma livraria. Podemos citar como um exemplo híbrido de gênero digital, o chat, um gênero hipertextual que carrega sinais de transmutação do diálogo cotidiano, mesclando oralidade e escrita em um mesmo texto e suporte. O hipertexto Devido a sua estrutura intricada, o hipertexto proporciona uma leitura dinâmica e não sequencial ao hiperleitor, que tem a opção de percorrer díspares caminhos em busca de informações. Por conta de sua estrutura não sequencial, muitos leitores, quando não bem preparados para esse tipo de leitura e pesquisa, terminam por submergir o seu foco inicial de pesquisa. O hipertexto pode ser visto como uma mídia de leitura, onde se encontram facilmente a multimodalidade e a hibridização, devido aos mais variados recursos oferecidos por essa modalidade Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -5- textual, que leva o hiperleitor ao que Marcuschi (2007) classificou como “stress cognitivo”, pois no hipertexto são múltiplas as opções de se transcorrer a leitura, o que ocasiona requisições cognitivas não encontradas em textos impressos. A multimodalidade liga-se intimamente à hibridização dos gêneros textuais, no sentido de que, proporcionando variados recursos para sua construção, facilita a combinação das suas características com as de outros gêneros, ficando difícil a identificação de eventuais fronteiras, como alertava Paltridge (2009). Quanto aos escritores do hipertexto, é notório o cuidado que necessitam ter ao produzirem seus textos, pois os links de um site podem ser acessados de variados modos, ou seja, dependendo de cada internauta, podendo assim acarretar uma interpretação distinta da ambicionada pelo autor. Seja qual forem as opções didáticas da escola, os gêneros fazem parte de nossa realidade linguística, social e cultural. Retirá-los de sua realidade concreta, transpô-los para o universo escolar e transformá-los em objetos de estudo implica observar o desenvolvimento total dos alunos em relação às suas aptidões linguísticas, além de pensar em sequências didáticas que viabilizem aos estudantes o contato, o estudo e a assimilação dos gêneros. Pois com o trabalho de produção textual centralizado nos gêneros, a ação de escrever é democratizada: todos os estudantes devem aprender a escrever a maior diversidade possível de textos. É importante que a escola se dedique mais à questão dos gêneros, visto que nossas ações linguísticas cotidianas se dão por meio de modalidades orais e escritas. Um indivíduo que não domina com facilidade as diversas formas textuais tende a perder seu poder de interagir com o meio social, assim como seus poderes persuasivos e argumentativos, restringindo suas possibilidades comunicativas na fala e na escrita nas mais diversas situações discursivas presentes em seu cotidiano. Os gêneros digitais nos livros didáticos O livro didático apresenta-se como um suporte onde se encontra uma grande diversidade de gêneros, que são retirados de seus contextos originais para serem Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -6- objeto do trabalho pedagógico, acarretando adições em suas funções enquanto gêneros. Contudo, não perdem sua identidade, apesar de no momento apresentarem outras funcionalidades. Para Marcuschi (2003), ocorre uma “reversibilidade de funções” nos gêneros transpostos para o LD. Relacionando os conteúdos do e-mail na função de correio eletrônico com os livros didáticos, se verifica que ambos transportam os mais variados gêneros, como bilhetes, cartas comerciais, propagandas, mensagens informativas, dentre outros. Com certeza o livro didático é uma ferramenta proeminente no desenvolvimento das atividades escolares, auxiliando na resolução dos mais diversificados problemas da área pedagógica, nos programas de ensino. Devido às diretrizes oficiais de ensino, atualmente o LD vem reunindo algumas variedades de gêneros digitais, que se encontram inseridos no cotidiano dos alunos, em suas táticas de ensino de leitura e produção de textos. No entanto, na grande maioria das vezes, esses suportes apresentam os gêneros digitais apenas como pano de fundo para o trabalho com a gramática. Apesar de muitas pessoas ainda se encontrarem excluídas da mídia virtual, isso não modifica o fato que essa nova maneira de interagir será permanente e possibilita um mundo ilimitado de informações, um inovador subsídio em favor da comunicação. Contextualizando a pesquisa A pesquisa, iniciada em fevereiro de 2010 e ainda em andamento, tem como corpus as edições mais recentes de 05 coleções de livros didáticos avaliados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), com o propósito de identificar e discutir os gêneros digitais mais trabalhados, a diversidade desses gêneros no LD e as atividades que são desenvolvidas. Busca-se traçar um panorama atual dos interesses manifestos pelos livros didáticos no que diz respeito aos gêneros digitais, trazendo vários aspectos importantes sobre o desenvolvimento das práticas pedagógicas relacionadas ao tema, com base nos estudos desenvolvidos por Bezerra Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -7- (2009) e enfocados por meio da observação e análise crítica das atividades de leitura e escrita. A identificação dos gêneros segue os parâmetros da teoria sociorretórica de John Swales (2004) e Vijay Bhatia (2004). Na análise dos tipos de atividades desenvolvidas com os gêneros digitais, levamos em conta principalmente os eixos gramática, leitura e escrita, verificando quais são os mais utilizados, com que frequência e como esses gêneros estão sendo abordados. Por exemplo, se são trabalhados de fato como gênero, sem que sejam colocados como mero pano de fundo ou enfeite para a apresentação de uma atividade exclusivamente gramatical. Análise e resultados Apresentamos, para os fins deste trabalho, alguns exemplos de nossa análise de duas coleções, quais sejam: o livro Português: linguagens (Cereja e Magalhães) e o livro Novo diálogo (Beltrão e Gordilho). Livro português: linguagens Ao realizar a análise dessa coleção de livros didáticos, percebemos que o livro referente ao 6º. ano é o único da coleção que, apesar de serem apenas dois exercícios, não só faz uma boa descrição de dois gêneros digitais (e-mail e blog), como também remete os alunos à prática de atividades com esses gêneros, despertando a percepção e aprendizagem dos alunos ao realizar a comparação de uma carta pessoal com o e-mail e de um diário com o blog, como será visto mais adiante. O restante da coleção faz apenas pequenas alusões em relação aos gêneros digitais, como no livro destinado ao 7º. ano (p. 208-212), onde encontramos uma breve descrição do gênero entrevista não presencial comparada com entrevistas presenciais e escritas. Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -8- Fonte: Livro didático Português:linguagens (Cereja e Magalhães), destinado ao 7°. ano, p. 211 O livro destinado ao 9º. ano (p. 137-163) traz o gênero debate, propondo em uma das atividades o trabalho com debates da Internet, o blogs e o fóruns. O livro didático do 8º. ano não traz gêneros digitais. Como o restante da coleção, limita-se a fazer a indicação de sites de pesquisa nas páginas iniciais de cada unidade, junto a outras opções de pesquisa como livros e vídeos. Nota-se por parte dos autores a concepção de que os alunos já dominam os gêneros virtuais, devido à grande maioria dos jovens manter contato diário com o computador e a Internet, supondo possivelmente que não seja necessário explorar mais a prática desses gêneros em ambiente escolar. Os gêneros analisados são encontrados nas páginas 142-146 e 162-166 do livro didático direcionado ao sexto ano (5ª. série). Análise do gênero carta pessoal No exemplo dado pelo livro didático, a carta pessoal é descrita como um gênero primário ou simples, ou seja, possui características de tipos de enunciado espontâneos e naturais, que ocorrem no contexto imediato da fala, diferentemente do gênero secundário que é caracterizado por tipos de enunciados da fala aperfeiçoados através da escrita, devido à utilização de uma linguagem formal. Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -9- Aqui, portanto, os autores do LD se apóiam na conhecida distinção estabelecida por Bakhtin. Através do conteúdo veiculado percebe-se que a relação estabelecida pelos participantes é íntima por empregar algumas palavras e expressões que são usadas em conversas informais, mais íntimas, com familiares e amigos. A situação em que esse gênero se situa seria pública, pois qualquer pessoa pode escrever uma carta. O suporte seria o papel (meio impresso). No exemplo do livro, por a carta tratar de um assunto pessoal, melhor dizendo, os correspondentes são pai e filho, o garoto (remetente) emprega algumas palavas e expressões que usamos, no dia a dia, em conversas mais íntimas, como por exemplo, “... a mãe tá bem, eu tô bem.... Mas têm acontecido coisas misteriosas por aqui de uns dias pra cá...” e gírias; “E aí pai, beleza?” “...E que história, pai! D+, um arraso!” Fonte: Livro didático Português: linguagens (Cereja e Magalhães), destinado as 5° séries, p.144 Análise do e-mail Segundo os autores, o e-mail, como correio eletrônico, é um meio de transmissão de vários gêneros. Porém há um novo o e-mail ou mensagem eletrônica que seria uma hibridização, ou seja, uma mistura de vários gêneros. O e-mail caracteriza-se como um gênero digital escrito, o seu meio de transmissão, a velocidade e a assincronia na interação entre os internautas. Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 10 - No e-mail, há o vocativo, a assinatura do remetente, destinatário(s), o assunto, a data, hora em que a mensagem foi enviada, a despedida e se quiser a assinatura. Os e-mails podem tratar tanto de assuntos de ordem pessoal, como é o caso do exemplo oferecido no livro, quanto os de ordem comercial e empresarial que tratam de assuntos profissionais. Para se enviar um e-mail, é obrigatório o preenchimento na primeira linha com o(s) endereço(s) digitais do destinatário (os). Os outros dois espaços (cc e cco) são reservados para enviar cópias para outras pessoas. Na linha referente ao assunto é opcional, mas através do assunto pode-se fazer a escolha de leitura ou descarte e ainda filtrar as mensagens indesejadas. As mensagens enviadas por e-mail podem ser transmitidas a várias pessoas de uma só vez e ao mesmo tempo, assim como podem também ser impressas, arquivadas, copiadas, re-encaminhadas e re-utilizadas. Podem ser anexados arquivos. No e-mail há muito mais facilidade na colaboração e discussão, podendo ser visto como um instrumento de comunicação de comunidades discursivas. Nesse e-mail o assunto é pessoal, por isso algumas palavras são abreviadas e Thete (emissora) utiliza algumas gírias. Os usuários determinam o tipo de linguagem, utilizando abreviaturas para atender à agilidade do gênero e emoticons para suprir a ausência de dados do contexto, como risos e expressões faciais. Embora exista tanta diversidade lingüística, percebe-se que os recursos usados possuem padrões que possibilitam a compreensão a todos os internautas. Fonte: Livro didático Português: linguagens (Cereja e Magalhães), destinado as 5° séries, p.147 Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 11 - Como podemos ver, o exercício traz várias perguntas e informações sobre as características, finalidades, suporte, tema, entre outras peculiaridades do gênero e-mail, levando o aluno a um estudo aprofundado a respeito desse gênero digital. Mais adiante é proposta a produção de um e-mail e para finalizar a atividade é pedido que avalie o e-mail produzido. Análise do diário e do blog No diário são descritos fatos de cunho pessoal, privado e íntimo, podendo-se utilizar no mesmo uma linguagem espontânea, informal e uma variedade lingüística não padrão. O diário contém ocorrências do cotidiano ou notas produzidas por quem o escreve, segredos, pensamentos, idéias, opiniões, observações, etc. Pode ser assinado ou não, como já mencionado anteriormente a variedade da linguagem do texto pode ser padrão ou não padrão, isso vai depender do locutor e o quais são suas pretensões , geralmente é escrito na primeira pessoa do singular, possui uma estrutura livre, geralmente no geral é direcionado e pode ou não ser dado a alguém. No exemplo do livro, o diário de Janaína Bauman, a linguagem utilizada no texto é a variedade padrão e encontra-se na primeira pessoa do singular. Devido ao momento histórico em que ocorreram os fatos (época de guerra), o tempo verbal é o presente, pois ela descreve acontecimentos vivenciados no momento, como se estabelecesse um “diálogo” com ela mesma e com os leitores. Provavelmente para não comprometer sua família, amigos e a si própria, Janaína prefere não assinar o diário, pois o mesmo poderia ser descoberto. A finalidade do diário de Janaína Bauman, seria testemunhar os horrores da Segunda Guerra Mundial. No exercício é proposto a produção de uma página de diário e logo em seguida são elaboradas três instruções básicas para que o aluno faça a análise da página do diário que criou. Quanto ao blog, a idéia inicial do gênero seria a de um diário eletrônico, mas em que, diferentemente do diário de papel, não há segredos. Porém hoje já existem blogs com outras funções, como é o caso dos blogs comunitários, onde Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 12 - todos os participantes podem expor seus textos, os blogs educativos, ou com a finalidade de um bate papo. Permitem um novo tipo de produção original e criativa, pois cada locutor é um co-construtor do texto. Os blogs oferecem espaço para comentários de seus leitores. Neles encontramos também uma grande diversidade semiótica, como, por exemplo, textos escritos, imagens (fotos, animações e desenhos), sons, entre outros. No caso dessa atividade (p. 164-167), o livro faz uma detalhada descrição do gênero blog, comparando-o com o diário convencional, para em seguida apresentar um exemplo de uma página de um blog. Mais adiante (p. 168), propõe a criação de um blog comunitário, indicando também o endereço de sites e provedores que podem explicar como se faz para montar um blog. Fonte: Livro didático Português: linguagens (Cereja e Magalhães), destinado às 5° séries, p.167 Análise das atividades É notória a importância do conhecimento e domínio dos diferentes gêneros textuais no plano de ensino e aprendizagem de produções de textos, por parte do estudante, pois os gêneros não só ampliam sua compreensão da realidade, mostrando-lhe maneiras concretas de melhor interação social, como também os preparam para eventuais práticas linguísticas. Diante deste fato ao realizar uma análise nas atividades oferecidas no livro didático Português: linguagens, destinado Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 13 - ao sexto ano (5ª. série), percebemos que o mesmo supre bem as necessidades do aluno em relação às descrições e ao conhecimento dos gêneros, bem como realiza um bom trabalho didático envolvendo tipologia textual. Percebemos também que o livro direciona o estudante a criar, o mais próximo possível da realidade, as condições da situação em que socialmente o gênero é produzido e lido/ouvido pelos interlocutores. A conclusão da análise do livro referente ao sexto ano foi bastante positiva, porém verificamos que seria viável desenvolver maior número de atividades relacionadas aos gêneros digitais, visto que na internet é onde podemos encontrar maior diversidade de gêneros, não esquecendo evidentemente que a internet tornou-se o mais eficiente e utilizado meio de interação social. As atividades desenvolvidas com os gêneros digitais são muito bem elaboradas e levam o aluno ao conhecimento e compreensão sistemática a respeito dos gêneros digitais (e-mail e blog), porém as atividades são mínimas, visto que na respectiva coleção encontramos em apenas em um dos livros (5ª. série), duas atividades específicas ao tema. O restante da coleção traz apenas pequenas alusões sobre os gêneros digitais. Análise da coleção 2007: novo diálogo No livro didático destinado ao sexto ano (5ª. série), pertencente à coleção Novo diálogo, das autoras Eliana Santos Beltrão e Thereza Gordilho, editora FTD, foram encontradas duas atividades em que são utilizados dois gêneros digitais, o blog e o e-mail (os mesmos gêneros utilizados na coleção de Cereja e Magalhães). Porém, após iniciar-se a análise das respectivas atividades, percebeu-se que os gêneros são utilizados apenas como um pano de fundo para o trabalho gramatical. Também foram encontradas indicações de sites de pesquisa ao término de algumas atividades do LD. Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 14 - Fonte: Livro didático destinado ao sexto ano (5°série), pertencente à coleção Novo diálogo (Beltrão e Gordilho), p. 32 Nota-se que todo o livro didático analisado tem como alicerce o trabalho quase que exclusivamente gramatical, excluindo não só gêneros virtuais, como outras modalidades de gêneros. O livro se utiliza de outros conteúdos fora do contexto gramatical, sempre como um subsídio para a gramática normativa. Fonte: Livro didático destinado ao sexto ano (5°série), pertencente à coleção Novo diálogo (Beltrão e Gordilho), p. 32 A atividade oferecida pelo livro didático Novo diálogo é exclusivamente gramatical, visto que se trata apenas do estudo de oração e período, tendo como um adorno o gênero digital blog. Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 15 - Como podemos observar a próxima atividade do livro didático envolvendo gênero digital, no caso o e-mail também utiliza o gênero apenas como enfeite, para trabalhar somente a ortografia. Fica perceptível a deficiência do livro em relação à inserção e ao trabalho com os gêneros digitais. Não diferente de tantos outros livros didáticos, é Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 16 - perceptível mais uma vez a falha concepção dos autores (as), de que os alunos já dominam os gêneros virtuais, pois a grande maioria dos jovens utilizam o computador e Internet diariamente. Assim, não se faz necessário explorar mais a prática desses gêneros em ambiente escolar. Esta afirmação torna-se plausível, quando ao término de algumas das atividades do livro, aparecem indicações de sites de pesquisa, para os alunos, pois caso sintam necessidade em saber mais sobre os conteúdos abordados como pano de fundo ou enfeite, para a aprendizagem gramatical, já sabem por onde pesquisar. Considerações finais Grande parte dos livros didáticos que apresentam gêneros digitais fogem do tema, utilizando esses gêneros apenas para o trabalho referente à gramática normativa. Os gêneros quase sempre aparecem como mero pano de fundo para as atividades gramaticais. Os gêneros digitais, nesses casos, não são vistos como subsídios à comunicação ou mesmo descritos e estudados de forma sistemática a preparar o aluno para uma visão mais crítica e intelectiva em relação a esses gêneros, os quais são diariamente utilizados pela maioria desses jovens fora do ambiente escolar. Pois hoje em dia é quase impossível se esquivar dessa nova forma de interação social que cria cada vez mais novos gêneros para o universo discursivo. Referências Bibliográficas BEZERRA, Benedito Gomes. Leitura e escrita no Orkut: o que os professores veem e o que não veem. Comunicação apresentada no 3° Encontro Nacional sobre Hipertexto. Belo Horizonte/MG, 29 a 31/10/2009. Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 17 - BEZERRA, Benedito Gomes. A distribuição das informações em resenhas acadêmicas. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará, 2001. MARCUSCHI, Luis Antônio; XAVIER, A. C. (org). Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucena, 2004. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, A.P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucena, 2002. _____. A questão do suporte dos gêneros textuais. João Pessoa, DLCV, v. 1, n. 1, p. 9-40, out. 2003. _____. Cognição, linguagem e práticas interacionais. Rio de Janeiro: Parábola Editorial, 2007. _____. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. 1 Amanda Carla SILVESTRE, Graduanda. Universidade de Pernambuco (UPE) Campus Garanhuns [email protected] Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 18 -