Salário contribui mais do que emprego na redução da pobreza

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BRASIL ECONOMICO
05jun15
Salário contribui mais do que emprego na redução da pobreza
Relatório do Banco Mundial sobre América Latina destaca papel do
boom dos preços mundiais das commodities
Paulo Fridman/Bloomberg
Leonardo Fuhrmann
O Banco Mundial divulgou uma pesquisa que mostra que a redução
da pobreza na região da América Latina e do Caribe se deve muito
mais ao aumento no valor dos salários do que por mais
oportunidades de emprego. Segundo o levantamento, os habitantes
pobres foram mais favorecidos nos países exportadores de
commodities, graças ao momento favorável para esses produtos na
última década.
O estudo compara dados de 2003 a 2013 e indica que, após uma
década de diminuição contínua da pobreza, os indicadores seguiram
estagnados por três anos seguidos. Para a instituição, o menor ritmo
de queda da pobreza tem relação com a desaceleração do
crescimento per capita.
Para a diretora para a América Latina e o Caribe das Práticas Globais
de Combate à Pobreza do Banco Mundial, Louise Cord, a forças dos
avanços sociais na região se dissipou nos últimos anos: "Com a
desaceleração dos preços das commodities, é essencial duplicar os
esforços para promover um crescimento mais inclusivo e reduzir a
pobreza. O resultado reforça a necessidade de aliviar as restrições
dos pobres quanto à sua participação no mercado de trabalho e
continuar ampliando o acesso à educação de qualidade e aos setores
de maior produtividade".
O Banco Mundial conclui que a pobreza na América Latina e no Caribe
— o parâmetro usado é a subsistência com menos de US$ 4 por dia
— diminuiu de 25,3% em 2012 para 24,3% em 2013. A extrema
pobreza (abaixo de US$ 2,50 por dia) caiu de 12,2% para 11,5%. A
instituição destaca que a queda da pobreza, mesmo em ritmo mais
lento, não foi uniforme: a América Central e o México tiveram
desempenho pior.
Os rendimentos no mercado de trabalho foram, na avaliação da
instituição, o principal fator para a redução da pobreza no continente.
O aumento da massa salarial foi maior principalmente entre os
trabalhadores menos qualificados, cuja possibilidade de serem de
famílias pobres é maior.
Em média, os trabalhadores não qualificados tiveram um aumento
anual de 4% de sua renda laboral; entre os demais trabalhadores, o
aumento médio foi de apenas 2%. O relatório aponta que a
participação da mão de obra menos qualificada no mercado de
trabalho não foi decisiva para a redução de índices de pobreza. Ainda
segundo os dados, o deslocamento desses trabalhadores para setores
mais produtivos ou para empregos de melhor qualidade foi
relativamente insignificante.
Para os autores, o salário mínimo, quando estabelecido corretamente,
pode atuar como um indicativo importante para salários mais
elevados até mesmo no setor informal, representado em sua maioria
pelos menos favorecidos. Eles destacam também a importância de
iniciativas públicas, como o incentivo à formalização e a legislação do
salário mínimo, além de medidas para aumentar a participação da
mão de obra feminina no mercado de trabalho.
Segundo o professor João Sabóia, do Instituto de Economia da UFRJ,
a questão do boom de preços do valor de exportação das matériasprimas tem menor impacto em um país como o Brasil, em razão do
tamanho da economia. "O Brasil é um país relativamente fechado e
com um mercado interno grande", analisa. Ele destaca a importância
dos programas de transferência de renda para a diminuição da
pobreza extrema, principalmente a partir de 2002.
Sabóia ressalta ainda a importância da política de reajuste do salário
mínimo, notadamente a partir do ex-presidente Lula. Ele lembra que
a política de reajuste tem impacto também em quem tem salários
pouco maiores que o mínimo, mas destaca que o momento positivo
da economia nos anos anteriores também favoreceu esses
resultados.
O economista aponta, no entanto, a baixa produtividade como um
problema: "O trabalhador brasileiro é menos produtivo do que o de
outros países, como Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Venezuela. O
problema não é só de instrução, mas também do material de
trabalho, de baixo investimento". Além da baixa instrução, ele aponta
a falta de qualidade da educação como outro problema. "Mas é algo
que não teremos solução em curto prazo", avalia.
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