Auguste Comte - O homem que quis dar ordem ao

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ADAPTAÇÃO DE SOCIOLOGIA
Com o avanço do conhecimento, tornou-se necessária uma divisão das
Ciências Sociais em diversas disciplinas, para facilitar a sistematização dos
estudos e das pesquisas. Essa divisão atualmente abrange as seguintes
disciplinas:
Sociologia — estuda as relações sociais e as formas de associação,
considerando as interações que ocorrem na vida em sociedade. A Sociologia
abrange, portanto, o estudo dos grupos sociais; dos fatos sociais; da divisão
da sociedade em camadas; da mobilidade social; dos processos de
cooperação, competição e conflito na sociedade; etc.,
Economia — estuda as atividades humanas ligadas a produção,
circulação, distribuição e consumo de bens e serviços. Portanto, são
fenômenos estudados pela Economia, a distribuição da renda num país, a
política salarial, a produtividade de uma empresa, etc.,
Antropologia — estuda e pesquisa as semelhanças e as diferenças
culturais entre os vários agrupamentos humanos, assim como a origem e a
evolução das culturas. Além de estudar a cultura dos povos pré-letrados, a
Antropologia ocupa-se com a diversidade cultural existente nas sociedades
industriais. São objetos de estudo da Antropologia os tipos de organização
familiar, as religiões, a magia, os ritos de iniciação dos jovens, o casamento,
etc.
Política — estuda a distribuição de poder na sociedade, bem como a
formação e o desenvolvimento das diversas formas de governo. A Ciência
Política estuda, por exemplo, os partidos políticos, os mecanismos eleitorais,
etc.
Não existe uma divisão nítida entre essas disciplinas. Embora cada
uma das Ciências Sociais se ocupe preferencialmente de um aspecto da
realidade social, elas são complementares entre si e atuam freqüentemente
juntas para explicar os complexos fenômenos da vida em sociedade.O termo
Sociologia foi criado por Auguste Comte em 1838 (séc. XVIII), que pretendia
unificar todos os estudos relativos ao homem — como a História, a
Psicologia e a Economia. Mas foi com Karl Marx, Émile Durkheim e Max
Weber que a Sociologia tomou corpo e seus fundamentos como ciência
foram institucionalizados. A Sociologia surgiu como disciplina no século
XVIII, em resposta acadêmica para um desafio que estava surgindo: o início
da sociedade moderna. Com a Revolução Industrial 1e posteriormente com a
1
Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas
com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada
Revolução Francesa 2 (1789), iniciou-se uma nova era no mundo, com as
quedas das monarquias e a constituição dos Estados nacionais no Ocidente.
A Sociologia surge então para compreender as novas formas das
sociedades, suas estruturas e organizações. A Sociologia tem a função de,
ao mesmo tempo, observar os fenômenos que se repetem nas relações
sociais e assim formular explicações gerais ou teóricas sobre o fato social
como também se preocupa com aqueles eventos únicos, como por exemplo,
o surgimento do capitalismo ou do Estado Moderno, explicando seus
significados e importância que esses eventos têm na vida dos cidadãos;
Como toda forma de conhecimento intitulada ciência, a Sociologia pretende
explicar a totalidade do seu universo de pesquisa. O conhecimento
sociológico, por meio dos seus conceitos, teorias e métodos, constituem um
instrumento de compreensão da realidade social e de suas múltiplas redes
ou relações sociais. Os sociólogos estudam e pesquisam as estruturas da
sociedade, como grupos étnicos (indígenas, aborígenes, ribeirinhos etc.),
classes sociais (de trabalhadores, esportistas, empresários, políticos etc.),
gênero (homem, mulher, criança), violência (crimes violentos ou não,
trânsito, corrupção etc.), além de instituições como família, Estado, escola,
religião etc.Além de suas aplicações no planejamento social, na condução de
na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século
XIX. Ao longo do processo (que de acordo com alguns autores se registra até aos
nossos dias), a era da agricultura foi superada, a máquina foi superando o trabalho
humano, uma nova relação entre capital e trabalho se impôs, novas relações entre
nações se estabeleceram e surgiu o fenômeno da cultura de massa, entre outros
eventos. Essa transformação foi possível devido a uma combinação de fatores, como
o liberalismo econômico, a acumulação de capital e uma série de invenções, tais
como o motor a vapor. O capitalismo tornou-se o sistema econômico vigente.
2
Revolução Francesa é o nome dado ao conjunto de acontecimentos que, entre
5 de maio de 1789 e 9 de novembro de 1799], alteraram o quadro político e social da
França. Ela começa com a convocação dos Estados Gerais e a Queda da Bastilha e se
encerra com o golpe de estado do 18 de brumário de Napoleão Bonaparte. Em causa
estavam o Antigo Regime (Ancien Régime) e os privilégios do clero e da nobreza. Foi
influenciada pelos ideais do Iluminismo [2] e da Independência Americana (1776).
Está entre as maiores revoluções da história da humanidade. A Revolução é
considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a
servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade,
Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria de JeanJacques Rousseau. Para a França, abriu-se em 1789 o longo período de convulsões
políticas do século XIX, fazendo-a passar por várias repúblicas, uma ditadura, uma
monarquia constitucional e dois impérios.
programas de intervenção social e no planejamento de programas sociais e
governamentais, o conhecimento sociológico é também um meio possível de
aperfeiçoamento do conhecimento social, na medida em que auxilia os
interessados a compreenderem mais claramente o comportamento dos
grupos sociais, assim como a sociedade com um todo. Sendo uma disciplina
humanística, a Sociologia é uma forma significativa de consciência social e
de formação de espírito crítico. A Sociologia nasce da própria sociedade, e
por isso mesmo essa disciplina pode refletir interesses de alguma categoria
social ou ser usado como função ideológica, contrariando o ideal de
objetividade e neutralidade da ciência. Nesse sentido, se expõe o paradoxo
das Ciências Sociais, que ao contrário das ciências da natureza (como a
biologia, física, química etc.), as ciências da sociedade estão dentro do seu
próprio objeto de estudo, pois todo conhecimento é um produto social. Se
isso a priori é uma desvantagem para a Sociologia, num segundo momento
percebemos que a Sociologia é a única ciência que pode ter a si mesma com
objeto de indagação crítica.
Auguste Comte - O homem que quis dar ordem ao mundo: Pai do
positivismo, ele acreditava que era possível planejar o desenvolvimento da
sociedade e do indivíduo com critérios das ciências exatas e biológicas; O
nome do pensador francês Auguste Comte (1798-1857) está
indissociavelmente ligado ao positivismo, corrente filosófica que ele fundou
com o objetivo de reorganizar o conhecimento humano e que teve grande
influência no Brasil. Comte também é considerado o grande sistematizador
da sociologia;O filósofo viveu num período da história francesa em que se
alternavam regimes despóticos3 e revoluções. A turbulência levou não só a
um descontentamento geral com a política como a uma crise dos valores
tradicionais. Comte procurou dar uma resposta a esse estado de ânimo pela
combinação de elementos da obra de pensadores anteriores a ele e
também de alguns contemporâneos, resultando num corpo teórico a que
chamou de positivismo. "Ele reviu as ciências para definir o que, nelas,
decorria da realidade dos fatos e permitia a formulação de leis naturais, que
3
Déspota é uma qualificação dada à pessoa que governa de forma arbitrária ou
opressora. Muitas vezes atingem o poder pelas vias democráticas ou movimentos
populares, mas com o tempo busca enfraquecer as demais instituições, reger leis de
interesse próprio e adquirir autoridade absoluta. É o mesmo que ditador, ou seja, o
indivíduo que exerce todo o poder político sozinho ou com um pequeno grupo de
pessoas sufocando seus opositores. Déspota Esclarecido é uma junção do
absolutismo com as idéias iluministas, recebem este nome pois são tiranos
esclarecidos. Grandes déspotas esclarecidos foram: Frederico II, Catarina II, Marquês
do Pombal e José II.
orientariam os homens a agir para modificar a natureza", diz Arthur Virmond
de Lacerda, professor da Faculdade Internacional de Curitiba.Auguste
Comte nasceu em 1798 em Montpellier, na França. Seus pais eram
católicos e monarquistas fervorosos. Comte, que rejeitou as convicções dos
pais ainda bem jovens, foi aluno brilhante, dos estudos básicos aos
superiores, na Escola Politécnica de Paris. Nesse período, seu melhor
amigo foi Henri de Saint-Simon (1760-1825), expoente do socialismo
utópico, com quem viria a romper mais tarde por questões ideológicas.
Comte trabalhava intensamente na criação de uma "filosofia positiva"
quando sofreu um colapso nervoso, em 1826. Recuperado, mergulhou na
redação do Curso de Filosofia Positiva, que lhe tomou 12 anos. Em 1842,
por divergências com os superiores, perdeu o emprego de pesquisador na
Politécnica e começou a ser ajudado por admiradores, como o pensador
escocês John Stuart Mill (1773-1826). No mesmo ano, Comte se separou de
Caroline Massin, após 17 anos de casamento. Em 1845, apaixonou-se por
Clotilde de Vaux, que morreria de tuberculose no ano seguinte. Clotilde seria
idealizada por Comte como a expressão perfeita da humanidade. O filósofo,
que dedicou os anos seguintes a escrever Sistema de Política Positiva,
morreu de câncer em 1857, em Paris. "Toda educação humana deve
preparar cada um a viver para os outros" A importância dos fundadores das
ciências sociais para a constituição da sociedade. Disciplina, hierarquia e
ciência na escola: Como Comte tinha a ordem na conta de valor supremo,
para ele era fundamental que os membros de uma sociedade aprendessem
desde pequenos a importância da obediência e da hierarquia. A imposição
da disciplina era, para os positivistas, uma função primordial da escola.
Segundo Comte, a evolução do indivíduo segue um trajeto semelhante à
evolução das sociedades. Assim, na infância passa-se por uma espécie de
estágio teológico, quando a criança tende a atribuir a forças sobrenaturais o
que acontece a seu redor. A maturidade do espírito seria encontrada na
ciência. Por isso, na escola de inspiração positivista, os estudos científicos
prevalecem sobre os literários. O filósofo acreditava ainda que todos os
seres humanos guardem em si instintos tanto egoístas quanto altruístas. A
educação deveria assumir a responsabilidade de desenvolver nos jovens o
altruísmo em detrimento do egoísmo, mostrando a eles que o objetivo
existencial mais nobre é dedicar a vida às outras pessoas. "A educação
positivista visa a informar o aluno sobre a ordem - isto é, como o mundo
funciona - e formar seu caráter, tornando-o mais bondoso", diz Virmond de
Lacerda. O pensamento de Comte tinha forte aspecto empirista, por levar
em conta apenas os fenômenos observáveis e considerar anticientíficos os
estudos dos processos mentais do observador. Na educação, isso acarreta
ênfase na aferição da eficiência dos métodos de ensino e do desempenho
do aluno. No século 20, a psicologia comportamental aperfeiçoaria ao
máximo esses procedimentos, com experimentos e testes aplicados em
grande escala. Um dos fundamentos do positivismo é a idéia de que tudo o
que se refere ao saber humano pode ser sistematizado segundo os
princípios adotados como critério de verdade para as ciências exatas e
biológicas. Isso se aplicaria também aos fenômenos sociais, que deveriam
ser reduzidos a leis gerais como as da física. Para Comte, a análise
científica aplicada à sociedade é o cerne da sociologia, cujo objetivo seria o
planejamento da organização social e política, o planejamento social traria o
bem-estar; O funcionamento da sociedade, para Comte, obedeceria a
diretrizes predeterminadas para promover o bem-estar do maior número
possível de indivíduos. Além de uma reformulação geral das ciências e da
organização sociopolítica, o filósofo planejou uma nova ordem espiritual,
inspirada na hierarquia e na disciplina da Igreja Católica, que considerava
muito eficiente. A nova doutrina, porém, se dissociava totalmente da teologia
cristã, que Comte rejeitava por se basear no sobrenatural, e não no
materialismo científico. No fim da vida, ele chegou a preconizar a construção
de templos positivistas, onde a humanidade, e não a divindade seria
venerada. O filósofo via a humanidade como uma entidade una, que
chamou de Grande Ser. Comte formulou uma lei histórica de três estágios.
Segundo essa lei, o pensamento humano partiu de um estágio teológico,
quando recorria às idéias de deuses e espíritos para explicar os fenômenos
naturais, e passou para um estágio metafísico, caracterizado por
fundamentar o conhecimento em abstrações - como essências, causas
finais ou concepções idealizadas da natureza. De acordo com Comte, a
humanidade só alcançaria plenitude intelectual ao chegar ao estágio
positivo, que pressupõe a admissão das limitações do entendimento
humano. Para ele, a razão não é capaz de operar a não ser pela via da
experiência concreta. Todo esforço da ciência e da filosofia deveria se
restringir, portanto, a encontrar as leis que regem os fenômenos
observáveis.Antes de Comte, a sociologia já havia dado os primeiros
passos, mas foi ele quem a organizou como ciência. O pensador a dividiu
em duas áreas: estática social e dinâmica social. A primeira estuda as forças
que mantêm a sociedade unida, enquanto a segunda se volta para as
mudanças sociais e suas causas. A estática social se fundamenta na ordem
e a dinâmica no progresso - daí o lema "ordem e progresso", que figura na
bandeira brasileira por inspiração comtiana (leia quadro acima). Conhecidos
a estrutura e os processos de transformação da sociedade, seria possível,
para o pensador, reformar as instituições e aperfeiçoá-las. "As leis
sociológicas permitem planejar o futuro porque indicam critérios de atuação
política", diz Virmond de Lacerda.Proclamação da República teve influência
positivista: O projeto sociopolítico de Comte pressupunha uma evolução
ordeira da sociedade, incompatível com revoluções e mudanças bruscas.
Curiosamente, no Brasil os ideais positivistas serviram para alavancar uma
troca de regime, com a proclamação da República. O aparente paradoxo se
explica, em parte, pelo fato de a influência positivista ter resultado em
pensamentos muito diversos no Brasil, conforme se combinou com outras
correntes ideológicas. Nenhum setor teve maior presença da ideologia
comtiana do que as Forças Armadas, de onde saiu o vitorioso movimento
republicano e a idéia de adotar o lema "ordem e progresso". Várias das
medidas governamentais dos primeiros anos da República tiveram
inspiração positivista, como a reforma educativa de 1891 e, no mesmo ano,
a separação oficial entre Igreja e Estado. O positivismo ficou de tal forma
conhecido no Brasil que o prenome de Comte foi aportuguesado para
Augusto e a corrente filosófica tornou-se tema de um samba de Noel Rosa e
Orestes Barbosa. A canção, intitulada Positivismo e lançada em 1933,
termina com os versos: "O amor vem por princípio, a ordem por base/O
progresso é que deve vir por fim/Desprezaste esta lei de Augusto Comte/E
foste ser feliz longe de mim".Cientistas deveriam formar elite dirigente: A
concepção planejada das reformas sociais que o filósofo julgava
necessárias não era compatível com a democracia, imprevisível por
natureza, e por isso Comte a rejeitou. Ele acreditava que a ciência positiva
seria o fundamento da fraternidade entre os homens, mas a
responsabilidade por conduzir o aperfeiçoamento das instituições estaria
restrita a uma elite de cientistas. O filósofo via todas as sociedades
constituídas por núcleos permanentes, como a família e a propriedade, que
devem promover o progresso. O positivismo compara a sociedade a um
organismo biológico, no qual nenhuma parte tem existência independente.
Num estágio positivo, próximo da perfeição, não haveria lugar para o
individualismo, apenas para o desenvolvimento da solidariedade e do
altruísmo (termo cunhado por Comte) de cada um em favor da coletividade.
O pensamento de Comte foi alvo de desconfiança e até de escárnio - em
especial a criação da religião da humanidade. Mas o positivismo teve
grande influência em seu tempo e peso decisivo no surgimento de correntes
de pensamento futuras, como o evolucionismo.
David Émile Durkheim: nasceu em 15 de abril de 1858, na França, e
morreu em 1917. O princípio sociológico de Durkheim está fundado no
social. Para ele, o que não advém do social não tem importância para a
sociologia que ele pretende fazer. Isso porque a sociedade é a pré-condição
de ser humano: é na sociedade que o indivíduo. A vida social unifica
estrutura e gera significados para a existência humana. Ele é determinista,
dando absoluto predomínio ao social tanto no plano causal quanto no plano
das ações.O social existe no plano ideal. Para Durkheim, é no social que
está tudo aquilo que a gente sabe que os antepassados descobriram e que
as futuras gerações irão descobrir. O social é universal e, por isso, objetivo e
racional.
REPRESENTAÇÕES COLETIVAS: O social cria representações
coletivas, que são atitudes comuns de uma determinada coletividade em
uma determinada época. Esta representação coletiva independe dos
indivíduos, pois o indivíduo não tem poder criativo. Em Durkheim, o social
que determina o indivíduo. É como se cada indivíduo trouxesse em si a
marca do social, e esta marca determinasse suas ações.
SOLIDARIEDADE: A comunhão dessas representações coletivas é por
ele chamado de solidariedade. Não se trata de um sentimento de bondade,
mas de uma comunhão de idéias. A solidariedade é o partilhar de um
mesmo conjunto de regras.Há dois tipos de solidariedades, a mecânica ou
por similitudes e a orgânica ou devida à divisão do trabalho. A evolução de
uma sociedade faz com que ela passe da solidariedade mecânica, em que o
partilhar das regras é feita de maneira coerciva, para a solidariedade
orgânica, em que o partilhar das regras sociais é feita a partir da
diferenciação feita pela divisão do trabalho social. Mas até em sociedades
mais complexas ainda há espaço para a solidariedade mecânica. É o caso
do direito penal: o direito penal é um resíduo de solidariedade mecânica
ainda existente nas sociedades complexas.
DIVISÃO DO TRABALHO E FUNCIONALISMO
A divisão do trabalho, para ele, pode ser: normal ou geral e anômica ou
patológica. Normal é o que se repete de maneira igual, o que funciona
espontaneamente, gerando a solidariedade necessária à evolução do social.
O patológico é aquilo que difere do normal. Durkheim acha que as coisas
tendem à normalidade: até o patológico caminha para a
normalidade.Durkheim compara a sociedade a um corpo humano, onde o
Estado é o cérebro, elaborando representações coletivas que aperfeiçoem a
solidariedade. Para ele, todas as partes do corpo têm uma função, não
havendo hierarquias entre as diferentes partes.
É uma sociedade
harmônica.Até o crime é considerado normal porque não há sociedade onde
não haja crime e também tem uma função social, a função de manter e gerar
uma coesão social. Quando acontece um crime, a consciência coletiva é
atingida: o social é agredido pelo indivíduo. Um ato não ofende a
consciência coletiva porque seja criminoso, mas é criminoso porque ofende a
consciência coletiva. No entanto, o Estado pode fortalecer a consciência
coletiva através da punição do criminoso. É através da punição do criminoso
que a consciência coletiva mantém a sua vitalidade. A pena impede um
crescimento exagerado do crime, não permitindo que ele se torne
patológico.Numa visão durkheimiana, a impunidade, não-punição do crime
pelo Estado, enfraquece a consciência coletiva, os laços de solidariedade,
gerando um estado de anomia. Quando o patológico prevalece sobre o
normal, há uma desestruturação social. O estado de anomia é uma situação
limite e sem função na sociedade.
PRINCIPAIS CRÍTICAS SOCIOLÓGICAS A DURKHEIM
Durkheim dá excessiva ênfase ao social, o que acaba retirando a
responsabilidade do indivíduo em suas ações. Há pouco espaço para o
indivíduo decidir, escolher, no pensamento durkheimiano. Até a idéia de
indivíduo, segundo ele, é construída pelo social. Suas teorias sofrem muita
influencia do positivismo e do evolucionismo social.
Max Weber: nasceu em Erfurt, em 21 de abril de 1864, e faleceu em
junho de 1920. Weber vive numa época em que as idéias de Freud
impactavam as ciências sociais e em que os valores do individualismo
moderno começavam a se consolidar. A grande inovação que Weber trouxe
para a sociologia foi o individualismo metodológico. Para ele, o indivíduo
escolhe ser o que é, embora as escolhas sejam limitadas pelo grau de
conhecimento do indivíduo e pelas oportunidades oferecidas pela sociedade.
O indivíduo é levado a escolher em todo instante, o que faz da vida uma
constante possibilidade de mudança. O indivíduo escolhe em meio aos
embates da vida social. Essa idéia faz com que o sentido da vida, da
história, seja dado pelo próprio indivíduo. Os processos não têm sentido
neles mesmos, mas são os indivíduos que dão sentido aos processos.
AÇÃO SOCIAL
A sociedade em Weber é vista como um conjunto de esferas
autônomas que dão sentido às ações individuais. Mas só o indivíduo é capaz
de realizar ações sociais. A ação social é uma ação cujo sentido é orientado
para o outro. Um conjunto de ações não é necessariamente ação social.
Para que haja uma ação social, o sentido da ação deve ser orientado para o
outro. Seja esta ação para o ‘bem’ ou o ‘mal’ do outro. A ação social não
implica uma reciprocidade de sentidos: o outro pode até não saber da
intenção do agente.
Para Weber há quatro tipos de ação social: ação social tradicional,
ação social afetiva, ação social racional quanto aos valores, ação social
racional quanto aos fins.
Ação social tradicional é aquela que o indivíduo toma de maneira
automática, sem pensar para realizá-la.
Ação social afetiva implica uma maior participação do agente, mas
são respostas mais emocionais que racionais. Ex.: relações familiares.
Segundo Weber, estas duas primeiras ações sociais não interessam à
sociologia.
Ação racional com relação a valores é aquela em que o sociólogo
consegue construir uma racionalidade a partir dos valores presentes na
sociedade. Esta ação social requer uma ética da convicção, um senso de
missão que o indivíduo precisa cumprir em função dos valores que ele preza.
Ação racional com relação aos fins é aquela em que o indivíduo
escolhe levando em consideração os fins que ele pretende atingir e os meios
disponíveis para isso. A pessoa avalia se a ação que ela quer realizar vale à
pena, tendo em vista as dificuldades que ele precisará enfrentar em
decorrência de sua ação. Requer uma ética de responsabilidade do indivíduo
por seus atos.
RELAÇÃO SOCIAL
Até agora falamos de ação social em Weber, que em diferente de
relação social. Enquanto o conhecimento do outro das intenções do agente
não importa para a caracterização da ação social, a relação social é o
sentido compartilhado da ação. Relação social não é o encontro de pessoas,
mas a consciência de ambas do sentido da ação. A relação social é sempre
probabilística, porque ela se fundamenta na probabilidade de ocorrer
determinado evento, o que inclui oportunidade e risco. A vida social é
totalmente instável: a única coisa estável da vida social é a possibilidade (e
necessidade) de escolha. Não há determinismos sobre a o que será a
sociedade.
Por isso, as análises sociológicas são baseadas em
probabilidades e não em verdades.
DOMINAÇÃO
Como já dissemos a vida social para Weber é uma luta constante. Por
conta disso, ele não vê possibilidade de relação social sem dominação.
Todas as esferas da ação humana estão marcadas por algum tipo de
dominação. Não existe e nem vai existir sociedade sem dominação, porque
a dominação é condição de ser da sociedade. A dominação faz com que o
indivíduo obedeça a uma ordem acreditando que está realizando sua própria
vontade. O indivíduo conforma-se a um padrão por sua própria escolha e
acha que está tomando uma decisão própria.
Existem pelo menos três tipos de dominação legítima: legitimação
tradicional, legitimação carismática e legitimação racional. Para Weber a
burocracia é a mais bem acabada forma de dominação legítima e racional. A
burocracia baseia-se na crença na legalidade ou racionalidade de uma
ordem. A burocracia mais eficaz de exercer a dominação. E é uma
conseqüência do processo de racionalização da vida social moderna, sendo
responsável pelo gerenciamento concentrado dos meios de administração da
sociedade. A burocracia é uma forma de organizar o trabalho, é um padrão
de regras para organizar o trabalho em sociedades complexas.
A
modernização para ele é o processo de passagem de uma perspectiva mais
tradicional do mundo (em que as coisas são dadas) para uma perspectiva
mais organizada (onde as coisas são elaboradas, construídas). Mas para
Weber, só o herói individual (o líder carismático) pode alterar o rumo da
história. Mesmo que imediatamente, uma vez que para Weber toda
legitimação carismática tende a tornar-se legitimação tradicional.
ESFERAS SOCIAIS
A dominação pode ser exercida em diferentes esferas da vida social.
As “esferas” são mais analítico-teóricas que reais, e são criadas pela divisão
social do trabalho. Uma esfera não determina outra esfera, mas elas trocam
influências entre si. As esferas são autônomas, mas não independentes. A
esfera é o lugar de luta por um tipo de sentido para as relações sociais.
Classes, Estamentos e partidos são fenômenos da disputa de poder nas
esferas econômica, social e política, respectivamente.
CLASSE E ESTAMENTO
Vamos falar um pouco mais de classe e Estamentos em Weber, até
para diferenciá-lo de Marx; Classe para Weber é o conjunto de pessoas que
tem a mesma posição diante do mercado. Há dois tipos básicos de classe,
as que têm algum tipo de bem e as que não têm algum tipo de bem. Mas as
classes também se diferenciam pela qualidade dos bens possuídos. A
classe como já disse estão ligadas à esfera econômica da vida social. Para
Weber, a esfera econômica não tem capacidade de produzir um sentimento
de pertencimento que seja capaz de gerar uma comunidade.Estamentos está
ligado à esfera social, que é capaz de gerar comunidade, é um grupo social
cuja característica principal é a consciência do sentido de pertencimento ao
grupo. A luta por uma identidade social é o que caracteriza um Estamento. A
luta na esfera social é para saber qual deles vai dominar; As profissões
podem ser analisadas como Estamentos.
PRINCIPAIS CRÍTICAS SOCIOLÓGICAS A WEBER
Weber supervaloriza o indivíduo, tornando demasiada a cobrança
sobre suas escolhas e conformidades. Talvez nem tudo seja escolhido
individualmente.Ele ao mesmo tempo em que vê na burocracia forma mais
acabada de dominação legítima, acha que a burocracia fortalece a
democracia por causa de sua impessoalidade. Talvez ele não tenha tido
tempo para perceber que a burocracia tem a possibilidade de ser um
instrumento de democratização, mas que freqüentemente funciona de
maneira contrária, servindo apenas como instrumento de dominação.
CONCLUSÃO: RELEVÂNCIA ATUAL DE MARX, DURKHEIM E
WEBER PARA A SOCIOLOGIA.
A principal importância de Marx para hoje é que podemos dizer que ele
ao enunciar que tudo vira mercadoria, acertou (ou contribuiu para isso). A
prevalência da economia hoje em dia, representada pela força dos próprios
economistas na sociedade (funcionando como gurus), dá uma idéia da
importância de Marx para as ciências sociais. Outro aspecto importante é
que o uso da teoria marxista hoje não precisa se preocupar com a análise da
realidade política, uma vez que o socialismo real chegou ao fim.
A importância de Durkheim é que não se pode fazer sociologia da
educação sem Durkheim, principalmente na análise de processos de
socialização a partir da escola. Durkheim fornece instrumentos para
entender os processos. O conceito de anomia, por exemplo, é básico para
entender mudanças que impliquem alterações nas relações sociais, tais
como modernização da sociedade, urbanização, industrialização, padrões
morais e construção/alteração de identidades coletivas.Weber talvez seja o
mais atual dos autores clássicos da sociologia com importantes contribuições
para a teoria antropológica, devido ao seu individualismo metodológico, para
a sociologia das profissões, para a análise das relações de dominação e dos
processos de racionalização das sociedades. Mas sem dúvida a grande
contribuição de Weber foi à necessidade de pesquisas empíricas para
afirmar alguma coisa científica.
Isso porque sua teoria não aceita
determinismos.
Karl Marx: (1818-1883) talvez seja o mais conhecido cientista social e
também o menos conhecido. Explico melhor: é difícil encontrar alguém que
nunca tenha ouvido falar de Marx, mas também é difícil encontrar pessoas
que conheçam bem as idéias deste autor. Talvez porque o pensamento de
Marx seja muito aberto, o que possibilita leituras diferenciadas. Mas o
pensamento de Marx é mais bem aproveitado pelos economistas que pelos
cientistas sociais. Isso porque para Marx, a mercadoria é a base de todas as
relações sociais, e este é o ponto-chave para a compreensão de suas idéias.
Para ele, há uma tendência histórica das relações sociais se
mercantilizarem: tudo vira mercadoria. Provavelmente Marx tenha dado tanta
importância à economia porque estivesse presenciando as mudanças sociais
provocadas pela Revolução Industrial, principalmente nas relações de
trabalho. A partir da centralidade da mercadoria no pensamento de Marx,
podemos entender alguns de seus conceitos mais importantes. Comecemos
pela divisão do trabalho.
DIVISÃO DO TRABALHO
Evolutivamente, a divisão do trabalho é a segunda maneira de construir
relações sociais de produção, que são formas como as sociedades se
organizam para suprir suas necessidades. A primeira é a cooperação. Falar
em divisão do trabalho em Marx é falar em formas de propriedade. Isso
porque a divisão do trabalho se dá entre quem concede e quem executa o
trabalho, entre os donos dos meios de produção e os donos da força de
trabalho.
CLASSES
Da divisão do trabalho surgem as classes. Para Marx, as classes não
são constituídas de agregados de indivíduos, mas são definidas
estruturalmente: as classes são efeito da estrutura. No modo de produção
antigo as classes eram a dos patrícios e dos escravos; no modo de produção
feudal, havia senhores e servos; no modo de produção capitalista, burgueses
e operários. Há sempre uma relação de oposição entre duas classes, de
modo que uma não existe sem a outra. Esta oposição ele chamou de luta de
classes.
LUTA DE CLASSES
As lutas de classes assim como as classes decorrem da divisão do
trabalho. Nas sociedades modernas a luta de classes se dá entre
capitalistas ou burgueses (donos dos meios de produção) e trabalhadores ou
proletariado (donos da força de trabalho). O trabalho nas sociedades
modernas é denunciado por Marx pelo seu caráter exploratório do
trabalhador.
No entanto, Marx vê uma solução para esta relação
exploratória: a revolução que seria feita pelo proletariado. No entanto, a
revolução do proletariado contra o modo de produção capitalista só não
acontece, segundo Marx, devido à alienação.
FETICHISMO
A separação da mercadoria produzida pelo trabalhador dele mesmo
esconde o caráter social do trabalho. O fetichismo se dá quando a relação
entre os valores aparece como algo natural, independente dos homens que
os criaram. A criatura se desgarra do criador.
O fetichismo incapacita o
homem de enxergar o que há por trás das relações sociais. E o maior
exemplo de fetichismo da mercadoria é a mais-valia.
MAIS-VALIA
A mais-valia é o excedente de trabalho não pago, não incluído no
salário do trabalhador. É a mais-valia que forma o lucro que será investido
para aumentar o capital.
ALIENAÇÃO
A alienação faz com que o trabalhador não se reconheça no produto de
seu trabalho, não percebendo a sua condição de explorado. A solução para
o problema da alienação passa por uma luta política do próprio proletariado e
não pela educação.
IDEOLOGIA
Como dissemos, as classes dominantes controlam os meios de
produção. A infra estrutura (conhecimentos, fábricas, sementes, tecnologia
etc.), que está nas mãos da classe dominante, determina a superestrutura
(Estado, Direito, Religião, Cultura etc.). A superestrutura é uma construção
ideológica que serve para garantir o poder da classe dominante, mantendo a
classe trabalhadora alienada.
PRINCIPAIS CRÍTICAS SOCIOLÓGICAS A MARX
Marx não reconhece outros fatores de formação social além dos
econômicos. Para ele, a economia determina todas as relações sociais, o
que foi amplamente apropriado pelos economistas. Existem critérios não
econômicos que as idéias de Marx não dão conta na hora de analisar
sociologicamente uma sociedade. Por exemplo, Marx desconsidera a
divisão técnica do trabalho. Para ele, a divisão do trabalho obedece apenas
fatores econômicos.As idéias de Marx aproximam-se mais de uma filosofia
moralista que de uma produção científica. Talvez este seja o motivo de tento
sucesso das idéias de Marx durante o século XX, o que deu origem ao
marxismo, que são interpretações dos escritos de Marx. A verdade em Marx
é uma verdade absoluta, moralista, doutrinária. Isso dá à teoria marxista um
caráter ilustrativo: como a “verdade” já foi descoberta (por Marx), cabia aos
cientistas ilustrar com exemplos a ‘verdade’ enunciada por Marx. Por muito
tempo os cientistas sociais aplicaram a teoria de Marx.
A PRODUÇÃO SOCIOLÓGICA BRASILEIRA: Podemos dizer que a
Sociologia brasileira começa a “engatinhar” a partir da década de 1930, vindo
a se fortalecer nas décadas seguintes. Apesar de alguns autores da
sociologia dizer que não há uma data correta que marca o seu começo em
solo brasileiro, essa época parece ser a mais adequada para se falar em
início dos estudos sociológicos no Brasil. Quando dizemos “data mais
adequada”, é porque as produções literárias que surgem a partir dessa
década (1930) começam a demonstrar um interesse na compreensão da
sociedade brasileira quanto à sua formação e estrutura. Mas note não
estamos afirmando que antes da data acima ninguém havia se proposto a
entender nossa sociedade. Antes da década de 1930 muitos ensaios
sociológicos sobre o Brasil foram elaborados por historiadores, políticos,
economistas, etc. No entanto, na maioria destes trabalhos, os autores
apresentavam a tendência de escrever sobre raça, civilização e cultura, mas
não tentavam explicar a formação e a estrutura da sociedade brasileira.A
partir de 1930, surge no Brasil um período no qual a reflexão sobre a
realidade social ganha um caráter mais investigativo e explicativo.Esse
caráter mais investigativo e explicativo foi impulsionado pelos muitos
movimentos que estimularam uma postura mais crítica sobre o que acontecia
na sociedade brasileira. Dentre alguns destes movimentos estão o
Modernismo, a formação de partidos (sobretudo o partido comunista) e os
movimentos armados de 1935. Movimentos como esses, de alguma forma,
traziam transformações de ordem social, econômica, política e cultural ao
país, e despertava o interesse de pensadores em dar explicações a tais
fenômenos. Aos poucos a Sociologia passa a constituir-se como uma forma
de reflexão sobre a sociedade brasileira. Veja como isso aconteceu:
Movimento Modernista: Lutava para que as regras vigentes sobre a arte e a
literatura deixassem de “engessar” a produção brasileira. A intenção do
movimento era que os moldes internacionais não sufocassem o que viesse a
ser arte com um jeito nacional. A Semana de Arte Moderna de 1922, em SP,
foi uma espécie de marco da independência da arte brasileira.
Partido Comunista: Fundado em 25 de Março de 1922, tinha o ideário de
criar uma cultura socialista no Brasil. Com base em teóricos como o alemão
Karl Marx, inauguraram uma maneira de se fazer política voltada aos
interesses do proletariado. Movimentos armados de 1935: Também
conhecidos como o “Levante Comunista”. Tiveram como protagonistas o
Partido Comunista (PCB) e os Tenentes de esquerda do exército brasileiro.
Alguns de seus projetos e lutas eram pelo fim do imperialismo e pela
existência de uma ditadura democrática. Apesar de vencidos, serviram para
que o PCB ficasse conhecido e ganhasse maior força no cenário brasileiro.
Ver indicação de filme correspondente no final deste trabalho.
Fases da sua implantação
Dividindo os acontecimentos da implantação da Sociologia no Brasil como
ciência, em fases, ou em geração de autores, de acordo com o sociólogo
brasileiro Otávio Ianni (1926-2003), destacamos aqui três delas, as quais se
complementam:
A fase “A” da implantação da Sociologia no Brasil:
A primeira geração da Sociologia brasileira seria composta por aqueles
autores que se preocuparam em fazer estudos históricos sobre a nossa
realidade, com um caráter mais voltado à Literatura do que para a
Sociologia. Desta geração de autores, queremos destacar Euclides da
Cunha (1866-1909). Cunha nasceu no Rio de Janeiro, foi militar engenheiro,
além de ter estudado Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Porém, o
que gostava de fazer, como profissional, era o jornalismo. Em 1895,
abandonou o Exército e começou a trabalhar como correspondente do jornal
“O Estado de São Paulo”. Nessa função foi enviado para a Guerra de
Canudos, no interior da Bahia, de onde surgiu sua maior contribuição à
Sociologia brasileira: o livro Os Sertões.Se analisarmos este livro pelo
enfoque literário, podemos perceber que Cunha faz, usando seus
conhecimentos de Ciências e Físicas Naturais, relatos sobre como era a
terra e a paisagem de Canudos. Também faz a descrição dos homens que
ali viviam, ou seja, os sertanejos, nos quais percebe que, ao contrário do que
pensava antes de conhecê-los, eram fortes e valentes, ainda que a
aparência dos mesmos não demonstrasse isso.Por fim, Cunha descreve a
guerra, isto é, como foi que o governo da época conseguiu acabar com o que
considerava ser uma revolução que reivindicava a volta do sistema
monárquico no Brasil. Na verdade Antonio Conselheiro (o líder da Revolução
de Canudos) e seus seguidores apenas defendiam seus lares, sua
sobrevivência. “É que estava em jogo, em Canudos, a sorte da República...”
Diziam-no informes surpreendedores; aquilo não era um arraial de bandidos
truculentos apenas. “Lá existiam homens de raro valor – entre os quais se
nomeavam conhecidos oficiais do exército e da armada, foragidos desde a
Revolução de Setembro, que o Conselheiro avocara ao seu partido.”
(CUNHA, 1979: 250). Olhando mais pelo lado sociológico, podemos perceber
que Cunha estava fazendo revelações quanto à organização da República
que estava sendo consolidada. Canudos era um retrato de uma sociedade
republicana que não conseguia suprir as necessidades básicas de seu povo.
Coisa que Antonio Conselheiro, com sua maneira missionária de ser,
acreditava e lutava para acontecer, pois... ““... Abria aos desventurados os
celeiros fartos pelas esmolas e produtos do trabalho comum. Compreendia
que aquela massa, na aparência inútil, era o cerne vigoroso do arraial.
Formavam-na os eleitos, felizes por terem aos ombros os frangalhos
imundos, esfiapados sambenitos 4de uma penitência que lhes fora a própria
vida; bem-aventurados porque o passo trôpego, remorado pelas muletas e
pelas anquiloses5, lhes era a celeridade máxima, no avançar para a
felicidade eterna”. (CUNHA, 1979: 132 ). Após duas tentativas sem sucesso
de “tomar” Canudos – pois os sertanejos tornavam difícil a vida dos
soldados, por conhecerem muito bem a caatinga sertaneja – o governo
4
Espécie de saco de baeta amarela e vermelha que os penitentes usavam,
metendo-o pela cabeça, quando caminhavam para a execução nas fogueiras da
Inquisição.
5
Perda Total da mobilidade articular ativa e passiva óssea: por fusão dos ossos
que formam uma articulação; fibrosa: por retração ou aderência das partes moles
articulares ou periarticulares.
federal republicano deixou de subestimar a força daquelas pessoas que se
uniram ao Conselheiro. Convocaram para uma terceira expedição batalhões
armados de vários estados brasileiros e promoveu uma grande guerra e
matança naquela região, em prol da República. A observação de Euclides da
Cunha e as revelações que faz quanto à sociedade brasileira em Os Sertões,
transforma esta obra em um dos referenciais de início do pensamento
sociológico no Brasil.
A fase “B” da implantação da Sociologia no Brasil:
Numa segunda fase de geração de autores, a preocupação em se fazer
pesquisas de campo, que é uma característica das pesquisas sociológicas,
começa a ser levada em conta. Existem vários autores desta geração que
poderíamos referenciar como Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Sérgio
Buarque de Holanda, Fernando de Azevedo, Nelson Wernek Sodré,
Raymundo Faoro, etc. No entanto, vamos nos fixar em dois deles, os quais
podem ser vistos como clássicos do pensamento social brasileiro: Gilberto
Freyre e Caio Prado Júnior. Gilberto Freyre foi o autor de: Casa Grande &
Senzala (1933), livro no qual demonstrou as características da colonização
portuguesa, a formação da sociedade agrária, o uso do trabalho escravo e,
ainda, como a mistura das raças ajudou a compor a sociedade brasileira.
Freyre foi um sociólogo que nasceu em Pernambuco no ano de 1900 e, no
desenvolver de sua profissão, criou várias cátedras de Sociologia, como na
Universidade do Distrito Federal, fundada em 1935. Freyre faleceu em 1987.
Quando escreveu Casa Grande & Senzala tinha 33 anos e, anti-racista que
era, inaugurou uma teoria que combatia a visão elitista existente na época,
importada da Europa, a qual privilegiava a cor branca. Segundo tal visão
racista, a mistura de raças seria a causa de uma formação “defeituosa” da
sociedade brasileira, e um atraso para o desenvolvimento da nação.Freyre
propõe um caminho inverso. Em Casa Grande & Senzala ele começa
justamente valorizando as características do negro, do índio e do mestiço
acrescentando, ainda, a idéia de que a mistura dessas raças seria a “força”,
o ponto positivo, da nossa cultura. Este autor forneceu, para o seu tempo,
uma nova maneira de ver a constituição da nacionalidade brasileira, isto é, o
Brasil feito por uma harmoniosa união entre o branco (de origem européia), o
negro (de origem africana), o índio (de origem americana) e o mestiço,
ressaltando que essa “mistura” contribuiu, em termos de ricos valores, para a
formação da nossa cultura.No entanto, vale ressaltar aqui que Gilberto
Freyre tinha um “olhar” aristocrático e conservador sobre a sociedade
brasileira, pois além de justificar as elites no governo, sua descrição do
tempo da escravidão em Casa Grande & Senzala adquire uma conotação
harmoniosa, ele não via conflitos nessa estrutura. Mas se para Gilberto
Freyre era um erro pensar que a mistura das raças seria um atraso para o
Brasil, há outro autor que se propôs a verificar qual seria e onde estaria a
origem do atraso da nação brasileira. Estamos falando de Caio Prado Júnior.
Este autor vai nos fornecer uma visão muito mais crítica sobre a formação da
nossa sociedade. Veja por quê. Enquanto Gilberto Freyre fazia uma análise
conservadora da formação da sociedade brasileira, Caio Prado recorria à
visão marxista, isto é, partindo do ponto de vista material e econômico para o
entendimento da nossa formação. Caio Prado Júnior nasceu em 1907 e
faleceu em 1990. Formou-se em direito e, de forma autodidata, leu e tomou
para si os ideais de Marx, o que o fez uma pessoa comprometida com o
Socialismo. Caio Prado também era uma espécie de “contramão” do Partido
Comunista Brasileiro no seu tempo, pois um dos militantes daquele partido,
Octávio Brandão (1896-1980), havia escrito um livro na década de 1920,
chamado Agrarismo e Industrialismo no qual apresentava a tese de que o
atraso do Brasil, em termos econômicos, estava no fato dele ter tido um
passado feudal. E esta tese continuou a ser defendida pelo PCB com o
historiador Nelson Wernek Sodré (1911-1999), que interpretava o
escravismo, no Brasil Colonial, como uma característica do feudalismo. É por
essa razão que Caio Prado era contrário ao Partido Comunista, pois a idéia
de que no passado o Brasil havia sido feudal era “importada” do marxismo
oficial, da Europa, e que em sua opinião, não funcionava aqui. E, para Caio
Prado, a prova disso estaria no fato de que no sistema feudal o servo não
era considerado uma mercadoria, coisa que ocorria aqui com os escravos, o
que denota uma característica do sistema capitalista (e não feudal) no que
tange à análise da mão-de-obra. No seu livro Formação do Brasil
Contemporâneo, publicado em 1942, Caio Prado apresenta a tese de que a
origem do atraso da nação brasileira estaria vinculada ao tipo de colonização
a que o Brasil foi submetido por Portugal, isto é, uma colonização periférica e
exploratória. Traduzindo para melhor compreendermos... Caio Prado explica
que Portugal teve grande contribuição no “nosso atraso” como nação, pois o
centro do capitalismo, na época do “descobrimento” do Brasil, Nelson
Wernek Sodré A produção sociológica brasileira estava na Europa, o que
fazia com que as riquezas daqui fossem levadas para lá. Este tipo de
organização econômica foi denominado de primária e exportadora, pois os
produtos extraídos das monoculturas brasileiras, nos latifúndios, eram
exportados para os países que estavam em processo de industrialização.
Segundo Caio Prado, a América era vista pelos europeus como sendo “... um
território primitivo habitado por rala população indígena incapaz de fornecer
qualquer coisa de realmente aproveitável. Para os fins mercantis que se
tinha em vista, a ocupação não se podia fazer como nas simples feitorias
comerciais, com um reduzido pessoal incumbido apenas do negócio, sua
administração e defesa armada; era preciso ampliar estas bases, criar um
povoamento capaz de abastecer e manter as feitorias que se fundassem e
organizar a produção dos gêneros que interessassem ao seu comércio. A
idéia de povoar surge daí, e só daí”. (PRADO JÚNIOR, 1942: 24).As teses
desse autor rompem com as análises dos autores que antes dele
apresentaram um pensamento conservador restrito, isto é, de reprodução
daquilo que estava posto na sociedade brasileira e, conseqüentemente, sem
a intenção de apresentar propostas para sua transformação. Assim sendo,
segundo a visão de Caio Prado, Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala,
pode ser considerado “conservador”. Veja por que: a) seus escritos nos
levam a pensar que a miscigenação acontecia sempre de maneira
harmoniosa. Mas e a relação entre os senhores brancos e suas escravas
negras, por exemplo? Se verificarmos relatos da história verá que as negras
eram forçadas a terem relações sexuais com eles, o que é bem diferente de
harmonia. b) sobre os problemas sociais da época, Freyre não apresenta
nenhuma proposta para a solução dos mesmos, ou para a transformação da
sociedade.Para Caio Prado Júnior, os pontos “a” e “b” mencionados acima
demonstram a postura conservadora de Gilberto Freyre, pois transparece
certo conformismo com a situação em que se apresentava a sociedade.
Conformismo que pressupõe continuidade, sem transformação.
E a fase “C” da implantação da Sociologia no Brasil:
Já a partir dos anos de 1940 novos sociólogos começam a aparecer no
cenário brasileiro.Esta terceira geração é formada por sociólogos que vieram
de diferentes instituições universitárias, fundadas a partir de 1930 e
inauguram estilos mais ou menos independentes de fazer Sociologia. Dessa
forma, e progressivamente, a intelectualidade sociológica no Brasil começa a
ganhar corpo. Também começam a surgir estilos ou tendências, o que fez
com que surgissem diferentes “escolas” de Sociologia em São Paulo, Recife,
Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte e em outros lugares. Dos autores
que fazem parte dessa terceira geração, podemos citar Oliveira Viana,
Florestan Fernandes, Guerreiro Ramos, dentre vários outros. Mas vamos nos
deter na obra do sociólogo paulista Florestan Fernandes (1920-1995),
importante nome da Sociologia crítica no Brasil. Qual é a proposta de
Sociologia que ele apresenta? Florestan Fernandes foi um sociólogo que fez
um contínuo questionamento sobre a realidade social e das teorias que
tentavam explicar essa realidade. O objetivo deste autor foi de, numa intensa
busca investigativa e crítica, ir além das reflexões já existentes. Florestan
Fernandes tinha como metodologia “dialogar”, de maneira muito crítica, com
a produção sociológica clássica, Mas veja o diálogo não se dava somente
com aqueles autores, pois a lista de clássicos, principalmente modernos, é
bem extensa. Florestan também mantinha contínuo diálogo com o
pensamento crítico brasileiro. Autores como Euclides da Cunha e Caio Prado
Júnior, os quais vêm anteriormente, fazem parte de sua lista de
interlocutores. O diálogo com esses autores foi fundamental para o seu
trabalho de análise dos movimentos e lutas existentes na sociedade,
principalmente aquelas travadas pelos setores populares. Outro aspecto de
sua maneira crítica de fazer Sociologia foi a sua afinidade com o pensamento
marxista, principalmente sobre o modo de analisar a sociedade, o que se
constituiu numa espécie de “norte” crítico orientador de seu pensamento. As
transformações sociais que ocorreram a partir de 1930 no Brasil foram,
também, umas espécies de “motor” para os trabalhos de Florestan. Mas não
apenas para ele, pois como já mencionamos, essas transformações serviram
de impulso para os trabalhos sociológicos no Brasil como um todo. E isso se
deu principalmente a partir de 1940, pois essas transformações se
intensificaram muito por causa do aumento da industrialização e da
urbanização.
Questões:
!- Quem foi Auguste Comte e qual sua importância para sociologia?
2- Explique a Lei dos tres estados.
3- Qual a referência entre Auguste Comte e o lema da nossa bandeira.
4- Quem foi Émile Durkheim , e qual o objeto principal da sociologia
para ele?
5- Defina o que Durkheim fala sobre:
a) Consciência coletiva
b) Solidariedade orgânica e mecânica.
6- explique os tipos de suicídio segundo Durkheim.
7- Explique quem foi Max Weber e porque seu pensamento ia em
direção diferente aos demais.
8- Explique os quatro tipos de ação social segundo Weber.
9- Qual o objeto principal da sociologia para Weber?
10-Segundo as ideias de Marx, explique:
a) mais-valia
b) alienação
c) contradição capital x trabalho.
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