Projeto de Comunicação da Política Nacional de Humanização Cuidados Paliativos: quando a qualidade de vida inclui a qualidade de morte Para melhorar a “qualidade de morte”, o campo dos cuidados paliativos deve crescer tanto no SUS quanto na iniciativa privada, prevê o psicólogo e professor Erasmo Ruiz, estudioso do tema e editor da Rede Humaniza SUS “Enganam-se aqueles que veem nos cuidados paliativos uma prática sobre a morte. Não! É uma prática que intenta potencializar a vida no momento em que ela se encontra mais fragilizada”, diz o psicólogo Erasmo Ruiz, professor da Universidade Estadual do Ceará, integrante da equipe de editores cuidadores da Rede Humaniza SUS (RHS). De acordo com ele, apesar de importantes iniciativas isoladas dentro do SUS, o campo dos cuidados paliativos ainda está por ser explorado: “não existe uma formalização de redes de cuidados nessa área. A oferta de serviços não é adequada à demanda, o que nos leva a concluir que se morre mal no Brasil”, opina o professor. Ele lembra que, recentemente, a revista The Economist tentou construir um índice de “Qualidade de Morte” em 40 países escolhidos por sua importância cultural e geopolítica. O Brasil ficou em 38º lugar, à frente apenas de Uganda e Índia. Nos primeiros lugares estão países como Reino Unido e Austrália* (veja link abaixo). Para Ruiz, a diferença é que esses países contam com uma extensa rede de cuidados paliativos, amplo acesso dos profissionais de saúde a medicamentos de combate a dor e uma base cultural que favorece outro tipo de abordagem nos casos de doenças graves ou morte iminente. E essas abordagens vão contra a ideia de que não haveria mais nada a fazer. “Ora, é justamente nessa situação, em que se alega que não há mais nada a ser feito, que atua a perspectiva paliativista”, ressalta Ruiz. Os princípios dos cuidados paliativos mostram que existem muitas coisas a serem feitas, como por exemplo: · Fornecer alívio para dor e outros sintomas estressantes como fraqueza, anorexia, dispneia e outras emergências oncológicas. · Reafirmar vida e a morte como processos naturais. · Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente. · Não apressar ou adiar a morte. · Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente em seu próprio ambiente. · Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte. · Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto. Humanização e futebol Na visão de Ruiz, muitos dos dispositivos preconizados pela Política Nacional de Humanização (PNH) já são comuns no cotidiano de quem trabalha com os cuidados paliativos, como o acolhimento, a prática da clínica ampliada, a autonomia do usuário, a inclusão dos familiares do paciente nos projetos de cuidado e as modificações feitas na ambiência hospitalar, bem como o direito à visita aberta e a relativização do poder médico, a partir de uma ação multidisciplinar. Todo esse repertório é articulado para “dar mais vida aos dias do que dias à vida”, como sintetiza a frase de Cicely Saunders, uma das precursoras dos cuidados paliativos na modernidade. O objetivo desses cuidados, lembra Ruiz, é que os pacientes vivam até o fim, que os seus familiares participem desse processo e os trabalhadores de saúde se, por um lado, sofrem no lidar com a morte, sintam-se também satisfeitos por se perceberem como agentes ativos na mitigação da dor e do sofrimento. Foi o que aconteceu, por exemplo, com um garoto de 13 anos que, com a perspectiva de viver no máximo duas semanas, pediu para sair do hospital e ver seu time jogar no estádio do futebol. De início, houve dificuldades para a equipe atender esse pedido, que envolvia questões técnicas para transporte e manutenção do cuidado fora do ambiente hospitalar. “No fim, a equipe percebeu que resolver essas questões significava quebrar o modelo biomédico tradicional e reafirmar os princípios dos cuidados paliativos. E assim foi feito. O garoto pode assistir à partida e seu time venceu, o que o deixou duplamente feliz “, relata o estudioso. Ele comenta que casos desse tipo – em que grandes sonhos ou pequenas alegrias são vivenciados antes da morte – costumam ter destaque na mídia, exatamente porque ainda são raros. Ruiz acredita que, em breve, tais situações – onde a vida será vivida até o fim e a morte ganhará mais qualidade – serão comuns, graças às demandas dos usuários e, sobretudo, do interesse das novas gerações de trabalhadores da saúde. “Quando comecei a dar aulas de taunatologia em 1999, o cuidado paliativo era visto como algo exótico, mas isso mudou completamente”, afirma. Atualmente, ele coordena junto com a Dra. Ines Melo, o curso de Especialização em Cuidados Paliativos em Fortaleza (na Universidade Estadual do Ceará). E o número de interessados cresce a cada turma. “Nos próximos anos teremos um crescimento dos serviços de cuidados paliativos no Brasil em progressão geométrica”, prevê. Segundo ele, razões não faltam. Na perspectiva privatista, trata-se de aumentar a qualidade dos serviços e reduzir custos. Na área de saúde pública, existe insatisfação pela forma como pacientes sofrem desnecessariamente em UTIs. “A implementação de programas como o “Melhor em Casa” coloca a necessidade de desenvolver cuidados paliativos na Atenção Básica. Essas problemáticas vão disparar processos onde o apoio da PNH é necessário”, diz. Experiência pessoal na rede No final do ano passado, Ruiz surpreendeu os amigos e trabalhadores que participam da Rede Humaniza SUS com um post em que relatava a descoberta de um câncer e o tratamento bem sucedido a que se submeteu ao longo de 2014. Ruiz apresentou conexões entre sua experiência pessoal e profissional: “A razão é singela. Naquela situação, pude perceber na prática tudo aquilo que falava aos meus alunos: relação médico/paciente dessubjetivada; inabilidade em se dar más notícias; ausência de um projeto terapêutico onde me sentisse mais autônomo; dificuldade em compartilhar sentimentos oriundos da perspectiva da morte. Enfim, creio que hoje tornei-me um professor melhor pois o saber teórico agora está “temperado” pela prática”. Para ler o post: www.redehumanizasus.net/88218-umaexperiencia-muito-pessoal-com-a-morte Para saber mais sobre Cuidados Paliativos: Pesquisa sobre qualidade de morte www.lienfoundation.org/pdf/news/2010/QoD_Global_Press _Release_EIU_Final.pdf Livro sobre Cuidado Paliativo www.cremesp.org.br/library/modulos/publicacoes/pdf/livro _cuidado%20paliativo.pdf Manual de Cuidados Paliativos: media.wix.com/ugd/7ba6db_66150fdd64544eddbee58f6f12 55117c.pdf A Comunicação das Notícias Difíceis: bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/comunicacao_noticias _dificeis.pdf Contatos Erasmo Ruiz [email protected] Cel. 85 96885979 (TIM) Cel. 85 88993841 (Oi) Erasmo Ruiz é psicólogo, professor na Universidade Estadual do Ceará, em Fortaleza, e integrante da equipe de editores cuidadores da Rede HumanizaSUS Sheila Souza [email protected] Tel.: 61 3315 9130 Jornalista da PNH - Secretaria de Atenção à Saúde Ministério da Saúde www.saude.gov/humanizasus www.redehumanizasus.net O que é PNH – A Política Nacional de Humanização é uma política pública transversal e atua como eixo norteador em todas as esferas do SUS. Além do respeito ao direito do usuário, apóia processos de mudanças nos serviços para torná-los mais acolhedores, com atenção para as necessidades objetivas e subjetivas dos usuários. Promove a gestão participativa, ampliando o diálogo entre os gestores dos serviços, os profissionais de saúde e a população. A PNH completou 11 anos em 2014.