INFORME ECONÔMICO Segunda-feira, 10 de março de 2008 / Nº 11 ARTIGOS Balanço de Pagamentos: até quando? Os primeiros sinais de piora na dinâmica da balança comercial aumentam a dependência relativa de capitais para manter o equilíbrio do Balanço de Pagamentos. Palavras-Chave: Contas externas, reservas, dívida Tudo igual A decisão do COPOM já era aguardada pelo mercado, diante das poucas modificações na conjuntura desde a reunião anterior. Palavras-Chave: política monetária, cenário internacional, inflação, Selic FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO GRANDE DO SUL Av. Assis Brasil, 8787 Fone: (051) 3347.8731 Fax: (051) 3347.8795 UNIDADE DE ESTUDOS ECONÔMICOS www.fiergs.org.br As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S Balanço de Pagamentos: até quando? Os primeiros sinais de piora na dinâmica da balança comercial aumentam a dependência relativa de capitais para manter o equilíbrio do Balanço de Pagamentos. A história econômica do Brasil é uma boa justificativa para se comemorar o equilíbrio das contas externas. Durante anos, o País se viu às voltas com diversas ações políticas que tinham como objetivo resolver o problema da falta de dólares. Restrição às importações, seja via desvalorização da taxa de câmbio, seja pela proibição da importação de produtos, como também através da imposição de tarifas sobre as mesmas. No âmbito financeiro, a crise do Balanço de Pagamentos culminou no não pagamento de dívida externa, como ocorrido no início da década de 1980. Ressalta-se que, muito mais do que um movimento revolucionário contra o imperialismo, o não pagamento da dívida foi meramente uma questão contábil. Sem oferta de dólares no mercado internacional para o Brasil, dívidas com credores externos vencendo e com poucos recursos em caixa no Banco Central, a única alternativa foi suspender os fluxos de saída de dólares do País, até que ocorresse uma melhora no cenário econômico internacional. Hoje a situação é diferente. O chamado “equilíbrio das contas externas”, está respaldado no elevado superávit comercial obtido em 2007 (US$ 40 bilhões), e na forte entrada de investimento no Brasil (US$ 87 bilhões), dos quais US$ 48 bilhões na categoria “portfolio”, onde se inclui ações e renda fixa. O forte crescimento da economia mundial, que representa uma maior demanda por exportações brasileiras, e a disponibilidade de dólares para investimento, junto com um nível de taxa de juros baixa em países desenvolvidos foi o pano de fundo desse cenário. Os bons fundamentos da economia brasileira nos últimos anos, e o elevado diferencial de juros, são as explicações no ambiente nacional. O mundo está comprando Brasil, seja em produtos, seja em ações ou títulos de dívida. Sem querer estragar a festa, é importante lembrar que há riscos na continuidade desse equilíbrio. Naturalmente, com a maior importância do cenário interno para a manutenção do crescimento da economia, juntamente com um câmbio valorizado, que inibe a expansão das exportações, o saldo comercial seria reduzido. Era uma questão de tempo. Dos US$ 47 bilhões de 2006, para US$ 40 bilhões em 2007 e uma projeção de US$ 29 bilhões para 2008. E a pergunta que surge é: quando haverá o saldo zero, ou entraremos em déficit comercial? Bem, supondo taxa de câmbio de R$/US$ 1,7, um crescimento econômico mundial e brasileiro em 4,5%, commodities em nível elevado e ausência de uma política externa estrutural, como melhoria dos canais de comercialização, redução dos custos para o exportador como impostos e os incidentes sobre a folha de pagamento, seria no primeiro semestre de 2011. Isso mesmo, no próximo governo. A projeção de um crescimento anual das exportações brasileiras em 17%, bem acima da taxa mundial, que é de 8%, mas em linha com o que os números mostram, e de importações em 30%, condizente com o cenário atual, irá gerar uma corrente de comércio de US$ 520 bilhões em 2011, com exportações iguais às importações. E o que isso deve representar em termos de “equilíbrio das contas externas”? Com a economia mundial continuando a se expandir a taxas elevadas, a oferta de dólares para o Brasil pode financiar um provável déficit em transações correntes já em 2008. Cenário já presenciado pelos brasileiros no passado. Em tese, não há nenhum problema em um País ter déficit em transações correntes, desde que existam condições de financiá-lo, seja via investimento direto ou dos chamados capitais de curto prazo. Aliás, o certo é que países mais pobres, que experimentam juros maiores relativamente às demais economias, perdurem com déficit em transações correntes e utilizem poupança externa para se ajustarem. O que então prejudica essa relação e gera desequilibrios? Controle de capitais, restrições de comércio, pequeno grau de abertura da economia e custos de transação financeira e comercial, como impostos, tarifas, instabilidade política, econômica e jurídica. Portanto, a economia brasileira entrar em déficit em transações correntes, não seria um problema em um cenário de crescimento econômico internacional, liquidez de dólares, juros externos baixos e continuidade da melhora dos fundamentos da economia. A questão importante é que deixamos de sustentar o Balanço de Pagamentos com as relações comerciais, e passamos a depender, novamente, do fluxo de capitais. É difícil dizer o valor em dólares que deve entrar no País nos próximos anos pela via de investimento, ainda mais diante do excepcional valor de 2007. Porém, acreditar que deve continuar a crescer o fluxo é mais difícil que apostar na manutenção do nível em torno de US$ 87 bilhões, ou até, em uma redução. Nesse caso, uma acomodação do câmbio, em um regime de taxa flutuante, deve se materializar mas, até lá, o País pode deixar de exportar determinados tipos de produtos. É importante destacar que a fotografia de hoje não revela um sinal de crise no Balanço de Pagamentos do Brasil. Talvez seja uma preocupação prematura, ou devaneios de economistas que teimam em fazer previsões e sempre estão desconfiados. Mas, como diz o ditado: “Gato escaldado, tem medo de água fria”. Unidade de Estudos Econômicos www.fiergs.org.br I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S Tudo igual A decisão do COPOM já era aguardada pelo mercado, diante das poucas modificações na conjuntura desde a reunião anterior. O cenário interno manteve-se equivalente ao da última reunião, registrando uma leve melhora na evolução dos preços, porém ainda não suficiente para dissipas totalmente pressões inflacionárias, e que, portanto, não justificaria nem uma redução da Selic, porém, tampouco um aumento. O Banco Central está bem ciente que os preços administrados exercerão forte pressão sobre a inflação em 2008 em decorrência dos IGP-s apurados no ano passado e que ainda existem os efeitos defasados dos cortes da Selic que não foram plenamente assimilados pela economia nacional. Outra questão importante é que o câmbio, fiel colaborador do controle do processo inflacionário, deverá assumir uma trajetória de valorização menos intensa em 2008 do que a registrada em anos anteriores, o que, naturalmente, puxa o freio na dinâmica da redução das taxas de juros no país. Entretanto, dois pontos destacaram-se positivamente na última semana, apontando a possibilidade de uma flexibilização da política monetária ainda em 2008, cenário que não se desenhava em janeiro perante a inflação registrada em 2007 e a possibilidade de aprofundamento da desaceleração econômica dos EUA. O primeiro ponto foi o valor registrado pelo índice de preços ao consumidor semanal (IPC-S), divulgado na semana passada, que ficou estável (0%) em fevereiro, contrariando as expectativas de alta. Em janeiro, esse índice havia registrado alta de 0,97%. Outra boa notícia é que o item alimentos, principal responsável pela alta inflacionária em 2007, registrou deflação de 0,38% em fevereiro, medida por esse mesmo índice. O valor registrado pelo IPC-S tornou obsoleto o Relatório semanal do BACEN (divulgado em 29/02) que trouxe uma nova deterioração nas expectativas de inflação para 2008. Como se sabe, no Sistema de Metas de Inflação, utilizado pelo Brasil para a implementação da política monetária, as expectativas inflacionárias assumem um papel crucial nas determinações das taxas de juros. Outro ponto positivo foi a diminuição da volatilidade cambial e a volta da trajetória de desvalorização do dólar frente ao real, mesmo com a deterioração da balança comercial brasileira que, em fevereiro, registrou seu pior resultado mensal desde meados de 2002. Apesar de muito menos intenso do que em 2007, no mês passado registrou-se a entrada líquida de US$ 3,25 bilhões, por via financeira e comercial. No mesmo período de 2007, essa entrada havia sido mais que o dobro, cerca de US$ 6,98. No cenário externo, a incerteza quanto à dinâmica da economia americana persiste, com indicadores difusos quanto à piora ou melhora da situação. Entretanto, vale ressaltar que os sinais de piora apresentam-se em maior número e com valores bastante significativos. O FED (Banco Central americano), que já cortou 1,25 p.p nos juros só nesse ano, continua sinalizando a necessidade de manter-se mais vigilante. Espera-se que a política de cortes persista, a despeito de qualquer pressão inflacionária que essa ação possa vir a deflagrar, uma vez que a autoridade monetária já se revelou altamente preocupada com o crescimento da economia. Com isso, é provável que o diferencial de juros americano em relação ao brasileiro deverá aumentar nos próximos meses. Como conseqüência há de se esperar mais investimentos em portfólio no País, pressionando a valorização do câmbio, o que retardaria aumentos da Selic. Entretanto, nem todas as variáveis, no âmbito externo, assumiram trajetória que favorecessem uma política monetária mais frouxa. Recentemente, observou-se uma leve piora no risco-país que registrou 265 pontos, às vésperas da última reunião do COPOM. O risco-país é entendido como uma espécie de "termômetro" informal da confiança dos investidores globais em um País de economia emergente. Porém, no caso do Brasil, o aumento recente do risco-país teve muito maior influência do aumento da aversão ao risco dos investidores no mercado global (revelada através do aumento das taxas de juros pagas pelos títulos de dez anos do Tesouro Americano), do que propriamente uma “desconfiança” na economia brasileira, o que justifica a valorização recente do câmbio concomitantemente ao aumento do risco-país. O preço do petróleo, por outro lado, apresentou forte variabilidade, o que ainda inspira preocupações relacionadas à inflação de custos. Assim, apesar da queda do preço dos alimentos em fevereiro, ainda não há qualquer tipo de certeza quanto a movimentos futuro da inflação. Ainda que muitos produtos estejam com preços em níveis históricos (soja e milho, por exemplo), não se espera uma queda de preços, pelo menos no curto prazo. A boa notícia é que a oferta registra alta no cenário interno, com maiores investimentos em bens de capital (favorecidos pelo câmbio), o que é fundamental para manter o equilíbrio com a demanda, que continua aquecida. Atualmente, o mercado espera alterações na taxa de juros somente a partir da reunião de setembro, quando o Banco Central mira a inflação de 2009, e não mais a de 2008. Entretanto, a cautela deverá ser a palavra de ordem durante todo ano. Apesar do perfil do COPOM ter mudado, a incerteza que paira no ar deverá atrasar decisões de redução da taxa de juros. A próxima reunião do comitê tem data marcada para os dias 15 e 16 de abril, mas parece que tudo permanecerá igual. 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