Questionário - Proficiência Clínica Área: Imunohematologia Rodada: Set/2015 Texto Complementar TITULAÇÃO EM IMUNOHEMATOLOGIA Elaborador Alexandre Gomes Vizzoni. Biólogo. Mestrado em Pesquisa Clínica (INI-FIOCRUZ). Coordenador de atividades diagnósticas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI-Fiocruz). Especialista em Imunohematologia (UFRJ) e proficiência técnica em Imunohematologia (ABHH). O título de um anticorpo é determinado pelo inverso da diluição mais elevada onde se observa aglutinação de pelo menos 1+. Portanto, o título deve ser representado apenas por números (ex:8) conforme figura 1, e não pela fração da diluição onde o mesmo ainda se revelou positivo (1/8). A titulação, em geral, pode ser utilizada para determinação do título de isoaglutininas de doadores e pacientes (anti-A, anti-B), na titulação de aloanticorpos formados por pacientes previamente imunizados e no controle de qualidade de reagentes. Figura 1: Titulação em gel centrifugação, com resultado do título= 8. Os títulos de anticorpo anti-D são geralmente utilizados para determinar o grau de aloimunização. Eles podem ser identificados por técnicas laboratoriais altamente sensíveis, como titulação em gel centrifugação. Entretanto, uma vez positivo em gel, o método de reação de aglutinação com diluição em tubo é o indicado pela aplicabilidade e correlação clínica. Os métodos em gel e em tubo não apresentam resultados similares e a correlação entre os valores do título em gel com os resultados em tubos devem ser avaliados juntamente com a clínica do paciente. É necessário que toda avaliação de título de anticorpos dos pacientes, principalmente de gestantes, os resultados devem ser obrigatoriamente comparados com o último título realizado, permitindo assim, um melhor acompanhamento clínico e laboratorial do paciente (Tabela 1): Tabela 1: Realização do título de uma amostra (anti-D) de uma gestante realizada em períodos diferentes. Amostra GRSN53 1:2 1:4 1:8 1:16 1:32 1:64 1:128 1:256 1:512 1:1024 1:2048 3+ 2+ 1+ 0 0 0 0 0 0 0 0 4+ 3+ 2+ 2+ 1+ 0 0 0 0 0 0 23/02/2015 Amostra GRSN53 20/04/2015 Obs.: Note que o título do anticorpo aumentou entre a realização na primeira amostra (8) e a segunda amostra (32), podendo representar evolução clínica significativa numa possível Doença hemolítica perinatal (DHPN). Técnica de titulação em tubo: 1. Identificar uma sequência 10 de tubos 12x75mm como: 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256, 512 para uma titulação seriada. 2. Com exceção do tubo 1, adicionar 100 µl de salina em todos os tubos. 3. Adicionar 100 µl do soro ou reagente a ser testado aos tubos 1/1 e 1/2. 4. A partir do tubo 2 transferir 100 µl da mistura para o tubo seguinte sucessivamente. 5. Transferir 100 µl da mistura do tubo 512 para um tubo reserva, uma vez que pode haver a necessidade de continuar as diluições. 6. Adicionar 50 µl da suspensão de hemácias contendo o antígeno correspondente ao soro ou reagente a ser testado. 7. Em caso de titulação de reagentes, proceder para a etapa 8. Se a titulação for de um anticorpo de paciente (reativo a 37°C), há a necessidade de incubar previamente todos os tubos a 37°C por pelo menos 15 minutos. Página 1 de 3 Questionário - Proficiência Clínica Área: Imunohematologia Rodada: Set/2015 8. No caso de reagentes (Ex: anti-A, anti-B), centrifugar por 15 segundos a 3400 rpm ou 1 minuto a 1000 rpm, realizar leitura imediata e anotar os resultados. O título será determinado pelo inverso da diluição mais elevada onde se observa aglutinação de pelo menos 1+. Em se tratando de titulação de anticorpos irregulares, após a incubação deve-se lavar todas as hemácias 3 vezes com solução fisiológica e após adicionar 1 gota de antiglobulina humana. 9. Após a adição da antiglobulina humana, centrifugar por 15 segundos a 3400 rpm ou 1 minuto a 1000 rpm, realizar leitura imediata e anotar os resultados. O título será determinado pelo inverso da diluição mais elevada onde se observa aglutinação de pelo menos 1+ 10. Aos tubos que apresentarem resultados negativo, não esquecer de adicionar hemácias recobertas por IgG para validar a reação. Proceder a etapa 9 e esses tubos devem agora apresentar resultado positivo. Esta reação positiva não é utilizada para o resultado de titulação! Figura 2: Esquema demonstrando a técnica de titulação. Importância na prática transfusional da titulação de anticorpos • Monitorar títulos seriados ao longo de uma gestação, permitindo uma estimativa da gravidade potencial para anemia hemolítica perinatal. A elevação rápida do título do anticorpo durante a gestação pode indicar que o feto pode ser afetado; • De acordo com o anticorpo envolvido, a monitorização do título do anticorpo pode levar a procedimentos diagnósticos adicionais, durante a gestação. • Na anemia hemolítica autoimune é particularmente importante em termos de avaliação da eficácia terapêutica, dando indicação se o título do anticorpo está ou não diminuindo com a terapêutica prescrita. Considerações importantes 1. O significado clínico de um anticorpo em uma gestante não é determinado isoladamente pela titulação. É necessário que sua especificidade seja determinada e principalmente a classe desse anticorpo (anticorpos IgM não atravessam a barreira placentária). 2. A capacidade hemolítica de um anticorpo de classe IgG pode variar de acordo com a sua especificidade e capacidade em ativar complemento. O anti-D parece ser apenas o único anticorpo que há correlação de título com gravidade de hemólise, sendo o título 16 considerado crítico. Página 2 de 3 Questionário - Proficiência Clínica Área: Imunohematologia Rodada: Set/2015 3. Você deve lembrar que existem outros anticorpos e nem todos necessitam de um alto título para provocar uma grave anemia no feto. O anti-K (Kell) é um bom exemplo para esta situação. Daí a necessidade de identificar o anticorpo antes de realizar o título. 4. Para que a técnica de titulação seja corretamente realizada, especial atenção deve ser adotada quando for transferir um volume de um tubo para o outro. Faça opção por uma pipeta calibrada e não utilize pipeta Pasteur, pois a mesma frequentemente forma bolhas e não permite transferir o volume adequado entre os tubos. 5. As hemácias a serem utilizadas na titulação devem estar na concentração adequada e apresentar fenótipo eritrocitário conhecido. Isto será principalmente importante na titulação em paralelo, ou seja, quando se compara resultados anteriores com o atual, as hemácias utilizadas na titulação anterior e na atual devem ter o mesmo fenótipo. Referências Bibliográficas • Brizot ML, Nishie EN, Liao AW, Zugaib M, Simões R. Aloimunização http://www.projetodiretrizes.org.br/diretrizes10/aloimunizacao_rh_na_gestacao.pdf Rh na gestação. Disponível em: • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência. Imuno-hematologia laboratorial / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência.–Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 60 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/imuno_hematologia_laboratorial.pdf • Novaretti MCZ. Bonifácio SL, Medeiros VR et al. Dez anos de experiência em controle de qualidade em imuno-hematologia. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. São Paulo,v. 31, n. 3, p. 160-165, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbhh/v31n3/aop5209.pdf • Cunningham FG, Leveno KJ, Bloom SL et al. Obstetrícia de Williams – Guia de estudo. 23ª ed. Editora Revinter. Página 3 de 3