Fibrilhação Auricular O coração a querer saltar do peito O bater rápido e irregular do coração acompanhado de aperto no peito ou tonturas pode sinalizar uma arritmia. Fale com o seu o médico O risco 5% são pessoas com mais de 65 de arritmia anos, subindo para os 8% a partir é maior dos 80 anos. Além disso, está presente num em cada cinco casos de em obesos, acidente vascular cerebral (AVC). idosos ou consumidores O que é a fibrilhação de álcool em auricular? excesso ■ Quando um indivíduo saudável está em repouso, o coração bate 60 a 100 vezes por minuto, a um ritmo constante. Tal deve-se à regularidade das descargas elétricas que o órgão recebe e que são responsáveis pela contração do músculo cardíaco. ■ Numa situação de fibrilhação auricular, essas correntes elétricas tornam-se irregulares, originando batimentos mais fracos e rápidos. ■ O coração chega a bater 100 a > Sintomas oiça o coração Um em cada 10 casos de fibrilhação auricular é assintomático e surge sem razão aparente. Procure o médico, se sentir: ´ ´ ´ ´ ritmo cardíaco rápido e irregular; dor no peito; fadiga ou tonturas; falta de ar, particularmente em situações de esforço ou de ansiedade. teste saúde 111 outubro/novembro 2014 Quem nunca sentiu o coração a bater descontrolado que atire a primeira pedra. Em geral, a sensação passa em segundos e tudo acaba por se explicar com um ataque de ansiedade, excesso de álcool, tabaco ou cafeína, certo? Na maioria das vezes, sim. Mas há situações em que convém consultar o médico: por exemplo, se sentir palpitações com mais frequência ou maior intensidade do que o habitual e, sobretudo, se as mesmas forem acompanhadas de outros sintomas, como tonturas e aperto no peito. Estes sinais podem indicar uma arritmia. A arritmia mais comum — a fibrilhação auricular — afeta 0,4% a 1% da população nos países ocidentais, em particular os mais velhos: 15 Fibrilhação Auricular > teste saúde 111 outubro/novembro 2014 175 vezes por minuto, não conseguindo relaxar entre contrações, e o sangue acumula-se nas aurículas, formando coágulos. Estes podem deslocar-se para os ventrículos, cuja função é bombear o sangue para o sistema circulatório, e migrar depois para os pulmões ou para outros órgãos. Neste percurso, corre-se o risco de bloquearem os vasos sanguíneos do cérebro e impedirem a oxigenação dessas zonas, provocando lesões temporárias ou permanentes. São os conhecidos acidentes vasculares cerebrais. ■ Nalgumas situações, a fibrilhação auricular desaparece em menos de 48 horas, sem necessidade de tratamento. Também pode manter-se até sete dias (menos, se tratada) ou tornar-se persistente. Neste caso, prolonga-se por um ano ou mais e exige tratamento. A fibrilhação persistente enfraquece o coração e dificulta o seu trabalho de bombear o sangue para o resto do organismo (insuficiência cardíaca). Nos pacientes em que se torna permanente, é impossível repor o ritmo normal do coração. ■ Os indivíduos com antecedentes familiares de fibrilhação auricular, hipertiroidismo, tensão arterial alta e doenças pulmonares ou cardíacas correm maior risco de sofrer de arritmia. O mesmo sucede a pessoas obesas, em idade avançada ou com tendência para consumir álcool em excesso. 16 Compasso marca a diferença O coração saudável pode bater mais depressa ou mais devagar, mas fá-lo a um ritmo constante. Num doente com fibrilhação, as batidas surgem descoordenadas. Ritmo saudável Fibrilhação auricular IMPULSO ELÉTRICO NORMAL O impulso elétrico percorre a aurícula esquerda, provoca a sua contração e bombeia o sangue para o ventrículo. Perto deste, o sinal abranda e permite que encha de sangue. Depois, volta a acelerar para que o sangue siga em direção aos pulmões e a outras zonas do corpo. IMPULSO ELÉTRICO IRREGULAR Os impulsos surgem descoordenados em várias zonas da aurícula, provocando tremor ou fibrilhação das mesmas. A V RITMO EFICIENTE O coração bombeia o sangue de forma eficiente para os pulmões e para as restantes partes do organismo. RITMO IRREGULAR O sangue não sai por completo da aurícula, podendo formar coágulos. Além disso, o coração enfraquece e não consegue bombear o sangue de forma eficaz. Como é feito o diagnóstico? ■ O médico tem de conhecer a história clínica do paciente para identificar potenciais fatores de risco. Além de medir a tensão arterial, o peso e a altura, pede análises ao sangue para determinar potenciais causas (anemia, complicações na tiroide, etc.). Avalia ainda o estado do fígado e a existência de problemas de coagulação. Isto permite-lhe calcular o risco de administrar fármacos Eletrocardiograma mostra um ritmo cardíaco normal e regular. Em caso de problemas, o ritmo cardíaco é desordenado e tem batidas irregulares. Tratar por diversas vias ■ Se a causa da fibrilhação for tratável ou puder ser controlada, como é o caso do hipertiroidismo (produção excessiva de hormonas pela tiroide), essa será a solução. De contrário, o médico passa para o tratamento farmacológico. ■ Perante a necessidade de corrigir o ritmo irregular, recorre aos chamados antiarrítmicos, como os betabloqueadores (atenolol e propanolol) e a digoxina. Caso pretenda reduzir o número de batidas por minuto, pode receitar, por exemplo, aqueles medicamentos ou bloqueadores dos canais de cálcio (verapamil ou diltiazem) ou digoxina. ■ Nas situações mais graves, quando a medicação não surte efeito ou é desaconselhada (em geral, a partir dos 80 anos), o pacemaker é uma opção. Esta pequena bateria inserida no peito permite regular o batimento. ■ Outra solução é destruir com um cateter pequenas zonas do coração afetadas pelo problema, de modo a interromper as cargas elétricas anormais. ■ Nalgumas situações, o médico pode ainda ponderar a aplicação controlada de choques elétricos no coração (cardioversão) para restaurar o ritmo normal. Este tratamento, no geral, é aplicado em indivíduos com menos de 65 anos, que sofram de fibrilhação auricular há pouco tempo e/ou apresentem angina de peito não controlada. ■ Durante o processo, é fundamental prevenir a formação de coágulos. A varfarina é um dos medicamentos mais usados. A dose administrada varia com a capacidade de o organismo coagular o sangue, medida através de análises sanguíneas, em particular do parâmetro INR (International Normalized Ratio). Se o valor do INR for demasiado baixo, é preciso aumentar a dose do medicamento, para assegurar a prevenção. Já se for demasiado alto, impõe-se baixar a dose, dado que há maior risco de hemorragia. Alguns medicamentos e alimentos também interferem na absorção da varfarina. Por isso, o paciente tem de ser vigiado com regularidade. ■ Atualmente, o debate científico centra-se no efeito dos novos anticoagulantes (apixaban, dabigatran e rivaroxaban). Ao contrário da varfarina, estes medicamentos não têm exigido análises regulares. Porém, uma investigação recente, publicada no British Medical Journal, revelou que a monitorização pode ser necessária, pelo menos, no caso do dabigatran. Além disso, é preciso ter em conta que não existe um fármaco para anular a ação destes novos anticoagulantes face a uma hemorragia. Desvantagem é também o facto de serem desaconselhados a doentes renais ou hepáticos, ao contrário da varfarina. O debate promete continuar. Monitorização de Holter, para controlar a atividade cardíaca durante 24 horas O número de batimentos por minuto é registado em contínuo TESTE SAÚDE ACONSELHA Uma vida a bom ritmo ´ A ingestão de álcool em excesso, o consumo de tabaco, a obesidade e a tensão arterial alta aumentam o risco de fibrilhação auricular. ´ Meça a tensão arterial e procure mantê-la abaixo dos 140/90 mmHg. Se os valores diferirem muito dos aconselhados, procure o médico. ´ Em média, o coração de uma pessoa saudável bate 60 a 100 vezes por minuto, um intervalo que, só por si, já permite algumas variações. Fatores como a idade, os níveis de stresse, a cafeína e a medicação também podem ter influência no normal batimento cardíaco, mas são momentâneos. Medir o pulso é uma maneira simples de conhecer o próprio ritmo. Alterações significativas e persistentes podem ser um indicador de fibrilhação, pelo que convém falar com o médico. teste saúde 111 outubro/novembro 2014 habitualmente utilizados. ■ Seguem-se os exames localizados. O eletrocardiograma permite verificar a atividade elétrica do coração. Nalguns casos, é necessária uma avaliação cardíaca durante 24 horas. Trata-se da chamada monitorização de Holter: o paciente transporta uma máquina de eletrocardiograma durante um dia inteiro, com elétrodos colocados no peito e no abdómen, para registar a atividade do coração. Em geral, o exame é realizado em ambulatório e pede-se ao utente que desempenhe as suas atividades normais. ■ O ecocardiograma, por funcionar através de ultrassons, permite detetar doenças cardíacas estruturais que podem exigir tratamento cirúrgico. É o caso do estreitamento da válvula que liga a aurícula ao ventrículo do lado esquerdo do coração. ■ Na posse de todos os elementos, o médico analisa as necessidades de tratamento. 17