Page 1 of 31 UM PROTOCOLO NACIONAL PARA A CLOZAPINA. COMENTÁRIOS E SUGESTÕES AO ANEXO I DA PORTARIA 286 DO MINISTÉRIO DA SAÚDE. Clozapine Preliminary Official Guidelines For Brazilian Mental Hospitals. Critical Appraisal And Suggestions. Leopoldo Hugo Frota Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal – UFRJ Membro do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psiquiatria – IPUB/UFRJ Marco Antônio Alves Brasil Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal - UFRJ Jussara Margareth França Alves Mestre em Ciências Farmacêuticas Chefe do Serviço de Farmácia do Instituto de Psiquiatria – IPUB/UFRJ João Ferreira da Silva Filho Diretor do Instituto de Psiquiatria – IPUB/UFRJ Resumo Após breve revisão da literatura, com ênfase para eficácia e tolerabilidade da substância, examina-se crìticamente a proposta preliminar (Portaria SAS 286, Anexo I de 14 de agosto de 2000) da Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, contendo diretrizes para o emprego clínico da clozapina em pacientes esquizofrênicos refratários no Sistema Único de Saúde. A revelância, oportunidade e justificativa da iniciativa são ressaltadas. Uma ampliação dos critérios de inclusão, de forma a alcançar pacientes com outras formas de intolerância grave aos antipsicóticos convencionais, além da discinesia tardia, é defendida. Sugere-se a não inclusão, além dos pacientes com (1) contagens leucocitárias inferiores a 3500 céls/mm3 e/ou granulocitárias inferiores a 1500 céls/mm3; daqueles com (2) passado de leucopenia ou agranulocitose; (3) em uso de medicamentos mielosupressores; ou com (4) grave risco de suicídio não-relacionado com acatisia. A retirada gradual da medicação em curso (antipsicóticos e anti-colinérgicos) além de cuidados especiais para pacientes em eletroconvulsoterapia são recomendados. Finalmente são feitas sugestões para o aperfeiçoamento dos procedimentos previstos para obtenção do livre consentimento informado e para a dispensação farmacêutica. Unitermos Esquizofrenia, Neurolépticos, Antipsicóticos Atípicos, Clozapina, Saúde Mental. Page 2 of 31 Summary After a review of the literature on the historical background of the substance, clinical indications, its toxicity and drug interaction potential, as the prevention and management of most frequent adverse effects, a preliminary version of the official clozapine clinical guidelines for brazilian national mental health services netwoork is examined. The relevance, opportunity and justification of the document is emphasized. The inclusion of patients with a history of severe adverse reactions others than tardive dyskinesia to the typical antipsychotics drugs is defended, so the exclusion of the patients with (1) white blood cells counts below 3500 cels/mm3 and/or granulocytes below1500 cels/mm3; (2) refering leukopenia and/or agranulocytosis in the past; (3) current use of others myelosuppressive agents; and (4) severe suicide risk akathisia-independent. Special precautions with patients in current use of electroconvulsive therapy and the need for gradual and careful switching from the previous drug schedule (antipsychotics and anticholinergic drugs) are stressed. Finnaly, additional suggestions for the improvement of free informed consent and pharmaceutical dispense procedures are made. Uniterms Schizophrenia, Neuroleptics, Atypical Antipsychotic Drugs, Clozapine, Mental Health. Histórico Em 5 de setembro de 2000, o Instituto de Psiquiatria - IPUB/UFRJ, através de expediente da Coordenação-Geral de Gestão Hospitalar da Secretaria de Assistência a Saúde do Ministério da Saúde, foi instado a pronunciar-se sobre portaria daquela secretaria (port. nº 286 de 14/08/2000, publicada no Diário Oficial da União em 15/08/2000, v. Anexo I) que, visando “garantir acesso dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) a medicamentos considerados excepcionais”, estabelecia uma proposta de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas para alguns destes medicamentos, entre os quais a Clozapina. Segundo seu texto, a portaria encontrava-se em consulta pública a fim de permitir “ampla discussão” com “participação efetiva da comunidade técnico-científica, sociedades médicas, profissionais de sáude e gestores do SUS na sua formulação.” A Clozapina I. Introdução A clozapina, (5H-Dibenzo(b,e)(1,4) diazepina, 8-cloro-11-(4-metil-1-piperazinil)ou 8-Cloro-11-(4-metil-1-piperazinil)-5H-dibenzo(b,e)(1,4)diazepin-a) ou, W-801, ou ainda, HF-1854; fórmula molecular: C18-H19-Cl-N4), é uma dibenzodiazepina (dibenzoazepina) que -embora desenvolvida no mesmo esforço de síntese a partir da fenotiazina que teria redundado nos neurolépticos e antidepressivos tricíclicos- demonstra possuir propriedades terapêuticas inequìvocamente únicas, estando em comercialização há mais de três décadas na Europa, só tendo sido definitivamente licenciada nas Américas mais recentemente. Page 3 of 31 Clozapina A clozapina, foi originalmente desenvolvida em Berna, Suiça, na mesma época dos neurolépticos fenotiazínicos mais recentes (sintetizada em 1958, experimentada em animais em 1960, com eficácia clínica como antipsicótico comprovada em 1962) e mostrou ser possível, pela primeira vez, dissociar inteiramente ação antipsicótica de efeitos motores extra-piramidais, associação que caracterizava e definia mesmo os neurolépticos até então conhecidos -ou antipsicóticos típicos como hoje tem sido chamados. E, somente ela ainda na atualidade apesar dos novos desenvolvimentos, poderia ser considerada o protótipo dos antipsicóticos atípicos por seu perfil de eficácia e tolerabilidade (09). O conceito de antipsicótico atípico surgiu inicialmente nos anos 60 e 70, a partir da observação de que certas substâncias, que embora se comportassem como neurolépticos clássicos em quase todos os parâmetros da experimentação animal que definiam esta classe de fármacos (antagonismo dos efeitos comportamentais da anfetamina e da apomorfina entre diversos outros), e já com ação antipsicótica comprovada na clínica (tioridazina, sulpiride), falhavam, em faixas de doses terapêuticas, na indução de catalepsia. Este fato, viria a ser explicado mais tarde, pela comprovação de uma menor ação de bloqueio D2 na via dopaminérgica nigro-estriatal. Hoje porém, do ponto de vista clínico, o conceito de atipicidade estaria identificado não só com demonstração de valor terapêutico em formas refratárias de esquizofrenia tanto sintomas positivos (idéias delirantes, alucinações, agitação, hetero-agressividade) quanto negativos (embotamento afetivo, apatia, isolamento)- como também com melhora do desempenho cognitivo e adaptação social dos pacientes, assim como, elevações menores e de menor duração das taxas de prolactina (por menor bloqueio também na via dopaminérgica túbero-infundibular) e, finalmente, uma menor propensão a efeitos extrapiramidais (acatisia, parkinsonismo, distonias agudas, discinesia tardia). Estas revelações desencadearam a intensa busca atual por antipsicóticos com ações mais seletivas no bloqueio dopaminérgico, com ação preferencial em nível meso-límbico. Entretanto, após surgir como novo agente terapêutico, a clozapina foi retirada do mercado na maioria dos países europeus em 1975, três anos após a aprovação inicial na Suíça e na Áustria, pela confirmação de vários casos de agranulocitose -1/3 dos quais fatais (09). Somente no final da década de 80, com o já clássico estudo de Kane e colaboradores, além das numerosas comprovações que se seguiram, ficaria confirmada sua eficácia terapêutica inédita sobre sintomatologia esquizofrênica até então considerada refratária (38). Foi por este motivo reabilitada, sendo definitivamente aprovada pela rigorosa agência governamental norte-americana FDA (Food and Drug Administration) em 26 de Page 4 of 31 setembro de 1989, para o tratamento da esquizofrenia refratária (CLOZARIL, Sandoz Pharmaceuticals, CLOZAPINE da Zenith Goldline Pharmaceuticals). Kane e seus colaboradores trabalharam originalmente com uma definição de refratariedade como ausência de resposta no passado à três antipsicóticos convencionais e a 6 semanas protocolares preliminares de tratamento com haloperidol. Melhoras nos sintomas e escores globais foram registrados em 30% deste tipo de pacientes tratados com a clozapina por 6 semanas, enquanto que apenas 4% dos pacientes tratados com a clorpromazina melhoraram. É bom lembrar porém, que na maioria dos protocolos atuais a refratariedade tem sido definida, de forma mais flexível e aberta, como “casos em que dois ou mais anti-psicóticos convencionais de grupos químicos diferentes, em doses clinicamente eficazes por prazos suficientes, não tenham sido capazes de produzir melhoras clínicas satisfatórias” (48). Na época da sua aprovação nos EEUU, também seria reintroduzida amplamente na Europa, tanto na Grã-Bretanha como em vários países continentais. No Brasil, foi pioneiramente ensaiada na ainda na década de 70 por Romildo Bueno & Roberto Piedade, além de Souza (14, 59) mas só muitos anos depois, mais exatamente em agosto de 1992, teria iniciada sua comercialização. II. Eficácia e papel terapêutico Hoje, a despeito de pequena controvérsia residual no que diz respeito a uma eficácia global superior entre os antipsicóticos em geral (típicos e atípicos), que inclua ação sobre sintomas positivos e formas agudas da esquizofrenia, a clozapina goza, indiscutìvelmente de sólido prestígio terapêutico nas formas refratárias e segurança nos casos em que se deva, particularmente temer, efeitos adversos motores extra-piramidais, tão comumente observados com os neurolépticos ou antipsicóticos típicos (54, 20). Este seria o caso por exemplo, dos pacientes com propensão a formas particularmente graves de distonia aguda (trismo, distonia diafragmática ou laringo-faringéia, por exemplo, levando a movimentos respiratórios irregulares, apnéia obstrutiva ou dificuldades na deglutição), catatonia medicamentosa, portadores de discinesia e distonia tardias, hipertermia maligna e síndrome neuroléptico maligno em tratamentos prévios com antipsicóticos típicos. O desenvolvimento de acatisia aguda com grave risco de suicídio também pode constituir-se em sério problema clínico, pelo menos para um sub-grupo de pacientes com o tratamento convencional, podendo tornar-se, a clozapina nestes casos, o antipsicótico de escolha. Estima-se conservadoramente que cerca de 30 a 50% dos pacientes considerados refratários sejam beneficiados (38). Deve ser recordado porém, que a afirmação de Meltzer e colaboradores (44) de que com prazos maiores, de seis meses ou mais, seria possível alcançar melhoras em até 60 % dos casos, encontra respaldo em outros estudos de longa duração, como os de Wilsom (6 mêses, 62%)(68), Breier e colaboradores (1 ano, 60%) (12) e Conley e colaboradores (mais de 1 ano, 68%) (22). No entanto, não se sabe até que ponto diferença nos critérios de amostragem, refratariedade e melhora empregados, além da duração dos ensaios, teria tido influencia nos resultados citados, todos eles bem superiores aos do estudo original de Kane com seis semanas. Há também evidências, provenientes de estudos abertos, da utilidade da clozapina na fase de manutenção do tratamento da esquizofrenia refratária, com a redução do número de recaídas e re-hospitalizações. No estudo de Meltzer, pacientes que não haviam Page 5 of 31 melhorado previamente com 3 antipsicóticos diferentes, após 1 ano de tratamento com a clozapina, tiveram a taxa de re-hospitalização reduzida em 83% em relação ao ano anterior (43). Em período maior, de dois anos e meio, Miller e colaboradores (46), encontraram redução significativa em relação a igual período prévio. No estudo já citado de Breier e colaboradores (12) também verificou-se que em comparação com o ano precedente, pacientes tratados com clozapina apresentavam uma redução significativa nas recaídas e hospitalizações. Estes estudos foram capazes de demonstrar, adicionalmente, melhoras no desempenho social, ocupacional e qualidade de vida dos pacientes. Surpreedentemente, a despeito da necessidade de hemogramas freqüentes, a adesão ao tratamento com clozapina tem se revelado superior à observada com antipsicóticos típicos, especialmente naqueles pacientes com boa resposta clínica (53) e até mesmo as comparações de custo/benefício em pacientes crônicos tem lhe sido favoráveis. Recentemente, ampla metanálise foi capaz de confirmar todos estes achados de modo cabal (64). III. Outras Indicações Entre as outras indicações da clozapina, além da esquizofrenia refratária e intolerância aos neurolépticos, também tem sido relacionadas na literatura especializada (19, 54): - transtorno esquizo-afetivo; - transtorno esquizotípico; - mania refratária ou depressão grave com sintomas psicóticos; - prevenção e contrôle de conduta suicida grave contumaz em pacientes com esquizofrenia, transtorno esquizo-afetivo, transtorno afetivo bipolar refratário, deficiência mental ou demência; - sintomatologia psicótica induzida pela levodopa em pacientes com doença de Parkinson; - psicose como co-morbidade ou sintomas psicóticos em transtornos orgânicos da senilidade; -transtornos invasivos do desenvolvimento de crianças e adolescentes. Todavia, considerando o alto custo, os riscos envolvidos e as exigências do tratamento com a clozapina (risco maior de agranulocitose em idosos, crianças e adolescentes; superdosagens potencialmente letais nos suicidas) ou a existência de alternativas mais simples, seguras e econômicas (ajuste nas doses de levodopa nos parkinsonianos com ou sem o concurso de antipsicóticos de baixa potência em doses mínimas), além da excepcionalidade clínica destas indicações, e, sobretudo, a inexistência de cabais evidências clínicas advindas de bom número de ensaios controlados com amostras de tamanho razoável, tais indicações não passam, rigorosamente, de sugestões terapêuticas excepcionais promissoras, sem consenso ainda para justificar emprego protocolar generalizado da clozapina. IV.Duração do Tratamento Quanto ao tempo necessário para a obtenção de resultados ótimos em suas indicações consagradas, de acordo com Pickar e colaboradores (48) tais resultados seriam Page 6 of 31 alcançados em torno de 107 dias (cerca de 15 semanas), o que foi confirmado, em linhas gerais, por Lieberman e colaboradores (41) quando encontraram pico de resposta máxima entre 12 e 24 semanas. No estudo já citado de Conley e colaboradores, de 1997 (22) verificou-se que havia pouco ganho clínico com o prolongamento do tratamento além de 8 semanas, em qualquer faixa de dose, quando nenhuma melhora fora até então registrada. Este também aliás, foi o tempo médio (7,6 semanas) no consenso de 185 renomados especialistas para substituir um tratamento ineficaz com a clozapina (42). Zito e colaboradores, em estudo randomizado com 202 pacientes refratários hospitalizados e caracterizado por resultados abaixo da média, a partir de uma melhora de 19% dos pacientes ao final de 6 semanas, lograram alcançar 29% com 12 semanas, um resultado que pouco se alteraria ao final de 1 ano de tratamento (33%) (70). Esforços tem sido feitos no sentido de estabelecer preditores de boa resposta à clozapina que, considerados preliminarmente, evitassem o desperdício e os riscos de ensaio desnecessário de maior duração. Há atualmente em desenvolvimento um teste preditor baseado em polimorfismo genético que se mostrou muito promissor em ensaios preliminares (07) e interessantes evidências, também recentes, de que assimetria intra (anterior maior que posterior) e inter-hemisférica (esquerda maior do que direita), em todas as faixas de frequência no eletroencefalograma de repouso, poderia se mostrar um preditor de boa resposta ao tratamento (40). Na ausência de preditores consagrados, Stern e colaboradores (61) lograram demonstrar que a inexistência de qualquer melhora nos escores da BPRS no final da primeira semana de tratamento poderia possuir já algum valor prognóstico. No estudo de Lieberman e colaboradores com duração de 1 ano e envolvendo 84 esquizofrênicos hospitalizados (66 refratários e 18 com intolerância), comportaram-se como preditores de má resposta fatores como sexo feminino e início precoce da doença e, ao contrário, de boa resposta, a sub-forma paranóide assim como a pré-existência de efeitos extra-piramidais com os antipsicóticos convencionais (41). V. Contrôle Hematológico Os antipsicóticos em geral, especialmente a clorpromazina e a tioridazina, costumam induzir -como fenômeno transitório do início do tratamento em cêrca de 5 a 15% dos pacientes - leucopenia e granulocitopenia sem maior significado clínico. O aparecimento porém, de infecções repetidas, estomatite, febre, dor de garganta com contagens leucocitárias acentuadamente baixas deveria servir de alerta, com a imediata suspensão do anti-psicótico e acompanhamento clínico especializado. Fala-se em Leucopenia quando a contagem dos leucócitos situa-se abaixo de 3500/mm3, Granulocitopenia como contagem de granulócitos abaixo de 1500/mm3 , e Agranulocitose quando abaixo de 500/mm3. Trombocitopenia caracterizaria-se por contagens de plaquetas abaixo de 100.000/µl (hemorragias espontâneas ocorrendo apenas com níveis inferiores a 20.000) mas, seria apenas muito raramente, registrada com a clozapina (54). Abstraindo-se de seu perfil terapêutico inédito e da virtual ausência dos efeitos adversos neuro-endócrinos e motores comuns aos antipsicóticos convencionais, o tratamento com a clozapina, além do alto custo do medicamento em si, não dispensa um prolongado controle hematológico, pelo risco de agranulocitose. Estima-se sua Page 7 of 31 prevalência em 1 a 2% (54), estimativa feita a partir do registro de 17 casos em 1780 pacientes nos ensaios clínicos norte-americanos prévios ao licenciamento (21) mas, a freqüência do transtorno teria chegado a 7% em algumas das casuísticas mais antigas. Atualmente, com a instituição dos programas específicos obrigatórios de farmacovigilância, estabilizou-se em menos de 1% (0,38% a 0.73%) (35, 54). De qualquer maneira, são taxas ainda superiores às observadas com a clorpromazina, tioridazina, proclorperazina, promazina e mepazina, fenotiazinas também implicadas na ocorrência desta grave iatrogenia. A agranulocitose não se mostra um fenômeno dose-dependente e, do mesmo modo que no controle de sua eficácia terapêutica, as mensurações das concentrações plasmáticas da clozapina carecem de utilidade clínica maior na prevenção da iatrogenia (54). Phillip Janicak na edição de 1999 de manual de terapêutica (37) é de opinião que contagens leucocitárias abaixo de 5000/mm3 devam impor hemogramas mais frequentes (até 3 vezes por semana) e, abaixo de 3500/mm3 (ou granulocitária abaixo de 1500/mm3), a imediata suspensão da clozapina. Para este autor, uma contagem leucocitária normal, prévia ao ingresso no tratamento, seria mandatória. Mas, na verdade, do mesmo modo que níveis plasmáticos altos de clozapina, apenas -baixos valores na contagem leucocitária basal, não se mostra um bom preditor do risco de desenvolvimento da agranulocitose (03, 08, 45). Com isto tem se formado o consenso de dispensar valores preliminares rigorosamente normais, tornando-se admissível na maioria dos protocolos, iniciar o tratamento com contagens leucocitárias iguais ou superiores a 3500/mm3 (isto é, ausência de leucopenia) e com contagens de granulócitos acima de 2000/mm3 (06, 09, 21, 54), desde que na ausência de história prévia de transtorno mieloproliferativo, leucopenia ou agranulocitose. Por outro lado, tem havido uma tendência a valorizar-se mais, quedas acentuadas e bruscas (de 30% ou mais) que ocorram durante o tratamento, mesmo em pacientes com valores previamente normais ou apenas levemente reduzidos. Aliás, ao conseguirem estabelecer o período dos três meses iniciais como o de maior risco para o desenvolvimento da agranulocitose, Alvir & Lieberman, 1994, observaram que, curiosamente, um aumento (picos de 15% ou mais) nos valores basais nos primeiros 75 dias de tratamento revelara-se um fator preditor bastante sensível, embora não específico, para o desenvolvimento posterior de discrasia (04, 05). Segundo o protocolo canadense, uma vez iniciado o tratamento, se a contagem leucocitária cair até 2000/mm3 e/ou granulocitária até 1500/mm3, e/ou ocorrer uma queda total diferencial ou global (soma das quedas) de 3000 ou mais céls/mm3 mesmo com contagens finais de 3500 leucócitos/mm3 ou mais, ou queda de 1500 ou mais granulócitos/mm3 mesmo com contagens finais iguais ou superiores a 1500/mm3, nas últimas 4 semanas, e/ou sinais clínicos sugestivos de imunosupressão, os hemogramas devem passar a ser realizados duas vezes na semana (21). Diante de contagens leucocitárias inferiores a 2000/mm3 e/ou granulocitárias inferiores a 1500/mm3 o tratamento deve ser imediatamente interrompido, não devendo ser reinstituido, mesmo com a eventual normalização, uma vez que costuma recorrer, mais cedo e com menores doses de clozapina (54). Nos extremos das faixas etárias e no sexo feminino (2:1), o risco mostra-se consistentemente maior. A agranulocitose costuma ter uma alta taxa de mortalidade (de 20% a 40%) e sua prevalência, além do sexo feminino e da idade, também aumentaria significativamente na presença de doença sistêmica importante. Page 8 of 31 Em 14 de julho de 1997, em reunião presidida por John Kane e com a participação entre outros, de Stephen Marder, Ming Tsuang como membros, e de Carol Tamminga e Daniel Casey, como consultores, o Comitê Consultivo para Psicofármacos (Psychopharmacological Drugs Advisory Committee) da agência reguladora governamental norte-americana FDA (Food and Drug Administration) decidiu tornar menos rígidas as rotinas de controle laboratorial estabelecidas inicialmente, passando a exigir hemogramas semanais apenas nos 6 primeiros meses. Nos pacientes com contagens leucocitárias normais, passariam a quinzenais e, após um ano de acompanhamento com resultados satisfatórios, a vinculação ao programa deixaria de ser mandatória para tornar-se voluntária (26). No Reino Unido o protocolo prevê hemogramas semanais apenas nas 18 primeiras semanas, quinzenais de 19 a 52 semanas, com flexibilidade para exames mensais a partir de então, prevendo-se uma frequência maior, de duas vezes por semana, em qualquer etapa, apenas diante do registro de leucopenia. A suspensão definitiva da clozapina estaria recomendada nas contagens de leucócitos abaixo de 3000/mm3 e de neutrófilos abaixo de 1500/mm3, com a realização obrigatória de hemograma de “follow-up”, transcorridas 4 semanas após interrupção por qualquer outro motivo (09). Entre nós, o protocolo sugerido pelo Programa de Esquizofrenia da Universidade Federal do Estado de São Paulo, também prevê, como na portaria e em outros protocolos, exames semanais nas primeiras 18 semanas, com exames mensais a partir de então. No caso de interrupção do tratamento por período de 3 dias a 4 semanas, por motivo não hematológico, os pacientes já em tratamento com clozapina por mais de 18 semanas e portanto, em controle mensal, voltariam a fazer o hemograma semanalmente por 6 semanas após a reintrodução. Pacientes cuja interrupção tenha durado mais do que 4 semanas voltariam a cumprir todo o período de controle semanal. (18). Sadock & Sadock são mais rigorosos, recomendando a retomada dos hemogramas semanais por novo período de 18 semanas a todo paciente que interrompa a medicação por mais de 36 horas. (54). VI. Outros Efeitos Adversos Para reduzir a probabilidade dos efeitos adversos aqui relacionados, costuma adotarse gradualidade nas doses, iniciando-se com 12.5 a 25 mg à noite e, promovendo então, aumentos diários de 25 mg a cada 2 a 3 dias, até atingir 250 a 450 mg/dia, sendo raramente necessárias, doses acima de 600 mg/dia. Recomenda-se que a dose diária seja fracionada em 2 a 4 tomadas, de 200 mg no máximo, reservando-se sempre a maior para o horário noturno. A dose máxima tolerada seria de 900 mg/dia (54, 55). No protocolo proposto pela UNIFESP inicia-se com 12,5 mg, aumentando 25 mg a cada 1 ou 2 dias até atingir doses entre 300 a 400 mg que devem ser mantidas por 4 semanas, findas as quais, serão aumentadas, se necessário, de acordo com a tolerância, em 50 mg a cada 2 a 3 dias até atingir faixas de doses terapeuticamente eficazes sem ultrapassar 600 mg/dia (18). Um dos efeitos dose-dependentes são as convulsões que costumam ocorrer em 2,8% dos pacientes em média. Também costumam estar relacionadas a aumentos rápidos nas doses diárias, chegando a atingir uma prevalência de 4.4% nas doses acima de 599 mg/dia, caindo para 1 a 2% nas doses inferiores a 300 mg/dia. Pacientes com história prévia de epilepsia ou traumatismo crâneo-encefálico, com importantes alterações eletro- Page 9 of 31 encefalográficas, não deveriam ser incluidos no tratamento. Na ocorrência de convulsões o medicamento anti-epiléptico a ser empregado preferencialmente seria o valproato de sódio (ácido valpróico) estando contra-indicados, a carbamazepina por seu perfil mielosupressor e os barbitúricos por sua acentuada ação depressora sobre o sistema nervoso central. Entretanto, o ácido valpróico é potencialmente hepato-tóxico, havendo caso relatado de encefalopatia hepática quando em associação com clozapina (69). Outros efeitos adversos menos graves, embora mais freqüentes e que, em geral, demandam atenção clínica, especialmente em início de tratamento, são: sedação e sonolência, hipotensão ortostática, palpitações e taquicardia, constipação (até 33%), boca seca ou sialorréia, enurese ou incontinência urinária, congestão nasal, hiperglicemia, hiperlipidemias, ganho de peso (mais de 4%) e transtornos da termo-regulação. Leve hipotermia, no início do tratamento, seria tão comum (87%), como com a clorpromazina. Como seu mecanismo é hipotalâmico, casos mais renitentes podem ser manejados com 500 µg de hormônio liberador da tireotrofina (TRH) por via parenteral ou benzodiazepínicos (v. interações) (54). Um hipertermia benigna e transitória (elevações pouco acima de 38ºC) também pode ocorrer nas três primeiras semanas. Febres de início mais tardio, mais intensas, duradouras ou persistentes, devem advertir para risco de agranulocitose ou instalação de síndrome neuroléptico maligno. Embora hipotensão e taquicardia ocorra sempre no início do tratamento (aumento médio de 10 a 15 batimentos/min em 25% dos pacientes) só uma minoria apresenta alterações dose-dependentes da repolarização miocárdica no eletro-cardiograma, como as que podem ser observadas com outros antipsicóticos (depressão do segmento ST, achatamento ou inversão da onda T e prolongamento do intervalo QT corrigido (QTc)) que se mostram benignas e reversíveis (39). Só excepcionalmente complicações cárdiovasculares levariam à suspensão do tratamento em pacientes prèviamente hígidos. A taquicardia e as palpitações, quando muito perturbadoras, devem ser tratadas com betabloqueadores, de preferencia o atenolol que ao, contrário do propranolol, não demonstra mielotoxicidade. No caso da hipotensão, é comum que se desenvolva rápida tolerância e, a redução das doses ao nível anterior, ou aumento da ingesta de cloreto de sódio e, até eventualmente o uso da fludrocortisona, são medidas, em geral, suficientes para contorná-la. Deve ser evitado sempre o uso de epinefrina que, na vigência do bloqueio alfa-adrenérgico, pode acentuar ainda mais a hipotensão. Excepcionalmente, relatou-se a ocorrência de hipertensão, associada ou não ao tratamento com a eletroconvulsoterapia (56). Diante de hiperglicemia devem ser evitados os hipoglicemiantes orais sulfonamídicos como a clorpropamida e a gliclazida que também são mielosupressores, preferindo-se, na maioria casos leves, as restrições dietéticas e os exercícios físicos. Há relatos porém, de casos mais graves com ceto-acidose impondo a suspensão da clozapina e uso de insulina (36, 51, 65). Do mesmo modo para prevenir o ganho de peso e a hiperlipidemia recomenda-se um programa de exercícios físicos e restrição alimentar, devendo evitar-se o emprego de anorexígenos (v. Anexo II). Para a sialorréia que afetaria de 31 a 54% dos pacientes (15, 24) pode recorrer-se aos efeitos anti-colinérgicos da amitriptilina em doses baixas (até 25 mg) ou à clonidina (0.1 a 0.15 mg), um agonista/antagonista alfa-2 adrenérgico, ambos em dose única à noite quando a sialorréia costuma se acentuar. Mais raramente, a clozapina, por seu perfil antimuscarínico, pode determinar a ocorrência de boca seca. Nos casos mais incômodos pode Page 10 of 31 recorrer-se ao cloreto de betanecol, em doses de 2,5 a 5 mg, tres vezes ao dia, tomados 2 horas após as principais refeições. A constipação pode, na maioria dos casos, ser contornada por aumento na ingesta de líquidos, dieta rica em fibras, e, na possibilidade de formação de fecalomas e oclusão intestinal, laxantes eficazes como as soluções de fosfato de sódio ou, como medida extrema, manitol. A oclusão intestinal por íleo paralítico é uma complicação grave que exige cuidados especializados em ambiente hospitalar (62). A incontinência urinária ou enurese durante o sono eventualmente observada com fenotiazinas alifáticas, também pode se manifestar com a clozapina. Para seu controle deve ser usada a desmopressina, em doses diárias variando entre 0.2 a 1.2 mg, ou a oxibutinina, em doses de 5 mg, 2 a 3 vezes ao dia. Pelos efeitos anti-colinérgicos, também registra-se, eventualmente, retenção urinária, especialmente em pacientes idosos com hipertrofia prostática. Ambos seriam efeitos dose-independentes e para a retenção urinária leve, costuma desenvolver-se tolerância. Embora possa haver elevação transitória e benigna das enzimas hepáticas no início do tratamento, até recentemente apenas um caso de icterícia colestática havia podido ser, rigorosamente, atribuido a clozapina (54). Há, finalmente relato de delirium, casos isolados de piora ou desencadeamento de sintomatologia obsessivo-compulsiva, acatisia, hipertermia maligna e síndrome neuroléptico maligno (esta muito raramente com a clozapina empregada de forma isolada), além de mioclonias e perdas localizadas do tônus muscular, trombo-embolismo (33) e, finalmente como ocorre com outros antipsicóticos, relatos de morte súbita de causa obscura (47). Uma condição que só recentemente vem ganhando atenção na literatura é a nefrite intersticial, ainda que apenas observada em casos esporádicos (28, 58). VII. Interações A associação, com outros medicamentos que inibam a medula óssea como carbamazepina, clorpromazina, aminopirina, analgésicos e anti-inflamatórios não esteróides (dipirona, fenilbutazona) assim como certos antibióticos e quimioterápicos como a associação sulfametroxazol + trimetroprina ou o cloranfenicol (v. Anexo II) estaria formalmente contra-indicada. Tratamento em curso com a carbamazepina figura, por exemplo, entre os critérios de exclusão no protocolo da Associação Psiquiátrica Americana (06). Como a clozapina liga-se intensamente às proteínas plasmáticas, guarda potencial de interação medicamentosa via deslocamento por competição com outros fármacos dotados desta mesma propriedade, como anti-coagulantes e digitálicos, gerando aumento de sua fração livre. Ação sobre as isoenzimas do complexo do citocromo P 450 constitui-se em outro mecanismo para interações medicamentosas. Os “metabolizadores pobres” de debrisoquina e S-mefenitoina (deficientes respectivamente da ação da CYP 2D6 e CYP 2C19) não demonstram diferenças nas concentrações da clozapina (23) porque ela seria majoritariamente metabolizada pela CYP 1A2, isoenzima fortemente inibida pela fluvoxamina, e em menor grau pela fluoxetina e cafeína, o que determinaria elevação de suas concentrações plasmáticas com estas associações. Também atuariam no mesmo sentido a cimetidina, outros antidepressivos tricíclicos e inibidores da recaptação de Page 11 of 31 serotonina e o valproato. O antibiótico eritromicina e o cetoconazol, um anti-micótico, também poderiam determinar elevações. Ao contrário, a carbamazepina e a fenitoina como potentes indutores enzimáticos, chegam a reduzir as concentrações de clozapina em até 50 %. O tabagismo pelo mesmo mecanismo também reduziria suas concentrações. A risperidona como fraco inibidor da CYP 2D6 não determina grandes elevações nas concentrações da clozapina, e essa associação tem sido sugerida com sucesso em pacientes com resposta insatisfatória ao uso isolado de um desses antipsicóticos atípicos (01, 49). Uma interação importante, especialmente com pacientes mais idosos ou no início do tratamento, se dá com medicamentos depressores do sistema nervoso central, como antipsicóticos de baixa potência e anti-depressivos sedativos, barbitúricos, benzodiazepínicos e álcool, além de anti-histamínicos e medicamentos anti-colinérgicos que podem potencializar os efeitos sedativos e anti-muscarínicos da clozapina, eventualmente agravando a sedação, causando delirium e até mesmo, estado comatoso com depressão respiratória, tendo assim, contra-indicação no mínimo relativa. Talvez a maior parte dos poucos casos de síndrome neuroléptico maligno relatados com a clozapina devam-se a associações com o carbonato de lítio e, pelo menos nos pacientes com histórico do síndrome, esta associação deve ser evitada. Não há evidências de interações importantes com os contra-conceptivos orais nem com antipsicóticos não-sedativos. Uma interação potencialmente perigosa é a que se daria com a cocaína, já tendo sido demonstrado que pacientes em uso de clozapina teriam, de forma dose-dependente, as concentrações de cocaína significativamente elevadas mas, com inibição dos efeitos euforizantes, o que pode induzir os aditos a, involuntàriamente, atingirem doses fatais. Há registro também da ocorrência de síncopes (25). O uso de eletro-convulsoterapia na vigência de tratamento com a clozapina, costuma implicar no desencadeamento espontâneo de convulsões e na acentuação de efeitos adversos cárdio-vasculares (hipertensão e taquicardia), não estando formalmente contraindicada mas recomendando cuidados especiais. Há relatos na literatura, do emprego desta associação em casos refratários a estes tratamentos isoladamente, ou com síndrome neuroléptico maligno prévio, alcançando-se muitas vezes, um sucesso duradouro (10, 17, 27, 32). VIII. Superdosagem Os sinais e sintomas da intoxicação aguda seriam sonolência, letargia, confusão, agitação, delirium, arreflexia, convulsões e coma. São comuns a sialorréia, midríase com transtornos de acomodação, labilidade térmica corporal, choque vascular periférico, arritmias e parada cárdio-respiratória. Óbito tem sido registrado com doses superiores a 2500 mg mas há casos descritos com recuperação em intoxicações com doses tão altas quanto 4 g (50). Carvão ativado juntamente com sorbitol pode ser tão eficaz quanto a lavagem ou os vômitos forçados (54). Recurso à manobras ou substâncias eméticas só deve ser utilizado nos primeiros momentos após a ingestão, com o paciente ainda lúcido e cooperativo, para não incorrer nas graves complicações de uma eventual aspiração tráqueo-brônquica. Medidas gerais de suporte incluem a desobstrução das vias respiratórias com oxigenação e Page 12 of 31 ventilação adequadas, hidratação e reposição hidro-eletrolítica com balanço ácido-básico, controle dos sinais vitais e da função cárdio-vascular, devendo evitar-se para tratar a hipotensão, tanto a epinefrina como já fora dito, como a quinidina e procainamida para o manejo das arritmias (21). Pela alta taxa de ligação às proteínas do plasma, a diálise peritonial e a hemodiálise carecem de utilidade. Ainda não foi desenvolvido um antídoto específico para a clozapina. IX. Substituição do Tratamento em Curso A decisão de implementar tratamento com a clozapina ou outro antipsicótico atípico pode impor alguns problemas e possíveis dilemas ao clínico, tendo em vista a obrigatória gradualidade nas doses, a possibilidade de recaídas com a interrupção abrupta do tratamento prévio ou de interações indesejáveis quando se opta por uma substituição gradual. Segundo Weiden e equipe (66, 67) uma vez estabelecida indicação para o emprego de atípicos, haveria três formas de implementá-lo, com riscos decrescentes de reagudizações: 1. Suspensão abrupta da droga atual com a imediata administração da nova. 2. Acréscimo da nova droga ao esquema pré-existente iniciando-se simultaneamente a redução do anti-psicótico em uso. 3. Acréscimo da nova droga ao esquema pré-existente com a redução do antipsicótico em uso sendo iniciada num segundo momento. Viguera e colaboradores, de Harvard, (63) revendo dados de 1200 pacientes submetidos a retirada de anti-psicóticos convencionais, encontraram recidivas mais precoces entre aqueles com suspensão abrupta (6 semanas em média) do que entre aqueles com suspensão gradual (10 semanas em média), com os primeiros mantendo maiores taxas de recidiva mesmo 6 meses após a suspensão. Carpenter & Tamminga sugerem uma suspensão gradual e lenta com intensificação do acompanhamento clínico e apoio ao paciente no período imediato à suspensão completa (16). Documento recente, reunindo as recomendações de vários especialistas renomados (42), ao se referir à substituição do tratamento convencional pelos novos antipsicóticos atípicos, estabelece duas alternativas: 1. gradual redução da medicação vigente com paralela introdução da nova medicação em doses simultâneamente crescentes (“Cross-titration”) e 2. introdução gradual da medicação nova até doses plenas e, somente então, iniciando a redução da medicação convencional em uso (“Overlap and taper”). Aliás, a substituição da clozapina por outro atípico quando o paciente vem bem, não se justificaria apenas pela comodidade de dispensar os exames de controle hematológico. Weiden calcula que metade dos pacientes com resposta à clozapina submetidos a esta substituição, não tendo exito, são obrigados a retornar a ela. Henderson e colaboradores em ensaio aberto com 19 pacientes (10 com esquizofrenia e 9 com transtorno esquizoafetivo) observaram numa tentativa de substituição da clozapina por olanzapina que mesmo a gradualidade na suspensão da clozapina não constituiu proteção suficiente para todos, com 7 pacientes tendo recaídas suficientemente graves para impor hospitalização e outros 4 Page 13 of 31 a ponto de obrigar o retorno a clozapina (34). Adicione-se que muitos autores, como Borison; Shore; Gardner e colaboradores, tem chamado a atenção para a intensidade das recaídas observadas com a suspensão da clozapina, especialmente tratando-se de pacientes refratários, com sua reinstituição, nem sempre garantindo o nível prévio de melhora (11, 30, 57). Ocorrência de contrações musculares distônicas e outras manifestações extrapiramidais tem sido registradas com a suspensão mais ou menos abrupta da clozapina (02). Também recorde-se aqui a necessidade de manter anti-colinérgicos eventualmente associados aos antipsicóticos típicos de alta potência, por um tempo adicional à sua suspensão, especialmente quando se trata de preparados depot, pelo risco de distonias agudas ou outros efeitos extra-piramidais. Muitos insucessos na substituição, certamente, se devem a ausência desses cuidados ou à sintomas de abstinência equivocadamente atribuidos a nova medicação, como recrudescimento inicial de discinesias prévias incipientes, cólicas, diarréia, náuseas, sialorréia ou mesmo agitação e insônia quando se retiram rapidamente altas doses de um anti-psicótico convencional de baixa potência, com bloqueio muscarínico e alfa-adrenérgico e efeitos sedativos acentuados. Aliás, pacientes em uso de altas doses exigiriam tempo mais prolongado para substituição ou retirada, como bem observam Weiden e seus colaboradores (66, 67). COMENTÁRIOS À PORTARIA SAS/N º 286 Devemos inicialmente considerar a notória justificativa, oportunidade e relevância da referida portaria. Ela demonstra preocupação em garantir acesso a recursos terapêuticos especiais, de alto custo e/ou risco, o que deveria sempre constituir complemento ao inevitável e inescusável esforço para padronização e emprego racional dos medicamentos considerados essenciais (29). Por outro lado, configura o reconhecimento da real magnitude das perdas ocupacionais e sociais da esquizofrenia e do alto custo econômico que hospitalizações freqüentes ou prolongadas, impostas por uma recuperação inadequada dêstes pacientes, impõem ao Estado. No entanto, devemos situar corretamente os esforços governamentais na área de Saúde Mental, no contexto de um país como o nosso, ainda em desenvolvimento e com graves problemas sociais, educacionais e de saúde pública, com justificada prioridade para a área materno-infantil e necessidade ainda de dispendiosos programas para as doenças infecto-contagiosas, particularmente as sexualmente transmissíveis. Outrossim, devemos saudar a iniciativa -com o cuidado em previamente firmar critérios consensuais- em limitar uma eventual prescrição indiscriminada de medicamento dotado de sério potencial iatrogênico e bem mais oneroso que aqueles convencionais em sua categoria. É preciso também lembrar que ainda não encontram-se disponíveis preparados de ação prolongada com os novos antipsicóticos, seja por via parenteral (de depósito) seja por via oral. Este recurso, com os antipsicóticos tradicionais, tem se mostrado uma ferramenta terapêutica indispensável na difícil manutenção de pacientes esquizofrênicos, com sua costumeira baixa adesão ao tratamento, conseqüência da própria natureza da doença, agravada pelas precárias condições sócio-culturais e educacionais de boa parte de nossa população. Os preparados depot devem se constituir até mesmo em primeira opção em certos casos refratários (metabolisadores rápidos), ao contornar o intenso metabolismo êntero-hepático de primeira passagem, que sofrem os antipsicóticos por via oral (13, 31). Page 14 of 31 Adicionalmente recorde-se que, os assim chamados, sintomas negativos da esquizofrenia crônica, sobre os quais tanto se propala a benéfica ação das novas substâncias, inclusive da clozapina, devem ser melhor encarados como produto final de uma série de fatores, não somente biológicos como também psico-sociais, sócio-familiares e institucionais, que ao longo do tempo determinariam a cristalização das reconhecidas incapacidades destes enfermos crônicos. Os sintomas negativos podem mesmo, ocasionalmente, constituir-se em reação adversa a antipsicóticos típicos empregados prolongadamente em doses altas sem o concurso de privação psico-social por institucionalizações prolongadas ou freqüentes. Não deveria portanto, seu manejo ou reabilitação, ancorar-se apenas no plano biológico, justificando assim, sem considerar custos, uma substituição generalizada dos antipsicóticos existentes pelos atípicos. E a portaria tem o cuidado em reconhecer isto quando condiciona a utilização da clozapina, ao fracasso em obter melhoras dos sintomas por “mudança nos fatores psicossociais estressores” -e maior racionalidade no emprego dos medicamentos já existentes, acrescentaríamos nós- o que sem dúvida, vem priorizar também os esforços terapêuticos e de reabilitação, em outros planos. Por fim, celebre-se a normalidade institucional que atravessa o país, tornando possível um exercício verdadeiramente democrático do poder, com todos os benefícios decorrentes das férteis parcerias possíveis na Área da Saúde, entre autoridades governamentais, comunidades acadêmica e científico-tecnológica públicas e usuários dos serviços. I. Critérios de Inclusão: Todos concordamos que a clozapina, pelo seu custo e perfil de segurança deva ser tratada como um medicamento especial, não essencial, portanto. É medicamento que deve ser reservado a casos específicos e, como tal, critérios rígidos para sua dispensação são necessários. Revela-se a justa preocupação da autoridade em evitar uma prescrição indiscriminada quando inclui a expressão “cumulativamente” com relação aos critérios sugeridos. De fato, todos eles são rigorosamente indispensáveis para um bom êxito do tratamento e para o aproveitamento, o mais racional e eficiente possível, dos recursos envolvidos. Assim, procura-se excluir diagnósticos incertos; pacientes não verdadeiramente refratários; casos sem condições mínimas para uma boa e duradoura adesão ao tratamento com maior segurança e sem desperdícios, e por último, garantias documentais de uma avaliação clínica prévia dos candidatos: -diagnóstico de Esquizofrenia pelo DSM-IV; -duração maior do que 4 anos sem funcionamento adequado há 2 anos; -falha terapêutica com haloperidol 20-40 mg/d por 36 semanas ou com clorpromazina 1g/d por 36 semanas; -falha terapêutica com tioridazina 400-800 mg/dia por 6 meses consecutivos; -ausência de melhora dos sintomas apesar da mudança nos fatores psicossociais estressores; -presença de familiar interessado, participativo, disponível e com adequado funcionamento global; -paciente e familiar aderentes a um serviço de atendimento psiquiátrico ambulatorial; -adequada documentação e descrição detalhada de toda doença do paciente. Page 15 of 31 Em seguida, é acrescentada a “presença de discinesia tardia (...) como critério único” que permitiria a inclusão do paciente no protocolo: “(...)Obs. a presença de discinesia tardia como efeito colateral de neurolépticos é aceita como critério único que permite a inclusão do paciente neste protocolo. (...)” Aí, dois reparos: 1) sabemos que não se limita à discinesia tardia, o repertório de reações adversas importantes, extra-piramidais ou não, dos antipsicóticos convencionais, e, como já foi citado anteriormente, registram-se reações ainda mais graves e incapacitantes, felizmente menos freqüentes, mas que também constituiriam justificadas indicações para o uso da clozapina e, 2) não cremos haver justificativa para desconsiderar os critérios restantes, além dos quatro primeiros, na inclusão de pacientes por intolerância, já que continuaria sendo fundamental, também nesses casos, garantir tanto o suporte necessário para uma boa adesão, como a existência de boa documentação clínica. Não exigir o primeiro (diagnóstico de esquizofrenia), teria a vantagem de permitir que pacientes com outros diagnósticos que, eventualmente, tenham feito uso de antipsicóticos típicos e desenvolvido discinesia tardia, possam beneficiar-se do tratamento com a clozapina. Alguns destes casos são dramáticos, com a discinesia tendo se desenvolvido após um curto período de tempo, com doses baixas destas substâncias usadas como anti-eméticos, hipno-sedativos e ansiolíticos de segunda linha, ou coadjuvantes ao tratamento com antidepressivos e estabilizadores do humor, por conta de uma hipersensibilidade individual. Além disso, há evidência suficiente, já reunida pela literatura, de que o risco de reações extra-piramidais com neurolépticos, entre elas a discinesia tardia, seria ainda maior entre os pacientes com diagnóstico de Transtorno Afetivo. Outra possível indicação seriam pacientes com neoplasias mamárias prolactinodependentes nas quais haveria contra-indicação formal para o uso de neurolépticos ou antipsicóticos atípicos, constituindo-se os atípicos a única alternativa segura nestas pacientes, por sua virtual ausência de ação sobre a via dopaminérgica túbero-infundibular, não promovendo assim uma elevação significativa ou duradoura nas concentrações circulantes deste hormônio. De qualquer forma, nos pareceu discutível, limitar a intolerância clinicamente relevante aos antipsicóticos convencionais apenas a casos de discinesia tardia, bem como conceder-lhe suficiência, excluindo outros critérios fundamentais, como sugere a expressão “como critério único”. Finalmente, uma palavra sobre o diagnóstico. Embora possa parecer discutível a preferência pelos critérios diagnósticos contidos na quarta revisão do manual da Associação Psiquiátrica Americana (DSM - IV – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders 4th ed.) -quando encontra-se em pleno vigor, em sua 10ª edição, a Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (CID-10)- deve-se dizer que esta tem sido a tendência na maioria dos países, com a qual aliás concordamos, porque atualmente, é a classificação que propiciaria critérios mais restritivos para o diagnóstico da doença, além de exigir um período maior de observação antes que o diagnóstico possa ser firmado, vindo assim perfeitamente de encontro às necessidades de um protocolo para a clozapina. Page 16 of 31 II.Critérios de Exclusão e Suspensão do Tratamento: A portaria prevê a não-inclusão ou a suspensão do tratamento diante de pelo menos um dos seguintes critérios: -doença grave hepática, renal ou cardíaca; -história de tumor cerebral; -psicose alcoólica ou tóxica; -dependência ou abuso de drogas psicoativas; -epilepsia precedendo o diagnóstico de esquizofrenia; -situação potencial de gravidez e/ou lactação; -retardo mental; -ausência de família organizada e participante; -impossibilidade de adesão e acompanhamento continuado. Por tudo que já foi considerado anteriormente, são todos critérios inteiramente justificados à luz do conhecimento técnico e científico acumulado. Nos ressentimos entretanto, da ausência de menção a passado médico de transtornos da hematopoiese ou mieloproliferativos -como anemia aplásica, agranulocitose, leucopenia, granulocitopenia e trombocitopenia importantes, além de outros- reconhecido fator de risco para ocorrência ou recorrência de agranulocitose e, portanto, uma contra-indicação para o tratamento com substâncias mielossupresoras como a clozapina. Uma outra questão também a ser examinada, envolveria o uso atual ou recente de eletro-convulsoterapia pela redução do limiar convulsivante, com risco de desencadeamento de convulsões espontâneas e/ou aumento dos efeitos adversos cárdiovasculares e das complicações, durante ou entre, as aplicações. Embora, aparentemente seja uma associação relativamente segura, a julgar por relatos esporádicos não-sistemáticos na literatura, no estado atual do conhecimento, só em casos graves, com refratariedade demonstrada a estes tratamentos usados isoladamente, haveria indicação para tal associação, devendo ficar restrita a pacientes hospitalizados e necessàriamente envolvendo cuidados especiais, particularmente no que diz respeito às interações com os fármacos utilizados para indução anestésica. Assim, embora não chegue a constituir-se numa contra-indicação, deveria cercar-se de excepcionalidade e merecer menção a cuidados especiais. Por outro lado, não foi feita referência a risco de suicídio, quando sabemos ser esta uma preocupação no tratamento ambulatorial de pacientes psiquiátricos que envolva a dispensação de medicamentos potencialmente letais. Em todos os protocolos conhecidos, inclusive neste, pelo menos no período inicial, o medicamento é dispensado contra a apresentação do hemograma em quantidades semanais. Devemos lembrar que mesmo nesta fase de maior controle, o paciente em uso de doses diárias acima de 350 mg, já teria a sua disposição uma dose superior a dose letal, situada em torno de 2.5 g. A discussão se complica muito porém, com as evidências que se acumulam na literatura de uma nítida ação benéfica da clozapina sobre a tendência suicida, bem como a agressividade e impulsividade observada em esquizofrênicos crônicos refratários (54, 60). Também há inúmeros relatos das vantagens do seu emprego na impulsividade suicida associada à acatisia, observada eventualmente em pacientes agudos com os antipsicóticos típicos de alta potência. Mas, embora considerando tudo isto e ainda contando com familiar devidamente Page 17 of 31 esclarecido e participante, nos parece que um risco grave de suicídio na avaliação do clínico, que não se antecipa com boa resposta à clozapina, -isto é, não vinculado a acatisia com antipsicótico típico nem a sintomas psicóticos primários- deva ser considerado como possível critério de exclusão. Ressalte-se por último, de passagem, que “situação potencial de gravidez” é a de toda mulher em idade fértil que não esteja fazendo uso correto e regular de método anticoncepcional seguro e que, os anticoncepcionais orais, ao não revelarem interações farmacológicas significativas com a clozapina, também podem se constituir, ao lado de outros métodos mais econômicos, acessíveis e convenientes, em expressas recomendações médicas. III. Comitê Técnico, Tratamento, Controle Hematológico, Resposta Clínica, Interrupção do Tratamento e Consentimento Informado: Estão todos, em linhas gerais, dentro das normas recomendáveis propostas nos protocolos internacionais. O uso da BPRS (Brief Psychiatric Rating Scale), um instrumento consagrado, já há muito validado em nosso meio, de fácil aplicação e acessível à maioria dos clínicos, constitui-se sem dúvida, no melhor e mais objetivo parâmetro, que se possa dispor para avaliar o tratamento com vistas a sua continuação. A gradualidade proposta no início do tratamento com a clozapina também está de acôrdo com aquela necessária para contornar os efeitos adversos iniciais mais comuns e problematizantes, mas impõe dilemas clínicos quanto à suspensão do tratamento em curso, especialmente em pacientes com grande risco de recidivas. Tratando-se de esquizofrênicos refratários da rede pública, já com um bom tempo de evolução, é de se supor que a maioria dos casos consistirá de pacientes relativamente graves, em uso de antipsicóticos convencionais, muitas vezes de alta potência em altas doses e invariavelmente associados a anti-colinérgicos, não havendo menção na portaria à fórmula a ser adotada para a substituição deste tratamento. Sabemos que muitos fracassos na substituição tem sido atribuidos a uma retirada abrupta dos antipsicóticos convencionais levando a recaídas da psicose ou agravamento de sintomas discinéticos incipientes, antes que doses eficazes da clozapina sejam atingidas. A retirada rápida de anti-colinérgicos, por outro lado, pode implicar no reaparecimento de perturbadoras manifestações distônicas, especialmente em pacientes em uso de antipsicóticos de alta potência em preparados de ação prolongada (depot). Por tudo isto, uma retirada abrupta total do tratamento anterior, não deve constituir-se em prática protocolar assistencial, estando apenas justificada, por razões metodológicas e com todos os cuidados éticos exigidos, em protocolos para ensaios clínicos experimentais. A periodicidade dos hemogramas e os valores das contagens celulares é o universalmente adotado e o critério de melhora (redução de 30% nos escores) é o mesmo empregado na maioria das pesquisas e ensaios clínicos controlados originais. Seria recomendável porém, estabelecer um período mínimo de suspensão do medicamento para o recomeço de todo o esquema de hemogramas semanais, porque da forma como está Page 18 of 31 redigida: “(...) sempre que o paciente (...) reiniciar o tratamento”, a portaria parece obrigar este recomeço diante da simples omissão de uma das frações da dose diária quando, mesmo os protocolos mais rigorosos só prevem este procedimento se o paciente ultrapassar 36 horas sem usar a clozapina (54). A maioria é mais flexível, e por exemplo, o protocolo pioneiro entre nós, sugerido pelo Programa de Esquizofrenia da Universidade Federal do Estado de São Paulo, prevê que somente interrupções superiores a 3 dias, por pacientes já em controle mensal, determinariam o retorno à periodicidade dos hemogramas semanais ainda assim, somente por 6 semanas. Pacientes cuja interrupção tenha durado mais que 4 semanas voltariam a cumprir o período de controle semanal completo (18). Seja de um modo seja de outro, convém estabelecer limites a serem tolerados para eventuais interrupções, sem implicar no recomeço de todo o esquema de controle hematológico. A dose máxima preconizada guarda boa margem de segurança e sua redução após a melhora, estabelecendo individualmente as doses mínimas eficazes, para a fase de manutenção, é um procedimento sempre recomendável. A ordem proposta de, somente recorrer à olanzapina e a risperidona após o fracasso da clozapina, por razões de segurança, nos parece perfeita, pelo menos para casos refratários. O período previsto de 12 semanas com doses acima de 300 mg, para a interrupção por ineficácia, justifica-se inteiramente à luz das evidências de que pacientes que não apresentam qualquer melhora dentro de 8 semanas com doses terapêuticas, devam ser descontinuados (22). Mais ainda quando consideramos que, pela necessária gradualidade no tratamento, tais pacientes terão na verdade cumprido, um mínimo de 14 semanas. Ressalte-se a preocupação ética com a inclusão de um procedimento de consentimento informado, uma prática obrigatória nas pesquisas bio-médicas envolvendo seres humanos, mas ainda não utilizada, tanto quanto desejável, na clínica, especialmente tratando-se de intervenções diagnósticas e terapêuticas envolvendo riscos maiores. Contudo, no processo de obtenção de consentimento informado, tão importante quanto a extensão e conteúdo das informações seriam a forma e o contexto em que são veiculadas, sendo necessário adaptar a apresentação às capacidades de compreensão do indivíduo a ser informado. Por esta razão torna-se necessário, no texto previsto pela portaria, um melhor esclarecimento e detalhamento dos benefícios esperados com a clozapina, sendo insuficiente o simples uso da expressão técnica -redução de 30% nos escores da escala BPRS. Seria de bom alvitre detalhar os benefícios que o uso da clozapina pode trazer para os pacientes como: melhoras mais acentuadas do que as obtidas com os medicamentos até aqui usados, redução da gravidade e frequência das recaídas com redução do número de rehospitalizações, melhoria na qualidade de vida com maior iniciativa e autonomia, menores efeitos adversos motores e hormonais. Do mesmo modo os riscos envolvidos e os requisitos laboratoriais do tratamento precisariam ser melhor detalhados em linguagem nãotécnica para completo discernimento e uma decisão consubstanciada por parte do paciente ou de seu responsável legal. Adicionalmente, para garantir que esta anuência seja concedida voluntàriamente e de forma inteiramente livre de qualquer pressão ou injunção, profissional ou institucional, o termo-padrão de consentimento informado, como está consagrado na pesquisa bio-médica, prevê sempre a possibilidade do paciente, ou seu responsável legal, solicitar a qualquer tempo a retirada do protocolo, sem qualquer prejuizo, como por exemplo, o direito a continuar o tratamento na mesma instituição, se possível com o mesmo profissional, com outros recursos terapêuticos como, aliás, está corretamente previsto no texto da Portaria. Page 19 of 31 Por fim, registre-se, o cuidado em incluir no Consentimento Informado uma advertência ao paciente e/ou seu responsável legal, contra a suspensão abrupta do medicamento, uma recomendação técnica particularmente justificada pelo registro freqüente de recaídas precoces e intensas, algumas com intensidade inédita, observadas nestes casos. SUGESTÕES: 1. Modificar a redação da observação contida ao final do ítem 5 do Anexo I da Portaria, de modo a também incluir nas indicações os pacientes com problemas graves anteriores de tolerabilidade a antipsicóticos típicos como: distonias graves, acatisia com risco de suicídio, distonia tardia, síndrome neuroléptico maligno e/ou hipertermia maligna e câncer de mama prolactino-dependente, além da discinesia tardia. 2. Retirar a expressão “como critério único”, explicitando apenas a dispensa dos requisitos contidos nos sub-ítens 5.1 a 5.5, no caso destas indicações. 3. Fazer figurar também no ítem 6, entre os critérios de exclusão: risco grave de suicídio na avaliação do clínico, não relacionado à acatisia; pacientes em uso de medicamentos mielo-supressores (v. Anexo II); contagens preliminares leucocitárias abaixo de 3500 céls/mm3 e granulocitárias inferiores a 1500 céls/mm3; história prévia de leucopenia e/ou agranulocitose, e recomendação de cuidados especiais para pacientes submetidos simultâneamente à eletroconvulsoterapia (ECT). 4. Prever no ítem 8 recomendações para a retirada gradual da medicação atual (antipsicótico convencional e anti-colinérgicos) simultâneamente à introdução da clozapina e, em casos mais graves, com grande risco de reagudização, somente iniciada após a obtenção de doses terapêuticas plenas (igual ou superior a 300 mg/dia). 5. No ítem 9, prever a retomada dos hemogramas semanais por novo período de 18 semanas apenas para os pacientes com interrupções por motivos não hematológicos superiores no mínimo a 36 horas. 6. Ainda neste ítem, incluir recomendação para frequência maior (semanal após as 18 semanas iniciais ou bisemanal se ainda neste prazo) para os hemogramas nos pacientes com valores entre 3000/mm3 e 3500/mm3 e/ou com quedas bruscas e intensas (mais de 30%) nas contagens em curto espaço de tempo e/ou sinais clínicos sugestivos de imunodeficiência (gripes repetidas ou infecções protraídas, estomatite, ulcerações e erupções cutâneas, febre recorrente, fadiga). 7. No consentimento informado, acrescentar ao critério técnico “redução de 30% nos escores da escala BPRS”, melhor detalhamento dos benefícios médicos e psico-sociais da clozapina, além de melhor esclarecimento, em linguagem leiga e acessível, de expressões e critérios técnicos mencionados no texto do consentimento. Page 20 of 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 01. Adesanya A, Pantelis C Adjunctive risperidone treatment in patients with 'clozapineresistant schizophrenia'. Aust N Z J Psychiatry 2000 Jun;34(3):533-4. 02. 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(Obs: O texto integral, contendo os protocolos para os demais medicamentos essenciais, encontra-se publicado na edição de 15/08/2000 do Diário Oficial da União): MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE PORTARIA Nº 286, DE 14 DE AGOSTO DE 2000 O Secretário de Assistência à Saúde, no uso de suas atribuições legais, Considerando a necessidade de garantir o acesso dos pacientes usuários do Sistema Único de Saúde SUS a medicamentos considerados excepcionais, cuja relação encontra-se estabelecida na tabela do Sistema de Informações Ambulatoriais SIA/SUS; Considerando que os usuários destes medicamentos são pacientes crônicos e/ou fazem seu uso por períodos prolongados e ainda o alto custo destes tratamentos; Considerando a necessidade de estabelecer Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas para as diversas patologias em que estejam indicados tratamentos com os medicamentos já citados, que contenham critérios de diagnóstico e tratamento, observando ética e tecnicamente a prescrição médica; racionalizem a dispensação dos medicamentos preconizados para o tratamento das doenças; regulamentem suas indicações e seus esquemas terapêuticos e estabeleçam mecanismos de acompanhamento de uso e de avaliação de resultados, garantindo assim a prescrição segura e eficaz; Considerando a necessidade de que os Protocolos e Diretrizes Terapêuticas a serem estabelecidos sejam fruto de consenso técnico e científico, que sejam formulados dentro de rigorosos parâmetros de qualidade, precisão de indicação e posologia, respaldados por estudos clínicos de fase 3, meta-análises de ensaios clínicos nacionais e/ou internacionais, e Considerando a necessidade de se promover ampla discussão destes Protocolos e Diretrizes, possibilitando a participação efetiva da comunidade técnico científica, sociedades médicas, profissionais de saúde e gestores do Sistema Único de Saúde/SUS na sua formulação, resolve: Art. 1º - Submeter à consulta pública as propostas de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas contidas nos seguintes Anexos desta Portaria: Anexo I - Esquizofrenia e Transtornos Esquizofreniformes Refratários : Clozapina; Anexo II - Osteoporose: Alendronato (ou Calcitonina) + Vitamina D + Cálcio; Anexo III - Doença de Gaucher: Imiglucerase; Anexo IV- Transplantados Renais Drogas Imunomoduladoras: Ciclosporina, Azatioprina, Tacrolimus, Micofenolato Mofetil, Anticorpo Monoclonal Murino Anti CD3 (OKT3), Page 26 of 31 Basiliximab, Daclizumab, Globulina Antilinfocitária, Globulina Antimocitária, Metilprednisolona. Art. 2º - Estabelecer o prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data da publicação desta Portaria, para que sejam apresentadas sugestões, relativas às propostas de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas de que trata o Artigo 1º, devidamente fundamentadas. § 1º - As sugestões deverão ser encaminhadas por escrito e em meio magnético para o Departamento de Redes e Sistemas Assistenciais Assessoria Farmacêutica Ministério da Saúde, Esplanada dos Ministérios Bloco G sala 912 CEP 70.058-900 Brasília - DF, ou para o seguinte endereço eletrônico - [email protected] ; § 2º - As sugestões enviadas deverão, obrigatoriamente, estar fundamentadas por: a - Estudos Clínicos de fase 3 realizado no Brasil ou exterior; b - Meta-análises de Ensaios Clínicos. § 3º - As sugestões deverão ser acompanhadas por cópia dos documentos que as fundamentem, conforme previsto no § 2° deste Artigo, sendo que, publicações estrangeiras deverão ser enviadas na versão original, sem tradução. Art. 3º - Determinar que o Departamento de Redes e Sistemas Assistenciais, avalie as proposições apresentadas, elaborando a versão final consolidada do Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas ora submetidos à consulta pública, para que, findo o prazo estabelecido, sejam publicados e entrem em vigor em todo o território nacional. Art. 4º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. RENILSON REHEM DE SOUZA ! ANEXO I - PROTOCOLO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS ESQUIZOFRENIA E TRANSTORNOS ESQUIZOFRENIFORMES REFRATÁRIOS Medicamento: Clozapina 1.Introdução: Os transtornos esquizofreniformes são idenficados por distorções características do pensamento e da percepção e por afeto inadequado e embotado. São manifestações da esquizofrenia: -perda progressiva da sociabilidade; -deterioração dos autocuidados; perda dos limites do ego; -perturbações do pensamento lógico; -autismo, alucinações; -ilusões; -idéias delirantes (persecutórias, de grandiosidade); -déficit cognitivo pode também acompanhar o quadro. A esquizofrenia afeta cerca de 1% da população e é responsável por ¼ das internações psiquiátricas. 2. Classificação CID 10: F20.3. Diagnóstico Clínico: O diagnóstico clínico é baseado nos critérios do DSM-IV 4. Diagnóstico Laboratorial: O diagnóstico é basicamente clínico 5.Critérios de Inclusão no Protocolo de Tratamento: As seguintes situações são requeridas, cumulativamente, como critérios de inclusão neste protocolo: 5.1 - O paciente deve ter diagnóstico de Esquizofrenia pelo DSMIV; 5.2 - A duração da doença deve ser maior do que 4 anos e o paciente não ter apresentado nenhum funcionamento pessoal adequado há 2 anos; 5.3 - Ter apresentado falha terapêutica com Haloperidol 20-40 mg/d por 36 semanas ou com Clorpromazina 1g/d por 36 semanas; 5.4 - Ter apresentado falha terapêutica com Thioridazina 400-800 mg/dia por 6 meses consecutivos; 5.5 - Constar ausência de melhora dos sintomas Page 27 of 31 apesar da mudança nos fatores psicossociais estressores; 5.6 - Presença de familiar interessado, participativo, disponível e com adequado funcionamento global; 5.7 - Paciente e familiar apresentarem-se aderentes a um serviço de atendimento psiquiátrico ambulatorial; 5.8 - Haver adequada documentação e descrição detalhada de toda doença do paciente. Obs. a presença de discinesia tardia como efeito colateral de neurolépticos é aceita como critério único que permite a inclusão do paciente neste protocolo. 6. Critérios de Exclusão do Protocolo e Suspensão do Tratamento: Não deverá ser incluído neste tratamento todo paciente que apresentar pelo menos 1 dos itens abaixo: 6.1 - Doença grave hepática, renal ou cardíaca;6.2 - História de tumor cerebral; 6.3 - Psicose alcoólica ou tóxica; 6.4 - Dependência ou abuso de drogas psicoativas; 6.5 - Epilepsia precedendo o diagnóstico de esquizofrenia; 6.6 - Situação potencial de gravidez e ou lactação; 6.7 - Retardo mental; 6.8- Ausência de família organizada e participante: 6.9 Impossibilidade de adesão e acompanhamento continuado. 7. Comitê Técnico: Pacientes candidatos à inclusão neste protocolo deverão ser avaliados por um Comitê Técnico composto de pelo menos 2 especialistas em psiquiatria, designados pelo gestor estadual. Os especialistas designados deverão ser cadastrados junto ao Sistema de Farmacovigilância da Clozapina e deverão providenciar o preenchimento da escala BPRS de cada paciente. 8. Tratamento Clozapina: O tratamento deverá ser iniciado com 12,5 mg à noite. Pode-se aumentar a dose em 25 mg cada 1 a 2 dias até chegar a 300-400 mg/dia. Após 30 dias sem melhora, aumentar 50mg cada 3-4 dias até atingir 800mg/d. Observar doses maiores à noite. Não se recomenda administrar mais de 200 mg/dose. 9. Controle Hematológico: Requerido sempre que o paciente iniciar ou re-iniciar tratamento. Solicitar Hemograma e Plaquetas 1 vez por semana nas primeiras 18 semanas e após, 1vez por mês. Exame Antes cada 7 dias- durante a as primeiras 18 semanas cada 30 dias durante todo tratamento Sim Sim Sim Sim Sim Sim Hemograma Plaquetas 10. Resposta Clínica : A melhora Clínica é definida como uma diminuição de pelo menos 30% nos escores da escala BPRS. Conseguida a melhora clínica, deverá ser instituída uma redução cuidadosa da dosagem na manutenção e acompanhamento clínico e psiquiátrico com escores trimestrais (escala BPRS). Pacientes que apresentarem Citopenia ou Convulsão deverão ser considerados para inclusão no Protocolo de neurolépticos não convencionais (Olanzapina/Risperidona). 11. Interrupção do Tratamento: Terá indicação de interrupção de tratamento o paciente que, após12 semanas de uso de 300-800mg/d: 7.1 - Não apresentar melhora clínica; 7.2 - Não aderir ao tratamento e avaliações (escalas); 7.3 -Apresentar efeitos adversos como: convulsões, ou citopenia (leucocitos totais <3000 e/ou neutrófilos < 1500 e/ou plaquetas < 100.000/mm3). 12. Consentimento Informado: É obrigatória a cientificação do paciente, ou de seu responsável legal, dos potenciais riscos e efeitos colaterais relacionados ao uso do medicamento preconizado neste protocolo, o que deverá ser formalizado por meio da assinatura de Termo de Consentimento Informado, de acordo com o modelo que faz parte deste Anexo. Page 28 of 31 Bibliografia: 1.Drug treatment for schizophrenia. Effective Health Care-NHS Center for Reviews and Dissemination. 1999;5(6):1-12 ; 2. Zuardi AV, Loureiro SNRodrigues CRC, et al. Estudo da estrutura fatorial, fidedignidade e validade da tradução e adapatação apra o português da escala de avaliação psiquiátrica breve (BPRS) modificada. Revista ABP-PAL 1994;16(2):63-7 TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO CLOZAPINA O Paciente abaixo identificado e firmado declara, para todos os efeitos legais, que foi informado de todos os benefícios, contra-indicações, potenciais efeitos colaterais, riscos e advertências relativos ao uso do medicamento CLOZAPINA, preconizado para o tratamento da esquizofrenia e de transtornos esquizofreniformes refratários. Expressa, ainda, sua concordância e vontade em submeter-se ao tratamento preconizado já referido, assumindo inteira responsabilidade e risco pelos eventuais efeitos indesejáveis que venham a ocorrer em decorrência do mesmo. Assim, declara que: Foi claramente informado que a medicação CLOZAPINA pode trazer os seguintes benefícios no tratamento da esquizofrenia: - Redução de 30% nos escores da escala BPRS. Foi também claramente informado a respeito das seguintes contra-indicações, potenciais efeitos colaterais, riscos e advertências a respeito da medicação CLOZAPINA no tratamento da esquizofrenia: - Medicações classificadas na gestação como fator de risco B (significa que não existe evidência de risco para o bebê); Contra-indicado nos casos de leucopenia inferior a 3500 células/mm3 (células brancas do sangue); - Controles periódicos (semanal nas primeiras 18 semanas e mensal após) de hemograma são necessários; - Não se deve suspender a medicação abruptamente; - Taquicardia, hipotensão e hipotensão postural, febre, cefaléia (dor de cabeça), tonturas, constipação, náuseas, vômitos e ganho de peso são sintomas adversos comuns; - Alteração no ECG, hipertensão, agitação, acatisia, desconforto abdominal, pirose (azia), xerostomia (ressecamento de mucosas), visão borrada e diaforese também podem ocorrer; - Efeitos adversos raros (< 1%) são insônia, convulsões, discinesia tardia, sindrome neuroléptica maligna, disúria (desconforto ao urinar), impotência, agranulacitose, eosinofilia, granulocitopenia, leucopenia, trombocitopenia, tremor e rigidez. O Paciente declara, ainda, estar ciente que pode suspender este tratamento a qualquer momento, sem que este fato implique em qualquer forma de constrangimento entre ele e seu médico, que se dispõe a continuar tratando-o em quaisquer circunstâncias. Assim, o paciente faz sua adesão ao tratamento de forma livre, por espontânea vontade e por decisão conjunta dele e de seu médico. Paciente:___________________________________________ Responsável Legal (quando for o caso):_______________________ Sexo do paciente: ( ) Masculino ( )FemininoIdade do Paciente: _____________ Page 29 of 31 R.G. (do paciente ou responsável legal)__________________ Endereço:________________________________________________ Cidade: ____________CEP:________ Telefone:( )_____________ _______________________ Assinatura do Responsável (quando for o caso) _______________________ Assinatura do Paciente Médico Responsável:____________________CRM:____________ Endereço do Consultório:_____________________________ Cidade:________________ CEP:____________ Telefone: ( )__________ _______________________________/______/_________ Assinatura e Carimbo do MédicoData Obs.: 1- O preenchimento completo deste Termo e sua respectiva assinatura são imprescindíveis para o fornecimento do medicamento 2- Este Termo ficará arquivado na farmácia responsável pela dispensação dos medicamentos ANEXO II RELAÇÃO DE MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE MIELO-SUPRESSORES: -anti-epilépticos e estabilizadores do humor: carbamazepina (TEGRETOL e outros), difenilhidantoína (EPELIN, FENITOINA e outros), oxcarbazepina (AURAM, TRILEPTAL), lamotrigina (LAMICTAL); -anti-depressivos: amitriptilina (TRYPTANOL e outros), clomipramina (ANAFRANIL), mianserina (TOLVON); -antipsicóticos: clorpromazina (AMPLICTIL e outros), tioridazina (MELLERIL); -antibióticos e quimioterápicos: cloranfenicol (QUEMICETINA e outros), associações com sulfametoxazol e trimetropina (BACTRIN e outros), gentamicina (GARAMICINA), ampicilina (BINOTAL e outros), cefotaxima (CEFOTAX e outros), cefadroxil (CEFAMOX e outros); ciprofloxacina (CIPRO e outros); -anti-malárico e anti-reumático: hidroxicloroquina (PLAQUINOL); -analgésicos e anti-inflamatórios não-esteróides: dipirona ou metamizol (NOVALGINA, BARALGIN e outros), indometacina (INDOCID e outros), paracetamol (BUSCOPAN, DÔRICO, Page 30 of 31 TYLENOL e outros), ibuprofeno (DANILON e outros), diclofenato sódico (BESEROL, CATAFLAN e outros), aceclofenaco (PROFLAM), auranofina (RIDAURA e outros); -diuréticos sulfonamídicos: acetazolamida (DIAMOX); -anti-histamínicos fenotiazínicos: prometazina (FENERGAN e outros), mequitazina (PRIMASONE); -anti-glaucomatosos sulfonamídicos: dorzolamida (COSOPT, TRUSOPT) -medicamentos anti-úlcera: cimetidina (TAGAMET e outros); -anti-hipertensivos: quinapril (ACCUPRIL), nifedipina (ADALAT), captopril (CAPOTEN e outros), tandrolapril (GOPTEN); -beta-bloqueadores: nadolol (CORGARD); -anti-neoplásicos: aminoglutetimida (ORIMETEN, indicado no carcinoma metastático de mama, próstata e adreno-cortical), metotrexato (METHOTREXATE, METOTREX); -anorexígenos: anfepramona (HIPOFAGIN e outros); -antitireoidianos: propiltiouracila (PROPILTIOURACIL), tiamazol (TAPAZOL); -hipoglicemiantes orais: clorpropamida (DIABINESE e outros), gliclazida (DIAMICRON). ANEXO III PROPOSTA DE MODELO DE ATENÇÃO FARMACÊUTICA A PACIENTES EM TRATAMENTO COM CLOZAPINA Tem como objetivo principal a participação efetiva do farmacêutico, com base nos problemas relacionados com o medicamento; disciplinando a dispensação através de uma metodologia criada com a finalidade de estudos, análises e avaliações farmacoterapeuticas decorrentes dos respectivos esquemas de tratamentos previstos pelo programa de uso da Clozapina. Considerando a Política Nacional de Medicamentos, editada na Portaria/GM/MS n.º 3.916, de 30 de outubro de 1998, que estabelece as diretrizes, prioridades e responsabilidades da Assistência Farmacêutica, para os gestores federal, estaduais e municipais do Sistema Único de Saúde – SUS- Item 3.3 – REORIENTAÇÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA. Sugere-se : 1. Centralização da dispensação no Serviço de Farmácia da Unidade; 2. Entrevista inicial com o paciente , se necessário com o responsável, uma semana antes do início do tratamento ( modelo da entrevista em Anexo) ; 3. Kit paciente- documentação, termo de consentimento informado ( cópia); 4. Vincular a dispensação à apresentação da prova hematológica em todas as suas etapas; 5. Ficha farmacoterapêutica do paciente ( modelo em Anexo); 6. Dispensação semanal, até 18 semanas de tratamento em dia certo,para atendimento individualizado pelo farmacêutico; 7. Assinatura / contra recibo paciente e/ ou responsável no recebimento do medicamento; 8. Informações ao farmacêutico das interrupções do tratamento, reintrodução e exclusão anexada as fichas. A necessidade de estabelecer critérios na dispensação farmacêutica da Clozapina, faz parte integrante e complementar ao tratamento dos pacientes que necessitam de medicamentos para o controle dos transtornos mentais, garantindo acessibilidade e resolubilidade entre outras vantagens. Para os Serviços de Saúde: 1. redução dos custos 2. redução dos desvios 3. integração do farmacêutico 4. controle sobre o uso do medicamento 5. maior disponibilidade de dados sobre os resultados do tratamento Page 31 of 31 Para os Serviços de Farmácia: 1. atendimento personalizado 2. melhor qualidade do serviço prestado 2. maior segurança no ato da dispensação É importante ressaltar a possibilidade de fornecimento de relatórios mensais à unidade clínica , além de relatórios do consumo as Secretarias de Saúde. FICHA DE ACOMPANHAMENTO DA DISPENSAÇÃO FARMACÊUTICA DA CLOZAPINA NOME---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ENDEREÇO---------------------------------------------------------------------------TEL------------------------------------------MÉDICO RESPONSÁVEL---------------------------------------------------------------------------------------------------------- PESSOAS AUTORIZADAS PARA RETIRAR O MEDICAMENTO: NOME-------------------------------------------------------------------ASSINATURA--------------------------------------------NOME-------------------------------------------------------------------ASSINATURA--------------------------------------------DATA TOTAL DISPENSADO ASSINATURA DO PACIENTE OU PESSOA AUTORIZADA ASSINATURA DO FARMACÊUTI CO OBSERVAÇÕ ES