Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E CRIMINALIDADE NA CIDADE DA PRAIA Gilson Bento CORREIA1 Clay Anderson Nunes CHAGAS2 Carlos TAVARES3 49 Resumo O objetivo deste trabalho foi a análise e compreensão do ordenamento do território e criminalidade na cidade da Praia. Analisou-se que a cidade da Praia cresceu de duas formas completamente diferentes, um crescimento de ocupação do território planejado, onde reside população na maioria de classes sociais média e alta, com elevado poder aquisito e compra de terrenos nas áreas planejadas e, um crescimento de ocupação não planejado, onde concentra população de classes sociais mais baixa. Na área de ocupação não planejada, as populações construem os seus assentamentos de acordo com o poder e modelo por si idealizado e na maioria sem levar em conta as normas do ordenamento do território e, tornando um fator preponderante na prática dos diferentes crimes que acontecem na cidade, devido as construções precárias e nas áreas de riscos (encostas, e fundos dos vales), ruas estreitas e mal iluminadas, existência de becos com e sem saídas. De uma forma geral, os resultados obtidos mostram que grande parte dos crimes, principalmente os crimes contra a pessoa, ocorrem nos bairros de ocupação informal, onde há grande deficit de ordenamento do território. Nos bairros de ocupação formal, ocorrem mais os crimes contra o patrimônio. Desta forma, é fundamental assumir de forma consequente o ordenamento do territóiro e qualificação dos territórios urbanos na agenda das politicas públicas de combate a criminalidade e de diminuição da insegurança urbana, numa perspectiva integrada e global de intervenção, onde as diferentes ações e medidas públicas congregam para a resolução dessa problemática. Palavras chave: Território; Ordenamento do Território; Criminalidade; cidade da Praia. ORDENAMIENTO DEL TERRITORIO Y CRIMINALIDAD EN LA CIUDAD DE PRAIA Resumen El objetivo de este trabajo fue el análisis y compresión del ordenamiento del territorio y criminalidad en la ciudad de Praia. Se analizó que la ciudad de Praia creció de dos formas completamente diferentes, un crecimiento de ocupación del territorio planeado, donde reside población en su mayoría de las clases sociales media y alta, con elevado poder adquisitivo y compra de terrenos en las áreas planeadas, y un crecimiento de ocupación no planeado, donde se concentra la población de las clases sociales más bajas. En la área de ocupación no planeada, la población construye sus asentamientos de acuerdo con el poder y modelo por si idealizado y en la mayoría sin tomar en cuenta las normas del ordenamiento del territorio, y volviéndose un factor preponderante en la práctica de los diferentes crimines que ocurren en la ciudad, debido a las construcciones precarias e en las áreas de riesgos (Laderas y fondos de los valles), calles estrechas y mal iluminadas, existencia de callejones con y sin salida. De forma general, los resultados obtenidos muestran que gran parte de los crimines, principalmente los crimines contra las personas, ocurren en los barrios de ocupación informal, donde hay gran déficit de ordenamiento del territorio y calificación de los territorios urbanos en la agenda de las políticas públicas de combate a la criminalidad y disminución de la inseguridad urbana, en una perspectiva integrada y global de intervención, donde las diferentes acciones y medidas públicas se congreguen para la resolución de esa problemática. Palabras clave: Territorio; Ordenamiento del Territorio; Criminalidad; Ciudad de Praia. 1 Possui Graduação em Geografia e Ordenamento do Território pela Universidade de Cabo Verde (UNICV). Atualmente é Mestrando em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Brasil. [email protected] 2 Professor do Programa de Pós Graduação em Geografia e em Segurança Pública na Universidade Federal do Pará. É professor da Universidade do Estado do Pará. Possui doutorado em Desenvolvimento socioambiental pelo Núcleo de Altos Estudos da Amazônia da Universidade Federal do Pará. [email protected] 3 Possui Graduação em Geografia e Planejamento Regional, Mestrado em Gestão do território e Doutorado em Geografia e Planejamento Territorial pela Universidade de Nova Lisboa (UNL/Portugal). Atualmente é Professor Colaborador da Universidade de Cabo Verde (UNICV) e Técnico do Instituto Nacional de Gestão do Território de Cabo Verde. [email protected] Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES SPATIAL PLANNING AND CRIMINALITY ON THE PRAIA CITY Abstract The objective of this study was the analysis and understanding of spatial planning and crime in Praia. It analyzed the Praia grew from two completely different ways, a planned land use growth, which resides population in most middle and upper social classes with high purchasing power and purchase of land in the planned areas and growth unplanned occupation, which concentrates population of lower social classes. In the unplanned occupation area, populations construem their settlements according to the power and model you designed and most without taking into account the rules of land use and becoming a major factor in the practice of different crimes that happen in city, due to the precarious constructions and areas of risks (slopes and bottoms of valleys), narrow streets and dimly lit, there are alleys with and without exits. In general, the results show that most of the crimes, especially the crimes against the person occur in the informal occupation of neighborhoods where there are planning deficit territory. In the formal occupation of neighborhoods, most occurring crimes against property. Thus, it is essential to take consistently spatial planning and qualification of urban areas on the agenda of public policies to combat crime and reduction of urban insecurity in an integrated and holistic perspective of intervention, where different public actions and measures congregate to resolve the problem. Key words: Territory; Spatial Planning; Criminality; Praia City. INTRODUÇÃO O uso e ocupação do território são feito por determinados atores sociais de forma complentamente diferente na cidade da Praia. Nos bairros de caráter informal, onde residem populações mais pobres e vulneráveis, há uma deficiente infraestruturação e regulação do território em relação aos bairros de legais/formais. Desobedecendo as normas urbanísticas as populações constroem as habitações à medida das capacidades financeiras e de acordo com modelo por si idealizado, e como consequência, nota-se o agravamento de vários problemas como, construcões precárias, ruas estreitas e mal iluminadas e dificuldades na circulação nos diferentes territórios da cidade. Os efeitos do crescimento espontâneo refletem-se a ocupação “desordenada” do território urbano e a expansão ocorrida em áreas com condições urbanas inadequadas, como os leitos de ribeiras, as encostas de acentuado declive e os fundos dos vales. Nos bairros de carater formal, o uso e ocupação do território são feito na maioria respeitando as normas urbanísticas, o que facilita na intervenção do combate na maioria dos problemas que acontecem na cidade da Praia, principalmente, a criminalidade. Nestes territórios reside população com maior poder aquisitivo, onde possuem condições para compras de terrenos nesses bairros. A discussão tem caráter teórico e prático, consubstanciado por pesquisa bibliográfica e trabalho de campo. O artigo está organizado em cinco seções, após esta breve introdução, segue-se a caracterização da cidade da Praia, apontamentos conceituais sobre ordenamento do Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 50 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES território e criminalidade, suas aplicações no caso da da cidade da Praia, por fim, são feitas considerações finais. CARACTERIZAÇÃO DA CIDADE DA PRAIA A cidade da Praia está localizada a Sudoeste da ilha de Santiago e faz fronteiras com o Município de São Domingos a Nordeste e com o Concelho de Ribeira Grande de Santiago a Sudoeste (Figura 1). É a maior e mais populosa das nove ilhas habitadas de Cabo Verde e o seu território é formado por relevos de achadas e planaltos estruturais de basalto em níveis altimétricos variáveis desde 5 a 10 metros nas proximidades do litoral até níveis de 180 a 200 metros no interior da cidade. A variação topográfica é separada por vales de larguras diversas. Figura 1: Mapa de Localização geográfica da Cidade da Praia. Fonte: Correia (2015), elaborado com base nos dados da Câmara Municipal da Praia e Google Earth. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 51 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES A cidade da Praia apresenta uma população residente de 130.187 habitantes, sendo 66.763 do sexo feminino (51,28%) e 63.424 do sexo masculino (48,72%). A maioria da população residente tem idade de 15 a 64 anos (64,83%) (Quadro 01). 52 Quadro 1: População residente da cidade da Praia por Sexo e Idade. Sexo Idade (em Anos) < 15 15 a 64 ≥65 Total Feminino Masculino Total Quantidade % Quantidade % Quantidade % 20540 15,75 20550 15,78 41090 31,56 43282 33,25 41119 31,58 84401 64,83 2941 2,26 1755 1,35 4696 3,61 66804 51,26 63467 48,71 130271 100 Fonte: Elaborado pelos autores, com base nos dados do Instituto Nacional de Estatística (Censo 2010). A cidade teve um crescimento acelerado e acompanhado de um elevado número de população desempregada, principalmente na camada jovens. No Gráfico 1, pode-se observar a evolução da população da cidade da Praia de 1980 a 2010. Essa evolução da população trouxe vários problemas no interior da cidade (elevado número de desemprego, falta de educação, construções nas áreas de riscos, violência/criminalidade, entre outros). Gráfico 1: Evolução da população da cidade da Praia de 1980 a 2010. 140000 130187 Nº de população 120000 100000 98118 80000 71276 60000 40000 46631 20000 0 1980 1990 2000 2010 Ano Fonte: Elaborado pelos autores, com base nos dados do Instituto Nacional de Estatística (Censo 1980 a 2010). Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES APONTAMENTOS TEÓRICOS-CONCEITUAIS TERRITÓRIO E CRIMINALIDADE DO ORDENAMENTO DO Na maioria dos problemas que enfrentamos na sociedade atual coloca-se sempre a questão do uso e ocupação do território que vem originando o surgimento de vários outros problemas, neste caso, violência/criminalidade. Os diferentes atores sociais que exercem as suas ações sobre o território, fez com que os territórios sejam produzidos, transformados e modificados de acordo com capacidade financeira de cada ator, ou seja, relações do poder. Esses aspectos conduziram a crescente necessidade de “ordenamento do território” de modo a garantir a sustentabilidade das populações nos diferentes territórios, uma vez que os territórios guardam entre si diferenças através da produção feita pelos diferentes atores sociais e desigualdades sociais. Segundo Condensso (2004) o ordenamento do território é um conceito contemporâneo que surgiu na primeira parte do século XX no Reino Unido e na Alemanha, e começou a se generalizar somente pós a Segunda Guerra Mundial, cujo objetivo é dar respostas globais aos problemas que a ocupação, o uso e a produção do território têm trazido para a sociedade. Nesta lógica, Soares (2009, p.76), diz que a “globalização-internacionalização da economia capitalista, provocou mudanças em toda a face da terra a partir dos últimos anos do século XX. Novas condições técnicas, bases para uma ação humana mundializada, promovem a unificação do mundo, afetam o território e o seu ordenamento”. Para Rios (1957 apud SOARES, 2009, p.67), a organização do território transcede os objetivos puramente econonômicos da planificação e tem como norma a idéia de recursos, ordenamento de uma área geográfica ao valor humano das populações e valorização das estruturas sociais. Ainda o autor, afirma que o “ordenamento territorial pode ser entendido como a ação e efeito de colocar as coisas no lugar que consideramos adequado e também implica a busca da disposição correta, equilibrada e harmônica da interação dos componentes do território” (SOARES, 2009, p. 67). O ordenamento territorial tem como propósito a administração da base contraditória do espaço e se expresa por um conjunto de regras e normas do arranjo espacial da coabitação, operando como administração geográfica. A coabitação, conteúdo necessário da convivência espacial dos homens, se dá por consenso (sociedade comunitária) ou por coerção de classe (sociedade de classe). A regulação é a prescrição do controle da forma de coabitação através da regra e da norma do ordenamento (SOARES, 2009, p. 71). Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 53 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES Como referido anteriormente, a globalização gera desigualdade, exclusões, resistências, o que significa negação da ordem, desordem. O ordenamento territorial pode contemplar a gestão. Para Soares (2009, p. 74-75), “gestão significa muito mais que governo, pois o poder efetivo de reorganização frequentemente se localiza em outro lugar, ou, pelo menos, numa coalização de forças mais ampla”. Para este autor, o poder de organizar o território advém de todo um complexo de forças mobilizadas por diversos atores sociais. Ordenar um território é um processo tão mais conflituoso quanto mais variada a densidade social num determinado espaço ou território. Segundo Tavares, (2014, p. 18): A Carta Europeia do Ordenamento do Território refere ainda que o ordenamento do território deve ser: democrático (orientado no sentido de assegurar a participação da população, implicando o reforço da consciência cívica dos cidadãos através do acesso à informação e à intervenção nos procedimentos de elaboração, execução, avaliação e revisão dos instrumentos de gestão territorial): global e integrador (integrando as políticas setoriais, preconizando a articulação e compatibilização do ordenamento com as políticas de desenvolvimento econômico e social); funcional (ter em conta a especificidade do território) e prospetivo (visão a longo prazo). Em Cabo Verde, o conceito do ordenamento do território foi oficialmente descrito pela lei nº 57/II/85. Essa lei define os princípios fundamentais do planejamento urbanístico, a qual o considera a resultante espacial de um conjunto de ações políticas e técnicas, coordenadas, com vista à regularização e organização das relações entre as comunidades e o meio ambiente para a promoção do desenvolvimento, a valorização do território e a melhoria de qualidade de vida. Estas diferentes perspectivas de ordenamento do território não deixam de realçar que este tem por objeto principal, o “equilíbrio do território”, que se trata de uma política pública que parte dos interesses da coletividade (CORREIA; CHAGAS; SOARES, 2015). Na sua origem encontra-se a necessidade de retificar os “erros” originados pelas atividades dos grupos humanos no espaço geográfico, ao mesmo tempo corrigir os desequilíbrios entre os territórios e organizar os desenvolvimentos futuros. Portanto, ordenar o território é distribuir a população e atividades no espaço/território para atingir um resultado adequado ou conveniente em função de determinados objetivos. O ordenamento do território procura otmizar essa interação, localizando as atividades no território de forma a maximizar as relações de complementaridade e minimizar os problemas. Por outro lado, assume-se como essencial para evitar mistura de usos incompatíveis, degradação ambiental, desintegração social, perda de eficiência econômica e competitividade Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 54 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES e com isso permitir melhor o desempenho dos territórios e a melhoria da qualidade de vida das pessoas (TAVARES, 2014, p. 22). Segundo autor, a diminuição das desigualdades, a melhoria da qualidade de vida das pessoas, o progresso da coletividade e o desenvolvimento sustentável são objetivos perseguidos pelo ordenamento do território como política do estado. “A presença da ideologia se dá porque hoje o discurso antecede, quase obrigatoriamente, parte significativa das ações humanas, seja, técnica, a produção, o consumo e o poder” (SOARES, 2009, p. 77). Seguindo na mesma linha da discussão, o ordenamento do território deve-se levar em conta sempre o planejamento de modo a conseguir o equilíbro sobre os territórios. Para Condesso (2004), o objetivo principal do planejamento é preparar soluções para o desenvolvimento do território de forma coordenada e equilibrada, com localizações das atividades humanas, contribuindo para controlar o desenvolvimento setorial e para integrar preocupações ambientais e estratégias proactivas. E também democratiza o processo de tomada de decisão desenvolvendo mecanismos de participação pública visando à abertura de processos de tomada de decisão através das opções de desenvolvimento e da auscultação da população relativamente aos seus objetivos e consequências. Portanto, através do planejamento territorial estuda-se o território para se conhecer com profundidade todas as suas características e que constituíra a base para elaboração de um plano4 cuja finalidade é o ordenamento do território e o desenvolvimento sustentável. Assim, pode-se dizer que o planejamento é um processo de apoio ao ordenamento e administração do território que recorre à elaboração de planos para operacionalizar a correta organização territorial (TAVARES, 2014, p. 23). Levando em conta que o presente estudo trata-se não só do ordenamento do território, como também da criminalidade, faz-se necessário uma abordagem teórica da criminalidade. De acordo com Batella, (2005, p.17), a criminalidade é um tema candente, que emerge neste início de século como um dos principais problemas enfrentados pelos habitantes das grandes cidades. Além das vítimas diretas, ela é responsável pelo sentimento de insegurança e pelo medo que afligem grande número de pessoas, alterando paisagens e comportamentos. O 4 O Plano é um documento onde se expressa formal e politicamente as opções de planejamento para um dado território, sendo um quadro de referência no apoio as decisões e aos processos de gestão. O plano constitui a figura de referência do planejamento, facilitando a articulação entre os diferentes âmbitos territoriais e os setores de atividades. O Plano deve indicar a utilização mais racional e eficiente do território/recursos para que o custo em energia, tempo e dinheiro seja o mínimo possível (TAVARES, 2014, p. 24). Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 55 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES sentimento de insegurança e o medo, que permeiam na sociedade, fazem com que o crime apareça como uma preocupação cotidiana. Essa preocupação, que se agrava com as divulgações de estatísticas policiais em relação aos dados dos crimes, gerou um maior engajamento de diversas áreas do saber em estudos acerca dos fatores correlatos do crime, o que culminou numa literatura vasta e diversificada, indicando tratar-se de um fenômeno complexo. Segundo autor, a Geografia há algum tempo contribui para este debate, uma vez que a criminalidade guarda entre si um forte componente territorial, que se faz notório por meio da identificação de padrões específicos em sua distribuição territorial. Ainda assim, os geógrafos avançaram muito pouco em construções teóricas que visam entender e explicar este fenômeno. Em grande medida, as contribuições destes profissionais se materializam nos trabalhos empíricos, que tratam das relações entre o crime e a violência e seus condicionantes clássicos, sobretudo àqueles ligados aos aspectos socioeconômicos, demográficos e ambientais. Dialogando com Chagas (2014), o crime dissemina-se por todas as classes sociais. Tanto as áreas periféricas como centrais/elitizadas enfrentam problemas dos crimes. O que se percebe é que existe uma tipificação do crime conforme o bairro estudado, nas áreas periféricas, os crimes violentos são mais comuns, enquanto que nas áreas mais elitizadas são perceptíveis os crimes contra o patrimônio, furto e roubo. Isto permite referir que o crime não ocorre de forma homogênea no território. Em uma análise preliminar, observa-se que a criminalidade violenta está essencialmente concentrada nas áreas urbanas. O crime e a violência de todos os aspectos e motivos também ocorrem nas zonas rurais. Embora, é na cidade que os desentendimentos interpessoais aparecem com maior vigor, talvez pela própria estrutura centralizadora e concentradora que o meio urbano apresenta (LIRA, 2014, p. 24). Nesta lógica, Santos (2004 apud Lira, 2014, p. 24) descreve como a massiva concentração das atividades econômicas em algumas cidades propicia o desencadeamento de processos descompassados como, por exemplo: grandes fluxos migratórios, déficit no número de empregos, ocupação desordenada de determinadas áreas da cidade e estigmatização de estratos sociais, que comprometem substancialmente a segurança pública urbana. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 56 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES A partir de contribuição desses autores, pode-se dizer que ordenamento e planejamento territorial permitem combater o crime e a violência, uma vez que permitem qualificar os territórios e transmitir maior segurança as pessoas que vivem e circulam nos territórios. Um território bem estruturado e iluminado permitirá melhor visibilidade e acessibilidade no combate ao crime e violência. Hoje na sociedade atual, o sentimento de insegurança refere-se a aumento dos crimes nos diferentes territórios em que vivemos. Mas os territórios onde há precariedade das construções, o sentimento de inseguraça prevalece com maior intensidade. É neste sentido que Tavares (2014, p.21), afirma que “ordenar o território implica ter território com dinâmica de atividades, acessíveis, permeáveis, legíveis com um sentido correto de orientações e isto facilita os trabalhos das autoridades e inibi a prática dos crimes”. ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E CRIMINALIDADE NA CIDADE DA PRAIA Ordenar a cidade da Praia não é uma tarefa fácil, isto porque os planos nunca conseguiram dar resposta aos problemas de habitação nem traduzir no território as políticas pretendidas. Uma das justificativas é que o crescimento acelerado desta cidade, originado, sobretudo pelo êxodo rural e migrações inter- ilha não foi acompanhada por um processo de urbanização que contribuísse para um desenvolvimento sustentável dos diferentes territórios. Por isso, a cidade cresceu de duas formas completamente diferentes (Figura 2)5, um crescimento urbano planejado baseado em projetos urbanísticos (infraestruras e equipamentos coletivos) e um crescimento urbano não planejado, com grande déficit de infraestruturas e equipamentos coletivos. 5 Essa figura faz parte da dissertação do Mestrado que se encontra em andamento. O objetivo da figura é mostrar como que a cidade da Praia cresceu em relação a ocupação do território. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 57 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES 58 Figura 2: Formas de crescimento de ocupação do território nalguns bairros da cidade. Fonte: Correia (2016), elaborado com base nos dados do Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território, Câmara Municipal da Praia e Google Earth. O crescimento urbano desordenado na maioria dos bairros que compõem a cidade atualmente foi seguido, principalmente pela população de baixa renda. Portanto o fraco acompanhamento no processo de urbanização e do planejamento das construções trouxe o surgimento de vários problemas no interior da cidade. As populações de baixa renda, não tendo capacidade financeira para alugar residências ou, mesmo dispondo de recursos, as inexistências de ofertas habitacionais em quantidade e qualidade requeridas se voltam por uma ocupação fundiária desordenada, ocupando as áreas urbanas não urbanizadas (Figura 3), construindo sem levar em conta o ordenamento do território (construções tecnicamente precárias, inacabadas, ruas estreitas e mal iluminadas). Nessas áreas os criminosos tem maior facilidade em praticar os crimes, uma vez que as condições favorecem. A cidade da Praia a cada dia que passa vê uma maior concentração da população nos seus diferentes territórios Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES sem obedecer as regras do ordenamento do território oficial (CORREIA; CHAGAS; SOARES, 2015). 59 Figura 3: Assentamentos espontâneos em ambiente frágeis. Fonte: Correia (2016). O modelo de planejamento seguido, a desarticulação entre o conteúdo do plano e a realidade territorial, as intervenções urbanísticas e a carência de terrenos públicos são outros aspectos que contribuem para o problema. Desta maneira, o baixo rendimento da população (migrada ou residente) teve como opção ocupar os interstícios dos bairros mais antigos, densificando-os ou contribuindo para a sua expansão de forma espontânea/informal (SILVEIRA, 2011). Perante a realidade da cidade e não implementação dos primeiros planos corretos no território, levaram as autoridades a criarem um conjunto de instrumentos de ordenamento e planejamento do território na cidade da Praia: Diretiva Nacional de Ordenamento do Território (DNOT), Esquema Regional de Ordenamento do Território (EROT), Plano Especial de Ordenamento do Território (PEOT), Plano Setorial do Ordenamento do Território (PSOT), Plano Diretor Municipal (PDM), Plano de Desenvolvimento Urbano (PDU), Plano Detalhado (PD). Mesmo com a criação e adoção dos diferentes planos e / ou instrumentos de gestão territorial, a cidade da Praia enfrenta atualmente vários problemas de ordenamento e planejamento do território, o que mostra que o Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES Governo deve buscar uma melhor estratégia para superar os problemas que advém do uso desordenado do território. De acordo com Silveira (2011), os processos de loteamento por iniciativa privada aprovada pelas autoridades municipais foram feitas na maioria sem um plano e muitas delas se fossem feitas hoje não seriam licenciados por não cumprirem as normas de uso do solo existentes nas propostas do Plano Diretor Municipal mais atual. Todo o processo de transformação e produção do território urbano foram feitas à margem das normas do Plano Desenvolvimento Urbano de 1986, por pressão dos promotores privados para lotearem e urbanizarem as áreas de expansão. Por outro lado, a falta de monitorização destes processos do setor imobiliário privado, realça a fragilidade de todo o processo de planejamento feito sem qualquer Plano Diretor Municipal e ausência de fiscalização do processo pelas autoridades. Nesta lógica, o Estado é um dos principais atores responsável pela fragilidade do ordenamento do território na cidade da Praia, porque não deu muita importância no processo de urbanização pelos diferentes atores sociais desde o inicio deste processo e por isso a cidade cresceu de duas formas completamente diferentes (crescimento ordenado e crescimento desordenado). No entanto, na cidade da Praia os territórios mais bem planejados concentram normalmente os estratos de rendimentos médios e altos (áreas centrais), por outro lado, os territórios menos planejados (desordenados) concentram os estratos de baixa renda (áreas periféricas). A ausência de uma política de solos constitui um dos maiores entraves ao planejamento e ordenamento do território na cidade da Praia. As maiores partes dos terrenos pertencem a privados que fazem a transição da posse de propriedade sem ser enquadrada no âmbito do planejamento e vocação atribuído ao solo. Mais ainda, os proprietários têm incorporado à ideia que o fato de serem donos de grandes ou pequenos lotes, isso lhes dá a capacidade de edificar e determinar o uso do solo (TAVARES, 2006). Este é o principal problema para a eficácia dos planos na cidade da Praia. A ausência de uma política pública de loteamento, a burocracia associada à atribuição de lotes e a forte pressão do poder econômico das empresas imobiliárias na ocupação das melhores áreas da cidade resultaram na dificuldade de acesso ao solo pela população de baixa renda e na produção informal do território urbano. Por isso, a ausência de uma intervenção eficiente e eficaz por parte das autoridades competentes na totalidade das áreas residências Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 60 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES tem contribuído para a ocupação e produção informal do território e pelo deficiente processo de fiscalização. Ainda segundo Tavares (2006), a maior parte dos terrenos na cidade da Praia pertence aos privados. No meio urbano, apenas 20% dos terrenos são públicas, o que torna um fator de especulação dos preços de terrenos na cidade. A Câmara dispõe de alguns terrenos livres, mas sem grande expressão, sobretudo com projetos para a instalação de áreas industriais. Em síntese, o ordenamento do território na cidade da Praia resulta da ação de um conjunto de atores, do poder do capital, das questões de ordem social, do planejamento, da política de habitação e de solos. Segundo Correia; Chagas; Soares (2015), grande parte dos bairros da cidade da Praia em termo de urbanização não foram produtos de uma padronização ou de uma estratégia deliberada, e sim obra da criatividade dos seus próprios moradores. Sendo assim, essa criatividade pelos próprios moradores da cidade faz com que haja um defícit de ordenamento do território em algumas áreas dos bairros da cidade, devido a forma como produzem o território, e como consequência, essa produção sem levar em conta as leis de ordenamento do território na cidade, permitem que haja modificação tanto na estrutura urbana como no espaço em geral, e tornando um fator contribuinte para a prática dos diferentes crimes que acontecem na cidade da Praia. Ainda de acordo com os autores, de uma forma geral, os casos da criminalidade praticados na cidade da Praia têm ocorrido, de acordo com os dados estatísticos da maioria das entidades competentes a este tipo de problema, sobretudo nos bairros periféricos mais desfavorecidos com elevado déficit de ordenamento do território e também com grupos sociais mais pobres e vulneráveis, o que se traduz numa forte estigmatização desses bairros e dos seus residentes num auto fechamento e exclusão social. Normalmente, grandes partes das construções feitas nestes bairros periféricos estão localizadas, sobretudo nos leitos de ribeiras, encostas de acentuado declive e nos fundos dos vales, e com estrutura bastante precários, o que favorecem os criminosos na prática dos diferentes crimes na cidade. Esses bairros carecem de alguns serviços e equipamentos coletivos ou então estes são introduzidos já com critérios completamente diferentes dos vigentes nas áreas dotada de planejamento, pois que praticamente não existem espaços disponíveis para a implantação dos mesmos. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 61 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES A maior parte dos crimes cometidos na cidade da Praia, segundo os dados da Polícia Nacional/Ministério da Administração Interna (2009 a 2014) são crimes contra património (Gráfico 2), com um destaque significativo para o roubo na residência e assalto na via pública. 62 Gráfico 2: Quantidade de crimes contra pessoas e património na cidade da Praia (2009 a 2014) Quantidade (nº) 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 2009 2010 2011 Ano Crimes Contra Pessoas 2012 2013 2014 Crimes Contra Património Fonte: Autores, elaborado com base nos dados da Policia Nacional/Ministério da Administração Interna (2009 a 2014). Um estudo feito pelo Alves (2014) sobre Delinquência Juvenil e Criminalidade na cidade da Praia, uma pesquisa em torno do fenômeno thug6 e violência urbana, aponta que os grupos denominados thugs são um dos principais responsáveis pela violência e criminalidade na maioria dos bairros da cidade. Existe um número elevado desses grupos em vários bairros da cidade, em boa parte considerados muito perigosos, conflituosos e agressivos. Para além de praticarem o tráfico e o consumo de estupefacientes, esses indivíduos usam armas brancas e de fogo para praticarem assaltos à mão armada, disparos de intimidação às pessoas na via pública, entre outras incivilidades, gerando sentimento de insegurança e medo no seio da população local (ALVES, 2014). Nos bairros periféricos estes grupos de thugs se encontram 6 Jovens cujo estilo de vida é influenciado, em parte, pelos deportados e pelas histórias de jovens negros nos guetos norte-americanos e que praticam assalto a mão armada, furto, roubo, homicídio, posse e detenção ilegal de arma de fogo, entre outros ilícitos criminais graves (ALVES, 2014). Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES em maior quantidade. Esta análise pode-ser corroborada pela Figura 3, onde ilustra os bairros com maiores grupos de thug. 63 Figura 3: Mapa de distribuição dos grupos de thugs por bairros da cidade da Praia. Fonte: Autores, elaborados com base nos dados do trabalho de campo de Alves (2014). De acordo com a análise da Figura 3, deparamos que Achada Santo António, Ponta d’ Água e Achada Grande Trás são os bairros que detêm maior número de grupos thugs. São bairros de ocupação informal, onde carecem de algumas infraestruturas e equipamentos coletivos na maioria dos territórios que os pertencem. Por outro lado, encontram-se ruas estreitas e mal iluminadas e becos sem saídas, o que contribui para a prática dos crimes e ao mesmo tempo dificulta uma rápida intervenção das instituições de segurança. Tudo isto, faz com que aumenta o sentimento de insegurança nesses bairros. Da análise da Figura 4 que ilustra a distribuição dos roubos em porcentagem (%) por bairro da cidade da Praia referente ao ano de 2012, nota-se que o roubo constitui um tipo de Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES crime predominante nos bairros de Prainha, Chã d’areia, Bairro Craveiro Lopes e Achadinha, com uma porcentagem de (42% a 62%) legenda com cor escura (vermelho), seguido de Achada Santo António, Várzea, Tahit Chã d’areia, Fazenda, Paiol, Lém Cachorro e Vila Nova com uma percentagem que varia num intervalo de (28% a 42 %). Portanto, uma boa parte desses bairros encontram-se problemas ligados a déficit de ordenamento do território, o que permite afirmar que este tipo de crime tem maior impacto nos bairros periféricos da cidade. Figura 4: Mapa de distribuição de roubo por bairro da cidade da Praia no ano de 2012. Fonte: Autores, elaborado com base nos dados do Ministério da Administração Interna (2013). A Figura 5 que se segue ilustra a distribuição de assalto em porcentagem (%) por bairros da cidade da Praia no ano de 2012, observa-se que este tipo de crime tem uma representação significativa na maioria dos bairros. Mas os bairros com maior porcentagem de assalto são: Terra Branca, Bela vista, Tira Chapéu, Plateau, Ponta d’Agua Monte Agarro, Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 64 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES Achada Mato, Achadinha Pires e Água Funda apresentando uma percentagem que varia num intervalo de (57,1% a 71,4 %), legenda com cor escura (vermelho). Estes bairros tirando o Plateau são bairros de caráter informal e com grande concentração de populações de baixa renda e mais vulnerável. Figura 5: Mapa de distribuição de assalto por bairro da cidade da Praia no ano de 2012. Fonte: Autores, elaborado com base nos dados do Ministério da Administração Interna (2013). De acordo com os dados da Polícia Nacional (2007 a 2012), trabalhada pelo Alves (2014), o bairro de Achada Santo António é o bairro da cidade da Praia que registrou maior número de homicídios, seguido o bairro de Eugénio Lima, Ponta d’Água, Pensamento, Achadinha e Tira Chápeu (Figura 6). Normalmente são bairros de ocupação heterogêneos e ao Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. 65 Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES mesmo tempo enfrentam vários problemas (elevado índice de desemprego, construções precárias, a fraca iluminação pública e dificuldades nos sistemas de circulação, o que reflete uma elevada heterogeneidade do processo de produção e ocupação do território). 66 Figura 6: Mapa de quantidade de homicídio por bairro da cidade da Praia no ano de 2012. Fonte: Autores, elaborado com base nos dados da Polícia Nacional trabalhada por Alves (2014). Em termo de apreensão de armas de fogo, nota-se na Figura 7 que o bairro de Achada Santo António apresenta maior número de apreensões de armas na cidade da Praia. A seguir a Achada Santo António sucedem os bairros de Vila Nova, Eugénio Lima e Tira Chapéu. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES 67 Figura 7: Mapa de quantidade de armas de fogo apreendida por bairro da cidade da Praia no ano de 2012 Fonte: Autores, elaborado com base nos dados da Polícia Nacional trabalhada por Alves (2014). Através da análise da Figura 8, pode-se observar que o bairro de Achada Santo António, Vila Nova e Tira Chapéu apresentam maior quantidade de apreensões de armas brancas (legenda com cores mais escuras). Essa apreensão de armas brancas se encontra na maior parte, na posse de jovem. Como referido anteriormente, esses bairros são todas de caráter informal/espontâneo. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES 68 Figura 8: Mapa de quantidade de armas de fogo apreendida por bairro da cidade da Praia no ano de 2012 Fonte: Autores, elaborado com base nos dados da Polícia Nacional trabalhada por Alves (2014). De uma forma geral, é de afirmar que o ordenamento do território influencia muito na prática dos diferentes crimes que acontecem na cidade da Praia, uma vez que praticamente todos os crimes trabalhados neste estudo, ocorrem com maior porcentagem nos bairros de caráter informal/espontâneo. Normalmente são bairros onde registra grande deficit no ordenamento do território e ao mesmo tempo com elevada concentração de populações de baixa renda, elevado número de desemprego, falta de educação e carência de políticas sociais. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 4970. jan./jun. 2016. Ordenamento do território e criminalidade na Cidade da Praia DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p49-70 Gilson Bento CORREIA; Clay Anderson Nunes CHAGAS; Carlos TAVARES CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluiu-se que a cidade da Praia teve um crescimento de ocupação do território diferente na sua configuração territorial, um crescimento de ocupação do território planejado, onde reside população de alto poder aquisitivo e compra de terrenos nas áreas planejadas e, um crescimento de ocupação não planejado, onde concentra população com baixo poder aquisitivo e bastante vulnerável. Na área de ocupação não planejada, encontram-se construções tecnicamente precárias e na maioria localizada nas encostas, ribeiras e fundos dos vales, ruas estreitas e mal iluminadas, existência de becos com e sem saídas, elevado número de população desempregada entre outros. Por outro lado, o estudo conclui-se que grandes partes dos crimes na cidade da Praia ocorrem nos bairros de ocupação informal, principalmente os crimes contra a pessoa, onde caracem de um bom ordenamento do território. Nos bairros de ocupação formal, ocorrem mais os crimes contra o patrimônio (roubos e assaltos). Por fim, percebe-se que o ordenamento do território contribui para prática dos diferentes crimes na cidade, uma vez que os crimes ocorrem com maior intensidade nos bairros de ocupação informal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, M. A. Delinquência Juvenil e Criminalidade na Cidade da Praia: Uma pesquisa em torno do fenómeno “Thug” e Violência Urbana. Dissertação de Mestrado, apresentado a universidade de cabo verde, 2014. CHAGAS, C. N. C. Geografia, segurança pública e a cartografia dos homicídios na Região Metropolitana de Belém. In: Boletim Amazônico de Geografia. nº 1/v.1/Jan.jun/2014. CONDESSO, F. 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