A Artigo Original Santos MB et al. Conhecimento de orientação nutricional em pacientes com nefropatia diabética durante tratamento de hemodiálise reflete no estado nutricional? Does knowledge of nutritional couseling in patients with diabetic nephropathy during hemodialysis treatment reflects the nutritional status? Marielli Barbosa dos Santos¹ Angelica Rocha de Freitas Melhem2 Caryna Eurich Mazur3 Dalton Luiz Schiessel4 Mariana Abe Vicente Cavagnari5 Unitermos: Doença Renal Crônica. Hemodiálise. Estado Nutricional. Diabetes Mellitus. Nutrição. Keywords: Renal Insufficiency, Chronic. Hemodialysis. Nutritional Status. Diabetes Mellitus. Nutrition. Endereço para correspondência: Marielli Barbosa dos Santos Rua Argemiro Pacheco, 69 – Guarapuava, PR, Brasil – CEP 85060-650 E-mail: [email protected] Submissão: 30 de novembro de 2015 Aceito para publicação: 1 de março de 2016 RESUMO Introdução: A nefropatia diabética é considerada uma falência renal, tendo como etiologia o diabetes mellitus 2 (DM2), com alterações hemodinâmicas que provocam lesões que culminam com a esclerose glomerular. Em função disso, os pacientes estão susceptíveis a alterações no metabolismo de nutrientes e no estado nutricional, sendo necessárias adaptações dietéticas para efetividade do tratamento. O objetivo do trabalho foi analisar o conhecimento das orientações nutricionais em pacientes com nefropatia diabética em tratamento de hemodiálise e verificar o reflexo desse conhecimento no estado nutricional. Método: Estudo prospectivo com pacientes diabéticos em tratamento dialítico. Foram aplicados formulários referentes aos nutrientes importantes a serem monitorados na doença renal (fósforo, potássio e líquidos). Para identificar o autocuidado com o DM2, foi aplicado Questionário de Autocuidado de Diabetes. A avaliação nutricional foi realizada por meio do Índice de Massa Corporal (IMC), dobras cutâneas bicipital, tricipital, subscapular e suprailíaca e estado funcional do músculo esquelético e exames bioquímicos. Resultados: Participaram do estudo 14 pacientes. Quando questionados se tinham informações sobre fontes alimentares de potássio e quelantes de fósforo, 42,85% (n=6) e 64,28% (n=8), respectivamente, responderam positivamente. Dados relacionados à avaliação nutricional demonstraram que 50% (n=7) dos pacientes estavam obesos, de acordo com o IMC pós-dialítico. Conclusão: Apesar do conhecimento sobre as fontes alimentares de potássio e controle de ingestão de líquidos, houve limitações referentes ao fósforo, refletindo assim no estado nutricional, com índice elevado de sobrepeso e obesidade, sendo necessária melhor abordagem da orientação nutricional e apoio interdisciplinar. ABSTRACT Introduction: Kidney failure caused by diabetes mellitus 2 is called diabetic nephropathy and occurs as a result of hemodynamic changes, added to the effects of hyperglycemia, cause lesions in renal microcirculation culminating with glomerular sclerosis. Related to these changes these patients are susceptible to changes in nutrient metabolism and nutritional status, and dietary adjustments necessary for therapeutic effectiveness. The objective of this study was to analyze the knowledge of the nutritional guidelines in patients with diabetic nephropathy on hemodialysis treatment and check which reflects the nutritional status. Methods: Prospective study with diabetic patients on dialysis. It was applied questionnaires regarding the important nutrients to monitor renal disease (phosphorus, potassium and liquids). To identify self-care with diabetes was applied Questionnaire self-care of diabetes. Nutritional assessment was performed using Body Mass Index (BMI), folds and functional status of skeletal muscle and biochemical tests. Results: The study included 14 patients. Referring to the inquiry about the information related to information on dietary sources of potassium and phosphorus binders, 42.8% (n=6) and 64.2% (n=8) respectively, answered positively. Data related to nutritional assessment showed that 50% (n=7) of patients are obese according to BMI post dialysis. Conclusion: Although the knowledge of the food sources of potassium and control fluid intake, there was to match related limitations, reflect the nutritional status of patients with high rates of overweight and obesity, necessitating a better approach to nutrition education for them and interdisciplinary support. 1. Acadêmica do Curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR, Brasil. 2. Docente do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Mestre em Ciências pela UNIFESP, Irati, PR, Brasil. 3. Docente do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Mestre em Segurança Alimentar e Nutricional pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Irati, PR, Brasil. 4. Docente do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Doutor em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Federal do Paraná, UFPR, Irati, PR, Brasil. 5. Docente do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Mestre em Ciências - Medicina Translacional com ênfase na área de Gastroenterologia Oncológica pela Universidade Federal de São Paulo, Irati, PR, Brasil. Rev Bras Nutr Clin 2016; 31 (2): 156-61 156 Orientação nutricional em pacientes com nefropatia diabética durante hemodiálise reflete no estado nutricional? INTRODUÇÃO O principal órgão acometido no mecanismo da nefropatia diabética é o rim, que possui diversas funções. As principais são a manutenção do equilíbrio homeostático sobre os eletrólitos, líquidos e solutos orgânicos (sódio, cloreto, fosfato, cálcio e magnésio) e a capacidade de excretar os substratos do metabolismo, como ureia, fosfatos, ácido úrico, sulfatos e outras substâncias como drogas e medicamentos1. Dessa forma, quando há distúrbios como a doença renal crônica (DRC), pode haver acúmulo desses solutos no organismo, causando prejuízos ao estado de saúde do paciente. Aproximadamente 30% dos pacientes diabéticos desenvolvem nefropatia diabética no Brasil e iniciam o tratamento dialítico e 20% desses possuem importante risco de morbidades2. Após diagnóstico da DRC, o paciente deve ser submetido à hemodiálise, caracterizada pelo processo de filtração do sangue, a fim de subtrair as substâncias tóxicas e remover o líquido excessivo do organismo3. Apesar do tratamento com hemodiálise promover benefícios, como prolongar a vida dos pacientes com DRC, as condições impostas pela doença e pelo próprio tratamento resultam em muitas alterações no organismo que podem prejudicar o estado nutricional destes pacientes4. Além das funções renais estarem comprometidas, a insuficiência renal pode causar anemia, doença óssea, desnutrição, acidose metabólica e alterações cardiovasculares5. Nesta condição, além da abordagem nutricional para doença renal, o manejo nutricional ao indivíduo diabético é fundamental durante o tratamento dialítico para diagnosticar e prevenir morbidades relacionadas à nutrição, visto que há grande influência sobre a morbimortalidade nessa população4. O que é importante destacar em pacientes renais é a necessidade nutricional limitada, em que alguns nutrientes devem ser evitados e outros aumentados. O cuidado nutricional em pacientes críticos tem como objetivo melhorar e manter o peso, promover o consumo de proteínas, vitaminas e minerais em níveis adequados, e manter o equilíbrio hidroeletrolítico6. Nesse contexto, pode-se verificar que a educação alimentar e nutricional torna-se pilar importante na terapêutica de pacientes com nefropatia diabética, como proposto por meio da orientação nutricional à população descrita no Guia Alimentar7. Por meio de mudanças nos hábitos alimentares, é possível minimizar complicações e manifestações clínicas, melhorando a qualidade de vida desses indivíduos. O objetivo deste trabalho foi analisar o conhecimento das orientações nutricionais em pacientes com nefropatia diabética em tratamento de hemodiálise e verificar como isso reflete no estado nutricional. MÉTODO Estudo prospectivo transversal realizado entre os meses de maio a julho de 2015, em uma clínica especializada em tratamento de hemodiálise no município de Irati, PR. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COMEP) da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), sob parecer 731.748/2015. Foram convidados para compor o estudo todos os pacientes da clínica com diagnóstico clínico primário de diabetes mellitus 2 (DM2) com etiologia na DRC; adultos e idosos, em tratamento de hemodiálise há pelo menos 6 meses, que realizavam ao menos uma sessão semanal de hemodiálise, capazes de responder com clareza aos questionamentos e que concordassem em participar do estudo conforme esclarecimentos no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Salienta-se como rotina da clínica o acompanhamento e orientação nutricional aos pacientes. As medidas antropométricas foram realizadas de acordo com as técnicas preconizadas pelo SISVAN8. Dentre estas, foram coletadas peso seco (kg) e estatura (m), o Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado de acordo com a fórmula de Quetelet e avaliado com base nos pontos de corte preconizados pela Organização Mundial da Saúde9 e pela OPAS10 para os pacientes com mais de 60 anos de idade. Os indicadores antropométricos prega cutânea tricipital (PCT), prega cutânea bicipital (PCB), prega cutânea supraíliaca (PCT) e prega cutânea subsescapular (PCSE) foram classificados de acordo com Frisancho11, considerando o percentil 50 para a normalidade da avaliação. Para estimativa do percentual de gordura corporal (%GC), foi utilizada a somatória das quatro pregas cutâneas, por meio da equação e tabelas propostas por Durnin & Womersley12. Para classificação da %GC, foram utilizados os valores de referência de Gordon et al.13. A avaliação do ganho de peso interdialítico foi realizada por meio da diferença entre o peso após a última sessão de hemodiálise e o peso prédiálise aferido em uma nova sessão de hemodiálise. O estado funcional do músculo esquelético foi avaliado por meio de dinamômetro mecânico JAMAR®. Para classificação, foram utilizadas tabelas de Álvares-da-Silva & Silveira14. Exames bioquímicos e dados clínicos, como o tempo de tratamento hemodialítico, doenças associadas e etiologia da DRC, foram obtidos nos prontuários dos pacientes. Entre os exames bioquímicos, foram observados os dados de ureia pós-diálise, creatinina, fósforo e potássio, sendo utilizada a média dos valores dos últimos cinco meses. A análise dos conhecimentos nutricionais foi realizada por meio de formulários de educação nutricional contendo dados sobre as fontes alimentares de fósforo e potássio feitos pela Fundação Pró Renal e Clínica de Doenças Renais, Curitiba PR. O formulário referente às fontes alimentares de potássio continha 14 frutas, e o paciente optava pelas frutas que possuíam potássio elevado baseado no seu conhecimento. Para análise estatística, o número de frutas considerado era seis, de acordo com a quantidade de potássio a cada 100 g. Formulários referentes ao fósforo e sódio eram palavras Rev Bras Nutr Clin 2016; 31 (2): 156-61 157 Santos MB et al. cruzadas, em que os pacientes tinham que completar com palavras referentes as fontes alimentares e cuidado com o consumo deste. Além desses, foram aplicados formulários sobre o uso de quelantes de fósforo, nos quais tinham-se exemplos de refeições com teor de fósforo, e o paciente indicava quais eram as refeições necessárias para o uso do quelante. Para avaliar de maneira sistematizada a aderência as atividades de autocuidado no paciente diabético, foi utilizado o questionário traduzido e adaptado para o Brasil denominado “Questionário de Atividades de Autocuidado com o Diabetes” (QAD). O QAD possui seis dimensões e 15 itens de avaliação do autocuidado com o diabetes, questionamentos sobre alimentação geral, alimentação específica, atividade física, monitorização da glicemia, cuidado com os pés e uso da medicação. Além disso, possui outros três itens para a avaliação do tabagismo15. A análise estatística foi realizada por meio do programa estatístico SPSS 20.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, EUA). As variáveis quantitativas foram expressas por meio de médias e desvio padrão, e as variáveis categóricas (qualitativas) foram descritas pela frequência absoluta e percentual, utilizando estatística descritiva. As correlações das variáveis de resultados dos exames bioquímicos de ureia pré-dialítica, creatina, fósforo e potássio, a porcentagem de gordura corporal, IMC pósdiálise e tempos de DM e diálise correlacionados aos formulários referentes ao potássio, líquidos, fósforo e quelantes de fósforo, foram verificadas por meio do teste de correlação de Spearman. Um nível de significância de 5% e intervalo de confiança de (95%) foram utilizados. RESULTADOS Participaram do estudo 14 pacientes com nefropatia diabética em tratamento de hemodiálise, sendo 57,1% (n=8) mulheres. A média de idade dos participantes foi de 60,6±0,3 anos. O tempo médio de diagnóstico de diabetes foi de 15,7±10,3 anos, mediana de 12,5 anos, com mínimo 3 anos e máximo de 31 anos. Dos avaliados, 57,2% (n=8) não tomavam os medicamentos para o controle da diabetes e 64,3% (n=9) não usavam a insulina. O tempo médio de diagnóstico de DRC foi de 4,4±3,4 anos, mediana de 3 anos, com mínimo de 1 ano e máximo de 11 anos e 100% (n=14) dos pacientes não controlam a glicemia após o diagnóstico de DRC. Sobre o conhecimento de frutas com muito potássio, alimentos com teor elevado de fósforo, líquidos e quelantes de fósforo, foi observado que 64,2% (n=9) dos pacientes têm conhecimento limitado sobre os alimentos a serem consumidos com quelantes de fósforo, mas possuem mais conhecimento sobre as principais frutas com teor elevado de potássio, sendo que 42,8% (n=6) acertaram a maioria dos questionamentos (Tabela 1). Ao analisar especificamente atividades de autocuidado com diabetes, foi observado que 85,7% (n=12) dos pacientes seguem uma alimentação saudável, com média de 6,3±2,1 dias na semana. Os cuidados com a saúde não são realizados adequadamente, 78,6% (n=11) não verificam a glicemia sérica e 64,3% (n=9) não tomam os medicamentos (Tabela 2). Os hábitos alimentares relacionados ao consumo de carnes vermelhas e/ou derivados de leite integral foi de 57,1% (n=8) de 5 a 7 dias por semana e o consumo de doces foi de 85,7% (n=12) menos de 4 dias/semana Quando analisado o IMC pós-diálise, verifica-se que 27,57% (n=4) apresentavam sobrepeso e 50% (n=7), obesidade. Ao verificar o percentual de gordura, foi observado que 92,86% (n=13) possuiam gordura corporal elevada. Ao avaliar o estado funcional do músculo esquelético por meio do dinamômetro, foi verificado que 92,8% (n=13) dos pacientes estavam abaixo da média, com média de 19,1±7,2 kg/força14. A maioria dos exames bioquímicos demonstrou estar dentro dos valores de referência (Tabela 3). No entanto, os níveis de fósforo ultrapassaram a média, que é de 2,7 a 4,5 mg/dL7, com 4,9±1,6 md/dL. As correlações observadas entre tempo de diabetes e os formulários referentes ao fósforo foram inversa e significante (p=0,007) e moderada. Foi observada correlação positiva, significante (p=0,008) e moderada entre a %GC e formulários referentes ao controle no consumo de líquidos. Houve correlação inversa significante (p=0,03) e moderada entre o tempo de diálise e os formulários sobre o controle do consumo de líquidos (Tabela 4). Tabela 1 – Análise dos formulários referentes ao conhecimento de alimentos com elevado teor de potássio, líquidos, fósforo e alimentos que precisam ser consumidos com quelantes de fósforo, Irati, 2015. <50% >50% Possibilidade Formulários máxima de acertos N % N % Frutas com muito potássio 6 acertos 8 57,1 6 42,9 Fósforo (cruzadinha) 10 acertos 14 100 - - Líquidos (cruzadinha) 6 acertos 7 50 7 50 Quelantes de fósforo (seleção de refeições) 9 acertos 9 64,3 5 35,7 Rev Bras Nutr Clin 2016; 31 (2): 156-61 158 Orientação nutricional em pacientes com nefropatia diabética durante hemodiálise reflete no estado nutricional? Tabela 2 – Aderência aos itens do Questionário de Atividades de Autocuidado com o Diabetes (QAD), Irati, 2015. Frequência (dias/semana) 0 a 4 dias Itens do QAD Média ±DP (dias) 5 a 7 dias n % n % 1. Seguir uma dieta saudável 2 14,3 12 85,7 6,3±2,1 2. Seguir a orientação alimentar 1 7,7 13 92,3 6,5±1,9 3. Ingerir cinco ou mais porções de frutas e/ou vegetais 7 50 7 50 4,1±2,7 4. Ingerir carnes vermelhas e/ou derivados do leite integral 6 42,9 8 57,1 4,7±2,6 5. Ingerir doces 12 85,7 2 14,3 1,6±2,3 6. Realizar atividade física por pelo menos 30 minutos 13 92,3 1 7,7 1,1±2,1 7. Realizar exercício físico específico 13 92,3 1 7,7 1,1±2,1 8. Avaliar o açúcar no sangue 11 78,6 3 21,4 1,7±3,0 9. Avaliar o açúcar no sangue o número de vezes recomendado 10 71,4 4 28,6 2,2±3,2 10. Examinar os pés 4 28,6 10 71,4 5,0±3,3 11. Examinar o interior dos sapatos antes de calçá-los 3 21,4 11 78,6 5,5±3,0 12. Secar os espaços interdigitais depois de lavar os pés 3 21,4 11 78,6 5,5±3,0 13. Tomar medicamento do diabetes conforme recomendado 9 64,3 5 35,7 2,5±3,5 14. Tomar injeções de insulina conforme recomendado 10 71,4 4 28,6 2,0±3,3 15. Tomar o número indicado de comprimidos de diabetes 9 64,5 5 35,7 2,5±3,5 níveis de albumina não controlada durantes os anos, que é resultante da não manutenção da glicemia17, sendo que o tempo médio da progressão da albuminúria associada ao não controle da glicemia é de 10 a 14 anos18. Tabela 3 – Avaliação bioquímica dos pacientes avaliados com nefropatia diabética, Irati, 2015. Mediana Exame bioquímico Média±DP (Mínimo – Máximo) (valores de referência)11 Ureia pré-diálise 119±22,5 109 (77 – 145) Ureia pós-diálise (17 a 43 mg/dL) Creatinina (7 a 12 mg/dL) 40,6±14,1 39,6 (22,4 – 65,2) 7,6±2,3 7,1 (2,9 – 11,6) Fósforo (2,7 a 4,5 mg/dL) 4,9±1,6 4,6 (2,6 – 8,1) Glicose (126 a 200 mg/dL) 178±65,2 160,5 (78,5 – 336,0) Potássio (3,6 a 5,0 mEq/L) 4,5±0,7 4,3 (3,3 – 5, 7) Os dados referentes a adesão às orientações nutricionais sugerem que os pacientes possuem conhecimentos sobre as frutas com elevado teor de potássio, sendo um resultado positivo, pois o controle da ingestão desses alimentos é importante devido à perda da função renal, pois a retenção do fósforo diminui a capacidade excretora de potássio do organismo, e o excesso de líquidos pode causar desequilíbrio eletrolítico e edema1. DISCUSSÃO O estudo demonstrou que a maioria dos pacientes com nefropatia diabética era do sexo feminino com 57,14% (n=8), diferentemente do observado pela literatura, que relata maior percentual de pacientes com DRC do gênero masculino4. Esse crescimento da população diabética está relacionado ao envelhecimento populacional, maior urbanização, aumento da prevalência de obesidade e sedentarismo, que está concomitantemente relacionado às mudanças ao estilo de vida, com ênfase nos hábitos alimentares16. O tempo médio do diagnóstico de DM dos pacientes renais foi de 15,71±10,31 anos, se aproximando de outro estudo, em que a média do tempo de diagnóstico de diabetes é de 13,84±8,11 anos, justificando que o período prolongado de DM e desenvolvimento de DRC está relacionado aos Porém, o conhecimento sobre o consumo de alimentos com elevado teor de fósforo foi ineficaz, totalizando menos da metade de acertos. Evidencia-se que, além dos pacientes terem limitado conhecimento sobre os alimentos com alto teor de fósforo, também não sabem da utilização adequada de quelantes de fósforo, que permitem o consumo de alimentos com fósforo, mas sequestram a absorção desse nutriente. O excesso de fósforo em nefropatas pode causar a hiperfosfatemia, consequentemente associada ao desenvolvimento de complicações cardiovasculares, que são uma das maiores causas de mortalidade em pacientes renais19. No QAD, foi verificado que a maioria dos pacientes seguia os preceitos de uma alimentação saudável. Porém, 64,3% (n=9) não realizavam o tratamento da diabetes e 85,7% não controlavam a glicemia pós descoberta da DRC. Este é um dado importante, pois o controle glicêmico é necessário na DM2 e, na DRC, a hiperglicemia pode causar Rev Bras Nutr Clin 2016; 31 (2): 156-61 159 Santos MB et al. Tabela 4 – Correlações entre variáveis bioquímicas, clínicas e nutricionais relacionadas aos formulários sobre conhecimento do consumo alimentar em pacientes com nefropatia diabética, Irati, 2015. Questionamentos fósforo Questionamentos potássio Questionamentos líquido Questionamentos quelantes Ureia pré- dialítica Correlação p-valor 23,5 0,410 -2,5 0,933 -35 0,220 -6,6 0,824 Creatinina Correlação p-valor -0,03 0,992 -1,1 0,970 -50,2 0,068 - 0,229 0,432 Fósforo Correlação p-valor 5,2 0,860 -2,9 0,921 -9,8 0,739 3,2 0,914 Potássio Correlação p-valor -24.2 0,404 27,1 0,350 -34,8 0,223 -13,7 0,640 %GC Correlação p-valor 20 0,493 8,4 0,774 67,7 0,008 26,5 0,360 IMC pós- diálise correlação p-valor 11,9 0,292 -14,6 0,619 30,3 0,292 8,6 0,770 Tempo DM Correlação p-valor -68,1 0, 007 -37,4 0,188 -20,8 0,476 -36,4 0,201 Tempo diálise correlação p-valor 28,5 0,323 8,6 0,771 -72,5 0,003 -22,3 0,444 %GC=porcentagem de gordura corporal; IMC=índice de massa corporal; DM=diabetes mellitus poliúria, polidpsia, perda de peso, polifagia, sonolência, entre outros sinais, podendo levar a óbito20. funcional do músculo esquelético com o uso do dinamômetro revelou-se abaixo da média. Em pacientes diabéticos, o controle da glicemia é importante, pois a glicemia descompensada resulta no aparecimento de albuminúria, no aparecimento de lesões vasculares, com consequente aumento de eventos cardiovasculares, agravando assim a doença renal, que para pacientes hemodialíticos é uma situação negativa e com fator de risco alto21. Isso salienta a importância de uma avaliação nutricional completa no paciente, utilizando outros parâmetros além do IMC, pois este não diferencia massa magra da massa adiposa4. A situação observada entre os pacientes pode sugerir a presença de sarcopenia, síndrome caracterizada pela importante perda de massa muscular associada à depleção do estado funcional. Os dados referentes à avaliação nutricional mostraram prevalência de pacientes com excesso de peso por meio do IMC pós-dialítico. Dado esse semelhante a outro estudo, que revelou que 38% dos pacientes diabéticos com sobrepeso e 31,5% com obesidade21. A porcentagem de gordura corporal foi elevada tanto para os homens quanto para as mulheres, acima de 25% e 32%, respectivamente. No presente estudo, esse aumento da gordura corporal nos pacientes se correlacionou com o aumento do consumo de líquidos. Essa situação pode ser justificada pelos pacientes renais terem as funções renais restritas e possuírem edema, aumentando, assim, o peso corporal, e também o percentual de gordura corporal. A obesidade é um fator de risco para a população, por mais que alguns estudos revelem que esse aumento de peso seja positivo, elevando a sobrevida em pacientes idosos, o IMC não deve ser o único parâmetro utilizado para diagnóstico nutricional. Esse aumento de peso pode ser justificado pela considerada inatividade física, pois muitos dos pacientes renais são considerados inativos por sua situação. Alguns relatam fadiga, anemia, dificuldades de locomoção e fatores psicológicos4, indo de encontro com o resultado do QAD, que mostrou que 92,3% (n=13) não praticavam atividade física. Além do estado nutricional dos pacientes com nefropatia diabética, é importante monitorar a depleção muscular e estado funcional, visto que é um parâmetro que identifica o risco nutricional22. Nesse sentido, a aferição do estado Foi mostrado que mesmo que os pacientes possuam tal conhecimento, eles não seguem tais orientações. Um estudo relata que pacientes renais possuem o conhecimento sobre esse controle e suas consequências4. O tempo de DM2 e a falta de conhecimento do controle do fósforo demonstraram correlação inversa, o que também é observado no exame bioquímico referente aos níveis de fósforo no sangue, sobrepondo a média. O que justifica essa correlação negativa é o fato de que, geralmente, os pacientes não seguem as orientações repassadas a eles, sendo necessário maior apoio da equipe multiprofissional, e uma compreensão melhor dos riscos da fosfatemia23,24. Rev Bras Nutr Clin 2016; 31 (2): 156-61 160 Orientação nutricional em pacientes com nefropatia diabética durante hemodiálise reflete no estado nutricional? Salienta-se que poucos estudos discutem a abordagem nutricional na nefropatia diabética, sendo mais frequente a análise isolada da DRC ou DM2. O presente estudo apresentou limitações, devido à pequena amostra e ausência da abordagem quantitativa sobre o consumo alimentar dos pacientes. CONCLUSÃO Conclui-se que pacientes com nefropatia diabética possuem conhecimentos relacionados a fontes alimentares de potássio e controle com a ingestão de líquidos, porém limitações referentes ao fósforo e quelantes de fósforo. Essa deficiência de conhecimento sobre os cuidados na alimentação adequada na nefropatia diabética reflete no estado nutricional dos pacientes, com índices elevados de sobrepeso e obesidade, embora com perda importante na massa muscular e limitação no estado funcional, além de refletirem nos níveis de fósforo no sangue. Próximos estudos podem avaliar quantitativamente o consumo alimentar de pacientes com nefropatia diabética e associar a mais parâmetros que revelem o estado nutricional desses pacientes. REFERÊNCIAS 1.Zambra B, Huth B. Terapia nutricional em pacientes portadores de insuficiência renal crônica em hemodiálise. Rev Contexto Saúde. 2010;10(19):67-72. 2.Vieira Júnior JM, Suassuna JHR. O acometimento renal na hipertensão arterial e diabetes mellitus tipo 2: como identificar e prevenir – A visão do nefrologista. Rev HUPE. 2013;12(Supl 1):53-60. 3.Cavalcanti MICDF, Silva PKA, Dantas ALM, Paiva MGMN, Araújo MGA, Lira ALBC. 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