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Artigo Original
Santos MB et al.
Conhecimento de orientação nutricional em pacientes
com nefropatia diabética durante tratamento de
hemodiálise reflete no estado nutricional?
Does knowledge of nutritional couseling in patients with diabetic nephropathy during hemodialysis
treatment reflects the nutritional status?
Marielli Barbosa dos Santos¹
Angelica Rocha de Freitas Melhem2
Caryna Eurich Mazur3
Dalton Luiz Schiessel4
Mariana Abe Vicente Cavagnari5
Unitermos:
Doença Renal Crônica. Hemodiálise. Estado Nutricional. Diabetes Mellitus. Nutrição.
Keywords:
Renal Insufficiency, Chronic. Hemodialysis. Nutritional
Status. Diabetes Mellitus. Nutrition.
Endereço para correspondência:
Marielli Barbosa dos Santos
Rua Argemiro Pacheco, 69 – Guarapuava, PR,
Brasil – CEP 85060-650
E-mail: [email protected]
Submissão:
30 de novembro de 2015
Aceito para publicação:
1 de março de 2016
RESUMO
Introdução: A nefropatia diabética é considerada uma falência renal, tendo como etiologia o
diabetes mellitus 2 (DM2), com alterações hemodinâmicas que provocam lesões que culminam com
a esclerose glomerular. Em função disso, os pacientes estão susceptíveis a alterações no metabolismo
de nutrientes e no estado nutricional, sendo necessárias adaptações dietéticas para efetividade do
tratamento. O objetivo do trabalho foi analisar o conhecimento das orientações nutricionais em
pacientes com nefropatia diabética em tratamento de hemodiálise e verificar o reflexo desse conhecimento no estado nutricional. Método: Estudo prospectivo com pacientes diabéticos em tratamento
dialítico. Foram aplicados formulários referentes aos nutrientes importantes a serem monitorados na
doença renal (fósforo, potássio e líquidos). Para identificar o autocuidado com o DM2, foi aplicado
Questionário de Autocuidado de Diabetes. A avaliação nutricional foi realizada por meio do Índice
de Massa Corporal (IMC), dobras cutâneas bicipital, tricipital, subscapular e suprailíaca e estado
funcional do músculo esquelético e exames bioquímicos. Resultados: Participaram do estudo 14
pacientes. Quando questionados se tinham informações sobre fontes alimentares de potássio e
quelantes de fósforo, 42,85% (n=6) e 64,28% (n=8), respectivamente, responderam positivamente.
Dados relacionados à avaliação nutricional demonstraram que 50% (n=7) dos pacientes estavam
obesos, de acordo com o IMC pós-dialítico. Conclusão: Apesar do conhecimento sobre as fontes
alimentares de potássio e controle de ingestão de líquidos, houve limitações referentes ao fósforo,
refletindo assim no estado nutricional, com índice elevado de sobrepeso e obesidade, sendo necessária melhor abordagem da orientação nutricional e apoio interdisciplinar.
ABSTRACT
Introduction: Kidney failure caused by diabetes mellitus 2 is called diabetic nephropathy and
occurs as a result of hemodynamic changes, added to the effects of hyperglycemia, cause lesions
in renal microcirculation culminating with glomerular sclerosis. Related to these changes these
patients are susceptible to changes in nutrient metabolism and nutritional status, and dietary
adjustments necessary for therapeutic effectiveness. The objective of this study was to analyze
the knowledge of the nutritional guidelines in patients with diabetic nephropathy on hemodialysis
treatment and check which reflects the nutritional status. Methods: Prospective study with diabetic
patients on dialysis. It was applied questionnaires regarding the important nutrients to monitor
renal disease (phosphorus, potassium and liquids). To identify self-care with diabetes was applied
Questionnaire self-care of diabetes. Nutritional assessment was performed using Body Mass Index
(BMI), folds and functional status of skeletal muscle and biochemical tests. Results: The study
included 14 patients. Referring to the inquiry about the information related to information on
dietary sources of potassium and phosphorus binders, 42.8% (n=6) and 64.2% (n=8) respectively,
answered positively. Data related to nutritional assessment showed that 50% (n=7) of patients are
obese according to BMI post dialysis. Conclusion: Although the knowledge of the food sources of
potassium and control fluid intake, there was to match related limitations, reflect the nutritional
status of patients with high rates of overweight and obesity, necessitating a better approach to
nutrition education for them and interdisciplinary support.
1. Acadêmica do Curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR, Brasil.
2. Docente do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Mestre em Ciências pela UNIFESP, Irati, PR,
Brasil.
3. Docente do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Mestre em Segurança Alimentar e Nutricional
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Irati, PR, Brasil.
4. Docente do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Doutor em Biologia Celular e Molecular
pela Universidade Federal do Paraná, UFPR, Irati, PR, Brasil.
5. Docente do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Mestre em Ciências - Medicina Translacional
com ênfase na área de Gastroenterologia Oncológica pela Universidade Federal de São Paulo, Irati, PR, Brasil.
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Orientação nutricional em pacientes com nefropatia diabética durante hemodiálise reflete no estado nutricional?
INTRODUÇÃO
O principal órgão acometido no mecanismo da nefropatia
diabética é o rim, que possui diversas funções. As principais
são a manutenção do equilíbrio homeostático sobre os eletrólitos, líquidos e solutos orgânicos (sódio, cloreto, fosfato,
cálcio e magnésio) e a capacidade de excretar os substratos
do metabolismo, como ureia, fosfatos, ácido úrico, sulfatos
e outras substâncias como drogas e medicamentos1. Dessa
forma, quando há distúrbios como a doença renal crônica
(DRC), pode haver acúmulo desses solutos no organismo,
causando prejuízos ao estado de saúde do paciente.
Aproximadamente 30% dos pacientes diabéticos desenvolvem nefropatia diabética no Brasil e iniciam o tratamento
dialítico e 20% desses possuem importante risco de morbidades2.
Após diagnóstico da DRC, o paciente deve ser submetido
à hemodiálise, caracterizada pelo processo de filtração do
sangue, a fim de subtrair as substâncias tóxicas e remover o
líquido excessivo do organismo3.
Apesar do tratamento com hemodiálise promover benefícios, como prolongar a vida dos pacientes com DRC, as
condições impostas pela doença e pelo próprio tratamento
resultam em muitas alterações no organismo que podem
prejudicar o estado nutricional destes pacientes4. Além das
funções renais estarem comprometidas, a insuficiência renal
pode causar anemia, doença óssea, desnutrição, acidose
metabólica e alterações cardiovasculares5.
Nesta condição, além da abordagem nutricional para
doença renal, o manejo nutricional ao indivíduo diabético é
fundamental durante o tratamento dialítico para diagnosticar
e prevenir morbidades relacionadas à nutrição, visto que há
grande influência sobre a morbimortalidade nessa população4.
O que é importante destacar em pacientes renais é a necessidade nutricional limitada, em que alguns nutrientes devem
ser evitados e outros aumentados. O cuidado nutricional em
pacientes críticos tem como objetivo melhorar e manter o
peso, promover o consumo de proteínas, vitaminas e minerais
em níveis adequados, e manter o equilíbrio hidroeletrolítico6.
Nesse contexto, pode-se verificar que a educação
alimentar e nutricional torna-se pilar importante na terapêutica de pacientes com nefropatia diabética, como proposto
por meio da orientação nutricional à população descrita no
Guia Alimentar7. Por meio de mudanças nos hábitos alimentares, é possível minimizar complicações e manifestações
clínicas, melhorando a qualidade de vida desses indivíduos.
O objetivo deste trabalho foi analisar o conhecimento
das orientações nutricionais em pacientes com nefropatia
diabética em tratamento de hemodiálise e verificar como
isso reflete no estado nutricional.
MÉTODO
Estudo prospectivo transversal realizado entre os meses
de maio a julho de 2015, em uma clínica especializada em
tratamento de hemodiálise no município de Irati, PR. O estudo
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COMEP) da
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), sob
parecer 731.748/2015.
Foram convidados para compor o estudo todos os
pacientes da clínica com diagnóstico clínico primário de
diabetes mellitus 2 (DM2) com etiologia na DRC; adultos
e idosos, em tratamento de hemodiálise há pelo menos 6
meses, que realizavam ao menos uma sessão semanal de
hemodiálise, capazes de responder com clareza aos questionamentos e que concordassem em participar do estudo
conforme esclarecimentos no Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE). Salienta-se como rotina da clínica o
acompanhamento e orientação nutricional aos pacientes.
As medidas antropométricas foram realizadas de acordo
com as técnicas preconizadas pelo SISVAN8. Dentre estas,
foram coletadas peso seco (kg) e estatura (m), o Índice de
Massa Corporal (IMC) foi calculado de acordo com a fórmula
de Quetelet e avaliado com base nos pontos de corte preconizados pela Organização Mundial da Saúde9 e pela OPAS10
para os pacientes com mais de 60 anos de idade.
Os indicadores antropométricos prega cutânea tricipital
(PCT), prega cutânea bicipital (PCB), prega cutânea supraíliaca (PCT) e prega cutânea subsescapular (PCSE) foram
classificados de acordo com Frisancho11, considerando o
percentil 50 para a normalidade da avaliação.
Para estimativa do percentual de gordura corporal (%GC),
foi utilizada a somatória das quatro pregas cutâneas, por
meio da equação e tabelas propostas por Durnin & Womersley12. Para classificação da %GC, foram utilizados os valores
de referência de Gordon et al.13. A avaliação do ganho de
peso interdialítico foi realizada por meio da diferença entre
o peso após a última sessão de hemodiálise e o peso prédiálise aferido em uma nova sessão de hemodiálise.
O estado funcional do músculo esquelético foi avaliado por
meio de dinamômetro mecânico JAMAR®. Para classificação,
foram utilizadas tabelas de Álvares-da-Silva & Silveira14.
Exames bioquímicos e dados clínicos, como o tempo de
tratamento hemodialítico, doenças associadas e etiologia da
DRC, foram obtidos nos prontuários dos pacientes. Entre os
exames bioquímicos, foram observados os dados de ureia
pós-diálise, creatinina, fósforo e potássio, sendo utilizada a
média dos valores dos últimos cinco meses.
A análise dos conhecimentos nutricionais foi realizada por
meio de formulários de educação nutricional contendo dados
sobre as fontes alimentares de fósforo e potássio feitos pela
Fundação Pró Renal e Clínica de Doenças Renais, Curitiba
PR. O formulário referente às fontes alimentares de potássio
continha 14 frutas, e o paciente optava pelas frutas que
possuíam potássio elevado baseado no seu conhecimento.
Para análise estatística, o número de frutas considerado
era seis, de acordo com a quantidade de potássio a cada
100 g. Formulários referentes ao fósforo e sódio eram palavras
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Santos MB et al.
cruzadas, em que os pacientes tinham que completar com
palavras referentes as fontes alimentares e cuidado com o
consumo deste. Além desses, foram aplicados formulários
sobre o uso de quelantes de fósforo, nos quais tinham-se exemplos de refeições com teor de fósforo, e o paciente indicava
quais eram as refeições necessárias para o uso do quelante.
Para avaliar de maneira sistematizada a aderência as
atividades de autocuidado no paciente diabético, foi utilizado
o questionário traduzido e adaptado para o Brasil denominado “Questionário de Atividades de Autocuidado com o
Diabetes” (QAD). O QAD possui seis dimensões e 15 itens de
avaliação do autocuidado com o diabetes, questionamentos
sobre alimentação geral, alimentação específica, atividade
física, monitorização da glicemia, cuidado com os pés e uso
da medicação. Além disso, possui outros três itens para a
avaliação do tabagismo15.
A análise estatística foi realizada por meio do programa
estatístico SPSS 20.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, EUA). As variáveis quantitativas foram expressas por meio de médias e
desvio padrão, e as variáveis categóricas (qualitativas) foram
descritas pela frequência absoluta e percentual, utilizando
estatística descritiva.
As correlações das variáveis de resultados dos exames
bioquímicos de ureia pré-dialítica, creatina, fósforo e
potássio, a porcentagem de gordura corporal, IMC pósdiálise e tempos de DM e diálise correlacionados aos formulários referentes ao potássio, líquidos, fósforo e quelantes de
fósforo, foram verificadas por meio do teste de correlação
de Spearman. Um nível de significância de 5% e intervalo
de confiança de (95%) foram utilizados.
RESULTADOS
Participaram do estudo 14 pacientes com nefropatia
diabética em tratamento de hemodiálise, sendo 57,1%
(n=8) mulheres. A média de idade dos participantes foi de
60,6±0,3 anos.
O tempo médio de diagnóstico de diabetes foi de
15,7±10,3 anos, mediana de 12,5 anos, com mínimo 3 anos e
máximo de 31 anos. Dos avaliados, 57,2% (n=8) não tomavam
os medicamentos para o controle da diabetes e 64,3% (n=9)
não usavam a insulina. O tempo médio de diagnóstico de DRC
foi de 4,4±3,4 anos, mediana de 3 anos, com mínimo de 1
ano e máximo de 11 anos e 100% (n=14) dos pacientes não
controlam a glicemia após o diagnóstico de DRC.
Sobre o conhecimento de frutas com muito potássio,
alimentos com teor elevado de fósforo, líquidos e quelantes
de fósforo, foi observado que 64,2% (n=9) dos pacientes
têm conhecimento limitado sobre os alimentos a serem
consumidos com quelantes de fósforo, mas possuem mais
conhecimento sobre as principais frutas com teor elevado de
potássio, sendo que 42,8% (n=6) acertaram a maioria dos
questionamentos (Tabela 1).
Ao analisar especificamente atividades de autocuidado
com diabetes, foi observado que 85,7% (n=12) dos pacientes
seguem uma alimentação saudável, com média de 6,3±2,1
dias na semana. Os cuidados com a saúde não são realizados adequadamente, 78,6% (n=11) não verificam a
glicemia sérica e 64,3% (n=9) não tomam os medicamentos
(Tabela 2). Os hábitos alimentares relacionados ao consumo
de carnes vermelhas e/ou derivados de leite integral foi de
57,1% (n=8) de 5 a 7 dias por semana e o consumo de
doces foi de 85,7% (n=12) menos de 4 dias/semana
Quando analisado o IMC pós-diálise, verifica-se que
27,57% (n=4) apresentavam sobrepeso e 50% (n=7), obesidade. Ao verificar o percentual de gordura, foi observado
que 92,86% (n=13) possuiam gordura corporal elevada.
Ao avaliar o estado funcional do músculo esquelético
por meio do dinamômetro, foi verificado que 92,8% (n=13)
dos pacientes estavam abaixo da média, com média de
19,1±7,2 kg/força14.
A maioria dos exames bioquímicos demonstrou estar
dentro dos valores de referência (Tabela 3). No entanto, os
níveis de fósforo ultrapassaram a média, que é de 2,7 a 4,5
mg/dL7, com 4,9±1,6 md/dL.
As correlações observadas entre tempo de diabetes e
os formulários referentes ao fósforo foram inversa e significante (p=0,007) e moderada. Foi observada correlação
positiva, significante (p=0,008) e moderada entre a %GC e
formulários referentes ao controle no consumo de líquidos.
Houve correlação inversa significante (p=0,03) e moderada
entre o tempo de diálise e os formulários sobre o controle
do consumo de líquidos (Tabela 4).
Tabela 1 – Análise dos formulários referentes ao conhecimento de alimentos com elevado teor de potássio, líquidos, fósforo e alimentos que precisam ser
consumidos com quelantes de fósforo, Irati, 2015.
<50%
>50%
Possibilidade
Formulários
máxima de acertos
N
%
N
%
Frutas com muito potássio
6 acertos
8
57,1
6
42,9
Fósforo (cruzadinha)
10 acertos
14
100
-
-
Líquidos (cruzadinha)
6 acertos
7
50
7
50
Quelantes de fósforo (seleção de refeições)
9 acertos
9
64,3
5
35,7
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Orientação nutricional em pacientes com nefropatia diabética durante hemodiálise reflete no estado nutricional?
Tabela 2 – Aderência aos itens do Questionário de Atividades de Autocuidado com o Diabetes (QAD), Irati, 2015.
Frequência (dias/semana)
0 a 4 dias
Itens do QAD
Média ±DP (dias)
5 a 7 dias
n
%
n
%
1. Seguir uma dieta saudável
2
14,3
12
85,7
6,3±2,1
2. Seguir a orientação alimentar
1
7,7
13
92,3
6,5±1,9
3. Ingerir cinco ou mais porções de frutas e/ou vegetais
7
50
7
50
4,1±2,7
4. Ingerir carnes vermelhas e/ou derivados do leite integral
6
42,9
8
57,1
4,7±2,6
5. Ingerir doces
12
85,7
2
14,3
1,6±2,3
6. Realizar atividade física por pelo menos 30 minutos
13
92,3
1
7,7
1,1±2,1
7. Realizar exercício físico específico
13
92,3
1
7,7
1,1±2,1
8. Avaliar o açúcar no sangue
11
78,6
3
21,4
1,7±3,0
9. Avaliar o açúcar no sangue o número de vezes recomendado
10
71,4
4
28,6
2,2±3,2
10. Examinar os pés
4
28,6
10
71,4
5,0±3,3
11. Examinar o interior dos sapatos antes de calçá-los
3
21,4
11
78,6
5,5±3,0
12. Secar os espaços interdigitais depois de lavar os pés
3
21,4
11
78,6
5,5±3,0
13. Tomar medicamento do diabetes conforme recomendado
9
64,3
5
35,7
2,5±3,5
14. Tomar injeções de insulina conforme recomendado
10
71,4
4
28,6
2,0±3,3
15. Tomar o número indicado de comprimidos de diabetes
9
64,5
5
35,7
2,5±3,5
níveis de albumina não controlada durantes os anos, que é
resultante da não manutenção da glicemia17, sendo que o
tempo médio da progressão da albuminúria associada ao
não controle da glicemia é de 10 a 14 anos18.
Tabela 3 – Avaliação bioquímica dos pacientes avaliados com nefropatia
diabética, Irati, 2015.
Mediana
Exame bioquímico
Média±DP
(Mínimo – Máximo)
(valores de referência)11
Ureia pré-diálise
119±22,5
109 (77 – 145)
Ureia pós-diálise (17 a
43 mg/dL)
Creatinina (7 a 12 mg/dL)
40,6±14,1
39,6 (22,4 – 65,2)
7,6±2,3
7,1 (2,9 – 11,6)
Fósforo (2,7 a 4,5 mg/dL)
4,9±1,6
4,6 (2,6 – 8,1)
Glicose (126 a 200 mg/dL)
178±65,2
160,5 (78,5 – 336,0)
Potássio (3,6 a 5,0 mEq/L)
4,5±0,7
4,3 (3,3 – 5, 7)
Os dados referentes a adesão às orientações nutricionais
sugerem que os pacientes possuem conhecimentos sobre
as frutas com elevado teor de potássio, sendo um resultado
positivo, pois o controle da ingestão desses alimentos é
importante devido à perda da função renal, pois a retenção
do fósforo diminui a capacidade excretora de potássio do
organismo, e o excesso de líquidos pode causar desequilíbrio
eletrolítico e edema1.
DISCUSSÃO
O estudo demonstrou que a maioria dos pacientes com
nefropatia diabética era do sexo feminino com 57,14%
(n=8), diferentemente do observado pela literatura, que
relata maior percentual de pacientes com DRC do gênero
masculino4. Esse crescimento da população diabética está
relacionado ao envelhecimento populacional, maior urbanização, aumento da prevalência de obesidade e sedentarismo,
que está concomitantemente relacionado às mudanças ao
estilo de vida, com ênfase nos hábitos alimentares16.
O tempo médio do diagnóstico de DM dos pacientes
renais foi de 15,71±10,31 anos, se aproximando de outro
estudo, em que a média do tempo de diagnóstico de diabetes
é de 13,84±8,11 anos, justificando que o período prolongado de DM e desenvolvimento de DRC está relacionado aos
Porém, o conhecimento sobre o consumo de alimentos
com elevado teor de fósforo foi ineficaz, totalizando menos
da metade de acertos. Evidencia-se que, além dos pacientes
terem limitado conhecimento sobre os alimentos com alto teor
de fósforo, também não sabem da utilização adequada de
quelantes de fósforo, que permitem o consumo de alimentos
com fósforo, mas sequestram a absorção desse nutriente.
O excesso de fósforo em nefropatas pode causar a hiperfosfatemia, consequentemente associada ao desenvolvimento
de complicações cardiovasculares, que são uma das maiores
causas de mortalidade em pacientes renais19.
No QAD, foi verificado que a maioria dos pacientes
seguia os preceitos de uma alimentação saudável. Porém,
64,3% (n=9) não realizavam o tratamento da diabetes e
85,7% não controlavam a glicemia pós descoberta da DRC.
Este é um dado importante, pois o controle glicêmico é
necessário na DM2 e, na DRC, a hiperglicemia pode causar
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Tabela 4 – Correlações entre variáveis bioquímicas, clínicas e nutricionais relacionadas aos formulários sobre conhecimento do consumo alimentar em
pacientes com nefropatia diabética, Irati, 2015.
Questionamentos
fósforo
Questionamentos
potássio
Questionamentos
líquido
Questionamentos
quelantes
Ureia pré- dialítica
Correlação
p-valor
23,5
0,410
-2,5
0,933
-35
0,220
-6,6
0,824
Creatinina
Correlação
p-valor
-0,03
0,992
-1,1
0,970
-50,2
0,068
- 0,229
0,432
Fósforo
Correlação
p-valor
5,2
0,860
-2,9
0,921
-9,8
0,739
3,2
0,914
Potássio
Correlação
p-valor
-24.2
0,404
27,1
0,350
-34,8
0,223
-13,7
0,640
%GC
Correlação
p-valor
20
0,493
8,4
0,774
67,7
0,008
26,5
0,360
IMC pós- diálise
correlação
p-valor
11,9
0,292
-14,6
0,619
30,3
0,292
8,6
0,770
Tempo DM
Correlação
p-valor
-68,1
0, 007
-37,4
0,188
-20,8
0,476
-36,4
0,201
Tempo diálise
correlação
p-valor
28,5
0,323
8,6
0,771
-72,5
0,003
-22,3
0,444
%GC=porcentagem de gordura corporal; IMC=índice de massa corporal; DM=diabetes mellitus
poliúria, polidpsia, perda de peso, polifagia, sonolência,
entre outros sinais, podendo levar a óbito20.
funcional do músculo esquelético com o uso do dinamômetro
revelou-se abaixo da média.
Em pacientes diabéticos, o controle da glicemia é importante, pois a glicemia descompensada resulta no aparecimento de albuminúria, no aparecimento de lesões vasculares,
com consequente aumento de eventos cardiovasculares,
agravando assim a doença renal, que para pacientes hemodialíticos é uma situação negativa e com fator de risco alto21.
Isso salienta a importância de uma avaliação nutricional
completa no paciente, utilizando outros parâmetros além do
IMC, pois este não diferencia massa magra da massa adiposa4.
A situação observada entre os pacientes pode sugerir a presença
de sarcopenia, síndrome caracterizada pela importante perda
de massa muscular associada à depleção do estado funcional.
Os dados referentes à avaliação nutricional mostraram
prevalência de pacientes com excesso de peso por meio do
IMC pós-dialítico. Dado esse semelhante a outro estudo, que
revelou que 38% dos pacientes diabéticos com sobrepeso e
31,5% com obesidade21.
A porcentagem de gordura corporal foi elevada tanto
para os homens quanto para as mulheres, acima de 25%
e 32%, respectivamente. No presente estudo, esse aumento
da gordura corporal nos pacientes se correlacionou com o
aumento do consumo de líquidos. Essa situação pode ser
justificada pelos pacientes renais terem as funções renais
restritas e possuírem edema, aumentando, assim, o peso
corporal, e também o percentual de gordura corporal.
A obesidade é um fator de risco para a população, por
mais que alguns estudos revelem que esse aumento de peso
seja positivo, elevando a sobrevida em pacientes idosos, o
IMC não deve ser o único parâmetro utilizado para diagnóstico nutricional.
Esse aumento de peso pode ser justificado pela considerada inatividade física, pois muitos dos pacientes renais
são considerados inativos por sua situação. Alguns relatam
fadiga, anemia, dificuldades de locomoção e fatores psicológicos4, indo de encontro com o resultado do QAD, que
mostrou que 92,3% (n=13) não praticavam atividade física.
Além do estado nutricional dos pacientes com nefropatia
diabética, é importante monitorar a depleção muscular e
estado funcional, visto que é um parâmetro que identifica
o risco nutricional22. Nesse sentido, a aferição do estado
Foi mostrado que mesmo que os pacientes possuam tal
conhecimento, eles não seguem tais orientações. Um estudo
relata que pacientes renais possuem o conhecimento sobre
esse controle e suas consequências4.
O tempo de DM2 e a falta de conhecimento do controle
do fósforo demonstraram correlação inversa, o que também
é observado no exame bioquímico referente aos níveis de
fósforo no sangue, sobrepondo a média. O que justifica
essa correlação negativa é o fato de que, geralmente, os
pacientes não seguem as orientações repassadas a eles,
sendo necessário maior apoio da equipe multiprofissional,
e uma compreensão melhor dos riscos da fosfatemia23,24.
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Orientação nutricional em pacientes com nefropatia diabética durante hemodiálise reflete no estado nutricional?
Salienta-se que poucos estudos discutem a abordagem
nutricional na nefropatia diabética, sendo mais frequente a
análise isolada da DRC ou DM2. O presente estudo apresentou
limitações, devido à pequena amostra e ausência da abordagem
quantitativa sobre o consumo alimentar dos pacientes.
CONCLUSÃO
Conclui-se que pacientes com nefropatia diabética
possuem conhecimentos relacionados a fontes alimentares
de potássio e controle com a ingestão de líquidos, porém
limitações referentes ao fósforo e quelantes de fósforo.
Essa deficiência de conhecimento sobre os cuidados na
alimentação adequada na nefropatia diabética reflete no
estado nutricional dos pacientes, com índices elevados de
sobrepeso e obesidade, embora com perda importante
na massa muscular e limitação no estado funcional, além
de refletirem nos níveis de fósforo no sangue. Próximos
estudos podem avaliar quantitativamente o consumo
alimentar de pacientes com nefropatia diabética e associar a mais parâmetros que revelem o estado nutricional
desses pacientes.
REFERÊNCIAS
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Conflito de interesse: Os autores declaram não haver.
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