universidade do vale do itajaí centro de educação de

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
REAÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE AO TRATAMENTO DE
CRIANÇAS VÍTIMAS DE QUEIMADURAS
CAROLINE BACCIN TESTA
Itajaí, (SC) 2007
2
CAROLINE BACCIN TESTA
REAÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE AO TRATAMENTO DE
CRIANÇAS VÍTIMAS DE QUEIMADURAS
Monografia apresentada como requisito
parcial para obtenção do titulo de
Bacharel em Psicologia da Universidade
do Vale do Itajaí
Orientador: Prof. MSc. Marina Menezes
Itajaí SC, 2007
3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todas as pessoas que
participaram e compartilharam comigo momentos
inesquecíveis desta trajetória.
Em especial aos meus avós Fernando Testa (in
memorian) e Elisa Testa, Nelson Baccin (in
memorian) e Maria Sony Baccin. Por todo amor,
carinho e incentivo: Obrigada!
4
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Harrysson de Carli Testa & Rosemari Teresinha Baccin Testa,
por todo amor e dedicação, sobretudo, por acreditarem em mim e tornarem
possível a realização deste sonho.
À minha irmã, amiga e companheira Bruna Baccin Testa, por apesar da
distância, compartilhar comigo os momentos mais importantes da minha vida.
Ao meu namorado Jader Barbosa Martins, pelo carinho, respeito, amor e
paciência em todas as horas.
À minha mestre e orientadora, Marina Menezes, por seus ensinamentos,
fundamentais para a realização desta pesquisa e, acima de tudo, por sua
extrema dedicação e incentivo.
Às professoras Giovana Delvan Stühler e Maria Gorete de Souza, as quais
gentilmente
aceitarem
participar
de
minha
banca,
contribuindo
significativamente com seus ensinamentos para a concretização deste
trabalho.
A toda equipe cirúrgica da unidade B do hospital infantil, pelo apoio especial
dedicado a esta pesquisa.
A todos meus amigos, pela cumplicidade, amizade e companheirismo.
E principalmente a Deus, que colocou essas pessoas especiais e fundamentais
em meu caminho.
5
“Talvez meio caminho andado seja a gente acreditar no
que faz. Mas acima de tudo, o que mais nos incentiva, o
que mais nos valoriza – e também mais nos torna
conscientes de nossa responsabilidade – é saber que
outros crêem em nós. E não há palavras que descrevam o
que sentimos ao saber dos sacrifícios a que se impõe por
crerem não apenas em nós, mas também no que cremos”
Albert Einstein
6
SUMARIO
RESUMO ........................................................................................................... 8
LISTA DE QUADROS ........................................................................................ 9
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10
2 EMBASAMENTO TEÓRICO ......................................................................... 12
2.1 Caracterização da queimadura................................................................... 12
2.2 Dor.............................................................................................................. 17
2.3 Tratamento.................................................................................................. 20
2.4 Hospitalização e Equipe de Saúde............................................................. 28
2.5 O envolvimento da família na recuperação da criança queimada.............. 31
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ................................................................. 34
3.1 Caracterização da Instituição...................................................................... 34
3.1.1 Estrutura Física........................................................................................ 34
3.1.2 Dinâmica da instituição............................................................................ 36
3.1.3 Descrição física da Unidade de Queimados. .......................................... 36
3.2 Participantes da pesquisa........................................................................... 36
3.3 Instrumento................................................................................................. 39
3.4 Coleta de dados.......................................................................................... 40
3.5 Trajetória da Pesquisadora......................................................................... 41
3.6 Análise dos dados....................................................................................... 42
3.7 Procedimentos Éticos................................................................................ 43
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................. 45
Categoria 01. Experiência no atendimento a crianças vítimas de queimadura.....
...........................................................................................................................47
Categoria 02. Primeiro contato com a criança queimada................................ 50
7
Categoria 03. Sentimentos dos profissionais da equipe de saúde decorrentes
do trabalho às crianças vítimas de queimaduras.............................................. 52
Categoria 04. Procedimentos com maior grau de dificuldade no atendimento à
criança queimada.............................................................................................. 56
Categoria 05. Contribuições da família durante o período de internação
hospitalar da criança queimada........................................................................ 60
Categoria 06. O psicólogo na equipe hospitalar que presta assistência à criança
queimada.......................................................................................................... 63
Categoria 07. Como o manejo do profissional de saúde influencia o tratamento
de crianças queimadas..................................................................................... 67
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 72
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 76
8 APÊNDICES ................................................................................................. 80
8.1 Carta de aceite da Instituição..................................................................... 81
8.2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............................................ 82
8.3 Roteiro de Entrevista.................................................................................. 83
8
AS REAÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE FRENTE À HOSPITALIZAÇÃO DE CRIANÇAS
VÍTIMAS DE QUEIMADURAS
Orientadora: Marina Menezes
Defesa: Junho 2007
Resumo
A queimadura é o dano mais devastador que o corpo humano pode sofrer, sendo amplamente reconhecida
na literatura como uma das lesões pediátricas mais dolorosas. Além de gerar grande sofrimento para todos
envolvidos em sua terapêutica, devido aos procedimentos invasivos necessários para a reabilitação do
paciente, as queimaduras são responsáveis por graves seqüelas físicas, funcionais e psicológicas. Diante
desta realidade, objetivou-se nesta pesquisa investigar como os profissionais da equipe de saúde
hospitalar reagem ao tratamento da queimadura em crianças, bem como, identificar a visão que estes têm
a respeito da sua participação no tratamento das mesmas. Para tanto, procedeu-se a uma pesquisa
descritiva e exploratória, de caráter qualitativo. Realizou-se entrevistas semi-estruturadas com onze
profissionais envolvidos no tratamento de crianças queimadas em um hospital infantil, localizado em uma
cidade do Vale do Itajaí (SC). Utilizou-se para a análise de dados, a análise de conteúdo, que identificou
sete categorias: Experiência no atendimento a crianças vítimas de queimadura; Primeiro contato com a
criança queimada; Procedimentos com maior grau de dificuldade no atendimento à criança queimada;
Contribuições da família durante o período de internação hospitalar da criança queimada; Sentimentos
dos profissionais da equipe de saúde, decorrentes do trabalho às crianças vítimas de queimaduras; O
psicólogo na equipe hospitalar que presta assistência à criança queimada e Como o manejo do
profissional de saúde influencia o tratamento de crianças queimadas. A análise dos dados indicou que o
trauma ocasionado pela queimadura é vivenciado tanto pela vítima e sua família, como pela equipe de
saúde responsável pela sua terapêutica, resultando em uma intensa dinâmica de satisfação X sofrimento.
Palavras-chave: Queimaduras; Hospitalização Infantil; Equipe de Saúde.
9
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01. Classificação das queimaduras segundo a profundidade......... 13
QUADRO 02. Tabela de Lud Browder ............................................................. 14
QUADRO 03. Classificação das queimaduras segundo a gravidade............... 17
QUADRO04. Dimensão de avaliação da dor................................................... 18
QUADRO 05. Cuidados prestados às queimaduras........................................ 21
QUADRO 06. Peculiaridades fisiopatológicas da criança................................ 25
QUADRO 07. Classificação das seqüelas........................................................ 26
QUADRO 08. Descrição dos participantes....................................................... 39
QUADRO 09. Caracterização das categorias.................................................. 47
10
1 INTRODUÇÃO
A queimadura é uma lesão ao tecido orgânico decorrente da exposição
a chamas, líquidos aquecidos, contato com objetos quentes, exposição a
corrosivos químicos, radiação, ou ainda, contato com corrente elétrica. Elas
comprometem a integridade funcional da pele, responsável pela homeostase
hidroeletrolítica, controle da temperatura interna, flexibilidade e lubrificação da
superfície corporal (VALE, 2005).
Além do trauma da lesão, a criança perante a situação de queimadura é
exposta a inúmeros estressores, tais como: hospitalização prolongada,
procedimentos médicos invasivos, reabilitação, reintegração e graves seqüelas
físicas, funcionais e psicológicas, as quais ocasionam grande sofrimento tanto
para a vítima quanto para familiares e equipe envolvida em seu tratamento.
Diversos autores destacam a família como um fator de mediação
significativo para o ajustamento da criança queimada ao trauma da lesão,
período de internação e posterior fase de recuperação. O familiar que
acompanha este processo pode ser um elemento facilitador da implementação
dos processos terapêuticos necessários, propiciando segurança, conforto e
interação psico-emocional (GOYOTÁ; ROSSI & DARLI, 2006).
Considerando a dor, tanto física quanto psicológica, um problema
estreitamente ligado à queimadura, os profissionais envolvidos em seus
cuidados devem estar preparados para lidar com ela, uma vez que estes
participam ativamente do tratamento, ora como agentes potencializadores e
responsáveis pelos procedimentos que provocam dor, ora como agentes que
participam o alívio da mesma (ROSSI et al., 2000).
11
Para tanto, a interdisciplinaridade facilita o enfrentamento das situações
de crise vivenciadas na instituição hospitalar. Ela constitui um processo pelo
qual se desenvolve a comunicação entre os diversos saberes, possibilitando
um pensar e agir diferente. Sendo assim, a postura interdisciplinar permite a
ampliação da atuação para todos os sistemas envolvidos na internação da
criança, destacando criança – família - equipe de saúde (GABARRA &
NIEWEGLOWSKI, 2005).
Diante do exposto, a presente pesquisa procurou investigar como os
profissionais da equipe de saúde hospitalar reagem ao tratamento da
queimadura em crianças, bem como identificar a visão que estes têm a respeito
da sua participação no tratamento das mesmas.
A realização desta pesquisa torna-se relevante na medida em que
melhorar as condições de vida do paciente queimado é uma complexa tarefa a
qual exige muito mais do que competência técnica, requer componentes como
afeto, sensibilidade, carinho, solidariedade, dedicação e perseverança.
12
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 Caracterização da queimadura
Considerando que as queimaduras configuram importante causa de
mortalidade devido às lesões graves e as diversas complicações apresentadas
pelos pacientes vítimas dessas lesões, o tratamento da mesma tem-se
constituído em um grande desafio para os profissionais envolvidos nesse
trabalho (FERREIRA, 2006).
Dentre os vários tipos de queimaduras, os mais comuns são a chama de
fogo, o contato com água fervente e outros líquidos quentes e o contato com
objetos aquecidos. Entre os menos freqüentes encontram-se as queimaduras
provocadas pela corrente elétrica, transformada em calor ao contato com o
corpo e a queimadura química, ou seja, lesões cáusticas provocadas por
agentes químicos, em que o dano tecidual nem sempre resulta da produção de
calor (VALE, 2005).
Contudo, independente da causa, a lesão térmica é uma das mais
traumáticas e destrutivas, justamente pela sua capacidade de gerar seqüelas
funcionais, estéticas e psicológicas (FERREIRA, 2006).
De acordo com um estudo realizado pela organização Mundial da
Saúde, citado por Serra (1995), a maior incidência de queimaduras ocorre em
crianças de 0 a 5 anos de idade, sendo maior entre 1º e 2º ano de vida. Na
maioria dos casos, tais lesões ocorrem no ambiente doméstico através de
escaldamento, álcool, fogos de artifício e eletricidade.
A queimadura compromete a integridade funcional da pele, responsável
pela homeostase hidroeletrolítica, controle da temperatura interna, flexibilidade
13
e
lubrificação
da
superfície
corporal.
Portando,
a
magnitude
do
comprometimento dessas funções depende da extensão e profundidade da
queimadura (VALE, 2005).
Um fator determinante na avaliação do grau da queimadura é a
profundidade da lesão, pois está relacionada ao agente causador, à duração da
exposição e a causa predisponente no paciente (FERREIRA, 2006).
De acordo com Vale (2005), as queimaduras podem ser classificadas de
acordo com o quadro a baixo:
Quadro 01: Classificação das queimaduras segundo a profundidade
PRIMEIRO GRAU
Compromete
epiderme.
apenas
SEGUNDO GRAU
TERCEIRO GRAU
a Compromete totalmente a Destrói todas as camadas
epiderme e parcialmente a da pele, atingindo até o
derme.
subcutâneo,
podendo
atingir tendões, ligamentos,
músculos e ossos.
Apresenta eritema, calor e Apresenta dor, eritema, Causa lesão branca ou
dor.
edema, bolhas, erosão ou marron, seca, dura e
ulceração.
inelástica.
Não há
bolhas.
formação
de Há
espontânea.
regeneração É indolor.
Evolui com descamação Ocorre reepitelização a Não
há
regeneração
em poucos dias.
partir dos anexos cutâneos espontânea, necessitando
(folículos
pilosos
e de exertia.
glândulas).
Regride
cicatrizes.
sem
deixar Cicatrização mais lenta (2- Eventualmente
pode
4 semanas).
cicatrizar,
porém
com
retração das bolhas.
Repercussão sistêmica e Pode deixar seqüelas:
desprezível.
discromia
(superficial);
cicatriz (profunda).
Não é considerada na
avaliação da área atingida.
FONTE: VALE, 2005. p.12.
14
Já, a extensão da queimadura é obtida através do cálculo da área
corporal afetada. Os métodos mais utilizados são o de Lund Browder, uma
tabela de uso internacional, considerada o mais apurado método, pois leva em
consideração as proporções do corpo em relação à idade.
Quadro 02: Tabela de Lud Browder
ÁREA
ATÉ 01
1a4
5a9
10 a16
ANO
ADULT
2°
3°
O
GRAU
GRAU
Cabeça
19
17
13
11
7
Pescoço
2
2
2
2
2
Tórax anterior
13
13
13
13
13
Tórax posterior
13
13
13
13
13
Nádega direita
2,5
2,5
2,5
2,5
2,5
Nádega
2,5
2,5
2,5
2,5
2,5
Genitália
1
1
1
1
1
Braço direito
4
4
4
4
4
Braço esquerdo
4
4
4
4
4
Antebraço
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
Mão direita
2,5
2,5
2,5
2,5
2,5
Mão esquerda
2,5
2,5
2,5
2,5
2,5
Coxa direita
5,5
6,5
8
8,5
9,5
Coxa esquerda
5,5
6,5
8
8,5
9,5
Perna direita
5
5
5,5
6
7
Perna esquerda
5
5
5,5
6
7
Pé direito
3,5
3,5
3,5
3,5
3,5
Pé esquerdo
3,5
3,5
3,5
3,5
3,5
esquerda
direito
Antebraço
esquerdo
FONTE: GOMES; SERRA & PELLON, 1997, p. 12.
TOTAL
15
Outro modo de classificar a queimadura é através do Período Evolutivo,
o qual é subdividido em dois períodos específicos. O primeiro é o Período
Inicial, de agressão ou agudo, que compreende o espaço de tempo que vai
desde a queimadura até 15 dias após o acidente. Durante essa fase, a lesão é
evolutiva e atua intensamente sobre todos os sistemas (TOLEDO, 2003).
O segundo período é chamado Período Tardio de Recuperação ou
Clínico, no qual gradativamente, tende-se a se estabelecer o resultado do
tratamento, de acordo como processo de restauração e cicatrização (TOLEDO,
2003).
Outra possibilidade é o esquema da Regra dos Nove, onde a superfície
corporal é dividida em múltiplos de 9. A cabeça equivale a 9%, cada membro
superior vale 9%, tórax anterior e posterior 18% cada um, cada membro inferior
18% e períneo 1% (GOMES; SERRA & PELLON, 1997). Como é possível
observar na figura 1:
Figura 1: esquema da regra dos nove
Fonte: Palhares, 2003.
16
No entanto, recomenda-se que esta técnica não seja utilizada em
crianças, considerando o fato de que as mesmas possuem superfícies
corporais parciais diferentes dos adultos. Em crianças, as queimaduras são
consideradas mais graves comparadas com adultos, isto devido às
peculiaridades da faixa etária, variando desde área corporal atingida até o
sistema imunológico que influenciam no prognóstico e na evolução das lesões.
Além disso, deve-se atentar para as diferenças anatômicas, fisiológicas e
emocionais que a criança apresenta em relação ao adulto (SILVA et al, 2004).
Quadro 03: Classificação das queimaduras segundo a gravidade
QUEIMADURAS
QUEIMADURAS
LEVES
MODERADAS
1° Grau: Qualquer extensão
1° Grau: ----------------------
1° Grau:-----------------------
2° Grau: menores que 10%
2° Grau: entre 10 e 20 %
2° Grau: excedem 20% da
Superfície Corporal Total.
3° Grau: menores que 2%
3° Grau: entre 3 e 5 %
3° Grau: excedem 10% da
Superfície Corporal Total.
QUEIMADURAS GRAVES
FONTE: Baseado em GOMES; SERRA & PELLON, 1997
Segundo Rossi, Ferreira, Bergamasco e Camargo (2003), os avanços no
atendimento hospitalar têm contribuído para a sobrevivência de pacientes os
quais sofreram trauma térmico. Assim, os primeiros cuidados adequados
prestados à vítima de queimaduras constituem determinante fundamental no
êxito final do tratamento. Nesse sentido, cada queimadura deve ser tratada de
acordo com sua especificidade.
Entretanto, existe um elemento proeminente no atendimento a pacientes
queimados: a dor. Segundo Bicho e Pires (2002), as queimaduras estão entre
17
as lesões pediátricas mais dolorosas. Pois, a criança é confrontada com
inúmeros estressores, estando entre eles o próprio trauma da lesão, o longo
período
de
hospitalização,
mudança
de
rotina,
afastamento
do
lar,
procedimentos médicos invasivos, reabilitação, reintegração e seqüelas a curto
e longo prazo. Nesse sentido, a queimadura constitui um evento que põe em
risco tanto o bem estar físico, como o psicológico da criança.
2.2 Dor
De acordo com RUSSO (1967 apud ROSSI et al, 2000) a dor da
queimadura terá inicio quando houver excitação direta das terminações
nervosas da pele pelo calor, devido à destruição das camadas superficiais da
pele e, conseqüentemente, exposição das terminações nervosas sensitivas.
Desta forma, partindo do pressuposto de que a dor é considerada, na
maioria das vezes, inerente ao paciente vítima de queimadura, ROSSI et al
(2000, p.18) afirmam que:
O grau e a duração da dor que um paciente suporta na trajetória de
seu tratamento dependem de fatores como extensão e localização da
queimadura, estado emocional, nível de ansiedade e de tolerância à
dor, experiências anteriores, cultura e faixa etária.
Nessa perspectiva, Tollison (1994 apud CAMON (Org.), 1998) sugere
que a experiência de dor, devido sua natureza multidimensional, seja avaliada
de acordo com as seguintes dimensões:
18
Quadro 04: Dimensões de avaliação da dor
FISIOLÓGICAS
Início, localização, duração,
etiologia e síndrome.
SENSOPERCEPTIVA
Intensidade, qualidade e
padrão.
AFETIVA
Ansiedade, depressão e estado
emocional.
COGNITIVA
PSICOSSOCIAL
COMPORTAMENTAL
SOCIOCULTURAL
Significado da dor, a visão de si
mesmo e recursos adaptativos.
Comunicação e interação
interpessoal, vida social e familiar,
interação com a equipe
multidisciplinar, recreação e lazer.
Atividade física,
comportamentos de dor, aceitação ou
rejeição da terapêutica
medicamentosa e intervenções da
equipe multidisciplinar.
Influência etnocultural, fatores
ambientais e influências sociais.
FONTE: Baseado em Camon (org.), 1998.
Para Rossi et al (2000), o paciente pode reagir à dor de três formas,
ignorando-a, reagindo realisticamente ou apresentando uma super reação.
19
Contudo, a ansiedade antecipada a respeito dos procedimentos os quais
podem ser dolorosas, causa aumento progressivo no grau de dor sentido pelos
pacientes, tornando-os menos tolerantes ao processo.
Colaborando com esta idéia, Erickson (1992 apud Camon, 2004), define
dor como um complexo combinado de dores lembradas, experiências de dor
presente e antecipação de dor no futuro. De tal modo que a dor imediata é
aumentada pela dor passada e palas possibilidades futuras de dor.
Anzieu (1989) ainda salienta que o sentimento da dor da criança
queimada vai depender de sua história de vida e de outras experiências que
estão relacionadas à dor. Esse sentimento é ainda adicionado da história do
trauma da queimadura.
Barros (2003) afirma que durante muito tempo a dor pediátrica foi
desvalorizada pelos técnicos da saúde. No entanto, apesar de alguns
profissionais ainda acreditarem que as crianças sentem menos dores que os
adultos, não só se reconhece que a criança sente dor desde o nascimento
como se valoriza as graves conseqüências da dor para seu desenvolvimento e
saúde.
Assim, considera-se de mister importância os avanços farmacológicos
da anestesia e analgesia, acompanhando as mudanças de saberes e atitudes
sobre a dor infantil e suas implicações, pois desta forma, pode-se garantir um
tratamento mais seguro e adequado (BARROS, 2003)
20
2.3 Tratamento
O tratamento de queimaduras representa um grande desafio, uma vez
que seu objetivo final é salvar a vida do paciente, conservar a função do tecido
e reconduzir o queimado ao convívio social.
Para tanto, o primeiro tratamento da criança vítima de queimadura inicia
no local do acidente. Serra (1997 apud GOMES; SERRA & PELLON, 1997),
afirma a importância de colocar a queimadura embaixo de água logo após o
incidente, enrolar a criança em uma toalha molhada e leva-la imediatamente ao
hospital.
A importância da conduta terapêutica de uma criança queimada ser
sincronizada e coordenada, sendo que o plano inicial de cuidados pode ser
resumido da seguinte forma:
Quadro 05: Cuidados prestados às queimaduras
QUEIMADURA LEVE
QUEIMADURA GRAVE
Analgésico leve e ou sedativo.
Assegurar permeabilidade das vias
aéreas.
(ambulatorial)
Limpeza da ferida com água corrente e
solução degermantes (clorexidina,
PVPI).
Rompimento da flictenas e retirada dos
tecidos desvitalizados.
Curativo tópico com sulfadiazina de
prata1% ou vaselina nas áreas mais
superficiais.
Profilaxia contra o tétano seguindo o
calendário vacinal.
Orientação aos pais para manter a
(hospitalar)
Cateterismo venoso.
Identificação e lesões associadas.
Analgesia endovenosa.
Limpeza e desbridamento.
Avaliação da profundidade e extensão.
21
criança em ambiente limpo, evitar
exposição solar, fazer uso de
analgésicos e antitérmicos se houver
dor ou febre e oferecer considerada
ingesta de líquidos.
Troca de curativos diária.
Imunização contra tétano
FONTE: Baseado em GOMES; SERRA & PELLON, 1997.
Vale (2005) afirma que durante o atendimento ao queimado,
independente do grau da queimadura, deve ser mantida a calma. Sendo
importante não se deixar impressionar pelo aspecto chocante da queimadura,
pois a atenção do profissional envolvido pode ser desviada, deixando passar
despercebidas lesões muito mais graves, como traumas neurológicos,
ortopédicos e viscerais.
Segundo Palhares (2003), em ocorrência de queimaduras de segundo e
terceiro grau, ao mesmo tempo em que o atendimento é realizado, é
necessário colher-se a história detalhada da queimadura, pois a narrativa do
trauma indica elementos de lesões associadas, lesões por inalação e até
mesmo a profundidade de determinada lesão.
Além disto, o mesmo autor ressalta a importância de coletar de forma
breve a história clínica pregressa do paciente ou de sua família, uma vez que
isso irá determinar a presença de fatores agravantes do estado geral, bem
como, o uso de medicamentos ou drogas, alergias, hipersensibilidades e
estado de imunização tetânica.
Nos últimos anos, os avanços do tratamento de queimados reduziram a
mortalidade e melhoraram consideravelmente a qualidade de vida dos
pacientes. Enquanto que em 1950, o paciente pediátrico com 50% do corpo
queimado possuía apenas 50% de chances de sobreviver, no início da década
22
de 90, equivalente morbidade é evidenciada em crianças que possuem 95% da
área corporal (ARTZ, 1995).
Tais melhorias se devem a procedimentos como: tratamento de choque
inicial, ressucitação apropriada com reposição de fluídos, controle da infecção,
suporte nutricional adequado e excitação tangencial do tecido queimado. Isso
tudo objetiva a diminuição da resposta hipermetabólica e incidência de sepse,
as quais podem levar a instabilidade hemodinâmica e falência múltipla de
órgãos (CARONI, 2005).
A mesma autora ressalta a importância do primeiro atendimento ao
paciente pediátrico vítima de queimaduras, pois este constitui a parte mais
importante do tratamento. Além de evitar e/ou reverter os efeitos da
hipovolemia causados pelas mudanças no aumento da permeabilidade
vascular e todas suas repercussões sistêmicas, também evita que lesões de
espessura
parcial
evoluam
para
lesões
de
espessura
total,
o
que
comprometeria o resultado final.
A estabilização do paciente vítima de queimadura, de acordo com
Palhares (2003), se constitui da seguinte maneira:
1. Vias aéreas: as vias aéreas superiores são bastante susceptíveis a
queimaduras, resultando em uma obstrução a qual pode se instalar
insidiosamente.
2. Respiração e Ventilação: a avaliação das condições respiratórias deve
ser realizada de forma rápida e objetiva, dado que esse tipo de lesão é
indicador de gravidade importante.
3. Circulação com controle de hemorragia: qualquer vítima que possua
mais de 20% da superfície corporal queimada necessita de reposição volêmica.
23
Palhares (2003) ainda cita outros cuidados que devem ser tomados,
entre eles destacam-se:
Pesagem do paciente: deve ocorrer no momento da admissão da vítima,
no entanto, em casos de queimaduras graves os cuidados intensivos não
permitem a pesagem.
Sondagem nasogástrica: utilizada com o objetivo de diminuir a distensão
gástrica e evitar náuseas, vômitos e distensão abdominal. É indicado para
queimados que possuem mais de 20 % da superfície corporal queimada.
Sedação da dor: administrada por via endovenosa, deve ser feita em
doses pequenas e freqüentes, devido à possibilidade de haver hipovolemia e
hipoxia.
Antibióticos: devem ser utilizados somente para tratar as infecções que
podem surgir durante o tratamento.
Outros cuidados que devem ser tomados no atendimento ao paciente
queimado de acordo com Palhares (2003) são com as feridas. Segundo o
autor, não se deve romper as bolhas durante a fase aguda da queimadura.
Para dar mais conforto ao paciente, indica-se lavar a área queimada e cobri-la
com compressas úmidas de soro morno.
Contribuindo com esta idéia Gomes, Serra & Pellon (1997), afirmam que
a limpeza e o desbridamento da lesão devem ser realizados com água corrente
e soluções degermantes, assim como o rompimento das flictenas só poderá
ocorrer caso a criança não seja transferida para outro hospital. Depois de
realizada a lavagem, deve-se aplicar uma camada fina de sulfadiazina de prata
e proceder a um curativo contensivo com gaze e atadura.
24
Os mesmos autores ainda relatam outro aspecto importante nos
cuidados à vítima de queimadura, como a remoção das vestes queimadas do
paciente, pois seguindo os autores, a retirada do tecido, principalmente o
sintético, interrompe o processo de queimadura. Além disso, as roupas podem
conter resíduos de agentes químicos ou produtos inflamáveis, por esse motivo
devem ser retiradas com cuidado. Em seguida, a superfície corpórea do
paciente deve ser lavada com grande quantidade de água morna, pois se
considera que o queimado possui grande predisposição à hipotermia não
sendo recomendável utilizar água fria ou gelada.
Existem algumas peculiaridades fisiopatológicas no tratamento de
queimaduras em crianças, como demonstra o quadro abaixo:
Quadro 06: Peculiaridades Fisiopatológicas da Criança
MAIOR PROPENSÃO AO EDEMA
ESPESSURA DA PELE
TEMPERATURA
A taxa de filtração glomerular no lactente
não atinge os níveis do adulto devido a
imaturidade glomerular e tubular. Neste
período há maior tendência a retenção da
carga hídrica administradas durante a
reposição volêmica.
A crianças menores de dois anos
possuem a pele particularmente fina, por
isso são predispostas a queimaduras
profundas.
Além
disso,
o tecido
subcutâneo
escasso
favorece
a
hipotermia, conseqüentemente maior
gasto de energia para manter a
homeotermia, provocando maior consumo
de glicose e oxigênio.
Em razão de um sistema termorregulador
pouco desenvolvido, a variação de
temperatura corporal é grande.
No
lactente o risco maior é a hipotermia,
enquanto em crianças maiores é a
hipertemia. Desta forma, todos os
esforços devem estar voltados para
manutenção da temperatura normal da
criança queimada.
25
METABOLISMO DA GLICOSE
APARELHO RESPIRATÓRIO
O gasto de energia na criança é maior,
pois
as
mesmas necessitam
de
aquecimento,
crescimento
e
desenvolvimento. A principal fonte de
energia é o glicogênio hepático, como a
criança possui baixa reserva, na fase
inicial da queimadura pode evoluir para
hipoglecemia, o que leva a lesões
cerebrais irreversíveis, sendo sintomas
freqüentes as convulsões e tremores.
As lesões plmonar por inalação são
menos comum em crianças, visto que a
maioria das queimaduras ocorrem por
escaldamento. No entando quando
ocorrem é potencialmente mais grave
devido ao pequeno diâmetro das vias
aéreas; a parede torácica é flexível e
estruturamente imatura; a insuficiência
respiratória, devido a fadiga, é mais
provável;
existe
grande
demanda
metabólica,
incluindo
consumo
de
oxigênio.
FONTE: Baseado em GOMES; SERRA & PELLON, 1997.
Além disso, o tratamento local representa um componente fundamental
na terapêutica da queimadura, uma vez que são as lesões cutâneas que não
somente desencadeiam e mantêm a resposta catabólica, mas também são as
origens das seqüelas (PIRES, 2003).
Podem-se considerar como seqüela qualquer marca deixada na pele
depois da cicatrização de um ferimento. Sendo assim, independente da causa,
as seqüelas deixam marcas permanentes do trauma sofrido. Na queimadura,
inúmeros fatores determinam a gravidade das seqüelas, entre elas o tamanho
e a profundidade do ferimento, fornecimento sanguíneo para a área queimada
e a espessura da pele (CARIONI, 2005).
De acordo com a mesma autora, as seqüelas de queimaduras podem
ser estéticas, funcionais ou ambas e podem ser classificadas em quatro tipos:
26
Quadro 07: Classificação das seqüelas:
Cicatriz Hipertrófica
Quelóide
Retração Cicatricial
Cinéquia
Caracteriza-se por ser uma placa
marrom-avermelhada, fibrosa, densa e
firme que não ultrapassa os limites da
lesão
inicial.
Pode
apresentar
resolução parcial de um a vários anos.
Considerada uma forma exuberante
da cicatriz Hipertrófica, porém ela
expande os limites da lesão inicial e
não apresenta melhora com a passar
do tempo.
Encurtamento do tecido cicatricial,
causando deformidade e distorção.
Comumente resulta numa grande área
de perda de pele e numa área de
cicatrização que puxa as extremidades
de pele restante.
Este tipo de seqüela freqüentemente
restringe os movimentos normais do
corpo, pois incide em áreas flexoras
do corpo.
FONTE: Baseado em CARIONI, 2005.
Segundo Herman (1995), “Danos permanentes, tais como cicatrizes
perceptíveis, desfiguração ou contraturas irreversíveis podem causar profundo
sofrimento e ansiedade à criança em crescimento e levar a sintomas
psiquiátricos e isolamento crônico” (p. 1017).
Ainda segundo este autor, bebês que sentem dores causadas por
queimaduras, freqüentemente tornam-se mais tristes e retraídos, ficando
suscetíveis a desenvolverem distúrbios de alimentação e sono, alterando suas
respostas aos cuidados.
Assim como as desfigurações ocasionadas por lesões decorrentes de
queimaduras irão trazer alterações na imagem corporal da criança, os préadolescentes,
que
sofreram
queimaduras
graves
e
enfrentam
as
conseqüências da mesma, tornam-se ansiosos, deprimidos, calados ou
claramente agressivos (HERMAN , 1995),
27
Por esses motivos, Rossi et al (1997), consideram a queimadura uma
das mais graves categorias de trauma, pois, além do risco de morte, esta
provoca importantes repercussões físicas e psicológicas. Frente a esta
situação, Trevisan (2005) enfatiza a necessidade de maior dedicação da
equipe de saúde no processo de cuidados desse paciente.
No entanto, Ferreira (2006), lembra que quando ocorre a recuperação, a
criança se torna outra pessoa tanto fisicamente, como emocionalmente e isto
lhe causa desconforto, medo, insegurança, receio de enfrentar o mundo da
forma como ficou após a queimadura. Então, a mesma se depara com outra
situação traumática: o enfrentamento social.
[...] Poucas são as doenças que trazem seqüelas tão importantes
como a queimadura grave. Mesmo com a sobrevivência física e a
ocorrência da epitelização de toda a pele, as cicatrizes, as contraturas
e a distorção da própria imagem culminam com freqüência na ‘morte
social’ [...]
(Silva et al, 2004, p.205).
Ferreira (2006) afirma que o medo do enfrentamento social em crianças,
geralmente ocorre quando as mesmas se vêem em situações, tais como
quando é questionada sobre sua cicatriz na escola. Daí a importância da
escola e dos alunos estarem preparados para a volta da criança com alteração
de sua aparência corporal.
A fim de auxiliar a criança e seus familiares a superar problemas que
possam surgir no regresso ao lar e para que a mesma readquira autoconfiança,
Ferreira (2006) ressalta a importância do suporte psicológico e emocional.
Além disso, sugere um atendimento que envolva uma equipe multi e
interdisciplinar, a fim de que a criança possa enfrentar situações traumáticas,
de forma adequada, até que esteja reintegrada à sociedade.
28
Nesta perspectiva, Borges e Carvalho (2004) afirmam que a psicoterapia
é fundamental na fase de recuperação, pois possibilita a criança redescobrir-se
e tentar aceitar as modificações físicas decorrentes da queimadura.
Em uma sociedade em que as pessoas que não seguem um ideal de
beleza são normalmente rejeitadas e desvalorizadas, as vítimas de
queimaduras
acabam
por
muitas
vezes,
tendo
seu
contato
social
estigmatizado. Desta forma, o tratamento psicológico consiste em auxiliar o
paciente a ver a textura de sua pele lesada para reencontrar-se com aquela
criança criativa, vitalizada que ainda existe por traz da queimadura (BORGES &
CARVALHO, 2004).
2.4 Hospitalização e Equipe de Saúde
A criança hospitalizada comumente apresenta-se fragilizada fisicamente
e emocionalmente, pois é subitamente afastada de sua rotina familiar, amigos,
escola, brinquedos, além de deparar-se em um lugar desconhecido, rodeado
de estranhos, vivenciando uma situação traumatizante, perturbadora e
extremamente dolorosa (FERREIRA, 2006).
Firmino (1995), afirma que devido à imaturidade e dificuldade de lidar
com a presente e dolorosa circunstância da lesão, na maioria das vezes
incompreensível e assustadora, a criança queimada sensibiliza a equipe.
O grupo de profissionais da saúde, durante o longo período de
hospitalização que envolve a criança vítima de queimadura, fará parte
integrante e necessária à sua vida, influenciando-a de forma direta ou indireta
(FERREIRA, 2006).
29
Segundo Firmino (1995) a criança irá se relacionar de maneira diferente
com cada pessoa envolvida em seus cuidados (diretos ou indiretos),
proporcionando para cada membro da equipe sentimentos particulares com o
paciente, os quais influenciarão na maneira de tratá-lo.
Trevisan (2005) considera cuidados diretos, as atividades de orientação
nutricional, orientação escolar às crianças, atendimento da fisioterapia,
atendimento psicológico, procedimentos cirúrgicos, a balneoterapia, curativos e
medicação. Enquanto que cuidados indiretos referem-se às atividades de
planejamento e organização, o atendimento do serviço social à família, as
reuniões com a equipe e o atendimento psicológico prestado à equipe e à
família.
Nesta perspectiva, Boehs e Patrício (1990 apud Trevisan, 2005)
resgatam o conceito de Cuidado como sendo aquele ato de assistência, de
apoio, de facilitação para ou pelo outro indivíduo ou grupo, que mostra
necessidade da assistência evidente ou antecipada, a fim de melhorar uma
condição ou modo de vida humana (Grifo meu).
Segundo Trevisan (2005), o trabalho em si pode ter significados
ambíguos para o trabalhador na área da saúde que atende à queimados, ou
seja, ao mesmo tempo em que pode proporcionar prazer e satisfação, também
pode causar sofrimento.
Neste âmbito, se encontram os profissionais envolvidos na terapêutica
da criança queimada, uma vez que estes participam ativamente do processo
que envolve a dor, ora como agentes potencializadores e responsáveis pelos
procedimentos os quais provocam dor, ora como agentes participantes do
alívio da mesma (ROSSI et al, 2000).
30
Desta forma, segundo os autores supracitados, estes profissionais
devem estar bem preparados para lidar com as diversas situações, pois o
sofrimento físico e psíquico são partes do cotidiano de trabalho daquele que se
dedica aos cuidados da criança queimada.
Devido ao longo período de hospitalização e todo o impacto que a
queimadura representa na vida da criança, Death e Brignall (1999 apud
Ferreira, 2006), sugerem que o brincar durante a hospitalização pode auxiliar a
criança a compreender sua situação, além de expressar seus medos e
angústias.
Muito mais do que parte integrante do desenvolvimento infantil, o brincar
é especialmente útil como fonte de informação a respeito de procedimentos
que serão realizados, tais como cirurgia e desbridamento. De acordo com
Ferreira (2006), ao envolver-se na experiência, a criança torna-se muito mais
colaborativa, obtendo dessa forma melhor recuperação.
Considerando estes fatos, a autora referida, indica ser de suma
importância o envolvimento de um profissional especializado na área de saúde
mental, a fim de proporcionar uma assistência mais humana e adequada.
Além de atuar com a criança e a família, é fundamental que o psicólogo
participe dos cuidados e discussões do caso com o restante dos profissionais
envolvidos. De acordo com Herman (1995), é preciso apreender quais são as
expectativas da equipe em relação à criança hospitalizada, para que se possa
de fato realizar um trabalho efetivo com a mesma, bem como, auxiliar a equipe
a compreender a evolução dos comportamentos infantis, como a revolta,
agressividade, apatia etc.
31
Sobretudo, é necessário que o acompanhamento psicológico seja
realizado desde o momento da internação, visto que algumas crianças já vêm
ao hospital com graves problemas emocionais, e muitas famílias chegam
desesperadas, sentindo-se culpadas pelo acidente (GORDON, 1980).
As
intervenções
psicológicas
possibilitam
o
alívio
da
culpa,
estabelecendo uma situação familiar mais saudável, conscientizando a família
e a criança em relação ao tratamento, procedimentos e cuidados com as
queimaduras. Também objetiva apoiar a criança em resposta à hospitalização
e reabilitação, através de estratégias tranqüilizantes e encorajadoras,
fundamentais para a terapêutica do queimado (FERREIRA, 2005).
Por fim, Trevisan (2005, p. 38) afirma que:
O sofrimento do trabalhador da equipe de saúde é também
decorrente do sofrimento do outro, principalmente quando a sua
possibilidade de proporcionar alívio a esse sofrimento é limitada. De
um lado, há uma satisfação pelo alívio do sofrimento do outro; por
outro lado, o sofrimento com as condições e limites pessoais, pelo
ambiente de trabalho ou pela patologia presente no outro.
2.5 O envolvimento da família na recuperação da criança queimada
A criança queimada, além do físico desfigurado e das seqüelas
psicológicas, muitas vezes experencia sensações de abandono, medo e
desamparo em decorrência de sua fragilidade emocional (FERREIRA, 2006).
Deste modo, o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, a fim de
minimizar os efeitos traumatizantes que a hospitalização causa na criança,
garante a permanência da mãe ao seu lado. Firmino (1995) concorda com esta
premissa, visto que a presença da mãe é um fator positivo e de grande
importância para o bem-estar da criança.
32
De acordo com Bicho e Pires (2002), diversos autores afirmam que a
família é um fator de mediação significativo para o ajustamento da criança
queimada ao trauma da lesão, conseqüente hospitalização e posterior fase de
recuperação. Em estudo realizado por estes autores, com pais de crianças
internadas para tratamento de queimaduras, no Hospital de Dona Estefânia,
em Lisboa, aponta como reações comuns dos cuidadores: negação,
sentimentos de culpa, ansiedade, depressão, impotência, medo, revolta e
intensificação de problemas pré-existentes.
Conforme mostram os dados obtidos no referido estudo, o modo de
confrontação das reações parentais, frente à ocorrência da queimadura e
procedente processo de recuperação, dependem de variáveis ligadas à própria
criança, como idade, nível de desenvolvimento cognitivo e emocional, assim
como a gravidade da lesão. Tais aspectos influenciam a forma como a criança
se adapta psicologicamente a esta situação de crise (BICHO & PIRES, 2002).
Deste modo, considera-se o contato com os pais de extrema
importância, visto que devido aos sentimentos de culpa e preocupação
vivenciados por eles, a criança pode entender que houve diminuição do amor
de seus pais. Por isso, a equipe deve atuar com mediadores entre filhos e pais,
buscando manter ou reatar o relacionamento (FERREIRA, 2006).
Os pais devem ser encorajados a participar ativamente do tratamento e
a participar de qualquer cuidado aos quais se sintam preparados para executar.
De acordo com Death e Brignall (1999 apud FERREIRA, 2006), quando os pais
apresentam empatia e aceitação à terapêutica, a criança se torna mais
independente e melhora sua auto-estima.
33
O familiar que acompanha esse processo pode ser um elemento
facilitador da implementação das terapêuticas necessárias, bem como, será a
pessoa que dará continuidade aos cuidados após a alta hospitalar, como
banho, alimentação, curativos e atividades reabilitadoras, promovendo
segurança, conforto e interação psico-emocional (GOYOTÁ, ROSSI & DARLI,
2006).
Em suma, o paciente não é o único a ter que superar as difíceis fases do
tratamento. Juntamente com ele, a família precisa vencer o medo da morte, a
dor, a rejeição, a culpa, a ameaça de desfiguração e demais sentimentos que
podem desencadear diferentes transtornos, como a depressão (ROCHA,
2002).
Assim, melhorar a vida do paciente queimado não é uma tarefa fácil,
especialmente se for uma criança, pois exige dedicação e perseverança de
todos envolvidos na assistência a ela prestada. É necessário entendê-la
enquanto pessoa, com peculiaridades muito especiais devido à situação
traumática vivenciada (SOUZA, MENDES & SILVA, 1994).
34
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
3.1 Caracterização da Instituição:
A presente pesquisa foi realizada em um hospital infantil localizado em
uma cidade do Vale do Itajaí-SC, que apresenta como atividade a prestação de
serviços gerais, clínicos e cirúrgicos, ao público infantil de 0 a 14 anos idade,
que necessitar de atendimento médico-hospitalar, residindo ou não na região
da AMFRI, excedendo-se os casos que necessitem exames de alta
complexidade.
3.1.1. Estrutura Física
O Hospital é constituído por um prédio de três pisos, sendo:
Térreo
Neste piso se encontram a recepção do pronto-socorro, a recepção da
internação, 3 consultórios, sendo estes para atendimento de convênios,
particulares e SUS, 1 sala de gesso, 1 sala de Raio-X, 2 salas de emergência,
1 sala de observação e 1 sala de curativos e pequenos procedimentos.
Também neste piso há 1 centro cirúrgico, sendo que este se subdivide em 2
salas para cirurgia e 1 sala de RPA (recuperação pós-anestésica), contendo 3
leitos. Ainda neste andar há 1 sala de espera, 1 sala de expurgo. Também no
primeiro piso está localizada a parte administrativa.
Primeiro Andar
35
Neste andar funciona a Unidade A, onde são atendidos pacientes
conveniados ou particulares. Nesta unidade dispõem-se 12 quartos. Ainda
neste andar encontram-se a Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica -UTIP, 1
sala de expurgo, 1 posto de Enfermagem, 1 sala para a chefia de Enfermagem,
quarto de plantão masculino e feminino e quarto de descanso, cada um com
dois leitos e um banheiro cada, 1 sala de Gerência de Enfermagem, 1 copa, 1
sala de direção médica, 1 sala de Serviços (Psicologia, Controle de Infecção
Hospitalar, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Pedagogia), 1 farmácia hospitalar, 1
sala de telefonistas e 1 rouparia.
Segundo Andar
Neste andar funciona a Unidade B, dividida em clínica médica e
cirúrgica, onde são atendidos os pacientes do SUS, dispondo de 64 leitos.
Neste andar ainda há um espaço destinado para recreação, 1 sala utilizada
para execução de procedimentos médicos, 2 postos de Enfermagem. Há 10
quartos na Clínica Médica, os quais são divididos conforme as patologias:
quarto 1, 2, 3 e 4 para pacientes Respiratórios; quartos 5, 6, 7, 8, 9 para
pacientes com problemas de Entero - infecção; quarto 10 para Patologia Geral.
Na Clínica Cirúrgica são 5 quartos destinados a pacientes de Cirurgia Geral,
Ortopedia, Neurologia, Otorrino e Queimados.
36
3.1.2 Dinâmica Institucional
Os pacientes chegam ao pronto-socorro e solicitam a consulta com o
médico clínico geral, através do Sistema Único de Saúde (SUS), convênios
médicos ou particular. No caso de internação ocorre o mesmo procedimento.
3.1.3 Descrição física da Unidade de Queimados
A unidade de queimados é composta por uma ante-sala, onde as
pessoas que irão entrar no quarto fazem a desinfecção das mãos e vestem um
jaleco descartável. O quarto onde as crianças vítimas de queimaduras ficam é
composto por duas camas do lado esquerdo e outras duas do lado direito, um
banheiro e uma banheira de hidromassagem, utilizada para a realização dos
banhos e desbridamentos, a qual esta localizada no centro do quarto.
Por ser um ambiente com alto risco de infecção, somente brinquedos
que podem ser lavados e desinfectados, como os de plástico, podem ser
utilizados com as crianças. Outros materiais como desenhos, passatempos e
revistinhas devem ficar com o paciente. Além disso, a unidade de queimados é
um local de isolamento, portanto, na maioria das vezes as crianças queimadas
recebem visitas apenas de seus pais.
3.2 Participantes da pesquisa
Tendo
em
representatividade
vista
dos
que
sujeitos
a
pesquisa
frente
ao
qualitativa
fenômeno
baseia-se
investigado,
na
não
37
necessitando assim de um número grande de participantes para sua validade,
este estudo contou com onze funcionários da Unidade Cirúrgica (Unidade B),
de um hospital infantil localizado em uma cidade do Vale do Itajaí – SC,
vinculados significativamente com o tema investigado.
Dentre os profissionais respondentes da pesquisa encontram-se:
psicólogo, assistente social, nutricionista, fisioterapeutas, enfermeiros, técnicos
de enfermagem e auxiliares de enfermagem. Porém, a equipe da Unidade B
(Cirúrgica) é composta atualmente por 16 profissionais, que incluem as
especialidades mencionadas acima, além de Médicos.
Para fazer parte desta pesquisa, os participantes assentiram seu
envolvimento através da assinatura de um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APÊNDICE 02).
38
QUADRO 08: Descrição dos Participantes
PROFISSÃO
IDADE
SEXO
ENTREVISTA
38
F
01
34
M
02
23
F
03
24
F
04
26
F
05
Nutricionista
29
F
06
Assistente Social
39
F
07
41
F
08
Fisioterapeuta
30
F
09
Psicóloga
29
F
10
27
F
11
Auxiliar de
Enfermagem
Auxiliar de
Enfermagem
Técnico em
Enfermagem
Enfermagem
Técnico em
Enfermagem
Técnico e Auxiliar
de Enfermagem
Auxiliar de
Enfermagem
39
3.3 Instrumento
A presente pesquisa está baseada numa perspectiva qualitativa, a qual
segundo André (1983 apud BIASOLI-ALVES, s/d) visa apreender o caráter
multidimensional dos fenômenos em sua manifestação natural, bem como
captar os diferentes significados de uma experiência vivida, auxiliando a
compreensão do indivíduo no seu contexto.
Os elementos básicos da análise qualitativa são palavras e idéias que
tendem a descoberta, descrição, compreensão e interpretação partilhada, onde
o pesquisador participa do processo e o todo é mais do que as partes
(TURATO, 2003).
Desta forma, a pesquisa qualitativa se caracteriza por buscar uma
apreensão de significados na fala ou no comportamento dos sujeitos,
interligada ao contexto em que eles se inserem, e delimitada pela abordagem
conceitual do pesquisador, traz na redação, uma sistematização fundamentada
na qualidade, sem a pretensão de atingir o limiar da representatividade
(BIASOLI-ALVES & DIAS DA SILVA, 1992; NICOLACI DA COSTA, 1994 apud
BIASOLI-ALVES, s/d).
Através da pesquisa qualitativa é possível coletar dados subjetivos além
dos objetivos, investigar sentimentos, reações, crenças e sobre tudo, assuntos
que exigem uma maior aproximação do pesquisador com o participante
(TURATO, 2003).
A metodologia qualitativa é considerada uma das mais relevantes para ser
utilizada na área de saúde, pois:
O campo da Saúde se refere a uma realidade complexa que
demanda conhecimentos distintos integrados e que coloca de forma
imediata o problema da intervenção. Neste sentido, ele requer como
40
essencial uma abordagem dialética que compreende para transformar
e cuja teoria, desafiada pela prática, a repense permanentemente.
(MINAYO, 1999 p.13).
3.4 Coleta dos Dados
Para a realização da coleta de dados, foi utilizada uma entrevista semiestruturada, cuja técnica permite ao entrevistador organizar um conjunto de
questões, apoiadas em teorias e hipóteses sobre o tema estudado (APÊNDICE
03).
Tal técnica oferece liberdade e espontaneidade necessárias para o
entrevistador falar livremente a respeito dos assuntos que vão surgindo,
enriquecendo assim a investigação. Dessa forma, o entrevistado segue sua
linha de pensamento e experiências a partir do foco principal colocado pelo
entrevistador e participa da elaboração do conteúdo da pesquisa (TURATO,
2003).
Inicialmente a pesquisadora entrou em contato com o responsável pela
instituição onde a pesquisa foi realizada e agendou data na qual pode explicar
devidamente os objetivos da investigação. Em seguida, foi apresentada a Carta
de Aceite da Instituição, para que o mesmo assinasse autorizando o início da
pesquisa (APÊNDICE 01).
As entrevistas ocorreram na própria instituição hospitalar investigada,
após agendamento prévio com os funcionários e de acordo com a
disponibilidade dos profissionais envolvidos. O período de realização das
entrevistas foi de março a abril de 2007.
Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas a fim de preservar a
fidedignidade das respostas.
41
3.5 Trajetória da Pesquisadora
O interesse em realizar uma pesquisa sobre as reações da equipe de
saúde ao tratamento de crianças vítimas de queimaduras surgiu após sugestão
da orientadora e também em decorrência da falta de material disponível a
respeito desse assunto.
Através da literatura especializada, pude investigar as principais causas
e conseqüências do trauma térmico, assim como, perceber a difícil missão que
o profissional da saúde envolvido no processo de reabilitação do queimado
desempenha.
No entanto, somente pude compreender a verdadeira magnitude dessa
tarefa, quando pessoalmente entrevistei os funcionários da unidade cirúrgica
de um hospital pediátrico localizado em uma cidade do Vale do Itajaí (SC).
Após formular um roteiro de perguntas e do projeto de pesquisa ter sido
aprovado pelo comitê de ética, foi possível entrar em contato com a instituição
em questão. Assim, com a ajuda da psicóloga do hospital foram agendados
com os profissionais da equipe responsável pelos cuidados de crianças
queimadas, alguns horários para realização das entrevistas.
Ao chegar, a pesquisadora se apresentava aos funcionários, explicava
os objetivos do trabalho e posteriormente perguntava se os mesmos estavam
interessados em participar. Caso assentissem seu envolvimento, era solicitada
a assinatura do Termo e Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 02) e
somente então se iniciavam as entrevistas.
Contudo, por se tratar de uma instituição hospitalar, nem sempre os
horários marcados puderam ser cumpridos, o que exigiu da pesquisadora
42
maior disponibilidade de tempo. Algumas vezes foi necessário chegar ao
hospital cerca das seis horas da manhã, a fim de conseguir entrevistar os
participantes durante a troca de turno, outras, foi preciso retornar à instituição
diversas vezes para tentar persuadir, um ou outro participante, sobre a
relevância da pesquisa e a importância de sua participação.
Além disso, pela participação ser voluntária, houve casos de
desistência, negação e até mesmo falta de interesse por parte de alguns
profissionais, o que felizmente não interferiu para que as metas propostas
fossem alcançadas.
3.5 Análise dos Dados
Os dados obtidos na presente pesquisa foram analisados através do
método de análise de conteúdo proposto por BARDIN (1977 apud MORAES,
1999). Tal análise é uma metodologia utilizada para descrever e interpretar
conteúdos de documentos e textos, permitindo uma interpretação e
compreensão das questões em um nível que supera a leitura comum
(MORAES, 1999).
Spink (1995) sugere que para realizar a interpretação da análise do
comteúdo sejam seguidos os seguintes passos: transcrição da entrevista;
leitura flutuante do material tanto gravado quanto transcrito; definição clara do
objeto de estudo; construção de mapas a partir das categorias encontradas e;
fazer a relação dos elementos cognitivos, afetivos e ações encontradas nestas
associações.
43
Na análise de conteúdo torna-se pertinente destacar operações
importantes para o desenvolvimento do método. São eles:
-Codificação: esta operação corresponde a transformação do material em
uma representação do conteúdo, de forma que ofereça ao analista informações
sobre as características gerais do material, como intuito de fornecer subsídios
para o estabelecimento dos índices e do agregado de unidade.
-Unidade de registro: o analista seleciona o elemento correspondente ao
segmento de conteúdo a ser considerado como unidade de base. Podendo ser
um tema, uma palavra ou uma frase desde que exprima pensamento completo
(RODRIGUES & LEOPARDI, 1999).
-Categorização: refere-se à classificação, agrupamento de dados por
semelhança ou analogia previamente estabelecidos ou definidos.
Por fim, realiza-se a descrição, onde já definidas as categorias e
identificados o material constituinte de cada uma delas, comunica-se o
resultado do trabalho. Vale ressaltar que a descrição representa o primeiro
momento desta comunicação.
3.6 Procedimentos éticos
Este trabalho foi realizado dentro das normas do conselho de Ética e
Pesquisa, ciente de que os procedimentos éticos são de vital importância para
o sucesso da mesma.
Dessa forma, esta pesquisa foi orientada pelas resoluções CNS –
196/96 e CFP 016/2000, procurando respeitar os seguintes itens:
44
* Assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido, por parte
de cada participante, antes de iniciar a coleta de dados;
* Acesso livre dos participantes às informações que foram coletadas,
assim como aos resultados obtidos;
* Respeito em relação à recusa do participante para ser entrevistado;
* Manter o anonimato dos sujeitos entrevistados;
* Garantia de não ocorrência de danos ou prejuízos pela participação na
pesquisa.
Os dados obtidos foram utilizados de forma mais fidedigna possível para
garantir a confiabilidade da pesquisa. Para tanto, tornou-se imprescindível os
seguintes procedimentos:
* Esclarecer aos participantes sobre os procedimentos e métodos
utilizados;
* Extrair as informações necessárias para posterior análise;
* Procurar não induzir os participantes às respostas;
* Estabelecer uma relação profissional pesquisadora/entrevistados.
A devolução das informações obtidas através desse estudo será
realizada junto à instituição onde foram coletados os dados, em data a ser
agendada posterior à banca de defesa da monografia.
45
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Após a realização das entrevistas e leitura exaustiva dos dados obtidos,
foi possível estabelecer um sistema de categorias, englobando os pontos de
convergência entre as respostas dos profissionais de saúde envolvidos na
terapêutica de crianças vítimas de queimaduras. Essas categorias estão
descritas e discutidas a seguir:
Quadro 09: Caracterização das Categorias
CATEGORIA
DEFINIÇÃO
Categoria 01: Experiência no
Esta categoria refere-se à experiência que os
atendimento a crianças vítimas de
profissionais envolvidos nesta pesquisa têm a
queimadura
respeito da terapêutica adotada com crianças
vítimas de queimaduras.
Categoria 02: Primeiro contato com
Esta categoria objetivou identificar como é
a criança queimada
realizado o primeiro contato do profissional
com a criança queimada, assim que a mesma
chega ao hospital.
Categoria 03: Procedimentos com
A presente categoria traz como questão a
maior grau de dificuldade no
opinião dos profissionais de saúde acerca das
atendimento à criança queimada
principais dificuldades encontradas na
realização de procedimentos com crianças
queimadas.
46
Categoria 04: Contribuições da
Esta categoria faz referência à percepção que
família durante o período de
os profissionais da saúde têm a respeito do
internação hospitalar da criança
envolvimento da família no tratamento da
queimada
criança queimada.
Categoria 05: Sentimentos dos
Esta categoria faz alusão aos sentimentos
profissionais da equipe de saúde,
conseqüentes do trabalho realizado com
decorrentes do tratamento às
crianças queimadas.
crianças vítimas de queimaduras
Categoria 06: O Psicólogo na
Esta categoria refere-se à percepção que os
equipe hospitalar que presta
demais profissionais da saúde têm a respeito
assistência à criança queimada
do envolvimento do psicólogo hospitalar na
equipe responsável pela terapêutica da criança
queimada.
Categoria 07: Como o manejo do
Esta categoria menciona a percepção dos
profissional de saúde influencia o
profissionais que se dedicam aos cuidados de
tratamento da criança queimada
crianças queimadas, sobre a influência de suas
atitudes no tratamento das mesmas.
47
Categoria 01: Experiência no atendimento a crianças vítimas de
queimadura
Muitos autores destacam que o trabalho realizado em hospitais requer
que todos os profissionais tenham suficiente experiência clínica e maturidade
que permita enfrentar e tomar difíceis decisões (ROSA & CARLOTTO, s/d).
De acordo com dados obtidos, todos os entrevistados participantes já
haviam experimentado o cuidado profissional com crianças queimadas, como é
possível verificar nas seguintes falas:
“Sim. Olha faz uns seis meses que eu to aqui no
hospital e já passou aí acho que pelo menos pelo
menos uns oito pacientes” (Entrevistado 03)
“Sim, eu to no hospital há um ano e quatro meses
então desde a primeira vez que eu entrei aqui eu já,
nós estávamos atendendo pacientes queimados
né?” (Entrevistado 04)
“[...] todos os pacientes que passaram pelo hospital,
todos os pacientes queimados eu de alguma forma
atendi. Às vezes direta ou indiretamente, mas
atendi” (Entrevistado 06)
Segundo a literatura especializada no assunto, nas entrevistas
realizadas pôde-se perceber que o compromisso de melhorar a vida do
queimado exige atributos fundamentais como dedicação e perseverança na
assistência a ele prestada.
Devido às graves lesões e suas complexidades, o tratamento de
queimaduras tem se constituído um grande desafio para o profissional
envolvido neste trabalho. No entanto, o conhecimento dos problemas
fisiológicos da queimadura, juntamente com o conhecimento dos problemas
psicossociais que estes pacientes enfrentam, mostram-se essenciais para
48
melhorar a qualidade do atendimento e conseqüente satisfação do profissional
(SOUZA; MENDES & SILVA, 1994).
Deste modo, o atendimento a pacientes vítimas de queimaduras não é
uma tarefa simples, especialmente, porque ao mesmo tempo em que os
profissionais envolvidos contribuem para a melhor recuperação da criança,
causam dor e sofrimento à mesma.
Nasio (1997 apud TREVISAN, 2005) dividiu a teoria da dor em três
aspectos: a dor da lesão, da comoção e da reação. De acordo com esse autor,
a dor é resultante de uma dupla percepção: a externa, voltada para a lesão e a
sensação dolorosa e a interna, que se refere ao transtorno psíquico que se
segue.
Assim sendo, os profissionais responsáveis pela terapêutica da criança
queimada devem estar preparados para lidar com a dor do outro, e
compreender que a dor é uma experiência única para cada individuo, pois
depende de diversos fatores que vão além da situação traumática vivenciada.
Portanto, os diferentes tipos de atitude, expressões ou comportamentos
frente à dor, bem como a imagem corporal do paciente apresentada ao
profissional da saúde e percebida pela própria vítima, podem causar dor
dependendo das experiências e crenças de ambos (ROSSI et al, 2000).
Durante o atendimento ao paciente queimado, é essencial que a equipe
crie oportunidades para que o mesmo divida seus medos, anseios e
preocupações com os profissionais que estão envolvidos em seu tratamento.
Paciência e empatia por parte destes profissionais são extremantes relevantes,
uma vez que, toda a situação que está sendo vivenciada pela criança pode
gerar irritabilidade, tristeza, angústia, depressão e revolta, que algumas vezes,
49
pode ser dirigida às pessoas que estão lhe atendendo por estarem mais
próximas e atuantes (FERREIRA, 2006).
Os depoimentos coletados na presente pesquisa confirmam o que a
autora supracitada relata. Um exemplo pode ser constatado abaixo:
“[...]assim, na hora quer agente ta dando o banho a
menina falo, grito pra gente, pra gente que quando saísse
daqui que ia vim aqui também só pra queimar a gente né?
Daí a equipe fico... ããã fico sentida porque a gente tava
fazendo um bem pra ela né?[...]” (Entrevistado 03)
Apesar disso, pôde-se perceber que a equipe tem consciência que a
agressividade do paciente é uma forma de reagir à dor que este está sentindo:
”[...] não são revoltados, mas é a maneira que eles se
defendem né?” (Entrevistado 05)
“[...] eles gritam, choram, esperneiam, mas a gente tem
que entende porque dói muito né? [...]” (Entrevistado 02)
Isso demonstra que embora os pacientes resistam ao tratamento devido
ao grande sofrimento vinculado a ele, a equipe de saúde envolvida nessa
pesquisa é bastante compreensiva em relação às atitudes decorrentes do
trauma vivenciado pela criança. Reações essas que, por sua vez, são
ocasionadas pela própria lesão, dor intensa, longo período de hospitalização e
diversas intervenções reparadoras, as quais passam a ser comum ao paciente
queimado independente de sua idade.
Assim, pode-se afirmar que cuidar do outro faz parte da vida dos
profissionais da saúde, os quais buscam a satisfação e inibição do sofrimento
em função de uma melhor qualidade de vida.
50
Categoria 02: Primeiro contato com a criança queimada
O que se pode perceber através das respostas obtidas, é que este
contato na maioria das vezes é dirigido aos pais ou acompanhantes/cuidadores
da criança, conforme os depoimentos abaixo:
“[...] o primeiro passo a ser realizado é receber eles
na unidade, explicamo todo o processo com a
família... né? [...]” (Entrevistado 03)
“Com a criança eu tenho pouco contato só de ir no
quarto, chamar pelo nome, conversar um
pouquinho...mas meu contato maior são com os
familiares né? A principio quando a família chega
ela chega bem...bem desesperada se sentindo
bastante culpada né?[...]” (Entrevistado 07)
Entretanto, independente da idade, é direito da criança hospitalizada
saber a verdade a respeito do que está acontecendo com ela, pois os
esclarecimentos a respeito dos procedimentos a serem realizados diminuem a
ansiedade, o medo e a angústia do paciente.
É importante destacar, que as marcas da queimadura, não se limitam
somente ao físico, mas também atingem a personalidade e as emoções da
criança. A esse respeito, Rocha (2002), afirma que o primeiro passo para o
tratamento emocional da criança queimada é deixá-la a par de sua
enfermidade, das etapas do tratamento, como evolução desbridamento,
enxertia e prognóstico. De acordo com este autor, quando o paciente
compreende com clareza o que esta acontecendo consigo demonstra maior
controle de seus problemas e emoções.
Barnes e Budd (1999 apud Ferreira, 2006) afirmam que o cuidado do
queimado centrado na família está fundamentado em duas crenças: a primeira
51
é que se o paciente tem acesso às informações a respeito de sua saúde e
hospitalização, poderá participar ativamente do processo de restauração de
sua saúde. Já a segunda crença, afirma ser possível criar um envolvimento de
tratamento na estrutura hospitalar.
Com relação à criança queimada, além de todas as implicações que
uma hospitalização gera, como medo de um lugar desconhecido, afastamento
do lar e da sua rotina, deve-se considerar que variáveis como a dor, debilidade,
dependência, receio de que seu corpo nunca mais volte a ser como antes, bem
como o medo da morte, fazem parte dos conflitos diários desta criança.
Alguns participantes da presente pesquisa referem que o contato com a
criança é mais complexo, pois em sua formação talvez não tenham
experienciado o manejo de instruções verbais a crianças hospitalizadas.
Também é possível inferir os aspectos subjetivos presentes no atendimento ao
paciente pediátrico tais como, nível de desenvolvimento psíquico na ocasião de
internação, grau de apoio familiar, tipo de lesão e atitudes da equipe de saúde.
Pode-se deduzir através das entrevistas realizadas, que a explicação
dos procedimentos é preferencialmente realizada para os pais, pois, a maioria,
dos profissionais acredita que a criança pequena não entende o que está
acontecendo por mais que seja explicado. Isto fica evidenciado com falas como
estas:
“[...] uma pequenininha a gente fala, mas não entende
direito né? Então ali quanto mais rápido se fazer com uma
criança pequena melhor... entendeu? É porque ela não ta
entendendo o porque... por mais que você explique ela
não entende [...]” (Entrevistado 11)
52
“[...] na verdade por mais que a gente tente com o
paciente queimado é difícil você dizer ahhh eu fiz tudo
isso e foi melhor [...]” (Entrevistado 09)
Entretanto, é de suma importância que os profissionais reconheçam a
capacidade que a criança tem de observação e percepção de tudo o que
ocorre ao seu redor e em seu mundo interior. Além disso, a criança
hospitalizada tende a criar fantasias as quais podem gerar crises intensas de
ansiedade e dificultar a recuperação (BALDINI & KREBS, 1999).
Frente a isso, e considerando também o estresse e a culpa vivenciada
pela família do queimado, percebe-se a necessidade de ampliar a integração e
a interação entre equipe, paciente e família, a fim de que estas questões sejam
trabalhadas no decorrer das fases de admissão, recuperação e reabilitação da
criança queimada.
Categoria 03: Procedimentos com maior grau de dificuldade no
atendimento à criança queimada
Segundo os participantes da presente pesquisa, o desbridamento
mecânico foi apontado como procedimento mais difícil a ser realizado. Todos
os profissionais envolvidos com a terapêutica de crianças vítimas de
queimaduras apontaram este momento como o mais doloroso para o paciente
portador de queimadura:
“[...] o desbridamento mecânico sem sombra de
dúvidas [...] esse com certeza é o procedimento
mais difícil [...] a gente coloca...enche a banheira
coloca a clorixidina deixa a criança de molho um
pouquinho como a gente diz, assim que amolece o
tecido né? [...] Então a gente pega a toalha, uma
toalha específica né? meio felpuda com a clorixidina
coloca ali e vamos fazer movimentos circulares um
poucos mais... com uma, uma certa força mecânica
53
né? [...] e retira manualmente o que a gente chama
de desbridamento mecânico, manualmente todas
essas...todas essas peles mortas né? Peles e
crostas... pra quem não conhece é cruel ver né?
Mas pra quem sabe a evolução disso é sem sombra
de dúvidas um mecanismo importante a ser feito”
(Entrevistado 04)
“O procedimento mais difícil são... com o passar do
tempo às vezes vai criando crosta né? E daí a gente
tem que tirar pelo desbridamento [...] através do
banho daí à medida que a gente vai dando banho
vai esfregando, que é pra saí toda aquela pele
necrosada, a pele que tá morta” (Entrevistado 03)
“o mais difícil mesmo é o banho mesmo porque é a
hora que eles sabem que a gente vai esfregar, que
a gente vai tirar aquela carne morta deles[...]”
(Entrevistado 05)
ARTZ et al (1980) afirmam que a dor da queimadura está comumente
relacionada com atividades especificas como, desbridamento, fisioterapia, troca
de curativos, limpeza das feridas etc.
Segundo Cantinho, Santos e Silva (2004), a limpeza da ferida é
essencial para a evolução do paciente. Todavia, a analgesia superficial não é o
bastante, pois a dor provocada por tal procedimento ultrapassa o limite
tolerável.
Para estes autores, a realização dos cuidados com pacientes
queimados exige analgésicos fortes, não importando a idade.
A dor associada a estes procedimentos é vivenciada dia-a-dia e, embora
muitas vezes possa parecer unicamente física, quando as crianças vêem
algum profissional se aproximando ou são simplesmente tocadas por estes,
expressam dor intensa e incontrolável. Essa experiência é relatada por alguns
participantes:
54
“Tivemos um caso aqui que quando a gente entrava
no quarto ele já entrava de baixo na cama né? De
tão medo ele já sabia que lá... se a gente tava indo
lá vinha o banho [...]” (Entrevistado 03)
“[...] eu entro no quarto do queimado... eu só entro e
eles já gritam quando eles já sabem quem é sabe?
Eles já começam... se tem três (pacientes), três
chorarem ao mesmo tempo [...]” (Entrevistado 02)
“[...] às vezes só de eu entrar no quarto eu já tenho
dificuldade de me aproximar dele e de trabalhar com
ele porque às vezes eu nem toquei nele ainda, mas
ele já ta gritando, já ta negando [...]” (Entrevistado
09)
Diversos autores afirmam que durante a internação hospitalar, as
crianças queimadas podem se tornar extremamente receosas, principalmente
em relação aos procedimentos realizados, o que poderá resultar em forte
ansiedade mediante a antecipação e expectativa da ocorrência dos mesmos
(BICHO & PIRES, 2002).
Segundo Firmino (1995), durante o banho os pacientes queimados são
acometidos por pensamentos de que estão sendo agredidos, torturados,
castigados etc, reagindo de maneira mais agressiva e desesperadora,
dificultando assim o trabalho da equipe que fará o curativo.
Aliado a isso, no banho, o paciente queimado relembra psiquicamente o
trauma ocorrido, tanto no que diz respeito ao sofrimento pela internação,
quanto à causa da queimadura (FERREIRA, 2006).
Como referido anteriormente, lidar com a dor para os profissionais
envolvidos na terapêutica da criança queimada é estressante, pois envolve
procedimentos dolorosos os quais se traduzem em missões que devem ser
cumpridas, mesmo que estas causem angústia e sofrimento.
55
Para os participantes da pesquisa o maior grau de dificuldade na
execução de procedimentos junto a pacientes pediátricos vítimas de
queimaduras, foi o procedimento de desbridamento mecânico durante o banho.
É possível inferir que durante esse processo os profissionais necessitem
submeter os pacientes a um procedimento cuja dor seja extrema, o que por sua
vez também lhes cause dor. Além disso, foi sinalizado que a própria criança
queimada, assim como seus familiares e cuidadores vivenciam o impacto
desse processo. Talvez esse seja um momento em que o profissional sinta-se
exposto a uma carga emocional mais intensa.
Nesse sentido, pode-se dizer que a dor é sentida e deve ser suportada
tanto pelos profissionais que cuidam, quanto pelos pacientes e familiares, os
quais são de uma forma ou de outra, submetidos a ela diariamente.
Dejours (1992 apud TREVISAN, 2005), aponta que para enfrentar essas
dificuldades, bem como amenizar ansiedade, culpa e tantos outros sentimentos
decorrentes da complexa relação entre paciente – equipe de saúde, é
necessário que o profissional utilize estratégias de enfrentamento em grupo ou
individualmente.
Esta questão torna-se importante à medida que o aspecto emocional do
profissional da saúde pode vir a interferir significativamente no cotidiano de seu
trabalho, levando ao desgaste geral do organismo e, conseqüentemente,
provocando estresse (MARTINO & MISKO, 2004).
Corroborando com esta idéia, Rosa e Carlotto (s/d) asseguram que o
trabalhador que atua em uma instituição hospitalar encontra-se exposto a
inúmeros estressores ocupacionais, os quais afetam diretamente seu bem
estar. Dentre eles, as autoras destacam: longas jornadas de trabalho, número
56
insuficiente de profissionais, falta de reconhecimento profissional, assim como,
constante contato com sofrimento, dor e algumas vezes a morte. Sendo assim,
o desempenho destes profissionais envolve uma série de atividades que
necessariamente exigem maior controle mental e emocional.
Enfim, com a análise desta categoria pode-se perceber que apesar dos
procedimentos em relação à terapêutica do paciente queimado estarem
melhorando e gradativamente tornando-se mais eficazes; a evolução da
queimadura ainda se caracteriza como complexa e imprevisível, exigindo
cuidados dolorosos, difíceis tanto para quem recebe, como para quem os
realiza.
Categoria 04: Contribuições da família durante o período de
internação hospitalar da criança queimada
Durante o presente estudo foi possível perceber que a família é
compreendida como uma instância fundamental na mediação e no ajustamento
da criança ao trauma da lesão, conseqüente hospitalização e posterior fase de
recuperação. Os participantes evidenciaram este aspecto através das
seguintes falas:
“Acho que a família é à base de tudo né? O suporte
psicológico que a família dá transmitindo segurança
né? [...] é impressionante o quanto o diálogo com os
pais é imprescindível na recuperação [...]”
(Entrevistado 03)
“[...] é essencial estar... ou a família ou alguém que
tenha paciência e que consiga ajudar ele (o paciente
queimado). Muitas vezes... em algumas vezes a
mãe ajuda até no procedimento mesmo [...] eu acho
que mesmo no procedimento quando a mãe pode
ajudar a... e criança aceita em alguns casos é
essencial” (Entrevistado 09)
57
“[...] a família é fundamental, a criança que tem o
suporte da família possui melhor aceitação do
tratamento e conseqüentemente uma melhor
recuperação [...]” (Entrevistado 10)
De acordo com a análise das respostas fornecidas pelos profissionais
participantes, destaca-se a presença dos pais na hospitalização, a fim de
minimizar o sofrimento da criança fornecendo-lhe suporte emocional nas
circunstâncias vivenciadas durante o tratamento, bem como, transmitindo-lhe
sensação de proteção e segurança. Também é sinalizado nessa pesquisa, que
o cuidador, por representar alguém cuja referência é familiar para a criança,
pode realizar alguns cuidados com uma maior colaboração do paciente,
auxiliando a equipe.
O familiar que acompanha a pessoa queimada durante a internação, se
for devidamente instruído, será um facilitador da implementação dos
procedimentos terapêuticos necessários, como banho, higiene corporal, troca
de curativos, interação psicoemocional e atividades reabilitadoras tanto fora
como dentro do contexto hospitalar (GOYATÁ: ROSSI & DALRI, 2006).
A importância do envolvimento dos pais como participantes ativos nos
cuidados da criança, mostra-se fundamental, pois a possibilidade de
acompanhamento por um familiar contribui para uma significativa mudança da
experiência de hospitalização e tratamento (BICHO & PIRES, 2002).
Gordon (1980) assegura que a falta de orientação adequada e continua
às famílias, para que as mesmas sejam instrumentos que influenciem de
maneira positiva o tratamento físico, mental e social das vítimas de
queimaduras, acarreta no aumento de suas ansiedades, tornando-se um ponto
negativo para o manejo do paciente.
58
Pode-se observar que na presente pesquisa, alguns participantes
também apontam dificuldades em trabalhar com a família da criança queimada:
“[...] algumas dificuldades é que às vezes tem
famílias que não sei se eu chamo difíceis... são
assim famílias que não aceitam as orientações né?
Então pessoas difíceis de aceitar as orientações...
que a gente sabe que é o melhor...aquela coisa da
alimentação...de ir contra as regras do hospital e
passar alimento escondido... que isso vai atrapalhar
no tratamento da criança... é dificuldade as vezes
porque quando a criança adoece a família inteira vai
mostrar suas doenças pra gente também né? Então
o que a gente tem, também são famílias em que pai
e mãe já brigam sempre e quando a criança
adoeceu, um joga a culpa no outro né? Então
começa como se fosse uma guerra entre pai e mãe
né?[...]” (Entrevistado 07)
“[...] na hora do banho de preferência que eles
(familiares) saem né? Porque na verdade não é fácil
pra eles tá vendo... porque a criança também sofre
um pouco, eles gritam, eles choram, sangra
bastante... eles perdem bastante sangue né? E
apavora a família [...] então às vezes eles podem
pensá que a gente tá machucando [...]”
(Entrevistado 03)
“[...] tem casos as vezes que a gente tem que
separar briga de pai, mãe e de criança,
entendeu?[...]” (Entrevistado 05)
Nas experiências dos participantes, aspectos da relação pré-existente
entre os pais da criança queimada bem como o desconhecimento dos
procedimentos que serão realizados com as crianças representa fatores de
interferência na adaptação à hospitalização. Bowden e Feller (1973 apud
FERREIRA, 2006), afirmam que os membros da família costumam apresentar
três respostas frente ao estresse da queimadura: a indecisão, a intensificação
59
dos conflitos pré-existentes e o sentimento de culpa. Segundo estes autores,
tais reações afetam a adaptação hospitalar e conseqüentemente, a reabilitação
do paciente.
Para tanto, mostra-se necessário o suporte à família, a fim de prosseguir
o tratamento e a recuperação da criança, uma vez que a hospitalização
decorrente de uma queimadura é prolongada e pode resultar em estresse para
ambos.
Outro fato que evidencia a importância dos pais no processo terapêutico
da criança vítima de queimadura, é que durante este período, a mesma pode
experimentar sensações de abandono, medo e tristeza devido a sua fragilidade
emocional.
Nesse sentido, a família proporciona à criança internada um ambiente
protetor, facilitando o enfrentamento do trauma, reduzindo as tensões e
propiciando uma melhor qualidade de vida (CARVALHO, 2006).
Diante
das
mudanças
significativas
decorrentes
do
trauma
da
queimadura e da hospitalização, Hart (1979 apud CARVALHO, 2006), propõe
que a aproximação entre pais e equipe de saúde, bem com a aceitação dos
pais no ambiente hospitalar para dividir os cuidados de seu filho, podem
ocorrer em cinco estágios: rejeição dos pais por parte da equipe, o que resulta
em um acesso mínimo da família à criança; aceitação dos pais como visitantes
diários, porém com tempo limitado; aceitação dos pais por tempo maior com
permissão para que estes ajudem em determinados cuidados como
alimentação e higiene; admissão “residencial” dos pais, para que continuem na
função de cuidar o máximo possível de seus filhos; aceitação dos pais como
60
“residentes” da equipe, capazes de fazerem parte dos tratamentos médicos e
de enfermagem após estarem devidamente habilitados.
Na presente pesquisa, de acordo com relatos obtidos, todas as crianças
internadas na Unidade de Queimados têm direito ao acompanhamento integral
de um dos pais, sendo que a participação ativa dos cuidadores no processo de
recuperação do paciente é considerada um fator determinante no resultado da
terapêutica. Contudo, o grau de envolvimento no tratamento da criança fica a
critério dos progenitores, como é possível verificar no relato abaixo:
“[...] a gente teve um menininho internado que a mãe
ajudava muito. Eu não podia tocar nele que ele gritava,
mas a mãe não [...] daí eu orientava a mãe e a mãe ma
ajudava bastante. Eu acho que mesmo no procedimento
quando a mãe pode ajudar a e criança aceita em alguns
casos é essencial” (Entrevistado 09)
Dessa forma, compreender a dinâmica familiar sobre o impacto da
queimadura e processo de hospitalização, torna-se imprescindível na medida
em que permite a equipe de saúde entender muitos comportamentos que a
princípio parecem ser contraproducentes ao tratamento, além de facilitar à
equipe o planejamento de intervenções adequadas, as quais visam apoio aos
familiares.
Categoria 05: Sentimentos dos profissionais da equipe de saúde,
decorrentes do tratamento às crianças vítimas de queimaduras
Participar dos cuidados de uma criança que sofreu lesões por
queimadura, remete a diversos sentimentos que vão desde o sofrimento até a
satisfação. Em relação a isso, os profissionais da saúde participantes desta
61
pesquisa foram questionados a respeito dos sentimentos que surgem durante o
trabalho com estas crianças. Algumas dessas respostas expressam os
sentimentos da equipe que presta assistência a crianças queimadas:
“[...] impotência porque eles pedem pra pará e não
dá [...] depois quando eles vão embora e a gente vê
o resultado do nosso trabalho, dá uma alegria [...]”
(Entrevistado 01)
“Quando eles chegam queimados, que dá o
sentimento da pena... e na hora do banho né? Que
dá esse sentimento, assim... E daí o que mais a
gente fica alegre é quando nosso trabalho foi
concluído... que é a hora que eles ganham alta
né?[...] (Entrevistado 05)
“[...] às vezes alguns (sentimentos) de raiva porque
às vezes a gente vê que é um acidente, que a
criança tá sofrendo tanto... que a gente pensa: como
é que não viram aquilo né? Mas isso aí é muito
momentâneo né? [...] quando vê a dor do outro
muito grande... a gente fica... né? Meio que
revoltado né? E é doloroso... dá tristeza... tristeza
por ver a própria criança [...]” (Entrevistado 07)
Os depoimentos dos participantes refletem que o tratamento de
queimaduras envolve dois lados: a satisfação em proporcionar alívio ao
sofrimento do outro; poder ajudar na recuperação e perceber que o trabalho
está sendo bem realizado; e do outro lado o sentimento de limitação imposto
pelos procedimentos que necessitam (grifo meu) ser realizados em detrimento
da dor que acarretam, além da gravidade das condições em que se encontra o
paciente.
Segundo Ferreira (2006), a trajetória da vida humana dá-se na busca da
satisfação e da inibição do sofrimento, em virtude de uma melhor qualidade de
62
vida. Para a autora, a queimadura causa um rompimento nessa procura, e o
sofrimento torna-se presente tanto na criança quanto na equipe envolvida.
A esse respeito Campos (2005) afirma que lidar com o sofrimento do
outro implica numa identificação com a pessoa que sofre e, muitas vezes, em
sofrer junto com ela e até mesmo reviver momentos pessoais de sofrimento.
Um dos participantes expressa genuinamente este sentimento em uma
de suas falas:
“[...] eu fui queimada uma vez quando fui pequena
[...] e é horrível [...] acho que das dores, acho que é
a pior”. (Entrevistado 08)
Desta forma, os profissionais de saúde, tanto quanto os pacientes e
familiares, necessitam de apoio e suporte, já que não existe um “cuidador
absoluto”, todos necessitam de reciprocidade, de cuidados, de acolhimento e
proteção.
De acordo com as respostas fornecidas nesta pesquisa, fica evidente
que o sofrimento do profissional está estreitamente ligado à intensidade do
sofrimento da criança. Pode-se deduzir que isto se deve ao fato da equipe de
saúde participar ativamente de todo o processo que envolve dor em uma
unidade de queimados.
Por outro lado, percebeu-se que a equipe aprecia exercer a prática de
cuidado dedicado ao outro, pois de acordo com os participantes, os
procedimentos geram condições de melhora tanto para a criança como para a
família.
63
“[...] dói na gente também, mas é tudo pra melhora deles
[...] depois quando eles vão embora a gente vê eles
passando no corredor já bom [...] da uma sensação de
dever cumprido [...]”. (Entrevistado 10).
Portanto, conclui-se que a dedicação à criança queimada faz parte do
cotidiano desses profissionais e um mesmo procedimento como, por exemplo,
o banho, pode determinar sentimentos contraditórios para o responsável pela
conduta terapêutica do queimado. Uma vez que, ao mesmo tempo gera
angústia ao trabalhador por este ser um agente potencializador do sofrimento
alheio, e também possibilita a recuperação da pele e, por conseguinte, da
criança.
Categoria 06: O Psicólogo na equipe hospitalar que presta
assistência à criança queimada
De acordo com as respostas obtidas na coleta de dados, identificou-se
que os participantes da pesquisa referem que o profissional da psicologia atua
na tríade paciente-família-equipe de saúde, prestando assistência tanto direta
quando indireta a estes.
“[...] a gente sempre conta com o trabalho deles
(psicólogos) pra poder tá interagindo com os pais
[...] o estresse leva a milhões de fatores
desencadeantes (de dificuldades) e a psicologia
precisa estar junto com a gente o tempo todo, pra tá
não só acalmando esse familiar, orientando [...],
mas sim sensibilizando a importância da internação
pro familiar e criança” (Entrevistado 04)
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“Eu acho que é importantíssima (a presença do
psicólogo) né? [...] porque tem que ter todo um
suporte psicológico, não só pra criança, mas pra
família principalmente... porque pra gente dói ver a
criança toda queimada né?[...] equipe também...
imagina pras meninas que tem que botar a criança
na banheira e esperneando, tem que dar banho ,
tem que é... trabalhar com todo aquele efeito da
dolantina né? que as vezes a criança sai meio que
fora do ar e tal [...]” (Entrevistado 06)
“Eu acho que (a presença do psicólogo) é de
extrema importância num ambiente hospitalar tanto
pros pacientes, como pros acompanhantes e até
mesmo pra nós os profissionais que trabalhamos
junto com eles [...]” (Entrevistado 09)
“[...] o acompanhamento psicológico é essencial no
tratamento da criança queimada, não só pra ela
como pra todos envolvidos, a final o trauma da
queimadura é vivenciado também pela família e
equipe de saúde [...]” (Entrevistado 10)
A esse respeito, Chiattone (2000) destaca que o psicólogo no hospital,
depara-se com situações diversas devido à multiplicidade de solicitações. Com
o paciente, a atuação deste profissional volta-se para a questão da
minimização do sofrimento causado tanto pela hospitalização como pelo
trauma sofrido.
Guimarães (1999) ressalta que para os efeitos de uma avaliação e
intervenção psicológica com a família, é necessário conhecer o funcionamento
da mesma, os papéis que cada membro desempenha, bem como a natureza
das relações pré-existentes e as mudanças que surgem associadas ao
aparecimento e evolução da doença.
Neste âmbito, o psicólogo presta assistência direta fornecendo
informações e orientações de como os pais e cuidadores podem lidar com o
familiar doente, esclarecendo a eles o que o paciente está vivenciando,
65
auxiliando-os a compreender o que ocorre e os incentivado a participar
ativamente do tratamento de seus filhos.
Já no que diz respeito ao atendimento à equipe de saúde, o psicólogo
terá como meta orientar os profissionais para a necessidade de conhecer as
atividades dos outros membros da equipe (SANTOS & SEBASTIANI, 1996).
O trabalho em equipe fornece conhecimentos, auxilia a dividir a
ansiedade e favorece o surgimento de soluções. Além disso, o psicólogo pode
atuar prestando assistência psicológica tanto individualmente como em grupo,
escutando e fornecendo orientações em momentos de sofrimento dos demais
profissionais da equipe de saúde.
Barros (2003), afirma que em casos de procedimentos mais dolorosos,
crianças que se apresentam particularmente sensibilizadas à dor, famílias que
são incapazes de lidar com o sofrimento do filho e em situações de internação
prolongadas a presença do psicólogo é adequada. Este por sua vez, deve fazer
uma análise da situação para compreender quais são os maiores medos e
ansiedades, realizando uma intervenção a partir das capacidades que a criança
demonstra para significar a situação e confronta-la adequadamente.
Adcock, Boeve e Patterson (1998 apud CARVALHO, 2006), categorizam
três fases no tratamento psicológico do paciente queimado:
Fase aguda: corresponde ao inicio do tratamento até a completa
ressuscitação do paciente. Durante esta fase a maior aflição psicológica
corresponde à preocupação com a sobrevivência, e são sintomas comuns o
delírio, diminuição do nível de consciência, alteração sensório-motor e na
atenção, agitação psicomotora (ou retardo), alteração na memória, ruptura do
ciclo sono/vigília e labilidade emocional. Aliado a isto, o paciente apresenta
66
capacidade limitada para processar novas informações, porém, isso pode ser
amenizado com a presença de familiares e amigos.
Fase Subaguda: considerada a etapa mais difícil do tratamento, pois
é nesta fase que o paciente começa a conviver de fato com a lesão e com suas
conseqüências. As principais inquietações psicológicas incluem tristeza
profunda, ansiedade generalizada e estresse, assim como, alterações no sono,
pesadelos e regressão do comportamento. Além disso, os procedimentos
invasivos e dolorosos associados ao sentimento de solidão propiciam maior
dificuldade na vivencia do paciente.
Fase Crônica: começa com o término da hospitalização e com o inicio
do desafio de se reintegrar a sociedade, por isso possui ênfase na reabilitação,
recuperação das funções e da aparência, bem como, a retomada das
atividades diárias. Os problemas mais comuns enfrentados nesta fase são a
ansiedade e a depressão. Entretanto, o paciente pode encontrar nos amigos e
na família suporte para recuperar sua auto-estima e qualidade de vida.
Borges e Carvalho (2004) referem que a abordagem psicológica à
criança queimada deve estar associada a uma série de cuidados fundamentais
ao tratamento de queimaduras; entretanto
deve-se despertar o familiar para
olhar a criança além do físico, vendo a riqueza e a beleza interior de seus
filhos, para que estes, por sua vez, consigam ver a imagem de sua alma
refletida nos olhos de seus pais e assim possam voltar a se ver como um ser
único, belo e insubstituível.
Assim, após análise das respostas obtidas, observa-se que os
profissionais da equipe de saúde da unidade de queimados da instituição
pesquisada, consideram a intervenção psicológica tanto com os pacientes
67
como com os familiares e profissionais, uma possibilidade que permite a
expressão de seus sentimentos, angústias e medos, bem como, suas
expectativas em relação à terapêutica e planos futuros. Aliado a isto, os
participantes vêem no psicólogo uma possibilidade de abertura para que os
demais profissionais da equipe possam aliviar o estresse vivenciado.
Categoria 07: Como o manejo do profissional de saúde influencia
o tratamento da criança queimada
Segundo literatura especializada, a maneira como a equipe de saúde se
apresenta
e
se
porta
frente
à
criança
queimada
irá
influenciar
significativamente na adesão que mesma terá ao tratamento.
Para Souza; Mendes e Silva (1994), a responsabilidade de melhorar a
vida de um queimado parte do pressuposto de que as queimaduras podem
ocorrer em segundos, porém deixam seqüelas para a vida inteira. Daí a
importância de atitudes adequadas frente esse paciente.
É necessário tratá-lo como um ser único, com características distintas
devido à situação a qual está passando, ajudando o queimado e a família
adaptarem-se ao estresse psicológico do trauma vivenciado.
Nessa perspectiva, devemos considerar a boa interação da equipe, o
equilíbrio emocional tanto individual quanto grupal, como instrumentos
imprescindíveis nas situações de emergência, pois os profissionais de saúde,
“emprestam”, mesmo que por um curto espaço de tempo, esse equilíbrio ao
paciente e a família, para que estes possam se reorganizar e superar o
momento de crise (SEBASTIANI, 1998).
68
Com os dados obtidos na presente pesquisa, pôde-se perceber que os
profissionais envolvidos nos cuidados às crianças vítimas de queimaduras,
procuram proporcionar ao paciente uma adaptação menos agressiva ao trauma
e ao tratamento.
“[...] não dá pra se deixar levar pelo impacto da
queimadura, porque a criança percebe e isso dificulta a
aproximação [...]” (Entrevistado 02)
“[...] a gente conversa com a criança... tipo hoje ele não
consegue, por exemplo, mexer o braço, mas amanhã aos
poucos ele vai conseguir [...] e quando ele sair daqui ele
já vai ta conseguindo mexer esse braço e assim vai indo
[...]” (Entrevistado 05)
“[...] em tudo a criança precisa de apoio [...] ela tem que
ter confiança na gente [...] primeiro a gente tem que tentar
fazer ela se achegar (riso) [...]” (Entrevista 08)
“[...] a capacidade de percepção da criança é muito
grande [...] sem dúvida a maneira com que o profissional
se dirige a ela irá influenciar na forma dela se relacionar
com ele, o que pode ajudar ou prejudicar a terapêutica
[...]” (Entrevistado 10)
Além disso, nota-se a preocupação que os profissionais apresentam em
confortar a família, conforme os depoimentos abaixo:
“[...] mais talvez para os pais porque é questão assim de
saber que o filho ta sendo atendido, saber que ta sendo
perguntado o que ele quer o que ele não quer, o que ele
gosta o que ele não gosta né? Eu acho que tem essa
questão psicológica mesmo né? De saber que o filho ta
sendo cuidado e acolhido [...]” (Entrevistado 06)
“[...] com a família acredito que influencia bastante [...] é
aquela coisa do conforto também [...] tem muitas que às
vezes querem uma palavra, quer conversar [...]”
(Entrevistado 07)
69
O impacto do trauma pela queimadura e pela hospitalização sobre os
pais de crianças que sofreram queimaduras, pode desencadear sentimentos de
raiva, culpa, desamparo, medo, sentimento de incapacidade de cuidar do filho
etc. Diante dessa situação, é natural que os pais sintam necessidade de
informação contínua sobre o estado do paciente.
A equipe de saúde entrevistada demonstrou preocupação em esclarecer
aos pais, que seus filhos estão sendo bem cuidados, oferecendo-lhes conforto
e demonstrando interesse na assistência às suas necessidades pessoais.
Aliado a isso, está a percepção de que a família é a maior fonte de apoio
social, que auxilia o processo de reabilitação do paciente queimado.
Colaborando com esta análise, na literatura especializada, encontram-se
formas de apoio e intervenção oferecidas pela equipe à família, a fim de
minimizar o impacto causado pela queimadura e conseqüente hospitalização.
Dentre elas pode-se citar: a intensificação do acolhimento, favorecendo a
expressão ou reconhecimento dos sentimentos e assistência às necessidades
básicas; o restabelecimento da confiança, através da disponibilidade em
fornecer informações sobre o paciente; o encorajamento da família, pouco a
pouco, para assumir o cuidado ao paciente; a promoção de momentos de
discussão de sentimentos e dificuldades vivenciadas durante a hospitalização,
além da orientação os pais à prevenção de acidentes (VERITY, 1995;
WATKINS et al, 1996 apud CARVALHO, 2006).
A respeito das atitudes dos profissionais da saúde frente à criança,
observa-se que as respostas dos participantes da presente pesquisa
enquadram-se ao que Muchielli (1978 apud Ferreira, 2006) denomina de
70
“resposta
de
suporte”,
ou
seja,
objetiva
dar
apoio,
encorajamento,
compreensão e consolo ao paciente.
No entanto, este tipo de resposta tende a induzir o paciente à
dependência, ou pode suscitar uma recusa hostil do mesmo, ao perceber que é
tratado com essa postura. Por conseguinte, o paciente recebe alta sem
estrutura psicológica para lidar sozinho com as dificuldades reais que
enfrentará no seu meio social (FERREIRA, 2006).
A mesma autora enfatiza que, muitas vezes, os responsáveis pelo
tratamento da criança utilizam expressões como “ficou bom” ou “está bonito”,
sem perceber que aos olhos do paciente, cuja referência é a sua aparência
antes do acidente, o “estar bonito” seria voltar a ser como antes da
queimadura. Por isso, alguns conceitos técnicos, principalmente em relação à
estética, acabam se tornando contraditórios na visão de quem sofreu a
queimadura.
Neste contexto, Rocha (2002) salienta a importância de utilizar o
exemplo de outro paciente já tratado, para que o paciente possa discutir suas
dúvidas com alguém que já passou pela mesma experiência. De acordo com a
autora, para o paciente que está vivenciando o trauma da queimadura, ver
outra pessoa que esteve queimada e agora encontra-se curada ou em fase de
recuperação, é a prova de que existe “luz no fim do túnel”.
Sendo assim, com a análise dos dados obtidos e através da literatura
especializada consultada, conclui-se que a postura do profissional envolvido na
terapêutica do queimado deve, sobretudo, estar voltada para a pessoa do
paciente (grifo meu) e não para a queimadura. Isto se torna fundamental para
manter uma intervenção profissional a qual indique ao paciente que ele é
71
respeitado enquanto indivíduo e que será feito o que for preciso para fornecer
subsídios que favoreçam sua reabilitação.
72
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da literatura especializada no assunto, observou-se a difícil
realidade e sofrimento no processo de reabilitação do paciente queimado, bem
como, com a árdua tarefa que os profissionais de saúde envolvidos neste
tratamento enfrentam a fim de garantir o bem estar do paciente.
Frente a isso, a presente pesquisa objetivou investigar como os
profissionais da equipe de saúde hospitalar de um hospital pediátrico localizado
em uma cidade do Vale do Itajaí (SC), reagem ao tratamento da queimadura
em crianças. No processo de cuidar a criança queimada, a interação da equipe
com essa criança, constitui momentos de sofrimento e satisfação. Isso porque,
quando o profissional participa do tratamento do queimado ele passa a ser um
agente causador da dor, o que lhe causa angústia e preocupação. Entretanto, a
equipe responsável por esta terapêutica tem consciência de que são
exatamente esses cuidados que possibilitará a criança queimada uma eficaz
recuperação, proporcionando assim, momentos de satisfação a estes
profissionais.
Além disso, objetivou identificar como ocorre a abordagem inicial do
paciente, com os profissionais que realizam procedimentos com as crianças
queimadas, e verificou-se que os mesmos apresentam dificuldade em explicar
os procedimentos do tratamento para as crianças, muitas vezes por acharem
que a criança não entende o que esta acontecendo, vinculando este processo
de comunicação com os adultos responsáveis.
Entre os objetivos também se buscou descrever quais os procedimentos
mais difíceis de executar frente a pacientes infantis queimados, manifestado
73
pelos respondentes como sendo o desbridamento.
Apesar de esse
procedimento estimular a recuperação da criança, proporciona a mesma muita
dor, o que sensibiliza toda a equipe, intensificando o sofrimento dos
profissionais e da família. Assim, a realização deste cuidado representa um
momento de muita angústia e ansiedade para todos envolvidos.
A influência do comportamento do profissional durante o tratamento da
criança, segundo a percepção da equipe de saúde, representou outro ponto de
investigação, que revelou que os participantes reconhecem a importância de
um comportamento frente à criança, o qual proporcione a mesma uma
adaptação menos agressiva ao trauma vivenciado. Desta forma, os
profissionais procuram oferecer tanto ao paciente como para os familiares
conforto e interesse na assistência às suas necessidades pessoais.
Conhecer qual a contribuição da família no tratamento de crianças
queimadas, de acordo com o ponto de vista da equipe de saúde, permitiu
observar que quando a família tem adesão ao tratamento e compreende a
importância
dos
procedimentos
adotados,
se
torna
facilitadora
da
implementação da terapêutica, sendo considerada um fator determinante na
recuperação da criança.
A percepção que os demais profissionais envolvidos no tratamento de
crianças queimadas têm a respeito da participação do psicólogo na equipe,
também representou um dos objetivos propostos pelo presente estudo. A esse
respeito, os participantes sinalizaram a importância da intervenção psicológica
com
a criança, família e própria equipe. De acordo com as entrevistas, a
presença deste profissional possibilita a expressão dos sentimentos, angústias
e medos, além de ser uma forma de aliviar o estresse vivenciado pelo trauma
74
da queimadura.
O trabalho desempenhado por uma equipe que presta assistência
hospitalar é permeado de sentimentos variados. Observou-se que entre os
sentimentos decorrentes do trabalho dos participantes da pesquisa com
pacientes infantis vítimas de queimaduras, encontra-se raiva, sofrimento,
angústia, estresse, pena, satisfação, prazer, impotência etc. Pôde-se inferir que
apesar dos cuidados do paciente queimado causar estresse e sofrimento nos
envolvidos em sua terapêutica, ele proporciona aos profissionais a satisfação
de perceberem que o trabalho o qual estão realizando é essencial para a
reabilitação da criança queimada.
A partir deste estudo concluiu-se que apesar do progresso obtido nos
últimos anos no tratamento de queimaduras, elas ainda correspondem uma
importante causa de mortalidade e morbidade. Além disso, causam
significativas seqüelas físicas e psicossociais, as quais geram ao paciente um
grande sofrimento a ser superado.
No Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Queimaduras
(2000), ocorrem cerca de um milhão de acidentes envolvendo queimadura a
cada ano. É possível associar isto às precárias condições de moradia, que
representam uma realidade enfrentada pela maioria dos brasileiros, além das
péssimas condições dos utensílios domésticos que favorecerem os acidentes.
Nesse sentindo, as crianças formam um importante grupo de risco, uma vez
que, ao exercer seu papel natural de explorar o ambiente, acabam se tornando
as maiores vítimas.
Daí, a importância da implementação de estratégias preventivas,
orientando as crianças desde cedo a evitar situações de risco para
75
queimaduras no ambiente doméstico, além de campanhas preventivas gerais
voltadas a toda população.
Partindo de reflexões sobre a condição de estar queimado e toda a
terapêutica necessária para uma melhor reabilitação do indivíduo a sociedade,
foi possível compreender a complexa dinâmica de sentimentos e relações
envolvendo o paciente, família e equipe de saúde. Isto porque, o trauma da
queimadura não atinge somente a pessoa que sofreu a lesão, pois o equilíbrio
emocional da família fica igualmente abalado, dificultando o trabalho da equipe
de saúde que se aflige ao ver o sentimento de culpa da família.
Nesse sentido, o psicólogo aparece como um facilitador da interação
desta tríade (criança – família – equipe de saúde), buscando construir e
proporcionar ações que possam promover qualidade de vida e saúde a todas
as pessoas que são afetadas pela vivencia traumática da queimadura.
O processo de cuidar da criança queimada envolve situações de
sofrimento e satisfação ao profissional. Sofrimento vivido em alguns momentos,
como no banho (procedimento considerado um dos mais dolorosos), causando
dor e angústia na criança e satisfação ao saber que o que está sendo realizado
certamente acarretará em uma boa recuperação.
Enfim, são sentimentos ambíguos (grifo meu), decorrentes de um
trabalho em equipe, que possui como principal objetivo melhorar a qualidade
de vida das vítimas de queimaduras, favorecendo a reabilitação para uma vida
social digna, a que todo ser humano tem direito.
“Nada é tão puro e tão honesto quanto à dor e o prazer.”
Rubem Alves (1993)
76
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80
8 APÊNDICES
81
Apêndice 1
CARTA DE ACEITE DA INSTITUIÇÃO
O Hospital Infantil, situado na cidade de Itajaí, Santa Catarina, está
ciente da pesquisa intitulada: Reações da Equipe de Saúde ao tratamento de
crianças hospitalizadas vítimas de queimaduras, da aluna Caroline Baccin
Testa, regularmente matriculada no curso de Psicologia da UNIVALI-Campus
Itajaí e sob a orientação da Profª. MSc. Marina Menezes.
Na presente pesquisa serão utilizadas entrevistas a fim de investigar
como os profissionais da saúde reagem ao tratamento da queimadura em
crianças, bem comoidentificar a percepção que estes têm a respeito da
influencia da sua participação no tratamento das mesmas.
Os dados coletados poderão ser utilizados tanto para fins acadêmicos,
como para publicação em eventos e/ou revistas científicas por professores
idôneos no ensino de seus alunos do Curso de Psicologia da UNIVALI. Por
serem voluntários não terão direito a nenhuma remuneração, e os dados
referentes a estes profissionais serão mantidos em sigilo.
Local:___________________________
Data:_____________________
Assinatura (de acordo): _________________________________________
82
Apêndice 02
TERMO E CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome: _________________________________________________________
RG:_________________ Idade:_____________ Sexo:___________________
Fui esclarecido (a) sobre o trabalho intitulado: “Reações da equipe de
saúde ao tratamento de crianças hospitalizadas vítimas de queimaduras”, de
autoria da acadêmica regularmente matriculada no curso de Psicologia,
Caroline Baccin Testa e sob orientação da Prof.ª MSc. Marina Menezes.
Estou ciente que ao consentir em participar deste estudo terei que
responder a uma entrevista com perguntas abertas, que objetivam investigar
como os profissionais de saúde hospitalar reagem ao tratamento de
queimaduras em crianças, visando obter informações que promovem a
interdisciplinaridade. Por ser este um estudo de caráter puramente científico,
estou assegurado(a) que meus dados pessoais serão mantidos em anonimato
e os dados coletados na entrevista somente serão utilizados para o propósito
deste estudo. Fui esclarecido(a) também que no momento que eu necessitar
de maiores informações sobre a pesquisa, mesmo após sua publicação,
poderei obtê-las entrando em contato com a pesquisadora ou sua orientadora
pelo telefone (47) 33417688 – Curso de Psicologia UNIVALI – Bloco 25 B –
sala 401. Também fui informado(a) que os resultados da presente pesquisa
serão apresentados à Instituição fonte da pesquisa e aos participantes da
mesma, após defesa da monografia e com data a ser agendada.
Sendo minha participação totalmente voluntária, estou ciente de que não
terei direito a remuneração e poderei, em qualquer momento, desistir de
participar do presente estudo.
Itajaí, ____ de _______________ de 200___.
Assinatura (de acordo): __________________________________
Assinatura da pesquisadora: ______________________________
Caroline Baccin Testa
__________________________________
Prof.ª MSc. Marina Menezes
Pesquisadora Responsável
83
Apêndice 03
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Entrevista nº.: __________________
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
- Nome:
-Sexo:
-Idade:
-Profissão:
-Estado civil:
1. Você já atendeu paciente pediátrico vítima de queimadura?
2. Como é o primeiro contato no hospital com a criança vítima de
queimadura é realizado?
3. Descreva quais os procedimentos mais difíceis de serem realizados com
pacientes infantis vítimas de queimaduras:
4. De que maneira você percebe que seu jeito de tratar a criança influencia
no tratamento da queimadura?
5. De acordo como seu ponto de vista. Quais as principais contribuições da
família no tratamento da queimadura infantil?
6. Qual a sua opinião sobre a importância do psicólogo na equipe
envolvida no processo terapêutico da criança vítima de queimaduras?
Por quê?
7. Quais são os sentimento que surgem durante o trabalho com crianças
que sofreram queimaduras? Exemplifique.
8. Durante o tratamento de pacientes queimados, quais são as maiores
dificuldades e facilidades encontradas?
9. Algo mais?
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