Selic ditará perfil de investimento Tribuna de Minas - Juíz de Fora/MG - ECONOMIA - 03/01/2010 - 07:56:12 FABIOLA COSTA Repórter O juizforano que assumiu o perfil de investidor com apetite ao risco e investiu em ações em 2009 fechou o ano em festa. De acordo com balanço divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), as ações apresentaram a maior rentabilidade no ano: cerca de 80%. Para aqueles que estão no meio do caminho entre o arrojo e o conservadorismo, aplicações em fundos DI (títulos pós-fixados) e Certificados de Depósito Bancário (títulos de renda fixa emitidos pelo banco e vendidos para o público) aparecem como as melhores opções para 2010, muito em função do ganho em rentabilidade com a esperada alta da taxa básica de juros, a Selic. Para o economista Guilherme Ventura, 2010 será um ano com alguma volatilidade nos ativos financeiros por questões internas e externas. Além do aguardado aumento da Selic, o fato de ser ano eleitoral pode alterar a política econômica do país. A performance das aplicações deve sofrer interferência, ainda, da retirada dos estímulos fiscais e monetários da economia americana e da possível recuperação do dólar, acompanhando a melhora do cenário nos Estados Unidos. Por este motivo, a moeda pode apresentar bom rendimento. As duas aplicações preferidas por Ventura, no entanto, são os Fundos DI, que vão captar o provável aumento dos juros em 2010, e a bolsa de valores, fazendo valer a “prudência” de diversificar ativos. O economista considera provável que o rendimento das ações supere o da renda fixa (títulos prefixados) em 2010. Para ele, as empresas com forte atuação no mercado doméstico terão bons resultados e as exportadoras poderão se beneficiar da recuperação no mercado externo e de uma eventual subida do dólar. Se a opção é por maior risco, o economista Cid Botelho também recomenda a bolsa, que deve apresentar aumento da lucratividade e valorização das ações. “A expectativa é de crescimento entre 25% e 30% no próximo ano.” Cid pondera, no entanto, que apesar da recuperação verificada em 2009, o investimento ainda não voltou ao patamar pré-crise. Se a opção é por baixo risco, ele indica as Letras Financeiras do Tesouro (LFT). Segundo o economista, a LFT acompanha a Selic, beneficiando os investidores com a sua alta. Cid explica que o investimento é muito semelhante ao dos fundos DI, porém mais em conta, já que não há a cobrança de taxas de administração para valores inferiores a R$ 50 mil, como acontece nos fundos. Os fundos DI (9,77%) abocanharam a segunda maior rentabilidade este ano, seguidos por CDI (9,66%), renda fixa (9,63%), CDB (8,45%) e poupança (6,79%). Na contramão, estão dólar (-23,73%), euro (-21,50%) e ouro (-0,70%). O balanço da Anbima considera o acumulado do ano até 22 de dezembro. O dilema entre o retorno e o risco Já o especialista em investimentos Luiz Antônio Fernandes aposta suas fichas nos CDBs. Para ele, a remuneração oferecida pelos bancos na venda dos certificados pode retornar aos níveis antes da crise, ou seja, em valores acima de 100% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). O motivo é o esperado aumento da Selic a partir do primeiro trimestre de 2010. A expectativa é que a taxa básica de juros chegue próximo a 10,75%, devido a uma possibilidade de inflação que, segundo ele, está se desenhando no cenário econômico atual. Hoje a taxa, que baliza as aplicações dos fundos conservadores, está em 8,75% ao ano. “Nesse contexto, a taxa dos CDB´s, calculada como percentual do CDI (juro de operações feitas entre bancos), também vai subir.” Luiz Antônio esclarece, no entanto, que a remuneração oferecida pelos bancos a estes aplicadores não depende apenas da Selic, mas também da necessidade de a instituição captar mais ou menos dinheiro, tendo em vista a demanda por recursos, que, para ele, continua elevada via CDB. “Nota-se que a procura por crédito aumentou. A Bolsa Mercantil e a Bolsa de Futuros demonstram que os juros futuros já estão subindo para contratos a partir do segundo semestre.” Uma advertência, no entanto, é que remunerações aparentemente muito atrativas podem esconder alto risco neste tipo de operação. Migração Em outubro, quando a poupança teve o pior resultado desde abril (captação de R$ 1,04 bilhão, que representou queda de 70,3% ante setembro), o professor de finanças Ricardo José de Almeida identificou que teria início o movimento de investidores em busca de posições mais adequadas para a perspectiva de aumento das taxas de juros. De acordo com Almeida, é provável que um número cada vez maior de investidores opte por aplicações que acompanham o CDI, em detrimento de alternativas, como as carteiras de renda fixa e da própria poupança. Poupadores escapam da taxação Os fiéis da tradicional poupança podem respirar aliviados por mais um ano. A prometida cobrança de Imposto de Renda (IR) para investimentos superiores a R$ 50 mil foi adiada, pelo menos, para depois de 2010. A confirmação foi feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na semana passada. A justificativa oficial é evitar que o investimento se torne alvo de especulação e, ao mesmo tempo, permitir quedas futuras da Selic. A medida ainda precisa passar pelo Congresso Nacional. Se aprovada, o investidor que tiver R$ 80 mil aplicados pagará imposto apenas sobre os R$ 30 mil excedentes. A intenção é que a tributação só ocorra se a Selic ficar abaixo de 10,5% ao ano. Segundo ele, a cobrança do IR sobre este valor deve-se ao fato de mais de 90% das cadernetas no país terem aplicações entre R$ 100 e R$ 50 mil. O principal objetivo do ajuste é impedir que investidores migrem para a caderneta distorcendo o tradicional instrumento de aplicação. O Governo anunciou, ainda, a intenção de reduzir a tributação das demais aplicações, caso a Selic caia abaixo de 10,25%. Hoje a tributação sobre os fundos de investimento varia de 15% a 22%. O economista Cid Botelho não descarta a “simplicidade” da poupança, fazendo dela uma opção tradicional para aqueles que não “querem esquentar a cabeça com investimentos”. Para Guilherme Ventura, com a provável subida dos juros, o investimento apresentará novamente um diferencial de rendimento em relação aos fundos DI, ao contrário do que aconteceu este ano. Embora esteja longe de ser a opção mais lucrativa, a poupança parece ser a mais acessível, além de ser considerada segura e popular. Prova disso é que concentra 72% das economias da classe D, 65% da C e 42% da B. Só perde a liderança em termos de aplicação para a classe A, que prioriza os fundos (55%). Neste caso, a poupança está como quarta opção, com 37% (ver quadro). Ainda de acordo com pesquisa da QuorumBrasil, 40% dos que ganham entre um e quatro salários mínimos têm o hábito de economizar. Há dois anos, quando foi feita a última sondagem pelo instituto de pesquisas, o percentual ficou entre 15% e 20%. Os investimentos eleitos Classe A Fundos - 55% Imóveis - 48% Previdência - 39% Poupança - 37% Seguros - 14% Classe B Poupança - 42% Fundos - 38% Imóveis - 22% Previdência - 21% Consórcio - 14% Classe C Poupança - 65% Imóveis - 13% Fundos - 8% Consórcio - 5% Previdência - 3% Classe D Poupança - 72% Consórcio - 3% Previdência - 3% Seguros - 1% Fonte: QuorumBrasil