V.27 (4) outubro-dezembro 2013 1 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 2 REVISTA PARAENSE DE MEDICINA PARÁ MEDICAL JOURNAL Órgão Oficial da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará Vol. 27(4) outubro-dezembro 2013 ISSN 01015907 GOVERNO SIMÃO JATENE Presidente- Ana Conceição Matos Pessoa Diretoria administrativa-financeira- Sandra Rosemary Pereira de Souza Nery Diretoria assistencial- Mary Lucy Ferraz Maia Fiúza de Melo Diretoria de Ensino e Pesquisa- Lizomar de Jesus Pereira Móia Diretoria Técnica- Cinthya Francinete Pereira Pires Editor responsável- Alípio Augusto Barbosa Bordalo Editor adjunto- Nara Macedo Botelho Conselho Editorial Antonio Celso Ayub SCMRS RS Andy PetroianuUFMGMG Alexandre Lopes de Miralha UFAM AM Arival Cardoso de Brito UFPA PA Cléa Carneiro Bichara UEPA PA Eliete da Cunha Araújo UFPA PA Geraldo IshakUFPAPA Geraldo Roger Normando Jr UEPA PA Habib Fraiha Neto IEC PA Ítalo SuassunaUERJRJ Ivanete Abraçado Amaral FSCMPA PA Joffre Marcondes de Rezende UFGO GO José Thiers Carneiro Jr UFPA PA Lizomar Pereira Móia FSCMPA PA Luciana Lamarão Damous USP SP Luciano Lobo Gatti FEMA SP Lusmar Veras Rodrigues UFCE CE Manoel de Almeida Moreira UEPA PA Manoel do Carmo Soares IEC PA Márcia de Fátima M. de Rojas UEPA PA Marcus Vinícius Henriques Brito UEPA PA Mauro José Fontelles UEPA PA Maria de Lourdes B. Simões UFPR PR Maria Rosângela Duarte Coelho UFPE PE Mário Ribeiro de Miranda UFPA PA Nicodemos Teles de P. Filho UFPE PE Paulo Eduardo Santos Àvila UNAMA PA Paulo Roberto Alves Amorim UFPA PA Pilar Maria de Oliveira Moraes UNAMA PA Robson José de S. Domingues UEPA PA Simônides da Silva Bacelar UNB DF William Mota Siqueira UFPA PA Assessoria de estatística Rogério da Silva Santos Assessoria de língua inglesa Nathalya Botelho Brito Renan Kleber Costa Teixeira Mário Roberto Tavares Cardoso de Albuquerque Assessoria de informática Juliene de Souza Ferreira Paulo Roberto Simões Secretaria Renata A. M. Viégas Campelo Bibliotecárias-indexadoras Luciane Obando Maia Regina Célia Coimbra Membros honorários Manuel Ayres, Camilo Martins Viana e Manoel Barbosa Rezende Menção honrosa - in memoriam Clóvis de Bastos Meira, Leônidas Braga Dias, Clodoaldo Ribeiro Beckmann, José Monteiro Leite e Guaraciaba Quaresma da Gama International Standard Serial Number ISNN 01015907 Indexada na Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde LILACS/BIREME/OPAS QUALIS B4 Medicina III, Odontologia e Psicologia; QUALIS B5 Medicina I, II - CAPES/MEC Associação Brasileira de Editores Científicos Filiada à A Revista Paraense de Medicina é o periódico biomédico da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará com registro n° 22, Livro B do 2º Ofício de Títulos, Documentos e Registro Civil das Pessoas Jurídicas, do Cartório Valle Chermont, de 10 de março de 1997, Belém PA Diagramação e composição: Elias Teles dos Santos Operador de CTP: Hélio Alcântara Oliveira Produção gráfica: Gráfica Sagrada Família Publicação trimestral e distribuição gratuita Tiragem: 1000 Endereço: Rua Oliveira Bello, 395 - Umarizal 66050-380 Belém - PA Fone: (91) 4009.2213 - Fax: (91) 4009.2299 Endereço eletrônico: [email protected] – www.santacasa.pa.gov.br BVS-LILACS/BIREME/OPAS - IEC Portal Eletrônico da BVS Dados de catalogação na fonte: Revista Paraense de Medicina / Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. – Belém: FSCMP, vol. 27(4) 2013. Irregular 1958-1995; semestral 1995-1998; trimestral 1998. ISSN 01015907 1. Medicina-Periódico I. Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. CDD 610.5 SUMÁRIO / CONTENTS EDITORIAL .................................................................................................................................................................................. 7 ARTIGOS ORIGINAIS AUTOANTICORPOS CONTRA ANTÍGENOS CELULARES E SUA CORRELAÇÃO COM O GENÓTIPO VIRAL EM PACIENTES COM INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C (HCV) .................................................................................... 9 AUTOANTIBODIES AGAINST CELLULAR ANTIGENS AND ITS RELATIONSHIP TO VIRUS GENOTYPE IN HEPATITIS C VIRUS (HCV) INFECTED SUBJECTS Ana Maria Almeida SOUZA, Dilma Costa de Oliveira NEVES, Ismaelino Mauro Nunes MAGNO e Juarez Antonio Simões QUARESMA Avaliação clínica dos fatores preditivos de recorrência bioquímica após prostatectomia radical em pacientes com câncer de próstata localizado ......................................................................... 19 Clinic assessment of the predictive factors of biochemical recurrence after radical prostatectomy in patients presenting localized prostate cancer Aluízio Gonçalves da FONSECA, Fábio do Nascimento BRITO e Antônio Augusto Pinto FERREIRA RESOLUTIVIDADE NO ATENDIMENTO DOS PACIENTES COM FATORES DE RISCO PARA O PÉ DIABÉTICO ........ 23 Resolutivity in care in the PATIENTS WITH RISK FACTORS FOR DIABETIC FOOT. Aline Michelli Viégas PEREIRA, Aarão Carajás Dias dos SANTOS e Paulo Martins TOSCANO AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS DE 6 A 12 MESES ........................................................................ 29 EVALUATION OF THE DEVELOPMENT OF CHILDREN 6 TO 12 MONTHS Andreza Mourão LOPES e Janari da Silva PEDROSO AVALIAÇÃO DO PERFIL NUTRICIONAL E ALIMENTAR DE PORTADORES DO HIV ..................................................... 37 NUTRITIONAL AND FOOD HABITS PROFILE ASSESSMENT OF PATIENTS WITH HIV Emanuellen Cardoso RODRIGUES, Rozinéia de Nazaré Alberto MIRANDA e Aldair da Silva GUTERRES PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES PORTADORES DE CÂNCER DE BEXIGA SUBMETIDOS À CISTECTOMIA RADICAL ........................................................................................................................................................... 47 EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF PATIENTS WITH BLADDER CANCER UNDERGOING RADICAL CYSTECTOMY João Frederico Alves Andrade FILHO, Alvaro Hideo Hoshino MUTO, Jund Silva REGIS, Romero Carvalho PEREIRA, Renato Raulino MOREIRA e Pedro Ruan Chaves FERREIRA PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA AIDS EM IDOSOS NO ESTADO DO PARÁ UTILIZANDO DADOS DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES DE SAÚDE DO DATASUS ........................................................................................................................ 53 THE EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF AIDS ELDERLY IN THE STATE OF PARÁ USING DATASUS HEALTH INFORMATION SYSTEM Adonis de Melo LIMA, Jean Charles Vilhena MAIA e Alan Bosque de SOUSA CONHECIMENTO E PRÁTICA NA REALIZAÇÃO DO EXAME DE PAPANICOLAOU E INFECÇÃO POR HPV EM ADOLESCENTES DE ESCOLA PÚBLICA .......................................................................................................................................... 59 KNOWLEDGE AND PRACTICE IN DOING THE PAP SMEAR AND HPV INFECTION IN ADOLESCENTS PUBLIC SCHOOL Felipe da Silva ARRUDA, Felype Martins de OLIVEIRA, Rafael Espósito de LIMA e Adrya Lúcia PERES HEPATITIS B AND C INFECTIONS IN SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS PATIENTS .............................................. 67 INFECÇÃO PELOS VÍRUS DA HEPATITE B E C EM PACIENTES COM LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO José Humberto de Lima MELO, Maria Rosângela Cunha Duarte COÊLHO, Veridiana Sales Barbosa de SOUZA, Jéfferson Luis de Almeida Silva, Georgea Gertrudes de Oliveira Mendes CAHÚ e Ana Cecília Cavalcanti de ALBUQUERQUE ANÁLISE DO PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES QUE REALIZARAM TRANSPLANTE RENAL EM UM HOSPITAL BENEFICENTE ............................................................................................................................. 75 CLINICAL AND EPIDEMIOLOGIC PROFILE ANALYSIS OF KIDNEY TRANSPLANTED PACIENTS IN A BENEFICENT HOSPITAL Márcia Rodrigues IONTA, Juliana Meschede da SILVEIRA, Renan Domingues Gavião de CARVALHO, Silvana Conceição Campos da SILVA, Alzira Carvalho Paula de SOUZA e Ismaelino Mauro Nunes MAGNO ATUALIZAÇÃO/REVISÃO A EFETIVIDADE DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO ESTRESSE – UMA REVISÃO DA LITERATURA ........... 79 THE EFFECTIVENESS OF ACUPUNCTURE IN THE TREATMENT OF STRESS - A REVIEW OF THE LITERATURE José Maria Farah COSTA JUNIOR e Paulo Roberto Alves de AMORIM LIGAS ACADÊMICAS DE MEDICINA: ARTIGO DE REVISÃO ............................................................................................. 85 MEDICINE ACADEMIC LEAGUES: REVIEW ARTICLE Nara Macedo BOTELHO, Iago Gonçalves FERREIRA e Luis Eduardo Almeida SOUZA RELATO DE CASO APLICAÇÃO DO PROTOCOLO MODIFICADO DA TERAPIA DE RESTRIÇÃO E INDUÇÃO AO MOVIMENTO EM PACIENTE COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: ESTUDO DE CASO ................................................................... 89 APLICATION OF MODIFIED PROTOCOL OF CONSTRAINT INDUCED MOVEMENT THERAPY IN PATIENT WITH THE STROKE: STUDY OF CASE Gilza Brena Nonato MIRANDA e Renata Amanajás de MELO DERRAME PLEURAL RECORRENTE NA DOENÇA DE ERDHEIM-CHESTER .................................................................. 93 RECURRENT PLEURAL EFFUSION IN ERDHEIM-CHESTER DISEASE Suely Maria de.Miranda ARAÚJO, Aranda Nazaré Costa de ALMEIDA, Mirley Castro de ARAÚJO e Ítalo Leonel Fernandes SILVA IMAGEM EM DESTAQUE TUBERCULOSE PULMONAR COM RECIDIVA ...................................................................................................................... 99 PULMONARY TUBERCULOSIS WITH RELAPSE José Antônio Cordero da SILVA, Humberto Lobato MCPHEE e Luis Eduardo Almeida de SOUZA NORMAS DE PUBLICAÇÃO .................................................................................................................................................. 101 EDITORIAL EDITORIAL MAIS MÉDICOS Alípio Augusto Bordalo TCBC* O atual governo federal resolveu convidar médicos de outros países para prestarem serviços no Brasil, particularmente, nas regiões do Nordeste e Amazônia. Analisando a questão, percebe-se dois aspectos – o geo-econômico regional – e a disponibilidade de profissionais da área de saúde, quais sejam, o agente de saúde, o auxiliar de enfermagem, o enfermeiro, o odontólogo, o médico e o assistente social. Isso constitui uma equipe ideal. Quanto ao primeiro aspecto, há diferença sócio-econômica entre as cinco grandes regiões do país – Amazônia, Nordeste, Centro-oeste e Sudeste. A indústria predomina na região sudeste, porém, depende da matéria prima de outras regiões, como borracha, minério e madeira. É difícil entender atual política do governo federal, “importando” médicos, quando, o que falta são condições imprescindíveis a fim de que os mais novos possam exercer uma Medicina ideal. É hora dos conselhos de Medicina (federal e estaduais) protestarem contra essa ignóbil atitude do governo federal. Decerto, podemos confiar na capacidade e competência dos esculápios compatriotas. Assim seja. Belém, dez° 2013 • 7 Da Associação Brasileira de Médicos Editores ABEC Da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores SOBRAMES Do Instituto Histórico e Geográfico do Pará IHGP Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 ARTIGO ORIGINAL AUTOANTICORPOS CONTRA ANTÍGENOS CELULARES E SUA CORRELAÇÃO COM O GENÓTIPO VIRAL EM PACIENTES COM INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C (HCV)1 AUTOANTIBODIES AGAINST CELLULAR ANTIGENS AND ITS RELATIONSHIP TO VIRUS GENOTYPE IN HEPATITIS C VIRUS (HCV) INFECTED SUBJECTS Ana Maria Almeida SOUZA2, Dilma Costa de Oliveira NEVES3, Ismaelino Mauro Nunes MAGNO4 e Juarez Antonio Simões QUARESMA5 RESUMO Objetivo: estabelecer relação entre a presença de fator anti-núcleo em células HEp-2 (FAN HEp-2) e o genótipo viral em pacientes portadores de infecção pelo vírus da hepatite C (HCV). Método: estudo transversal analítico de prontuários de 51 pacientes, com anti-HCV positivos, atendidos no Núcleo de Medicina Tropical/Universidade Federal do Pará e grupo controle constituído de doadores de sangue. Foi realizada sorologia para anti-HCV, Reação de Polimerase em Cadeia em Tempo Real RPCTR, genotipagem e dosagens bioquímicas e pesquisa de FAN HEp-2. Os dados foram submetidos a testes estatísticos com auxílio do Programa BioEstat 5.0, sendo aceito como significante o valor de p < 0,05. Resultados: dos 51 pacientes portadores de HCV, 28.9% (13) apresentaram FAN positivo, 88.2.% (45) com genótipo tipo 1 e 11,8% (6) com genótipo tipo 3. Os pacientes que se apresentaram com anticorpos detectáveis não apresentaram níveis de AST, ALT, AST/ALT, γ-GT e fosfatase alcalina, significativamente, diferente daqueles com auto-anticorpos negativos. Conclusão: o estudo demonstra que os auto-anticorpos presentes na amostra possuem padrão citoplasmático e estão relacionados ao genótipo tipo1. DESCRITORES: hepatite C, anticorpos, genótipo INTRODUÇÃO A hepatite C constitui um grave problema mundial de saúde pública1,2. Denominada epidemia silenciosa, calcula-se que 170 milhões de indivíduos no mundo estejam contaminados pelo vírus da hepatite C (HCV). No Brasil, estima-se que o número de vítimas da enfermidade é bem maior do que o estimado pelo Ministério da Saúde 3 e a Região Norte responde por 5,9% dos portadores de hepatite C4. O HCV não é uma partícula homogênea e apresenta uma taxa alta de mutação, levando-o a uma heterogeneidade genômica 5,6 . No Brasil, o genótipo 1b ocorre em cerca de 30% a 40% dos casos; o 1a em cerca de 20%; 1a e 1b em 20%; o 3a em cerca de 28%7. A diversidade de resposta do hospedeiro ao agente infeccioso tem estimulado a busca por _________________________ Trabalho realizado no Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará- UFPA. Belém, Pará, Brasil Médica graduada pela Faculdade Estadual de Medicina do Pará. Mestre e Docente da Faculdade de Medicina/ICS/UFPA; Centro Universitário do Pará- CESUPA 3 Médica graduada pela Universidade Federal do Pará- UFPA. Mestre e Docente do Centro Universitário do Pará- CESUPA 4 Graduado em Biomedicina pela Universidade Federal do Pará- UFPA. Doutor e Docente do Centro Universitário do ParáCESUPA 5 Médico graduado pela Universidade Federal do Pará- UFPA. Doutor e Docente do NMT/UFPA; Universidade do Estado do ParáUEPA 1 2 9 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 justificativas de tais discrepâncias clínicas, sobretudo na imunomodulação. Dentre as infecções mais bem estudadas destaca-se a do HCV 8, 9, 10 e desde a sua descoberta tornou-se evidente sua associação com uma grande variedade de manifestações extrahepáticas, desordens reumáticas e auto-imunes11. A infecção aguda pode passar clinicamente despercebida ou evoluir para hepatite fulminante ou para infecção crônica12. A sorologia anti-HCV positiva13 requer a confirmação pela Reação de Polimerase em Cadeia (PCR) e a determinação do genótipo do HCV que pode ser feita por PCR6 ou por serotipagem14. As técnicas de hibridização buscam uma maior especificidade no diagnóstico, principalmente, em pacientes assintomáticos15. A pesquisa dos anticorpos antinucleares pode ser realizada por diferentes técnicas; a imunofluorescência indireta é a mais utilizada, por sua sensibilidade, reprodutibilidade e facilidade de execução. A sensibilidade aumenta, significativamente, quando se utiliza como substrato lâminas com células HEp-2 (células de carcinoma de laringe humana), por causa da maior expressão de antígenos na superfície dessas células comparados aos expressos nas células de fígado ou de rins de camundongos, que se utilizavam anteriormente16. Os vírus podem ainda modificar proteínas do hospedeiro, de forma a torná-las imunogênicas, ativando o sistema imunológico e causando auto-reação14. O padrão do Fator Anti-núcleo em células HEp-2 (FAN HEp-2) indica uma probabilidade maior ou menor de doença auto-imune e até mesmo sugere o antígeno nuclear envolvido e, por conseqüência, a afecção com ele mais relacionada1,16,17. De acordo com o III Consenso Brasileiro de FAN em HEp-2 o padrão citoplasmático fibrilar linear tem relevância clínica por auto- anticorpo antimiosina nos casos de hepatite C18. Apesar do padrão de fluorescência, na maioria das vezes, não se pode identificar o anticorpo presente, ele pode sugerir ao clínico qual o próximo passo a ser dado na investigação da sua especificidade. Os resultados encontrados devem estar em associação com a clínica, os padrões de fluorescência e os títulos alcançados com a diluição prévia16. As últimas décadas foram de notáveis conquistas no que se refere à prevenção e ao controle das hepatites virais. A partir de 1991, com a implantação dos testes de triagem pelo método Enzyme Linked ImmunonoSorbent Assay (ELISA) Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 para doadores de sangue, reduziu a prevalência da hepatite pós-transfusional pelo HCV19,20. Os trabalhos existentes demonstram a presença de FAN HEp-2 em pacientes portadores do HCV, sendo que tais estudos não foram ainda realizados na região Norte do Brasil e sobretudo estabelecendo uma relação com o genótipo do vírus responsável pela infecção. Considerando que a positividade do FAN HEp-2 é um marcador de autoimunidade e que o genótipo tipo 1 é um marcador de resposta ao tratamento para a hepatite C, este trabalho objetiva estabelecer relação entre a presença de FAN HEp2 e o genótipo viral em pacientes portadores de infecção pelo HCV. MÉTODO Realizado estudo do tipo transversal analítico no Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará (NMT/UFPA), com 51 pacientes oriundos da Fundação de Hemoterapia e Hematologia do Pará (HEMOPA) com sorologia positiva para HCV e 100 doadores com sorologia negativa. Foram revisados os prontuários dos 51 pacientes, independente do sexo, idade e sinais e sintomas de hepatite e utilizada as amostras de soro dos mesmos, existentes na soroteca do Laboratório de Patologia Clínica do NMT/UFPA. As amostras de soro dos 51 pacientes foram submetidas à reconfirmação do diagnóstico de hepatite C no Laboratório de Patologia Clínica/NMT/ UFPA, mediante pesquisa sorológica de anti-HCV pelo teste ELISA, técnicas moleculares de Reação de Polimerase em Cadeia em Tempo Real (RT-PCR) e identificação do genótipo viral (genotipagem) pelo método de restriction fragment length polymorphism (RFLP). No grupo controle foram incluídos 100 doadores de sangue com sorologias negativas para vírus da imunodeficiência humana (HIV) tipo 1 e 2, Human T lymphotropic virus (HTLV) type 1 and 2, Sífilis, Doenças de Chagas, Hepatite B e para Hepatite C e exames bioquímicos normais. Os soros de todos os participantes foram submetidos à pesquisa de FAN HEp-2 pela técnica de Imunofluorescência Indireta (IFI). Para a leitura da titulação do FAN HEp-2 foi considerado o estabelecido no II Consenso Brasileiro de Fator Antinuclear em células HEp-218. Foram utilizados o teste Qui-quadrado e o teste G nas comparações de n amostras independentes, cujas proporções observadas nas diversas modalidades 10 estão dispostas em tabelas de contigência l x c. O teste t foi usado para comparar as medidas de tendência central das variáveis quantitativas. Os testes estatísticos foram realizados com auxilio do programa Bioestat 5.0, sendo significante p-valor < 0,05 para o intervalo de confiança (IC) de 95% e nível α 5%. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP) do NMT/UFPA, sob protocolo de nº 050/2009–CEP/NMT. RESULTADOS Na distribuição dos pacientes por sexo foi observada uma predominância do sexo masculino (66,7%) em relação ao feminino (33,3%). A faixa etária predominante foi a de 30 a 50 anos de idade (62,8%), seguida da faixa compreendida entre 51 e 60 anos (19,6%). Foi observada uma diferença significativa (p<0,0001) entre a prevalência do genótipo viral tipo 1 (88,2%) e do tipo 3 (11,8%). Em apenas 25,5% dos pacientes a pesquisa do FAN HEp-2 foi positiva com diferença significante (p<0,0008) em relação aos negativos (74,5%). Todos os FAN HEp-2 positivos apresentaram padrão citoplasmático (Tabela I). A análise dos parâmetros bioquímicos identificou uma distribuição semelhante dos achados entre os pacientes com genótipo viral tipo 1 e 3, não atestando significância estatística para AST (p=0,7907), ALT (p=0,5355), AST/ALT (p=6110), γ-GT (p=0,2194) e fosfatase alcalina (0,8349). (Tabela II). Observadou-se distribuição semelhante dos parâmetros bioquímicos entre os pacientes com FAN positivo e negativo, não havendo significância estatística para AST (p = 0,1704), ALT (p = 0,5347), AST/ALT (p = 0,5732), γ-GT (p = 0,4369) e fosfatase alcalina (p = 0,6431) (Tabela III). O padrão citoplasmático de FAN HEp-2 foi encontrado em 100% dos pacientes infectados com FAN HEp-2 positivo e em 2% dos não infectados. Foi observada u’a maior prevalência de FAN HEp-2 negativo tanto em pacientes infectados (74,5%) como nos não infectados (98%), sendo essa diferença, estatisticamente significativa (p<0,0001) o que pode representar uma não associação entre positividade de FAN HEp-2 com padrão citoplasmático e infecção pelo HCV (Tabela IV). Na comparação dos resultados do FAN HEp-2 com padrão citoplasmático com os genótipos virais foi observado que o resultado negativo é superior ao positivo em ambos os genótipos virais, sendo 71,1% para o genótipo viral tipo 1 e 100% para o genótipo viral tipo 3, não tendo esta diferença significância estatística (p=0,2573) (Tabela V). TABELA I. Distribuição dos pacientes conforme os resultados laboratoriais de FAN HEp-2 citoplasmático e genotipagem, janeiro 2009 a maio 2010, Belém–Pará-Brasil N % Tipo 1 45 88.2 Tipo3 6 11.8 Total 51 100.0 Positivo (citoplasmático) 13 25.5 Negativo 38 74.5 Total 51 100.0 Exames laboratoriais Teste estatístico (χ2) Genótipo viral – HCV (a) p < 0.0001 FAN HEp-2 (b) p = 0.0008 Fonte: Protocolo da pesquisa. (a) HCV – vírus da hepatite C (b) FAN HEp-2 – fator antinúcleo em células humanas HEp-2 11 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 TABELA II. Distribuição dos genótipos dos pacientes de acordo com os parâmetros bioquímicos, janeiro 2009 a maio 2010, Belém–Pará-Brasil Parâmetros bioquímicos AST(a) ALT(b) γ-GT(c) Fosfatase alcalina (d) Genótipo viral – HCV Genótipo 1 Genótipo 3 µ ± DP 35.3 ± 21.9 37.2 ± 32.1 40.3 ± 38 112.6 ± 44.3 µ ± DP 32.8 ± 13.7 28.8 ± 13.6 30.2 ± 13.8 108.7 ± 37.6 Teste estatístico (Teste t) p = 0,7907 p = 0,5355 p = 0,2194 p = 0,8349 Fonte: Protocolo da pesquisa. (a) AST- asparato aminotransferase <40 U/l (b) ALT-alamina aminotransferase 10–40 U/l (c) γ-GT-gama glutamil transferase: para homens 10-50 U/l; para mulheres 7-32 U/l (d) Fosfatase alcalina: 40-150 U/l TABELA III. Distribuição do FAN HEp-2 citoplasmático dos pacientes de acordo com os parâmetros bioquímicos, janeiro 2009 a maio 2010, Belém–Pará-Brasil Auto anticorpos Parâmetros bioquímicos Positivo µ ± DP 41.9 ± 23.8 40.8 ± 29 34 ± 21 107.3 ± 34.5 AST(a) ALT(b) γ-GT(c) Fosfatase alcalina(d) Negativo µ ± DP 32.6 ± 19.7 34.6 ± 31.2 40.9 ± 40 113.8 ± 46.2 Teste estatístico (Teste t) p = 0,1704 p = 0,5347 p = 0,4369 p = 0,6431 Fonte: Protocolo da pesquisa. (a) AST- asparato aminotransferase <40 U/l (b) ALT-alamina aminotransferase 10–40 U/l (c) γ-GT-gama glutamil transferase: para homens 10-50 U/l; para mulheres 7-32 U/l (d) Fosfatase alcalina: 40-150 U/l TABELA IV. Distribuição do FAN HEp-2 citoplasmático segundo a presença ou ausência de infecção por HCV, janeiro 2009 a maio 2010, Belém–Pará-Brasil Pacientes FAN HEp-2 Positivo Negativo Total Infectados N 13 38 51 % 25,5 74,5 100.0 Não infectados N % 2 2 98 98 100 100.0 Teste estatístico (Teste G) p < 0,0001 Fonte: Protocolo da pesquisa Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 12 TABELA V. Distribuição do FAN HEp-2 citoplasmático de acordo com o genótipo viral, janeiro 2009 a maio 2010, Belém–ParáBrasil Grupos estudados FAN (citoplasmático) Genótipo 1 Teste estatístico (Teste G) Genótipo 3 n % N % Positivo 13 28.9 0 0.0 Negativo 32 71.1 6 100.0 Total 45 100.0 6 100.0 p=0,2573 Fonte: Protocolo da pesquisa DISCUSSÃO o sistema imunológico e causando auto-reação14. As inflamações do fígado provocadas pelos vírus hepatotrópicos atingem milhões de pessoas e representam significativos problemas de saúde pública em todo o mundo. No Brasil, a Região Norte responde por 5,9% dos portadores de VHC 4. Os achados de FAN HEp-2 positivo em indivíduos sadios foram também observados em 394 pacientes sem evidência de auto-imunidade 25. A agressão hepática por auto-imunidade é um fenômeno reconhecido em várias doenças do fígado, inclusive naquelas de etiologia viral. Além do agente agressor e de sua interação com o sistema imunológico do hospedeiro, outros fatores estão aparentemente envolvidos no surgimento de auto-imunidade hepática, como se supõe acontecer na hepatite auto-imune em indivíduos geneticamente suscetíveis 21. O predomínio do padrão citoplasmático em FAN HEp-2 positivo neste estudo também foi descrito por Bichara (2009)22 ao analisar a prevalência de ANA HEp-2 em 3 grupos de pacientes infectados pelo vírus HIV, pelo bacilo de Hansen e co-infectados com Hansen/HIV e Bichara (2011)23 estudando a prevalência de ANA-HEp-2 em 3 grupos de pacientes infectados pelo vírus do Dengue e HTLV-1/2, nesses estudos em todos os grupos houve predomínio do padrão citoplasmático. O predomínio do padrão de FAN HEp-2 do tipo citoplasmático indica que determinados padrões de fluorescência são mais específicos de doença autoimune, enquanto outros ocorrem em indivíduos com enfermidades não auto-imunes, por ser o citoplasma celular rico em proteínas para as quais auto-anticorpos naturais apresentam afinidade moderada, é comum observar positividade para FAN em indivíduos sadios, cujo significado ainda não é entendido completamente 24. Os vírus podem ainda modificar proteínas do hospedeiro, de forma a torná-las imunogênicas, ativando 13 Nas infecções agudas espera-se que a resposta auto-imune diminua a medida que os vírus são eliminados. Entretanto, alguns trabalhos14,26sugerem que em indivíduos geneticamente susceptíveis, as reações auto-imunes possam persistir apesar do clareamento viral uma vez que o gatilho imunológico foi ativado e não houve desativação. Apesar dos vírus desencadearem auto-reatividade os anticorpos que aparecem na fase inicial da infecção são transitórios e, aparentemente, não estão relacionados à gravidade da doença ou risco de cronificação. Nesta situação, os auto-anticorpos parecem ser mais um epifenômeno da agressão hepatocelular do que um marcador prognóstico com implicações na patogênese da doença27,28. A participação dos auto-anticorpos no processo de transição para cronicidade das hepatites agudas virais é questionada no estudo de 29, porém os resultados não são convincentes. Neste estudo, a presença dos auto-anticorpos em 25.5% dos pacientes, com infecção pelo HCV, não foi relacionada com a gravidade da doença por serem recém diagnosticados e sem sintomas clínicos da infecção. Na relação entre a presença de auto-anticorpos e níveis de aminotransferases não foi observada diferença significante. Em estudo que avaliou 156 pacientes com hepatites agudas virais com imunocomplexos circulantes em 20,6% dos pacientes também não foi observada associação entre a presença de imunocomplexos e o nível de aminotransferases ou bilirrubina25. De acordo com De Larañaga (2000) 14 , na hepatite aguda viral as respostas auto-imunes podem ser Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 demonstradas através de altos títulos de anticorpo contra proteína especifica do fígado (anti-LSP) na fase inicial de doença, entretanto ainda não se confirmou a relação entre a presença deste auto-anticorpo e lesão tecidual. A presença do anticorpo antimúsculo liso também foi descrito. Essas reações auto-imunes podem contribuir para o dano hepatocelular, mas correlações com os aspectos histopatológicos ainda não foram descritas. Em estudo realizado em Goiânia–Brasil foi observada uma maior prevalência do genótipo 1, seguida do genótipo 3 em doadores de sangue e hemofílicos24 estando esses resultados semelhantes aos achados desta pesquisa. Em um estudo realizado na França, em 13 pacientes lúpicas infectadas pelo vírus C, oito apresentavam o RNA viral, sendo o genótipo 1 presente em cinco (62,5%) casos, seguido do genótipo 3 (37,5%)30, dados que se assemelham aos do presente estudo, embora o estudo não tenha incluído pacientes com outras infecções associadas ao HCV. É importante ressaltar que estudos sobre genotipagem do HCV em indivíduos com doenças reumáticas são raros. A menor freqüência de positividade para o FAN HEp-2 nos pacientes com genótipo 1 e total ausência no genótipo 3 não mostrou significância estatística. Embora, 88,2% dos pacientes possuam genótipo 1 não foi avaliado no presente estudo a associação com a terapia antiviral, pois todos estavam em fase de pré-tratamento. CONCLUSÃO O estudo demonstra que os auto-anticorpos presentes na amostra possuem o padrão citoplasmático e estão relacionados ao genótipo tipo1. Embora tenha sido observada maior prevalência da negatividade tanto em pacientes infectados pelo HCV quanto em não infectados. SUMMARY AUTOANTIBODIES AGAINST CELLULAR ANTIGENS AND ITS RELATIONSHIP TO VIRUS GENOTYPE IN HEPATITIS C VIRUS (HCV) INFECTED SUBJECTS Ana Maria Almeida SOUZA, Dilma Costa de Oliveira NEVES, Ismaelino Mauro Nunes MAGNO e Juarez Antonio Simões QUARESMA Objective: This paper aims to establish a relationship between anti-nuclear fator (HEp-2) and virus genotypes in Hepatitis C virus infected sunjects. Methods: This is a single-center, transversal analytical study that enrolled 51 out-patients at the Núcleo de Medicina Tropical (Tropical Medicine Center) of the Universidade Federal do Para (Federal University of Para) in Brazil, compared to a control group of blood donors. HCV serology, real-time polymerase chain reaction, genotyping, biochemistry and anti-nuclear fator (HEp-2) analysis were carried out for each patient. Statiscal analysis were made in Bioestat 5.0 software, considering α ≤ 0,05 and power of 80%. Results: Out of 51 HCV subjects, 28.9% (13) also had anti-nuclear factor (HEp-2), 88.2.% (45) HCV type 1 and 11,8% (6) HCV type 3. There was no significant difference in aspartate transaminase (AST), alanine transaminase (ALT), AST/ALT ratio, gamma glutamyl transpeptidase (GGT) e alcaline phosphatase (ALP) serum levels between patients presenting with anti-nuclear factor (HEp-2) and the ones without it. Conclusion: Autoantibodies present in this sample showed a cytoplasmic pattern and were related to HCV type 1. KEY WORDS: Hepatitis C, Autoantibodies, Genotype. REFERÊNCIAS 1. Killenberg PG. Extrahepatic manifestations of chronic hepatitis C. Semin Gastrointest Dis. 2000;11(2):62-8. 2. Brasil. Ministério da Saúde. Doenças infecciosas e parasitárias: Guia de bolso. Brasília, 2006 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 14 3. Trindade CM. Identificação do comportamento das hepatites virais a partir da exploração de base de dados de saúde pública. (Dissertação de Mestrado em Tecnologia da Saúde). Paraná: Pontifícia Universidade Católica do Paraná; 2005.141p. 4. Sociedade Brasileira de Hepatologia. Relatório do Grupo de Estudos da Sociedade Brasileira de Hepatologia. Epidemiologia da infecção pelo vírus da Hepatite C no Brasil. 2005. Disponível em http://www.sbhepatologia.org.br - Acessado em 26 ago.2010. 5. Augusto F, Lobato C, Hepatite C. In: COTTER J (Ed.). 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Endereço para correspondência Ana Maria Almeida Souza Rodovia Mario Covas, 1426, Condomínio Green Garden casa 41, Coqueiro, Ananindeua-Pará-Brasil. CEP: 67.013.185 E-mail: [email protected]. Recebido em 08.07.2013 – Aprovado em 30.10.2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 16 ARTIGO ORIGINAL Avaliação clínica dos fatores preditivos de recorrência bioquímica após prostatectomia radical em pacientes com câncer de próstata localizado¹ Clinic assessment of the predictive factors of biochemical recurrence after radical prostatectomy in patients presenting localized prostate cancer Aluízio Gonçalves da FONSECA², Fábio do Nascimento BRITO³ e Antônio Augusto Pinto FERREIRA³ RESUMO Objetivo: avaliar os fatores preditivos de recorrência bioquímica após prostatectomia radical em pacientes com câncer de próstata localizado. Método: estudo retrospectivo, de coorte, realizado com participação de 99 pacientes registrados em dois ambulatórios particulares de urologia na cidade de Belém-PA, período de agosto de 1996 a novembro de 2006. A análise de sobrevivência do risco proporcional de Cox foi aplicada para avaliação multivariada e univariada. Resultados: 34,3% pacientes apresentaram recidiva bioquímica; na análise multivariada e univariada, a margem comprometida gerou p-valor de 0.0478 e 0.0002, respectivamente; as outras variáveis não foram significativas. Conclusão: o comprometimento da margem cirúrgica foi o único fator independente para a recidiva bioquímica. DESCRITORES: câncer de próstata, recidiva, prostatectomia. INTRODUÇÃO O câncer de próstata representa importante incidência mundial. Nos Estados Unidos da América, é a neoplasia maligna mais diagnosticada nos homens¹, sendo a segunda causa de morte por câncer entre a população masculina². Nesse contexto, a utilização do PSA nos pacientes com câncer de próstata tornou possível a identificação de um grupo de pacientes que, após serem submetidos à prostatectomia radical, apresentam elevação do PSA na ausência de sinais clínicos ou radiológicos de recidiva³. Assim, após duas a quatro semanas do procedimento cirúrgico, espera-se que o nível sérico de PSA esteja abaixo de 0,1 ng/ml, uma vez que todo o tecido prostático foi removido e a meia-vida sérica do PSA é de 2,6 dias. No entanto, níveis séricos indetectáveis após a cirurgia não significam a cura, pois alguns pacientes apresentarão recidiva bioquímica durante o seguimento. Esta recorrência bioquímica pode ser definida como níveis de PSA persistentemente detectáveis após a prostatectomia radical ou elevação do PSA em dosagens séricas posteriores ao nível indetectável4. Nos Estados Unidos, dos cerca de 200.000 pacientes diagnosticados com câncer de próstata, anualmente, 40% irão apresentar recidiva após o tratamento local 5.. O risco relativo para a recidiva bioquímica após a prostatectomia radical depende de fatores pré-operatórios e fatores patológicos. Análises multivariadas apontam como principais fatores prognósticos o valor do PSA pré-operatório, estágio T patológico e a escala de Gleason6,7,8. Trabalho de conclusão de curso pela Universidade do Estado do Pará- UEPA. Belém, Pará, Brasil ² Médico urologista, graduado pela Universidade Federal do Par- UFPA, professor Mestre da disciplina de clínica cirúrgica da Universidade do Estado do Pará- UEPA. ³Médicos graduados pela Universidade do Estado do Pará- UEPA 1 17 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 A identificação dos casos com alta probabilidade de recidiva da doença, que podem se beneficiar de um tratamento adjuvante, é um desafio. Desta forma, este estudo objetivou avaliar fatores preditivos para a recorrência bioquímica após prostatcetomia radical em pacientes com câncer localizado. MÉTODO Os pacientes foram estudados segundo os preceitos da Declaração de Helsink e do Código de Nuremberg, respeitadas as Normas de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Res. CNS 196/96) do Conselho Nacional de Saúde após aprovação de anteprojeto pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão de Medicina e Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna e da autorização dos pacientes por meio de termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo foi retrospectivo, de coorte, realizado com a participação de 99 pacientes diagnosticados com câncer de próstata localizado e submetidos à prostatecto- mia radical e registrados em dois ambulatórios particulares de urologia na cidade de Belém-PA. Foram excluídos aqueles que receberam qualquer tratamento neoadjuvante ou adjuvante (em período inferior ou igual a 90 dias de pós-operatório ou antes da ocorrência de recidiva bioquímica). O valor de antígeno prostático específico para a definição de recidiva bioquímica foi considerado igual ou maior que 0,2ng/mL4,5,9. Os dados obtidos foram analisados e interpretados, estatisticamente, através do método estatístico descritivo, além de análise uni e multivariada das variáveis para determinação da associação dos parâmetros pré -operatórios e do exame histopatológico com a recidiva bioquímica através de teste do software Bioestat® 5.0. Para esse fim, utilizou-se a análise de sobrevivência de risco Cox. O nível de significância adotado para o p-valor foi igual ou menor a 0.05. RESULTADOS: TABELA I - Frequência das variáveis nos grupos de pacientes com e sem recidiva em ambulatórios de urologia na cidade de BelémPA, de agosto de 1996 a novembro de 2006. VARIÁVEIS N RECIDIVA BIOQUÍMICA % SEM RECIDIVA BIOQUÍMICA % Presença ou não de recidiva 99 34 34,3% 65 65,7% PSA 0 a 4 8 0 0% 8 12% PSA 4,1 a 10 54 17 52% 37 57% PSA 10,1 a 20 24 11 33% 13 20% PSA > 20 9 5 15% 4 6% Gleason 2-4 5 2 6% 3 5% Gleason 5-6 67 22 65% 45 69% Gleason 7-9 22 10 29% 12 18% MARGEM+¹ 23 15 44% 8 12% EEP² 6 3 12% 2 3% VS³ 9 5 15% 4 6% FONTE: Protocolo de pesquisa 1-Margem positiva para tumor 2-Extensão extra-prostática 3-Vesícula seminal (comprometida pelo tumor) Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 18 TABELA II- Análise univariada das variáveis pelo risco proporcional de Cox. VARIÁVEIS b p-VALOR TX. RISCO IC 95% (TX. RISCO) PSA pré-operatório 0.0191 0.1055 1.0193 0.9960 - 1.0431 Vesícula comprometida 0.9199 0.0586 2.5091 0.9671 - 6.5095 Margem comprometida 1.3572 0.0002 3.8855 1.9219 - 7.8553 Gleason total patologico 0.1634 0.4401 1.1775 0.7777 - 1.7828 b=Coeficiente de regressão. IC=Intervalo de confiança. TX. RISCO: Taxa de risco TABELA III- Análise multivariada pelo risco proporcional de Cox, em ambulatórios de urologia na cidade de Belém-PA, de agosto de 1996 a novembro de 2006. VARIÁVEIS b P-VALOR TX. RISCO IC 95% (TX. RISCO) PSA pré-operatório 0.0402 0.3520 1.0411 1.0028 - 1.0808 Vesícula comprometida 0.2728 0.7454 1.3137 0.2530 - 6.8210 Margem comprometida 0.9623 0.0478 2.6178 1.0093 - 6.7901 Gleason total patologico 0.0685 0.7872 1.0709 0.6511 - 1.7616 b=Coeficiente de regressão. IC=Intervalo de confiança. FIGURA 1 - Taxa de sobrevivência da variável margem comprometida, em ambulatórios de urologia na cidade de Belém-PA, de agosto de 1996 a novembro de 2006 19 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 FIGURA 2 - Taxa de risco para a recorrência bioquímica em relação ao envolvimento da margem, em ambulatórios de urologia na cidade de Belém-PA, de agosto de 1996 a novembro de 2006. DISCUSSÃO Neste trabalho, as análises multivariada e univariada através do modelo de sobrevivência do risco proporcional de Cox demonstraram que a margem comprometida foi a única variável com valor independente para a ocorrência de recidiva bioquímica (Tabelas II e III; Figuras 1 e 2). A margem cirúrgica é relatada como um importante fator de risco para recorrência do câncer durante o seguimento da prostatectomia radical, uma vez que os pacientes com tumores ressecados apresentando margens positivas estão mais associados à recidiva bioquímica do que aqueles com margem negativa10, sendo amplamente registrada que a sua positividade é um fator de risco significativo para a recorrência de câncer de próstata no seguimento de pacientes submetidos à prostatectomia radical 11. Swanson, Riggs e Hermans (2007)12 sugeriram que pacientes com envolvimento da margem devam ser avaliados para a possibilidade de tratamento adjuntivo, pois esse encontro patológico representou risco elevado de falha bioquímica. A vesícula seminal comprometida com invasão Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 tumoral não representou importante fator para a recidiva bioquímica (Tabelas II e III). Este achado diverge de outros trabalhos13,14. Essa discordância com a literatura talvez tenha ocorrido pela baixa evidência do envolvimento da vesícula no universo dos 99 pacientes analisados. Não obstante, é importante destacar que a freqüência relativa desta variável no grupo com recidiva bioquímica foi 2,5 maior do que no grupo de homens sem recidiva (Tabela I). Ademais, o pvalor gerado na análise univariada foi ligeiramente maior que 0,05 (Tabela II). Os dados encontrados indicam que o PSA pré -operatório não foi significante como variável preditora independente para a rediviva bioquímica (Tabelas II e III). Apesar disso, vários autores observaram a importância do PSA pré-operatório como fator para a evolução da recorrência bioquímica5,9,15. Entretanto, Babaian et al (2001)11 observaram que não houve associação significativa entre a concentração de PSA pré-operatória e a falha bioquímica. No trabalho desenvolvido por Nelson et al (2003)16, o PSA pré-opera20 tório foi significativo em análise multivariada pelo risco proporcional de Cox para a ocorrência de recidiva bioquímica, porém não foi obtida significância para a recorrência clínica da doença. Em relação ao escore de Gleason, não houve significância estatística (Tabelas II e III). Epstein et al (1996)17 observaram que a escala de Gleason foi um fator de risco independente para a progressão da doença. Os tumores com pontuação 2 a 4 foram invariavelmente curados. Caire et al(2009)18 observaram que os pacientes com pontuação total igual ou maior que 7 estavam submetidos ao risco de desenvolvimento mais precoce de recorrência bioquímica. Os dados da literatura, portanto, indicam que a escala de Gleason é um preditor importante para a progres- são da doença, havendo relação inversa entre as taxas livres de recorrência bioquímica e a pontuação deste parâmetro patológico. É importante frisar que estas pesquisas tiveram metodologias diferentes e apresentaram maior volume de participantes do que a do nosso trabalho, ademais a maioria dos nossos pacientes apresentou escore até 6, ou seja, com melhor prognóstico, o que pode explicar os dados divergentes com esses autores. CONCLUSÃO Baseado nos resultados obtidos através da sobrevivência do risco proporcional de Cox, a margem comprometida por invasão tumoral foi a única variável com significativa estatística na análise uni e multivariada para a recorrência bioquímica. SUMMARY CLINIC ASSESSMENT OF THE PREDICTIVE FACTORS OF BIOCHEMICAL RECURRENCE AFTER RADICAL PROSTATECTOMY IN PATIENTS PRESENTING LOCALIZED PROSTATE CANCER Aluízio Gonçalves da FONSECA, Fábio do Nascimento BRITO e Antônio Augusto Pinto FERREIRA Objective: to evaluate the predictors of biochemical recurrence after radical prostatectomy in patients with localized prostate cancer. Methods: The study was cross-sectional, retrospective, cohort study, it was conducted with participation of 99 patients enrolled in two private clinics of urology in Belém-PA. Survival analysis of Cox proportional hazards model was applied to univariate and multivariate analysis. Results: 34.3% patients with biochemical recurrence; multivariate analysis and univariate analysis of the margin compromised generated p-value of 0.0478 and 0.0002, respectively, the other variables were not significant. Conclusion: the involvement of the surgical margin was the only independent factor for biochemical recurrence. Key words: Prostatic Neoplasms, Recurrence, Prostatectomy. REFERÊNCIAS 1. Murray T, Jemal A, Tiwari RC, Ghafoor A, Samuels A, Ward E, et al. Cancer statistics. Cancer J Clin. 2004;54:8-29 2. Penson DF, Litwin MS. The physical burden of prostate cancer. Urol Clin N Am. 2003; 30: 305-313 3. Freedland SJ, Humphreys EB, Mangold LA, Eisenberger M, Dorey FJ, Walsh PC, et al. Risk of prostate cancer–specific mortality following biochemical recurrence after radical prostatectomy. JAMA. 2005; 294(4): 433-439 4. Scher HI. Management of prostate cancer after arostatectomy: treating the Patient, not the PSA. JAMA. 1999, 281(17):1642-1645 5. Fonseca RP, Júnior ASF, Lima VS, Lima SSS, Castro AF. Recidiva bioquímica em câncer de próstata: artigo de revisão. Rev. Bras. Cancerol., 2007; 53(2): 167-172 6. Kattan MW, Eastham JA, Stapleton AMF, Wheeler TM, Scardino PT. A preoperative normogram for desease recurrence following radical prostatectomy for prostate cancer. 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Método: estudo transversal, resultante da coletados dados de 65 pacientes portadores de fatores de risco para o pé diabético, atendidos no Ambulatório de endocrinologia do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HJBB), no período de abril a dezembro de 2009, por meio de questionários individualizados e exame físico. Resultados: evidenciou-se que 75,4% dos pacientes apresentaram algum tipo de claudicação; 36,9% já foram acometidos por ferida nos pés; 70,8% possuíam parestesia; 40% apresentaram perda de sensibilidade tátil e dolorosa e 70,6% que não recebem orientações sobre os cuidados com os pés durante a consulta com o endocrinologista, não possuem conhecimento sobre prevenção do pé diabético. Um tempo maior para retorno ambulatorial esteve relacionado à maioria dos casos com úlceras nos pés. Grande parte que apresentou modificações na circulação foi encaminhada ao angiologista, enquanto os que demonstraram alterações neurológicas não receberam a mesma conduta. Conclusão: devido a grande demanda de pacientes, o tempo de duração das consultas é considerado pequeno, ao mesmo tempo em que é demasiado grande o intervalo entre as consultas, características que dificultam a execução da resolutividade aos pacientes com fatores de risco para o pé diabético. Fazem-se necessários novos estudos que apresentem alternativas que objetivem a melhoria no manejo integral dos usuários em todos os níveis de saúde. DESCRITORES: diabetes; pé diabético; prevenção. INTRODUÇÃO Um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) é o da resolutividade das ações e dos serviços de saúde, o que significa a capaci-dade de resolução em todos os níveis de assistência por parte do poder público.1 As estra-tégias de manejo das doenças de grande incidência na população e sua eficácia são o principal parâmetro para medir a resolutividade nos serviços de saúde. O diabetes mellitus, um grande problema de saúde pública para a maioria dos países, é uma doença crônico-degenerativa, que vem au- mentando, consideravelmente, sua incidência no Brasil, sendo hoje o sexto país a apresentar maior quantidade de pacientes com a doença estimando-se em, aproximadamente, seis milhões o número total de diabéticos.2,3 Uma das complicações do diabetes é a Síndrome do Pé diabético, tendo a neuropatia como a principal manifestação, além da vasculopatia, da osteoartropatia e das infecções.4 Há o aparecimento de lesões ulcerativas, as quais podem evoluir com gangrena, resultando em amputação maior ou menor, se não tratadas precocemente e de Trabalho realizado no Hospital Universitário João de Barros Barreto – Universidade Federal do Pará/UFPA Médica graduada pela Universidade Federal do Pará/UFPA. Belém/PA 3 Médico graduado pela Universidade Federal do Pará/ UFPA. Médico do Programa da Saúde e da Família 4 Médico graduado Pela Universidade do Estado do Pará- UEPA. Professor de Angiologia e Cirurgia Vascular da Universidade Federal do Pará- UFPA. 1 2 23 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 maneira adequada.4,5 A prevenção de úlceras e a redução do número de amputações estão relacionadas às ações educativas sobre os cuidados com o pé, ao planejamento terapêutico e à abordagem interdisciplinar na assistência ao paciente.6 Constatou-se a importância da avaliação dos pés dos diabéticos pelos profissionais da saúde, por meio de exame regular e detalhado, além do desenvolvimento de atividades educacionais e orientações sobre cuidados pessoais para prevenção do pé diabético. A precaução com os fatores de risco e os manejos iniciais das lesões pode ser feitos nos níveis primário e secundário, sendo colocados em prática por médicos generalistas e, em especial, os endocrinologistas, devido à importância da participação dessa especialidade na condução da doença. 7,8,9 OBJETIVO Observar a aplicação, na prática clínica diária, do princípio da resolutividade na abordagem dos pacientes portadores de fatores de risco para o pé diabético, objetivando maior eficácia na prevenção do surgimento de formas complicadas desta doença. MÉTODO O tipo de estudo foi transversal analítico. Realizouse a pesquisa em 65 pacientes com fatores de risco para o pé diabético atendidos no Ambulatório de Endocrinologia do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), instituição de ensino vinculada à Universidade Federal do Pará (UFPA), período de abril a dezembro de 2009. Os critérios de inclusão da casuística consideraram os pacientes de qualquer idade e sexo que apresentavam fatores de risco para pé diabético, matriculados no HUJBB e com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios de exclusão foram os pacientes que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os que resolveram descontinuar a pesquisa, os que não apresentavam fatores de risco para pé diabético e os que eram pacientes de primeira vez no ambulatório de endocrinologia. A relação entre as variáveis foi avaliada a partir das manifestações dos seguintes fatores de risco do pé diabético: neuropatia, vasculopatia e infecção. A obtenção dos dados e informações realizou-se a partir de questionários individualizados e elaborados pelos autores, mediante um termo de consentimento informado livre e esclarecido, obedecendo às normas expostas na Resolução Nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 A análise clínica ocorreu através de um exame físico realizado pelos autores, em que houve a inspeção dos membros inferiores, palpação dos pulsos pedioso, tibial posterior e poplíteo e execução de teste de sensibilidade tátil e dolorosa com o uso de algodão e alfinete, respectivamente. A pesquisa foi desenvolvida segundo os preceitos da declaração de Helsinque e do Código de Nuremberg, respeitadas as Normas de Pesquisas envolvendo Seres Humanos (Res. Nº196/96) do Conselho Nacional de Saúde, após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário João de Barros Barreto da Universidade Federal do Pará. A garantia do sigilo foi mantida, assegurando a privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais obtidos. Os dados coletados foram estruturados em um banco de dados no programa Microsoft Excel 2007, no qual também foram confeccionadas tabelas e gráficos para representação dos dados. Posteriormente foram analisados no programa Bioestat 5.0 para a geração de resultados estatísticos que comprovassem a associação de variáveis pertinentes ao estudo, considerando o intervalo de confiança (IC) 95% e nível α 5% (p-valor ≤ 0,05). O teste do Qui-quadrado foi utilizado nas comparações de n amostras independentes, cujas proporções observadas nas diversas modalidades estão dispostas em tabelas de contigência l x c, onde se determinou as proporções observadas nas diferentes categorias e se estas tinham alguma associação, nos casos em que as proporções esperadas eram baixas, utilizou-se o teste G. Para a estimação de quanto uma determinada variável contribui para a ocorrência de determinado desfecho clínico, utilizou-se como análise bi-variada de medida de associação o teste de Odds Ratio (OR), que é para determinar a vantagem ou desvantagem de um evento em relação ao outro. Para casos em que se tenha um OR > 1 significa afirmar que a variável independente que está sendo analisada será um fator de risco para a variável dependente. Se o valor de OR for <1, afirma-se que a variável será um fator de proteção para o desfecho clínico analisado. Nas ocasiões em que OR for igual a 1, significa dizer que a variável não se comporta nem como fator de risco, nem como fator de proteção, não ocorrendo associação entre elas. RESULTADOS 24 Tabela I – Aspectos clínicos dos pacientes com risco para o pé diabético. HUJBB, abril a dezembro de 2009 N Aspectos clínicos Teste % Tabela III- Relação entre a presença de feridas nos pés com o tempo de marcação de consulta com endocrinologista dos pacientes. HUJBB, abril a dezembro de 2009 Tempo de marcação de esta- tístico Claudicação consulta com endocrino- Úlceras logista > 6 meses ≤ 6 meses nos pés Sem dor 16 24.6 Qui-quadrado Ao andar 28 43.1 p < 0.0001 Em repouso 2 3.1 Com Ao andar e repouso 19 29.2 úlceras Total Parestesia 65 100 Sem úlceras Sim 46 70,8 Qui-quadrado Não 19 29,2 p = 0.0131 Total Teve úlcera nos pés 65 100 Sim 24 36.9 Qui-quadrado Não 41 63.1 p = 0.0472 65 100 Não 19 29.2 Qui-quadrado Tátil 12 18.5 p = 0.0088 Total Perda de sensibilidade Total Houve 8 12.3 encami-nha- 26 40.0 mento para Total 65 100 Fonte: Protocolo de Pesquisa. Orientações sobre os venção do pé diabético Sem conhecimento Com conhecimento Total o angiologista Tabela II – Análise entre o conhecimento sobre pre-venção do pé diabético e orientações sobre os cui-dados com os pés dos pacientes, HJBB, 2009 sobre pre- n % N % 24 70.6 8 25.8 10 29.4 23 74.2 34 100 31 100 N % 7 77.8 17 30.4 2 22.2 39 69.6 9 100 56 100 OddsRatio = 8.0 p = 0.0181 IC95% = 1.6 42.7 Tabela IV – Análise sobre o encaminhamento ao angiologista dos pacientes com fatores de risco para o pé diabético que apresentam alterações circulatórias no ambulatório de endocrinologia do HUJBB, no período de abril a dezembro de 2009 Dolorosa cuidados com os pés Com Sem orienorientatação ção % Fonte: Protocolo de Pesquisa Tátil e dolorosa Conhecimento N Teste estatístico Encaminhou Não encaminhou Total Teste estatís- Alterações circulatórias Com Sem alalteração teração circirculatóculatória ria n % N % 5 62.5 3 5.3 3 37.5 54 94.7 8 100.0 57 100.0 Teste estatístico OddsRatio = 30.0 p < 0.0001 IC95% = 4.74 -189.66 Fonte: Protocolo de Pesquisa tico Odds Ratio = 7.0 p = 0.0008 IC95%= 2.31 - 20.55 Fonte: Protocolo de Pesquisa Figura 1 – Correlação do tempo de marcação de consulta com a presença de úlceras nos pés dos pacientes HUJBB, abril a dezembro de 2009. Fonte: Protocolo de Pesquisa 25 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 dos pacientes diabéticos poderão desenvolver a lesão e, eventualmente, precisarão de hospitalização.15,4 Os pacientes foram avaliados quanto às alterações circulatórias e neurológicas através do exame de palpação dos pulsos pedioso, tibial posterior e poplíteo e da análise da perda de sensibilidade, respectivamente. A partir dos resultados obtidos, notou-se semelhança ao estudo de Vigo e Pace (2005)5, que demonstra possível ausência ou diminuição dos pulsos e de Levin (2002)16, que afirma a existência de perda na sensibilidade dos pés, sendo encontrada na maioria dos casos deste estudo. Figura 2 – Análise entre encaminhamento ao angiologista e alterações circulatórias dos pacientes com fatores de risco para o pé diabético. HUJBB, abril a dezembro de 2009 Fonte: Protocolo de Pesquisa Tabela V – Análise sobre o encaminhamento ao angiologista dos pacientes com fatores de risco para o pé diabético, HUJBB, abril a dezembro de 2009 Alterações neurológicas Houve encaminhamento para o an-giologista Com alteração neurológica Sem alteração neurológica Teste esta-tístico n % n % Encaminhou 7 15.2 1 5.3 Teste G Não encaminhou 39 84.8 18 94.7 p= 0.4698 Total 46 100 19 100 Fonte: Protocolo de Pesquisa DISCUSSÃO Neste trabalho, o principal sintoma clínico aferido foi claudicação, sendo relatado por cerca de três quartos do total de pacientes (49 pacientes), os quais possuem o acometimento da circulação periférica, estando mais expostos à gangrena e amputação em um menor espaço de tempo.10,11, 12,13 Foi relatado o sintoma de parestesia em cerca de dois terços dos casos, corroborando a literatura.14 Apesar da minoria dos pacientes avaliados ter apresentado úlceras nos pés, é preciso lembrar que 15% Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Analisando a correlação entre o grau de conhecimento dos pacientes acerca dos cuidados para a prevenção de lesões e as orientações dadas efetivamente pela equipe assistente, constatou-se que o grupo que foi adequadamente orientado, foi o que se mostrou, ao final, detentor de uma chance sete vezes maior de ter conhecimento correto sobre o seu próprio problema. Tais dados, apresentados na tabela II, tiveram significância estatística através da realização da odds ratio. Essas observações coadunam com as recomendações de Lopes e Oliveira (2004)7, que ressaltam a importância do papel da equipe no processo de informação e prevenção do pé diabético. Correlacionando o intervalo de marcação de consultas com o desenvolvimento de lesões nos pés, observa-se que houve oito vezes mais chance de aparecimento da lesão no grupo de pacientes que tiveram um tempo de retorno ao endocrinologista sempre superior a seis meses, dado que teve significância estatística.17,18 Na intersecção dos dados relativos à presença de alterações circulatórias nos membros inferiores e encaminhamento dos pacientes com essas modificações para o angiologista, obteve-se uma estatística signifi-cante, como foi descrito nos estudos de Vigo e Pace (2005)5, em que os pacientes que tiveram mudanças dos pulsos durante a avaliação do endocrinologista foram trinta vezes mais encaminhados para o angiologista do que os sem alterações circulatórias, sendo, então, seguido o princípio da resolutividade. Apesar de a neuropatia diabética ser responsável pela formação da maior parte das úlceras dos pés 19 , não houve diferença estatística (Teste G, p = 0.4698) entre os pacientes com ou sem a referida alteração neurológica, quanto ao correto encaminhamento para o angiologista. Confirma essa impressão o fato de que o não encaminhamento foi elevado em ambos os grupos de pacientes. Durante o período da pesquisa, percebeu-se uma intensa rotatividade dos pacientes diabéticos acompanha26 dos no ambulatório de endocrinologia, devido a grande demanda de atendimentos realizados pelos profissionais endocrinologistas neste serviço, influenciando, inevitavelmente, na marcação de retornos para consultas subsequentes, de continuidade, com um intervalo maior de tempo e na curta duração das consultas, dificultando a identificação de fatores de risco para o pé diabético. Poder-se-ia evitar que esses pacientes evoluíssem com essa comorbidade,20 por meio de uma atenção primária mais abrangente, eficiente e resolutiva juntamente a um melhor acompanhamento de tais riscos na atenção secundária, de forma a intervir o mais precocemente nos quadros instalados, além de programas de conscientização e informação para a população, objetivando prevenir e/ ou verificar inicialmente os fatores de risco e capilarizar os fatores de prevenção para conhecimento dos usuários do sistema. Uma alternativa para a melhoria do acompanhamento desses pacientes pode ser baseada no exemplo do ambulatório de doenças metabólicas do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, que realiza um trabalho preventivo de rotina do pé diabético, através do exame dos pés de pacientes diabéticos em toda a consulta, além do registro em fichas dos dados da história do paciente, dos fatores de risco e exame físico, sendo executado pelas equipes médica e de enfermagem, associado às orientações aos pacientes e familiares relacionados à necessidade de exame diário dos pés em âmbito domiciliar. CONCLUSÃO Devido a grande demanda de pacientes, o tempo de duração das consultas é considerado pequeno, ao mesmo tempo em que é demasiado grande o intervalo entre as consultas, dificultando a execução da resolutividade aos pacientes com os fatores de risco para o pé diabético. Além disso, a orientação sobre prevenção do pé diabético é escassa, o que implica no aparecimento da doença. Em virtude da carência de estudos relacionados à sistemática do princípio da resolutividade na população de diabéticos e suas complicações, são necessários novos estudos que apresentem alternativas e sugestões para a melhoria do manejo integral dos pacientes em todos os níveis de atenção do SUS. SUMMARY Resolutivity in care in the PATIENTS WITH RISK FACTORS FOR DIABETIC FOOT Aline Michelli Viégas PEREIRA, Aarão Carajás Dias dos SANTOS e Paulo Martins TOSCANO Objective: to observe the implementation in everyday clinical practice, the principle of Resolutivity approach of patients with risk factors for diabetic foot. Method: through a cross-sectional study, data were collected with 65 patients with risk factors for diabetic foot outpatient clinic of Endocrinology, University Hospital João de Barros Barreto, from april to december 2009, through individualized questionnaires, and physical examination. Results: showed that 75.4% of patients had some type of claudication, 36.9% have been suffering from sore feet, 70.8% had paresthesia, 40% showed loss of tactile and painful and that 70.6% receive no guidance on foot care during the consultation with an endocrinologist, have no knowledge about prevention of diabetic foot. A longer time for outpatient was related to most cases with foot ulcers. Much that showed changes in the circulation was referred to angiologist, while those who showed no neurological received the same conduct. Conclusion: due to the high demand of patients, the duration of the consultations is considered small, while it is too large the interval between queries, characteristics that hinder the implementation of problem solving to patients with risk factors for diabetic foot. Make up new studies showing alternatives that aim to improve the integrated management of users at all levels of health. KEYWORDS: diabetic; diabetic foot; prevention 27 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 REFERÊNCIAS 1. Costa JSM. Assistência Humanizada e Estrutura Organizativa. A Necessária Interface: A Experiência do Grupo de Trabalho de Humanização em um Hospital de Belo Horizonte. Belo Horizonte, 2004. 175f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Centro de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004. 2. Sacco IC. et al. Implementing a clinical assessment protocol for sensory and skeletal function in diabetic neuropathy patients at a university hospital in Brazil. Slo.br>. Acesso em: 18 jan. 2010. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Indicadores de morbidade e fatores de risco: taxa de prevalência de diabete melito. Indicadores e dados básicos. Brasília: MS, 2001. Disponível em: <www. tabnet.datasus.gov.br>. Acesso em: 19 fev.2010. 4. Calsolari MR et al. 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Método: foram avaliadas quatro crianças, utilizando-se a Escala de Desenvolvimento do Comportamento da Criança – EDCC para conhecer como essas crianças estão em relação às habilidades motoras, cognitivas e sociais, esperadas para a sua faixa etária. A pesquisa utilizou-se de prontuários para a caracterização das crianças e a escala. Resultados: detectou-se que 100% dos crianças apresentaram um bom desenvolvimento, tanto no comportamento motor quanto psicológico. Observou-se que em alguns comportamentos que necessitavam de estimulação, as crianças não alcançaram êxito na realização dos comportamentos, principalmente os referentes à utilização dos membros superiores, a linguagem e a interação social. Conclusão: acredita-se que o contexto do abrigo pode ser um bom ambiente que propicia o desenvolvimento infantil, mas o acompanhamento dessas crianças torna-se indispensável para a prevenção de possíveis atrasos na vida adulta. DESCRITORES: desenvolvimento infantil, comportamento, abrigo. INTRODUÇÃO O desenvolvimento do comportamento da criança está interligado com o ambiente ao qual está inserida e acredita-se que o mesmo deva favorecer espaços que ofereçam interações sociais, cuidados, educação e principalmente afeto. Esse contexto onde geralmente a criança desenvolve-se é o familiar, porém podem ocorrer alguns fatores, como: negligência, abandono, maus tratos, violência, etc, que direcionam a criança ao acolhimento institucional. Os autores estudiosos da temática da institucionalização divergem no que diz respeito ao contexto, apresentar-se “bom” ou “ruim” para o desenvolvimento do criança. 5,6,11 Para Carvalho (2002)5, o ambiente institucional não se constitui no melhor ambiente de desenvolvimento, pois fatores como: o atendimento padronizado, o alto índice de criança por cuidador, a falta de atividades planejadas e a fragilidade das redes de apoio social e afetivo são alguns dos aspectos relacionados aos prejuízos que a vivência institucional pode operar no indivíduo. Entretanto, outros estudos apontam as oportunidades oferecidas pelo atendimento em uma instituição, salientando que, em casos de situações ainda mais adversas na família, a instituição pode ser a melhor saída.6,11 Diante da possibilidade do contexto da institucionalização ser um ambiente com fatores de risco ou Pesquisa realizada no Espaço de Acolhimento Infantil - EAPI, na cidade de Belém/Pa. Graduada em Terapia Ocupacional da Universidade do Estado do Pará/UEPA. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação de Psicologia da Universidade Federal do Pará- UFPA 3 Psicólogo graduado pela Universidade da Amazônia/UNAMA. Doutor pela Universidade Federal do Pará- UFPA. Professor da Faculdade de Psicologia e do Programa de Pós Graduação da Universidade Federal do Pará-UFPA 1 2 29 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 proteção ao desenvolvimento, torna-se indispensável a discussão acerca de instrumentos que avaliem o desenvolvimento. A Escala do Desenvolvimento do Comportamento da Criança – EDCC é uma escala de observação interativa, de fácil aplicação e avaliação, que foi especialmente estruturado para a observação do desenvolvimento do comportamento de crianças de um a doze meses, que considera os grupos de comportamentos mais significativos nesta faixa etária e fornece uma indicação do ritmo e uma avaliação qualitativa do processo de desenvolvimento do comportamento da criança.10 Outro fator determinante é o fato da EDCC ter uma padronização cuidadosa, realizada com crianças brasileiras sadias, nascidas a termo e sem fatores de risco para o desenvolvimento do comportamento. Logo, a atenção direcionada a avaliação da criança em acolhimento institucional, deve ser primordialmente voltada para as suas particularidades no desenvolvimento e não os déficits encontrados em função da comparação com crianças e adolescentes que se desenvolvam dentro do padrão esperado. OBJETIVO Descrever e analisar uma avaliação, utilizandose a EDCC com crianças de 6 a 9 meses, realizada em um ambiente institucional localizado na cidade de Belém/PA. MÉTODO É um estudo do tipo descritivo e exploratório, realizado em uma instituição de acolhimento infantil na cidade de Belém/Pa, no período de dois meses (agosto a outubro de 2012). Participantes: Na instituição onde foi realizada a pesquisa o número total de crianças era de 53, com idade entre zero a 6 anos, porém com a faixa etária escolhida para a pesquisa só haviam quatro crianças. Participaram do estudo quatro crianças do sexo masculino, com a faixa etária entre 6 a 9 meses de idade e com o tempo de acolhimento entre 2 a 6 meses. Os motivos de entrada na instituição foram categorizados como: abandono, negligência familiar e genitores usuários de drogas lícitas e ilícitas. Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Os critérios de seleção foram por escolha intencional, visto que essas crianças eram os únicos na instituição dentro da faixa etária estabelecida pela pesquisa. Essas crianças foram selecionadas por não apresentarem disfunção neurológica e pela previsão de maior tempo de permanência no abrigo. Instrumentos: Foi utilizada a EDCC e uma ficha de caracterização reformulada retirada da pesquisa de Cavalcante (2008)6. Essa ficha incluiu itens como: identificação pessoal, questões socioeconômicas da família de origem, motivos para a entrada na instituição, o tempo de convivência familiar e habilidades esperadas para faixa etária de 6 a 12 meses. A EDCC avalia 64 comportamentos, distribuídos mês a mês e em faixas etárias de zero a 2 meses, de 3 a 5 meses, de 6 a 8 meses e de 9 a 12 meses. Para este estudo foi utilizada a escala a partir dos 6 meses de idade em diante. Os comportamentos contidos na escala são os motores, cognitivos e sociais avaliados em diferentes atividades, os quais podem ser estimulados ou espontâneos. O comportamento da criança é considerado quanto aos eixos somáticos e quanto à estimulação. Os eixos somáticos são relativos ao comportamento axial (tronco) e ao comportamento apendicular (membros). Quanto à estimulação, Pinto (1997)10 considerou o comportamento motor estimulado (depende do estímulo para realizar o comportamento) e o comportamento motor espontaneo (não depende do estímulo para realizar o comportamento). O comportamento em atividades engloba tarefas que avaliam a comunicação da criança com o seu meio, o comportamento cuja exteriorização indica uma determinação de contato e comunicação na interação da criança com outra pessoa (comunicativo), e o comportamento que não mostra tal determinação (não comunicativo). Durante o processo de avaliação, se a criança realiza a tarefa, ele recebe um sinal de positivo para aquele comportamento e, se não realiza, ele recebe um sinal de negativo. Quando não é possível testá-lo, o criança recebe um “x” para esse item. Procedimentos da pesquisa: Este estudo faz parte de uma pesquisa de dissertação de mestrado intitulada: Atendimento de 30 bebês em acolhimento institucional: estudo de casos múltiplos. Inicialmente, teve a aprovação do projeto no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Pará, com a autorização através do número: 157.173 assim como a autorização judicial da comarca responsável legalmente pelas crianças e da Secretaria de Desenvolvimento do Estado responsável pela gestão da instituição. Através dessas autorizações o termo de consentimento foi ausente devido a tutela das crianças participantes pertencerem ao Estado. Posteriormente, foi realizado o processo de ambientação ao espaço e aos participantes pela pesquisadora para o reconhecimento da rotina das crianças, e o acesso aos prontuários para a aquisição dos dados relevantes para o estudo. A aplicação da escala foi realizada pelo professor orientador do estudo (psicólogo) no espaço da sala de estimulação da instituição, no horário que as crianças já frequentavam o local para que não houvesse mudança na rotina. Assim como, utilizaram-se brinquedos de maneira lúdica para que as crianças sentissem-se a vontade com a pesquisadora para serem observados e estimulados. A análise e interpretação dos dados foram feitas de maneira exploratória e descritiva, evidenciando-se os resultados obtidos na escala e a análise individual de cada criança, através do uso de tabelas explicativas dos resultados obtidos. RESULTADOS Inicialmente foi realizada a caracterização dos participantes da pesquisa, através do uso de uma tabela para exemplificar dados extraídos dos prontuários das crianças e posteriormente foram analisados os resultados da escala. As crianças desse estudo foram denominadas como: C1, C2, C3, e C4. A tabela 1 apresenta os resultados da coleta das informações a partir dos documentos das crianças. A caracterização das crianças demonstra que, a maioria foi abandonada ou negligenciada por seus pais. Todas as mães eram usuárias de alguma droga: álcool, maconha, crack, etc. O tempo médio das crianças em acolhimento institucional varia de 2 a 6 meses e todas apresentaram algum problema de saúde detectado na hora do nascimento ou quando da entrada na instituição, como sífilis congênita, desnutrição, infecção por áscaris lumbricoides. Quadro 1 - Caracterização psicossocial das crianças avaliadas, através dos prontuários localizados na instituição de acolhimento infantil em Agosto de 2012. Nome da criança Idade Idade de entra- Tempo de acoda no abrigo lhimento Motivo da entrada Mãe usuária de drogas Presença de doenças C1 6M 16 D 6M A Sim Sim C2 6M 4M 2M A Sim Sim C3 9M 7M 2M Ne Não Sim C4 6M 13 D 6M A Sim Sim M: meses; D: dias; A: abandono; Ne: Negligência Fonte:Prontuários. No quadro 2 serão expostos os resultados da aplicação da EDCC, através da demonstração dos conceitos obtidos pelas crianças nos oito grupos de comportamentos. Vale ressaltar que em relação as ações que aparecem em todas as faixas etárias estão no limiar de tolerância de serem realizados. 31 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Quadro 2- Caracterização dos comportamentos dos crianças avaliados na instituição de acolhimento infantil a partir da EDCC, em Agosto de 2012. Crianças Axial Espontâneo Não Comunicativo C1 C2 C3 C4 Excelente Excelente Bom Excelente Axial Espontâneo Comunicativo De Risco Bom Bom Bom Axial Estimulado Não Comunicativo Bom De Risco Não existem comportamentos para essa faixa etária. Bom Axial Estimulado Comunicativo Bom Bom Bom De Risco Apendicular Espontâneo Não Comunicativo Bom Bom Bom De Risco Apendicular Espontâneo Comunicativo Apendicular Estimulado Não Comunicativo Apendicular Estimulado Comunicativo Excelente Excelente Excelente Excelente Excelente Bom Bom Bom Bom Bom Com Atraso Bom Fonte: EDCC DISCUSSÃO Pode-se inferir a partir dos resultados expostos no quadro 2, que todas as crianças participantes do estudo alcançaram o conceito bom da escala. A maioria dos comportamentos não realizados são classificados como de aparecimento, o que evidencia que as crianças ainda alcançarão essas habilidades no decorrer do desenvolvimento. Diante dos resultados expostos, pode-se observar que as crianças C1, C2, C3 e C4 apresentaram um bom desenvolvimento tanto do comportamento motor quanto psicológico, porém é necessário um acompanhamento das crianças em instituições por profissionais e cuidadoras para a observação da influência desses contextos. Porém nem sempre este acompanhamento é possível, visto que, geralmente os crianças permanecem por pouco tempo na instituição devido estarem no estágio de vida preferido pelas famílias brasileiras, para o processo de adoção, que é até os dois anos de idade. Ao observarem-se detalhadamente os resultados, pode-se perceber que, a criança C1 precisa de um melhor acompanhamento no quesito axial espontâneo comunicativo, axial estimulado comunicativo, apendicular estimulado comunicativo, no que se refere aos comportamentos que envolvem o desenvolvimento da linguagem e interação social. O bebê C2 no axial espontâneo comunicativo e apendicular estimulado comunicativo, que envolvem comportamentos de linguagem e interação social. Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 O bebê C3 no axial estimulado comunicativo e apendicular estimulado comunicativo, que diz respeito ao comportamento de interação social. O bebê C4 apresentou maior dificuldade na realização dos comportamentos axial estimulado comunicativo, no apendicular espontâneo não comunicativo e apendicular estimulado comunicativo; que dizem respeito a comportamentos de interação social e movimentação dos membros superiores. No quadro I, pode-se observar seis variáveis que influenciam diretamente no conhecimento da história da criança, são elas: idade, idade de entrada no abrigo, tempo de acolhimento, motivo da entrada na instituição, mãe usuária de drogas e presença de doenças. Autores citados a seguir, em seus estudos, já evidenciaram esses fatores na caracterização de crianças acolhidas institucionalmente. Para corroborar esses achados, segundo o relatório de pesquisa da justiça infanto-juvenil fornecido pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ (CNJ-IPEA, 2012), em que as principais causas de acolhimento no Brasil ocorrem distribuídas da seguinte forma: 20% por negligência, 16% por abandono e 14% porque os pais ou responsáveis são alcoolistas ou dependentes químicos. Outro fator relevante visto na caracterização das crianças é a utilização de drogas, que merece atenção por figurar como experiência pré-natal que pode afetar negativamente o desenvolvimento do cérebro da criança pequena. 4,8,9 32 Um estudo realizado por Bayley (1993)4, demonstrou que crianças expostas a drogas no período pré-natal apresentaram desempenho abaixo da média para a escala mental, em relação a outras crianças da mesma idade e que a pontuação total referente a escala de comportamento ficou entre os percentis não ótimo e questionável. Assim como nos estudos citados anteriormente, esta pesquisa trouxe um recorte da realidade dos abrigos sendo todos os participantes do sexo masculino, com um tempo significativo de permanência na instituição e a questão da vulnerabilidade. No que diz respeito a análise da EDCC e a literatura, os resultados dos comportamentos dos crianças C1 e C2, são corroborados com o estudo de Anzanello (2010)2, que no comportamento axial espontâneo comunicativo, trouxe em sua pesquisa utilizando-se da EDCC, que quanto ao desenvolvimento social nos abrigos, neste item, é possível verificar que 4,3% das crianças apresentaram “atraso” no desenvolvimento, 26% apresentaram comportamento “de risco” para o desenvolvimento, 22% apresentaram comportamento “regular”, 34,8% das crianças apresentaram comportamento “bom” e 13% das crianças avaliadas apresentaram comportamento “excelente”. Ainda nesta pesquisa, Anzanello (2010)2 detectou que no comportamento axial estimulado comunicativo em relação aos abrigos, 9% das crianças apresentaram “atraso”, 26% apresentaram “risco para atraso”, 22% das crianças apresentaram situação “regular” para este comportamento, 22% das crianças apresentaram o conceito “bom” e 22% apresentaram classificação “excelente” para este comportamento. Assim como os crianças C1, C2 e C3 demonstraram dificuldades na realização desses comportamentos. No comportamento apendicular estimulado comunicativo os crianças C1, C2, C3 e C4 obtiveram escore negativo, assim como no estudo de Anzanello (2010)2, ao referir-se que nos abrigos, 13% das crianças apresentaram “atraso”, 17% apresentaram “risco” para atraso, 22% apresentaram classificação “regular”, 22% apresentaram classificação “bom” e 26% apresentaram classificação “excelente” para este comportamento. O estudo em questão e o citado anteriormente demonstram que a interação social e a linguagem são domínios do desenvolvimento que geralmente encontra-se em atraso em crianças que vivem em instituição de abrigo. Esses dados podem representar a realidade 33 nesses contextos onde a estimulação precoce do desenvolvimento pode não ocorrer devido a pouca quantidade de funcionários capacitados para esse tipo de intervenção. Alexandre e Vieira (2004)1 corroboram com os achados neste estudo em questão, segundo eles, as crianças institucionalizadas apesar de receber cuidados médicos e alimentares, tem atrasos no desenvolvimento motor (caminham tardiamente), demoram mais a falar e tem dificuldade para estabelecer ligações afetivas significativas. Os autores constataram também que, dentro dos abrigos, não é possível manter intimidade e cumplicidade, devido a grande proporção de crianças em relação aos adultos. Barros e Fiamenghi Jr (2007)3 em pesquisa sobre a interação afetiva de crianças abrigadas perceberam que em relação as crianças (em torno de 1 ano), observou-se que recebiam pouca estimulação por parte das monitoras. Aqueles crianças que ainda não andavam ou engatinhavam ficavam praticamente todo o tempo sentados em seus carrinhos ou em cercadinhos, acompanhados ou não de brinquedos. Essa realidade também foi encontrada na instituição onde foi realizado este estudo, visto que anteriormente a aplicação da escala, a pesquisadora realizou um período de habituação no abrigo, o que proporcionou a observação da rotina das crianças. Através disso percebeu-se que com exceção dos momentos de higiene e alimentação, os crianças participantes dessa pesquisa, passavam a maior parte do tempo nos berços, carrinhos ou chiqueirinhos. CONCLUSÃO Conclui-se que a EDCC mostrou-se um importante e eficaz instrumento para a avaliação do comportamento de crianças institucionalizados, visto que os domínios abrangidos pela escala oferecem um panorama do desenvolvimento dessas crianças, nos aspectos motores, cognitivos e sociais. Através da aplicação da escala foi possível identificar áreas como a linguagem e a interação social que se encontram em atraso nos crianças investigados. Medidas que auxiliam na estimulação de habilidades como essas e o acompanhamento dessas crianças torna-se imprescindível. Logo, observa-se que o contexto institucional pode ser um bom contexto para o desenvolvimento das crianças abrigadas, porém necessita-se Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 de um maior número de investigações a cerca da temática do desenvolvimento nesse ambiente prin- cipalmente para as consequências que podem advir da vida adulta. SUMMARY EVALUATION OF THE DEVELOPMENT OF CHILDREN 6 TO 12 MONTHS Andreza MOURÃO LOPES e Janari DA SILVA PEDROSO Objective: To evaluate the development of children in an institutional setting. Methods: We evaluated four children, using the Scale Development of the Child Behavior - EDCC to know how these babies are in relation to motor, cognitive and social expected for their age. The research was used for the characterization of medical records of children and scale. Results: We found that 100 % of infants had a good development in both motor behavior and psychological, it was observed that in some behaviors that needed stimulation babies have fallen short in achieving behaviors, especially regarding the use of the upper limbs, language and social interaction. Conclusion: It is believed that the context of the shelter can be a good environment that fosters child development, but follow-up of these children it is essential to prevent possible delays in adulthood. KEY WORDS: Child development, behavior, shelter, scale of development. REFERÊNCIAS: 1. Alexandre D, Vieira M. Relação de apego entre crianças institucionalizadas que vivem em situação de abrigo. Psicologia em Estudo. 2004; 9 (2): 207-217. 2. Anzanello J. Oportunidades de estimulação, desenvolvimento motor e desenvolvimento social de crianças no primeiro ano de vida em diferentes contextos [dissertação] . Porto Alegre; 2010. 3. Barros RC, Fiamenghi Jr GA. Interações afetivas de crianças abrigadas: um estudo etnográfico. Ciência & Saúde Coletiva. 2007; 12 (5): 1267-76. 4. Bayley N. Bayley Scale of Infants Development. 2 end. San Antonio: Psychological Corporation; 1993 5. Carvalho A. Crianças institucionalizadas e desenvolvimento: possibilidades e desafios. In: Lordelo, E; Carvalho, A; Koller, SH (Eds) Infância brasileira e contextos de desenvolvimento. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2002.p. 19-44. 6. Cavalcante LIC. Ecologia do cuidado: Interações entre as crianças, o ambiente, os adultos e seus pares em instituição de abrigo [tese]. Belém; 2008. 7. Conselho Nacional de Justiça CNJ. Instituto de pesquisa econômica aplicada IPEA. Relatório da situação atual e critérios de aprimoramento. Brasília; 2012. 8. Nelson CA et al. The neurobiological tool of early human deprivation. Monographs of the Society for Research in Child Development. 2011; 76(4): 127–146. 9. Pajulo M et al. Substance-abusing mothers in residential treatment with their babies: Importance of pre- and postnatal maternal reflective functioning. Infant Ment. Health J. 2012; 33(1): 70–81. 10. Pinto EB. O desenvolvimento do comportamento da criança no primeiro ano de vida: padronização de uma escala para a avaliação e o acompanhamento. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1997. 11. Siqueira AC, Dell’Aglio DD. O impacto da institucionalização na infância e adolescência: uma revisão da literatura. Psicologia & Sociedade.2006; 18(1): 71-80. Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 34 Endereço para correspondência: Andreza Mourão Lopes Rua Dr. Assis, Passagem Carneiro da Rocha, n°01 Cidade Velha, Belém-PA. CEP: 66020-160 Fone: (0xx91) 8181-4857 E-mail: [email protected] Janari da Silva Pedroso Rua Augusto Côrrea, n° 01 Guamá, Belém-PA. CEP: 66075-110 Fone: (0xx91) 8289-3370 E-mail: [email protected] Recebido em 15.01.2013 – Aprovado em 06.11.2013 35 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 36 ARTIGO ORIGINAL AVALIAÇÃO DO PERFIL NUTRICIONAL E ALIMENTAR DE PORTADORES DO HIV1 NUTRITIONAL AND FOOD HABITS PROFILE ASSESSMENT OF PATIENTS WITH HIV Emanuellen Cardoso RODRIGUES2, Rozinéia de Nazaré Alberto MIRANDA3 e Aldair da Silva GUTERRES4 RESUMO Objetivo: avaliar o perfil alimentar e nutricional de portadores de HIV. Método: estudo transversal de 150 pacientes, de 18 a 59 anos de ambos os sexos, atendidos entre novembro de 2011 a fevereiro de 2012. Para a realização do estudo utilizou-se formulário para o levantamento das características socioeconômicas e frequência alimentar. A avaliação do estado nutricional foi realizada através do Índice de Massa Corporal (IMC) e da adequação da Prega Cutânea Tricipital (PCT) e Circunferência do Braço (CB). Resultados: o perfil nutricional, segundo o IMC, demonstra prevalência de eutrofia, porém observa-se significativo percentual de sobrepeso. Em relação à PCT e a CB a maioria dos pacientes avaliados apresenta desnutrição. Referente ao perfil socioeconômico verifica-se que 60% são do sexo masculino e 40% pertencem ao sexo feminino. Os pacientes pertencem a um nível socioeconômico baixo, apresentando também baixa escolaridade. A maioria relata ser solteiro. Quanto à frequência alimentar verifica-se elevado consumo de alimentos energéticos, consumo significativo de alimentos construtores e baixo consumo de alimentos reguladores. Considerações finais: ressalta-se a importância da terapia nutricional aos portadores de HIV/AIDS, pois através desta terapia é possível educar e fornecer aos pacientes uma nutrição adequada para a manutenção ou melhora do seu estado nutricional. DESCRITORES: HIV, estado nutricional, frequência alimentar, aspecto socioeconômico. INTRODUÇÃO A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida caracteriza-se por ser uma manifestação clínica cujo agente etiológico é o vírus da imunodeficiência humana (HIV, humanimmundeficiency vírus). O HIV é um retrovírus, e o seu ácido nucléico é formado por ácido ribonucléico (RNA, ribonucleicacid) que replica-se por ação de uma enzima chamada de transcriptase reversa. Sãoconhecidos, por distinção molecular, dois tipos de HIV: o HIV-1, de distribuição universal, e o HIV-2, restrito a África Ocidental1. O estado nutricional de portadores do HIV caracteriza-se por ser um aspecto preocupante, pois os portadores de HIV/AIDS apresentam apetite diminuído e ingestão energética insuficiente associada a um gasto energético de repouso aumentado. A desnutrição leva a uma supressão da funçãoimune celular, perpetuando, com isso, o aparecimento das infecções oportunistas, a causa primária de morte nos pacientes com HIV/AIDS2. Observa-se ainda, que indivíduos infectados pelo HIV apresentam deficiência de micronutrientes, e a carência destes comprometem ainda Local de realização do trabalho: Hospital Universitário João de Barros Barreto/UFPA. Nutricionista graduada pela Universidade Federal do Pará- UFPA 3 Nutricionista graduada pela Universidade Federal do Pará/UFPA.Professora Dra. Faculdade de Nutrição/ICS/UFPA. 4 Nutricionista graduada pela Universidade Federal do Pará/UFPA. Doutoranda em Biologia dos Agentes Infecciosos e Parasitários/ HUJBB/UFPA. 1 2 37 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 mais o funcionamento do sistema imunológico3. Outra manifestação clínica presente em pacientes portadores de HIV está associada ao uso da terapia antirretroviral, a lipodistrofia, a qual é caracterizada por aumento nos níveis séricos de colesterol, triglicerídeos e glicemia, associada á resistência a insulina, e mudança na distribuição corporal4. Orientar uma alimentação saudável significa promover melhoria da qualidade de vida, dessa forma, as pessoas que vivem com HIV/AIDS, por sua condição de imunodeficiência, encontram-se mais vulneráveis aos agravos á saúde, assim, uma alimentação saudável para esses pacientes, adequada às necessidades individuais, contribui para o aumento dos níveis dos linfócitos T CD4+, melhora a absorção intestinal, diminui os agravos provocados pela diarreia, perda de massa muscular, síndrome da dislipidemia e outros sintomas característicos da doença, os quais podem ser minimizados ou revertidos por meio de uma alimentação adequada5. OBJETIVO Avaliar o perfil alimentar e nutricional de portadores do HIV e AIDS, levando em consideração as condições socioeconômicas e culturais na promoção de uma alimentação saudável, de pacientes atendidos no SAE/HUJBB/ Universidade Federal do Pará. MÉTODO Estudo transversal, descritivo, de coleta prospectiva, realizado a partir de informações obtidas através da coleta de dados dos pacientes portadores do HIV, atendidos no Serviço de Atendimento Especializado (SAE) do Hospital Universitário João Barros Barreto (HUJBB). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do HUJBB da Universidade Federal do Pará de acordo com as normas da resolução n°196/96 e suas complementares do Conselho Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde do Brasil. Somente os pacientes que leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido participaram da mesma. A amostra de estudo constitui-se de 150 pacientes atendidos no SAE, de ambos os sexos e na faixa etária de 18 a 59 anos, no período de novembro de 2011 a fevereiro de 2012.Para a realização do estudo foi utilizado, durante a coleta de dados, formulário próprio, para o levantamento das características socioeconômicas, verificação das medidas antropométricas: peso, altura, Índice de Massa Corporal (IMC), Prega Cutânea Tricipital (PCT) e Circunferência Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 do Braço (CB) e para coleta de informações da frequência alimentar dos pacientes. O perfil socioeconômico foi analisado através das informações respondidas pelo próprio paciente, cujas respostas foram obtidas dos formulários utilizados durante a orientação nutricional, que contêm perguntas sobre o estado civil, renda familiar e escolaridade dos pacientes Para a avaliação do estado nutricional foi utilizado o índice de massa corporal (IMC). O IMC foi obtido pela relação: peso atual (kg)/ altura² (m) e a classificação do estado nutricional dos pacientes seguirá os parâmetros do World Health Organization (WHO) que considera o IMC < 18,5 Kg/m2 baixo peso, entre 18,5-24,9Kg/m2 eutrofia, 25-29,9 Kg/m2pré-obeso e ≥30 Kg/m2 obesidade6. O peso atual (PA) foi obtido pela medida realizada na balança FILIZOLA, com capacidade de 150 kg e precisão de 100 gramas. O PA foi comparado com o peso ideal (PI) do paciente e com seu peso usual (PU) para chegarmos a uma classificação do indivíduo em relação a uma possível alteração nutricional7. A técnica para mensuração do peso, segundo o BRASIL7 consiste em calibrar a escala da balança para zero e o paciente deverá estar vestido com roupas leves e sem sapatos permanecendo de pé sobre a balança; as medidas deverão ser anotadas com exatidão, sendo que a medida atual deverá ser comparada com as medidas de peso prévias para detectar possíveis mudanças de peso. A aferição da estatura foi realizada no estadiômetro acoplado à balança tipo plataforma. A técnica utilizada, segundo WAITZBERG8, consiste em utilizar o estadiômetro de metal da própria balança. O paciente deve estar sem sapatos ou chapéu e deve permanecer de pé sobre a plataforma da balança, com os calcanhares juntos, para trás, e o corpo mais reto possível, as medidas devem ser anotadas e registradas cuidadosamente. A PCT é a mais utilizada na prática clínica para o monitoramento do estado nutricional, pois se considera que a região do tríceps seja a mais representativa da camada subcutânea de gordura. Esta medida é mensurada na parte posterior do braço, que deve estar relaxado e estendido ao longo do corpo, sendo necessário localizar o ponto médio entre o acrômio e o olecrânio com o braço flexionado junto ao corpo, formando um ângulo de 90°. Esta medida deve ser comparada com padrões de referência, neste estudo será utilizada a tabela de Frisancho6. A CB representa a soma das áreas constituídas pelos tecidos ósseo, muscular e gorduroso do braço. Esta medida destaca-se por ser muito utilizada, já que a sua combinação com a PCT permite, através da aplicação de fórmulas, calcular a circunferência muscular do braço 38 (CMB), área muscular e adiposa do braço (AMB), que são medidas utilizadas para diagnosticar alterações da massa muscular corporal total e, assim, o estado nutricional protéico6. Também pode ser utilizada como indicador isolado de magreza ou adiposidade. A aferição desta medida é realizada após se localizar o ponto médio do braço, entre o acrômio e o olecrânio e seus valores serão comparados com a tabela de Frisancho9. Referente ao perfil socioeconômico dos portadores do HIV verifica-se que a maioria dos pacientes, 60%, é do sexo masculino e 40% pertencem ao sexo feminino. A escolaridade da maioria dos pacientes, 44%, é o ensino fundamental incompleto. A renda mensal de 52% dos pacientes esta entre 1 a 2 salários mínimos mensais e a maioria, 54,7%, relata ser solteiro. Valores encontrados na TabelaII. O questionário de frequência alimentar consiste em uma lista definida de alimentos ou grupos alimentares para os quais os pacientes deverão indicar a frequência de consumo em um período determinado (diário, semanal, mensal ou anual)6. Os dados referentes à frequência alimentar foram obtidos através do questionamento sobre o consumo de alimentos pertencentes aos grupos da pirâmide alimentar, verificando a frequência do consumo diário, semanal, mensal, raro ou a ausência de consumo destes alimentos. Na avaliação da frequência alimentar foram utilizados questionamentos que possibilitem verificar a preferência alimentar e cultural dos pacientes, objetivando, dessa forma, analisar a dieta habitual e verificar a frequência relativa da ingestão de alimentos energéticos, construtores e reguladores. Analisando a frequência alimentar, de acordo com a frequência relativa da ingestão de alimentos construtores, observa-se que esta amostra de portadores do HIV,em relação ao grupo de leite e derivados, consomem diariamente leite e a maioria dos pacientes referem consumir raramente queijo. Referente ao grupo de carne e ovos, os portadores apresentam um consumo semanal de carne bovina, aves, peixe e ovos e maioria relata nunca consumir vísceras. No grupo das leguminosas observa-se que o consumo de feijão é diário, porém a maioria dos pacientes relata não consumir soja.Esta amostra do estudo relata em sua maioria não consumir alimentos enlatados e industrializados, já o consumo de alimentos embutidos é semanal. Tabela III. Os dados da pesquisa foram compilados e armazenados em um banco de dados do programa Epi Info, versão 6.04d. e posteriormente analisados no programa software Bioestat 5.010. Tabelas e gráficos foram elaborados no programa Microsoft Excel 2007. RESULTADOS O resultado do estudo nutricional em relação ao IMC demonstra que a maioria da amostra apresentou estado de eutrofia: 54,4%, (sexo masculino) e 51,7% (sexo feminino), seguido de percentual significativo de sobrepeso, 37,8 % (sexo masculino) e 23,3% (sexo feminino). Nos resultados referentes à adequação da PCT predominou o diagnóstico de magreza com 68,9% (sexo masculino) e 81,9% (sexo feminino), enquanto que nos resultados da CB foi encontrado predominância de magreza (54,4% – sexo masculino) e eutrofia (46,7% - sexo feminino). Na aplicação do teste estatístico para verificação de significância estatística entre os sexos foi encontrado os seguintes resultados: Significância estatística para o IMC (p-valor=0,0197) e para a CB (p-valor=0,001), conforme Tabela I. 39 Acerca da frequência relativa da ingestão de alimentos energéticos, no consumo do grupo de cereais, tubérculos e massa, é evidente o consumo diário de arroz, pão e farinha e o consumo semanal de batata, macarrão e biscoito. O consumo de tapioca entre essa amostra de portadores do HIV é raro. Em relação ao grupo de açúcares, gorduras e bebidas o consumo de balas, doces e chocolate é realizado raramente, a amostra do estudo não consome azeite de oliva e a maioria dos pacientes refere nunca consumir manteiga, já o maior consumo de margarina relatado é diário. O consumo de refrigerante é semanal. Tabela V. Referente à frequência relativa da ingestão de alimentos reguladores, observa-se que o consumo de frutas é diário, ressaltando que o consumo de açaí é semanal entre os portadores do HIV. Porém o consumo de frutas regionais é baixo, sendo que cerca 50% dos pacientes relatam consumo raro destas frutas, sendo mais expressivo o consumo de açaí, manga, cupuaçu e pupunha. Em relação ao consumo de hortaliças estes pacientes mencionam consumo semanal de verduras e legumes. Valores referenciados na tabela IV e no Gráfico 1. Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 TABELA I. Distribuição percentual do estado nutricional, segundo sexo, de portadores de HIV, HUJBB, Belém- PA Masculino Estado Nutricional Feminino (n=90) Total (n=60) p – valor* (n=150) N % N % N % IMC (kg/m2) Desnutrição 4 4.4 7 11.7 11 7.3 Eutrofia 49 54.4 31 51.7 80 53.4 Sobrepeso 34 37.8 14 23.3 48 32.0 Obesidade 3 3.3 8 13.3 11 7.3 PCT (mm) Magreza 62 68.9 49 81.7 111 74.0 Eutrofia 14 15.6 9 15.0 23 15.3 Adiposidade 14 15.6 2 3.3 16 10.7 CB (cm) Magreza 49 54.4 21 35.0 70 46.7 Eutrofia 39 43.3 28 46.7 67 44.7 Adiposidade 2 2.2 11 18.3 13 8.7 0.0197 0.0538 0.001 *Qui-quadrado. TABELA II. Distribuição percentual dos aspectos socioeconômicos de portadores de HIV, HUJBB. Belém- PA. Variável(n =150)(n = 100)N SexoMasculino % 90 60 Estado Civil Feminino Solteiro Casado Outros 60 82 39 29 40 54,7 26 19,3 Escolaridade Analfabeto EFI EFC EMI EMC ESI ESC 08 66 13 25 29 06 03 5,3 44 8,7 16,7 19,3 04 02 Renda própria < 1 SM 1-2 SM 2-3 SM 19 78 11 12,7 52 7,3 3 ou mais 07 Sem renda 4,7 35 23,3 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 40 Tabela III. Consumo de Alimentos Construtores entre portadores de HIV, HUJBB. Belém- PA Alimentos construtores Variável (n= 150) Leite Diário Semanal Mensal Raramente Nunca N % N % N % N % N % 100 66,7 23 15,3 6 4 13 8,7 8 5,3 Queijo 12 8 23 15,3 27 18 64 42,7 24 16 Carne bovina 18 12 123 82 5 3,3 3 2 1 0,7 Frango 7 4,7 132 88 4 2,7 5 3,3 2 1,3 Peixe 7 4,7 86 57,3 36 24 15 10 6 4 Ovo 22 14,7 67 44,6 19 12,7 27 18 15 10 Víscera 0 0 0 0 36 24 48 32 66 44 Enlatados 4 2,7 42 28 21 14 35 23,3 48 32 Embutidos 8 5,4 60 40 17 11,3 24 16 41 27,3 Feijão 85 56,7 57 38 2 1,3 4 2,7 2 1,3 Soja 0 0 7 4,7 5 3,3 31 20,7 107 71,3 TABELA IV. Consumo de Alimentos Reguladores entre portadores de HIV, HUJBB. Belém- PA Alimentos Reguladores Semanal Mensal N Diário % N % N % N % N % FRUTAS 69 46 59 39,3 9 6 7 4,7 6 4 FRUTAS Regionais 15 10 27 18 19 12,7 75 50 14 9,3 Legumes 38 25,3 80 53,3 9 6 15 10 8 5,4 32 21,3 87 58 8 5,3 16 10,7 7 4,7 Variável (n=150) Verduras 41 Raramente Nunca Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 TABELA V. Consumo de Alimentos Energéticos entre portadores de HIV, HUJBB. Belém- PA. Alimentos Energéticos Variável (n= 150) N Diário % N Semanal % Margarina 92 61,3 19 12,7 Manteiga 34 22,7 8 Azeite de Oliva 19 12,7 Refrigerante 27 Doces, chocolate Mensal N % Raramente N % N Nunca % 0 0 13 8,7 26 17,3 5,3 4 2,7 31 20,7 73 48,6 17 11,3 3 2 24 16 87 58 18 66 44 16 10,7 27 18 14 9,3 17 11,3 28 18,7 16 10,7 54 36 35 23,3 Tapioca 3 2 45 30 19 12,7 67 44,6 16 10,7 Biscoito 24 16 52 34,7 17 11,3 35 23,3 22 14,7 Pão 108 72 19 12,7 8 5,3 8 5,3 7 4,7 Macarrão 33 22 80 53,3 14 9,3 13 8,7 10 6,7 Farinha 115 76,7 13 8,7 5 3,3 5 3,3 12 8 Batata 29 19,3 85 56,7 8 5,3 15 10 13 8,7 Arroz 133 88,7 14 9,3 0 0 3 2 0 0 Gráfico 1. Frequência relativa do consumo de frutas regionais, de portadores do HIV, HUJBB. Belém - PA Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 42 DISCUSSÃO longo dos anos. O Estado Nutricional de um indivíduo é definido segundo a Associação Americana de Saúde Pública como “A condição de saúde de um indivíduo influenciado pelo consumo e utilização de nutrientes, e identificada pelo somatório de informações obtidas de estudos físicos, bioquímicos, clínicos e dietéticos”7. Por isso, é importante ressaltar a necessidade de conhecer o estado nutricional dos portadores de HIV, através da realização de uma avaliação nutricional, que objetive detectar precocemente possíveis riscos nutricionais, e de uma adequada conduta nutricional que melhore a qualidade de vida desses pacientes. Os resultados obtidos acerca do perfil socioeconômico demonstram que os pacientes pertencem a um nível social e econômico baixo, apresentando também uma baixa escolaridade. Estes resultados confirmam outros estudos, como por exemplo, os trabalhos de Traebertet al16 e Silva et al17 que demonstram que esta patologia acomete principalmente indivíduos que possuem baixa renda e pouca escolaridade. Segundo Barbosa et al18, na década de 1980 a doença era mais frequente em pessoas com o nível de escolaridade elevada, porém a estatística mudou com o crescente aumento da epidemia que atingiu as camadas mais desfavorecidas da população, fato que traduz a baixa renda, o baixo nível de escolaridade e pouco acesso as informações acerca da doença entre os portadores dos vírus. Evidencia-se ainda que a maioria dos pacientes deste estudo denomina-se solteiro, resultado também encontrado por Traebert et al16 que ressalta que a maioria dos pacientes com HIV/AIDS denominam-se solteiros ou vivem atualmente sem companheiro(a). Segundo os resultados encontrados no IMC, o perfil nutricional dos pacientes com HIV apresentou maior percentual no diagnóstico de peso adequado, porém observou-se também um significativo percentual de pacientes com excesso de peso, demonstrando dessa forma, que há um crescente aumento do sobrepeso entre os portadores do vírus, provavelmente em virtude do uso da terapia antirretroviral que os mesmos fazem uso. Os resultados encontrados reforçam o estudo de Rocha que observou que quanto a composição corporal, a maior prevalência em relação ao IMC foi de eutróficos seguido de sobrepeso. Segundo Marrone et al12, o uso prolongado de Terapia Antirretroviral, pelos pacientes infectados pelo HIV, tem um impacto importante sobre o estado nutricional como o ganho de peso, a redistribuição da gordura e o estado imunológico do paciente. 11 Em relação à PCT mais da metade dos pacientes avaliados apresentou desnutrição, resultado que evidencia déficit severo de reserva adiposa nesses pacientes. Já o maior percentual em relação à CBrefere-se também ao mesmo diagnóstico, para o sexo masculino, o que representa um déficit nutricional geral. O estudo de Santa et al13, também observou modificações na composição corporal dos portadores do HIV, sendo que a metade dos pacientes avaliados apresentou depleção severa ou moderada. Segundo Réquia e Oliveira14 os pacientes com o vírus sofrem grande redução de massa magra, diminuição de todos os compartimentos corporais e depleção de massa celular. Quanto ao aspecto socioeconômico dos pacientes da amostra, o resultado encontrado em relação a prevalência por sexo confirma os dados divulgados pelo Ministério da Saúde15, pois de acordo com o último Boletim Epidemiológico AIDS-DST, desde o início da epidemia, em 1980, até junho de 2011, no Brasil foram notificados 608.230 casos de Aids, dos quais 397.662 (65,4%) são do sexo masculino e 210.538 casos (34,6%) pertencem ao sexo feminino, o que caracteriza que a razão de sexo vem diminuindo ao 43 Quanto a análise da ingestão dietética, neste estudo observou- se que o consumo diário de arroz foi relatado por um maior número de pacientes, sendo também relevante o consumo diário do feijão. Este resultado é satisfatório, pois o consumo associado desses alimentos contribui para a ingestão de proteína de alto valor biológico. Em relação aos alimentos construtores, o leite apresenta um consumo diário significante entre os pacientes da amostra, dentre as carnes o maior consumo semanal foi de frango seguido de carne vermelha. O consumo do grupo de cereais, tubérculos e massas, ou seja, alimentos energéticos,é bastante significativo entre a amostra, ressaltando-se o consumo diário de alimentos como farinha e pão, além do consumo frequente e elevado de massas e biscoitos. O consumo de alimentos gordurosos, frituras e alimentos industrializados também é alto para a maioria dos pacientes da amostra, o que demonstra que estes apresentam hábitos alimentares inadequados que associados com a terapia medicamentosa influenciam na saúde e na mudança corporal das pessoas que vivem com HIV/AIDS. A ingestão em grandes quantidades excedentes e não utilizadas desses alimentos serão estocadas em forma de gordura ou tecido adiposo, e por isso é necessário controlar o consumo desses alimentos, uma vez que pacientes com HIV tendem a apresentar aumento nos níveis séricos de colesterol, triglicerídeos e glicemia4. O consumo de frutas, verduras e legumes, ou seja, alimentos reguladores,é pequeno quando comparados ao consumo recomendado desses alimentos pelo Guia Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Alimentar da População Brasileira19. Ressalta-se, sobretudo que a ingestão das frutas regionais é baixa, com exceção do consumo do açaí. Dessa forma, recomenda-se o consumo desses alimentos aos portadores do HIV, pois estes contêm vitaminas, minerais e fibras e devem estar presentes diariamente nas refeições por auxiliarem na proteção á saúde e diminuírem os riscos da ocorrência de doenças, já que estes pacientes se encontram em uma condição de imunodeficiência. Os resultados encontrados neste presente estudo podem ser comparados com a Pesquisa de Orçamento Familiares (POF)20 realizada pelo IBGE, que indica que as maiores frequências de consumos de alimentos correspondem ao arroz (84%) e feijão (72,8%), pão (63%) e carne bovina (48,7%). A POF, ressalta que a Região Norte apresenta ingestão energética acima das médias nacionais e que nesta região destaca-se o consumo elevado de preparações a base de leite, consumo de farinha de mandioca e açaí, resultados também encontrado neste estudo em que evidencia-se um consumo elevado de alimentos energéticos entre a amostra estudada. Ainda segundo a POF, os homens apresentam menores frequências de consumo de verduras, legumes e frutas, comparando assim, com o baixo consumo desses alimentos verificados neste estudo, já que 60% da amostra são constituídas por homens. CONCLUSÃO Os portadores de HIV/AIDS estudados apresentaram em sua maioria um estado nutricional de eutrofia, porém com depleção de reserva adiposa subcutânea e reserva muscular, caracterizando um diagnóstico de desnutrição em relação às medidas de PCT e CB. Observa-se ainda uma crescente incidência de sobrepeso, o que expressa uma mudança no perfil nutricional destes pacientes. Neste estudo o perfil alimentar caracterizou-se por um baixo consumo de alimentos considerados benéficos à saúde, um hábito alimentar inadequado representado pelo consumo elevado de alimentos energéticos e expressivamente baixos de alimentos reguladores. Portanto, ressalta-se a importância da terapia nutricional aos portadores de HIV/AIDS, pois através da orientação e acompanhamento nutricional é possível educar e fornecer a estes uma nutrição adequada para a manutenção ou melhora do estado nutricional destes pacientes. SUMMARY NUTRITIONAL AND FOOD HABITS PROFILE ASSESSMENT OF PATIENTS WITH HIV Emanuellen Cardoso RODRIGUES, Rozinéia de Nazaré Alberto MIRANDA e Aldair da Silva GUTERRES Objective: to evaluate the nutritional and alimentary profile of patients with HIV. Methodology:this is a traverse study with 150 patients, from18-59 years of both sexes, assisted between November 2011 and February 2012. For the realization of the study was used formulary to survey socioeconomic and alimentary frequency information. The assessment of nutritional status was achieved through the IMC and the adequacy of the PCT and CB. Results: the nutritional profile of these patients, according to IMC, demonstrates the prevalence of normal weight, however is observed a significant percentage of overweight. In relation the PCT and CB the most patients presented malnutrition. Concerning the socioeconomic profile is verified that 60% of patients are male and 40% are female. The patients have a low socioeconomic level and a low educational level, most patients reported being single. Concerning alimentary frequency is verified high consumption of energy foods, significant consumption of build foods and a low consumption of food regulators. Conclusion: the importance of nutrition therapy to patients with HIV/AIDS is emphasized, because through this it is possible educate patients and provide adequate nutrition for the main tenancy or improvement of their nutritional status. KEY- WORD: HIV, nutritional status, alimentary frequency, socioeconomic aspect Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 44 REFERÊNCIAS 1. Silva SMC, Mura JP. Tratado de alimentação, Nutrição e Dietoterapia. São Paulo: Roca; 2007. 2. Nix SW. Nutrição Básica e Dietoterapia. Tradução de Cristiane Matsuura. 13° ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2010. 3. Ribeiro CSA. 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BioEstat 5.0: Aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Belém: Sociedade Civil Mamirauá: Brasília CNPq, 364p. 2007. 11. Rocha PB. Perfil Alimentar e Nutricional dos pacientes HIV positivo atendido em um serviço público de saúde de Porto Alegre/RS. Trabalho de conclusão de curso. Porto Alegre, 2007. 12. Marrone L et. al. Nova visão antropométrica em pacientes HIV positivos com uso de antirretrovirais. XVIII Simpósio de Iniciação Científica. UNIFIL, 2010. 13. Santa AG et al. Análise do prognóstico de pacientes infectados com HIV de Londrina/PR e região de acordo com perfil nutricional. Experiência em extensão universitária. Londrina, 2009. 14. Réquia CDC, Oliveira VR. Cuidados Nutricionais em Pacientes HIV+. Rev.Nutrição em Pauta. São Paulo, ano XIII, n° 72. mai/Jun 2005. 15. BRASIL, Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Aids-DST. Ano VIII- N° 01. Brasília: 2011. 16. Traebert J et al. 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Centro CEP:68440-000 Abaetetuba – Pará – Brasil Telefone: (91)88692630 e-mail:[email protected] Recebido em: 26.03.2013 – Aprovado em: 22.10.2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 45 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 46 ARTIGO ORIGINAL PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES PORTADORES DE CÂNCER DE BEXIGA SUBMETIDOS À CISTECTOMIA RADICAL¹ EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF PATIENTS WITH BLADDER CANCER UNDERGOING RADICAL CYSTECTOMY João Frederico Alves Andrade FILHO2, Alvaro Hideo Hoshino MUTO3, Jund Silva REGIS4, Romero Carvalho PEREIRA4 , Renato Raulino MOREIRA5 e Pedro Ruan Chaves FERREIRA6 RESUMO Objetivo: estudar o perfil epidemiológico, clínico e a taxa de sobrevida em cinco anos de pacientes portadores de câncer de bexiga submetidos à cistectomia radical no Hospital Ophir Loyola (HOL), período de 1995 a 2005. Método: estudo transversal de pacientes com diagnóstico histopatológico de câncer de bexiga submetidos à cistectomia radical no HOL, período de 1995 a 2005, com seguimento pós-operatório de, no mínimo, 5 anos. Os dados foram levantados em prontuários, avaliando-se dados sócio-demográficos, quadro clínico, antecedentes mórbidos, exames complementares, estadiamento, tipo e grau histológicos, complicações e sobrevida. Resultados: a faixa etária mais acometida por câncer de bexiga está entre 50-59 anos (46,1%);o sexo masculino tem uma incidência de 69,2%; o tabagismo mostrou-se fator de risco; a hematúria é o sintoma mais presente e a sobrevida pós-cistectomia foi de 54,5%, em mais de 5 anos. Conclusão: os pacientes submetidos à cistectomia radical possuem, predominantemente, idade de 50 a 59 anos, sexo masculino, procedentes de Belém, hematúria como sintoma inicial, sem antecedentes mórbidos significativos, tabagistas, com tipo histológico de carcinoma urotelial de células transicionais, grau histológico II, de estadiamento patológico T2bN0, evoluíram sem complicações, porém sem predominância na sobrevida menor ou maior que cinco anos. A sobrevida e o perfil clínico-epidemilógico, segue o padrão verificado em outros centros de referência. DESCRITORES: neoplasia, bexiga urinária e cistectomia. INTRODUÇÃO O câncer de bexiga é a segunda neoplasia maligna genito-urinária mais frequente 1,2. Entre os homens, é o quarto tumor mais frequente, após próstata, pulmão e colorretal 3, 4, e entre as mulheres é o oitavo mais frequente.2,5Tem sua incidência aumentada com a idade em ambos os sexos, sendo 2,5 vezes mais comum entre homens do que em mulheres.5 Apesar de poder ocorrer em qualquer idade, é diagnosticado mais frequentemente nas 6ª e 7ª décadas de vida.2 O câncer de bexiga representa, segundo a Organização Mundial da Saúde, 10,1% dos cânceres em homens e Trabalho realizado no Hospital Ophir Loyola, Belém/PA. ² Médico graduado pela Universidade do Estado do Pará-UEPA.Belém.Pará.Brasil. Médico Urologista e Supervisor da Residência Médica em Urologia no Hospital Ofir Loyola e médico urologista e Preceptor da Residência de Cirurgia Geral na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará-FSCM-PA 3 Médico graduado pela Universidade do Estado do Pará-UEPA..Belém.Pará.Brasil.Médico Urologista 4 Médico graduado pela Universidade Federal do Pará-UFPA. Residente em Cirurgia Geral pela FSCM-PA. Belém. Pará. 5 Médico graduado pela Faculdade Atenas-MG.Residente em Cirurgia Geral pela FSCM-PA.Belém.Pará. 6 Graduando do Curso de Medicina da Universidade Federal do Pará-UFPA.Belém.Pará 1 47 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 2,5% em mulheres a nível mundial (357.000 novos casos de câncer de bexiga no mundo em 2002), sendo a nona causa de câncer mais comum em ambos os sexos em conjunto, consistindo 3,2% de todos os cânceres.6 Nas últimas décadas, a incidência global deste câncer parece estar crescendo e isso pode ser uma conseqüência dos efeitos latentes do tabaco e outros fatores de risco não-ocupacionais, carcinógenos industriais, assim como o envelhecimento em geral da população.7 Cerca de 20% dos casos de câncer de bexiga estão associados à exposição ocupacional, a aminas aromáticas e a substâncias químicas orgânicas em uma série de atividades profissionais.4 Aminas aromáticas também estão presentes na fumaça de cigarros e seus metabólitos excretados na urina de fumantes são responsáveis por cerca de 50% dos casos de câncer de bexiga. De fato, indivíduos tabagistas apresentam incidência de câncer de bexiga, até quatro vezes maior em comparação com não fumantes. A urina tem um papel importante na carcinogênese da bexiga, que além de transportar agentes carcinogênicos e fatores de crescimento, também afeta indiretamente alterando a concentração de componentes urinários, como eletrólitos, água e proteínas. Estes últimos efeitos são amplamente modificados pela composição e consumo da dieta, principalmente relacionado a alimentos como café, chá, bacon e soja.4 O carcinoma urotelial representa aproximadamente 90% de todos os tipos de câncer de bexiga.14 Já o carcinoma de células escamosas, associado à irritação crônica por cálculo, cateter vesical permanente, infecção urinária ou infecção crônica por Schistosoma haematobium (especialmente em países norte-africanos) compreendem cerca de 3% a 7% dos casos de câncer de bexiga. Adenocarcinoma é responsável por menos de 2% dos casos de câncer de bexiga e está associado à irritação crônica, como em extrofia vesical, podendo também se originar no úraco.4 Quanto à sintomatologia, hematúria, microscópica ou macroscópica, indolor e intermitente, é o sinal mais comum em câncer de bexiga, ocorrendo na grande maioria dos pacientes. Cerca de 10% dos indivíduos com hematúria microscópica e 25% daqueles com hematúria macroscópica apresentam neoplasia geniturinária, sendo câncer de bexiga a mais comum15. Sintomas irritativos do trato urinário inferior, como polaciúria, urgência e disúria, constituem a segunda apresentação mais frequente de câncer de bexiga, estando especialmente associados a carcinoma in situ ou tumores invasivos2. Cerca de 70% dos casos de câncer de bexiga são diagnosticados inicialmente como doença superficial.16 Eles Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 apresentam alta probabilidade de recorrência, porem, mais de 80% persistem confinados à mucosa ou a submucosa.17 As recorrências, comumente, ocorrem nos três primeiros anos 1; entretanto, estudos ainda não demonstraram benefício no aumento da sobrevida câncer específica.2, 18 Pacientes diagnosticados apresentando-se com tumor músculo invasivo são aproximadamente 30%, sendo o tratamento padrão neste estadiamento, a cistectomia radical associada à linfadenectomia pélvica bilateral. 1,4,18 O Hospital Ophir Loyola (HOL) é a referência em tratamento oncológico da rede de Saúde Pública do Norte e Nordeste brasileiro, consiste no principal destino dos pacientes com câncer de bexiga, sendo fundamental o conhecimento da evolução dos pacientes tratados neste serviço de saúde, possibilitando a avaliação da terapêutica utilizada nos pacientes. Atualmente, é importante a identificação de possíveis fatores que possam influenciar a sobrevida dos pacientes. OBJETIVO Estudar o perfil epidemiológico, clínico e a taxa de sobrevida, em cinco anos, de pacientes portadores de câncer de bexiga, submetidos à cistectomia radical no Hospital Ophir Loyola, no período de 1995 a 2005. MÉTODO Realizou-se um estudo transversal, em pacientes com diagnóstico histopatológico de câncer de bexiga submetidos à cistectomia radical no Hospital Ophir Loyola (HOL), no período de 1995 a 2005, com seguimento pós-operatório de, no mínimo, 5 anos. Os dados foram coletados por meio de pesquisa em prontuários da Divisão de Arquivo Médico e Estatístico (DAME) do HOL. De acordo com o protocolo elaborado, foram avaliados os seguintes dados: idade, sexo, procedência, atividade profissional, quadro clínico, antecedentes mórbidos, exames complementares diagnósticos, estadiamento TNM segundo a classificação UICC – 2002, tipo histológico, grau histológico segundo a classificação OMS – 1973, complicações e sobrevida. Todos os pacientes da pesquisa foram estudados segundo os preceitos da Declaração de Helsinque e do Código de Nuremberg, respeitadas as Normas de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Res. CNS 196/96) do Conselho Nacional de Saúde, após aprovação de anteprojeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, autorizado pelo Chefe da Divisão de Pesquisa e Prevenção de Câncer do HOL. 48 Os dados obtidos foram compilados no programa Microsoft Excel, versão 2003, para elaboração de tabelas e gráficos e submetidos a estudo estatístico através do software BioEstat v5.3 com nível de significância de 0,05%, e os resultados analisados e confrontados com a literatura existente. Loyola no período de 1995 a 2005 Tabagismo Sim Não Total Fonte: DAME (HOL) N 12 1 13 % 92.3 7.7 100 p < 0,05 (p < 0,0001) (Método estatístico aplicado) RESULTADOS Tabela I- Faixa etária dos pacientes portadores de câncer de bexiga submetidos à Cistectomia Radical no Hospital Ophir Loyola no período de 1995 a 2005 Idade (em anos) 40-49 50-59* 60-69 70-79 Total N 2 6 3 2 13 % 15.4 46.1 23.1 15.4 100 Tabela V - Tipo histológico dos tumores de pacientes portadores de câncer de bexiga submetidos à Cistectomia Radical no Hospital Ophir Loyola no período de 1995 a 2005 Tipo Histológico Carcinoma de células transicionais Carcinoma de células escamosas Total N 12 1 13 % 92.3 7.7 100 Fonte: DAME (HOL) p < 0,05 (p < 0,0001) (Método estatístico aplicado) Fonte: DAME (HOL). p < 0,05 (p = 0,0278) (Método estatístico aplicado). Tabela II- Sexo dos pacientes portadores de câncer de bexiga submetidos à Cistectomia Radical no Hospital Ophir Loyola no período de 1995 a 2005 Sexo Masculino Feminino Total N 9 4 13 % 69.2 30.8 100 Fonte: DAME (HOL) p < 0,05 (p = 0,0002) (Método estatístico aplicado) Tabela VI - Sobrevida doença específica de pacientes portadores de câncer de bexiga submetidos à Cistectomia Radical no Hospital Ophir Loyola no período de 1995 a 2005. Sobrevida global < 5 anos > 5 anos Total N 7 6 13 % 53.8 46.2 100 Fonte: DAME (HOL). p > 0,05 (p = 0,3681) (Método estatístico aplicado). DISCUSSÃO p < 0,05 (p < 0,0001) (Método estatístico aplicado) No período estudado, o número de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico radical para câncer de bexiga foi de 13 indivíduos. Este número reduzido de pacientes operados pode estar relacionado com o fato de que em parte deste período a demanda de pacientes cirúrgicos na urologia era proveniente da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (SESPA), o que retardava muitas vezes o acesso do paciente ao tratamento definitivo, evoluindo com progressão da doença, muitas vezes alterando a indicação terapêutica. Tabela IV - Tabagismo entre os pacientes portadores de câncer de bexiga submetidos à Cistectomia Radical no Hospital Ophir Neste estudo, a idade dos pacientes no momento da cirurgia variou entre 45 e 75 anos, sendo a maior incidência na faixa etária de 50-59 anos (TABELA 1), com média de 58 anos. O câncer de bexiga possui maior incidência em Tabela III- Sintoma inicial dos pacientes portadores de câncer de bexiga submetidos à Cistectomia Radical no Hospital Ophir Loyola no período de 1995 a 2005 Sintoma inicial Hematúria Disúria Dor pélvica Total N 11 1 1 13 % 84.6 7.7 7.7 100 Fonte: DAME (HOL) 49 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 pacientes em pacientes com idade entre 60 a 70 anos1,2,4, de modo semelhante, os diversos estudos de pacientes submetidos a cistectomia radical identificaram média etária entre 62 a 68 anos22-27. A falta de condições clínicas para o tratamento cirúrgico em pacientes com idade mais avançada pode ser um dos fatores determinantes para a faixa etária mais jovem nesta casuística. O câncer de bexiga acomete mais os homens que as mulheres, com proporção que varia de dois a três homens a cada mulher2, 5. Dentre a literatura que estudou pacientes submetidos a tratamento cirúrgico radical, esta diferença foi maior, de 4,5 a 9,7 homens para cada mulher25, 26,28. Este estudo mostrou resultado semelhante ao da incidência em portadores de câncer de bexiga, sendo do sexo masculinos 69,2% dentre os pacientes operados (TABELA 2), com uma proporção de 2,25 homens para cada mulher. Diversos estudos tentam relacionar fatores, como genético, hormonal e anatômico, no entanto, ainda não está definido o motivo desta diferença4. Entre os pacientes operados neste período, 84,6% apresentaram hematúria como sintoma inicial (TABELA 3). Este resultado é compatível com a literatura que mostra 85% dos pacientes com o mesmo sintoma inicial1, 2,4. Segundo estudos, quase a totalidade dos pacientes com tumor de bexiga detectável por cistoscopia apresenta hematúria, micro ou macroscópica4. O tabagismo é um dos fatores de risco para neoplasia maligna de bexiga mais bem estabelecidos, aumentando em até quatro vezes deste câncer2,4,9. Nesta casuística, 92,3% dos pacientes eram tabagistas ou extabagistas (TABELA 4). Estudos estimam que até um terço a metade dos casos de câncer vesical está relacionado com o tabagismo4, 9. De acordo com o encontrado na literatura1, 2,4,14, o carcinoma urotelial de células transicionais foi o tipo histológico mais freqüente no estudo com mais de 90% dos casos (TABELA 5). Quanto ao grau histológico, o mais incidente foi o grau II . Não houve pacientes submetidos à cistectomia radical com grau histológico I nesta casuística. não apresentaram significância estatística em seus resultados, com sobrevida maior que cinco anos de 46,2% e 54,5% respectivamente (TABELA 6). Estudos mostraram resultados semelhantes com sobrevida global de 37,2% a 50% e doença específica de 42,2% a 57%25,30. Apesar do número reduzido de pacientes incluídos no estudo, podemos observar que o Serviço de urologia do Hospital Ophir Loyola mantém resultados semelhantes ao de outros centros de referência oncológica, no que diz respeito tanto ao perfil dos pacientes, quanto a sobrevida global e a sobrevida doença específica de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico radical para o câncer de bexiga, ainda que em um serviço com residência médica. Segundo dados do DAME, entre os anos 2006 e 2010, 16 pacientes com este diagnóstico foram submetidos à cistectomia radical, com um aumento importante na realização desta cirurgia neste centro de referência oncológica, demandando novos estudos que possam avaliar a evolução da sobrevida dos pacientes submetidos a este tipo de intervenção no hospital, além de estudos relacionados a complicações, de modo que permita um constante desenvolvimento do serviço. CONCLUSÃO No presente estudo conclui-se que os pacientes submetidos à cistectomia radical, no Hospital Ophir Loyola, no período de 1995 a 2005, possuem predominantemente idade de 50 a 59 anos, sexo masculino, procedentes de Belém, hematúria como sintoma inicial, sem antecedentes mórbidos significativos, tabagistas, com tipo histológico de carcinoma urotelial de células transicionais, grau histológico II, de estadiamento patológico T2bN0, evoluíram sem complicações, porém não houve predominância na sobrevida menor ou maior que cinco anos. Evidenciouse que a sobrevida dos pacientes, além do perfil clínicoepidemilógico, segue o padrão verificado em outros centros de referência, ainda que no hospital funcione serviço de residência médica. A sobrevida global e a sobrevida doença específica Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 50 SUMMARY EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF PATIENTS WITH BLADDER CANCER UNDERGOING RADICAL CYSTECTOMY IN OPHIR LOYOLA HOSPITAL João Frederico Alves Andrade Filho, Alvaro Hideo Hoshino Muto, Jund Silva Regis, Romero Carvalho Pereira , Renato Raulino Moreira e Pedro Ruan Chaves Ferreira Objective: to study the epidemiological, clinical and profile the five year survival rate of patients with bladder cancer undergoing Radical Cystectomy in Ophir Loyola Hospital (HOL) in the period from 1995 to 2005. Method: retrospective study of patients with histopathologic diagnosis of bladder cancer undergoing radical cystectomy in HOL, in the period from 1995 to 2005, with postoperative follow-up of at least 5 years. The data were collected in medical records, evaluating socio-demographic data, clinical picture, morbid antecedents, complementary examinations, staging, histological type, histologic grade, complications, and survival. Results: the age group most affected by bladder cancer is between 50-59 years (46.1); the male has an incidence of 69.2, smoking was a risk factor; the hematuria is the most common symptom and survival post cystectomy was 54.5 in over 5 years. Conclusion: patients undergoing radical cystectomy are predominantly age 50 to 59 years, male, from Belém, hematúria as initial symptom, without significant morbid antecedents, smokers, with histological type of urothelial transitional cell carcinoma, histologic grade II, pathological staging T2bN0, evolved without complications, but without predominance in the survival less than or greater than five years. Survival and clinical profile-epidemilógico, follows the pattern found in other reference centres. Key words: urinary bladder, neoplasm, and cystectomy. Referências 1. Tanagho EA. Urologia Geral de Smith, 16 ed. Barueri, SP: Ed. Manole; 2007. 2. Sociedade Brasileira de Urologia. Diretrizes de tratamento do câncer urológico, 1 ed. Rio de Janeiro: Ed. DOC; 2009. 3. Netto Júnior NR. Urologia: fundamentos para o clínico, 1 ed. São Paulo: Ed. Sarvier; 2000. 4. Wein AJ. Campbell-Walsh urology, 9 ed. Philadelphia: Ed. Saunders Elsevier; 2007. 5. Greenlee RT, Murray T, Bolden S, Wings PA. Cancer statistics, 2000. CA Cancer J. Clin. 2000;50(1):7-33. 6. Parkin DM, Bray F, Ferlay J, Pisani P. Global cancer statistics, 2002. CA Cancer J Clin. 2005;55(2):74-108. 7. American Urological Association. Clinical Guidelines. Bladder cancer, 2007. Disponível em: http://www.auanet.org/content/ guidelines-and-quality-care/clinical-guidelines/main-reports/bladcan07/chapter1.pdf – Acessado em 20 de setembro de 2011. 8. Instituto Nacional do Câncer. Câncer de bexiga. 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Timbó n°3125, apto: 1801,Bairro:Marco Telefone:(91) 81149350 E-mail: [email protected] Belém/PA Jund Silva Regis End: TV.Barão do Triunfo n°4273,Bairro:Marco Telefone: (91) 8152-1845 E-mail: [email protected] Belém/PA CEP: 6609353 CEP: 66095-050 Recebido em 14.04.2013 – Aprovado em 06.01.2014 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 52 ARTIGO ORIGINAL PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA AIDS EM IDOSOS NO ESTADO DO PARÁ UTILIZANDO DADOS DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES DE SAÚDE DO DATASUS1 THE EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF AIDS ELDERLY IN THE STATE OF PARÁ USING DATASUS HEALTH INFORMATION SYSTEM Adonis de Melo LIMA2 , Jean Charles Vilhena MAIA3 e Alan Bosque de SOUSA4 RESUMO OBJETIVO: identificar casos de AIDS na população idosa do referido estado. Foram realizadas pesquisas nos dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) no período de 2001 a 2010. RESULTADOS: evidenciou-se o aumento de diagnósticos positivos em indivíduos com idade≥60anos, sendo registrados 259 casos neste período. A principal categoria de exposição foi heterossexual (40,15%), onde os homens representam 74,9% dos diagnósticos positivos.CONCLUSÃO: a ampliação de campanhas de prevenção e promoção de saúde para a AIDS, são desafios impostos aos profissionais de saúde, devido o aumento da demanda de idosos portadores da doença, este acréscimo obriga o desenvolvimento cada vez mais acentuado de práticas profissionais capazes de atender tal demanda. DESCRITORES: Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, idosos, epidemiologia. INTRODUÇÃO A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), cuja Classificação Internacional de Doenças (CID) é 10-D84, é uma infecção causada pelo retrovírus da imunodeficiência adquirida (HIV). Responsável pelo enfraquecimento do sistema imunológico, associada a contagem de linfócitos T CD4+ abaixo de 200 células/ microlitro ou menos que 14% do total de linfócitos.1,2,3,4 Em 1980, no estado de São Paulo, foi diagnosticado o primeiro caso da doença no Brasil, e atualmente é uma epidemia de alcance mundial.5 O primeiro caso da doença diagnosticado no estado do Pará foi realizado em 1985, em um individuo do sexo masculino, idade de 35 anos, homossexual e residente em Belém. O referido diagnóstico deu-se cinco anos após o primeiro caso diagnosticado no Brasil.5 Inicialmente os casos da doença padronizavam-se em homossexuais e indivíduos que recebiam transfusão sanguínea, seguido ao aparecimento de casos em usuários de drogas injetáveis.3,6,7 A população idosa praticamente não foi atingida pela epidemia durante os cinco primeiros anos, todavia, a população com ≥60 anos não foi inerte quanto ao acometimento da AIDS, havendo quatro casos diagnosticados no período inicial da epidemia no Brasil. 3,5 Nesta época considerava-se que os idosos não tinham vida sexual ativa.3,8 De acordo com o censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), pessoas com idade ≥60 anos no Pará, somavam aproximadamente 7,03% em relação ao total da população estadual e 0,27% em relação ao total da população nacional.9,10 Uma característica do envelhecimento dessa população é a tendência epidemio- Trabalho realizado na Faculdade Integrada Brasil Amazônia/ FIBRA. Belém/PA Graduação em Ciências Biológicas - Modalidade Biologia. Universidade Federal do Pará, UFPA. Professor Mestre em Genética e Biologia Molecular do Curso de Farmácia, Faculdade Integrada Brasil Amazônia/ FIBRA. 3 Graduando em Farmácia, Faculdade Integrada Brasil Amazônia/FIBRA 4 Graduando em Biomedicina, Faculdade Integrada Brasil Amazônia/FIBRA 1 2 53 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 lógica denominada feminização,3,11 tendo o sexo feminino representando 51,25% dos idosos no Pará, em 2010.5,9,10 Estado do Pará, de 2001 a 2010. Houve mudança no padrão sexual em idosos a partir da introdução de medicamentos que combatem a disfunção erétil, proporcionando a estes indivíduos uma atividade sexual mais intensa ou até mesmo a sua retomada.3,12,13 É um estudo epidemiológico descritivo com dados obtidos por meio de consultas aos seguintes bancos de dados: SINAN (Sistema de Informações de Agravos de Notificação), SISCEL (Sistema de Controle de Exames Laboratoriais da Rede Nacional de Contagem de Linfócitos CD4+/CD8 e Carga Viral) e SIM (Sistema de Informações de Mortalidade). Em mulheres da mesma idade, estudos apontam que a atividade sexual continua ativa mesmo após a menopausa, e com a retomada da atividade sexual do parceiro essas mulheres podem se contaminar, pois tem dificuldade em negociar a utilização do preservativo com o parceiro.3,14,15 Mesmo diante deste cenário, os profissionais de saúde tem resistência em associar a AIDS ao idoso.3,16,17 O receio de ser identificado na unidade de saúde próximo de seu logradouro, leva o idoso a se deslocar para tomar conhecimento de seu diagnóstico em outra unidade de saúde. Com isso os pacientes se isolam e o tratamento pode vir a ocorrer de forma inadequada sem o acompanhamento médico necessário.3,18 A realização de estudos epidemiológicos que possam traçar o comportamento da AIDS nessa população mostrará quais direcionamentos as políticas públicas em saúde deverão tomar e assim corroborar para a efetiva democratização da saúde no Pará. Nessa perspectiva, o presente estudo tem como objetivo descrever a epidemiologia dos casos diagnosticados de AIDS, no Estado do Pará, em indivíduos com idade ≥60 anos usando dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). OBJETIVO Identificar casos de AIDS na população idosa do MÉTODO Esses bancos de dados estão sob gerência do DATASUS que tem a função de agregar dados estatísticos em saúde, sendo acessado pelo endereço eletrônico http:// www.datasus.gov.br. A consulta às informações no DATASUS foi realizada em 19/11/12. Outra fonte de informações foi o banco de dados SIDRA (Sistema IBGE de Recuperação Automática), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que tem por objetivo armazenar tabelas contendo os dados agregados dos sensos realizados no país, acessado pelo endereço eletrônico http://www.sidra.ibge. gov.br. A consulta às informações no IBGE foi realizada em 21/11/12. A população estudada constitui-se por todos os casos de HIV/AIDS diagnosticados em idosos com idade ≥60 anos, no Pará durante o período de 2001 a 2010. Para evitar erros de retardo de notificação, optou-se por analisar os dados disponíveis até 2010. A partir das informações coletadas no DATASUS foram construídas tabelas e gráficos por meio do Microsoft Excel 2007. Por se tratar de dados de domínio público, não foi necessário submeter o projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa. RESULTADOS Tabela I - Distribuição total do número de casos de AIDS diagnosticados por ano sendo relacionados com o número de diagnóstico em idosos no estado do Pará. Brasil, 2012 Ano de Incidência <60 anos ≥60 anos Total N° % N° % N° % 2001 506 98,83 6 1,17 512 100 2002 559 97,55 14 2,45 573 100 2003 618 98,25 11 1,75 629 100 2004 900 98,14 17 1,86 917 100 2005 824 97,63 20 2,37 844 100 2006 824 96,82 26 3,18 851 100 2007 1054 96,96 33 3,04 1087 100 2008 1358 97,55 34 2,45 1392 100 2009 1540 96,43 57 3,57 1597 100 2010 1434 97,28 40 2,72 1474 100 TOTAL 9617 97,37 259 2,63 9876 100 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 54 Figura 1 – Distribuição do número de casos de AIDS em idosos do sexo masculino e feminino no estado do Pará. Brasil, 2012 Tabela II – O número total de casos de AIDS por categoria de exposição no período de 2001 a 2010 e a porcentagem que cada grupo representa em relação ao total de diagnósticos na população de idoso no estado do Pará.Brasil, 2012 Categoria de Exposição Homossexual Bissexual Heterossexual Transfusão Ignorado % da categoria em relação ao total de idosos infectados 2,31 5,40 40,15 0 49,80 TOTAL 6 14 104 0 129 Figura 2 – Distribuição dos casos de AIDS diagnosticados em idosos por idade no estado do Pará. Belém, 2012 Figura 3 – Distribuição de casos de AIDS diagnosticados em idosos heterossexuais por ano no estado do Pará. Brasil, 2012 55 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 DISCUSSÃO confirmada nos resultados. Na Tabela 1 os dados representam o total de números de casos de AIDS diagnosticados no período de 2001 a 2010, totalizando 9.876 casos. Em idosos a ocorrência foi de 259 casos que representaram 2,63% em relação à totalidade, demonstrando um acréscimo anual contínuo nesse grupo e em indivíduos com <60 anos de idade mantiveram-se estáveis. A escolha pelos dados do DATASUS como fonte de informações ocorreu devido a ser um banco de dados de domínio público que agrega dados estatísticos sobre epidemiologia e mortalidade, disponibiliza dados estatísticos em saúde para qualquer agente da área ou estudante. Apesar de ser um site com muitas informações relevantes, ainda é pouco conhecido e usado pelos profissionais de saúde.3,19 Observa-se na Figura 1, que à incidência é maior em homens, compondo 74,9% da população infectada em idosos. A relação homem/mulher de casos de AIDS em idosos, durante os dez anos analisados, seguiu uma média de aproximadamente três casos diagnosticados em homens para um caso diagnosticado em mulheres. Em 2009, observou-se um pico no número de novos casos diagnosticados, 57 casos. No ano seguinte (2010) ocorreu um decréscimo de30% em relação ao número de novos casos diagnosticados (Figura 1). Quanto à distribuição dos casos diagnosticados em idosos por idade, verificou-se que acima de 70 anos de idade o número de casos cresce significativamente (Figura 2). Essa figura traduz a inclusão dessa faixa etária em uma condição sexual mais ativa devido ao acesso a medicamentos que tratam de disfunção erétil.3,12,13 A Figura 3 mostra a distribuição de casos de AIDS diagnosticados em idosos heterossexuais, observou-se crescimento acentuado entre o período correspondente a pesquisa (2001 a 2010). Em uma comparação com o ano anterior, 2010 teve um incremento de 38,46% nos casos diagnosticados no grupo dos idosos heterossexuais. A informação colocada mostra uma tendência oposta, pois levando em consideração os anos de 2009 e 2010 a população total infectada com a idade ≥60anos teve uma redução de cerca de 30% nos diagnósticos positivos e já isolando a população dos idosos heterossexuais houve um aumento de 38,46%. E de acordo com a Tabela 2 o total de casos em idosos heterossexuais no período pesquisado (2001 a 2010) corresponde a 40,15% do total dos casos de AIDS diagnosticados em indivíduos com idade ≥60 anos no estado do Pará. Os resultados da Tabela 2 mostram uma clara subnotificação em relação aos homossexuais e bissexuais. O receio enfrentado por essas duas categorias em falar abertamente sobre suas preferências sexuais, podem interferir, diretamente, na distribuição desses valores de acordo com suas categorias. O que corrobora com a afirmação anterior é o valor expressivo (49,80%) dos categorizados como ignorados. A heterossexualização da epidemia também é Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 No Pará mesmo a AIDS tendo uma baixa taxa de porcentagem entre os idosos, quando relacionada a outra faixa etária, percebe-se uma nova veracidade da doença, dessa forma contrariando a estimativa de redução do número dos casos registrados nos últimos anos.5 Foi observado que houve um acréscimo no número de casos em idosos, heterossexualização da epidemia e um ‘’leve envelhecimento’’ da mesma.3,20 Uma postura equivocada dos profissionais da saúde em relação à vida sexual dos idosos dificulta ainda mais o diagnóstico positivo para HIV. Os médicos deixam de indagar sobre questões referentes à atividade sexual dos idosos e ainda não solicitam prontamente exames sorológicos de HIV. E para dificultar ainda mais os idosos se consideram imunes ao vírus.3,16,17 Todos esses fatores anteriormente citados contribuem para a demora no diagnóstico da AIDS nessa faixa etária. A dificuldade em diagnosticar é uma realidade, pois nestes casos o profissional de saúde associa a doença a outras enfermidades convenientes a idade, o que acaba retardando o diagnóstico e prejudicando ainda mais o paciente.3,21 O uso de medicamentos voltados para a estimulação sexual, associado a um grande número de parceiros sexuais e sem a prática do uso de preservativo, fazem destes, os fatores que mais contribuem para o perfil epidemiológico.3,22 Os dados referente à AIDS, no Brasil, mostrou uma estabilização em todas as faixas etárias exceto na faixa de 60 anos ou mais.5 O Governo deve levar em conta algumas questões que precisam ser melhores avaliadas, tal como a disponibilidade do serviços prestados a saúde na região Norte do país e também um melhor preparo das pessoas responsáveis pela notificação.3 Apesar da utilização de dados secundários representar vantagens, tais notificações representam um risco por dificultarem a veracidade do panorama da epidemia no Pará. Salienta-se o número de campos nas fichas de atendimento, a má padronização de tais fichas e o despreparo 56 dos profissionais responsáveis por notificar os dados no banco de dados do SUS.3,23 O uso de dados secundários limita o pesquisador, pois não permite que sejam controlados possíveis erros decorrentes de digitação e/ou registro. Apesar disso, acredita-se que por se tratar de dados de domínio público e de preenchimento obrigatório em todos os serviços de saúde, seus dados possibilitam o estudo de caso.3,5 CONCLUSÃO A utilização das bases de dados de domínio público pode minimizar custos e tempo, constituída de uma fonte de dados segura e confiável para realização de pesquisas e organização de serviços e políticas públicas, desta forma auxiliando gestores que necessitem de tais informações. Apartir do estudo, foi verificado que os recursos utilizados forneceram um panorama epidemiológico dos casos de AIDS notificados, no Pará, nos indivíduos com faixa etária dos 60 anos ou mais. O Datasus é uma ferramenta eficaz para os profissionais da área da saúde para reconsiderarem a sua prática e direcionarem investimentos nesta área do conhecimento, permitindo que os mesmos planejem, coordenem e promovam ações e programas em saúde para o combate a novos casos da AIDS, tratamento dos doentes sintomáticos e diagnósticos dos doentes assintomáticos. Por meio de equipes multidisciplinares, pode-se planejar e coordenar efetivas formas para atender as necessidades dos doentes frente à AIDS. Conhecer o perfil epidemiológico da doença é essencial para o direcionamento das ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, estabelecidas no Sistema Único de Saúde pela Lei Orgânica da Saúde n°8.080/90. SUMMARY THE EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF AIDS ELDERLY IN THE STATE OF PARÁ USING DATASUS HEALTH INFORMATION SYSTEM Adonis de Melo LIMA, Jean Charles Vilhena MAIA e Alan Bosque de SOUSA Aids has assumed different behaviors in the aged population compared with <60 years in Pará. Increased life expectancy and access to medicines for treating erectile dysfunction have changed the background of sexuality in the elderly. The aim of this study was to identify cases of aids in the old population of the state. Analyses were performed on data from the Informatics Department of the Unified Health System (Datasus) in the period from 2001 to 2010. The data show an increase in positive diagnoses in individuals aged ≥ 60 years, with 259 cases recorded in this period. The main risk factor was heterosexual (40.15%), while men represent 74.9% of positive diagnoses. Aids is a reality that requires the team to various health challenges: run prevention campaigns specific to this population and develop a professional practice able to meet the increased demand from elderly who face this disease. Keywords: acquired immunodeficiency syndrome, aged, epidemiology, health profile, sexually transmitted diseases, STD. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. United States of America (USA). 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Endereço para correspondência: Adonis de Melo Lima Passagem Eunice Weaver, 69, Sacramenta, Belém-PA, Brasil Cep: 66083-290- Belém-Pa Fone: (91) 3347-5975 Email: [email protected] Recebido em 8.05.2013 – Aprovado em 30.10.2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 58 ARTIGO ORIGINAL CONHECIMENTO E PRÁTICA NA REALIZAÇÃO DO EXAME DE PAPANICOLAOU E INFECÇÃO POR HPV EM ADOLESCENTES DE ESCOLA PÚBLICA1 KNOWLEDGE AND PRACTICE IN DOING THE PAP SMEAR AND HPV INFECTION IN ADOLESCENTS PUBLIC SCHOOL Felipe da Silva ARRUDA2, Felype Martins de OLIVEIRA2, Rafael Espósito de LIMA2 e Adrya Lúcia PERES3 RESUMO Objetivo: identificar o conhecimento relacionado ao exame preventivo do câncer cervical, infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) e suas consequências, além de observar a prática das adolescentes sexualmente ativas. Método: tratase de um estudo quantitativo, analítico e transversal realizado em uma escola pública. Um questionário foi aplicado a 223 adolescentes entre 14 e 19 anos, as quais responderam perguntas relacionadas aos aspectos sócio-demográficos, econômicos, características sexuais, reprodutivas e conhecimento sobre o câncer de colo uterino e infecção pelo HPV. Resultado: a média de idade para o início da atividade sexual foi de 15,96 anos. Um percentual de 44,8% das adolescentes não apresentou conhecimento sobre o exame preventivo, como também 46,2% não demonstraram informações relacionadas à infecção pelo HPV. Conclusão: a iniciação sexual está acontecendo precocemente. O conhecimento a cerca do exame preventivo e infecção pelo HPV é limitada. Contudo é necessário haver mais orientações relacionadas à educação sexual para as adolescentes nos serviços de saúde públicos ou instituições de ensino, objetivando orientá-las sobre a importância do exame de Papanicolaou como também sobre os riscos que a infecção pelo HPV pode trazê-las. DESCRITORES: Câncer, colo uterino, citologia, HPV. INTRODUÇÃO O câncer de colo uterino apresenta-se como a segunda neoplasia mais prevalente na população feminina, responsável por cerca de 250.000 mortes a cada ano no mundo¹. Essa neoplasia representa a segunda causa de morte de mulheres por câncer no Brasil, superada apenas pela neoplasia da mama. Apesar de constituir um problema de saúde pública, é uma doença passível de ser prevenida². O HPV é um fator etiológico bem estabelecido para o câncer cervical. Esse vírus de DNA, infecta primariamen- te o epitélio e pode induzir lesões benignas ou malignas na pele e na mucosa. Alguns HPV são considerados de alto risco, responsáveis pela progressão das lesões precursoras até câncer cervical. Cerca de 40 tipos atingem a região anogenital, dos quais aproximadamente, 18 são oncogênicos: HPV16, 18, 26, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 53, 56, 58, 59, 63, 66, 68 e 82. Os demais tipos genitais, HPV 6, 11, 42, 43 e 44 são considerados de baixo risco ou sem qualquer risco oncogênico3. Alguns fatores contribuem para a etiologia desse tumor como: tabagismo, multiplicidade de parceiros Trabalho realizado na Faculdade ASCES -Associação Caruaruense de Ensino Superior. Caruaru, Pernambuco, Brasil Graduado em Biomedicina pela Faculdade ASCES-Associação Caruaruense de Ensino Superior. Caruaru, Pernambuco, Brasil. 3 Graduada em Biomedicina pela Universidade Federal de Pernambuco/UFPE. Professora de citologia clínica da Faculdade ASCES, Mestre em Patologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutoranda em Biologia Aplicada à Saúde-UFPE. 1 2 59 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 sexuais, uso de contraceptivos orais, multiparidade, baixa ingesta de vitaminas, iniciação sexual precoce e coinfecção por agentes infecciosos como o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e Chlamydia trachomatis4. Estudos descrevem a prevalência do câncer de colo uterino em mulheres com início precoce da atividade sexual e multiplicidade de parceiros sexuais. Outro fator relacionado ao aumento do risco para o desenvolvimento deste câncer é o uso de contraceptivos orais, as baixas condições socioeconômicas e o uso irregular de preservativos6. As adolescentes nem sempre usam métodos contraceptivos que as proteja contra gravidez indesejada e Infecções sexualmente transmissíveis (IST) na sua primeira relação sexual. Estudos revelam que o contágio pelo HPV ocorre no início da vida sexual, na adolescência ou por volta dos 20 anos5. O início precoce da atividade sexual pode promover maior risco de transformação neoplásica no colo do útero na presença do HPV. Um estudo mostrou que, se houver maior incidência desse vírus nesta fase da vida, existe um risco futuro de câncer, embora o câncer invasor de colo uterino seja raro na adolescência6. OBJETIVO Avaliar o conhecimento sobre o exame preventivo do câncer cervical, infecção pelo HPV e suas consequências, observando também a prática das adolescentes sexualmente ativas. um formulário aplicado em local privativo, onde as alunas responderam individualmente seu questionário e em seguida depositaram as respostas em uma urna. Foram excluídas do estudo as adolescentes que se encontravam fora da faixa etária de 14 a 19 anos ou que não apresentavam o TCLE assinado pelos responsáveis, no caso de menor idade. O questionário aplicado apresentava perguntas sócio-demográficas e econômicas, características sexuais e reprodutivas e conhecimento sobre o câncer de colo uterino e infecção pelo o HPV. O conhecimento relacionado ao exame de prevenção do câncer de colo uterino e infecção pelo HPV foi considerado como adequado (ou existente) quando a adolescente sabia da existência do exame e tinha conhecimento da infecção pelo HPV. Para esta análise foi considerado a definição para o termo “conhecimento”, o qual significa: ter ideia ou noção de “alguma coisa”; ato ou efeito de conhecer; onde conhecer é fazer ideia de algo7. A prática na prevenção do câncer do colo uterino foi considerada quando as adolescentes sexualmente ativas já haviam realizado o exame de prevenção. Os dados das amostras foram organizados em planilhas eletrônicas no Excel 2007 for Windows, transportados para o programa Epi Info (versão 6.04b) e analisados estatisticamente, utilizando o teste de Fisher ou Quiquadrado na associação dos resultados. Foi considerado estatisticamente significante o valor de p<0,05. RESULTADOS MÉTODO Trata-se de um estudo quantitativo, analítico e transversal, realizado no período de fevereiro a março de 2013, conduzido na escola pública de referência em ensino médio (EREM) do município de Bezerros – PE. O cálculo da amostra mínima necessária a se obter resultados com significância estatística foi feito por meio do programa estatístico SampleXS for Windows. Sendo levada em consideração uma população de 481 adolescentes do sexo feminino de 14 a 19 anos de idade, matriculadas na escola. A prevalência estimada foi arbitrariamente estabelecida em 50% pelo fato de haver um desconhecimento da taxa de prevalência deste processo na população em estudo. Foi considerado um erro máximo de 5% e efeito de delineamento igual a 1. Assim sendo, um número mínimo de 220 adolescentes foi estabelecido para que os resultados obtidos tivessem um grau de confiança de 90%. Os sujeitos envolvidos na pesquisa foram consultados a participar e assinaram um termo de conhecimento livre e esclarecido (TCLE), no caso das menores de 18 anos, foi solicitado ciência dos pais ou responsáveis legais. Os dados foram coletados pelos pesquisadores por meio de Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Tabela I: Estudo da Distribuição das adolescentes na Escola Pública de Referência de Bezerros - PE, de acordo com as características biológicas e sócio-demográficas em 2013. Idade F Fr (%) 14 a 15 anos 117 52,5% 16 a 17 anos 97 43,5% 18 a 19 anos 9 4,0% Estado civil Casada 1 0,4% Solteira 222 99,6% Renda Familiar até um salário mínimo* 77 34,5% dois salários mínimos 86 38,6% Três Salários 39 17,5% Acima três salários 21 9,4% * Valor do salário mínimo (SM) do Brasil na época da pesquisa: R$ 678,00 60 Tabela II: Estudo do Perfil sexual e reprodutivo das adolescentes na Escola Pública de Referência de Bezerros -PE, 2013 Início da atividade sexual N Fr(%) Sim 59 26,5% Não 164 73,5% Total 223 100% Sim 51 22,9% Não 172 77,1% Total 223 100% Faz uso de métodos contraceptivos Tabela III: Estudo do conhecimento sobre o exame preventivo, na Escola Pública de Referência de Bezerros -PE, 2013 Relação sexual na adolescência Conhecimento do exame papanicolau N Sim 32 Não 27 Total 59 Sim Total Não % N % N % (54,2) 91 (55,5) 123 (55,2) (45,8) 73 (44,5) 100 (44,8) 164 223 100,0 RR = 0,96 (0,62 – 1,49) X2 = 0,00 p = 0,98 Tabela IV: Estudo do conhecimento relacionado à infecção pelo HPV e suas consequências, na Escola Pública de Referência de Bezerros -PE, 2013 Tem conhecimento sobre a infecção por HPV? Iniciou Não iniciou atividade sexual atividade sexual Sim 28 57,5% 92 56,1% Não 31 52,5% 72 43,9% 59 100,0% 164 100,0% Total Conhecimento das consequências da infecção pelo HPV? Sim 29 49,2% 82 50,0% Não 30 50,8% 82 50,0% 59 100,00% 164 100,0% Total 61 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Tabela V. Estudo do Perfil e prática das adolescentes sexualmente ativas, na Escola Pública de Referência de Bezerros -PE, 2013 Idade N Fr(%) 14 e 15 anos 23 39,0% 16 e 17 anos 30 50,8% 18 e 19 anos Estado civil 6 10,2% Casada 1 1,7% Solteira Idade do início da primeira atividade sexual 58 98,3% Menos 12 anos 0 0,0% 12 a 14 anos 24 40,7% 15 a 19 anos Número de parceiros no último ano 35 Até dois 51 86,4% Mais de dois Faz uso de contraceptivos 8 13,6% Sim 46 78,0% Não 13 22,0% DISCUSSÃO Em estudos como o realizado na cidade de São Paulo em 2010, envolvendo 134 adolescentes de 14 a 19 anos, foi identificado que o estado civil predominante era de solteiras, com 90,3% 5, corroborando com os achados deste atual estudo, onde as adolescentes eram em sua maioria solteiras, ficando evidente o início da atividade sexual em jovens solteiras. Quanto foi avaliado a renda familiar, um estudo na cidade de São Paulo, encontrou uma renda máxima de 2 a 4 salários mínimos nas famílias das adolescentes5, estando em proximidade com o presente estudo, onde a renda mensal da maioria das famílias das adolescentes foi de até dois salários mínimos. É evidente uma semelhança entre estas populações comparadas, tendo em vista os dois estudos envolverem adolescentes de escolas públicas, fica evidente que o padrão da renda familiar em adolescentes de escola pública é mantido em diferentes regiões do país. Em um estudo realizado por Martins e col (2007)8, aproximadamente 20% das mulheres relataram início da atividade sexual com idade igual ou menor a 15 anos, sendo que a maioria referiu o início entre 14 e 20 anos (76,4%). No presente estudo foi observado que 59,3 % tiveram o início da atividade sexual entre 15 a 19 anos, além de outras que demonstrarem frequência no início sexual abaixo de 15 anos. O início precoce da atividade sexual torna-se uma condição constante, sendo possível verificar em um estudo realizado na cidade do Rio de Janeiro com adolescentes de Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 59,3% 11 a 19 anos em um ambulatório de Ginecologia, 59,1% iniciaram suas atividades sexuais na faixa etária de 15 a 19 anos9. A antecipação sexual entre as adolescentes já se torna um fator de risco, pois na adolescência a ectopia cervical que representa uma condição fisiológica normal, torna o colo do útero propício a várias doenças sexualmente transmissíveis, sendo a infecção pelo HPV uma das mais comuns. Isto ocorre porque a junção escamo-colunar (JEC) estando mais exposta poderá favorecer a infecção pelo HPV, o qual poderá atingir diretamente as células basais, facilitando sua replicação e o desenvolvimento de lesões cervicais pré-neoplásicas ou neoplásicas10. Em um estudo sobre o conhecimento relacionado ao uso de métodos anticoncepcionais em uma população de 15 anos ou mais de uma cidade do Sul do Brasil, foi encontrado que 75,3% das participantes da pesquisa utilizaram algum método anticoncepcional, alguma vez na vida, sendo relatado que é limitado o conhecimento sobre uso correto e adequado dos métodos mais utilizados11. Neste estudo foi evidenciado que das 59 adolescentes que já iniciaram a atividade sexual, 78,0% delas faziam uso de métodos contraceptivos, predominantemente com o uso de preservativos, sendo observado que existe uma prevenção em grande parte da população exposta a possíveis riscos. A falta de informação sobre o exame de Papanicolaou e os riscos da infecção pelo HPV, podem acarretar o aumento do número dos casos de câncer cervical, onde se62 gundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) em 2012, estão previsto a ocorrência de 17.540 novos casos de câncer de colo uterino12. Em relação ao conhecimento relacionado ao exame de Papanicolaou foi observado em estudo realizado em determinada cidade do Rio Grande do Norte que 98,1% das entrevistadas tinham conhecimento adequado sobre o exame13. Neste estudo apenas 55,2% das pesquisadas sabiam da existência do exame, porém, não foi observada correlação entre o conhecimento a cerca do exame e o início da atividade sexual. Em relação ao conhecimento sobre a infecção pelo HPV, 53,8% das adolescentes estudadas afirmaram conhecer a infecção pelo vírus. Quando foi observado o estudo de Panobianco e col (2013)14, 46,7% das adolescentes sabem o que o HPV pode causar. Com isto, torna-se possível verificar que ainda existe certa falta de conhecimento sobre o HPV entre as adolescentes, tornando possível observar que muitas delas, não usam métodos de prevenção e não sabem a gravidade da infecção pelo vírus. Pôde-se observar ainda que 49,8 % das adolescentes conhecem as consequências da infecção pelo HPV independente de terem ou não iniciado a vida sexual. A educação aumenta o nível para a importância da realização de exames preventivos e melhoras no modo como o indivíduo compreende a informação sobre avaliações de rotina e interpretação dos resultados15. É preciso refletir sobre a importância de se repensar os objetivos, a metodologia e a preparação dos profissionais para desenvolver educação sexual, sendo muito importante educar sobre métodos contraceptivos16. Tornar-se evidente a importância em oferecer uma educação contínua aos estudantes, relacionando as doenças sexualmente transmissíveis e métodos preventivos, consequentemente contribuir para minimizar possíveis riscos para infecções e suas consequências relacionadas. CONCLUSÃO Quanto ao conhecimento das adolescentes na escola pública, o início da vida sexual aconteceu predominantemente em uma idade inicial da adolescência e um percentual significativo destas adolescentes nunca chegou a realizar o exame preventivo do câncer de colo uterino. O conhecimento a cerca do exame preventivo por parte da população estudada é moderado. Um percentual significativo das adolescentes que iniciaram a atividade sexual não demonstrava conhecimentos relacionados a este exame, por falta desse conhecimento, grande parte não realiza o exame, deixando muitas vezes de diagnosticar possíveis alterações precocemente. O conhecimento das adolescentes sexualmente ativas relacionado ao HPV é limitado, tendo em vista que grande parte destas, não reconhece seu poder oncogênico no desenvolvimento do câncer de colo uterino. A iniciação sexual está acontecendo precocemente e com isso aumenta as chances das adolescentes adquirirem doenças sexualmente transmissíveis, entre elas o HPV. O suporte educacional das instituições de ensino ou serviços públicos de saúde, buscando estratégias educacionais nas escolas que incentivem adolescentes a realizarem o exame preventivo após a primeira relação sexual, além de orientações a respeito do uso de métodos contraceptivos torna-se de grande relevância entre este público de adolescentes. SUMMARY KNOWLEDGE AND PRACTICE IN DOING THE PAP SMEAR AND HPV INFECTION IN ADOLESCENTS PUBLIC SCHOOL Felipe da Silva ARRUDA, Felype Martins de OLIVEIRA, Rafael Espósito de LIMA e Adrya Lúcia PERES Objective: This study aimed to identify the knowledge related to the Pap smear for cervical cancer, HPV infection and its consequences, and to observe the practice of sexually active teens. Method: This is a quantitative, analytical and cross conducted in a public school. A questionnaire was administered to 223 adolescents between 14 and 19 years, who answered questions related to the socio-demographic, economic, sexual characteristics, reproductive and knowledge about cervical cancer and HPV infection Result: The average age for first sexual intercouser was 15.96 yars. A percentage of 44.8% of the adolescents did not have knowledge of preventive screening, as well as 46.2% do not show information related to HPV infection. Conclusion: sexual initiation is happening early. The Knowledge about the Pap and HPV 63 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 infection is limited. However there needs to be more guidance related to sexuality education for adolescents in public health services or educational institutions, aiming to educate them about the importance of Pap smear as well as the risks that HPV infection can bring them. KEYWORDS: Cancer of the cervix, Pap smear, HPV Knowledge. REFERÊNCIAS. 1. 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Fone: (0xx81) 9963 0881/ 9633 2414 e-mail: [email protected] Recebido em 05.07.2013 – Aprovado em 06.11.2013 65 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 66 ARTIGO ORIGINAL HEPATITIS B AND C INFECTIONS IN SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS PATIENTS INFECÇÃO PELOS VÍRUS DA HEPATITE B E C EM PACIENTES COM LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO José Humberto de Lima MELO1,2, Maria Rosângela Cunha Duarte COÊLHO1,2,4, Veridiana Sales Barbosa de SOUZA1,2, Jéfferson Luis de Almeida Silva1,2, Georgea Gertrudes de Oliveira Mendes CAHÚ1 e Ana Cecília Cavalcanti de ALBUQUERQUE1,3 SUMMARY OBJECTIVE: determine the seroprevalence of HBV and HCV in SLE patients attended at the University Hospital from October 2009 to July 2010. METHOD: the serological markers for HBV (HBsAg, anti-HBc total and anti-HBs) and HCV (anti-HCV) were investigated by enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA). In HBsAg and/or anti-HBc total and anti-HCV positive samples were analyzed for HBV-DNA and HCV-RNA by PCR. RESULTS: one hundred and sixty-nine SLE patients were studied and the prevalence of anti-HBc total was 10.1% (17/169) and all were negative for HBV-DNA. The anti-HCV was present in 1.8% (3/169) and only one was HCV-RNA positive, presenting a viral load of 212.000 copies/mL. CONCLUSIONS: considering the absence of data on HBV in SLE patients in Brazil, the prevalence found in this study was high when compared to that reported in the general population in the same geographical area. With regard to the seroprevalence of HCV, it was lower than that observed in other Brazilian SLE patients. KEY WORDS: Systemic lupus erythematosus, hepatitis B, hepatitis C and prevalence. INTRODUCTION Infectious diseases are considered the second leading cause of death and account for 30% to 50% of the morbidity and mortality in systemic lupus erythematosus (SLE) patients1. In these individuals, there is an increased risk of infection because of immune disorders associated with SLE, such as the presence of leukopenia, immunosuppressive treatment and hospitalization2. Although bacteria are the most common etiological agents, viruses, fungi and protozoa have also been reported in these patients3. Various genetic, environmental, and hormonal factors have been implicated to justify the diversity of clinical presentation and course of SLE. Clinical and laboratory evidences suggest that persistent viral infections could lead to a sustained polyclonal activation of B cells in individuals with genetic predisposition. Thus, hepatitis B and C could facilitate the emergence or modify the natural history of SLE4. The infection by the hepatitis B virus (HBV), classified in the genus Orthohepadnavirus, family Hepadna- Virology Division, Laboratory of Immunopathology Keizo Asami (LIKA), Federal University of Pernambuco (UFPE). Postgraduate Program in Tropical Medicine, Health Sciences Center, Federal University of Pernambuco (UFPE). 3 Immunology Division, School Laboratory of Caruaruense Association of Higher Education. 4 Department of Physiology and Pharmacology, Biological Sciences Center, Federal University of Pernambuco (UFPE). 1 2 67 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 viridae5, can also trigger an autoimmune reaction, because DNA polymerase of the virus has high homology with four nuclear and two smooth muscle human proteins6. Furthermore, autoantibodies against proliferating cell nuclear antigen were detected in chronic hepatitis B patients and were also present in SLE patients, but were absent in other autoimmune diseases7. Previous studies have demonstrated the presence of HBsAg in renal biopsies of lupus nephritis patients by hemagglutination8. Surveys in Asia reported HBsAg seroprevalence ranging from 1% to 3.5% in SLE patients9. In Brazil, there are no data on the seroprevalence of this infection in these patients. Moreover, the virus hepatitis C (HCV) may be related with cryoglobulinemia and Sjögren’s syndrome. Chronic infection by this virus can mimic an SLE-like syndrome with several clinical manifestations being HCV considered as a possible etiological agent in the development of SLE10. Worldwide, the HCV seroprevalence in SLE ranges from 1% to 14,1%11,12. There are therapeutic implications in the treatment of HCV infection and autoimmune diseases. The therapy of SLE, based on corticosteroids and immunosuppressants, can lead to an increase in HCV replication, accentuating hepatocytes infection, resulting in more severe and fulminant hepatitis13. However, interferon used routinely in the treatment of hepatitis C can precipitate or exacerbate a variety of autoimmune diseases in addition to causing side effects, such as arthralgia, leukopenia and thrombocytopenia, which is common in some rheumatic diseases, such as SLE, thus making it difficult to evaluate patients14. Rare are studies showing the clinical course of rheumatic diseases in HCV patients. Perlemuter et al. (2000)15, analyzing SLE patients infected with HCV, observed a severe clinical picture with the involvement of multiple organs, in which a therapy with corticosteroids does not alter the course of chronic hepatitis. Thus, considering the paucity of data in Brazil and the clinical and therapeutic implications of these infections in these individuals, this study aimed to determine the prevalence of HBV and HCV markers in SLE patients. METHOD Study site and patient selection We enrolled 169 patients who attended the Rheumatology Outpatient Clinic at the Clinics Hospital, Federal University of Pernambuco, Recife, Brazil, from October Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 2009 to July 2010. The study included patients of both sexes that presented at least four of the eleven diagnostic criteria for SLE as proposed by the American College of Rheumatology16. Informed consent was obtained from all participants of this study. The study protocol was approved by the Ethics Committee of Research from the Health Sciences Center, Federal University of Pernambuco, Brazil (research protocol number: 354/08). Data Collection Through a standardized questionnaire, data were collected from each patient, including gender, age, race, education, income and risk factors for transmission of HBV and HCV: history and period (before or after 1993) of blood transfusions, history of hemodialysis, history of surgery, history of transplant of organ/tissue, history of dental treatment, presence of tattoos and/or piercing and a history of injecting and/or inhalable drug use. Collection of blood samples and serology Blood samples (10 mL) were collected and the serum obtained by centrifugation and stored at -80°C until the serologic and molecular tests were performed in the Division of Virology, Laboratory of Immunopathology Keizo Asami (LIKA), UFPE. Serological markers for HBV and HCV were investigated by enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) of the third generation, according to the manufacturer’s instructions. All samples were tested for anti-HBc total Monolisa Plus Assay (Bio-Rad Laboratories), anti-HBs Monolisa Plus Assay (Bio-Rad Laboratories), Hepatitis B HBsAg (Wiener Laboratories). The presence of anti-HCV was investigated using the Hepatitis C anti-HCV (Wiener Laboratories). All samples that were anti-HCV positive were retested by Microparticles Enzyme Immunoassays (MEIA) using AxSYM HCV 3.0 kit (Abbott, Max-Plack-Ring 2) according to the specifications of the manufacturer. Detection of viral genetic material The samples HBsAg and/or anti-HBc total positive were subjected to DNA extractions using Brazol® (LGC Biotecnologia), including 3 mg/mL of glycogen. The S sequence of HBV was amplified according to published protocol [17] by qualitative nested PCR assay with a sensitivity of 300 copies/mL on THERM 1000/Maxygene thermocycler® (Axygen). 68 The anti-HCV positive samples were extracted by the QIAamp Viral RNA Mini Kit ® (Qiagen) and followed by quantitative real-time PCR assay, using the One-Step RT-PCR Kit ® (Qiagen), according to the manufacturer’s instructions. The reaction, with a sensitivity of 20 IU/mL, was performed on a CFX-96 Real-Time Thermal Cycler ® (Bio-Rad Laboratories). level was primary school incomplete in 34.9% (59/169) and 49.7% (84/169) of patients came from rural towns in the state of Pernambuco, Brazil. At the time of the study, all patients were using varying doses of corticosteroids and immunosuppressive agents, depending on the severity and disease activity. The seroprevalence of HBV was 10.1%, considering Statistical analysis Initially, descriptive analyses of socio-demographic and clinical characteristics of patients were performed. The 95% confidence interval of the respective prevalence of each serological marker was set up by the exact binomial. The association between the positivity of serological markers and risk factors was verified using the odds ratio (OR) and the 95% confidence interval. The Chi-square (χ2) and Fischer’s exact test were used, when appropriate, to determine whether the associations were statistically significant. Statistical significance was considered for p-values <0.05. In order to monitor the confusion effect, all of these associations were adjusted for age. Data from each patient were analyzed using the Epi Info software version 6.04d. RESULTS Among the patients, 93.5% (158/169) we re fe m a l e s . T h e ave r age age w a s 3 9 ± 1 0 . 9 years. In respect to the age group distribution, 55.6% (94/169) were <40 years. As for skin c ol or, 3 7 . 9 % ( 6 4 / 1 6 9 ) of p at i e nt s we re bl a ck . Household income ranged between 1 and 3 basic wages in 53.6% (91/169). The most common educational 69 the positivity of anti-HBc total (Table 02). The qualitative nested PCR assay did not detect HBV-DNA in any of the 17 samples with anti-HBc total positive. On the other hand, the prevalence of anti-HCV was 1.8%, based on ELISA and confirmed by MEIA (Table 02). The quantitative real-time PCR assay detected the HCVRNA in one sample with 212.000 copies/mL; therefore, 0.6% was the prevalence. Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 TABLE III – Association of variables related to SLE patients, according to positivity for anti-HBc total Variable Gender Male Female Educational level Until to primary school More than primary school Family Income Less than one basic wage One or more basic wages Blood transfusion No Yes Hemodialysis No Yes Surgery No Yes Organ/tissue transplant No Yes Dental treatment No Yes Tattoo No Yes Piercing No Yes Drug injectable/inhalable No Yes Anti-HBc total Positive Negative % % n n ORa (95% CIb) p-value 01 16 9.1 10.1 10 142 90.9 89.9 – 1.21 (0.14 – 10.2) – 0.855 12 5 15.6 5.4 65 87 84.4 94.6 – 0.34 (0.11 – 1.02) – 0.056 09 08 13.2 8.9 59 93 86.8 89.9 – 0.65 (0.23 – 1.79) – 0.407 11 06 9.3 12.5 110 42 90.7 87.5 – 1.46 (0.50 – 4.23) – 0.485 16 01 9.9 20 148 04 90.1 80 – 3.13 (0.31 – 31.5) – 0.333 02 15 3.9 12.8 50 102 96.1 87.2 – 3.16 (0.67 – 14.7) – 0.142 16 01 9.3 50 151 01 90.7 50 – 7.04 (0.40 – 123.2) – 0.181 10 07 13.1 15.6 114 38 86.9 84.4 – 1.39 (0.45 – 4.32) – 0.560 16 01 9.6 50.0 151 01 90.4 50.0 – 9.09 (0.53 – 155.0) – 0.127 17 00 10.2 00 149 03 89.8 100 – – – – 17 00 10.2 00 151 01 89.9 100 – – – – FONTE: Protocolo de pesquisa. ORa = odds ratio; 95% CIb = 95% however, this difference was no statistically significant. confidence interval The three patients with anti-HCV positive were female and the average age was 45.33± 10.69 years. All had received blood transfusion, one of them before 1993. One of these has submitted to dental treatment and another underwent hemodialysis due to chronic renal failure. This serological marker was more frequently observed in females, representing 94.12% (16/17) of the positive cases for anti-HBc total. The variable age, which was grouped by age group, had a higher frequency of patients ≥ 40 years (OR: 2.52, 95% CI: 0.88 to 7.17, p = 0.083), Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 70 DISCUSSION There are about 116 different types of autoantibodies in SLE directed against a variety of self-antigens. Many of these are known, whereas others still have uncertain immunopathogenesis. Therefore, the interpretation of serological assays in SLE patients requires caution, because cross-reactions can occur, generating false-positive results and, consequently, overestimation of the seroprevalence of these markers18. In this work, there were no positive results for HBsAg, however, 2.3% positivity for this marker was detected in China9. However, being a country of high endemicity for hepatitis B, these data may be influenced by a prevalence bias, increasing the frequency of serological markers of viral infection in SLE patients. Besides the detection of HBsAg in the serological screening in SLE patients, is important search for anti-HBc total in order to evaluate the past exposure to HBV. Thus, the prevalence of anti-HBc total in this study was higher than that found by Ram et al. (2008)19 (2.5%) in Colombia and Berkun et al. (2009)20 (1.7%) in Israel. Nevertheless, a lower than that prevalence reported by Chng et al (1993)21 (19.7%) in Singapore, which may also be influenced by the prevalence bias discussed earlier. In Brazil, there are no data on the prevalence of HBV in SLE patients. However, the seroprevalence of anti -HBc in our study was higher than that found in the general population in the same geographical area (9.8%)22. The absence of HBV-DNA in anti-HBc total positive samples may have been influenced by the sensitivity of technique applied in this study because Tse et al (2009)23 detected the HBV-DNA in lupus nephritis patients, using real-time PCR with a detection limit of 1.00 x 102 copies/mL. Although no statistically significant association was detected between the presence of anti-HBc total and the risk factors analyzed, we obtained interesting findings. A higher frequency of this marker in women aged ≥ 40 years, which reflects the profile of patients treated at the study site. In Brazil, an annual incidence of 8.7 cases per 100.000 population of SLE was reported, most often in women than in men (14.1:2.2)24. The largest number of cases aged ≥ 40 years may suggest a cumulative exposure to risk for HBV infection throughout life. In our study, low education and low income in Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 patients with anti-HBc total positive may be responsible for poor access to information about the modes of transmission of HBV, favoring viral contagion. Pereira et al. (2009)22 reported that the lower level of education was a risk factor for HBV infection in northeastern Brazil. There was a high frequency of history of surgery in patients with anti-HBc total positive. This finding can be explained because invasive procedures may be contributing factors to a greater exposure of these individuals to HBV infection. Additionally, being an illegal practice, the frequency of injecting drugs/inhaled use may be underestimated in our sample. In Brazil, the only two studies evaluating the antiHCV in SLE patients showed seroprevalence of 2.3% in Goiânia-GO25 and 6.6% in Rio de Janeiro-RJ18, and both are superior to that observed in this study. Such differences may be due to the different criteria for patient selection, use of different techniques in search of infection and variation in the prevalence of hepatitis C observed in different geographical regions. Considering the results of quantitative real-time PCR assay, the prevalence of hepatitis C in SLE patients was 0.6%, similar to that found by Mercado et al (2005)26. The only sample positive PCR showed a viral load of 212.000 copies/mL. It should be noted that cases with a viral load >800.000 copies/mL predict worse clinical prognosis27. Blood transfusion represents one of the main risk factors for transmission of HBV and HCV. However, the time of transfusion is also important, since prior to November 1993 there was no serological screening for HCV in blood banks of Brazil. Meanwhile, due to the low frequency of anti-HCV in the samples, it was not possible to perform statistical analysis with this variable. CONCLUSION Considering the absence of data on HBV in SLE patients in Brazil, the prevalence found in this study was high when compared to that reported in the general population in the same geographical area. With regard to the seroprevalence of HCV, it was lower than that observed in other Brazilian regions. Therefore, it was emphasized the importance of research on these viruses in this population, since, patients with SLE are more susceptive to acquiring 71 infections. RESUMO INFECÇÃO PELOS VÍRUS DA HEPATITE B E C EM PACIENTES COM LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO José Humberto de Lima MELO, Maria Rosângela Cunha Duarte COÊLHO, Veridiana Sales Barbosa de SOUZA, Jéfferson Luis de Almeida Silva, Georgea Gertrudes de Oliveira Mendes CAHÚ e Ana Cecília Cavalcanti de ALBUQUERQUE OBJETIVO: determinar a soroprevalência do HBV e HCV em pacientes com LES atendidos em Hospital Universitário de Outubro de 2009 a Julho de 2010. MÉTODO: pesquisaram-se os marcadores sorológicos para o HBV (HBsAg, anti-HBc total e anti-HBs) e HCV (anti-HCV) através de ensaio imunoenzimático (ELISA). Nas amostras HBsAg e/ou anti-HBc total e anti-HCV positivas foram pesquisados o HBV-DNA e HCV-RNA, pela reação em cadeia da polimerase (PCR). RESULTADOS: 169 pacientes lúpicos foram estudados e a prevalência do anti-HBc total foi 10,1% (17/169), com negatividade para o HBV-DNA. O anti-HCV esteve presente em 1,8% (3/169) dos pacientes e em apenas um o HCV-RNA foi positivo, com carga viral de 212.000 cópias/mL. CONCLUSÃO: em virtude da inexistência de outros trabalhos brasileiros que relatem a prevalência do HBV em pacientes lúpicos, verificou-se que a prevalência encontrada na pesquisa foi superior a da população local. Com relação à soroprevalência do HCV, esta foi menor do que a verificada em pacientes lúpicos brasileiros. DESCRITORES: lúpus eritematoso sistêmico, hepatite B, hepatite C e prevalência REFERENCES 1. Goldblatt F, Chambers S, Rahman A, Isenberg DA (2009) Serius infections in British patients with systemic lupus erythematosus: hospitalizations and mortality. Lupus 18: 682–689 2. Michalski JP, Kodner CK (2010) Systemic lupus erythematosus: safe and effective management in primary care. Prim Care 37: 767–778 3. Zandman-Goddard G, Shoenfeld Y (2009) Parasitic infection and autoimmunity. Lupus 18: 1144–1148 4. 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Endereço para correspondência Maria Rosângela Cunha Duarte Coêlho Rua Manuel Lubambo, 118 Afogados CEP 50850-040 Recife – Pernambuco - Brazil Phone/fax number: (81) 2126-8527 E-mail: [email protected] Recebido em 13.11.2013 – Aprovado em 04.12.2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 73 ARTIGO ORIGINAL ANÁLISE DO PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES QUE REALIZARAM TRANSPLANTE RENAL EM UM HOSPITAL BENEFICENTE1 CLINICAL AND EPIDEMIOLOGIC PROFILE ANALYSIS OF KIDNEY TRANSPLANTED PACIENTS IN A BENEFICENT HOSPITAL Márcia Rodrigues IONTA2, Juliana Meschede da SILVEIRA2, Renan Domingues Gavião de CARVALHO2, Silvana Conceição Campos da SILVA3, Alzira Carvalho Paula de SOUZA3 e Ismaelino Mauro Nunes MAGNO4 RESUMO Objetivo: verificar os transplantes realizados no período de cinco anos, identificar e caracterizar a amostra quanto ao sexo,tipo de enxerto transplantado, comorbidade mais prevalente, modalidade dialítica prévia e tempo médio de espera para a realização do transplante. Método: realiza-se um estudo descritivo e transversal, no serviço de nefrologia do Hospital Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente, Pró-rim, Belém-PA, no período de março de 2006 a maio de 2011, com a coleta dos dados realizada através da lista de cadastro dos pacientes que já haviam realizado transplante. Resultados: o tempo médio de espera para a realização do transplante foi de 18 meses, com variação de 6 a 33 meses; 9 pacientes haviam realizado transplante renal, sendo 22,2% (2) do sexo feminino e 77,7% (7), do sexo masculino; 33,3% (3) receberam enxerto de doador vivo e 66,6% (6) receberam de doador falecido; a comorbidade mais prevalente foi diabetes Mellitus, seguida de hipertensão arterial e doença pulmonar obstrutiva crônica; 77,7% (7) estavam em programa de hemodiálise e 22,2% (2), em diálise peritoneal. Conclusão: o sistema brasileiro de saúde começou a dar atenção à prevenção e ao diagnóstico precoce na doença crônica renal, mas as iniciativas públicas neste meio ainda são incipientes. a estatística positiva dos resultados dos transplantes ocorre pela possibilidade de ser realizado com sucesso tanto de doadores vivos, quanto de doadores falecidos, além de o paciente portador de insuficiência renal crônica possuir longa sobrevida em programas de diálise, à espera do transplante. DESCRITORES: transplante renal; diálise; insuficiência renal crônica. INTRODUÇÃO A doença renal crônica atinge dois milhões de brasileiros, no qual 60% não sabem que tem a doença. Aproximadamente 90 mil pacientes com insuficiência renal crônica estão em tratamento dialítico, de acordo com o último censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN, 2011) e apenas 47% dos pacientes, em programa, estão na lista de espera por um transplante renal. Desses, somente três mil conseguem ser transplantados anualmente. Dife- rente da atual necessidade estimada de transplantes renais no Brasil, esta é de 10 mil por ano.1,2,3 O transplante renal é, atualmente, a melhor opção terapêutica para o paciente com insuficiência renal crônica, tanto no ponto de vista médico, quanto social e econômico. Deve ser indicado quando o paciente for diagnosticado com insuficiência renal terminal, estando o paciente em tratamento dialítico.4,5 A captação de órgãos dá-se, em grande parte, Trabalho realizado no Hospital Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente de Belém do Pará. Graduandos em Medicina pelo Centro Universitário do Estado do Pará – CESUPA. 3 Equipe de médicas especialistas em Nefrologia do Hospital Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente de Belém do Pará. 4 Doutor em Doenças Tropicais pela Universidade Federal do Pará- UFPA e Professor do Centro Universitário do Estado do ParáCESUPA no curso de medicina. 1 2 74 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 graças a organizações de sociedades civis, como a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). As regiões sul e sudeste são atualmente as que realizam o maior número de transplantes renais.1,6A relação entre o número de transplantes com órgãos de doadores vivos e falecidos se manteve próximo de 50% entre 1994 e 2007. Nos últimos anos, a proporção de transplantes com órgãos de doador falecido cresceu substancialmente, sendo que, em 2011, 66,8% dos transplantes renais foram realizados com órgãos de doadores falecidos (N = 3.314). 13 Em 2012, o estado do Rio Grande do Sul apresentou elevada taxa de transplante renal com 51,2 pmp, seguida por São Paulo, com 47,2 pmp e Paraná, com 41,5 pmp. O Pará segue em 19º lugar, com uma taxa de 6,5 pmp. As sobrevidas do paciente (96%) e do enxerto (94%) nos transplantes renais com doador vivo podem ser consideradas muito boas, as com doador falecido (92% e 85% respectivamente), podem ser aprimoradas.7,18 A longa fila de espera para os transplantes ocorre, principalmente, a uma falta de compromisso do sistema de saúde com ações preventivas no âmbito da Atenção Básica e do Programa Saúde da Família (PSF) e do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), com a prevenção e o controle de doenças crônicas prevalentes na população (por exemplo, hipertensão e diabetes), os quais poderiam ter efeitos redutores significativos na demanda por transplantes; somado a uma taxa de transplantes não muito elevada, uma vez que só são transplantados cerca de 10% dos pacientes que estão na fila de espera. 6,7,14 Os grandes avanços conquistados ao longo de meio século tornaram a experiência do transplante renal segura e confiável. Os riscos de rejeição aguda foram reduzidos pela disponibilidade de novas drogas altamente eficientes. E, atualmente, é possível vislumbrar o transplante renal como uma terapia com bons resultados em longo prazo.7,8 OBJETIVO Identificar e caracterizar a amostra quanto ao sexo, ao tipo de enxerto transplantado, as comorbidades mais prevalentes, a modalidade dialítica prévia e o tempo médio de espera para a realização dos transplantes realizados no período de março de 2006 a maio de 2011, no Hospital Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente de Belém do Pará. MÉTODO Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e transversal, realizado no serviço de nefrologia, do Hospital Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente. O estudo foi submetido ao julgamento e parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Estado do Pará, conforme CAAE: 0097.0.323.000-11. Utilizou-se o banco de dados do serviço de nefrologia, pró-rim, do hospital, utilizando-se instrumento de coleta específico, contendo as seguintes informações: idade, sexo, modalidade dialítica, tipo de enxerto e tempo médio de espera para realização do transplante, no horário das 08 às 12 horas, durante o período de 06 de outubro de 2011 a 06 de novembro de 2011. A amostra foi constituída de pacientes que estavam em programa de diálise neste serviço de nefrologia e que foram submetidos ao transplante renal com doadores vivos ou falecidos, no período de março de 2006 a maio de 2011. Os resultados foram analisados e comparados no programa Microsoft Office Excel 2007, com a confecção de gráfico e tabelas. RESULTADOS Tabela I – Característica descritiva dos pacientes que realizaram transplante renal no Hospital Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente de Belém-Pa, de março/2006 a maio/2011. Amostra Tamanho da amostra Feminino Masculino Enxerto de doador vivo Enxerto de doador falecido Fonte: pesquisa Números 9 2 7 3 6 Percentual 100 22,2 77,7 33,3 66,6 Tabela II – Tempo de espera na fila para transplante renal dos pacientes do Hospital Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente de Belém-Pa, de março/2006 a maio/2011. Tempo Números Percentual 6 meses 1 11 7 meses 1 11 9 meses 1 11 10 meses 1 11 18 meses 2 23 20 meses 1 11 29 meses 1 11 33 meses 1 11 Fonte: pesquisa 75 Tabela III – Modalidade dialítica anterior ao transplante renal dos pacientes do Hospital Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente de Belém-Pa, de março/2006 a maio/2011. Amostra Números Percentual Hemodiálise 7 77,7 Diálise peritoneal 2 22,2 Fonte: pesquisa terminal, estando o paciente em diálise ou mesmo em fase pré-dialítica (pré-emptivo), considerando-se clearance de creatinina < 20 ml/min/1,73m2 superfície corporal. Portanto, ele deve ser oferecido a todos os indivíduos urêmicos que não apresentem contraindicações para o procedimento e que tenham o desejo de submeter-se ao transplante após o esclarecimento de seus riscos e benefícios.13 Nos Estados Unidos, a porcentagem de pacientes em lista de espera para transplante renal com doador falecido é de aproximadamente 20% do total de pacientes em diálise.11 No ano de 2004, foram implantados no Brasil, 3.412 rins, 959 fígados, 336 pâncreas, 195 corações e 53 pulmões, num total de 4.955 transplantes de órgãos sólidos. Outros órgãos, como medula óssea, válvulas cardíacas, ossos, veias, tendões, pele e intestino, também podem ser transplantados. A fila de espera para transplantes de órgãos e tecidos totalizava 68.906 pessoas no ano de 2008. Figura 1: Distribuição percentual das comorbidades encontradas nos pacientes em tratamento dialítico no Hospital Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente em Belém-Pa, de março/2006 a maio/2011 DISCUSSÃO A doença renal crônica (DRC) consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função dos rins (glomerular tubular e endócrina). Em sua fase mais avançada (chamada de fase terminal de insuficiência renal crônica -IRC), os rins não conseguem mais manter a normalidade do meio interno do paciente. No Brasil, a prevalência de pacientes mantidos em programa crônico de diálise mais que dobrou nos últimos oito anos. De24.000 pacientes mantidos em programa dialítico em1994, alcançamos 59.153 pacientes em 2004, e a incidência de novos pacientes cresce cerca de 8% ao ano.19 A detecção precoce da doença renal e condutas terapêuticas apropriadas para o retardamento de sua progressão pode reduzir o sofrimento dos pacientes e os custos financeiros associados à DRC. Na DRC, o estágio da doença deve ser determinado com base no nível da função renal, independentemente do diagnóstico.9 As opções de tratamento da DRC incluem a diálise, sendo hemodiálise e diálise peritoneal, e o transplante renal. Em termos de morbidade, mortalidade e qualidade de vida, o transplante renal constitui-se como a melhor alternativa de tratamento da insuficiência renal crônica 76 O gasto com transplantes, incluindo medicamentos, no ano de 2005, foi de R$ 521,8 milhões, ou seja, 29,11% a mais do que os R$ 404,41 milhões gastos em 2004. Os custos indiretos da não-realização de transplantes são elevados. Somente no caso dos rins, as terapias renais substitutivas, que podem, em grande medida, ser substituídas por transplantes, custaram aos cofres públicos, em 2005, a elevada cifra de R$ 1.159.679.058,23.12 Um estudo realizado no Hospital de São Lucas, em Sergipe, abrangendo 48 pacientes transplantados, evidenciou prevalência no sexo masculino, com 34 pacientes (70,8%), com idade entre 20 a 40 anos (56,2%), onde através desta pesquisa obteve dados semelhantes. Desses transplantados, a doença de base mais comum foi a hipertensão arterial sistêmica em 62,5%, seguida de glomerulonefrite crônica em 22,9% e as complicações mais frequentes foram de rejeição aguda em 16,4%, seguidas de abscesso de parede em 6,2%, sendo que 50% evoluíram sem complicações.10 Estatísticas a respeito de modalidades de diálise no Brasil, com informações recolhidas através de censos pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, mostram que 91% dos pacientes são tratados com hemodiálise e 9%, com diálise peritoneal. Destes pacientes em diálise, 26% eram diabéticos. Pacientes com idade avançada (≥ 65 anos) têm maior representatividade dentre pacientes em diálise (26%) em comparação com a população brasileira acima de 60 anos (10%), reforçando a concepção de que idade avançada é um fator de risco para a doença renal crônica. 15 Em outro estudo realizado no Norte de Portugal com 549 adultos em tratamento dialítico, evidenciou Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 que 13,5% dos pacientes recebeu enxerto renal de doador vivo e, 86,5% recebeu de doador falecido, confirmando os dados desta pesquisa. Esse tipo de doação é a que está predominando nos últimos anos, uma vez que não se tem estudos suficientes sobre a sobrevida dos doadores vivos ou dos rins remanescentes. A superioridade de doação de enxertos renais de doadores vivos perpetua os melhores resultados acerca desse tipo de doação, além de reduzir o tempo médio de diálise dos pacientes.16 Entre 2000 e 2004, 90.356 pacientes iniciaram diálise no Brasil, com predomínio de hemodiálise. Desses pacientes, somente 7% realizou transplante renal (doadores vivos ou não) e 42% evoluiu para o óbito, com maior proporção de pacientes do sexo masculino no grupo de pacientes transplantados. A distribuição dos pacientes entre as modalidades de hemodiálise e diálise peritoneal foram de 89% e 11%, respectivamente, e está em concordância com o presente estudo (77% e 22%, respectivamente) e com o cenário mundial.17 O sistema brasileiro de saúde começou a daratenção à prevenção e ao diagnóstico precoce na doençacrônica renal, mas as iniciativas públicas neste meio aindasão incipientes. Vale ressaltar a iniciativa recente do Ministério da Saúde que incluiu a doença renal na atenção básica. Claramente, o tratamento da doença renal crônica terminal no Brasil não acompanha o tamanho do país e de sua economia. Tal realidade não é surpreendente, considerando o fila de transplantes renais no país, o tempo médio até sair dela e a variação das taxas de transplantes entre as regiões mais próximas e mais distantes dos centros de transplantes. A estatística positiva dos resultados dos transplantes ocorre devido a possibilidade de ser realizado com sucesso tanto com doadores vivos, como com doadores falecidos, com alta taxa de sucesso, além de o paciente portador de insuficiência renal crônica possuir uma longa sobrevida em programas de diálise, enquanto o ato do transplante não chega. CONCLUSÃO Este estudo sinaliza para a baixa taxa de transplantes realizados tanto em Belém, quanto no Pará, frente a elevada demanda advinda dos tratamentos dialíticos. A insuficiência renal crônica foi mais prevalente no sexo masculino, tendo a hemodiálise como método dialítico de escolha. O tempo de espera na fila para o transplante variou de 6 a 33 meses, exercendo impactos significativos sobre o bem-estar, as probabilidades de cura, a natureza e extensão das sequelas nos pacientes e nos familiares envolvidos. Além de obrigar o sistema de saúde a arcar com pesados ônus administrativos e socioeconômicos. Portanto, o compromisso do sistema de saúde com ações preventivas no âmbito da Atenção Básica e do Programa Saúde da Família (PSF), com a prevenção e o controle de doenças crônicas prevalentes na população (por exemplo, hipertensão e diabetes), poderia ter efeitos redutores significativos na demanda por transplantes, por ser, mesmo a longo prazo, o modo mais barato e eficaz de controle da doença. SUMMARY CLINICAL AND EPIDEMIOLOGIC PROFILE ANALYSIS OF KIDNEY TRANSPLANTED PACIENTS IN A BENEFICENT HOSPITAL Márcia Rodrigues IONTA, Juliana Meschede da SILVEIRA, Renan Domingues Gavião de CARVALHO, Alzira Carvalho Paula de SOUZA, Silvana Conceição Campos da SILVA e Ismaelino Mauro Nunes MAGNO Objective: to verify transplants performed in a five years period, to identify and characterize the sample by gender, type of graft transplanted, the most prevalent comorbidity, the last dialysis modality and the average waiting time to kidney transplantation. Method: a cross sectional study was conducted at the nephrology service in the BeneméritaSociedade Portuguesa Beneficente hospital, pró-rim, Belém-PA, from March 2006 to May 2011, with data collected from the already transplanted patients registration list. Results: the average waiting time for kidney transplantation was 18 months, with 6 to 33 months variation; 9 patients had kidney transplantation, 22.2% (2) were female and 77.7% (7) male; 33, 3% (3) had a graft from a living donor and 66.6% (6) were from deceased donors, the most prevalent comorbidity was diabetes mellitus, followed by hypertension and chronic obstructive pulmonary disease; 77.7%, (7) were in hemodialysis and Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 77 22.2% (2 ) in peritoneal dialysis. Conclusion: the Brazilian health system began to pay attention to the prevention and early diagnosis in chronic kidney disease, but public initiatives in this area are still incipient. The transplants positive statistical results are due to the possibility that they can be successfully performed from both living and deceased donors, and that the patient with chronic renal failure have long survival in dialysis programs, while awaiting the transplant. KEY WORDS: kidneytransplantation, dialysis, chronic kidney failure. REFERÊNCIAS 1. Kalil J. Imunologia do Transplante Renal. In: Riella MC, editor. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. Rio de janeiro: Guanabara; 1996. p.646-56. 2. Klein R et al. Transpondo limites com doadores falecidos. Jornal brasileiro de Nefrologia. 2010;32(1):133-7. 3. Sociedade Brasileira de Nefrologia. [atualizada em 2011; acesso em: 25 de agosto de 2011]. Disponível em: http://www.sbn.org. 4. Riella MC. Insuficiência renal Crônica- Fisiopatologia da uremia. In: Riella MC, editor. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. Rio de janeiro: Guanabara; 1996. p.475. 5. Ianhez LE. Manejo clínico do Transplante Real. In: Riella MC, editor. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. Rio de janeiro: Editora Guanabara; 1996. p.658- 71. 6. SBN, SBU. Transplante Renal: doador e receptor. Projeto Diretrizes - AMB e CFM. 2006:17. 7. Bregman R et al. 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Fone: 3268-0087/8118-1383 E-mail: [email protected] Recebido em 23.08.2013 – Aprovado em 06.11.2013 78 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 ATUALIZAÇÃO/REVISÃO A EFETIVIDADE DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO ESTRESSE – UMA REVISÃO DA LITERATURA1 THE EFFECTIVENESS OF ACUPUNCTURE IN THE TREATMENT OF STRESS - A REVIEW OF THE LITERATURE José Maria Farah COSTA JUNIOR2 e Paulo Roberto Alves de AMORIM3 RESUMO Objetivo: buscou-se demonstrar a efetividade da aplicação desta terapia no estresse, como forma de tratamento complementar e preventivo, para seu controle e/ou combate. Analisou-se, também, o termo estresse como a resposta que o organismo cria para o restabelecimento do equilíbrio e como a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), através da Acupuntura, pode reestruturar o processo de desequilíbrio energético. Método: pesquisa da literatura, através de vinte e nove fontes (artigos e/ou livros) que faziam referência ao assunto proposto, os quais foram lidos de forma critica e criteriosa. Revisão da literatura: Atualmente, segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, o estresse é considerado uma epidemia global que atinge 90% da população mundial. Considerada, por muitos autores, uma reação do organismo frente a uma determinada situação, a sobrecarga do estresse pode ser prejudicial para a qualidade de vida e para o bem estar do individuo. O tratamento com Acupuntura, apesar de ser bastante positivo, pouco é conhecido pela população em geral. Considerações finais: ao final do estudo, segundo a literatura, conclui-se que a terapia com agulhas, como forma de tratamento, apresenta resultados benéficos, podendo ser considerada uma intervenção eficaz. Fazem-se necessários estudos diversos na tentativa de elucidar melhor essa forma de tratamento. DESCRITORES: estresse; Medicina Tradicional Chinesa; Acupuntura. INTRODUÇÃO Em 1936, Hans Selye foi o primeiro a utilizar o termo estresse para a medicina e biologia, significando-o como um esforço de adaptação do organismo para enfrentar situações que a considere ameaçadoras a sua vida e ao seu equilíbrio interno 8. Para Ballone e Moura (2008)2, é um mecanismo normal, necessário e benéfico ao organismo, pois faz com que o ser humano fique mais atento e sensível diante de situações de perigo ou de dificuldade. De acordo com Rossi (2006)24, um nível de estresse é necessário e é saudável para que possamos desempenhar nossas diferentes atividades, porém, é para a sobrecarga que se deve chamar a atenção, pois é quando este pode vir a se tornar prejudicial. Certo nível básico, chamado de estresse positivo, é importante e eficiente para que se possa ter prontidão para agir7. No Brasil, as pessoas estão cada vez mais estressadas, pois a grande maioria não possui conhecimento de como lidar com suas fontes de tensão23. Segundo Lipp (2005)20, alguns estressores típicos ____________________________________ Trabalho realizado no Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos – CBES, sede Belém. Fisioterapeuta graduado pela Universidade da Amazônia - UNAMA, responsável pelo setor de Cinesioterapia da Clinica Especializada em Fisioterapia – CLEFIS e recém-formado Especialista em Acupuntura, pelo Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos – CBES. 3 Médico graduado pela Universidade Federal do Pará - UFPA, Doutor em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Barcelona; Professor associado de Cirurgia da UFPA; e Professor de Acupuntura do CBES. 1 2 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 79 dos trabalhadores brasileiros são: sobrecarga de trabalho e na família, lidar com a chefia, auto cobrança, falta de união e cooperação na equipe, salário insuficiente, falta de expectativa de melhoria profissional e o próprio cargo exercido pela pessoa. Para o autor, as consequências de altos níveis de estresse crônico são percebidas pelas licenças médicas e absenteísmo, queda de produtividade, desmotivação, irritação, impaciência, dificuldades interpessoais, relações afetivas conturbadas, divórcios, doenças físicas variadas, depressão, ansiedade e infelicidade na esfera pessoal. Todo o ser humano, durante a sua vida, presencia um evento estressor, independente de qualquer fator. Atualmente, este evento se encontra mais evidente na sociedade. Furtado et al (2003)11 ao avaliar as fontes de estresse existentes no curso de medicina, percebeu que dos 178 alunos participantes, 65,2% dos alunos tinham estresse. Ferrareze et al (2006)9 ao investigar a ocorrência de estresse entre enfermeiros que atuam na assistência a pacientes críticos de uma Unidade de Cuidados Intensivos em um hospital universitário, percebeu que de 12 enfermeiros, 8 (66,7%) apresentavam estresse, isto é, número elevado de sintomas físicos e psicológicos que os classificam como estressados. E, por fim, Moraes et al (2001)23 ao analisar o estresse em 1.152 indivíduos da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, constatou-se a existência de importantes níveis de estresse entre os membros da Corporação, que decorrem de uma elevada insatisfação em relação à Instituição. O tratamento com Acupuntura, apesar de ser bastante positivo, pouco é conhecido pela população em geral. Através de uma revisão da literatura, buscou-se demonstrar a efetividade da aplicação desta terapia para o Estresse, como forma de tratamento complementar e preventivo, para seu controle e/ou combate. Analisou-se, também, o termo Estresse; a resposta que o organismo cria para o restabelecimento do equilíbrio; e como a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), através da Acupuntura, pode reestruturar o processo de desequilíbrio energético. MÉTODO Pesquisa da literatura, através de vinte e nove fontes (artigos e/ou livros) que faziam referência ao assunto proposto, os quais foram lidos de forma critica e criteriosa. Trabalho realizado no Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos – CBES (sede Belém). Foram considerados as bases de dados do PubMed, SciElo e LILIACS. 80 ESTRESSE Segundo Selye (1936), o Estresse pode ser dividido em três fases: Alerta, Resistência e Exaustão. A fase de Alerta se inicia quando o organismo se prepara para reagir, imediatamente, a uma determinada situação, aumentando o metabolismo do corpo. É uma posição de alerta geral. O sistema reconhece uma situação de reação saudável ao estresse, porquanto possibilita o retorno à situação de equilíbrio após a experiência estressante. A fase de Resistência se caracteriza pela permanência do efeito do agente estressor por mais tempo. Dessa forma, o organismo adapta suas reações e seu metabolismo para suportá-lo por um maior período de tempo, utilizando suas reservas de energia adaptativa para o reequilíbrio. Aparecem às primeiras consequências mentais, físicas e emocionais, e o individuo precisa utilizar mecanismos para seu controle, a fim de conseguir sair desta fase. Caso isso não ocorra, chega-se a sua fase critica que seria a Exaustão. Esta fase inicia num período crônico, na qual se manifestam doenças físicas ou psíquicas. O organismo não aguenta a pressão frequente e entra em colapso, pois a energia dirigida para adaptação da pessoa à solicitação estressante é limitada, promovendo queda acentuada da capacidade adaptativa do corpo humano 4, 19. Lipp (2000)18 sugeriu um modelo quadrifásico para o estresse, que inclui uma fase adicional entre a Resistência e a Exaustão, chamada de Quase Exaustão. Essa fase se caracteriza por um enfraquecimento da pessoa, que não mais está conseguindo se adaptar ou resistir ao estressor. As doenças começam a surgir, porém ainda não são tão graves como na fase de Exaustão. Embora apresentando desgaste e outros sintomas, a pessoa ainda consegue, até certo tempo, trabalhar e produzir, ao contrário do que ocorre na fase de Exaustão, quando o indivíduo para de produzir adequadamente, não conseguindo, na maioria das vezes, trabalhar, nem se concentrar. Para Selye (1956) há dois tipos de estresse, que provocam consequências fisiológicas e patológicas diferentes, o positivo e o negativo. O positivo foi denominado de eustresse, e seria a resposta adequada aos estímulos estressores. Predomina a emoção da alegria, há um aumento da capacidade de concentração, da agilidade mental, as emoções musculares são harmoniosas e bem coordenadas, há sentimento de vitalização de prazer e confiança1. Já o negativo, chamado por ele de distresse, ou estresse excessivo, ocorreria quando o organismo entra em debilidade física e psicológica e não tem a resposta ideal, conduzindo a uma deficiência comportamental Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 [...]. Predomina o desprazer e a insegurança e aumenta a probabilidade de acidentes. Esta denominação caiu quase em desuso, sendo substituído pelo próprio termo estresse, que passou a ter o sentido (atual) negativo de desgaste físico e emocional8. Todas essas reações são necessárias para que o organismo possa se adaptar a novas situações, ou mudanças. Porém, se exageradas em tempo de duração e intensidade, podem levar a um desequilíbrio2. MEDICINA TRADICIONAL CHINESA – (MTC) RESPOSTA AO ESTRESSE Agudamente, a resposta ao estresse é adaptativa e prepara o organismo para enfrentar o desafio. O objetivo da resposta aguda é essencialmente o de induzir uma rápida mobilização de energia nos locais apropriados25. O sistema nervoso autônomo é o responsável pela resposta mais imediata à exposição ao estressor. Suas duas partes, simpático e parassimpático, provocam alterações rápidas nos estados fisiológicos através da inervação dos órgãos alvos [...]27. Por outro lado, o estresse ativa, também, o eixo HHA, que resulta na elevação dos níveis de glicocorticoides circulantes. A exposição ao estressor ativa os neurônios do núcleo paraventricular do hipotálamo que secretam hormônios liberadores, como o hormônio liberador de corticotrofina (CRH), secretado nos terminais de neurônios hipotalâmicos próximos da circulação porta da eminência média da hipófise. Esse hormônio vai agir na hipófise anterior promovendo a liberação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que por sua vez vai atuar no córtex da glândula Adrenal iniciando a síntese e liberação de glicocorticoides, como, por exemplo, do cortisol em humanos16,26. O cortisol ativa mecanismos catabólicos, para lançar na corrente sanguínea uma grande quantidade de glicose necessária para a resposta ao estresse6. Assim, a resposta de emergência ocorre devido à ação integrada do sistema nervoso simpático, do hipotálamo e do sistema límbico que controla as emoções. Hormônios e neurotransmissores atuam em conjunto para modificar as funções viscerais e fornecer ao organismo a reação adequada para o retorno ao equilíbrio perdido10. As ações compartilhadas desses sistemas mobilizarão respostas fisiológicas como: aumento e extensão de batimentos cardíacos; oxigênio mais rapidamente bombeado; respiração profunda; aumento da capacidade da visão pela dilatação das pupilas; contração do baço para liberar estoque de células sanguíneas mais rapidamente, para transportar o oxigênio; liberação de glicose a partir do fígado, que será usada pelos músculos; redistribuição de sangue para músculos e sistema nervoso; aumento de linfócitos para reparar danos que podem ocorrer aos tecidos 15. Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 As teorias do Yin Yang e dos Cinco Elementos são duas das mais importantes teorias fundamentais da MTC e da terapia pela Acupuntura. Elas também representam as filosofias fundamentais da cultura chinesa que influenciaram o desenvolvimento de sua medicina29. Yin e Yang representam não só qualidades opostas, mas também complementares. Cada coisa ou fenômeno pode existir por si mesmo ou pelo seu oposto. Além disso, Yin contém a semente de Yang e vice-versa. A partir desse ponto de vista, Yin e Yang são dois estágios de um movimento cíclico, sendo que um interfere constantemente no outro, tal como o dia cede lugar à noite e vice-versa 22. Os Cinco Elementos, também denominados de Cinco Movimentos ou Cinco Mutações, são representados como os constituintes menores de todo o Universo28. Geração, dominação ou controle e contra dominação são três conceitos utilizados nesta teoria para o diagnostico e tratamento na MTC. A noção de geração envolve o processo de produção, crescimento e promoção dos fenômenos naturais. Seguindo uma ordem determinada, a Água gera a Madeira, a Madeira gera o Fogo, o Fogo gera a Terra, a Terra gera o Metal e o Metal gera a Água [...]. Cada elemento é gerado pelo elemento precedente no ciclo de geração, o qual é chamado de Mãe, que gera o elemento seguinte, que é chamado de Filho29. A relação de dominação também é chamada de relação de controle. Os Cinco Elementos se controlam mutuamente para atingir a harmonia [...]. Um elemento tem a tendência natural de restringir o excesso de outro elemento [...]. A sequência da dominação é a Madeira que domina a Terra, a Terra que domina a Água, a Água que domina o Fogo, o Fogo que domina o Metal e o Metal domina a Madeira29. A inversão do fluxo normal das energias representa um grave desequilíbrio na circulação nos meridianos (linhas formadas pelas conexões dos pontos de Acupuntura), sendo considerada uma contra dominação [...]. Se, por exemplo, a madeira estiver em excesso, como nos longos períodos de estiagem, em que a água é escassa, existe o risco de um incêndio. Haverá então um excesso de fogo que poderá 81 contra dominar a água, que já se encontra enfraquecida. É nesses momentos de desequilíbrio entre as energias no organismo que surge a doença, que segundo a medicina oriental é um desequilíbrio das energias vitais e uma alteração em sua circulação normal28. Pela teoria dos Cinco Elementos podemos observar o curso e a progressão das doenças nos órgãos internos. Pelas relações entre os elementos e seus órgãos correspondentes, podemos estabelecer um planejamento terapêutico efetivo [...], no sentido de restaurar as leis do sistema 29. Juntas, essas duas teorias fundamentais, baseadas na observação da Natureza, têm sido aplicadas na Medicina Tradicional Chinesa há vários milhares de anos e representam os seus elementos teóricos, bem como os da ciência desde os primórdios 29. ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO ESTRESSE A Acupuntura inclui tanto conhecimentos teóricos como empíricos. Utiliza a experiência clínica na cura de doenças por meio de agulhamento, moxabustão, ventosas, auriculoterapia e outras técnicas29. Para os chineses, o estresse é considerado um desequilíbrio energético do Yin e Yang, e, assim, sugerese que os ciclos de geração e inibição da lei dos cinco elementos possam ser utilizados no seu tratamento. Este deve ser realizado de forma individualizada, de acordo com o desequilíbrio de cada paciente5. Doria et al (2012)5 avaliou o uso da Acupuntura em 20 adultos com sintomatologia do Estresse. Após as 10 sessões, os participantes foram reavaliados com a EAV (Escala Analógica Visual) e o ISSL (Inventário de Sintomas de Estresse para adultos de Lipp). Ao final da intervenção, verificou- se nessa amostra uma redução dos sintomas de Estresse e da intensidade da queixa (sintoma principal do ISSL) dos participantes. Setenta e cinco por cento (75%) não mais apresentavam estresse, ou regrediram às fases iniciais de alerta (5%) e resistência (20%). No que se refere à predominância de sintomas, 75% não os apresentaram, ou seja, encontravam-se sem estresse, em 20%, predominaram os sintomas psicológicos e, em 5%, os sintomas físicos. Pode-se observar que a média da intensidade e da queixa (sintoma principal do ISSL) passou de 8,1 para 3,2 na amostra estudada. Gomes et al (2012)14 ao avaliar eletromiograficamente o músculo trapézio, direito e esquerdo, de indivíduos portadores de estresse psicológico, uma semana antes das avaliações e após a Acupuntura, percebeu que os músculos apresentaram menor atividade eletromiográfica, mostran82 do assim a eficácia da terapia. Kurebayashi et al (2012)17 ao avaliar os níveis de estresse na equipe de Enfermagem de um hospital e analisar a efetividade da auriculoterapia com agulhas e sementes, concluiu que o nível de estresse entre profissionais de Enfermagem na amostra pesquisada foi de escore médio (58,7%) e alto (41,3%) e que o tratamento de auriculoterapia com agulhas e sementes conseguiu reduzir os níveis de estresse, com melhores resultados para agulhas do que para sementes e com melhores resultados para quem apresentava escore de estresse alto. Bettiol (2009)3 analisou os efeitos da auriculoterapia na redução dos sintomas de estresse em graduandos dos três últimos do curso de Fisioterapia. O autor formou dois grupos: experimental e o controle. O grupo experimental antes da aplicação da auriculoterapia apresentaram as fases: 26,7% alerta, 6,6% exaustão e 66,7% resistência. Após a submissão do tratamento apenas 20% apresentaram resistência e 80% apresentaram sem estresse. Pode-se observar que a aplicação da auriculoterapia foi benéfica para a maioria dos participantes da amostra. Num estudo realizado em São Paulo por Giaponesi e Leão (2009)13, os autores verificaram que 30 sujeitos (73%) profissionais da área da saúde apresentaram pouco estresse e 11 dos sujeitos (27%) apresentaram médio estresse, sendo que nenhum dos sujeitos atingiu os escores que indicam muito estresse. Após o tratamento com auriculoterapia, o médio estresse, foi reduzido para 10%, o que sugere a efetividade da intervenção. Em outro trabalho, também realizado por Giaponesi e Leão (2007)12, foram tratados com a técnica de auriculoterapia em 41 profissionais da área de Enfermagem. Trinta e cinco (35) indivíduos, avaliados pelo ISSL, correspondente a 85,4%, referiu melhora de sinais e sintomas de estresse após o tratamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS A necessidade de entendimento de que o estresse é, na verdade, um estado natural de resposta do organismo frente a determinadas situações é importante para maior compreensão e interpretação do mesmo. Consideramos o seu excesso como negativo e nele se encontra a influencia para o aparecimento de doenças. Na atualidade, existem diferentes formas de tratamento tanto preventivo quanto imediato para buscar a eliminação de fatores físicos e mentais que estejam prejudicando o ambiente do individuo, provocando, assim, o estresse negativo. Padrões de saúde relacionados a alimentação, Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 ao trabalho, ao repouso e a atividade física devem serem adotados para a criação de um estilo de vida mais tranquilo e saudável. Dentre as terapias existentes, podemos citar: a Acupuntura. Esta, apesar de pouco divulgada para combate/controle do estresse, apresenta grandes resultados. E pode ser individualmente ou de forma associada com outras terapias, uma alternativa de tratamento. Salienta-se, por fim, que é importante a realização de novos estudos buscando relacionar o beneficio da Acupuntura no estresse tanto nas diferentes situações (física, mental e emocional) quanto nas diferentes categorias trabalhistas. SUMMARY THE EFFECTIVENESS OF ACUPUNCTURE IN THE TREATMENT OF STRESS - A REVIEW OF THE LITERATURE José Maria Farah Costa JUNIOR2 e Paulo Roberto Alves de AMORIM3 Objective: we sought to demonstrate the effectiveness of the application of this therapy, as a treatment and preventative supplement for their control and / or combat. We analyzed also the term stress, the response that the body creates to restore equilibrium, and as Traditional Chinese Medicine (TCM), through acupuncture, can restructure the process of energy imbalance. Method: Literature searches through twenty-nine- sources (articles and / or books) that made reference to the proposed issue, which were read in a critical and careful. Literature review: Currently, according to the World Health Organization - WHO, Stress is considered a global epidemic that affects 90 % of the world population. Considered by many authors, a reaction of the organism to a given situation, the burden of stress can be detrimental to the quality of life and the well being of the individual. Treatment with Acupuncture, despite being quite positive, little is known by the general population. Final considerations: the end of the study, it is concluded that therapy with needles as a form of treatment has beneficial results can be considered an effective intervention. There is a need in many studies attempting to elucidate this form of treatment KEY WORDS: Stress, Traditional Chinese Medicine, Acupuncture REFERÊNCIAS 1. Almeida APG, Bastos ACMP. Fisiologia do estresse. 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Recebido em 06.06.2013 – Aprovado em 06.11.2013 84 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 ATUALIZAÇÃO/REVISÃO LIGAS ACADÊMICAS DE MEDICINA: ARTIGO DE REVISÃO1 MEDICINE ACADEMIC LEAGUES: REVIEW ARTICLE Nara Macedo BOTELHO 2, Iago Gonçalves FERREIRA 3 e Luis Eduardo Almeida SOUZA 4 RESUMO Objetivo: descrever a importância das Ligas Acadêmicas de Medicina no contexto da formação médica, seu histórico e processo de expansão, além de suas respectivas vantagens e desvantagens. Método: revisão da literatura nas bases de dados MEDLINE, LILACS e SCIELO, utilizando-se as palavras “educação médica”, “ligas acadêmicas”, “estudantes de Medicina” e “atividades extracurriculares”.Considerações finais: apesar de suas limitações, as ligas acadêmicas já exercem grande destaque na formação acadêmica, proporcionando uma inserção do aluno em áreas que a universidade muitas vezes não abrange, possibilitando assim, grande aquisição de conhecimento. DESCRITORES: educação médica, graduação em Medicina, estudantes de Medicina. INTRODUÇÃO OBJETIVO As Ligas Acadêmicas de Medicina estão sofrendo um vasto processo de expansão nos últimos anos; no entanto, não há um conceito bem constituído sobre essas instituições, sendo encontradas diversas definições e funções relacionadas. De forma genérica, podem ser definidas como associações de alunos de diferentes anos da graduação médica que buscam aprofundar seus conhecimentos, orientando-se segundo os princípios do tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão.1,2,3 Descrever a importância das Ligas Acadêmicas de Medicina no contexto da formação médica, seu histórico e processo de expansão, além de suas respectivas vantagens e desvantagens. Diversas atividades são desenvolvidas por essas ligas, como aulas teóricas de especialidades, cursos, simpósios, projetos científicos e atos de extensão com a população, contando com a supervisão de docentes e profissionais vinculados a uma instituição ou hospital de ensino. Nesse cenário, surgem como uma alternativa de estimular e compartilhar experiências entre profissionais, ainda durante a formação4,5. MÉTODO Revisão nas bases de dados MEDLINE, LILACS E SCIELO, utilizando como estratégia de busca os termos “educação médica”, “ligas acadêmicas”, “estudantes de Medicina” e “atividades extracurriculares”. REVISÃO DE LITERATURA Aspectos Históricos No Brasil, a primeira Liga Acadêmica de Medicina foi fundada na década de 1920, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Denominada “Liga de ____________________________________ Centro Acadêmico de Medicina José Arrais - Universidade do Estado do Pará- UEPA Doutora em Técnica Operatória e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo 3 Graduando de Medicina da Universidade do Estado do Pará UEPA 4 Graduando de Medicina da Universidade do Estado do Pará UEPA 1 2 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 85 combate à sífilis”, na qual os acadêmicos, fazendo uso de seus conhecimentos adquiridos no curso, montavam postos de profilaxia e tratamento da doença6. Com o sucesso e reconhecimento do trabalho exercido pela “Liga de combate à sífilis”, idéias semelhantes foram surgindo em diversas instituições de ensino superior em todo o país, visando sempre a complementaridade do saber técnico-acadêmico e funcionamento social6. O grande “boom” das Ligas Acadêmicas no Brasil ocorreu em um contexto de tensão político-social, ocorreu durante ditadura militar, que continha e censurava muitas das inovações tecnológicas e sociais, que se desenvolviam ao redor do mundo. Desta forma, surgiu como u’a maneira de questionar o método de ensino universitário vigente, assim como o destino e aplicação dos avanços técnico-científicos que não eram destinados à população7. Com estabelecimento da Constituição de 1988 e as reformas curriculares ocorridas nas faculdades de Medicina durante a década de 90, as ligas puderam se fortalecer e expandir. Nota-se que tal ascensão deve-se muito a várias universidades considerarem as ligas como parte da formação acadêmica do aluno. Sendo que, atualmente, em algumas instituições, existe a inclusão dessa atividade na grade curricular; deste modo, permite-se que o acadêmico possa cumprir a carga horária necessária para o curso, com as atividades da Liga7,8. Em todo o Brasil, os estudantes de Medicina buscam criar ou participar de Ligas Acadêmicas, seja em faculdades tradicionais, seja em faculdades com curso recém-iniciado. A adesão dos estudantes a essas entidades vem crescendo com o passar dos anos. Estima-se que as participações em Ligas girem em torno de 70% a 80%, do primeiro ao quarto ano de curso, decrescendo nos dois anos seguintes devido a dedicação excessiva ao Internato médico. Esta grande participação de alunos nessa atividade extra-curricular,refletiu-se na necessidade de criação de um órgão que normatize e organize tais atividades. Assim, em 2006, era criada a Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas (ABLAM), com objetivo de promover a regulamentação e fiscalização adequada dessas entidades3,7,8. Benefícios e Motivações Existem diversas motivações para um aluno adentrar à uma Liga Acadêmica,a principal delas é o desejo de contato com a prática médica desde cedo, já que em muitas vezes a Universidade não supre esta necessidade. Outra motivação citada, é que as Ligas funcionam como u’a maneira de compensar as lacunas da formação desse estudante, notando-se que muitas delas oferecem blocos de assuntos que não são 86 ministrados usualmente nas instituições. Entre os outros aspectos, listam-se, principalmente: a melhora no currículo, o desejo de integrar-se a outros alunos que possuem os mesmos anseios e o entusiasmo em desenvolver atividades de pesquisa, extensão e eventos oferecidos pelas Ligas9,10. Segundo Peres, estas entidades são a principais atividades extracurriculares desempenhadas pelos estudantes durante os 3 primeiros anos de curso.Já nos anos seguintes,a participação se restringe as vivências da prática clínica, promovidas junto aos alunos de anos anteriores.Isso ocorre, pois neste período os estudantes preconizam atividades que contribuam mais com o currículo, como iniciação científica e monitorias9. As ligas acadêmicas organizam diversos tipos de atividades como aulas teóricas, cursos, simpósios, congressos, projetosde pesquisa, atividades de assistência médica, campanhas e eventospúblicos de promoção à saúde. Espera-se que nas ligas, os acadêmicos possam atuar como promotores de saúde nas comunidades, além de incrementar o senso crítico e humanista destes, por meio de interações entre alunos, com a população e com os médicos responsáveis pela Liga Acadêmica8,11,12 Quanto à forma de ingresso, grande parte das ligas realiza processos seletivos, o que mostra o cuidado com o os alunos e a existência de procura superior à capacidade de absorção11. A Liga Acadêmica deve sempre manter seu cadastro atualizado junto à entidade de ensino superior que a abriga e também a ABLAM. Isso deve ser realizado, já que em diversas instituições, as ligas funcionam como “créditos” no quesito atividade extracurricular, sendo este, outro fator motivacional de procura, visto que varias universidades, oferecem poucas atividades extras aos seus alunos3. Críticas e Limitações Apesar de muitos benefícios, as ligas geram críticas acentuadas em certos aspectos. Questiona-se se essas não seriam uma super-especialização precoce de graduandos que deveriam estar aprendendo generalidades. Além disso, estas entidades possuem muitas falhas no que diz respeito à formação acadêmica, principalmente na abordagem de certos assuntos excluídos do currículo universitário. Em sua totalidade, não exercem o tripé universitário, sendo mais comum, desenvolverem pouca ou nenhuma atividade de extensão, já que esta exige um pouco mais de empenho de todos os ligantes. 2,12,13 Dentre os outros problemas decorrentes da atuação de uma liga, destacam-se: a falha na supervisão docente que muitas vezes é ineficaz, já que se torna necessária a orienRevista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 tação de um médico que tenha aptidão para coordenar todas as atividades da Liga, assim como, a elevada necessidade de dedicação por parte do estudante, que muitas vezes utiliza horários de refeições, fins de semana, férias e até mesmo sobrepondo às atividades curriculares. Dessa maneira, podem constituir uma carga horária adicional, a um ambiente já estressante e cansativo, além fortalecerem o ambiente competitivo, o que, em alguns casos, pode priorizar mais o aprimoramento do currículo através de certificados de participação, negligenciando o aprendizado e sua importância.2,12,14 Experiências das ligas acadêmicas Diversos estudos analisam e comprovam as experiências proveitosas de diversas ligas acadêmicas. Observa-se que as ligas exercem a função de estabelecer o tripé educacional de pesquisa, ensino e extensão. As atividades das ligas, também atraem apoio e financiamento das instituições de ensino superior e de outros órgãos de fomento13,15. Comprova-se com os estudos que a existência da Liga e a participação dos alunos nesta, fez com que aumentasse o interesse pela especialidade, além de aumentar as habilidades do estudante nessa categoria médica15,16,17.As pesquisas utilizam-se, geralmente, da análise do conhecimento prévio dos acadêmicos quando entram na Liga e depois de um tempo nesta, obtendo resultados positivos e altas taxas de aprendizagem na disciplina tratada16,17,18. Entre os pontos negativos levantados nas pesquisas, listam principalmente a sobrecarga de atividades extracurriculares como principal fator que afeta, negativamente, a atividade da Liga, visto que os alunos devem muitas vezes assistir aulas, realizar pesquisas, atividades de extensão, organizar eventos, etc15,16,17,19. CONSIDERAÇÕES FINAIS As ligas acadêmicas possuem, ainda, muitas limitações e falhas; entretanto não se pode negar a importância destas na educação médica e sua contribuição na agregação de valor à formação do estudante. A relevância de tais entidades reside no fato de promoverem a inserção dos acadêmicos em um ambiente de seu interesse, o qual é conduzido pelos mesmos, possibilitando, assim, uma grande aquisição de aprendizado e desenvolvimento do raciocínio clínico-científico. Contudo, é fundamental que essas entidades não tenham o intento de, simplesmente, suprir as deficiências curriculares, diminuindo o envolvimento e o interesse, tanto de discentes quanto de docentes, na discussão sobre mudanças curriculares necessárias. Cabe às ligas gerarem novos cenários de ensino e a prática, sempre atentas à demanda da população, estabelecendo convênios sólidos, junto a esses novos cenários de prática.11,20,21 SUMMARY MEDICINE ACADEMIC LEAGUES: REVIEW ARTICLE Nara Macedo BOTELHO , Iago Gonçalves FERREIRA e Luis Eduardo Almeida SOUZA Objective: describe the importance of the medicine academic leagues in the context of the medical formation, their historic and their expasion process, besides their advantages and disadvanteges. Method: the literature was reviwed by databases MEDLINE, LILACS e SCIELO, using the words “educação médica”, “ligas acadêmicas”, “estudantes de Medicina” and “atividades extracurriculares”. Final considerations: still of their limitations, the Academic Leagues have influenced the medical formation, providing student’s insertion in areas that the university many times does not include, enabling this way, great acquisition of knowledge. KEY-WORDS: education, medical, undergraduate, students. 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Método: estudo de caso de paciente com sequela motora em hemicorpo direito por AVE, sendo a mesma submetida ao protocolo modificado da TRIM, que consistiu em três horas diárias de restrição, cinco vezes por semana, por dois meses consecutivos. A contensão era feita no membro superior (MS) sadio uma hora antes do atendimento, permanecia durante o tratamento (com duração média de uma hora) e era retirada uma hora após a sessão. As avaliações ocorreram em três momentos: no primeiro dia, ao final da intervenção e 90 dias após o fim do tratamento; com os recursos: Escala de Fugl-Meyer (EFM) modificada e cronometragem das atividades. Para análise dos dados foram utilizados modelos de estatística descritiva e de regressão linear na cronometragem das Atividades de Vida Diária (AVD’s) e na EFM adaptada. Conclusão: o protocolo de TRIM modificado empregado neste estudo obteve benefícios semelhantes aos de estudos já realizados anteriormente, além de que a redução da carga diária da contensão facilitou a adesão do paciente ao tratamento, sem comprometer os resultados. DESCRITORES: Terapia de Restrição e Indução ao Movimento, Acidente Vascular Encefálico. INTRODUÇÃO O tratamento clínico do AVE hemorrágico se baseia no controle da pressão arterial, pode-se realizar, mais raramente, evacuação cirúrgica ou ainda drenagem ventricular². No caso do AVE isquêmico, é feita terapia trombolítica para dissolver o trombo e controle dos fatores de risco4. O Acidente Vascular Encefálico (AVE) pode ser definido como o rápido desenvolvimento de sinais clínicos, com sintomas durando mais de 24 horas, levando à morte ou gerando incapacidade neurológica¹. Os sinais e sintomas incluem ataxia, crises convulsivas, hipoestesia, falta de coordenação, cefaléia, dentre outros²; porém um dos mais incapacitantes é a hemiparesia, caracterizada pela fraqueza de um hemicorpo³. Recentemente, novas terapêuticas vêm demonstrando resultados promissores no tratamento de indivíduos hemiparéticos6. O diagnóstico inclui avaliação clínica, exame físico, exames de rotina e de imagem4. Neste contexto, destaca-se a Terapia de Restrição e Indução ao Movimento (TRIM), na qual o indivíduo é for- Trabalho realizado na Universidade do Estado do Pará/UEPA- Unidade de Ensino e Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional ² Fisioterapeuta residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde - Estratégia Saúde da Família da Universidade do Estado do Pará/ UEPA ³ Graduação em Fisioterapia pela Fundação Educacional do Estado do Pará, FEP, Brasil. Mestre em Motricidade Humana pela Universidade do Estado do Pará/UEPA 1 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 89 temente encorajado a utilizar seu Membro Superior (MS) parético no seu dia-a-dia. Ela teve seu início na década de 1970 e é baseada na Teoria do Desuso “learned nonuse” 7 . De acordo com essa teoria, o MS parético não desenvolve sua função, o que ocorre não só devido à destruição dos neurônios cerebrais, mas também pela “falta de uso”8. Dessa forma, a proposta da TRIM é a superação do não uso aprendido por meio da reintodrução do membro hemiparético na realização das atividades relacionadas ao desempenho funcional do indivíduo9. Sendo assim, a TRIM se baseia em dois componentes principais: (a) o treinamento motor intensivo da extremidade superior mais afetada e (b) a restrição motora do menos comprometido6. O protocolo de duas semanas consecutivas, com 6 horas diárias de contensão e prática supervisionada foi desenvolvido por Taub desde então é o modelo mais seguido; todavia novos protocolos com redução da carga diária de prática vem sendo desenvolvidos para facilitar a adesão do paciente ao tratamento7. O objetivo deste estudo foi relatar o caso de uma paciente com diagnóstico clínico de AVE Hemorrágico e diagnóstico cinético-funcional de hemiparesia com diminuição da função motora do MS acometido, submetida a um protocolo modificado da TRIM. RELATO DO CASO Paciente N.A.M., 56 anos, sexo feminino, procedente de Belém, bairro do Jurunas, exercia ocupação de autônoma como professora particular, mas atualmente recebia benefício. Apresentava como queixa principal “não conseguir movimentar a mão e fraqueza no MS direito”. Sofreu episódio de AVE em 18 de Setembro de 2009, durante uma visita a uma amiga. Foi encaminhada a um Hospital em Belém-Pará, onde ficou internada durante 20 dias. Relatou que após alta hospitalar, sofreu novamente cefaleias intensas o que a levou à nova internação por mais dez dias. Após melhora clínica, a paciente foi encaminhada ao serviço de fisioterapia da Unidade de Ensino e Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional (UEAFTO) em Fevereiro de 2010, onde iniciou o tratamento até o momento da realização da presente pesquisa, em Agosto de 2011. DIAGNÓSTICO Possui diagnóstico clínico de AVE hemorrágico e diagnóstico cinético-funcional de hemiparesia completa espástica de predomínio braquial à direita, apresentando dominância sinistra. 90 CONDUTA A paciente foi submetida ao protocolo elaborado pelas autoras da pesquisa (baseado no protocolo de FREITAS et al9 da Universidade Paulista) que consiste em: três horas diárias de contensão do membro sadio por meio da Tipóia de Velpeau, sendo a contensão feita uma hora antes do atendimento, permanecendo durante a sessão, e retirada uma hora após o tratamento; cinco vezes por semana, para estimular a utilização do membro afetado nas Atividades de Vida Diária (AVD) por um período de 40 dias. Nos atendimentos ambulatoriais (com duração média de uma hora por dia) era executada uma sequência de 10 exercícios com a contensão, realizadas em única série de vinte repetições, com intervalo de repouso de um minuto entre uma atividade e outra, realizadas sob supervisão do fisioterapeuta, por dois meses consecutivos. As avaliações foram feitas em três momentos: primeiramente, antes do início do tratamento (DO), em seguida imediatamente após o término dos dois meses de tratamento (D60); e, por fim, um mês após a aplicação do protocolo (D90-período em que a paciente não foi submetida a nenhum tipo de tratamento). Os recursos utilizados foram a Escala de Fugl-Meyer (EFM) modificada, utilizando somente o score de 66 pontos para MS e cronometragem das AVD’s com os mesmos exercícios realizados nos atendimentos ambulatoriais. DISCUSSÃO Com relação á carga diária de contensão, BUENO et al6 firmam que a mesma é fundamental para facilitar a adesão ao tratamento; em seus estudos, utilizaram um protocolo com cinco horas diárias e ainda encontraram dificuldades. Para FREITAS et al9 redução do número de horas da contensão se faz necessária para prevenir a fadiga muscular e possível irritabilidade do paciente em relação à técnica. Neste estudo optou-se por três horas diárias de restrição, acarretando boa aceitação por parte da paciente, corroborando com a opinião de BUENO et al6 e FREITAS et al9. No que se refere á eficácia da técnica, FREITAS et al9 observaram melhora funcional após a utilização da TRIM, pois foi constatada redução no tempo de execução de tarefas motoras ao final do estudo; dados esses que corroboram com o estudo de ASSIS et al7, onde, após o término do protocolo os pacientes tornaram-se mais velozes e refinaram os movimentos de coordenação motora fina. Na presente pesquisa, observou-se melhora do comprometimento motor do MS hemiparético, conforme mostra as pontuações obtidas na EFM (D0- 38; D60-63; D90-56) e melhora no tempo de execução das AVD’s, concordando assim com os dados anteriores Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Com relação à manutenção dos efeitos da terapia, no estudo de BUENO et al6, demonstraram que após um mês da intervenção com a TRIM ,os ganhos funcionais obtidos permaneceram inalterados. Esses dados concordam com o estudo de ASSIS et al7, no qual os avanços conquistados pela técnica se mantiveram por mais de um ano após a aplicação da mesma. Resultados semelhantes foram obtidos no presente estudo, pois se constatou que houve melhora no tempo de execução das AVD’s e que essa melhora se manteve, mesmo um mês após o término do protocolo. CONCLUSÃO Por meio deste estudo pôde-se comprovar que o protocolo modificado de TRIM, com duração de dois meses consecutivos, três horas diárias de contensão durante cinco vezes por semana, se mostrou eficiente na melhora do quadro motor da paciente. Com isso, pode-se observar que, apesar de se tratar de apenas um caso relatado, o protocolo utilizado nesta pesquisa, demonstrou resultados bastante semelhantes quando comparados com outros estudos, apresentando eficácia no emprego da técnica, apesar da redução da carga diária da contensão, além de uma boa aceitação por parte do sujeito da pesquisa, o que demonstra que pode ser aplicado de forma segura sem comprometer os benefícios da terapia. SUMMARY APPLICATION OF MODIFIED PROTOCOL OF CONSTRAINT INDUCED MOVEMENT THERAPY IN PATIENT WITH THE STROKE: CASE STUDY Gilza Brena Nonato MIRANDA e Renata Amanajás de MELO Objective: To determine the efficacy of a modified protocol of induction therapy and the Movement Restriction (TRIM) with decreased daily burden of containment. Method: Case study of a patient with a motor sequel in her right hemisphere after a stroke by being submitted to the TRIM modified protocol, which consisted in three hours of restriction, five times a week, for two consecutive months. The healthy upper limb (UL) was contained one hour before the service; it remained during the treatment an average duration of one hour and it was withdrawn one hour after the session. Three physiotherapy assessments were performed: on the first day, in the end of the intervention and 90 days after the end of treatment, using modified Fugl-Meyer Scale (FMS) and the timing of activities. For data analysis, models of descriptive statistics were used and linear regression on the timing of the Activities of Daily Living (ADLs) and EFM adapted as well. Conclusion: The TRIM modified protocol used in this study obtained similar benefits to the studies previously performed, and reducing the daily burden of containment facilitated patient accession to treatment not compromising its results. KEYWORDS: Constraint Induced Movement Therapy, Stroke REFERÊNCIAS 1. Rowlland LP - Merrit tratado de neurologia, 10 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2002. 2. Misulis KE - Netter, Neurologia Essencial, Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2008. 3. Guimarães, V et al. Atendimento fisioterapêutico em grupo de indivíduos com hemiplegia após AVC, 2009. Disponível em http://www.pucrs.br/edipucrs/xSalaoIC/Ciencias_da_saude/Fisioterapia_e_Terapia_Ocupacional/71459 - Acessado em: 11 de Fevereiro de 2011. 4. Chaves ML - Rotinas em Neurologia e neurocirurgia. Porto Alegre:Artmed, 2008. Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 91 5. Ovando AC et al. Treinamento de marcha, cardiorrespiratório e muscular após acidente vascular encefálico: estratégias, dosagens e desfechos, 2010. Disponível em http:∕∕www.scielo.br∕scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-51502010000200009 – Acessado em: 2 de Novembro de 2011. 6. Bueno GDP et al.- Terapia de restrição e indução modificada do movimento em pacientes hemiparéticos crônicos: Um estudo piloto. Fisioter. Mov. 2008 Jul/Set; 21(3): 37-44. 7. Assis RD, Champlian TR. Terapia por contensão induzida: Um estudo exploratório. Med. Reabil. 2008 Mai/Ago; 27(2):45-8. 8. Becker AH et al. Fisioterapia em Neurologia. São Paulo: Santos; 2008. 9. Freitas AG et al. Protocolo modificado da terapia de restrição em paciente hemiplégico. Rev. Neurocienc. 2009 Ago;18(2):199-203. Endereço para correspondência Gilza Brena Nonato Miranda Av. Bernardo Sayão, Rua João de Deus, 1025, CEP: 66075-385 Telefone: 81407676 e-mail: [email protected] Recebido em 23.11.2012 – Aprovado em 14.07.2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 92 RELATO DE CASO DERRAME PLEURAL RECORRENTE NA DOENÇA DE ERDHEIM-CHESTER1 RECURRENT PLEURAL EFFUSION IN ERDHEIM-CHESTER DISEASE Suely Maria de.Miranda ARAÚJO2, Aranda Nazaré Costa de ALMEIDA3, Mirley Castro de ARAÚJO34 e Ítalo Leonel Fernandes SILVA5. RESUMO Introdução: a doença de Erdheim-Chester é uma rara e pouco conhecida histiocitose de células não-Langerhans, que se caracteriza por ser granulomatosa e infiltrativa, com proliferação de histiócitos contendo colesterol. Relato de Caso: mulher, de 50 anos, apresentando derrame pleural recorrente, além de doença intersticial pulmonar e osteoesclerose de ossos longos, de crânio e face, onde após a realização da imunohistoqímica concluiu-se tratar de Histiocitose de células não Langerhans. Considerações finais: na literatura pesquisada acerca das causas de derrame pleural, nada foi encontrado sobre a Doença de Erdheim Chester. DESCRITORES: Derrame pleural, Histiocitose de células não Langerhans, recorrência. É uma afecção de difícil diagnóstico devido à semelhança do seu quadro clinico com outras doenças infiltrativas e pelo fato de ser uma doença pulmão, ossos e retroperitônio, dependendo do(s) sítio(s) comprometido(s). O diagnóstico baseia-se nos dados da anamnese e exame físico associados à biópsia tecidual, com exame histopatológico complementado pela imunohistoquímica. Exames de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética são importantes na localização das lesões e extensão do comprometimento. A radiografia de ossos longos, crânio e face é também muito útil, pois o acometimento ósseo, constatado pela osteoesclerose bilateral e simétrica , é frequente mesmo em indivíduos assintomáticos. rara com poucas centenas de casos descritos na literatura médica. OBJETIVO Os sinais e sintomas são secundários às lesões e disfunções do sistema nervoso central, pele, coração, Relatar o caso de Doença de Erdheim- Chester que cursou com derrame pleural recorrente. INTRODUÇÃO A doença de Erdheim-Chester é uma rara histiocitose de células não-Langerhans que se caracteriza por ser granulomatosa e infiltrativa, com proliferação de histiócitos contendo colesterol e que se apresenta com manifestações sistêmicas, atingindo ossos, sistema nervoso central, olhos, pulmões, mediastino, rins e retroperitônio, entre outros órgãos e tecidos. Trabalho realizado no Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, PA- Brasil. Pneumologista do Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, PA- Brasil. 3 Graduanda do 6º ano de Medicina pelo Centro Universitário do Estado do Pará, PA - Brasil 4 Residente em Clínica Médica do Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, PA- Brasil 5 Graduando do 6º ano de Medicina pelo Centro Universitário do Estado do Pará, PA - Brasil 1 2 93 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 RELATO DE CASO Mulher, 50 anos, cozinheira, natural de IrituiaPA, residente em Belém-Pará, apresentava há um ano, perda ponderal de 45 kg, astenia, cansaço anormal aos esforços, lombalgia, dor em membros inferiores, dor ventilatório dependente em hemitórax esquerdo de intensidade mediana e caráter intermitente. Relatava também dispnéia de intensidade crescente, tosse com expectoração amarelada e febre intermitente. Radiografia de tórax revelou derrame pleural de grande volume à esquerda motivo pelo qual foi internada inicialmente no Hospital Universitário João de Barros Barreto (Belém-Pa), onde permaneceu em investigação por 38 dias. Realizou toracocentese de alívio e biópsia pleural. O líquido pleural era um exsudato com citologia oncótica negativa e o histopatológico da pleura revelou pleurite crônica inespecífica. Teve boa evolução e, em seguida, recebeu alta. Como em todos os hemogramas apareciam anemia e leucopenia persistentes, foi realizado mielograma que mostrou infiltração de histiócitos. Por conta deste achado foi feita biópsia de medula óssea (crista ilíaca) que teve como resultado áreas de hipocelularidade com proliferação histiocitária. Pesquisa de BAAR e fungos na biópsia de medula resultou negativa. Na Radiografia de crânio (Figura 1) e fêmur (Figura 2) havia osteoesclerose bilateral e simétrica. Por conta dos achados nos exames histopatlógicos e de imagem houve a suspeita de histiocitose não-Langerhans e foi solicitada a imunohistoquímica. Vinte dias depois, voltou a ser internada naquele serviço por conta das mesmas queixas com reacúmulo do líquido pleural em hemitórax esquerdo, evoluindo também com icterícia, anúria e retenção de escórias nitrogenadas. Pela possível necessidade de diálise foi transferida ao Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (Belém-Pa), onde chegou com anúrica, inapetência, dispnéia, dor em hemitórax esquerdo, lombalgia, tosse com secreção amarelada e febre. Sua função renal melhorou progressivamente, após reposição volêmica, não necessitando, assim, da diálise. Ficou internada no setor de Clinica Médica deste hospital, onde foi iniciada a investigação diagnóstica através de exames laboratoriais, de imagem, além de toracocentese de alívio por repetidas vezes devido ao reacúmulo rápido de líquido pleural. Figura 1: Radiografia de crânio com presença de osteoesclerose (seta) A Tomografia Computadorizada de Abdome (Figura 3) revelou hepatoesplenomegalia e presença tecido com atenuação de partes moles envolvendo a aorta abdominal. Na Tomografia Computadorizada de Tórax (Figura 4) foi constatado grande derrame pleural à esquerda com consolidações esparsas e hipoatenuações em vidro fosco ipsilaterais, além de espessamento de septos interlobulares no lobo inferior direito. Foi submetida à videotoracoscopia com biópsia pleural sob visão direta e pleurodese com talco. O exame histopatológico revelou uma pleurite crônica xantogranulomatosa de origem não determinada. Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Figura 2: Radiografia de fêmur com presença de osteoesclerose (seta) 94 e osteoesclerose bilateral e simétrica de ossos longos, do crânio e da face. DISCUSSÃO Figura 3: Tomografia Computadorizada de Abdome revelou hepatoesplenomegalia (seta) e presença tecido com atenuação de partes moles envolvendo a aorta abdominal (seta) Figura 4: Tomografia Computadorizada de Tórax mostrando imagem de derrame pleural à esquerda (seta), com consolidações esparsas e opacidade em vidro fosco adjacente ao derrame pleural (seta).e à direita espessamento de septos interlobulares em lobo inferior direito(seta) A paciente adquiriu pneumonia hospitalar grave com sepse que não respondeu à terapia sequencial com ceftriaxona, cefepime, imipenem e vancomicina, evoluindo com choque séptico refratário e óbito. O diagnóstico de histiocitose não-Langerhans (Doença de Erdheim-Chester) foi confirmado dois dias após seu falecimento através do resultado da imunohistoquimica que revelou positividade para CD 68, CD1A negativo e Proteína S100 focalmente positiva, associado ao achado de pleurite xantogranulomatosa, infiltração da medula óssea por histiócitos xantomizados Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 A doença de Erdheim-Chester é uma histiocitose não-Langerhans rara, de etiologia desconhecida, que acomete principalmente adultos do sexo masculino. 1,2 Foi primariamente descrita em 1930 por Jacob Erdheim e William Chester, com o relato de dois casos de “granulomatose lipóide”, em que observaram osteosclerose multifocal e simétrica de ossos longos, com infiltrado difuso de histiócitos “espumosos” provocando uma reação xantomatosa ou xantogranulomatosa local associada a acometimento multissistêmico. Desde então, foram descritos aproximadamente 500 casos na literatura.3 Tem como característica histopatológica infiltrado mononuclear histiocitário com imunopositividade para CD 68 e negatividade para S100 e CD1a (contrariamente à histiocitose de células de Langerhans), com ausência de grânulos de Birbeck na microscopia electrônica.4 Classicamente implica no envolvimento de ossos longos, com típicas lesões de osteosclerose bilateral e simétrica, limitada às metáfises e diáfises ósseas, poupando as epífises, achado que é praticamente patognomônico desta doença, em conformidade com o encontrado no caso em questão.5 Em cerca de 50% dos casos existe envolvimento extra-ósseo incluindo diversos órgãos e tecidos como o eixo hipotalâmicohipofisário, pulmão, coração, retroperitônio, rim, cérebro e cavidade orbitária. Teoricamente pode comprometer qualquer órgão ou tecido, havendo referência a algumas localizações atípicas como mamas, tireóide, testículos, gengiva e baço. Acometimento pulmonar e ou pleural é descrito em 25 a 50 % dos casos. A queixa mais comum dos pacientes é dispnéia ou tosse seca.6 Um estudo retrospectivo avaliou 34 pacientes com Doença de Erdheim Chester comprovada por biópsia e encontrou na tomografia de tórax de alta resolução comprometimento parenquimatoso em metade dos casos e pleural em 41% dos pacientes estudados.6,7 As principais anormalidades descritas são atenuações multifocais com padrão de vidro fosco8,9além de espessamento de septos interlobulares. Há relato também de infiltração mediastinal, nódulos centrolobulares, cistos pulmonares e espessamento/ derrame pleural.7 Não foi encontrada, entretanto, nenhuma referência a derrame pleural de grande volume recorrente, como ocorreu no caso relatado. 95 As opções de tratamento são variadas, apesar de não específicas, e incluem interferon alfa, corticoterapia, quimioterapia, radioterapia e cirurgia. O Interferon alfa peguilado ou convencional é a opção preferida de tratamento para pacientes com diagnóstico recente, sintomáticos, com disfunção orgânica. A duração do tratamento não é clara, mas os pacientes são normalmente tratados até quando houver resposta ou enquanto não houver efeitos adversos importantes.10A resposta aos corticoides na Doença de Erdheim-Chester é inexistente ou transitória.5,8 CONSIDERAÇÕES FINAIS No caso desta paciente o que chamou a atenção da equipe médica, foi o derrame pleural de grande volume recorrente como quadro dominante, que permaneceu por algum tempo sem um diagnóstico definitivo. Na literatura pesquisada acerca das causas de derrame pleural, nada foi encontrado sobre a Doença de Erdheim Chester. Daí a importância do relato deste caso, incluindo a doença em questão nas causas de derrame pleural menos frequentes, sendo uma afecção rara e de difícil diagnóstico. SUMMARY RECURRENT PLEURAL EFFUSION IN ERDHEIM-CHESTER DISEASE Suely Maria de Miranda ARAÚJO, Aranda Nazaré Costa de ALMEIDA, Mirley Castro de ARAÚJO e Ítalo Leonel Fernandes SILVA Introduction: The Erdheim-Chester disease is a rare and little known no-cell histiocytosis Langerhans, which is characterized by granulomatous tissue infiltration with proliferation of histiocytes containing cholesterol. Case Report: woman, 50 years presenting recurrent pleural effusion, and interstitial lung disease and osteosclerosis of long bones, skull and face, and after the completion of imunohistoqímica was concluded to be the non-Langerhans cell histiocytosis. Conclusion: the literature on the causes of pleural effusion, nothing was found on Erdheim Chester. KEY WORDS: Non-Langerhans cell histiocytosis, Pleural effusion; recurrence. REFERÊNCIAS 1. Serratice J, Granel B, De Roux C, Pellissier JF, Swiader L, Bartoli JM et al. “Coated Aorta”: A new Sign of ErdheimChester Disease. 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Endereço para correspondência: Aranda Nazaré Costa de Almeida Avenida Marquês de Herval, 1333. CEP: 66685-311 Belém – Pará – Brasil. Telefone: (0XX91) 3226-6151 e 9109-1112. E-mail: [email protected] Recebido em 19.08.2013 – 11.12.2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 97 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 98 IMAGEM EM DESTAQUE TUBERCULOSE PULMONAR COM RECIDIVA1 PULMONARY TUBERCULOSIS WITH RELAPSE José Antônio Cordero da SILVA2, Humberto Lobato MCPHEE3 e Luis Eduardo Almeida de SOUZA4 Paciente masculino, 73 anos, Engenheiro Agrônomo, residente e procedente da Belém do Pará. Procurou o ambulatório de pneumologia da Clínica Lobo, em Junho de 2012, com histórico de dor torácica do tipo ventilatória dependente, tosse persistente, secreção brônquica de aspecto achocolatado com odor fétido, dispnéia, perda de peso e mal-estar. Apresentava o pulmão esquerdo do tipo vicariante. Refere passado de tuberculose pulmonar em 1958, com tratamento irregular e abandono. Em 1960, apresentou piora com escarros de sangue, foi tratado no Hospital João de Barros Barreto por 12 meses com controle por 2 anos evolui para cura mas foi indicada cirurgia pulmonar radical, a época ,entretanto não realizou. Ausência Baar no escarro e cultura. Nega uso de tabaco e não possui hipertensão arterial sistêmica ou diabetes. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde –Universidade do Estado do Pará – UEPA. Médico, Professor da Universidade do Estado do Pará – UEPA. Doutorando em Bioética FMUP. Orientador. 3 Médico, Graduado pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Departamento de Radiologia do Hospital Porto Dias. 4 Graduando de Medicina da Universidade do Estado do Pará – UEPA. 1 2 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 99 Realizou Raios-X do tórax, em PA e Perfil, notando-se atelectasia do pulmão à direita, causando retração do mediastino para este lado. Após isto, paciente realizou a tomografia computadorizada do tórax. Nela, evidencia-se a atelectasia do pulmão direito. Observando-se, bronquiectasias cilíndricas e císticas, associadas ao espessamento de paredes brônquicas. Nota-se, ainda, acúmulo de secreções formando impactação mucóide, além de um desvio das estruturas mediastinais para a direita e hiperinsuflação do pulmão esquerdo. No exame, pode-se observar o tronco da artéria pulmonar e hilos pulmonares apresentando morfologia habitual. Realizou fisioterapia respiratória por 6 meses. Atualmente em controle ambulatorial, com evolução satisfatória e melhora no padrão. Referências 1. Moreira MAC, Barbosa MA, Queiroz MCCAM, Teixeira KS, Torres PPTS, Santana Jr PJ et al. Alterações tomográficas pulmonares em mulheres não fumantes com DPOC por exposição à fumaça da combustão de lenha. J Bras Pneumol. 2013; 39(2): 155-163. 2. Pereira BAF, Macêdo SGD, Nogueira RA, Castiel LCP, Penna CRR. Radiol Bras. 2009; 42(2): 109–113. 3. Ozsahin SL, Arslan S, Epozturk K, Remziye El, Dogan OT. Radiografia torácica e bacteriologia na fase inicial de tratamento de 800 pacientes masculinos com tuberculose pulmonar. J. bras. pneumol. 2011; 37(3): 294-301. 4. Srinakarin J, Roongpittayanon N, Teeratakulpisarn J, Kosalaraksa P, Dhiensiri T. Comparison between the radiographic findings in pulmonary tuberculosis of children with or without HIV infection. J Med Assoc Thai. 2012; 95(6): 802-8. 5. Dalar L, Karasulu L Sökücü S, Düger M, Altın S. Total atalectasis of the left lung developing during the third month of treatment in a case of pulmonary tuberculosis. Rev Mal Respir. 2011; 28(9):1158-61. 6. Wormanns D. Radiological imaging of pulmonary tuberculosis. Radiologe. 2012; 52(2): 173-84. Endereço para correspondência Luis Eduardo Almeida de Souza [email protected] Recebido em 06.11.2013 – Aprovado em 11.12.2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 100 NORMAS DE PUBLICAÇÃO INFORMAÇÕES GERAIS passando a ser propriedade da Revista Paraense de Medicina. A REVISTA PARAENSE DE MEDICINA (RPM) é o periódico bio-médico tri-mestral, editado pelo Núcleo Cultural da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP). Registro oficial nº22, livro B do 2º Ofício de Títulos, Documentos e Registro Civil de Pessoas Jurídicas, do Cartório Vale Chermont, em Belém-Pa, 1997. A RPM da FSCMP é indexada nas Bases de Dados LILACS-BIREME-OPAS e classificada: estrato B Medicina I, II e III, B Odontologia e C Ciências Biológicas III pela CAPES/MEC (classificação 2009). Filiada à Associação Brasileira de Editores Científicos ABEC, sediada em Botucatu SP. Todo trabalho com investigação humana deve ser acompanhado da aprovação prévia do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da instituição, onde se realizou o trabalho e relatar no texto a utilização do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme recomenda a Declaração de Helsinki (de 1975 e revisada em 1983) e a Resolução n° 196/96, do Conselho Nacional de Saúde-Ministério da Saúde. A pesquisa realizada em animal de experimentação, deverá ser acompanhada da aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Animal, seguindo as Normas Internacionais de Proteção aos Animais. Os artigos publicados na Revista Paraense de Medicina seguem os requisitos uniformes recomendados pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (www.icmje. org) e são submetidos à avaliação pelos conselhos editorial e científico, compostos por especialistas da área da saúde, que avaliam os textos e decidem por sua publicação. A RPM tem o propósito de publicar contribuições originais, sob temas científico-culturais da área interdisciplinar de saúde, sob formas de: Artigo original (pesquisa) ; Atualização/Revisão; Relato de caso; Iniciação científica; Imagem em destaque; Nota prévia; Artigos especiais; Questões de linguagem médica e Carta ao editor. O artigo enviado para análise não poderá ter sido submetido, simultaneamente, para publicação em outras revistas e nem publicado anteriormente. Na seleção do manuscrito para publicação, avalia-se a originalidade, a relevância do tema, a metodologia utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pela revista. Os manuscritos aceitos, condicionalmente, são revisados pelos pares e serão devolvidos aos autores para serem efetuadas as modificações devidas e que tomem conhecimento das alterações a serem introduzidas, a fim de que o trabalho possa ser publicado. A Revista cumpre a resolução do CFM nº 1596/2000, que veda artigos, mensagens e matérias promocionais de produtos ou equipamentos de uso na área médica. Os autores são responsáveis pelos conceitos emitidos e devem atentar à seriedade e qualidade dos trabalhos, cujos dados devem receber tratamento estatístico, sempre que indicados, assim como, a tradução do SUMÁRIO para SUMMARY. Encaminhar aos editores da RPM, os artigos com 2(duas) vias de carta de encaminhamento padrão anexas, assinadas por todos os autores, na qual deve ficar explícita a concordância com as Normas editoriais, o processo de revisão e com a transferência dos diretos de publicação para revista, 101 FORMA E ESTILO Os artigos devem ser envidados em CD-RW Rewritable 1X-12X 700 MB, dois textos originais impressos em papel A4, digitados no Windows 98 e Microsoft Word versão 2007 XP, espaço simples, fonte TNR-11 e duas colunas; no rodapé citar o lacal onde foi elaborado o estudo, identificação dos autores e seus respectivos vínculos acadêmicos, TNR 10. O SUMMARY, fonte 11 e referências fonte 10, em uma coluna. As tabelas incluídas no texto, devem possuir legenda na parte superior, fonte TNR 10 , identificados com números romanos, indicando o que, onde e quando do tema; os dados da tabela em TNR10; nota de rodapé TNR 9, indicando o nível de significância (p) e entre parênteses o método estatístico aplicado, quando necessário. Os gráficos, fotos, esquemas, etc. são considerados como figuras, legenda inferior TNR 10, seqüencial único em algarismo arábico . Fotografias deverão ser enviadas em tamanho 9x13cm, preto e branco com boa qualidade e com as estruturas identificadas. As figuras de anatomia, histopatologia e endoscopia poderão ser coloridas. FORMATAÇÃO DOS ARTIGOS Editorial É o artigo inicial de um periódico. Comenta assunto atual de interesse à área de saúde, editoração, metodologia científica ou temas afins. Artigo original Aborda temas de pesquisa observacional, analítica, experimental, transversal (incidência ou prevalência), horizontal ou longitudinal (retrospectiva ou prospectiva), estudo randomizado ou duplo cego, máximo de 6 a 10 laudas. A pesquisa bibliográfica acompanha todo trabalho bio-médico. 1) Título e subtítulo (se houver), em português, TNR fonte Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 11, negrito e tradução para o inglês, fonte 10, não negrito, centralizados e em caixa alta. org), em ordem numérica conforme a citação no texto, máximo de 30 citações. 2) Nomes completos dos autores, máximo de 6, com sobrenome em letras maiúsculas, TNR 10, também, centralizados. Evitar citações de difícil acesso como resumo de trabalhos apresentados em congresso ou publicações de circulação restrita. 3) No rodapé da 1ª página, citar a instituição, cidade e país onde foi realizado o trabalho, titulação, graduação e local de graduação dos autores (local de graduação, atividade atual, cidade, estado e país), TNR 10, numerada conforme a seqüência dos autores, fontes de financiamento, sem conflito de interesses. 4) Resumo deve ter no máximo 250 palavras, escrito em parágrafo único, TNR 11, espaço simples, contendo: objetivo, método (casuística e procedimento), resultados (somente os significantes) e conclusão ou considerações finais. 5) Descritores: citar no mínimo 3 e no máximo 5, em ordem de importância para o trabalho, devendo constar do DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) criado pela LILACS/BIREME e disponível em http://decs.bvs.br. O desenvolvimento do texto é TNR 11, espaço simples. 6) Introdução: mostra a hipótese formulada, atualiza o leitor na relevância do tema sem divagação e termina com o objetivo do trabalho. Nas referências citar todos os autores até o sexto. Caso haja mais de seis autores acrescentar a expressão et al. Exemplificando Artigos: Teixeira JRM. Efeitos analgésicos da Maytenus guianensis: estudo experimental. Rev. Par. Med. 2000;15(1): 17-21 Livro e monografia: Couser WG. Distúrbios glomerulares. In:CECIL – Tratado de Medicina Interna, 19 ed. Rio de Janeiro : Ed. Guanabara, 477-560, 1993 Internet: Mokaddem A (e colaboradores). Pacemaker infections, 2002. Disponível em http:/www.pubmed.com.br – Acessado em .. As qualidades básicas da redação científica são: concisão, coerência, objetividade, linguagem correta e clareza. Atualização/revisão- 7) Método: citar nº do protocolo de aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição com aplicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; descrever a casuística, amostra ou material e procedimentos utilizados para o trabalho. Descrever, também, os métodos estatísticos empregados e as comparações empregadas em cada teste, assim como, o nível de significância. 15) conflito de interesse: declarar se ocorre, ou não, conflito de interesse 8) Resultados: constituído por, no máximo, 6 tabelas numeradas, com legenda superior (TNR 10) e fonte de informação abaixo (TNR 9), acompanhadas ou não de gráficos. Não fazer comentários, reservando-os para o item Discussão. Deve ter relevância científica, conciso, máximo de 3 laudas, esquemático e didático; o método é o próprio relato do caso, seguindo os itens: anamnese, exame físico, exames subsidiários, diagnóstico, conduta e prognóstico; dispensa resultados. Referências bibliográficas devem atender o mesmo padrão dos artigos originais. . 9) Discussão: comenta e compara os resultados da pesquisa com os da literatura referenciada, de maneira clara e sucinta. 10) Conclusões ou considerações finais sobre os resultados da pesquisa ou estudo, de forma concisa e coerente com o tema. 11) Summary: versão do resumo do trabalho para a língua inglesa, TNR 11. Devem constar o título, nomes dos autores e os respectivos itens. 12) Key words: segundo o DECS e na língua inglesa. 13)Agradecimentos: devem ser feito às pessoas que tenham colaborado, intelectualmente, mas cuja contribuição não justifique co-autoria, ou para os que tenham dado apoio material. 14) Referências: devem ser, predominantemente, de trabalhos publicados nos últimos 10 anos, TNR 10, obedecendo os requisitos uniformes recomendados pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (www.icmje. Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 16) Endereço para correspondência: nome, endereço, e-mail de um dos autores. Relato de caso- Nota préviaDescrição de pesquisa inédita ou de inovação técnica, de maneira sucinta e objetiva, máximo de 2 laudas. Iniciação científica São resumos contendo os seguintes itens: introdução, objetivo, método, resultados, conclusão, descritores e referências bibliográficas. Não devem ultrapassar mais de uma lauda, TNR 11, espaço simples. No rodapé, citar o local onde foi elaborado o estudo e identificação dos autores com os respectivos vínculos acadêmicos Imagens em Destaque Deve conter o título, nomes dos autores como no 102 formato dos demais artigos. Fazer uma descrição prévia do caso clínico, seguido das fotos denominadas de figuras com número arábico e referências bibliográficas. No rodapé, citar o local onde foi elaborado o estudo e a identificação dos autores com os respectivos vínculos acadêmicos. Máximo de 2 laudas. Solicitamos aos autores e colaboradores da RPM que sigam as normas referidas e encaminhem os artigos após revisão e correção gramatical, inclusive o CD-RW. Ao final de cada artigo, anotar o endereço completo com CEP, telefone para contato e endereço eletrônico (e-mail), do autor principal. TNR 10. Toda matéria é passível de correções referentes ao conteúdo científico, metodologia e redação. Os autores são responsáveis pelo conteúdo da matéria. Endereço para correspondência: REVISTA PARAENSE DE MEDICINA Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará Rua Oliveira Bello, 395 – Umarizal CEP: 66.050-380 Belém – Pará Fone: (0xx91) 4009-2213 Fax: (0xx91) 4009-2299 e-mail: [email protected] [email protected] [email protected] 103 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 Revista Paraense de Medicina - V.27 (4) outubro-dezembro 2013 104