METOGOLOGIAS PARA A MEDIÇÃO DOS EFEITOS DA POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR SOBRE O SISTEMA ECONÔMICO PEDRO JORGE RAMOS VIANNA PROFESSOR TITULAR DA UFC FORTALEZA, JANEIRO DE 2007 1 INTRODUÇÃO É, provavelmente, verdade que quase todas as políticas econômicas adotadas no Brasil desde os primórdios da era republicana têm sido estabelecidas sem o devido cuidado de se conhecer os reais efeitos de tais políticas sobre a economia nacional e sobre as economias regionais. Este fato se agrava quando nossa atenção se volta para a economia regional. De fato, se tomarmos a Região Nordeste como exemplo, já está comprovado (ver Furtado, 1952 e Vianna, 1980, 1981 e 1983) que as políticas de comércio exterior adotadas pelo governo nacional, pelo menos desde 1948, têm sido danosas para o Nordeste, ou no mínimo não tão eficazes como foram (se é que o foram) para o sudeste brasileiro. Tendo em vista que os trabalhos acima citados analisaram esta questão sob o ponto de vista da quantificação monetária do efeito global de tais políticas sobre o saldo comercial com o exterior da economia nordestina, é importante que seja tomado agora este tema, para uma análise mais aprofundada sobre ele. Esta nova incursão neste campo, se deve primeiro ao fato de não ter sido feito, ainda, trabalhos que tentem medir o efeitos da política externa brasileira sobre determinadas variáveis como, por exemplo, emprego e preço interno dos bens comercializados. Por outro lado, a recente investida de vários líderes nacionais a favor da adoção de uma política efetiva de implantação de Zonas de Processamento de Exportação no Brasil, tendo como alegativa principal que as políticas até agora adotadas não resultaram em grandes ganhos para a economia brasileira e – consequentemente – para a economia regional, nos levou a considerar ser hora de analisar a política de comercio exterior brasileira sobre novos prismas. Recordando um pouco a política externa brasileira, sobressaem de imediato a política de substituição de importações que vigorou basicamente desde os anos trintas do século passado até os anos noventas do mesmo século, e a política de abertura da economia nacional no advento do Governo Collor. Nas análises de muitos economistas, ambas foram insuficientes para assegurar para a economia brasileira, performance mais dinâmica. Mormente nos últimos quarenta e cinco anos. Dado este cenário, e dado que o novo paradigma da economia mundial é a necessidade do crescimento do setor externo das economias, é importante calcular os impactos que as políticas de comércio exterior têm sobre aquelas variáveis (e mais algumas outras) antes referidas. Se o setor externo é vital para a economia brasileira, mais o é para a economia regional. 2 Aqui vale relembrar um trabalho desenvolvido no fim da década dos setentas do século passado por técnicos do Banco do Nordeste do Brasil S/A (BNB, 1979 – vol. 7), onde à página15, pode-se ler: Não resta mais dúvida que o acelerado e continuado ritmo de expansão que se pretende para a economia brasileira no futuro estará condicionado a um desem penho favorável do setor exportador. Esta assertiva pode ser transposta para o caso do Nordeste sem nenhuma margem de erro. De fato, ainda de acordo com o estudo do BNB, acima citado, há, no Nordeste, uma correlação positiva entre o crescimento do setor exportador e o crescimento da economia da ordem de 1.0 : 1.3. Ou seja, caso o setor exportador nordestino cresça a uma taxa de 10% a.a., a economia como um todo crescerá 13%. Note-se que essa taxa de crescimento de 13% foi tomada à época, como a taxa que possibilitaria o afunilamento das discrepâncias existentes entre o crescimento do Brasil como um todo e o crescimento do Nordeste. Desta forma, referido estudo defendia a adoção de políticas que possibilitassem o crescimento das exportações nordestinas àquela taxa de 10% ao ano. De acordo com a Tabela 1, verificamos que as taxas de crescimento das exportações nordestinas superaram com alguma folga esse patamar de 10%. Mas , infelizmente, o “afunilamento” entre as duas economias não ocorreu. Portanto, talvez seja hora de se fazer um novo estudo sobre esta questão. Se não neste estudo, é isso que se pretende fazer muito brevemente. 3 TABELA 1 EXPORTAÇÕES NORDESTINAS US$ Mil FOB ESTADOS ANOS 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 ALAGOAS BAHIA CEARÁ 481 107 1.337 2.545 569 8.714 1.641 4.189 5.168 5.650 6.540 7.843 9.074 15.927 11.292 906 24.199 113.102 103.209 70.642 58.127 86.109 132.559 109.830 119.166 164.632 145.106 146.138 131.797 87.420 98.192 91.973 88.321 122.215 21.925 26.150 9.412 5.490 8.082 21.977 15.067 21.557 17.449 16.032 26.770 38.997 29.178 31.831 40.840 37.564 41.759 MARANH PARAÍBA ÃO 16.203 18.075 5.561 2.380 2.326 5.011 79 1.245 600 912 119 566 2.777 979 1.322 3.986 4.014 17.701 27.861 14.492 3.581 5.920 14.721 11.474 10.983 9.805 13.605 16.773 27.060 20.924 30.090 22.346 15.048 13.753 PERNAM BUCO PIAUÍ 17.647 34.171 16.043 12.983 14.994 57.272 14.913 45.034 37.359 25.463 41.533 42.816 39.673 62.777 40.495 50.204 55.366 321 53 5.278 5.470 5.328 4.969 4.953 4.140 3.229 2.946 2.347 2.556 2.165 RIO NORDESTE GRANDE DO SERGIPE NORTE 3.048 190.428 6.310 215.936 2.727 120.214 1.390 86.495 1.301 119.301 3.270 243.524 5.763 164.045 4.496 212.140 5.739 246.080 4.338 216.075 4.886 247.712 9.358 262.577 3.713 195.988 5.057 247.799 4.935 215.550 4.413 2 203.000 4.790 15 268.276 Variação % Exportações NE 13,40% -44,33% -28,05% 37,93% 104,13% -32,64% 29,32% 16,00% -12,19% 14,64% 6,00% -25,36% 26,44% -13,01% -5,82% 32,16% 4 ESTADOS ANOS 1967 1968 1969 ALAGOAS BAHIA CEARÁ 24.605 30.028 36.208 128.407 113.099 196.297 43.310 46.751 61.667 MARANH PARAÍBA ÃO 3.184 3.805 4.250 9.955 13.115 15.261 PERNAM BUCO PIAUÍ 62.516 67.452 92.876 1.271 1.889 2.105 ESTADOS ANOS 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 ALAGOAS BAHIA CEARÁ 50.231 52.728 68.467 93.961 221.633 362.533 62.486 105.738 124.406 182.305 414.615 414.994 191.139 163.855 152.965 182.231 290.965 532.527 524.595 517.630 903.442 1.023.057 1.157.057 1.081.530 1.259.975 1.049.864 49.152 54.169 67.282 82.928 109.322 76.565 82.361 108.121 145.043 177.514 191.720 205.014 192.466 MARANH PARAÍBA ÃO 3.937 1.029 2.179 3.480 31.026 5.676 5.847 9.493 13.385 28.696 10.928 9.099 4.729 13.552 14.149 15.111 31.381 54.740 28.923 25.928 23.955 24.535 40.395 39.207 44.204 21.841 PERNAM BUCO PIAUÍ 90.269 99.110 188.718 192.194 435.192 451.799 222.953 324.599 266.031 295.829 472.257 517.815 258.596 1.559 555 3.245 4.383 10.981 6.074 8.283 7.300 13.577 19.462 17.915 20.576 16.181 Variação % RIO NORDESTE Exportações GRANDE DO SERGIPE NE NORTE 3.978 5 277.231 3,34% 3.396 279.535 0,83% 6.656 415.320 48,58% continua continuação Variação % RIO NORDESTE Exportações GRANDE DO SERGIPE NE NORTE 7.973 628 381.156 -8,23% 5.569 23.044 403.318 5,81% 5.681 14.881 547.795 35,82% 19.025 15.730 734.047 34,00% 18.129 2.110 1.415.660 92,86% 22.813 7.574 1.486.552 5,01% 21.477 885 947.850 -36,24% 5.550 1.758 1.489.956 57,19% 7.523 17 1.617.574 8,57% 12.380 10 1.913.648 18,30% 8.364 11.068 2.247.604 17,45% 11.772 142.711 2.626.160 16,84% 11.855 167.998 1.914.669 -27,09% 5 ESTADOS ANOS 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 ALAGOAS BAHIA CEARÁ MARANH PARAÍBA ÃO PERNAM BUCO PIAUÍ 232.000 232.000 181.601 165.735 169.088 188.935 152.533 291.400 272.267 243.463 1.506.000 1.710.000 1.636.274 1.082.188 1.186.277 1.358.930 1.523.532 1.453.388 1.300.910 1.491.273 187.000 231.000 242.739 219.572 272.727 327.969 219.595 230.569 270.419 303.590 15.000 22.000 84.870 346.729 547.737 887.269 459.591 442.620 476.706 427.458 246.000 299.000 243.155 230.332 221.661 302.522 322.974 400.464 336.729 352.431 16.675 17.267 18.778 16.315 27.100 40.082 36.003 32.403 40.043 39.483 39.000 59.000 46.946 45.322 38.151 51.637 66.158 52.550 56.074 59.084 Variação % RIO NORDESTE Exportações GRANDE DO SERGIPE NE NORTE 12.000 24.323 2.277.998 18,98% 11.000 35.758 2.617.025 14,88% 13.634 30.478 2.498.475 -4,53% 3.033 17.187 2.126.413 -14,89% 3.356 25.928 2.492.025 17,19% 2.975 34.787 3.195.106 28,21% 70.672 28.005 2.879.063 -9,89% 88.800 38.203 3.030.397 5,26% 80.189 26.434 2.859.771 -5,63% 72.934 45.331 3.035.045 6,13% continua continuação ESTADOS ANOS 1993 1994 1995 1996 1997 1998 ALAGOAS BAHIA CEARÁ MARANH PARAÍBA ÃO PERNAM BUCO PIAUÍ 237.811 240.949 468.144 289.195 340.731 291.756 1.450.354 1.720.587 1.919.192 1.846.130 1.867.606 1.829.457 274.825 334.861 352.131 380.434 353.077 355.246 462.627 575.719 671.361 681.460 744.598 635.918 345.651 372.737 574.321 341.005 372.580 362.257 64.450 53.669 67.097 62.428 61.941 58.809 69.971 83.646 86.065 103.394 86.940 54.084 RIO NORDESTE GRANDE DO SERGIPE NORTE 81.288 25.671 3.012.647 86.729 33.957 3.502.854 79.228 22.460 4.239.999 94.876 55.944 3.854.865 93.536 39.628 3.960.637 101.748 31.210 3.720.485 Variação % Exportações NE -0,74% 16,27% 21,04% -9,08% 2,74% -6,06% 6 ESTADOS ANOS ALAGOAS 1999 224.948 2000 224.351 2001 304.418 2002 298.647 2003 360.912 2004 457.658 2005 583.790 2006 692.543 FONTE: ETENE/BNB BAHIA CEARÁ MARANH PARAÍBA ÃO PERNAM BUCO PIAUÍ 1.581.146 1.942.968 2.119.651 2.410.037 3.258.772 4.062.916 5.987.744 6.771.981 371.206 495.098 527.051 543.902 760.927 859.369 930.451 957.045 662.962 758.245 544.329 652.375 739.798 1.231.085 1.501.034 1.712.701 265.878 283.947 334.964 319.826 410.707 516.810 784.888 780.340 49.138 63.355 40.087 48.063 58.682 73.333 58.661 47.127 62.685 77.577 105.315 117.642 168.437 213.965 228.007 208.589 Variação % RIO NORDESTE Exportações GRANDE DO SERGIPE NE NORTE 115.473 21.958 3.355.394 -9,81% 149.392 29.761 4.024.694 19,95% 187.585 20.771 4.184.171 3,96% 223.602 37.604 4.651.697 11,17% 310.446 38.813 6.107.494 31,30% 573.603 47.702 8.036.442 31,58% 413.317 66.424 10.554.317 31,33% 371.503 78.939 11.620.770 10,10% 7 Este trabalho contém, então, dois objetivos: o primeiro é estabelecer como as políticas voltadas para o setor externo da economia afetam todo o sistema econômico do país; o segundo,, focar tais efeitos sobre a economia regional. No que diz respeito à economia nacional, o foco será sobre os indicadores macroeconômicos das exportações; sobre os indicadores do Saldo de Pagamento em Conta Corrente; e sobre os indicadores de liquidez internacional. Quanto aos efeitos das políticas nacionais de comércio exterior sobre as regiões, a ênfase será na medição das perdas pecuniárias nordestinas causadas por tais políticas. Entretanto, mesmo antes de se analisar especificamente os efeitos de cada política, será interessante analisar os macroindicadores associados ao setor externo do sistema econômico. Isto será feito no item 1, a seguir 1. OS MACROINDICADORES DO SETOR EXTERNO DA ECONOMIA Neste item vou apresentar algumas expressões analíticas usadas, pelos estudiosos da economia internacional, em termos macroeconômicos, para medição dos efeitos de políticas econômicas, tais como: • O Multiplicador das Exportações • O Multiplicador do SBPc/c • Poder de Compra das Exportações • Índice da Capacidade de Pagamento no Exterior; • O Coeficiente de Vulnerabilidade • O Coeficiente de Proteção Temos, portanto. 1.1. O MULTIPLICADOR DAS EXPORTAÇÕES Dentro da tradição da Escola Keynesiana, o Multiplicador é um dos mais conhecidos indicadores para medir os efeitos de variações nas Exportações sobre o Produto Nacional. Dado que Y = C(Y) + I(r) + G + [X – M(Y)], A expressão para o MULTIPLICADOR DAS EXPORTAÇÕES é a seguinte: δY/δX = -[(- 1)] = 1 8 Isto significa dizer que a Renda Nacional variará na mesma intensidade que a variação das Exportações. 1.2. O MULTIPLICADOR DO SBPc/c Para o caso do Multiplicador do SBPc/c a conclusão pode ser bastante diferente. A começar pela hipótese de ser a Equação da renda Nacional, uma Função Implícita. Neste Caso, a expressão para tal Multiplicador, seria: δY/δ[X - M(Y)] = -[(- 1)/(1 – δC/ δY + δM/ δY)] É importante observar que o Prof. Paul Samuelson chama este Multiplicador de PSEUDO-MULTIPLICADOR. Isto se dá porque as forças intervenientes têm conseqüências diferentes sobre a Renda Nacional. Senão vejamos: Se Y cresce, o Consumo aumenta e as Importações aumentam. O crescimento do Consumo aumenta a Renda; o crescimento das Importações, a diminui. Qual o efeito líquido? 1.3. O PODER DE COMPRA DAS EXPORTAÇÕES PCX = X/Pm X = Valor das Exportações Pm = Índice de Preços das Importações 1.4. A CAPACIDADE DE PAGAMENTO NO EXTERIOR CPE = CPE + RS - A + ILC Onde CPE = Capacidade de Pagamento no Exterior CPE = Poder de Compra das Exportações RS = Receitas de Serviços A = Amortizações 9 ILC = Ingresso Líquido de Capital 1.5. O COEFICIENTE DE VULNERABILIDADE Este coeficiente é utilizado para medir qual o percentual da exportação (assumida a hipótese extrema de que as entradas de capital, via empréstimos e financiamentos cessem abruptamente) é utilizada para cobrir os serviços da dívida, juros, dividendos, lucros e amortizações programadas, depois que parte das reservas (a componente financeira) for utilizada com o mesmo fim. Para o cálculo do Coeficiente de Vulnerabilidade, é necessário definir as seguintes variáveis: CFt = Rt – 1 - Ct = Componente Financeiro das Reservas Internacionais no ano t St = (At + Jt) - CFt = Saldo Financeiro no ano t Desta forma, o Coeficiente de Vulnerabilidade é dado pela expressão CV = St / Et Onde At = Amortização no ano t Jt = Juros e Lucros pagos no ano t Rt – 1 = Reservas Internacionais em dezembro de t - 1 Ct = Componente das Reservas Internacionais referentes ao comércio (valor equivalente a três meses de importação FOB do ano que se está estudando) Et = Exportações do ano t 1.6. O COEFICIENTE DE PROTEÇÃO O Coeficiente de Proteção medirá a redução percentual no fluxo de entrada das divisas que poderia ocorrer, admitindo-se a transferência líquida de recursos para o exterior igual a zero, sem contudo, reduzirem-se os pagamentos dos serviços da dívida. A expressão para o Coeficiente de Proteção é a seguinte CP = [EFt - (At + Jt)] / EFt 10 Onde EFt = Empréstimos e Financiamentos no ano t At , Jt , como definidos anteriormente 2. AS POLÍTICAS ECONÔMICAS VOLTADAS PARA SETOR EXTERNO É do conhecimento de todos os economistas que as políticas econômicas que mais diretamente afetam o setor externo das economias nacionais, são: • • • A POLÍTICA CAMBIAL A POLÍTICA FISCAL A POLÍTICA MONETÁRIA A análise de qualquer dessas políticas pode ser direcionada para os aspectos macroeconômicos, como estabilidade, disparidades regionais, desenvolvimento econômico etc., ou para os aspectos micro, como as conseqüências de uma política sobre o crescimento da exportação de um bem j qualquer. Assim, vou, inicialmente, trabalhar os aspectos macroeconômicos e, posteriormente, descer aos aspectos mais específicos. Quanto a este segundo aspecto, apresento neste trabalho, várias metodologias para cada política, que podem ser usadas para calcular o impacto da política sobre algumas variáveis do sistema econômico, tais como; emprego, quantidade produzida, quantidade exportada e preço interno do bem. 2.1. OS ASPECTOS MACROECONÔMICOS 2.1.1. A POLÍTICA CAMBIAL Dentro deste campo de ação do governo, temos dois caminhos: a) a POLÍTICA DE CÂMBIO LIVRE, e b) a POLÍTICA DE CÂMBIO CONTROLADO. É óbvio que a adoção da POLÍTICA DE CÂMBIO LIVRE, é a não-adoção de política cambial. Aqui o mercado é o senhor absoluto. O valor da moeda nacional é determinado pelas forças nele atuantes.. Mas este paradigma praticamente não foi e não é utilizado pela grande maioria dos países. A regra é a adoção da POLÍTICA DE CÂMBIO CONTROLADO. Dentro deste contexto, é possível encontrarmos diferentes tipos de política, tais como: • • • Política de Câmbio Fixo; Política de Câmbio Atrelado Sistema de Crawling Peg 11 A Política de Câmbio Fixo é o extremo dos possíveis casos de câmbio controlado. Aqui a taxa de câmbio é invariável por um período longo de tempo. No caso do Câmbio Atrelado, a moeda nacional varia sempre “pari passu” variações de uma outra moeda pré-determinada. às No caso da adoção do Sistema de Crawling Peg, as variações são muitas, a começar pelo grau de controle. Mas estas variações normalmente ocorrem em períodos muito curtos e estão atreladas a um indicador qualquer. Sob este prisma, talvez o melhor exemplo a ser mostrado seja o caso do Brasil, haja vista os inúmeros modelos aqui utilizados. De fato, a Política Cambial do Brasil tem se caracterizado pelo uso dos mais diferentes meios de controle da taxa de câmbio. No Quadro 1, a seguir, mostro o desenrolar desses vários processos de controle de câmbio, desde 1948, ano a partir do qual a Fundação Getúlio Vargas começou a publicação sistemática das estatísticas sobre a taxa cambial brasileira. QUADRO 1 AS POLÍTICAS DE CÂMBIO NO BRASIL REGIME CAMBIAL Câmbio Livre a Preço Fixo Controle de Câmbio por Cooperação Regime de Licenças Prévias Regime de Orçamento de Câmbio Regime de Operações VInculadas Câmbio Livre Sistema de Leilões: Taxas Múltiplas de Câmbio Sistema de Taxas Múltiplas de Câmbio Câmbio Livre, Câmbio para Exportação, Câmbio para Importação Sistema de Câmbio Controlado Sistema de Câmbio Controlado Sistema de Câmbio Fixo Sistema de Câmbio Controlado Sistema de Câmbio Fixo Sistema de Câmbio Controlado FONTE: Elaborado pelo Autor PERÍODO 11/1946 06/1947 02/1948 0//1949 01/1951 02/1953 a a a a a a 06/1947 02/1948 06/1949 01/1951 02/1953 10/1953 10/1953 a 08/1957 09/1957 a 03/1964 04/1964 01/1968 01/1980 01/1989 01/1990 02/1994 01/1991 a a a a a a a 12/1967 12/1979 01/1989 12/1989 02/1994 12/1990 atualidade 12 É importante chamar a atenção que a Política Cambial pode ser utilizada tanto para incentivar as exportações e reduzir as importações, como para penalizar as exportações e incentivar as importações. O uso da TAXA CAMBIAL SUBVALORIZADA é o paradigma para o primeiro caso; o segundo caso é vivenciado quando se tem a TAXA CAMBIAL SOBREVALORIZADA. Dentro deste contexto, a taxa cambial brasileira esteve sempre SOBREVALORIZADA, exceto para os anos de 1958, 1984/1985 e 2002, quando ela esteve subvalorizada. Em item posterior voltarei a este tema. A quantificação dos prejuízos causados ao Nordeste pela implantação de tais políticas já foi por mim efetuada (Vianna, 1980,, 1981). Agora, o que está em jogo é conhecer os efeitos de cada política sobre as seguintes variáveis: quantidade produzida, volume exportado e preços internos de cada bem exportado pelo Nordeste. Naturalmente, escolherei os bens de maior peso na pauta de exportação nordestina. Isto será feito no item 2.5. 2.1.1.1. OS EFEITOS DA SUB OU SOBREVALORIZAÇÃO DA MOEDA NACIONAL Esta metodologia mede a perda (ou ganho) do setor externo de um país (ou de uma região), quando a moeda nacional não está ao par. Ou seja, quando a moeda nacional está sub ou sobrevalorizada. 1º CASO: π = πx = πm ≠ π* Então PLSER = ψ = (π* - π)(Xr - Mr) 2º CASO: πx ≠ πm ≠ π* Neste caso, temos PLSER = ψ = (π* - πx)Xt - (π* - πm)Mt Onde π , πx , πm são as taxas cambiais adotas pelo país e π* é a taxa cambial de paridade. Nos dois casos, se Xt - Mt > 0 , e se ψ < 0 , o setor externo nacional (regional) estará sendo prejudicado pela política cambial do país. 2.1.1.2. A TAXA DE BRUNO 13 A Taxa de Bruno (ver Bruno, 1965) mede o custo (em moeda nacional) por moeda conversível ganha ou poupada. Esta taxa é uma estimativa da diferença entre a taxa de câmbio utilizada e a taxa de câmbio real. A expressão analítica tara esta taxa, é a seguinte: m Dj = [Σ f*sj . Vs] / (uj - m*j) S=2 Onde Σ f*sj . Vs = medida dos custos líquidos dos recursos domésticos uj - m*j = medida das divisas líquidas poupadas 2.1.1.3. OS EFEITOS DAS MINIVALORIZAÇÕES NO VALOR EXPORTADO DE UMA REGIÃO A expressão analítica para medir esses efeitos é a seguinte n n ω = [Σ PiXi] / Σ Xi i=1 i=1 onde Xi = Participação média de cada produto i (i = 1, 2, ....,n) no valor exportado total da região Pi = variação média no valor exportado de cada produto. 2.1.1.4. A MEDIDA DE RIDLER & YANDLE Ůj = {[(ηj Ř – εj ŝ)(1 + ηjne)]/( ηj – εj)} - (Řjbr . ηjne) Onde Ůj = variação relativa do valor exportado da mercadoria j ηjne = elasticidade-preço da oferta de exportação da região, da mercadoria j 14 ŝ = variação relativa média nas taxas de câmbio de importação (relativa a uma moeda conversível), ponderada pelas participações dos importadores mundiais da mercadoria j Řjbr = variação relativa da taxa de câmbio no país 2.1.1.5. CÁLCULO DA VARIAÇÃO PERCENTUAL NO VALOR DAS EXPORTAÇÕES, DADA UMA VARIAÇÃO CAMBIAL ∆vn = ∆p (1 + ηsn ) - ∆πb ηsn Onde ∆p = variação percentual do preço interno do bem na região ηsn = elasticidade-preço da oferta regional do bem ∆πb = variação percentual da taxa de câmbio no país 2.1.1.6.VARIAÇÃO PERCENTUAL DO PREÇO DO BEM NO PAÍS EXPORTADOR, DADA UMA VARIAÇÃO CAMBIAL ∆pn = ∆p - ∆πb Onde ∆p = (∆πηs - kηd )/( ηs - ηd) Onde ∆π = variação percentual média da taxa de câmbio dos paises exportadores com referência à moeda “numeraire” , ponderadas pelas participações relativas de todas as exportações no mercado mundial. Isto nos dará o fator de variação na oferta mundial. ηs = elasticidade-preço da oferta mundial do bem estudado k = variação percentual média da taxa de câmbio dos países importadores com referência à moeda “numeraire” , ponderadas pelas participações relativas de todos os importadores no mercado mundial. Isto nos dará o fator de variação na demanda mundial. ηd = elasticidade-preço da demanda mundial do bem estudado. 15 2.1.1.7. VARIAÇÃO PERCENTUAL NO QUANTUM DAS EXPORTAÇÕES, DADA UMA VARIAÇÃO DE PREÇOS ∆qn = ηsn . ∆pn 2.1.2. A POLÍTICA FISCAL Existem várias fórmulas para se medir o efeito de política fiscal sobre o comércio exterior de um país (ou região). Estas fórmulas ou expressões analíticas, são: • Taxa Efetiva de Proteção • Custo Efetivo de Importação • Taxas de Medida dos Incentivos Fiscais 2.1.2.1. TAXA EFETIVA DE PROTEÇÃO A Taxa Efetiva de Proteção pode ser encontrada através da expressão (ver Corden, 1966): Г = (tj – Σi aij.ti) / (1 - Σi aij) Onde tj = tarifa sobre o bem j aij = coeficiente de produção da matriz insumo-produto ti = tarifa sobre o insumo i 2.1.2.2. CUSTO EFETIVO DE IMPORTAÇÃO O Custo Efetivo de Importação pode ser calculado através da fórmula (ver Doellinger et alli, 1973) Cm = (πm. M)(1 + t) / Pm Onde πm = Taxa de Câmbio de Importação M = Valor das Importações t = Tarifa cobrada nas Importações Pm = Índice de Preços das Importações 16 2.1.2.3. A PERDA PRODUZIDA PELA POLÍTICA TARIFÁRIA SOBRE O PODER DE COMPRA DO PAÍS (OU REGIÃO) NO EXTERIOR O Poder de Compra de um país (ou região) no exterior é dado pelo quociente do SBP c/c sobre o preço internacional. Com o advento da Tarifa, este poder de compra é alterado. Desta forma, podemos ter, caso não haja tarifa, PCsbc = SBC/PE Mas, se há tarifa, tem-se PC*sbc = SBC/ PE (1 + t) Desta forma, a diferença PCsbc - PC*sbc medirá quanto será perdido, em termos de PODER DE COMPRA, quando há a imposição da tarifa. 2.1.2.4. MEDIDA DA PARTICIPAÇÃO DOS INCENTIVOS FISCAIS NO VALOR DAS EXPORTAÇÕES VIn = [Σ (I + Ω)] / Xn MS = VIn / πb Onde VIn = valor dos incentivos fiscais e creditícios por “numeraire” exportado I = valor dos incentivos fiscais concedidos (medidos anualmente) ao setor exportador Ω = valor dos incentivos creditícios concedidos (medidos anualmente) ao setor exportasdor. Xn = valor das exportações (FOB) do Nordeste MS = valor efetivo dos subsídios ofertados ao setor exportador regional. Os incentivos fiscais podem ser inúmeros. No caso do Brasil, eles envolviam os impostos indiretos, os impostos diretos e os incentivos de pontuação para concorrer aos incentivos do 34/18-FINOR, da SUDENE. 17 2.1.2.4.1. OS INVENTIVOS VIA IPI IpiI = Σj бj Xj + Σj бi Mi Onde бj e бi são as alíquotas do IPI (diferenciadas por produto) Xj e Mi valor exportado e importado, por produto 2.1.2.4.2. OS INCENTIVOS VIA IMPOSTO DIRETO (IR) IRIj = (1 – δ). ρ . [Xj /RTj] . LTIIIj Onde IRIj δ = = ρ = Xj RTj isenção do IR no setor j parcela do imposto devido aplicável a outros incentivos fiscais (até 25% do imposto devido) = = LTIIIj = alíquota do IR (= 30% para as empresas que calculam seu lucro pelo critério do lucro real) valor exportado pelo setor j receita total do setor j lucro tributável III, como definido pela SRF 2.1.2.5. OS INCENTIVOS VIA SISTEMA 34/18-FINOR No caso específico do Nordeste brasileiro, o estabelecimento de uma política de desenvolvimento industrial, via Sistema 34/18-FINOR, estabeleceu um sistema de pontos para a priorização, onde o fato de ser uma empresa exportadora, ensejava a que tal empresa recebesse pontos adicionais e, assim, recebesse prioridade para o benefício do 34/18-FINOR. A expressão analítica para medir esse benefício é a seguinte n S = Σ(10Fj) / pj j=1 18 onde pj = é o número total de pontos alcançados pela empresa Fj = é o valor do financiamento via 34/18-FINOR 10 = é o número de pontos alocados para o projeto por destinar-se à exportação ou para subsidiar importações 2.1.3. 2.1.3.1. A POLÍTICA MONETÁRIA MEDIDA DA PARTICIPAÇÃO DOS INCENTIVOS CREDITÍCIOS DADOS AO SETOR EXPORTADOR Ω = (α - β) . [E/X] Onde α = taxa de juros (normais) de mercado β = taxa de juros cobradas nas operações de exportação E = valor total dos empréstimos feitos ao setor exportador X = valor das exportações A Política Monetária pode ter muita importância para o setor externo de um país (ou região), se houver, por exemplo, políticas de taxas de juros diferenciadas nos financiamentos para as empresas que atuam no mercado internacional. Neste caso, a expressão analítica que captaria os efeitos de tal política, seria dada por IF = r* . Σi Fi - Σi ri Fi Onde IF = valor dos incentivos financeiros para o setor externo da economia r* = taxa media de juros vigente no mercado financeiro 19 Fi = valor dos financiamentos realizados pelos bancos às empresas do setor externo da economia ri = taxa media de juros cobradas nos financiamentos para as empresas do setor externo 2.1.4. MEDIDA DA PARTICIPAÇÃO DOS INCENTIVOS FISCAIS E CREDITÍCIOS NO VALOR DAS EXPORTAÇÕES VIn = [Σ (I + Ω)] / Xn MS = VIn / πb Onde VIn = valor dos incentivos fiscais e creditícios por “numeraire” exportado I = valor dos incentivos fiscais concedidos (medidos anualmente) ao setor exportador Ω = valor dos incentivos creditícios concedidos (medidos anualmente) ao setor exportasdor. Xn = valor das exportações (FOB) da região MS = valor efetivo dos subsídios ofertados ao setor exportador regional. 2.2. OS ASPECTOS MICROECONÔMICOS (SETORIAIS) 2.2.1. MEDIDA DO EFEITO DAS TARIFAS, SUBSÍDIOS E CONTROLES SOBRE O PREÇO DO SETOR AGRÍCOLA ξ = [Σa πa . sa] / [Σm πm.Bm] Onde πa = taxa de câmbio implícita para os bens agrícolas sa = valor das vendas dos produtos agrícolas 20 πm = taxa de câmbio implícita para os bens manufaturados Bm = valor das compras de bens manufaturados pelo setor agrícola. Dado este contexto, temos que Σa πa . sa = é o valor de todas as transações do setor agrícola, em termos de seus preços externos. Σm πm.Bm = é o valor de todas as compras de bens manufaturados do setor agrícola, em termos dos preços dos preços externos desses mesmos bens. Desta forma, ξ é a expressão para o quociente entre os termos de comércio que a agricultura tem internamente e os termos de comércio que ela poderia receber se fosse permitida a comercialização direta com o exterior. A análise dessa razão em uma série de tempo possibilitará medir em que extensão o setor agrícola foi discriminado em favor do setor industrial. 21