FMI E DORNBUSCH. O FMI (Fundo Monetário Internacional

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Belluzzo, Luiz Gonzaga. "FMI e Dornbusch." São Paulo: Folha de São Paulo,21 de abril de
1996.
FMI e Dornbusch
O FMI (Fundo Monetário Internacional) adverte: a âncora cambial pode fazer
mal à saúde da economia
Autor: Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo
Assunto: Economia Internacional
Publicado pela Folha de São Paulo em 21/04/96
O ''World Economic Outlook'' uma das publicações do fundo acaba de reconhecer
que "a mais pronunciada deterioração das condições cíclicas desde o início de 1995
ocorreu na Alemanha e na França, em diversos outros países ligados ao marco
alemão".
A publicação acrescenta em sua análise que "a atividade econômica ficou
estagnada na segunda metade de 1995 e o desemprego voltou a crescer antes que
a recuperação ganhasse maior impulso".
Contrastanto com o desempenho do bloco do marco, Inglaterra, Itália e Suécia vêm
apresentando taxas de crescimento econômico superiores à média dos países
desenvolvidos.
Isto se deve, sobretudo, ao desempenho das exportações e à possibilidade de
execução de políticas monetárias mais brandas.
A desvalorização nominal da lira italiana, ocorrida desde a crise de 1992, foi
superior a 50%. A expansão das exportações italianas chegou a suscitar reações de
seus parceiros europeus, encalacrados na camisa de força da estabilidade a
qualquer custo.
A Inglaterra, desvencilhada da âncora cambial, promoveu cortes nas taxas de juros
para estimular o crescimento e, ao contrário do que se temia, não foi atingida por
um recrudescimento do processo inflacionário.
Estamos numa situação em que o coeficiente de abertura das economias se amplia
e o comércio mundial incorpora novos e agressivos competidores.
As políticas domésticas expansionistas sofrem, com maior ou menor intensidade
dependendo da reputação das respectivas moedas nacionais, um constrangimento
crescente das antecipações dos mercados financeiros quanto à evolução das
contas fiscais e dos déficits em conta corrente.
Neste clima, o desalinhamento da taxa de câmbio é mortal para o crescimento.
Não faltará, neste Brasil varonil, quem duvide da existência de uma base segura
para se afirmar o grau de desajuste da taxa de câmbio. É possível, no entanto,
recorrer a indicações tão elementares quanto óbvias.
Por exemplo: a relação entre as taxas de crescimento das exportações e as das
importações de manufaturas e a evolução da participação do país nas exportações
mundiais.
É rematada tolice afirmar que um determinado setor está se ajustando, se, na
verdade, está perdendo participação no mercado mundial ou passa a exportar com
menor valor agregado.
Há muita gente que busca conforto: "puxa, a empresa x está sobrevivendo à
concorrência". Ou seja, o sujeito está contando cadáveres e acha que discorre
sobre a competitividade.
Aviso aos nervosinhos: não se trata de sugerir uma maxidesvalorização ou coisa
assemelhada.
Todos sabem que um gesto como este desataria, numa economia recém-curada
dos vícios de inflação e da indexação, conseqüências desastrosas.
Trata-se de lamentar que, sabendo disso, os responsáveis pela política econômica
tenham cometido a imprudência de permitir a valorização nominal do câmbio para
alcançar a convergência mais rápida entre as taxas de inflação domésticas e as dos
países desenvolvidos.
Afinal, quem tem medo do Dornbusch?
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