Instituto Superior Técnico Departamento de Matemática Secção de Álgebra e Análise Exercı́cios Resolvidos Mudança de Coordenadas Exercı́cio 1 Considere o conjunto S = {(x, y) ∈ R2 : −1 < x < 2 ; x2 < y < x2 + 1} e a função g : R2 → R2 definida por g(x, y) = (x, y − x2 ). i) Mostre que g é uma mudança de coordenadas. Z ii) Calcule o integral x2 dxdy usando a mudança de coordenadas g. S Resolução: i) • A função g, polinomial em cada uma das suas coordenadas, é claramente de classe C 1 . • A função g é injectiva. De facto, se g(x1 , y1 ) = g(x2 , y2 ), então (x1 , y1 − x21 ) = (x2 , y2 − x22 ) e, portanto, x1 = x 2 ; y 1 = y 2 . • A derivada de g é representada pela matriz Dg(x, y) = 1 0 −2x 1 e, portanto, det Dg(x, y) = 1 6= 0. Assim, g é uma mudança de coordenadas em R2 . ii) Da descrição do conjunto S temos −1 < x < 2 ; 0 < y − x2 < 1, e fazendo (u, v) = g(x, y), obtemos −1 < u < 2 ; 0 < v < 1. Seja T = {(u, v) ∈ R2 : −1 < u < 2 ; 0 < v < 1}. Então, S = g −1 (T ). Na Figura 1 estão representados os conjuntos S e T. Note-se que T é um intervalo em R2 e, portanto, é vantajoso mudar o domı́nio de integração de S para T. Note-se também que a mudança de coordenadas adequada é g −1 e que det Dg −1 (u, v) = 1 = 1. det Dg(x(u, v), y(u, v)) 1 PSfrag replacements PSfrag replacements x y u v S T v y S 1 y = x2 + 1 −1 −1 y = x2 T 2 -1 2 y=x y = x2 + 1 x -1 2 Figura 1: Portanto, Z 2 x dxdy = S Z 2 T u | det Dg −1 (u, v)|dudv 2 Z = −1 Z 2 = Z 1 2 u dv du 0 u2 du −1 = 3. Exercı́cio 2 1. Mostre que a função de R2 em R2 , definida pela expressão u=x v = y + x2 , é uma mudança de coordenadas. 2. Sendo S = {(x, y) ∈ R2 : x > 0 ; y > −x2 ; y < 3 − x2 − 3x}, calcule o integral Z 2 ey+x dxdy, S usando a mudança de coordenadas da alı́nea anterior. Resolução: 1. Seja g a função definida por (u, v) = g(x, y) = (x, y + x2 ). Então, (a) g é de classe C 1 , uma vez que é contı́nua e as funções ∂u = 1; ∂x ∂u = 0; ∂y ∂v = 2x ; ∂x ∂v =1 ∂y são contı́nuas. (b) g é injectiva. De facto, (c) u=x v = y + x2 ⇐⇒ x=u y = v − u2 , isto é, g é invertı́vel e g −1 (u, v) = (u, v − u2 ). det Dg(x, y) = 2 1 0 2x 1 = 1 6= 0. u Portanto, g é uma mudança de coordenadas. 2. Para usar a função g deveremos determinar o conjunto T = g(S). Note-se que e, portanto, S = {(x, y) ∈ R2 : x > 0 ; y + x2 > 0 ; y + x2 < 3 − 3x} T = {(u, v) ∈ R2 : u > 0 ; 0 < v < 3 − 3u}. Na Figura 2 estão representados os conjuntos S e T. y v PSfrag replacements PSfrag replacements u v 3 1 v = 3 − 3u T y = 3 − x2 − 3x x y v = 3 − 3u 3 1 S x y = −x 2 T S y = −x2 y = 3 − x2 − 3x u Figura 2: Note-se que a mudança de coordenadas adequada é g −1 e que det Dg −1 (u, v) = 1 = 1. det Dg(x(u, v), y(u, v)) Aplicando o Teorema da Mudança de Coordenadas, teremos Z Z Z Z 2 ev | det Dg −1 (u, v) dudv ey+x dxdy = T S Z 1 Z 3−3u = ev dv du 0 = = Z 0 1 0 (e3−3u − 1)du e3 4 − . 3 3 Exercı́cio 3 Considere o conjunto S = {(x, y, z) ∈ R3 : 0 < x < 1 ; x2 − 1 < y < x2 ; x3 < z < x3 + 2} e a função g : R3 → R3 definida por g(x, y, z) = (x, y − x2 , z − x3 ). i) Mostre que a função g é uma mudança de coordenadas. ii) Use a mudança de coordenadas g para calcular o integral 3 Z S z − x3 dxdydz. 1 + x2 Resolução: i) – A função g, sendo polinomial, é claramente de classe C 1 . – A função g é injectiva. De facto, se g(x1 , y1 , z1 ) = g(x2 , y2 , z2 ) então (x1 , y1 − x21 , z1 − x31 ) = (x2 , y2 − x22 , z2 − x32 ) e, portanto, x1 = x 2 ; y 1 = y 2 ; z 1 = z 2 . – A derivada de g é representada pela matriz 1 Dg(x, y, z) = −2x −3x2 e, portanto, 0 0 1 0 0 1 det Dg(x, y, z) = 1 6= 0. Assim, g é uma mudança de coordenadas em R3 . ii) Da descrição do conjunto S temos 0 < x < 1 ; −1 < y − x2 < 0 ; 0 < z − x3 < 2, e, fazendo (u, v, w) = g(x, y, z), obtemos 0 < u < 1 ; −1 < v < 0 ; 0 < w < 2. Note-se que, através da função g, ao conjunto S corresponde o intervalo T = g(S) = {(u, v, w) ∈ R3 : 0 < u < 1 ; −1 < v < 0 ; 0 < w < 2}. Portanto, Z S z − x3 dxdydz 1 + x2 = Z = 2 1 0 Z Z 1 0 = 2 Z 0 = 1 0 −1 Z 0 −1 2 w dw dv du 2 0 1+u 1 dv du 1 + u2 Z 1 du 1 + u2 π . 2 Exercı́cio 4 Determine o volume do conjunto S = {(x, y, z) ∈ R3 : x > 0 ; y > 0 ; x2 + y 2 < z < usando uma mudança de coordenadas apropriada. p x2 + y 2 } Resolução: O conjunto S apresenta simetria cilı́ndrica em torno do eixo Oz e encontra-se representado na Figura 3. 4 Consideremos as coordenadas cilı́ndricas (ρ, θ, z) definidas por x = ρ cos θ y = ρ sen θ = z. z Das inequações x2 + y 2 < z < p x2 + y 2 , obtemos ρ2 < z < ρ, e das condições x > 0 ; y > 0, concluimos que 0<θ< π . 2 z 1 z S PSfrag replacements 1 PSfrag replacements ρ x y S 0 y 0 T z=ρ z = ρ2 z=ρ T z = ρ2 1 1 x ρ Figura 3: O conjunto S e respectivo corte segundo θ fixo As superfı́cies dadas por z = ρ2 e por z = ρ, intersectam-se para ρ = 1 ou ρ = 0. Portanto, temos 0<ρ<1 0 < θ < π2 ρ2 < z < ρ. O conjunto T representado na Figura 3 é o corte em S segundo θ fixo. Fazendo rodar T em torno do eixo Oz, obtemos o conjunto S. Sendo ρ o jacobiano da função (ρ, θ, z) 7→ (x, y, z), aplicando o Teorema da Mudança de Coordenadas, obtemos Z π/2 Z 1 Z ρ ρdz dρ dθ vol(S) = 0 = = Z ρ2 0 π/2 0 π . 24 Z 1 2 0 ρ(ρ − ρ )dρ dθ Exercı́cio 5 Calcule as coordenadas do centróide do sólido 1 3 p V = {(x, y, z) ∈ R3 : y 2 + z 2 ≤ x + ; x ≥ 0, y ≥ 0 ; z ≥ 0 ; x ≤ − y 2 + z 2 }, 2 2 usando uma mudança de coordenadas apropriada. 5 Resolução: O sólido tem simetria cilı́ndrica em torno do eixo Ox. Por isso, convém considerar coordenadas cilı́ndricas em torno deste eixo: x = x y = ρ cos θ z = ρ sen θ. Nestas coordenadas o sólido passa a ser descrito pelas condições seguintes: 2 ρ ≤ x + 12 ρ sen θ ≥ 0 ρ cos θ ≥ 0 x≥0 x ≤ 23 − ρ. A segunda e terceira condições traduzem-se simplesmente em 0 ≤ θ ≤ PSfrag replacements PSfrag replacements ρ z x = 32 − ρ x = ρ2 − 21 3 2 x= 3 2 −ρ 1 2 1 1 2 3 2 √1 2 Na Figura 4 encontra-se x y z V V π 2. x = ρ2 − 21 x √1 2 y 1 ρ Figura 4: O sólido V e respectivo corte segundo θ fixo representado o sólido V bem como um corte em V segundo θ fixo. Assim, teremos ! Z π2 Z 12 Z √x+ 21 Z 23 Z 32 −x vol(V ) = ρdρdx + ρdρdx dθ 0 = = π 2 0 Z 1 2 0 1 2 0 1 2 x+ dx + 2 17π . 96 Z 3 2 1 2 ( 23 0 2 − x) dx 2 ! Por simetria, uma vez que o sólido não se altera trocando as coordenadas y e z, temos y = z. A coordenada y é calculada da forma seguinte: ! R Z π2 Z 21 Z √x+ 21 Z 32 Z 32 −x y 96 2 2 V y= ρ cos θdρdx + ρ cos θdρdx dθ = 1 vol(V ) 17π 0 0 0 0 2 ! Z π2 Z 12 3 Z 32 3 (x + 21 ) 2 ( 2 − x)3 96 = cos θdθ dx + dx 1 17π 0 3 3 0 2 √ 8(13 2 − 2) √ . = 85π 2 6 Da mesma forma se calcula a coordenada x : ! R Z π2 Z 12 Z √x+ 21 Z 23 Z 32 −x x 96 ρxdρdx + xρdρdx dθ x= V = 1 vol(V ) 17π 0 0 0 0 2 ! Z 12 Z 32 x + 21 ( 23 − x)2 96 π x = x dx + dx 1 17π 2 2 2 0 2 = 1 . 2 Exercı́cio 6 Calcule o momento de inércia, relativo ao eixo Oz, do sólido p p V = {(x, y, z) ∈ R3 : − x2 + y 2 ≤ z ≤ x2 + y 2 ; 0 ≤ x2 + y 2 ≤ 1}, sabendo que a densidade de massa é a função α(x, y, z) = y 2 . Resolução: O sólido tem simetria cilı́ndrica em coordenadas cilı́ndricas em torno deste eixo: x = y = z = torno do eixo Oz. Por isso, convém considerar ρ cos θ ρ sen θ z. O sólido V é a intersecção da região exterior a dois cones, unidos na origem pelos vértices, e da região interior O cone superior é descrito pela pao cilindro vertical de raio 1 centrado na origem. p equação z = x2 + y 2 e o cone inferior pela equação z = − x2 + y 2 . Nas coordenadas cilı́ndricas o sólido V define-se da seguinte forma: −ρ ≤ z ≤ ρ ; 0 ≤ ρ ≤ 1. Na Figura 5 encontra-se representado um corte em V, segundo θ fixo. z z=ρ 1 ρ PSfrag replacements z = −ρ Figura 5: Corte em V segundo θ fixo A distância d(x, y, z) de um ponto (x, y, z) ∈ V ao eixo Oz é dada por p d(x, y, z) = ||(x, y, 0)|| = x2 + y 2 = ρ. 7 Assim, pela definição de momento de inércia, temos: Z Z 2π Z 2 I= α(x, y, z)d (x, y, z)dxdydz = V 0 Z = 1 0 2π Z 2 0 2 2 ρ (sen θ) ρ ρdz dρ dθ −ρ (sen θ)2 dθ 2π . 7 = ρ Z 1 2ρ6 dρ 0 Exercı́cio 7 Determine o volume do conjunto S = {(x, y, z) ∈ R3 : x > 0 ; y > 0 ; 0 < z < usando uma mudança de coordenadas apropriada. p x2 + y 2 ; x2 + y 2 + z 2 < 1}, p Resolução: O conjunto S é limitado pelo cone z = x2 + y 2 e pela esfera x2 + y 2 + z 2 = 1 e, portanto, apresenta tanto simetria cilı́ndrica como simetria esférica e encontra-se representado na Figura 6. z S √ 2 2 y PSfrag replacements z 1 x Figura 6: Esboço do conjunto S 1. Coordenadas esféricas: Nas coordenadas esféricas (r, θ, φ), as condições x > 0 ; y > 0 traduzem-se em π 0<θ< . 2 p Das inequações 0 < z < x2 + y 2 , obtemos π π <φ< . 4 2 Da inequação x2 + y 2 + z 2 < 1 concluimos que 0 < r < 1. Portanto, em coordenadas esféricas, S é descrito pelas condições 0<r<1 0 < θ < π2 π π 4 < φ < 2. 8 Do Teorema da Mudança de Coordenadas, obtemos vol(S) = = = Z 1 Z 0 π 2 Z 1 0 √ π 2 . 12 π 2 Z π 4 Z π 2 π 2 2 r sen φdθ 0 ! ! dφ dr ! 2 r sen φdφ dr π 4 2. Coordenadas cilı́ndricas: Consideremos as coordenadas cilı́ndricas (ρ, θ, z) em que ρ = Dado que x > 0 ; y > 0, então 0<θ< Das inequações 0 < z < p π . 2 p x2 + y 2 . x2 + y 2 , obtemos 0<z<ρ e da inequação x2 + y 2 + z 2 < 1, temos ρ2 + z 2 < 1, ou seja, ρ< p 1 − z 2. As superfı́cies z = 0 (plano) e ρ2 + z 2 = 1 (esfera) intersectam-se em ρ = 1. As superfı́cies z = ρ (cone) e ρ2 + z 2 = 1 (esfera) intersectam-se segundo z = z PSfrag replacements √ 2 2 ρ= ρ=z √ 1 − z2 0 √ 2 2 1 ρ Figura 7: Corte em S segundo θ constante Portanto, em coordenadas cilı́ndricas, S é descrito pelas condições 0 < θ < √π2 0 < z√ < 22 z < ρ < 1 − z2. Na Figura 7 está representado um corte em S segundo θ fixo. 9 √ 2 2 . Do Teorema da Mudança de Coordenadas, temos vol(S) = = = Z π 2 Z 0 1 2 Z π 2 √ 2 2 0 Z 0 √ π 2 . 12 Z √ 2 2 0 √ 1−z 2 ! ρdρ dz z (1 − 2z 2 )dz ! ! dθ dθ Exercı́cio 8 Considere o sólido S = {(x, y, z) ∈ R3 : z 2 < 1 2 (x + y 2 ) ; x2 + y 2 + z 2 < 4 ; x2 + y 2 > 1 ; y > 0}. 3 1. Calcule o volume de S usando coordenadas esféricas. 1 2. Assumindo que a densidade de massa de S é a função f (x, y, z) = x2 +y 2 , calcule o momento de inércia de S relativo ao eixo Oz, usando coordenadas cilı́ndricas. Resolução: O sólido S encontra-se representado na Figura 8. z S PSfrag replacements y x Figura 8: Esboço do sólido S 1. O volume de S é dado pelo integral vol(S) = Z 1 dxdydz. S Em coordenadas esféricas (r, θ, φ), o conjunto S descreve-se da seguinte forma: z2 < 1 2 (x + y 2 ) 3 r2 cos2 φ < ⇐⇒ tan2 φ > 3 π 2π <φ< 3 3 r<2 r2 sen2 φ > 1 1 r> sen φ r sen φ sen θ > 0 ⇐⇒ x2 + y 2 + z 2 < 4 x2 + y 2 > 1 ⇐⇒ ⇐⇒ ⇐⇒ y>0 1 2 r sen2 φ 3 ⇐⇒ ⇐⇒ ⇐⇒ ⇐⇒ 10 sen θ > 0 0 < θ < π. Assim, teremos Z vol(S) = Z = π Z 0 π Z 0 π 8 3 2π 3 Z π 3 2π 3 π 3 2 r2 sen φdr 1 sen φ 8 1 − 3 3 sen3 φ π 2π + cos = − cos 3 3 0 8 2 = π . − √ 3 3 3 Z ! ! dφ dθ ! sen φ dφ dθ 2π ! 1 cos φ 3 dθ + 3 sen φ π 3 2. O momento de inércia de S em relação ao eixo Oz é dado pelo integral Z 1 (x2 + y 2 )dxdydz = vol(S). I= 2 + y2 x S Em coordenadas cilı́ndricas (ρ, θ, φ), o conjunto S descreve-se da forma seguinte: z2 < 1 2 (x + y 2 ) 3 1 2 r 3 1 |z| < √ r 3 r2 + z 2 < 4 z2 < ⇐⇒ ⇐⇒ x2 + y 2 + z 2 < 4 2 2 x +y >1 y>0 ⇐⇒ ⇐⇒ ⇐⇒ r>1 0 < θ < π. z PSfrag replacements z= √1 r 3 z 2 + ρ2 = 4 √ 1 r=1 3 2 ρ z = − √13 r Figura 9: Corte em S com θ fixo Portanto, tendo em conta o corte em S com θ fixo, o momento de inércia é dado por ! ! ! Z π Z √3 Z √1 r Z 2 Z √4−r2 3 I = rdz dr + √ rdz dr dθ = √ 0 = π Z 1 √ 3 1 − √13 r 2 √ r2 dr + 3 3 Z 2 √ 3 2r p 4 − r2 dr 2 2 23 2 (4 − r ) = π 2 − √ − 3 √ 3 3 2 3 8 2 = π − √ . 3 3 3 11 − 4−r 2 !