A importância da afetividade no processo de aprendizagem na EaD1

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A importância da afetividade no processo de
aprendizagem na EaD1
Elaine Aparecida de Lima MORAES2
Resumo: Neste artigo, abordamos a importância da interação e da afetividade no
processo de ensino e aprendizagem na modalidade EaD. São diversos os momentos em que a afetividade pode estar presente no processo de ensino e aprendizagem EaD, tanto por meio das tecnologias inseridas na SAV como por meio no
diálogo (feedback) estabelecido entre educando e educador, e, ainda, por meio do
material didático. Discorremos, aos olhos de alguns autores, sobre como a interação pode ocorrer de forma positiva se for permeada pela afetividade, sobretudo,
aos olhos de Piaget. O presente artigo é resultado de uma pesquisa bibliográfica
de artigos, obras físicas e sites de busca. Foi desenvolvido com o objetivo de analisar e demonstrar o quanto é importante a presença da afetividade nas interações
e mediações por parte de todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem EaD, contribuindo positivamente para um efetivo aprendizado.
Palavras-chave: EaD. Afetividade. Interação. Aprendizagem. Material Didático.
1
Orientadora: Karina Elisabeth Serrazes. Doutoranda em Educação Escolar pela Universidade Estadual
Júlio de Mesquita Filho (UNESP) – Campus Araraquara (SP). Mestre em História pela mesma
instituição – Campus de Franca (SP), onde se licenciou em História. Graduada em Pedagogia pelo
Claretiano – Centro Universitário, onde também é docente dos cursos de Pós-Graduação e Graduação.
E-mail: <[email protected]>.
2
Elaine Aparecida de Lima Moraes. Especialista em Educação a Distância: planejamento, implantação
e gestão pelo Claretiano – Centro Universitário. Graduada em Pedagoga pela mesma instituição.
E-mail: <[email protected]>.
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The importance of affectivity in the learning
process of Distance Education courses
Elaine Aparecida de Lima MORAES
Abstract: In this article, we discuss the importance of the interaction and affection
in the teaching and learning process in Distance Education courses. There are
several moments in which affectivity may be present in the teaching and learning
process in Distance Education courses, both through technologies embedded in
virtual classrooms and through the dialogue (feedback) established between the
learner and the educator, and yet through the didactic material. We argue, in
some authors’ point of views, about how the interaction can occur in a positive
way if it is permeated by affectivity, mainly in Piaget’s philosophy. This article
is the result of a bibliographical research on articles, physical works, and search
engines. It was developed with the purpose of analyzing and demonstrating how
important is the presence of affectivity in the interactions and mediations of
everyone involved in the teaching and learning process in Distance Education
courses, positively contributing to an effective learning.
Keywords: Distance Education. Affectivity. Interaction. Learning. Didactic
Material.
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1.  INTRODUÇÃO
Atualmente, deparamo-nos com uma crescente expansão da
modalidade de Educação a Distância (EaD). Isso exige que estratégias didáticas sejam repensadas e praticadas de maneira adequada
para atender essa modalidade de ensino, garantindo, assim, um efetivo aprendizado. Sabemos que, na EaD, os educadores e educandos
estão separados fisicamente na maioria dos momentos, senão em
todos. Desse modo, cabe a seguinte pergunta: como encurtar a distância entre esses atores e efetivar um aprendizado colaborativo?
Isso se dá por meio das interações, e estas, por sua vez, devem estar
permeadas de afetividade.
Quando há afetividade no processo de ensino e aprendizagem EaD, o aluno não se sente desamparado e é motivado a buscar
conhecimento, a trocar experiência com seus colegas e tutores, a
transformar seus erros em desafios. O educando que estabelece vínculo afetivo com o educador se sente seguro, e isso o impulsiona a
seguir em frente, a buscar mais e mais conhecimento. Caso não se
estabeleça esse vínculo, o educando pode até desistir do curso.
Segundo Piaget (1962, p. 32):
É incontestável que o afeto desempenha um papel essencial
no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria
interesse, nem necessidade, nem motivação; e conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados
e não haveria inteligência. A afetividade é uma condição
necessária na constituição da inteligência.
Percebemos, então, que construímos nosso conhecimento
quando aliamos o cognitivo ao afetivo, quando o objeto de aprendizado realmente nos faz sentido, desperta interesse.
Desse modo, entendemos, neste trabalho, o educando como
um ser intelectual e afetivo, e a afetividade como inerente ao ser
humano. Esses dois pressupostos estão associados aos motivos que
levam o aluno a sentir-se mais ou menos motivado para superar os
obstáculos e permanecer em seu curso de EaD.
Além dessas interações, temos o material didático, que é peça
fundamental para garantir um efetivo aprendizado na EaD. Esse
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material deve ser elaborado com foco no aluno, desenhado de acordo com os instrumentos institucionais, sobretudo articulado com o
Projeto Pedagógico do Curso. O texto deve dialogar com o aluno,
sendo coeso, claro em suas ideias, permeado de afetividade e interação, para que o aluno não se sinta sozinho, embora o ato de ler
seja um ato solitário.
2.  AFETIVIDADE E INTERAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM EAD
Quando pensamos em um ambiente de aprendizagem, sendo
ele presencial ou EaD, temos de ter em mente que é preciso buscar
um conjunto de elementos que efetivem a aprendizagem, entre os
quais destacamos a interação e a afetividade. “É por meio de interações que os seres humanos se desenvolvem e aprendem” (LITTO;
FORMIGA, 2009, p. 112). No ambiente EaD, o aprendizado ocorre
por meio de múltiplas interações as quais fazem parte de um aprendizado colaborativo. Essas interações podem ser permeadas ou não
de afetividade.
De acordo com Valente (apud PIMENTEL; MIL, 2010, p. 26)
“[...] a interação que se estabelece entre o aprendiz e outras pessoas
são fundamentais para auxiliá-lo no processo de compreender o que
está realizando e, com isso, construir conhecimento”.
Para falarmos de afetividade no processo de ensino e aprendizagem EaD, não podemos deixar de falar que essa modalidade de
ensino vem crescendo significativamente no Brasil, rompendo barreiras e preconceitos. Os cursos EaD foram ganhando credibilidade
com o passar do tempo, oferecendo certificados e sendo regulamentados pela Lei de Diretrizes e Bases de 1996. Apesar disso,
faz-se urgente um olhar em direção à conectividade no Brasil, pois
ainda encontramos muitas regiões com acesso precário à internet, o
que significa uma desigualdade de acesso muito acentuada.
A EaD traz oportunidade de estudo para aqueles que desejam melhorar sua formação, porém não podem seguir horários
pré-estabelecidos. Por ser uma modalidade de ensino que ocorre
independentemente de espaços físicos, traz para muitos a oportuniEduc. a Distância, Batatais, v. 5, n. 1, p. 81-94, 2015
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dade de estudo que antes era praticamente impossível. O perfil do
aluno EaD é peculiar e, muitas vezes, abre portas para o mercado de
trabalho, pois trata-se de um aluno disciplinado, capaz de se organizar em seus estudos, determinado, autônomo, com alta capacidade
de interpretação, dentre outras qualidades.
Mas temos de ter em mente que essa modalidade de ensino
tem resultados positivos desde que esteja pautada em responsabilidade, comprometimento, dedicação, organização, tanto por parte
dos educandos quanto dos educadores, ou seja, todos os envolvidos
no processo.
De acordo com Moran (2006, p. 20):
É necessário considerar que a educação on-line é uma educação dirigida a pessoas adultas, geralmente profissionais
de determinada área, que se vêem impulsionados a continuar sua formação, em virtude das exigências de atualização impostas pela chamada sociedade da informação, na
qual as mudanças acontecem de forma muito acelerada, levando a que tenhamos que enfrentar situações diferentes a
cada momento, utilizando cada vez mais o “processamento multimídico”, o que impulsiona uma busca constante do
conhecimento necessário à atuação pessoal e profissional.
Verificamos, no dicionário Houaiss (2009, n. p.), que:
[...] a afetividade é qualidade ou caráter de quem é afetivo;
conjunto de fenômenos psíquicos que são experimentados
e vivenciados na forma de emoções e de sentimentos; tendência ou capacidade individual de reagir facilmente aos
sentimentos e emoções; emocionalidade.
E que:
[...] motivação é o ato ou efeito de motivar; conjunto de processos que dão ao comportamento uma intensidade, uma
direção determinada e uma forma de desenvolvimento próprias da atividade individual (HOUAISS, 2009, n. p.).
Sabemos que cada um carrega em si a motivação, mas ela
pode ser despertada pela afetividade ou anulada pela sua falta. A
afetividade está ligada com a motivação, ou seja, para que o aluno
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seja motivado, ele precisa ter um vínculo afetivo com seu professor,
que o motivará a buscar mais e mais conhecimento.
Citando Behar (2009, p. 205):
Redução ou excesso de afetividade resultam em problemas
na cognição; e esta não se sobrepõe a afetividade. Pelo
contrario, a afetividade pode auxiliar no raciocínio, principalmente em questões pessoais e sociais que envolvam
conflitos, revelando sua importância na tomada de decisões.
Mas essa afetividade ocorre na EaD? Vamos tentar responder
a essa questão no decorrer da elaboração deste artigo, pautados em
vários autores e teóricos, dentre eles: Piaget.
Piaget (apud BRINGUIER, 1978, p. 71-72) expõe que:
[...] é inteiramente evidente que, para que a inteligência
funcione, é preciso um motor, que é o afetivo. Jamais se
procurará resolver um problema se ele não lhe interessa. O
interesse, a motivação afetiva, é o móvel pra tudo.
Para exemplificar, citamos uma forma de motivar o aluno,
que é criar essa relação de afetividade propiciando um espaço para
que ele possa se sentir à vontade. O que seria “se sentir à vontade
no processo de aprendizagem EaD”? O aluno tem de se sentir à
vontade para expor suas opiniões, errar, sem ser julgado, ou seja,
transformar o erro desse aluno em oportunidade de construção colaborativa do aprendizado, pois o erro faz parte do processo.
Outra forma de estabelecer vínculos afetivos é por meio do
feedback realizado pelo professor, pois o aluno não sentirá vínculo
de afetividade se não for respondido.
Piaget (1962) considerou as relações entre afetividade
e cognição de duas maneiras: na primeira, a afetividade
“produz ou pode causar a formação de estruturas cognitivas”; na segunda, a afetividade “explica a aceleração ou
o retardamento da formação das estruturas; aceleração no
caso de interesse e necessidade, retardamento quando a situação afetiva é obstáculo para o desenvolvimento intelectual”. Das duas interpretações, Piaget escolheu a segunda
para demostrar geneticamente que a afetividade pode levar
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à aceleração ou ao retardamento na formação de estruturas
cognitivas (BEHAR, 2009, p. 209).
Desse modo, a “[...] redução ou excesso de afetividade
resultam em problemas na cognição; e esta não se sobrepõe à afetividade” (LONGUI; BEHAR; BERCHT, 2009, p. 205).
Além desses aspectos que abordamos até o presente momento, que dizem respeito às interações, vamos enfatizar, também, a
importante presença da afetividade no material didático elaborado
para a EaD. O aluno, quando está em seu ato solitário de estudo, estabelece um vínculo com o material didático; por isso, é importante
que esse material seja permeado pela afetividade.
Nesse contexto, tentaremos responder, também, a seguinte
questão: de que forma a afetividade pode estar presente no material
didático para EaD?
Para efetivar o ensino aprendizagem na EaD, ressaltamos a
importância da afetividade que deve estar presente na comunicação
entre todos, inclusive no Material Didático e nas interações na Sala
de Aula Virtual (SAV).
Diante disso, Andrade (2003, p. 257) afirma que a:
[...] interação social também influencia a afetividade, a interatividade e a aprendizagem como um todo. No momento em que os alunos adquirem confiança e consideração
por seus pares (colegas e professores – reais ou artificiais),
as relações interpessoais começam a se formar. Inicia-se
um processo de motivação intrínseca, e os alunos vão interagir [...] e socializar seus textos e seus conhecimentos.
Percebemos, então, que, quando não se estabelece uma relação de afetividade entre educador e educando, o aprendizado
pode estar comprometido, pois não se formam relações fortalecidas
capazes de gerar confiança e consideração. Provavelmente, esse
acontecimento pode prejudicar o desenvolvimento do aluno, pois
vai gerar insegurança. O aluno EaD que se sentir desconfiado e inseguro poderá desanimar no meio do percurso.
Reforçando esse pensamento, Behar (2009, p. 204) apresenta
que: “[...] educação não existe sem interação. As direções do enEduc. a Distância, Batatais, v. 5, n. 1, p. 81-94, 2015
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sinar e do aprender são fortemente fundamentadas nas relações a
ações efetuadas entre professores, alunos e meio ambiente”.
3.  UM POUCO SOBRE MATERIAL DIDÁTICO...
O texto didático é composto de conteúdos instrucionais intencionalmente elaborados e construídos com a finalidade de mediar
o ensino a distância; ele é utilizado como recurso mediacional de
aprendizagem mediado por tecnologias. Para Pinheiro (2002, p. 60
apud MIL; RIBEIRO, OLIVEIRA, 2010, p. 103):
[...] as estratégias pedagógicas para os cursos a distância
devem ser embasadas em teorias que primem por uma
abordagem construtivista, ou seja, da construção individual ou cooperativa do conhecimento pelo próprio aluno
mediada pelas mídias.
Desse modo, percebemos que, para que o texto seja produzido com qualidade, é preciso que seus conteúdos sejam desenhados
cuidadosamente, que tenham um tratamento pedagógico adequado com foco no planejamento pedagógico do curso, bem como em
seu projeto político. O texto didático é um componente importante
do curso EaD, senão primordial. Já o material didático se compõe
de elementos além das palavras, elementos que facilitam a aprendizagem, tais como vídeos complementares, videoaulas, gráficos,
figuras, esquemas etc. Não podemos nos esquecer da presença da
afetividade no material didático, fator importante que garante uma
boa relação do aluno como as interações e mediações, pois o ato de
estudar na EaD é um ato solitário, mas, se houver afetividade no
material didático, o aluno não se sentirá desamparado, nem desestimulado para prosseguir seus estudos. O material deve provocar ou
garantir necessária interatividade pra o ensino e a aprendizagem e
ainda ser:
[...] condutor de um conjunto de atividades que procura levar à construção do conhecimento; daí a necessidade de
esse material apresentar-se numa linguagem dialógica que,
na ausência física do professor, possa garantir um certo
tom coloquial, reproduzindo, mesmo em alguns casos,
uma conversa entre professor e aluno, tornando sua leitura
leve e motivadora (SALES; NONATO, 2007, p. 4).
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Sabendo-se que a EaD é uma modalidade de ensino que
atende públicos de diferentes perfis por todo o Brasil, é preciso ter
cuidado na escolha dos suportes que serão oferecidos, para evitar
que ocorra uma exclusão de alunos, pois, se isso ocorrer, iremos
contra a preocupação da EaD, que é democratizar o acesso ao saber
escolarizado.
O grande desafio da educação em um mundo globalizado é
conseguir articular as novas tecnologias a favor do processo de ensino e de aprendizagem dos alunos, sem ficar parado no tempo, em
busca de uma educação não mais fragmentada, e, sim, problematizadora, dialógica e interdisciplinar, pautada também na troca de
experiências entre professor e aluno. Na estruturação de um Curso EaD, deve caber o seguinte questionamento acerca da educação
de hoje em dia: qual tipo de formação eu quero oferecer para o
meu aluno? Apenas profissional, ou quero manter uma formação
integral, assim como havia nas escolas clássicas? Se a escolha for
formar um cidadão integral, certamente será possível, desde que
o foco esteja no aluno. Por isso, é preciso planejar um curso EaD
pensando cuidadosamente em sua estrutura, elaboração, concepção
e interações entre aluno/professor, aluno/aluno e aluno/tecnologia.
Falando especificamente do material didático, podemos dizer que,
em um curso EaD, ele é a garantia que o aluno tem, o “porto seguro”; por isso, o cuidado com a preparação desse material deve estar
focado no pedagógico.
Para elaboração e concepção de um material didático, deve
haver planejamento e foco no aluno EaD; não é possível elaborar um material didático apenas por meio de transposição de
conteúdos. Esse feito se torna inviável para o sucesso do ensino e
aprendizagem EaD, pois este deve ser elaborado contemplando a
dialogicidade, usabilidade pedagógica, interatividade, afetividade,
para que, embora o aluno esteja sozinho na hora de estudar, ele não
se sinta dessa forma, pois o texto deve dialogar com ele. Por isso,
não deve gerar dúvidas, tem de ter coesão, coerência e concisão.
A educação a distância é uma modalidade de ensino que,
paradoxalmente, por prescindir da relação face-a-face,
exige um processo de interlocução permanente e próprio.
Na educação a distância, o aluno não vai estar fisicamente
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presente em todos os momentos da relação ideológica. Mas
apesar da distância física, não pode deixar de existir o diálogo permanente. O material didático é o instrumento para
esse diálogo. Ele deve ser pensado e concebido no interior
de um projeto pedagógico e de uma proposta curricular
definidas claramente (NEDER, 2000, p. 91).
A SAV deve ser um ambiente agradável de discussões produtivas, permeadas pela afetividade que acolhe o aluno, esclarecendo
suas dúvidas, elogiando seus acertos e, quando ocorrerem os erros,
mostra o caminho correto, abrindo seus olhos para novos horizontes durante as discussões, tornando-o um crítico e não apenas um
reprodutor de ideias. Essa relação de afetividade deve ser garantida
pelas estratégias aplicadas pelo educador de acordo com um determinado modelo pedagógico. Isso é motivação: o aluno motivado
é capaz de ir mais longe e obter um aprendizado efetivo. Segundo
Behar (2009, p. 206), “Para Vygotsky (2001), a motivação constitui
a razão da ação. Impulsiona necessidades, interesses, desejos, atitudes particulares dos sujeitos e suas interações “
É necessário que haja uma interação de qualidade entre os
autores envolvidos no processo e não uma interação qualquer. Isso
é possível mediante preparação prévia do profissional que vai assumir uma turma EaD.
De acordo com a “Teoria da distancia transacional” definida por Moore (1993), a qual estabelece uma relação entre
a estrutura dos programas educacionais, a interação entre
alunos e professores e a natureza e o grau de autonomia do
aluno, quanto maior o diálogo, quanto mais flexível for a
estruturação de um curso e quanto mais autonomia tiver
o aluno, menor a distância transacional (VALENTE apud
MIL; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2010, p. 28-29).
Ao analisarmos essa distância transacional, citada por Valente (apud MIL; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2010), percebemos que ela
pode ser encurtada com a presença da afetividade presente na troca
real de perguntas, respostas e argumentações que ocorrem na comunicação mediada.
Para Valente (apud MIL; RIBEIRO, OLIVEIRA, 2010, p.
29), a “EaD é vista como uma conversação didática guiada que
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objetiva a aprendizagem, e que a presença de traços típicos de uma
conversação bem-sucedida deverá facilitar a aprendizagem”.
Por meio de recursos tecnológicos, o distanciamento entre
educador e educando diminui por intermédio da alta interação que
pode acontecer, o que se origina em “estar junto” virtualmente, de
acordo com Valente (apud MIL; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2010).
Para que possamos obter sucesso no ensino e aprendizagem
EaD, tanto como educandos quanto como educadores, devemos
buscar estratégias que sejam inovadoras e nos façam aproximar.
Desse modo, tomamos por base o processo de ensino aprendizagem
presencial que conta com a afetividade no dia a dia da sala de aula.
Não teremos o olhar nos olhos da sala de aula, mas podemos buscar outras estratégias para que possamos criar afetividade. Assim,
percebemos que é importante essa mescla entre presencial e EaD
em alguns aspectos.
Para Fiorentini (2000, n. p.):
As mensagens devem ser motivadoras, inteligíveis. Devem
trazer um equilíbrio dialógico entre o conhecimento cotidiano e conhecimento científico, entre conteúdos disciplinares e conteúdos transversais, levando em conta o saber
(conhecimento de fatos, conceitos, teorias, princípios, fundamentos, nomenclaturas, personagens etc.); o saber fazer
(domínio de habilidades); o saber ser (desenvolvimento de
atitudes e valores); o saber fazer junto (interações cooperativas com outros atores sociais).
Entende-se, neste trabalho, o aluno como um ser intelectual
e afetivo. Desse modo, podemos considerar que o aluno motivado
e afetivamente acolhido por todos os envolvidos no processo consegue superar seus obstáculos e permanecer no curso até o final,
construindo colaborativamente seu conhecimento.
Segundo Mill, Ribeiro e Oliveira (2010, p. 85):
Isso se faz necessário na medida em que entende a educação escolar como um processo de comunicação, de troca
de informações e de busca de significados compartilhados, por meio de interações entre seus atores principalmente entre professores e alunos.
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Assim, a importância desta pesquisa se deve ao fato de que
a afetividade não pode ser esquecida em um processo educacional,
especialmente quando tratamos da EaD, uma modalidade de ensino
em que professor e aluno estão separados pelo espaço e pelo tempo, o que dispensa antigos gestos e expressões utilizados em sala
de aula para demostrar qualquer tipo de sentimento e dar ênfase ao
assunto abordado pelo professor.
De acordo com Piaget (apud BEHAR, 2009), o aspecto afetivo por si só não pode modificar as estruturas cognitivas, mas pode
influenciar quais estruturas modificar. Segundo sua abordagem:
[...] o sujeito constrói seu conhecimento por meio da ação
constante e recíproca com seu meio. A inteligência é produto das interações entre sujeito-objeto, em que afetividade e cognição estão envolvidas (BEHAR, 2009, p. 209).
Diante disso, para que a aprendizagem em um curso EaD seja
efetiva, é preciso investigar os ambientes virtuais, observando de
que forma as interações entre aluno-aluno, aluno-professor ocorrem, sem esquecer que essa interação ocorre, também, entre aluno
e material didático. Desse modo, a preocupação em elaborar um
material didático de qualidade com a presença de dialogicidade,
legibilidade linguística, pedagógica e afetiva deve ser um dos pontos mais importantes na implementação e gestão de um curso EaD.
4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, fica claro que, na EaD, apesar da distância
física, é possível criar um ambiente virtual permeado de interação
e afetividade, uma vez que estes são elementos essenciais para garantir um efetivo aprendizado do educando, de acordo com o que
foi dito por Piaget. Então, percebemos que afetividade não pode ser
separada do cognitivo, ambos caminham junto na estruturação do
conhecimento do indivíduo.
Percebemos, ainda, que um dos elementos essenciais nesse
processo de EaD é o material didático, que consegue garantir um
estímulo positivo aos educandos, desde que seja desenhado corretamente, com os elementos necessários, tais como: dialogicidade,
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legibilidade linguística, interação, afetividade, coesão, coerência,
clareza de ideias. Desse modo, por meio de nossa pesquisa, conseguimos alcançar nosso objetivo que era analisar e demonstrar que
a afetividade pode fazer a diferença no processo de ensino e aprendizagem; por isso, podemos afirmar, aos olhos dos autores aqui
pesquisados, que ela é importante nesse processo.
As mediações e interações realizadas no processo de ensino e
aprendizagem EaD ficam mais fortalecidas se forem permeadas de
afetividade, garantindo ao aluno motivação, autoconfiança e determinação para buscar conhecimentos novos, enfrentar experiências
novas, realizando um aprendizado colaborativo. Se houver afetividade, tanto nas interações da SAV quanto no material didático, o
aluno não se sentirá sozinho, o que não permitirá que ele desanime
no meio do percurso.
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