UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO USO DE PLACAS OCLUSORAS DE PALATO EM PACIENTES COM FISSURAS LABIOPALATINAS RODRIGO SANT`ANA NUNES SÃO PAULO 2012 UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO USO DE PLACAS OCLUSORAS DE PALATO EM PACIENTES COM FISSURAS LABIOPALATINAS Dissertação apresentada para o exame de aprovação e obtenção do título de Mestre em Ortodontia pela Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. Orientadora: Profa. Dra. Karyna Martins do Valle-Corotti SÃO PAULO 2012 Ficha elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID N347u Nunes, Rodrigo Sant’Ana Uso de placas oclusoras de palato em pacientes com fissuras labiopalatinas / Rodrigo Sant’Ana Nunes --São Paulo, 2012. 52 p. Bibliografia Tese (Mestrado) - Universidade Cidade de São Paulo. Orientadora Profa. Dra. Karyna Martins do ValleCorotti. 1. Fissura labial. 2. Lábio leporino. 3. Oclusão dentária. I. Valle-Corotti, Karyna Martins do. I. Titulo. D4 RODRIGO SANT`ANA NUNES USO DE PLACAS OCLUSORAS DE PALATO EM PACIENTES COM FISSURAS LABIOPALATINAS Dissertação apresentada para o exame de aprovação e obtenção do título de Mestre em Ortodontia pela Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. Área de concentração: Ortodontia Data da Defesa: ______________ Resultado: __________________ BANCA EXAMINADORA: Prof. Dra. Karyna Martins do Valle-Corotti _________________________________ Universidade Cidade de São Paulo Prof. Dra. Rívea Inês Ferreira _________________________________ Universidade Cidade de São Paulo Prof. Dra. Thais Marchini _________________________________ Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais – USP DEDICO A DEUS, pelo dom da vida; por ao seu lado, aprender amar e ser amado, respeitar e ser respeitado, e principalmente de não ter medo de lutar para ser feliz. Aos meus pais, JOÃO PEDRO e VITÓRIA MARINA, pela dedicação de suas vidas em busca de minhas realizações. Aos meus irmãos, ANDRÉ e ALEXANDRE, pelo apoio e confiança que sempre depositaram em mim. AGRADECIMENTO ESPECIAL A professora DANIELA GARIB, pelo incentivo e imprescindível ajuda no direcionamento deste trabalho. A professora orientadora KARYNA VALLE-COROTTI, por sua dedicação e amizade durante o todo o curso. A professora THAIS MARCHINI, pela excelência em sua total colaboração em tornar este trabalho possível. AGRADECIMENTOS A toda equipe do Hospital Municipal Nossa Senhora do Loreto – RJ, por me acolher de forma tão especial durante todo o tempo de realização deste trabalho. A todos os professores do curso de mestrado UNICID, pelo ensinamento e convivência durante todo o curso. E a nossa querida funcionária LINDA por estar sempre pronta em nos ajudar na clinica. Aos queridos colegas e amigos de turma que tornaram a frequência neste curso muito mais prazerosa. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 14 2 REVISÃO DA LITERATURA 17 2.1 Fissura Labiopalatina 17 2.2 Alterações dos arcos dentários e Análise oclusal 22 2.3 Ortopedia pré-cirúrgica 28 2.4 Enxerto ósseo alveolar 32 3 PROPOSIÇÃO 42 4 MATERIAIS E MÉTODOS 43 5 RESULTADOS 46 6 DISCUSSÃO 53 7 CONCLUSÃO 56 8 REFERÊNCIAS 57 ANEXOS Lista de Figuras Figura 1 Quadro da classificação de fissuras utilizadas pelo 19 HRAC-USP Figura 2 Desenho esquemático da localização das fissuras 19 Figura 3 “estimuladores de crescimento” 30 Figura 4 Caso de fissura labiopalatina completa unilateral com 30 terapia ortopédica pré-cirúrgica Figura 5 Variações de gravidade das fissuras mensuradas em 31 milímetros Figura 6 Radiografias panorâmicas de acompanhamento 39 Figura 7 Fotos de queiloplastia e palatoplastia 39 Figura 8 Radiografias oclusais de acompanhamento 40 Figura 9 Índice 1 44 Figura 10 Índice 2 44 Figura 11 Índice 3 45 Figura 12 Índice 4 45 Figura 13 Índice 5 45 Figura 14 Gráfico da amostra em percentual dos índices 46 Figura 15 Gráfico da amostra em números de pacientes por 46 índice Figura 16 Paciente V.A.M.R. 47 Figura 17 Paciente M.L.A. 48 Figura 18 Paciente J.S.R. 49 Figura 19 Paciente M.R. 50 Figura 20 Paciente M.N. 51 Figura 21 Paciente I.A.M. 52 Lista de Abreviaturas e Símbolos FLP Fissura labiopalatina % Porcentagem HRAC-USP Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais – Universidade de São Paulo FBCLP Fissura bilateral completa de lábio e palato ERM Expansão rápida da maxila ml Mililitro min Minuto mm Milímetros HMNSL-RJ Hospital Municipal Nossa Senhora do Loreto – Rio de Janeiro RESUMO O objetivo deste trabalho consistiu em avaliar a eficácia no uso das placas oclusoras de palato em pacientes com fissura labiopalatina transforame incisivo unilateral classificando a oclusão segundo índice de Atack. Em uma avaliação de aproximadamente 300 prontuários de pacientes nascidos entre os anos de 2003 à 2006 em tratamento no HMNSL-RJ foram encontrados 74 pacientes com FLP transforame incisivo unilateral que submeteram-se ao uso de placas oclusoras de palato. Seguindo de forma rigorosa os critérios de inclusão em busca de uma amostra homogênea conseguiu-se selecionar modelos ortodônticos de gesso de 06 pacientes com idade entre 05 e 07 anos, de ambos os sexos, que fizeram uso regular da placa oclusora de palato e foram submetidos as cirurgias primárias de queiloplastia em tempo único e palatoplastia. O resultado foi a prevalência de 66,6% da amostra classificada no índice de Atack 1 (excelente). Conclusão: devido a este alto percentual de ausência de mordida cruzada (índice de Atack 1) permitiu desta forma sugerir com este estudo que o uso da ortopedia pré-cirúrgica através das placas oclusoras de palato foi eficiente sem interferência negativa sobre a relação oclusal dos pacientes. Palavras-chave: Fissura Labial; Lábio Leporino; Oclusão Dentária ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the effectiveness in the use of plates occlusion of the palate in patients with unilateral cleft lip and palate classifying occlusion second index Atack. In an evaluation of approximately 300 records of patients born between the years 2003 to 2006 in the treatment HMNSL-RJ. Found 74 patients with unilateral CLP underwent the use of plates occlusion of the palate. Following a strict inclusion criteria in search of a homogeneous sample could be selected orthodontic plaster models of 06 patients aged between 05 and 07 years, of both sexes, who made regular use of the palate plate occlusion and underwent primary lip repair surgeries in one and palatoplasty. The result was a prevalence of 66,6% of the sample classified as index Atack 1 (excellent). Conclusion: due to this high rate of absence of crossbite index (Atack 1) enabled thereby to this study suggest that the use of pre surgical orthopedic through the plates occlusion of the palate is efficient without negative interference on the occlusal relationship of the patients. Keywords: Cleft Palate, Cleft Lip; Dental Model 14 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento facial embrionário humano é bastante complexo. Talvez esta complexidade seja responsável pelo surgimento de inúmeras anomalias congênitas relacionadas à face. Sabe-se que a diferenciação da face humana ocorre entre a quarta e a oitava semana após a fertilização, e qualquer fator teratogênico que atue no decorrer deste período pode provocar defeitos faciais com maiores comprometimentos estéticos e funcionais, como as fissuras de lábio e palato (FRANÇA & LOCKS, 2003). As fendas e fissuras devem-se à não-fusão dos processos nasais mediais, nasais laterais e maxilares em um ou ambos os lados. As fissuras labiopalatinas (FLP) devemse à não-fusão dos processos nasais mediais, nasais laterais e maxilares em um ou ambos os lados. A fusão parcial origina uma fissura incompleta (WATSON et al., 2005). Há duas teorias que procuram explicar a ocorrência das FLP. Uma dessas teorias considera a falta de fusão dos processos faciais, enquanto a outra sugere que a falta da penetração mesodérmica acarretaria no aparecimento da fenda (CARREIRÃO et al. 1996). A etiologia dessa malformação é multifatorial, somatório de fatores hereditários e ambientais. A hereditariedade é considerada fator etiológico em 25% a 30% dos casos de FLP, e, destes, apenas 5% a 10% se adaptam nos modelos mendelianos de hereditariedade. A FLP constitui a anomalia craniofacial mais prevalente entre as deformidades congênitas e, no Brasil, acomete um a cada 650 nascidos vivos (RODRIGUES et al. 2005). Dados epidemiológicos demonstram que a menor ocorrência das fissuras é observada na raça negra e a maior, na raça amarela. A fissura mais comum é a completa de lábio e palato unilateral do lado esquerdo, e, para essa classificação, o gênero mais afetado é o masculino. Já no gênero feminino, a fissura mais prevalente é a de palato. Na literatura encontra-se inúmeros sistemas de classificação dessa malformação, porém o utilizado no HRAC - USP é o descrito por Spina (1972) e modificado por Silva Filho et al.(1992) onde subdivide as FLP em 4 grupos. A FLP bilateral é a forma mais complexa das fissuras e divide a maxila em três segmentos: dois palatinos e um central também chamado de pré-maxila. Esses segmentos podem apresentar-se em diferentes posições: aproximados com contato, 15 alinhados sem contato, e aproximados em colapso. A pré-maxila apresenta tamanho e morfologia variados, podendo apresentar-se aumentada ou hipodesenvolvida, centralizada, voltada para esquerda ou para a direita, além de encontrar-se projetada ou não no sentido antero-posterior. Interferem no prognóstico da reconstituição estética desse tipo de fissura a proporção/volume da pré-maxila, a distância entre os três segmentos e a presença e a quantidade de tecido mole que os une. Esse tecido mole é chamado de bandeleta de Simonart e encontra-se na base nasal, desviando a pré-maxila para o lado em que está presente. Pode ser constituído apenas de mucosa, mucosa e pele ou mucosa, pele e músculo, e quanto maior a quantidade de estruturas presentes melhor será o resultado estético. Quanto às características nasais dos pacientes com FLP bilaterais, o septo nasal encontra-se exposto, havendo comunicação das cavidades bucal e nasal. A asa do nariz geralmente é achatada e a extremidade da ponta do nariz é abaixada em função da ausência ou hipodesenvolvimento da columela (RODRIGUES et al, 2005). A principal característica das fissuras bilaterais completas de lábio e palato (FBCLP) é a projeção ântero-superior lateralizada da pré-maxila, envolvendo a parte basal e principalmente a parte alveolar, já presente a partir de 45 dias de vida intrauterina. Embora não constitua opinião unânime na literatura, essa projeção prémaxilar tende a se agravar no início da vida pós-natal devido: 1) ao crescimento alveolar associado à odontogênese; 2) à ausência de força restritiva do lábio superior fissurado, e 3) à adaptação da musculatura adjacente às funções bucais, principalmente na amamentação. Acredita-se que como resposta secundária ao deslocamento pré-maxilar ocorre aposição condrogênica gradual na sutura vômer-pré-maxila. A partir de então, essa projeção mantém-se ao longo de toda a vida pós-natal se o paciente não for submetido ao tratamento, sustentada unicamente pelo osso vômer, o que lhe confere diferentes graus de mobilidade (SILVA FILHO et al., 2001). Pares de dentes em diferentes estágios de formação (assimetria de desenvolvimento) são encontrados mais freqüentemente em crianças com fissura labiopalatina do que na população em geral. Também é mais prevalente em tais indivíduos hipodontia, especialmente de segundo pré-molares, parecendo a etiologia da hipodontia estar associada à da assimetria de desenvolvimento. No planejamento de um tratamento ortodôntico para esse tipo de paciente, é 16 importante ter em mente estas possíveis alterações no desenvolvimento dos demais dentes da arcada, não tão somente daqueles associados à fissura (GERLACH et al., 1996). O indivíduo com fissuras labiopalatinas apresenta, devido a alterações anatômicas e funcionais, diversos distúrbios relacionados, principalmente, funcionais, estéticos e psicossociais. Sabe-se, hoje, que o sucesso do tratamento dos pacientes portadores de fissuras labiopalatinas está relacionado ao trabalho de uma equipe multidisciplinar especializada e integrada. Dentro desta equipe, o Ortodontista deverá atuar na correção dos desvios do crescimento facial e dos distúrbios oclusais (MELGACO et al., 2002). A meta de tratamento é obter equilíbrio morfo-funcional entre os tecidos mole e ósseo. Entre os meios cirúrgicos a nossa disposição está o enxerto de osso alveolar (PRECIOSO, 1999). O tratamento e subsequente recuperação morfológica e funcional das estruturas anatômicas lesadas exige intervenções cirúrgicas indispensáveis em idade precoce e que podem, a longo prazo, interferir negativamente na relação e posição dos maxilares (SIMIIONATO et al., 2003). A reabilitação integral dos pacientes com fissuras tornou-se meta principal de todo o tratamento realizado por uma equipe de saúde, buscando sempre total compreensão das causas e consequências destas anomalias de forma a serem eliminadas como ameaça à saúde dos indivíduos (FRANÇA & LOCKS, 2003). Baseado na presente Revisão Preliminar de Literatura, onde é colocada de forma relevante a questão da influência das cirurgias primárias no crescimento craniofacial, a importância deste trabalho se dá diante à necessidade de avaliar o uso de ortopedia precoce em pacientes com fissura labiopalatina para reposicionamento maxilar por meio de placas oclusoras de palato. 17 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Fissura labiopalatina Definidas como a falta de coalescência entre os processos faciais embrionários e entre os processos palatinos, as Fissuras Labiopalatinas (FLP) representam um desafio à integração social do paciente, pois, quando acometem o lábio, estampam na face suas marcas inexoráveis e, quando acometem apenas o palato, deixam suas sequelas no mais importante processo da comunicação: a fala. O processo de reabilitação das FLP é complexo e lento, portanto, deve ser formulado com prudência e coerência. Foi dada ênfase à participação da Ortodontia e da cirurgia ortognática no abrangente contexto de reabilitação do paciente fissurado, filosofia esta adotada pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC USP). Um paradoxo inevitável salta aos olhos do profissional reabilitador: as cirurgias plásticas reparadoras (queiloplastia e palatoplastia), responsáveis pela reconstrução do lábio e palato fissurados, também mutilam. Mutilam por restringirem progressivamente o deslocamento anterior normal e espontâneo da maxila ao longo do crescimento craniofacial e mutilam por reforçarem a tendência natural ao deslocamento medial dos processos palatinos individualizados pela fissura. Em consequência deste paradoxo tão verdadeiro quanto irrefutável, surgem as mordidas cruzadas e um variável retrognatismo maxilar – traços comuns do paciente fissurado adulto que submeteu-se às cirurgias plásticas reparadoras em tenra idade. Por isso, impedem que o processo reabilitador das FLP se restrinja às cirurgias primárias, valorizam o trabalho em equipe e despertam a apreensão dos Ortodontistas. O 18 planejamento ortodôntico envereda pelo caminho da cirurgia ortognática, quando a discrepância esquelética inviabiliza a possibilidade de compensação dentária (SILVA FILHO et al., 1998-a). Foram demolidos mitos sobre o tratamento ortodôntico do paciente fissurado e trouxe a tona a mecanoterapia expansionista que visa minorar o lento, porém implacável, efeito restritivo indesejável das cirurgias precoces de lábio e palato sobre o crescimento da maxila e do arco dentário superior, em pacientes portadores de FLP. A localização e extensão anatômica da fissura estabelece o protocolo terapêutico, bem como o tempo e o prognóstico de tratamento. Na concepção teórica, a classificação empregada no HRAC - USP entrevê um método de classificação (FIG. 1) elaborado numa ótica morfológica, o qual elege o forame incisivo como referência anatômica, mas mantém-se coerentemente calcado nos padrões embriológicos de fusão dos processos faciais embrionários, pois nos primórdios da vida intra-uterina o forame incisivo divide o palato primário do palato secundário (FIG. 2). Os procedimentos terapêuticos iniciam cedo, com a reconstituição do lábio (queiloplastia) a partir dos três meses de idade e do palato (palatoplastia) a partir dos 12 meses. Existe uma tendência dos segmentos palatinos aproximarem-se e, com a passagem do tempo, essa morfologia inicial alargada vai dando lugar a um arco dentário mais estreito, influenciado principalmente pela cirurgia de lábio. Esta forma atrésica evolui também nos pacientes não operados, porém em menor grau. Essas alterações morfológicas, principalmente as atribuídas às cirurgias, conduzem a uma má oclusão típica dos pacientes fissurados: as mordidas cruzadas de diferentes magnitudes, o que prenuncia a mecânica expansionista. A bandeleta de Simonart está presente em quase 20% das fissuras transforame incisivo unilateral, e consiste em adesões de tecido mole localizadas na base do nariz, que unem parcialmente os segmentos labiais separados, na ausência de tecido ósseo alveolar. As cirurgias primárias realizadas no HRAC incluem manipulação apenas de tecido mole: queiloplastia e palatoplastia, o que significa que após as cirurgias reconstrutoras persiste a ausência de tecido ósseo entre os processos palatinos. Esse aspecto ganha importância clínica na área do rebordo alveolar cuja deficiência óssea impede a movimentação ortodôntica dos dentes adjacentes e limita o alinhamento 19 dentário aos segmentos alveolares separados. Visando concepções alternativas e mais eficientes de tratamento, o HRAC - USP deu um passo adiante quando importou de Oslo e introduziu em seu protocolo de tratamento das fissuras com defeito ósseo alveolar o projeto de “enxerto ósseo alveolar secundário” na dentadura mista, preferencialmente antes da irrupção do canino permanente, na faixa etária compreendida entre 9 e 11 anos (SILVA FILHO et al., 1998-b). 20 Figura 1. Quadro sinóptico representativo do sistema de classificação usado no HRAC-USP. Este sistema parte do forame incisivo como ponto de referência anatômico para diagnosticar os três principais tipos de fissura: fissura pré-forame incisivo, fissura transforame incisivo e fissura pós-forame incisivo. FONTE: SILVA FILHO et al., 1998-b. Lábio superior Forame incisivo Rebordo alveolar Palato mole Figura 2. O desenho esquemático representa uma vista oclusal do lábio superior e da maxila, colocando o forame incisivo como ponto focal e estratégico do sistema de classificação das fissuras labiopalatinas. As denominações pré-forame incisivo e pós-forame incisivo estão na dependência da localização da fissura, se à frente ou posteriormente a esta estrutura. As fissuras completas de lábio e palato (transforame incisivo) iniciam-se no lábio e acabam no palato mole, atravessando o forame incisivo. FONTE: SILVA FILHO et al., 1998-b. 21 A meta de tratamento é obter equilíbrio morfo-funcional entre os tecidos mole e ósseo. Após as cirurgias primárias de lábio existem influências negativas ao longo do crescimento facial da criança o que conduz ao desequilíbrio dento-facial. Entre os meios cirúrgicos a nossa disposição está o enxerto de osso alveolar, a genioplastia funcional e a cirurgia ortognática, as quais possuem a meta de melhoria da oclusão, respiração nasal e harmonia facial (PRECIOSO, 1999). Graziosi et al. (2000) realizaram uma investigação epidemiológica na ocorrência das FLP em pacientes atendidos na Faculdade de Odontologia de São José dos Campos – SP num período correspondente a 02 anos. A etiologia das FLP ainda não está bem esclarecida, porém muitos pesquisadores afirmam que o fator hereditário é o de maior importância. A teoria multifatorial é a mais aceita e resume-se na interação de fatores genéticos-ambientais. Concluiu-se que a malformação labial e/ou palatal comprometeu os homens e as mulheres, em aproximadamente 60% e 40% respectivamente. Quanto à ordem de nascimento dos afetados, o primogênito foi o mais frequente, sendo os outros de maneira sequencial. A incidência maior de nascimento de filhos portadores de FLP, ocorreu entre 21 a 30 anos de idade das mães e entre 21 a 40 anos dos pais, prevalecendo pacientes do gênero masculino. A recorrência familiar foi evidenciada em 34% dos casos, enquanto que a presença de fatores teratogênicos foi relacionada em 21,3% dos pacientes. A Ortodontia não foi avaliada neste trabalho, apesar de oito pacientes terem passado por terapia ortodôntica antes do exame pré-operatório e 13 pacientes entre a cirurgia e o exame pós-operatório. A influência da queiloplastia sobre a morfologia craniofacial em FLP bilateral, foi avaliada através de um estudo comparativo entre 02 grupos de pacientes adultos com fissura bilateral completa de lábio e palato, sendo um grupo operado somente de lábio até o segundo ano de vida e outro nãooperado. O protocolo de cirurgias seguido pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP), para as FLP bilaterais indica: 1- queiloplastia em dois tempos a partir dos três meses de idade; 2-palatoplastia, em um único tempo cirúrgico, a partir de um ano de idade; 3- cirurgias secundárias de lábio e columela, a partir da idade escolar e 22 4- enxerto ósseo secundário no final da dentadura mista, entre nove e 12 anos de idade. Concluiu-se que a queiloplastia exerce uma importante função imediata de reconstrução da morfologia facial alterada. Mas, no caso da FLP bilateral, a queiloplastia realizada na primeira infância ainda exerce um efeito lento, porém progressivo e favorável, sobre o crescimento da face média, retroposicionando principalmente a parte alveolar da pré-maxila e inclinando os incisivos para lingual. Esse efeito tardio da queiloplastia não se estende para a base do crânio e mandíbula (SILVA FILHO et al., 2001). Um trabalho determinando o número de crianças nascidas com FLP, sem síndromes associadas foi realizado na cidade de Joinville – SC no período de 1994 a 2000. Constatou-se uma incidência de 1,24 por 1000 nascidos vivos. A reabilitação integral dos pacientes com fissuras tornou-se meta principal de todo o tratamento realizado por uma equipe de saúde, buscando sempre total compreensão das causas destas anomalias de forma a serem eliminadas como ameaça à saúde dos indivíduos (FRANÇA & LOCKS, 2003). Através de uma análise clinica no HRAC – USP em 74 pacientes com FLP unilateral completa na faixa etária de 03 a 05 anos operados de lábio e palato em épocas convencionais, revelou-se que alterações interarcos ocorreram precocemente nestes pacientes, principalmente algum tipo de mordida cruzada. O tratamento e subsequente recuperação morfológica e funcional das estruturas anatômicas lesadas exige intervenções cirúrgicas indispensáveis em idade precoce e que podem, a longo prazo, interferir negativamente na relação e posição dos maxilares (SIMIONATO et al., 2003). Liou & Tsai (2004) sugeriram um novo protocolo para protração maxilar, em que se realiza a Expansão Rápida de Maxila (ERM) de forma alternada entre semana de expansão e semana de contenção, por um período de nove semanas. Seguido a este período faz-se uso de máscara facial. O uso combinado de ERM e máscara facial é uma técnica contemporânea para protração maxilar em pacientes fissurados. A ERM é usada para facilitar a protração com o uso da máscara facial. Supõem-se que as suturas intermaxilares são desarticuladas após a expansão. Remanesce controverso a respeito da largura que a expansão deve alcançar ao desarticular as suturas intermaxilares. Entretanto, expandir mais de 15 mm não é uma prática clínica 23 aceitável aos pacientes. A resposta mecânica à tração inclui alargamento da sutura, mudança no direcionamento das fibras periodontais, aumento de osteoblastos, e deposição osteóide na sutura palatina. Por esta razão, a ERM é reconhecida como expansão osteogênica sutural, assemelhando-se a distração osteogênica. 2.2 Alterações dos arcos dentários e Análise oclusal Pruzansky (1955) pesquisou, através de um estudo longitudinal, os fatores que poderiam alterar as dimensões dos arcos dentários dos pacientes acometidos por fissuras labiopalatinas, desde o formato alterado do palato até a constrição do segmento maxilar acometido pela fissura. Considerou que a diminuição no diâmetro do arco maxilar não deveria ser atribuída as cirurgias reparadoras em todas as situações. E ainda relatou que o correto posicionamento das bases ósseas na infância é fundamental para a erupção dos dentes permanentes e para o crescimento e desenvolvimento maxilofacial. As cirurgias reparadoras de lábio e palato exercem pressão sobre os segmentos maxilares, já que as forças exercidas pela musculatura podem deslocar um ou ambos os segmentos maxilares podendo criar um arco maxilar distorcido e constrito. E ainda um ajuste compensatório promovido pela língua nestes pacientes pode desenvolver uma configuração ainda mais anormal da cavidade oral (SUBTELNY, 1966). Um estudo foi realizado sobre influência da época das cirurgias reparadoras no crescimento facial. A hipoplasia maxilar era sempre atribuída as cirurgias reparadoras, principalmente as de lábio, pois as técnicas cirúrgicas utilizadas em outros tempos promoviam uma tensão na região dos segmentos alveolares. Com o passar do tempo e evolução nas técnicas cirúrgicas esta conseqüência passou praticamente a não acontecer, o que permitiu concluir que o tipo e não o tempo em que a cirurgia era realizada influía nos resultados estéticos e funcionais (MAISELS, 1967). Em avaliação através de modelos de arcos dentários entre pacientes com fissura de lábio e palato, fissura de palato isolada e grupo controle, desde o nascimento até os cinco anos de idade foi verificado que as medidas ânteroposteriores e principalmente as transversais apresentaram um padrão de 24 velocidade de crescimento menor imediatamente após o tratamento cirúrgico, e que tendiam atenuar-se após os quatro anos de idade (MAZAHERI et al., 1971). As mudanças de crescimento da maxila em crianças com fissura labiopalatina unilateral e de crianças sem deformidades craniofaciais foram comparadas, através de modelos de gesso, obtidos aos seis meses, dois anos, três anos e aos quatro anos de idade. Os pacientes fissurados não mostraram alterações expressivas nas suas dimensões anteriores nesta mesma fase, somente uma leve diminuição, notando-se um sutil colapso da maxila no sentido ântero-posterior, entre os três e quatro anos (WADA & MIYAZAKI, 1975). Através de um estudo em pacientes com fissura labiopalatina unilateral foi afirmado que o potencial de crescimento destes indivíduos é normal, mas a intervenção cirúrgica pode influenciar no aparecimento de sequelas, cuja gravidade pode estar diretamente relacionada a fatores como a técnica e a época da cirurgia, a magnitude da fissura, o ambiente sócio-econômico, além de fatores individuais como a carga genética. Analisando as dimensões dos arcos dentários até a fase adulta, constataram que existem alterações de crescimento tanto na maxila quanto na mandíbula, entretanto de menor magnitude na mandíbula do que na maxila, já que esta é acometida diretamente pela fissura (CAPELOZZA FILHO et al., 1978). Através de análise em modelos em gesso, foram comparadas as distâncias intercaninos e intertuberosidades dos arcos dentários de crianças fissuradas que efetuaram palatoplastia até dezoito meses de idade e os operados tardiamente. E a conclusão foi de que não houve diferença estatisticamente significante das medidas entre os grupos, porém consideram que desvantagens quanto às funções de alimentação, respiração e fonação estão presentes nestes casos (JORGERSON et al., 1984). Um estudo longitudinal foi realizado em crianças com fissura labiopalatina unilateral, desde o nascimento até a fase de cinco anos de idade. Verificaram que, ao longo do estudo, somente a distância intermolares não teve alterações significantes quando comparada com a de pacientes normais, mas o tamanho dos arcos em geral ficou menor. A distância intercaninos apresentou- 25 se menor em fissurados, o que levou os autores a concluir que é esta a medida mais responsável pela dimensão diminuída (HUDDART & GRABB, 1985). Foi questionado, por um estudo longitudinal, os resultados a longo prazo das cirurgias reparadoras, avaliando as dimensões de ambos os arcos dentários em pacientes com fissura de palato primário e secundário. O grupo fissurado não foi comparado a um grupo controle mas sim a padrões de normalidade, e as medidas avaliadas foram as distâncias intercaninos, intermolares e comprimento do arco. Concluíram que quase todas as dimensões de maxila e mandíbula do grupo com fissura foram menores do que o normal, tanto na dentição decídua completa quanto nos outros períodos, com excessão da distância intercaninos da mandíbula na fase de dentição decídua e da distância intermolares da maxila na dentição mista. Mesmo assim houve um crescimento harmonioso das medidas com o aumento da idade. Salientaram que a mandíbula foi afetada pelas mudanças da maxila, tendo sido reflexo da sua constrição (ATHANASIOU et al., 1987). O prognóstico de tratamento foi avaliado em um estudo e classificado segundo o índice Goslon, aplicado com sucesso para avaliação dos resultados intercentros, que avalia a relação oclusal em crianças com fissura labiopalatina unilateral em fase de dentição mista tardia ou permanente precoce. Este índice classifica o prognóstico de tratamento da oclusão em índices: (1) excelente: correção satisfatória com tratamento ortodôntico convencional; (2) bom: correção satisfatória com tratamento ortodôntico convencional; (3) regular: tratamento ortodôntico complexo com terapia inter-arco de relação classe III; (4) desfavorável: limite do tratamento ortodôntico isolado na correção da relação oclusal. A cirurgia ortognática se faz necessária apenas em casos de estética desfavorável; e (5) muito desfavorável: a cirurgia ortognática é essencial e única opção na correção da relação oclusal (MARS et al., 1987). O efeito da oportunidade cirúrgica para fechamento de palato foi avaliado em duas idades diferentes: um ano e um ano e oito meses. Avaliaram os arcos de crianças aos três anos de idade, com fenda de palato secundário, palato primário e secundário unilateral e bilateral, além de um grupo controle. Foram medidas as distâncias intercaninos, intermolares e comprimento do arco. Os resultados obtidos demonstraram que não houve diferenças 26 significantes de quaisquer medidas maxilares entre os subgrupos com fissura no que diz respeito à época da reparação cirúrgica do palato, mas na mandíbula a distância intercaninos e o comprimento do arco apresentaram-se maiores no grupo operado precocemente. De um modo geral, todos os subgrupos apresentaram medidas maxilares menores do que o grupo controle (NYSTROM & RANTA, 1990). A relação entre largura da fissura na época da palatoplastia foi averiguada juntamente com a morfologia craniofacial e as condições de oclusão presentes aos quatro anos de idade em pacientes portadores de fissura de palato secundário e fissura de palato primário e secundário. Foram medidas as distâncias intercaninos e intermolares em ambos os maxilares, e verificaram que o diâmetro da fissura tem relação de proporção com a distância intermolares nas crianças com fissura de lábio e palato completa, tanto no arco superior quanto no arco inferior. Já no grupo que apresentava de palato isolada não mostrou nenhuma relação de medidas dos arcos com o tamanho da fissura (SUZUKI et al., 1993). Direcionado a pacientes com fissura unilateral completa, foram investigado o desenvolvimento dos arcos dentários de indivíduos que realizaram a palatoplastia aos cinco anos de idade, e compararam a pacientes de um grupo controle. A amsotra de crianças na dentição decídua completa encontrava-se com idade média de quatro anos e oito meses, ou seja, antes da cirurgia reparadora de palato. Foi constatado que na arcada superior, a distância intercaninos e o comprimento do arco apresentaram-se menores nas crianças do grupo fissurado, ao contrário da distância intermolares. No arco inferior as três medidas apresentaram-se similares ao grupo controle (TOMANOVÁ & MULLEROVA, 1994). Honda et al. Estudou as alterações maxilares em crianças japonesas portadoras de fissura labiopalatina. Avaliando vários tipos de fissura, concluíram que por volta dos quatro anos de idade as dimensões maxilares em portadores de fissura de lábio e palato isolado são maiores do que as de fissuras transalveolares, tanto unilaterais como bilaterais. Foi verificado que a distância intercaninos é menor em fissuras completas bilaterais, e que o comprimento do arco em fissuras de lábio e rebordo é o mais largo. 27 Análise quantitativa foi realizada sobre o crescimento da maxila em pacientes com fissura pré-forame incisivo. Os modelos de gesso para estudo foram obtidos em três fases distintas, sendo a primeira delas antes da cirurgia de lábio, a segunda após a cirurgia (por volta de dois anos de idade), e a terceira com a dentição decídua completa. Diversas medidas foram eleitas para o presente estudo, inclusive a distância intercaninos, distância intermolares e comprimento do arco. Os autores comprovaram que as fissuras mais simples que não comprometem muito a estrutura óssea, estão pouco sujeitas às influências lesivas intrínsecas a este tipo de malformação. As medidas referenciadas aumentaram em todas as fases, onde o aumento mais significativo foi da fase I para a fase II, justificado pela erupção dos dentes (GOMIDE & ABDO, 1996). Os estudos com modelos de gesso em pacientes operados mostraram que a relação interarcos e intra-arcos tendem a mostrar déficit progressivo com a idade, desde a formação da dentadura até a idade adulta (HEIDBUCHEL & KUIJPERS-JAGTMAN, 1997). Um trabalho foi realizado com intuito de averiguar quais são as alterações ocorridas na fase de dentição decídua completa em ambos os arcos dentários de crianças com idade entre cinco e seis anos, com fissura labiopalatina unilateral completa, visando um diagnóstico precoce das másoclusões da dentição permanente, a fim de evitar e minimizar algumas conseqüências indesejáveis e deletérias ao paciente. O fato de o cirurgião dentista estar ciente das alterações dimensionais ocorridas nos arcos dentários é de extremo interesse terapêutico, tanto no que se refere à ortodontia, quanto à interação multiprofissional necessária, sendo considerado, inclusive, como fundamental à avalização de resultados cirúrgicos. A oclusão decídua dos pacientes, através de modelos foi classificada, de acordo com o prognóstico de tratamento em: Índice 1 – excelente: trespasse vertical e horizontal positivos; ausência de mordidas cruzadas; crescimento maxilofacial muito bom; Índice 2 – bom: trespasse vertical e horizontal positivos; mordida cruzada posterior uni ou bilateral; crescimento maxilofacial bom; Índice 3 – regular: mordida topo a topo anterior ou mordida cruzada anterior; mordida cruzada posterior uni ou bilateral; crescimento maxilofacial deficiente; Índice 4 – pobre: limite do tratamento 28 ortodôntico; Índice 5 – muito pobre: somente cirurgia ortognática (ATACK et al. , 1997). Heidbuchel (1998) preferiu considerar separadamente apenas o gênero masculino por notar que na grande maioria dos estudos, os sexos são avaliados conjuntamente para compor número suficiente para análise estatística. Nesta pesquisa, foram acompanhados o desenvolvimento da maxila de crianças com fissura labiopalatina bilateral e de um grupo controle, desde o nascimento até os quatro anos de idade. A região da distância intercaninos mostrou-se bem maior no grupo com fissura do que no grupo controle na época do nascimento, situação que se normalizou aos quatro anos, com a dentição decídua completa. O comprimento total do arco apresentou um aumento ínfimo até os quatro anos, enquanto o grupo controle apresentou um aumento contínuo no decorrer de todo o período avaliado, tendo valores maiores do que do grupo com fissura na avaliação final. Baseando-se na oclusão de pacientes com fissura de lábio e palato bilateral, considerado o tipo mais difícil para reparação cirúrgica, foram comparados dois diferentes tempos cirúrgicos para palatoplastia: um ao longo do primeiro ano de vida e outro tardio, por volta dos oito anos de idade, observando quais resultados apresentariam maiores alterações das dimensões dos arcos. Foi feito um estudo longitudinal, e na fase da dentição decídua os valores obtidos foram comparados a valores de normalidade pré-estabelecidos por Moorrees (1959). Constatou-se que nesta fase, por volta dos três anos de idade, as distâncias intercaninos em ambos os arcos e a distância intermolares na maxila apresentavam-se diferentes entre os dois grupos, tendo medidas melhores nos pacientes que foram operados tardiamente, vindo a tornarem-se semelhantes com o evoluir da idade (MELISSARATOU & FRIEDE, 2002). Crianças com fissura labiopalatina unilateral foram avaliadas aos cinco anos de idade para averiguar os efeitos das cirurgias nos arcos afetadas pela fissura. Foi medido o comprimento do arco, a distância intercaninos e a distância intermolares. Concluíram que todas as dimensões da maxila eram menores em fissurados do que no grupo controle, e que a única diferença que poderia ser ressaltada é entre os sexos, onde a distância intermolares maxilar apresentou-se menor em meninas do que em meninos, tanto para fissurados 29 quanto para não fissurados. Na mandíbula, todas as medidas avaliadas apresentaram-se menores no sexo feminino, não havendo diferença entre o grupo com fissura e sem fissura (DI BIASE et al., 2002). Em um trabalho comparativo entre os arcos dentários em crianças com fissura labiopalatina unilateral, fissura de palato primário e secundário unilateral e crianças de um grupo controle, verificaram-se que as dimensões dos arcos do grupo com fissura unilateral completa diferenciavam-se das dos grupo controle. O mesmo já não foi verificado entre os portadores de fissura incompleta e o grupo sem fissura. A amostra foi constituída de crianças com três anos de idade, onde foram avaliadas as distâncias intercaninos e intermolares, o perímetro e o comprimento do arco. A distância intermolares foi a única que não se mostrou diferente nos três grupos, já a distância intercaninos apresentou-se menor no grupo com fissura completa do que nos outros dois grupos, assim como o comprimento e perímetro da arcada (GARRAHY et al., 2005). Os modelos de estudo em gesso têm uma longa e comprovada história na Ortodontia, sendo considerados o “padrão ouro” com vantagens que vão desde a técnica rotineira, facilidade de produção, baixo custo e possibilidade de montagem em articulador para avaliação em três dimensões. Através deles consegue-se medidas fidedignas de fácil avaliação além de permitir a avaliação de resultados intercentros através das classificações em índices oclusais (RHEUDE et al., 2005). Foi sistematizado um novo índice conhecido como “Índice Baurú” para avaliação da condição oclusal em pacientes com fissura labiopalatina bilateral na dentição permanente, compreendendo uma escala de 1 a 5 com grau crescente de severidade considerando a relação interarcos, a forma do arco dentário superior e a inclinação dos incisivos superiores. Índice 1 – trespasse vertical e horizontal positivos; incisivos superiores com inclinação lingual; ausência de mordidas cruzadas; boa forma do arco dentário superior e da abóbada palatina; Índice 2 – trespasse vertical e horizontal positivos; incisivos superiores com inclinação normal ou inclinação lingual; mordida cruzada posterior uni ou bilateral; boa forma do arco dentário superior e da abóbada palatina; Índice 3 – mordida topo a topo anterior ou mordida cruzada anterior; 30 incisivos superiores com inclinação normal ou inclinação lingual; mordida cruzada posterior uni ou bilateral; arco dentário superior atrésico, com pouca profundidade do palato; Índice 4 – mordida cruzada anterior; incisivos superiores com inclinação normal ou inclinação vestibular; mordida cruzada posterior uni ou bilateral; arco dentário superior atrésico, com pouca profundidade do palato; Índice 5 – mordida cruzada anterior de grande magnitude; incisivos superiores com inclinação normal ou inclinação vestibular; mordida cruzada posterior uni ou bilateral; arco dentário superior atrésico, com pouca profundidade do palato (OZAWA et al., 2011). 2.3 Ortopedia pré cirúrgica Embora os bons resultados oclusais tenham sido demonstrado na dentição decídua, como descrito por Huddart em 1972, os estudos a longo prazo não confirmam o mesmo na dentição permanente. O efeito da ortopedia pré-cirúrgica sobre o alinhamento dental vem sendo considerado uma conseqüência lógica da melhora da simetria alveolar (O`DONNELL, 1974). Com a ortopedia pré-cirúrgica foi demontrado que de fato não ocorria crescimento adicional de tecido. Porém, que era de conhecimento geral que este tratamento destinava-se ao realinhamento dos elementos ósseos do maxilar, também incentivando o crescimento da prateleira palatina lateral quando possível (HUDDART & GRABB, 1977). O tratamento do paciente com fissura labiopalatina inicia-se na infância, com as cirurgias plásticas primárias. Os protocolos de tratamento são inúmeros e nada consensuais. Com intuito de facilitar as queiloplastias primárias, alguns centros utilizam terapias alternativas prévias com a intenção de reduzir a projeção da pré-maxila. As condutas terapêuticas mais comuns comentadas na literatura são o reposicionamento ortopédico da pré-maxila (GNOINSKI, 1982). Mc Neil (1984) considerou que o tratamento pré-cirúrgico proporcionava não só uma forma mais normal ao arco, mas também que o processo estimulava o crescimento tecidual. Para Hochban & Austerman (1989) consegue-se proporcionar algumas alterações posturais através da utilização de aparelhos pré-cirúrgicos, como a 31 manutenção da língua fora do espaço da fenda permitindo assim o crescimento sem obstáculos. Além disto a ortopedia pré-cirúrgica pode resultar em melhor angulação das prateleiras palatinas, porque descendem em posição mais horizontal, contribuindo para o estreitamento da fenda. O realinhamento dos elementos ósseos da fenda alveolar proporcionou uma base mais normal para a cirurgia. Trenité et al. (1990) em um estudo observou e discutiu o uso da ortopedia pré-cirúrgica em pacientes com fissuras. Vários autores abordaram com suas opiniões assuntos relacionados aos diversos protocolos de tratamento. O Dr. Berkowits em uma visita a Schisiscentrum Rotterdam em novembro de 1986 acompanhou um método multidisciplinar de atendimento aos pacientes com fissura labiopalatina, onde eram tratados com uso de “estimuladores de crescimento” (fig.3) objetivando proporcionar uma ótima forma anatômica maxilar e situação funcional. Durante sua visita, ele percebeu uma maior aproximação dos segmentos maxilares em muitos destes pacientes (fig.4). Figura 3. “estimuladores de crescimento”: caso de fissura unilateral e de fissura bilateral. FONTE: TRENITÉ, 1990. 32 Figura 4. Caso de fissura labiopalatina completa unilateral: 4 dias de idade; com terapia ortopédica pré-cirúrgica antes da cirurgia de lábio; com terapia ortopédica pré-cirúrgica antes da cirurgia de palato. FONTE: TRENITÉ, 1990. O crescimento maxilar se mostrou de forma relativamente normal, em um estudo no Siri Lanka com pacientes sem cirurgias ou alguma outra forma de tratamento. Comprovou-se então que a influência com o maior potencial de perturbação do crescimento no tratamento de fissura labial e fenda palatina é a natureza da cirurgia (Mc CANCE et al., 1993). Baseado na escala de Goslon, foi demonstrado em um estudo que os desenlaces clínicos do tratamento cirúrgico de Sommerlad obtiveram melhores resultados oclusais do que os dos melhores centros de estudo Eurocleft utilizando a técnica de Di Biase de ortopedia pré-cirúrgica. E mais recentemente não foi constatada diferença na estética facial de 40 pacientes com fendas / fissuras bilaterais de lábio e palato, todos tratados pelo mesmo cirurgião, metade dos quais se submeteu a ortopedia pré-cirúrgica e metade, não (ROSS & MACNAMERA, 1994). Um teste randomizado foi realizado sobre alimentação em um grupo que usava “placas de alimentação”, verificando-se que as placas não eram necessárias para estabelecer a alimentação bem sucedida, e elas foram abandonadas no início do estudo. Muitos centros em todo o mundo, que produzem resultados excelentes a longo prazo, não usam as chamadas “placas de alimentação”, e os lactentes crescem na preparação da cirurgia com apoio minucioso e experiente para a amamentação (SHAW et al., 1999). Peltromaki et al. (2001) realizou um estudo retrospectivo no Instituto de Cirurgia Plástica da New York University Medical Center, com objetivo de examinar possíveis associações entre a gravidade da fissura em lactentes e o crescimento maxilar em crianças com fissura labiopalatina completa unilateral. Foram feitas medições em bebê através de modelos de estudo A amostra consistiu em Vinte e quatro casos não sindrômicos de fissura labiopalatina completa unilateral tratados durante o anos de 1987 a 1994. Todos os pacientes receberam tratamento uniforme (ortopedia pré-cirúrgica seguida de 33 gengivoperioplastia para fechar a fenda alveolar combinada com a reparação do lábio e do nariz em uma única etapa, com a idade de 3 a 4 meses. O fechamento do palato foi realizada com a idade de 12 a 14 meses). Realizaram-se medidas através dos modelos em recém-nascidos com idade de dois a seis dias e posteriormente aos 5 a 6 anos. Os resultados demonstraram a grande variação na gravidade da fissura labiopalatina no nascimento (Fig.5). Pacientes com fissuras extensas e circunferência ou comprimento do arco pequeno demostraram um crescimento maxilar menos favorável do que aqueles com fissuras pequenas e circunferência ou comprimento do arco grande ao nascimento (PELTOMAKI et al., 2001). Figura 5. Modelos de estudo de recém-nascidos demonstrando as variações de gravidade das fissuras mensuradas em milímetros. FONTE: PELTOMAKI, 2001. Foi descrito um estudo sobre a ortopedia pré-cirúrgica, mostrando sua finalidade: 1)proporcionar nutrição adequada; 2)manter ou levar os segmento maxilares à posição anatômica correta; 3)diminuir os problemas respiratórios e auditivos; 4)prevenir a irritação do septo nasal; 4)orientar a posição anatômica da língua; 5)estimular o crescimento ósseo nas bordas da fissura; e 5)servir de apoio psicológico a família. Porém a terapia encontra problemas quanto ao uso desses aparelhos por falta de colaboração da família. O sucesso deste tratamento precoce depende muito da retenção e estabilidade da placa ortopédica e, naturalmente a confecção é extremamente dependente da qualidade da moldagem maxilar. O molde inicial é obtido com moldeiras de estoque e, a partir do primeiro modelo, confeccionam moldeiras individuais de resina acrílica e perfurada. A melhor posição da criança é o decúbito ventral, de preferência no colo da mãe que lhe passará maior apoio psicológico e proporcionará maior conforto. A conclusão deste estudo é de que realmente o 34 recém-nascido fissurado, inquestionavelmente, representa o jovem paciente que desafia a imaginação e capacidade diária de todo ortodontista, e que o tratamento ortopédico/ortodôntico é de importância primordial para se obter melhores resultados nos pacientes com fissura labiopalatina (CARVALHO et al., 2004). Um estudo retrospectivo avaliando a relação da severidade da fissura labiopalatina unilateral com o crescimento maxilar foi realizado em um grupo de 29 crianças não sindrômicas, onde seguiu-se um protocolo de tratamento utilizando as placas oclusoras de palato, queiloplastia de 3 à 6 meses de idade e palatoplastia aos 12 meses de idade. Nos moldes utilizados para fabricação da placa oclusora de palato realizados nos bebês foram mensurados a gravidade da fissura labiopalatina, e aos 9 anos de idade através de Cefalometrias foi avaliado o grau de comprometimento no crescimento maxilar. A conclusão deste estudo sugeriu uma influência associada entre a severidade da fissura e o crescimento maxilar (CHIU et al., 2011). 2.4 Enxerto ósseo alveolar Foi realizada uma pesquisa em um grupo de 24 pacientes fissurados. Nem todo paciente fissurado é um candidato para enxerto ósseo secundário. Este procedimento causou controvérsias na reabilitação de pacientes com fenda labial e palatina. Embora foram publicados os primeiros relatos de enxerto ósseo primário na literatura alemã por Lexer em 1908 e Darchter em 1914, o procedimento não foi popularizado até 1950, quando muitos centros europeus e americanos adotaram a técnica. Técnicas de enxerto ósseo secundário aguardam o crescimento até o começo da erupção da dentição permanente. Vários centros adotaram este procedimento e informaram resultados favoráveis. Depois de avaliar pacientes tratados sem enxerto ósseo em sua instituição, chegou a várias conclusões: 1- resultado cosmético desfavorável, com falta de apoio da base alar e projeção nasolabial no lado da fenda; 2- condições intra-orais deficientes: persistentes fístulas oro-nasais, terapias ortodônticas instáveis e com extrações de pré-molares, reposição protética de dentes perdidos em região de fenda, além de problemas periodontais dos dentes adjacentes a fenda. Indicações para este procedimento incluem cinco benefícios: 1- ajuda no fechamento de fístulas oro- 35 nasais persistentes; 2- provisão de apoio ósseo para dentes não-erupcionados e adjacentes à fenda; 3- formação de um processo alveolar contínuo; 4estabilização dos segmentos maxilares e 5- apoio da base alar e contorno nasolabial. Em seu estudo, os pacientes foram examinados por Ortodontistas, periodontistas, protesista e cirurgião bucomaxilofacial. Todos os pacientes foram operados pelo mesmo cirurgião e a técnica foi descrita primeiro por Boyne e Sands, que consistiu de enxerto de osso ilíaco. Dezessete sofreram enxerto antes da erupção do canino, e em apenas um requereu exposição cirúrgica e tracionamento ortodôntico do canino. Em geral, caninos erupcionados após o enxerto parecem mais estáveis comparados aos erupcionados antes do enxerto. Houve aparecimento radiográfico normal de trabeculado ósseo na região, com exceção de dois casos que eram fendas bilaterais, e este aparecimento ocorreu com diferentes padrões comparados com lados opostos. A estabilidade da premaxila nestes casos progride de seis meses a um ano. A cronometragem da colocação do enxerto ósseo é melhor determinada por desenvolvimento dental e não por idade cronológica. Em sua experiência, deve ocorrer antes da erupção do canino quando ele estiver com ½ à ⅔ de raiz formada. Dado algumas circunstâncias, é desejável para colocar o enxerto em uma fase mais precoce de desenvolvimento, especialmente se incisivos laterais ou centrais adjacentes à fenda estiverem girados, e o seu alinhamento exige movimentos em região da fenda. Observou resultados mais previsíveis quando são iniciados movimentos dentários na região enxertada mais cedo, duas a três semanas após o enxerto (TURVEY et al., 1984). Houve uma pesquisa com 28 pacientes com FLP unilateral. Foram submetidos à enxerto ósseo em idades entre oito e 13 anos. Avaliou-se condições periodontais dos dentes em região de fenda de um período anterior ao enxerto ósseo até a erupção completa do canino na região enxertada. Observou-se aumento de gengiva inserida e queratinizada. Os caninos em regiões enxertadas mostraram condições semelhantes ao de lado oposto. Os resultados foram 14 a 62 meses após o enxerto ósseo. Apenas em um paciente não obteve sucesso, devido a uma infecção pós-operatória. A influência de intervenção ortodôntica não foi avaliada neste trabalho, apesar de oito pacientes terem passado por terapia ortodôntica antes do exame pré- 36 operatório e 13 pacientes entre a cirurgia e o exame pós-operatório (AndlinSobocki et al., 1995). Foi realizado um estudo a longo prazo com 46 pacientes com FLP unilateral tratados com enxerto ósseo secundário realizado por diferentes cirurgiões com diferentes graus de experiência, onde foram avaliados: largura da fenda, fase de erupção do canino, presença ou ausência e posicionamento de incisivo lateral permanente. Enxerto de osso secundário em fendas alveolares de pacientes fissurados tornou-se um procedimento bem aceito e vantajoso. As vantagens podem ser resumidas como: 1- estabilização do arco dental; 2- facilitação da erupção do canino; 3- apoio ósseo para dentes adjacentes à fenda; 4- aumento da base alar do nariz; 5- facilitação do fechamento de fístulas oro-nasais; 6- possibilidade de inserção de implante de titânio para suporte de um dente artificial. A idade média dos pacientes foi de 13,6 anos. Dados clínicos relacionados à cirurgia foi de uma média de 88 ml.de sangue perdido, duração média de 86 min. A altura de osso alveolar era maior quando o enxerto foi executado antes da erupção do canino, e por cirurgiões mais experientes (KALAAJI et al., 1996). Foram estudadas vantagens e desvantagens entre o enxerto ósseo primário e secundário. Apesar de poucos indicarem o enxerto primário, o que se defende na realização deste procedimento é que previne o colapso maxilar dando melhor apoio ósseo e maior reparação de tecido mole e base alar, facilitando a alimentação e desenvolvimento de uma dentição normal. Porém, estudos a longo prazo mostraram que o enxerto não mantém o ritmo de desenvolvimento vertical do processo alveolar e inibe o crescimento lateral e anterior da maxila provocando um crescimento facial desfavorável. Já no enxerto ósseo secundário há um pequeno rompimento do crescimento facial, pois o paciente já atingiu boa parte dele antes do enxerto ser realizado. Além disso, os caninos impactados quando presentes tendem a migrar na área enxertada, resultando num melhor desenvolvimento da dentição e seu aspecto periodontal, o que facilita o posterior tratamento ortodôntico e sua estabilidade. Apesar das vantagens e desvantagens de cada método, algum grau de hipoplasia de terço médio de face e dismorfia focal permanece em todos os pacientes fissurados após enxerto primário ou secundário. O autor optou por 37 enxerto ósseo secundário, pois os estudo indicam não inibição do crescimento maxilar, além de diversas vantagens: 1- em um paciente mais velho, mais osso está disponível para retirar do ilíaco; 2- enxerto realizado pouco antes da erupção do canino ajuda na sua erupção na região enxertada, levando suporte ósseo, estabilizando o enxerto e dando melhor condições periodontais na região (KOKKINOS et al., 1997). Já se foi comentada a persistência do alvéolo fissurado. As cirurgias primárias defendidas no HRAC – USP incluem manipulação apenas de tecido mole: queiloplastia e palatoplastia, o que significa que após as cirurgias reconstrutoras persiste a ausência de tecido ósseo entre os processos palatinos. Este aspecto ganha importância clínica na área do rebordo alveolar cuja deficiência óssea impede a movimentação ortodôntica dos dentes adjacentes e limita o alinhamento dentário aos segmentos alveolares separados. Visando concepções alternativas e mais eficientes de tratamento, o HRAC - USP deu um passo adiante quando importou de Oslo e introduziu recentemente em seu protocolo de tratamento das fissuras com defeito ósseo alveolar o projeto de “enxerto ósseo secundário” na dentadura mista, preferencialmente antes da irrupção do canino permanente, na faixa etária compreendida entre nove e 11 anos. Esse enxerto de osso medular, retirado da crista ilíaca, preenche o alvéolo e se reintegra totalmente dentro de três meses, permitindo a irrupção espontânea bem como a movimentação ortodôntica sobre o novo osso, sem o inconveniente de restringir o crescimento sagital e/ou vertical da maxila. A despeito dos benefícios do enxerto ósseo secundário, a escassa literatura não confirma a melhora da estabilidade nas dimensões transversais do arco dentário superior. Para a reabilitação máxima do paciente fissurado não basta a contribuição da Ortodontia. Há um ponto capital que deve ser mantido em mente: uma equipe atada a uma filosofia unívoca que encerre um mínimo de ética e de responsabilidade compartilhada, reconhecendo deficiências e lutando para superá-las com atitudes racionais e positivas (SILVA FILHO et al., 1998). Um estudo panorâmico do enxerto ósseo secundário no protocolo de tratamento do paciente com fissura labiopalatina avalia, retrospectiva e longitudinalmente, com radiografia panorâmica (FIG. 6), o comportamento do 38 canino permanente após a realização do enxerto ósseo secundário. Segundo Capelozza Filho & Silva Filho , do ponto de vista ortodôntico, o que as fissuras pré-forame incisivo completas (fissura de lábio e rebordo alveolar) e transforame incisivo (fissura completa de lábio e palato) guardam em comum diz respeito ao comprometimento do rebordo alveolar. Ambas as fissuras segmentam o arco dentário na região do incisivo lateral, quase sempre ausente. As cirurgias plásticas primárias, realizadas nos primeiros meses (queiloplastia) e anos de idade (palatoplastia), reparam o defeito do tecido mole, deixando uma fissura alveolar residual (FIG. 7). A persistência do defeito ósseo alveolar constitui um limite para a futura terapia ortodôntica já que por principio os dentes só podem ser movimentados dentro do osso. Diante deste limite, a reabilitação desses pacientes combina o alinhamento dos dentes nos seus respectivos segmentos alveolares com a subseqüente reposição protética do incisivo lateral. Durante longo tempo, a preservação da fissura alveolar refletiu o protocolo de tratamento obedecido no HRAC - USP até 1980. A partir de então, graças ao seu tenaz empenho, o HRAC-USP mudou, seguindo a experiência positiva de outros centros. O limite anatômico imposto pela descontinuidade do tecido alveolar foi vencido pelo preenchimento completo do defeito ósseo com osso medular esponjoso autógeno, retirado da crista ilíaca, num procedimento cirúrgico definido como enxerto ósseo. Nos dias de hoje, o enxerto constitui realidade inquestionável no protocolo de tratamento dos principais centros mundiais de reabilitação de pacientes portadores de fissura. A diferença fundamental entre eles, motivo de grande controvérsia, reside principalmente na época em que este enxerto é realizado. De acordo com a época de realização, o enxerto pode ser considerado primário, secundário e terciário (ou tardio). Para Johanson & Ohlsson o enxerto é dito primário quando realizado na primeira infância, na mesma época das cirurgias plásticas primárias. Argumenta-se que a agressividade resultante deste enfoque precoce prejudica ainda mais o crescimento maxilar, e justamente pelo seu caráter contraditório e contraproducente foi rejeitado pelo HRAC-USP, assim como tem sido abandonado por muitos dos centros que o praticavam. Quando realizado mais tarde, no final da dentadura mista, recebe o nome de enxerto ósseo secundário. O enxerto ósseo mais aceito entre os terapeutas e o escolhido para fazer parte do protocolo de tratamento do HRAC - USP é o enxerto ósseo 39 secundário. E segundo Boyne & Sands deve ser realizado preferencialmente antes da irrupção do canino permanente, prima por garantir suporte periodontal para a irrupção e preservação dos dentes adjacentes à fissura. O enxerto ósseo na dentadura permanente citado por Epstein et al., realizado após o término do tratamento ortodôntico corretivo, também muito usado, recebe o nome de enxerto ósseo tardio ou terciário. Está indicado principalmente para facilitar a reabilitação protética e periodontal, além de favorecer o fechamento de fístulas buconasais persistentes. Apresenta o inconveniente de não resolver problemas de perda óssea nos dentes adjacentes à fissura, e ocasionalmente provocar reabsorção radicular progressiva no terço cervical dos dentes adjacentes à fissura, principalmente o canino. A julgar pela criteriosa literatura, o enxerto ósseo secundário concilia oclusão e face ao transformar o alvéolo fissurado num alvéolo íntegro, sem potencializar o já conhecido efeito iatrogênico das cirurgias primárias sobre o crescimento da maxila. A técnica cirúrgica foi difundida e popularizada pela equipe de Oslo. O osso medular enxertado preenche a fissura alveolar residual incorporando-se anatomicamente ao osso adjacente, tornando-se indistinguíveis na imagem radiográfica após um período médio de três meses. Essa incorporação estrutural foi comprovada histologicamente em macacos rhesus jovens e parece ocorrer com maior velocidade em pacientes mais jovens. O benefício mais importante do enxerto ósseo secundário, do ponto de vista ortodôntico, é que, além do padrão estrutural adquirido na radiografia, o osso recémenxertado assume para si as funções do osso alveolar, permitindo inclusive a migração espontânea do canino adjacente em formação e em irrupção ativa. Quando o canino não irrompe espontaneamente, é possível lançar mão do tracionamento ortodôntico. De uma ou de outra maneira, o dente ao irromper traz consigo o periodonto de sustentação e proteção, mantendo na maior parte das vezes uma boa altura do septo ósseo interdentário, razão pela qual os resultados periodontais são superiores quando o enxerto ósseo precede o aparecimento do canino na cavidade bucal. A aparência clínica da região é boa, com contorno normal do rebordo alveolar. A soma das benécies atribuídas ao enxerto ósseo secundário é grande demais para ser contida nas fronteiras da discussão meramente estética. Com o novo protocolo de tratamento a Ortodontia subordinou-se ao enxerto ósseo secundário, centrando a fase ativa 40 da mecanoterapia em dois estágios bem definidos: pré e pós-enxerto ósseo secundário. A fase pré-enxerto ósseo prepara o arco dentário superior para receber o osso, proporcionando assim melhor acesso ao cirurgião no transoperatório, e alinha os incisivos permanentes quando necessário. Esse preparo inclui mecânica predominante transversal, com a expansão ortodôntica ou preferencialmente ortopédica – vocação comprovada na equipe do HRAC USP na dentadura mista, com o intuito de reposicionar os segmentos palatinos. Ocasionalmente a mecânica transversal pode ser complementada com a ortopedia sagital, diante da tração reversa da maxila, nos casos de deficiência sagital tratável ortodonticamente. A Ortodontia pós-enxerto ósseo, agora na ausência da fissura alveolar, tem início três meses após o preenchimento ósseo, na dependência do exame radiográfico, e objetiva o posicionamento final dos dentes permanentes, incluindo a movimentação de dentes na área enxertada. O auto-transplante de osso elimina o defeito ósseo como limite para o planejamento ortodôntico. Este estudo, radiográfico e retrospectivo, permitiu fazer uma avaliação longitudinal, durante um período médio de três anos, com uma variação entre um ano e cinco anos de acompanhamento de 50 pacientes escolhidos aleatoriamente no arquivo de documentação do HRAC-USP. Os pacientes selecionados inauguraram uma nova fase dentro da pesquisa clínica do HRAC - USP visto que todos passaram pelo jovem protocolo de tratamento da instituição: a- cirurgias primárias na infância, b- ausência de ortopedia maxilar precoce pré e pós-cirurgias primárias, c- tratamento ortodôntico na dentadura mista, d- enxerto ósseo secundário no final da dentadura mista, e etratamento ortodôntico corretivo final. O acompanhamento radiográfico destes 50 pacientes com fissura envolvendo o rebordo alveolar comprovou a espetacular adaptação do osso medular esponjoso da crista ilíaca transportado para a área receptora, chegando a ser impossível distinguir os limites mesial e distal da área fissurada; fato já consagrado na literatura. Ficou comprovado também pelas radiografias oclusais e principalmente panorâmica que a medida que o tempo passa o canino desce em direção ao plano oclusal, atravessando o osso enxertado e criando uma boa condição periodontal (FIG. 8). Isso concorda com a literatura, que tem declarado que os dentes tendem a irromper através do osso enxertado. Durante um período médio de três anos de acompanhamento, o canino percorreu uma distância média de 10 mm na sua 41 trajetória em direção ao plano oclusal, o que corresponde a uma velocidade média de 3,3 mm, ao ano. Embora o panorama terapêutico do odontólogo, em especial do Ortodontista, tenha melhorado com o enxerto ósseo secundário, não se pode considerar resolvido de uma vez por todas o problema do canino. Ele tende a irromper através do novo osso. Como foi comentado, 72% dos caninos irromperam espontaneamente. Mas ocasionalmente o canino precisa de estímulo extrabiológico para sua irrupção. Vários autores têm comentado a possibilidade de condutas cirúrgicas, acompanhadas ou não de intervenções ortodônticas, com o intento de estimular a irrupção deste dente na área enxertada. Essa conduta inclui a simples exposição dos caninos em questão, com dados na literatura da ordem de 9% e 17%, e o tracionamento ortodôntico com porcentagens da ordem de 5%, 7%, 50% e 56%. O ponto alto da irrupção do canino através do enxerto ósseo está na possibilidade de finalização do tratamento ortodôntico sem prótese ou, no caso da opção pela prótese na região do incisivo lateral ausente, sem a necessidade da gengiva artificial (SILVA FILHO et al., 1999). Figura 6. Acompanhamento radiográfico (radiografia panorâmica) desde 1 mês antes do enxerto até dois anos e quatro meses após o mesmo. FONTE: SILVA FILHO et al., 1999. 42 Figura 7. Fissura unilateral completa de lábio (A) e palato (B) (transforame unilateral do lado direito). Queiloplastia (C) realizada aos três meses de idade e palatoplastia (D) realizada aos 18 meses de idade. FONTE: SILVA FILHO et al., 1999. 43 Figura 8. Acompanhamento da irrupção do canino permanente na área enxertada A) Pré enxerto ósseo B) Pósenxerto ósseo C) Três meses pós-enxerto ósseo D) Seis meses pós enxerto ósseo E) Um ano pós enxerto ósseo F) Um ano e dois meses pós enxerto ósseo. FONTE: SILVA FILHO et al., 1999. Resultados mais favoráveis foram alcançados em casos de enxerto ósseo alveolar antes da erupção do canino juntamente com tratamento ortodôntico pré e pós-enxerto, do que em casos de enxerto ósseo alveolar após a erupção do canino. Pacientes com FLP devem receber tratamento cirúrgico, ortodôntico, fonoaudiológico e dentário seguindo um conceito de protocolo multidisciplinar. O cronograma de tratamento faz parte do sucesso do tratamento de enxerto ósseo secundário. Existe uma diferenciação entre o enxerto ósseo secundário antes e após a erupção do canino. A taxa média de sucesso a longo prazo do enxerto ósseo secundário é de 72%, variando de 95% quando realizado antes da erupção do canino, e 67% a 91% quando realizado após a erupção do canino (Schultze-Mosgau et al., 2003). Foram avaliados os resultados de enxerto ósseo alveolar secundário em pacientes com diversos tipos de fenda. Os melhores resultados foram alcançados quando o enxerto realizado entre nove e 11 anos, antes da erupção do canino. Em todos os pacientes, o enxerto foi realizado seguindo o mesmo 44 protocolo (proposto por e pelo mesmo cirurgião). Quando as cirurgias foram realizadas antes da erupção do canino a taxa de sucesso para fissuras préforame, fissuras transforame unilateral, e fissuras transforame bilateral foram 94, 95 e 91% respectivamente. Porém, quando realizadas após a erupção do canino as taxas de sucesso foram 96, 83, e 68% respectivamente. As diferenças nas taxas de sucesso nas fissuras não foram significativas estatisticamente. Antes de começar o tratamento ortodôntico, a região enxertada deve ser cuidadosamente examinada. Quando se tem êxito no enxerto, o tratamento ortodôntico pode ser iniciado, porém quando isto não ocorre, não podemos movimentar ortodonticamente o dente em região de fenda, antes de uma segunda intervenção cirúrgica (JIA et al., 2006). Carvalho (2011) através de um estudo em 24 pacientes com FLP transforame unilateral na época ideal para realização do enxerto ósseo alveolar (antes da irrupção do canino permanente) avaliou a regeneração óssea nos defeitos alveolares congênitos com proteína morfogenética óssea (rhBMP-2) em membrana de colágeno reabsorvível. A amostra foi dividida em grupo controle onde receberam enxerto autógeno de crista ilíaca e o grupo teste onde receberam proteína morfogenética óssea recombinante humana (rhBMP2) em esponja de colágeno absorvível (MCA). Em ambos os grupos foram feitos controles pós-operatórios através de radiografias periapicais e tomografias no período de 06 e 12 meses, além de exames clínicos neste intervalo. A conclusão foi de que a rhBMP-2 em membrana reabsorvível de colágeno produziu resultado semelhantes ao enxerto autógeno de medula de crista ilíaca. 45 3 PROPOSIÇÃO Baseado na presente Revisão de Literatura, onde é colocada de forma relevante a questão da influência das cirurgias primárias no crescimento craniofacial, a importância deste trabalho se dá diante à necessidade de avaliar o uso de ortopedia precoce em pacientes com fissura labiopalatina para reposicionamento maxilar por meio de placas oclusoras de palato. O objetivo deste trabalho consistiu em avaliar a eficácia no uso das placas oclusoras de palato em pacientes com fissura labiopalatina transforame incisivo unilateral classificando a oclusão segundo índice de Atack. 46 4 MATERIAIS E MÉTODOS De acordo com a pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da SMSDC-RJ pelo protocolo n° 0186.0.314.000-10, em uma avaliação de aproximadamente 300 prontuários de pacientes nascidos entre os anos de 2003 à 2006 em tratamento no HMNSL-RJ foram encontrados 74 pacientes com FLP transforame incisivo unilateral que submeteram-se ao uso de placas oclusoras de palato. Seguindo de forma rigorosa os critério de inclusão em busca de uma amostra homogênea conseguiu-se selecionar modelos ortodônticos de gesso de 06 pacientes com idade entre 05 e 07 anos, de ambos os sexos. 4.1 Critérios de inclusão Foram incluídos na amostra pacientes que se apresentaram com: 1. termo de consentimento livre e esclarecido assinado, atestando anuência pesquisa sem qualquer tipo de remuneração, 2. fissura labioplatina transforame incisivo unilateral e dentição mista, 3. uso regular de ortopedia precoce para reposicionamento maxilar por meio de placas oclusoras de palato, 4. tratamento precoce através das cirurgias primárias de queiloplastia em tempo único e palatoplastia, 5. antes da cirurgia de enxerto ósseo alveolar secundário. 4.2 Obtenção dos elementos de diagnóstico Os pacientes foram submetidos à moldagem com silicona de condensação para confecção de modelos de gesso. A verba para as despesas relativas a esta modalidade de documentação foi provida pelo autor deste projeto. 4.3 Caracterização dos métodos sob estudo Foram obtidos modelos ortodônticos com gesso pedra branco, recortados e polidos, dos arcos superior e inferior, com registro em cera da máxima intercuspidação habitual. Os modelos estavam isentos de bolhas ou 47 fratura. Ademais, as regiões anatômicas em estudo apresentavam-se devidamente reproduzidas. Os modelos de gesso foram avaliados por 01 examinador previamente orientado e calibrado. O examinador realizou a avaliação dos modelos duas vezes em um intervalo de 07 dias – erro intra-examinador (repetibilidade). 4.4 Avaliação das características oclusais As características oclusais foram registradas em planilhas separadas segundo o método de diagnóstico. E estas classificadas de acordo com o índice de Atack (FIG. 9 à 13), que classifica o prognóstico de tratamento da oclusão em índices: 1 – excelente: trespasse vertical e horizontal positivos; ausência de mordidas cruzadas; crescimento maxilofacial muito bom; Figura 9. Indice 1 FONTE: MARS, 1987. 2 – bom: trespasse vertical e horizontal positivos; mordida cruzada posterior uni ou bilateral; crescimento maxilofacial bom; Figura 10. Indice 2 FONTE: MARS, 1987 48 3 – regular: mordida topo a topo anterior ou mordida cruzada anterior; mordida cruzada posterior uni ou bilateral; crescimento maxilofacial deficiente; Figura 11. Indice 3 FONTE: MARS, 1987 4 – pobre: limite do tratamento ortodôntico; Figura 12. Indice 4 FONTE: MARS, 1987 5 – muito pobre: somente cirurgia ortognática Figura 13. Indice 5 FONTE: MARS, 1987 4.5 Análise estatística 49 Neste estudo foi realizada uma análise estatística descritiva. E o coeficiente de correlação de Pearson teve valor r = 1; p < 0,0001. 5 RESULTADOS Após a classificação segundo o Índice de Atack, a amostra consistiu em 66,6% dos pacientes enquadrados no índice 1 e apenas 33,3% no Índice 3 (FIG.14 e 15). Figura 14. Percentual da amostra de acordo com cada Índice de Atack 50 Figura 15. Número de pacientes de acordo com cada Índice de Atack Figura 16. Paciente V.A.M.R.; gênero masculino; 05 anos; índice 1 FONTE: Clinica de Ortodontia HMNSL – RJ. 51 Figura 17. Paciente M.L.A.; gênero masculino; 07 anos; índice 1 FONTE: Clinica de Ortodontia HMNSL – RJ. 52 Figura 18. Paciente J.S.R.; gênero feminino; 05 anos; índice 1 FONTE: Clinica de Ortodontia HMNSL – RJ. 53 Figura 19. Paciente M.R.; gênero masculino; 06 anos; índice 3 FONTE: Clinica de Ortodontia HMNSL – RJ. 54 Figura 20. Paciente M.N.; gênero masculino; 05 anos; índice 3 FONTE: Clinica de Ortodontia HMNSL – RJ. 55 Figura 21. Paciente I.A.M.; gênero masculino; 06 anos; índice 1 FONTE: Clinica de Ortodontia HMNSL – RJ. 6 DISCUSSÃO O potencial de crescimento maxilar em crianças com fissura labiopalatina é normal (Capelozza Filho, 1978); porém as cirurgias reparadoras primárias de lábio e palato exercem pressão sobre os segmentos maxilares, já 56 que as forças exercidas pela musculatura podem deslocar um ou ambos os segmentos maxilares criando um arco maxilar distorcido e constrito (Subtelny,1966; Maisels, 1967; Mazaheri, 1971; Capelozza Filho, 1978; Huddart, 1985; Athanasiou, 1987; McCance, 1993; Atack, 1997; Melissaratou, 2002; Garrahy, 2005). A distância intercanino é a que mais sofre influência, apresentando-se mais constrita na grande maioria dos casos de crianças fissuradas comparada a grupos de crianças não-fissuradas (Huddart,1985; Nystrom, 1990; Tomanová,1994; Honda, 1995; Heidbuchel, 1997; Garrahy, 2005). O arco mandibular, embora de muito menor magnitude, tendem a sofrer uma pequena influência devido reflexo da constrição maxilar (Capelozza Filho, 1978; Athanasiou, 1987). Atualmente este fator negativo de crescimento relacionado as cirurgias reparadoras primária justificam-se muito mais pela técnica utilizada e não o tempo de realização das mesmas (Mazaheri, 1971; Capelozza Filho, 1978; Melissaratou, 2002). E diversos autores relatam que o crescimento maxilar nestes pacientes tendem a retornar a um padrão de normalidade ao final da dentição decídua, por volta do quatro anos de idade (Mazaheri, 1971; Heidbuchel, 1998). A extensão e o tipo de fissura estão extremamente relacionados a restrição de crescimento, e as fissuras labiopalatina completa unilateral ou bilateral são as mais prejudicadas, isto devido ao fato de terem grande comprometimento do rebordo alveolar (Suzuki, 1993; Peltomaki,2001). Já para Pruzansky (1955) as cirurgias reparadoras primárias não deveriam ser atribuídas a restrição de crescimento em todos as situações. E ainda relatou que o correto posicionamento das bases ósseas na infância é fundamental para a erupção dos dentes permanentes e para o crescimento e desenvolvimento maxilofacial (O’Donnell, 1974; McNeil, 1984; Hochban,1989; Carvalho, 2004). O efeito da ortopedia pré-cirúrgica sobre o alinhamento dental e crescimento maxilar vem sendo considerado lógico na melhoria da simetria alveolar (O’Donnell, 1974; Huddart,1977, Mc Neil, 1984; Trenité, 1990). Porém para muitos autores o que ocorre não é estímulo de crescimento propriamente dito, mas sim um renivelamento adequado dos segmentos maxilares e 57 reposicionamento ortopédico da pré-maxila (Gnoinski, 1982; Hochban, 1989; Carvalho, 2004). A utilização da ortopedia pré-cirúrgica resulta em melhor angulação dos segmentos maxilares contribuindo para o estreitamento da fissura, proporcionando uma melhor base para as cirurgias reparadoras primárias (Gnoinski, 1982; Hochban, 1989; Trenité, 1990; Carvalho, 2004). Esta terapia resulta em melhoria funcional a criança proporcionando: nutrição adequada; diminuição de problemas respiratórios e auditivos; prevenção a irritação do septo nasal; orientação a posição anatômica da língua além de apoio psicológico a família. Porém o tratamento é extremamente dependente de colaboração, principalmente por parte de familiares, além de exigir excelente moldagem do paciente, minimizando assim a dificuldade de retenção das placas (Carvalho, 2004). A descrição da técnica realizada por este autor está diretamente relacionada a prática vista durante a realização desta pesquisa no Hospital Municipal Nossa Senhora do Loreto – RJ, preconizador desta terapia em seu protocolo de tratamento. Os pacientes desta unidade são submetidos a moldagem com moldeiras individuais em acrílico e material do tipo silicona de condensação pasta pesada, proporcionando assim uma moldagem de excelência. A placa oclusora de palato é então confeccionada com acrílico auto-polimerizável e sua retenção na boca da criança é auxiliada por materiais fixadores utilizados em prótese total. Apesar da utilização da ortopedia pré-cirúrgica proporcionar inúmeros benefícios como realinhamento dos elementos ósseos da maxila, estímulo de crescimento da prateleira palatina quando possível e uma base mais normal para as cirurgias (O`Donnell, 1974; Gnoinski, 1982; Hochban, 1989); permanece nos pacientes com fissura labiopalatina a falta de continuidade do rebordo alveolar, instabilidade ortopédica, fístulas oronasais persistentes além de apoio ósseo inadequado para a base alar sendo assim necessário nestes pacientes o enxerto ósseo alveolar (Turvey, 1984; Kalaaji, 1996; silva Filho, 1998). A amostra inicial proposta a este estudo seria de 20 pacientes, baseada em estudos anteriores com número aproximado (Graziosi, 2000; Peltomaki, 2001). Heidbuchel (1998) já observou a dificuldade em uma amostra 58 homogênea. O presente estudo baseando-se em 300 prontuários, após em um rigoroso critério de inclusão foi realizado com uma amostra de seis pacientes, o que nos permitiu uma conclusão por se tratar de um estudo descritivo, não havendo assim a necessidade de uma maior amostra incluindo diversos grupos ou grupo controle. Não podemos, com este estudo, afirmar benefícios da ortopedia précirúrgica no crescimento maxilofacial destes pacientes. Porém durante nossa experiência na unidade percebemos o grande beneficio funcional e psicológico promovido pela técnica. O sucesso no prognóstico dos pacientes avaliados neste estudo não pode ser relacionado apenas a sua utilização e sim a diversos outros fatores não abordados neste estudo como o protocolo de cirurgias primárias, o tipo de fissura e padrão facial. A análise de modelos mostra-se de grande interesse terapêutico no tratamento dos pacientes com fissura labiopalatina, pois o mesmo esclarece ao cirurgião dentista todas as alterações dimensionais ocorridas nas arcadas dentárias destes pacientes, além da sua classificação em índices favorecer a interação multiprofissional no entendimento com relação ao prognóstico de tratamento (Mars, 1987; Atack, 1997; Ozawa, 2011). Os resultados desta análise podem ser comparados entre grupos da amostra, ou ainda a valores de normalidade já pré-estabelecidos, como por Moorrees (1959). No intuito de desconsiderar a subjetividade na classificação dos índices, entende-se como mordida cruzada posterior apenas quando há coincidência na oclusão da cúspide mésio-vestibular dos primeiros molares superiores com o sulco central dos primeiros molares inferiores. 59 7 CONCLUSÃO O alto percentual de ausência de mordida cruzada (índice de Atack 1) permitiu desta forma sugerir com este estudo que o uso da ortopedia précirúrgica através das placas oclusoras de palato foi eficiente sem interferência negativa sobre a relação oclusal dos pacientes. 60 8 REFERÊNCIAS Andlin-Sobocki A, Eliasson LA, Paulin G. Bone grafting in patients with cleft lip and cleft palate. Am J Orthod Dentofacial Orthop 1995;107(2):144-52. Atack N, Hathom I, Mars M, Sandy J. Study models of 5 year old clildren as predictors of surgical outcome in unilateral cleft lip and palate. Europ J Orthod 1997;19:165-70. Athanasiou AE, Mazahery M, Zarrinia K. 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