1 Crotalaria pallida Aiton versus Clitoria laurifolia Poir como potencial para adubação verde(1) Crísea Cristina Nascimento de Cristo(2); André Suêldo Tavares de Lima(3); Ellen Carine Neves Valente(4) (1) Trabalho executado com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (3) Estudante; Instituto Federal de Alagoas; Maragogi, Alagoas; [email protected]; Professor; Instituto Federal (4) de Alagoas; Professora; Instituto Federal de Alagoas. (2) RESUMO: Entre as espécies empregadas na adubação verde, as da família das leguminosas se destacam por formarem associações simbióticas com bactérias fixadoras de N2, resultando aporte de quantidades expressivas deste nutriente ao sistema solo-planta, contribuindo com a nutrição das culturas subsequentes. O objetivo desta pesquisa foi avaliar características agronômicas de duas leguminosas subarbustivas de crescimento espontâneo como potencial para utilização como adubo verde. Foram avaliados os parâmetros: Altura da planta (AP), Comprimento da Raiz (CR), Matéria Fresca da Parte Aérea (MFPA) e Raiz (MFR), Matéria Seca da Parte Aérea (MSPA) e Raiz (MSR). Os resultados encontrados poderão possibilitar a indicação e utilização dessas leguminosas para uso como adubo verde, sobretudo, na zona da mata norte de Alagoas. Termos de indexação: leguminosas, fixação de nitrogênio. INTRODUÇÃO O nitrogênio (N) é um dos nutrientes que mais limitam o crescimento das plantas nos trópicos. Portanto, o uso de adubos verdes, capazes de realizar a fixação biológica de nitrogênio (FBN) eficientemente, pode representar contribuições consideráveis na viabilidade econômica e sustentabilidade dos sistemas de produção (Boddey et al., 1997), por reduzir a necessidade da aplicação de N sintético nos agroecossitemas. A adubação verde é uma prática favorável a melhoria das condições químicas, físicas e biológicas do solo. Seus benefícios podem ser notados na melhoria das estruturas dos solos; contribui para maior infiltração de água, manutenção da umidade, conserva o solo com cobertura vegetal (viva ou morta) na maior parte do ano, o que evita erosão, gera aumento da capacidade de troca catiônica (CTC), aumento do teor de matéria orgânica, diminuição da acidez e do alumínio tóxico, favorece a ciclagem de nutrientes, aporte de nitrogênio, principalmente quando se utilizam leguminosas, incorporando esse nutriente ao sistema solo-planta, via fixação biológica do N2 (Perin et al., 2004; Barradas et al., 2001; Gouveia & Almeida, 1997; Calegari, 1990 ). A família fabaceae se sobressai das demais espécies utilizadas para fins de adução verde, já que as suas raízes apresentam relação simbiótica com bactérias fixadoras de N2, contribuindo para o ciclo proveitoso deste nutriente ao sistema soloplanta. Outras características importantes das leguminosas são: a baixa relação C/N, quando comparada a plantas de outras famílias, rusticidade, rapidez na formação da cobertura do solo, elevada produção de biomassa mesmo em solos de baixa fertilidade, eficiência na ciclagem de nutrientes (Bortoloni et al., 2000; Calegari, 2002), aliado à presença de compostos solúveis que favorece sua decomposição e mineralização por microrganismos do solo (Zotarelli, 2000). A produção de biomassa também é uma característica reconhecida das leguminosas utilizadas como adubos verdes. Entretanto, existe uma grande variação nessa produção, conforme as condições nas quais essas leguminosas crescem. Diversos estudos mostram que o comportamento das plantas usadas como adubo verde é dinâmico e variável. Assim o sucesso deste tipo de adubação irá depender: das espécies, dos sistemas de cultivo e das condições edafoclimáticas onde são cultivadas (Alvarenga et al., 1995; Barradas et al., 2001; Barreto et al., 1997; Debarba & Amado, 1984; Gouveia et al., 1997; Medeiros et al, 1987; Melo Filho et al., 2000). Os dados sobre a adaptabilidade de leguminosas nativas, ou bem adaptadas, para serem utilizadas como adubos verdes são escassos, especialmente para regiões litorâneas, onde há condições de clima favoráveis ao desenvolvimento das plantas estudadas. Entendendo, por conseguinte, a importância da identificação e estudo de espécies de leguminosas que apresentam adaptabilidade às condições edafoclimáticas das regiões onde são encontradas esse trabalho se propôs a gerar informações agronômicas que possam indicar possibilidades para o melhor aproveitamento de suas potencialidades, bem como identificar práticas de manejo que possam aumentar a produtividade das culturas. 2 MATERIAL E MÉTODOS No período de fevereiro/2016 a junho/2016 foi conduzido, no município de São Luís do Quitunde Alagoas, um experimento em vasos, para avaliar características agronômicas de duas espécies de adubos verdes. A princípio não se tinha nenhum tipo de identificação botânica das plantas e estas foram identificadas pelas características morfológicas das sementes sendo a primeira denominada Leguminosa Amarela (LA) e a segunda Leguminosa Grudenta (LG). Posteriormente, foram levadas ao Herbário IPA – Dárdano de Andrade Lima localizado em Recife/PE, para identificação botânica, onde constatou-se que a chamada Leguminosa Amarela é a Crotalaria pallida Aiton, e a Leguminosa Grudenta é a Clitoria laurifolia Poir. Foram avaliados os parâmetros: Altura da planta (AP), Comprimento da Raiz (CR), Matéria Fresca da Parte Aérea (MFPA), Raiz (MFR) e Nódulos (MFN), Matéria Seca da Parte Aérea (MSPA), Raiz (MSR) e Nódulos (MSN) e número de nódulos. Para o experimento foram utilizadas duas leguminosas subarbustivas com excelente adaptação a região do litoral norte alagoano, cultivadas em vasos com capacidade para dois kg de solo. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2 x 2 (duas leguminosa x duas épocas de avaliação) em seis repetições totalizando 24 unidades experimentais. As avaliações foram realizadas 60 e 120 dias após a semeadura. Os dados foram submetidos à análise de variância e quando necessário às médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. A leguminosa grudenta não apresentou nodulação na avaliação aos 60 dias e apenas uma planta nodulou quando avaliada aos 120 dias. Isso sugere que está leguminosa necessita de bactérias especificas para realizar simbiose. A leguminosa amarela apresentou médias de 0,06g, 0,01g e 15 para MFN, MSN e número de nódulos por planta, respectivamente, quando avaliadas aos 60 dias. Aos 120 dias de semeadura as leguminosas amarelas apresentaram 5,03g de MFN, 1,03g de MSN e 60 nódulos por planta. CONCLUSÕES A Crotalaria Pallida Aiton apresentou melhor desempenho decorrente da maior produção de fitomassa. Estudos futuros são necessários comparando a Crotalaria Pallida Aiton com outras espécies de leguminosas já consolidadas no mercado agronômico. A relação simbiótica que a Clitoria Laurifolia Poir mantém com as bactérias precisa ser melhor avaliada. Foi possível identificar, sobretudo na Crotalaria Pallida Aiton, características agronômicas eficientes que possibilitam a indicação das leguminosas como adubos verdes na região da mata norte de Alagoas AGRADECIMENTOS Agradecemos o apoio financeiro disponibilizado pelo CNPq para o desenvolvimento da pesquisa, assim como ao Instituto Federal de Alagoas – Campus Maragogi. Aos colaboradores que se dispuseram a participar e apoiar o projeto. RESULTADOS E DISCUSSÃO REFERÊNCIAS De acordo com os parâmetros avaliados após 60 dias de semeadura (Tabela 01), não houve diferença estatística entre as leguminosas estudas. Observou-se nesse período que ambas as leguminosas apresentaram o mesmo desenvolvimento. Após 120 dias transcorridos da semeadura a leguminosa amarela destacou-se da grudenta com relação a matéria fresca e seca da parte aérea (Tabela 02). Essa informação é bastante relevante uma vez que o incremento de nitrogênio ao solo se da pela incorporação da fitomassa da leguminosa. 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Balanço de nitrogênio na rotação de culturas em sistema de plantio direto e convencional na região de Londrina - PR. 2000. 134p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica. 4 Tabela 01 – Altura da planta (AP), Comprimento da Raiz (CR), Matéria Fresca da Parte Aérea (MFPA) e Raiz (MFR), Matéria Seca da Parte Aérea (MSPA) e Raiz (MSR) de duas leguminosas após 60 dias de semeadura. Parâmetro Avaliado Leguminosa Amarela Leguminosa Grudenta CV (%) AP (cm) CR (cm) MFPA (g) MFR (g) MSPA (g) MSR (g) 14,75a 20,25a 3,06a 2,92a 0,59a 0,24a 16,00a 17,00a 1,97a 0,97a 0,43a 0,16a 39,63 28,64 37,29 42,83 17,78 9,33 Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si a 5% pelo teste de Tukey. Tabela 02 – Altura da planta (AP), Comprimento da Raiz (CR), Matéria Fresca da Parte Aérea (MFPA) e Raiz (MFR), Matéria Seca da Parte Aérea (MSPA) e Raiz (MSR) de duas leguminosas após 120 dias de semeadura. Parâmetro Avaliado Leguminosa Amarela Leguminosa Grudenta AP (cm) CR (cm) MFPA (g) MFR (g) MSPA (g) MSR (g) 54,66a 23,00a 75,86a 44,30a 18,26a 5,33a 38,50a 21,66a 33,43b 29,56a 3,90b 2,26a CV (%) 14,48 4,28 10,37 11,84 23,98 22,32 Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si a 5% pelo teste de Tukey.