Índios estão integrados ao modo de vida urbano, afirma pesquisa Os índios brasileiros estão integrados ao modo de vida urbano. Televisão, DVD, geladeira, fogão a gás e celulares são bens de consumo que já foram incorporados à rotina de muitas aldeias. A formação universitária é um sonho da maioria deles. Pesquisa inédita do Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela esse perfil. Entre os dias 7 de junho e 11 de julho, foram realizadas 1.222 entrevistas, em 32 aldeias com cem habitantes ou mais, em todas as regiões do país. Segundo a pesquisa, 63% dos índios têm televisão, 37% têm aparelho de DVD e 51%, geladeira, 66% usam o próprio fogão a gás e 36% já ligam do próprio celular. Só 11% dos índios, no entanto, têm acesso à internet e apenas 6% são donos de um computador. O rádio é usado por 40% dos entrevistados. Para o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), “é evidente que essa novidade produz mudanças, mas isso não significa a instalação de um conflito cultural. Não é o fato de adquirir uma TV ou portar um celular que fará alguém ser menos indígena”. De todo modo, os números ainda estão longe dos percentuais de acesso a bens de consumo da média da população. No Brasil como um todo, segundo o IBGE, 98% têm televisão; 82%, aparelho de DVD; e 79% têm celular. A pesquisa teve ainda o intuito de avaliar as condições de vida dos indígenas. Questionados sobre o principal problema enfrentado no Brasil, 29% dos entrevistados apontaram as dificuldades de acesso à saúde. A situação territorial ficou em segundo lugar (24%), seguida da discriminação (16%), do acesso à educação (12%) e do emprego (9%). Em relação ao principal problema enfrentado na vida pessoal, a saúde permaneceu em primeiro lugar para 30%. O emprego apareceu em segundo, com 16%, seguido de saneamento (16%). A questão territorial, nesse caso, desaparece. A pesquisa mostra que o aumento de fontes de informação tem influenciado a vida familiar dos índios: 55% conhecem e 32% usam métodos anticoncepcionais como camisinha e pílula. Mais de 80% ouviram falar da Aids. A maioria dos índios (67%) gostaria de ter uma formação universitária. Apesar de ser considerado muito importante para 79% dos entrevistados, o banheiro em casa só existe para 18% deles. Algumas características das aldeias: 69% têm postos de saúde; 88%, escolas; 59%, igrejas; 19%, mercados; e 6%, farmácias. Dois terços dos indígenas recebem do Bolsa Família A pesquisa sobre o perfil indígena feita pelo Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), revela que 64% dos índios são beneficiários do Programa Bolsa Família, recebendo em média R$ 153 por mês. A região Nordeste é a campeã do benefício: 76% dos índios recebem o programa social do governo. O Sul aparece em segundo com 71%; seguido do Centro-Oeste (63%), Norte (56%) e Sudeste (52%). Mesmo com os benefícios, 36% afirmam ser insuficiente a quantidade de comida que consomem. A maioria dos índios (76%) bebe água que não é filtrada nem fervida. As doenças infectocontagiosas atingem 68% e os problemas estomacais, como diarreia e vômito, 45%. Os índios também afirmam que luz elétrica, água encanada, rede de esgoto e casa de alvenaria são muito importantes para eles. Mais de 70% dos índios ouvidos atribuem muita relevância à atuação da Funai (Fundação Nacional do Índio) na sua aldeia. No entanto, 39% reprovam o desempenho do órgão, avaliando-o como ruim ou péssimo. Cesta Básica Quase metade dos entrevistados (46%) relatou receber cesta básica da Funai ou da Funasa (Fundação Nacional da Saúde). Os índios da região Nordeste são os que mais recebem o benefício: 79%. Na região Norte apenas 7% ganham a cesta básica. O acesso ao atendimento médico é considerado difícil por 63% dos índios; 69% deles foram atendidos em postos de saúde dentro da aldeia e 12% dentro de casa. Eles ainda usam mais os remédios naturais (66%) do que os farmacêuticos (34%). A maioria dos índios (66%) sabe ler, e 65% sabem escrever na língua portuguesa. Segundo a pesquisa, 30% exercem trabalho remunerado, mas somente 7% têm carteira assinada. A agricultura é exercida por 94%, e 85% praticam a caça; 57% deles consideram que o tamanho das terras onde vivem é menor do que o necessário. O índios também citaram algumas medidas governamentais que poderiam melhorar a vida dos indígenas no país: intervenções na área da saúde (25%), demarcação de terras (17%), reconhecimento dos direitos indígenas (16%), investimentos públicos (15%) e educação (15%). Procurada anteontem, a Funai afirmou, pela assessoria de imprensa, que tinha muitas demandas e que não poderia responder às questões da reportagem até o encerramento desta edição. “A presidente [Marta Azevedo] está em viagem, sem disponibilidade de agenda. Ela seria a pessoa mais indicada para comentar a pesquisa”, afirmou, por e-mail. Critérios O sorteio das aldeias a serem pesquisadas levou em conta a região em que se localizam e o tamanho da população indígena residente. Os dados são representativos dos índios brasileiros. Foi entrevistada somente a população indígena brasileira que fala português e todos os pesquisadores foram vacinados contra tétano e febre amarela para não expor os seus habitantes a riscos. Os entrevistadores também provaram que não tinham tétano, febre amarela, febre tifoide, sarampo, catapora, hepatite ou malária, como determina o regulamento da Funai. Os pesquisadores viajaram de ônibus, carro, avião ou barco para os locais sorteados, como Tarauacá (AC) e Borba (AM), em dupla. O objetivo de enviar um homem e uma mulher foi evitar o risco de constrangimento caso os entrevistados não aceitassem ser abordados por pessoas do sexo oposto. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Guaranis-caiovás reclamam da falta de recursos para plantar Manifestantes e indígenas se reúnem em favor dos guaranis-caiovás na avenida Paulista, centro de SP. Sidney Carmo/Folhapress A pesquisa Datafolha entrevistou 20 etnias diferentes, entre elas os guaranis-caiovás, que estão em uma disputa fundiária com fazendeiros em Mato Grosso do Sul. Foram entrevistados 88 guaranis-caiovás, do total de 1.222 índios que participaram da amostra da pesquisa. Sem valor estatístico, apenas ilustrativo, eles afirmam que os principais problemas do índio no Brasil são a falta de recursos para plantar, a fome, as drogas e a falta de moradia. Os guaranis-caiovás apontam a falta de trabalho e de moradia como seus problemas pessoais. A maioria (77%) afirma que o tamanho das terras em que vive é menor do que o necessário. Para 57% dos guaranis-caiovás entrevistados, a atuação da Funai (Fundação Nacional do Índio) é muito importante na aldeia. Os guarani-caiovás afirmam também que a construção de casas e a doação de cestas básicas seriam as medidas governamentais que melhorariam a vida dos índios no país. Os entrevistados sofrem principalmente de doenças como a tuberculose e a diabetes; 34% dos guaranis-caiovás que participaram da pesquisa costumam ingerir bebida alcoólica. Todos os entrevistados que pertencem a essa etnia praticam a agricultura, 99% caçam e 51% pescam, mas metade deles considera insuficiente a quantidade de comida que consomem. Por Matheus Leitão Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress Fonte original da notícia Farroupilha – Município estrutura comunidade indígena Preocupada em preservar a cultura de um grupo de índios da tribo caingangue, a Prefeitura de Farroupilha investiu na compra de uma área para abrigar 13 famílias que por muitos anos estavam instaladas em área de propriedade particular, próximo à estação rodoviária da cidade, vivendo em barracas de lona preta, sob condições insalubres. A área de 7.836,97 metros quadrados, localizada na Estrada Geral Parque Santa Rita, bairro Nova Vicenza, foi doada pelo município ao governo do Estado, que repassou a cessão de uso às famílias índias. No local foram construídas 15 moradias – uma delas transformada em escola para que as crianças da aldeia tenham aulas do idioma caingangue, ministradas em turno contrário ao escolar. Também há espaço destinado para a produção artesanal. A comunidade indígena abriga hoje 63 moradores. O trabalho para estruturar a área teve início com a entrega das habitações em dezembro do ano passado. A obra foi realizada em parceria entre prefeitura e governo estadual. Todo o processo de instalação dos indígenas nesta atual área envolveu, ainda, Ministério Público Federal, Fundação Nacional do Índio (Funai), Conselho Estadual dos Povos Indígenas (Cepi) e Fundação Nacional de Saúde (Funasa). No mês de outubro, a Eletrosul instalou energia elétrica na comunidade, por meio do projeto Luz para Todos, com ligação individual para cada residência. A área contava com iluminação, porém de forma provisória. Por meio da Secretaria Municipal do Trabalho, Assistência Social e Cidadania, a Prefeitura de Farroupilha presta auxílio e garante acompanhamento aos indígenas. As famílias de caingangues vivem do artesanato que produzem e vendem em municípios da região, como Caxias do Sul e Bento Gonçalves. Os índios também recebem uma cesta básica do governo federal. Estatuto de Museus é usado como instrumento de defesa do Museu Maguta O procurador da República Leonardo de Faria Galiano, de Tabatinga (AM), utilizou-se do Estatuto de Museus – Lei nº 11.904/2009, sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro, para defender o Museu indígena Maguta, da ameaça de penhora por parte da Fundação Nacional de Saúde – FUNASA. Com base no Art. 5º do estatuto, que trata dos bens culturais dos museus, em suas diversas manifestações, declarados como de interesse público por representar um valor cultural de grande importância para a nação, o procurador alegou a impenhorabilidade do bem imóvel, que tem por finalidade a preservação da cultura dos índios Ticunas e dos povos do Alto Solimões, afastando então qualquer ato judicial ou administrativo que possa vir a atingi-lo. Para o diretor do Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Demu/Iphan), José do Nascimento Júnior, a utilização do Estatuto de Museus para a defesa do museu demonstra sua atualidade na resolução das necessidades das instituições. “Neste caso, o estatuto foi instrumento de defesa da preservação do acervo de uma etnia indígena, que poderia vir a perder sua história e cultura. Daí a importância do estatuto na defesa dos museus e do patrimônio cultural.” A pendência do Conselho Geral da Tribo Ticuna com a FUNASA é relacionada a um convênio celebrado para a assistência à saúde indígena. O conselho também é cobrado judicialmente de uma dívida de cerca de R$ 79 mil com a receita federal nos anos de 2005 e 2006.