Saúde 9 FOLHA DE LONDRINA, segunda-feira, 7 de abril de 2014 [email protected] Doenças renais atingem 10% dos brasileiros Hipertensão, diabetes, envelhecimento e obesidade são fatores de risco para doença renal crônica Michelle Aligleri Reportagem Local U m em cada dez brasileiros sofre de doenças renais. O dado é da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), que destaca que pessoas com pressão alta, diabetes e obesidade possuem chances maiores de falência renal. O envelhecimento também é considerado um fator de risco importante para o aparecimento da doença renal crônica (DRC). A situação fica ainda mais alarmante pelo fato de grande parte dos idosos apresentarem as doenças de base que predispõem ao deficit renal. O médico nefrologista e presidente da Fundação Pró-Renal, Miguel Riella, de Curitiba, lembra que o uso prolongado de medicamentos anti-inflamatórios não hormonais e de contrastes iodados para exames de imagem também favorecem o desenvolvimento da doença. “Estes itens são tóxicos e se tornam mais prejudiciais quando a função dos rins é reduzida. O idoso precisa estar consciente e alerta de que não pode tomar medicamento semorientaçãomédica”,aponta Riella. Segundo a SBN, dos cerca de 100 mil brasileiros que fazem diálise, 30% têm mais do que 65 anos. Estudos indicam que após os 35 anos o indivíduo perde 1% da função renal ao ano, isso significa que uma pessoa com 85 anos tenha apenas cerca de 50% dos rins funcionando. Conforme a Organização Panamericana de Saúde (OPA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), nos últimos 50 anos a esperança de vida na América Latina e Caribe aumentou em 20 anos, o que faz com que o número de doentes renais também apresente um salto. “As pessoas aumentaram sua expectati- va de vida, inclusive aquelas com uma ou várias doenças crônicas e fatores de risco. Isso faz com que as repercussões em órgãos como o rim cresçam entre as pessoas da terceira idade, evidenciando a necessidade de prestar mais atenção ao tema”, explica EnriqueVega, assessor regional para Envelhecimento e Saúde da OPAS/OMS. Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo a National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), os casos novos de doença renal crônica duplicaram entre os maiores de 65 anos entre 2000 e 2008. A prevalência do problema em pessoas de mais de 60 anos passou de 18,8% em 2003 para 24,5% em 2006, porém se manteve abaixo de 0,5% na faixa etária de 20 a 39 anos. Não há dados consistentes sobre esta temática no Brasil. DIAGNÓSTICO A doença renal crônica é ca- racterizada pela perda progressiva e irreversível das funções renais e detectá-la é um desafio. Silenciosa, muitas vezes é percebida apenas quando o paciente já apresenta perda de 75% da função renal. A melhor forma de identificar a DRC é fazer periodicamente exames de urina e de sangue com dosagem de creatinina. Quando identificada na fase inicial, a doença pode ser tratada. Os sinais de alerta de que algo pode estar errado com os rins são: palidez, necessidade de urinar várias vezes durante a noite e pressão alta.“Em quadros mais avançados a pessoa apresenta sinais semelhantes ao de uma intoxicação”, salienta Miguel Riella, da Pró-Renal. 20 mil brasileiros iniciam este tratamento,algunsconseguem ter uma parte do rim recuperada e passam a viver sem a necessidade da diálise. No entanto, a maioria dos pacientes fica anos dependendo da máquina enquanto aguarda por um transplante renal. O médico nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Daniel Rinaldi dos Santos, explica que o Brasil é o segundo país que mais faz transplantes renais, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. “São 5.500 transplantes de rins realizados todos os anos no país”, destaca. TRANSPLANTE A partir do momento em que o rim apresenta 10% da sua função, o paciente precisa ser ligado a uma máquina de diálise que faz a filtragem do sangue. A cada ano, cerca de A Fundação Pró-Renal é uma instituição filantrópica que oferece há 30 anos assistência integrada para o paciente renal. Para conhecer mais ou ajudar a entidade basta entrar no site www.pro-renal.org.br SERVIÇO ‘Foi a diabetes que matou meu rim’ Theo Marques Francisco Medeiros, de 62 anos, faz diálise três vezes por semana e aguarda transplante: “Estou fazendo todos os exames” Quando o agricultor Fra n c i s c o Me d e i r o s d e Deus, de 62 anos, descobriu a doença renal crônica (DRC), imediatamente iniciou a diálise. A falta de ar e a pouca vontade de se movimentar mostravam que havia alguma coisa errada com ele, mas nenhum dos cinco primeiros médicos com os quais se consultou identificaram o problema. Um mês antes de receber o diagnóstico de que havia falha no funcionamento dos seus rins, Medeiros descobriu a diabetes. “Foi a diabetes que matou meu rim. Eu não bebia água, era só refrige- rante, foi o refrigerante e o açúcar que mataram o meu rim”, lamenta. Há oito anos Medeiros faz diálise. Três vezes por semana ele vai até a clínica que o atende e fica três horas e 45 minutos deitado em uma cama aguardando a máquina fazer a filtragem do sangue, trabalho que seus rins estariam fazendo se estivessem saudáveis. Para sair d e s t a r o t i n a , Me d e i r o s a g u a rd a p o r u m t ra n s plante. “Estou fazendo todos os exames com o cardiologista para ele atestar que eu posso ser transplantado. Daí é só esperar chegar um rim”, afirma. Para o agricultor, a parte mais difícil desta fase da vida é depender da máquina. “Não posso sair da cidade e nem ir para lugar nenhum porque tenho que fazer a diálise. Não posso viajar e nem trabalhar, por outro lado o pessoal da clínica é muito bom, como se fosse da minha família”, acrescenta. Para manter a vitalidade, Medeiros garante que o segredo é não parar. “Agora estou fazendo caminhada duas vezes por dia para adquirir resistência. Se você parar v o c ê m o r r e”, d e s t a c a . (M.A.) Um órgão multifuncional Engana-se quem pensa que os rins são responsáveis apenas pela produção da urina. Este órgão tem um papel fundamental no equilíbrio do organismo. Além de auxiliar no controle da pressão arterial, regular a produção de glóbulos ver melhos do sangue e atuar na concentração de cálcio, fósforo e minerais que são fundamentais para o desenvolvimento e bom funcionamento dos ossos, os rins ainda são responsáveis pela filtragem do sangue e produção da urina. Por conta de tantas “responsabilidades”, o rim é um órgão muito importante para o equilíbrio do organismo e quando ele para de funcionar compromete gravemente a qualidade de vida do indivíduo. As pes- soas com insuficiência renal também apresentam pressão arterial elevada e anemia. Nas crianças o problema pode afetar o crescimento e resultar em ossos fracos e anômalos. O médico nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Daniel Rinaldi dos Santos, explica que a doença renal crônica (DRC) é a mais grave que acomete este órgão. No entanto, muitos pacientes com alteração da função renal vivem anos sem precisar ser submetidos à máquina que filtra o sangue. Conforme ele, o paciente pode ser transplantado sem passar pela diálise, mas na maioria dos casos as pessoas precisam da máquina por anos até encontrar um do- ador compatível. O rim para transplante pode vir de um doador falecido que seja compatível com o paciente ou de um doador vivo que seja compatível e tenha parentesco de primeiro grau com a pessoa beneficiada. “Neste caso, além da proximidade familiar é feita uma análise do doador. Nunca vamos tirar o rim de uma mulher de 20 anos, que ainda pode ter filhos, e doar para outra pessoa. Todos estes aspectos devem ser analisados antes de tomar uma decisão como esta”, afirma o médico. Conforme ele, a partir do momento em que se consegue o doador, vários exames são realizados e a cirurgia de transplante deve ser agendada o mais rápido possível. (M.A.) Shutterstock Câncer renal tem progressão silenciosa Reportagem Local Duas vezes mais frequente nos homens, o câncer de rim acomete cerca de sete mil pessoas por ano no Brasil, com prevalência entre 50 e 70 anos de idade (7 a 10 casos por 100 mil habitantes/ ano), segundo dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Apesar da baixa incidência do tumor, de 2% a 3% dos casos de todos os tumores malignos, o câncer renal é bastante perigoso devido à progressão silenciosa. Os sintomas mais comuns como, sangramento na urina, dor lombar ou abdominal lateral e sensação de uma massa abdominal aparecem geralmente quando o tumor está em um estágio mais avançado, o que dificulta o tratamento. Mas, atualmente, com o advento dos exames de imagem de rotina, é cada vez mais comum diagnóstico precoce sem nenhum sintoma aparente em exames comuns, até mesmo de prevenção. “Na maioria das vezes o diagnóstico é acidental, quando é feito algum exame de imagem abdominal, como ultrassom ou tomografia, por outros motivos”, afirma o oncologista Daniel Herchenhorn, do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital do Câncer (Instituto Nacional do Câncer - INCA) e da Clínica Oncologistas Associados, no Rio de Janeiro. Segundo o especialista, cerca de 50% dos pacientes são diagnosticados com a doença em nível avançado. “Isso faz com que o câncer de rim muitas vezes não seja tratado com intuito curativo, daí a importância de terapias capazes de controlar a doença por longos períodos e com boa qualidade de vida”, alerta o oncologista. Doença é duas vezes mais frequente nos homens