IX Congresso Brasileiro de Análise Térmica e Calorimetria 09 a 12 de novembro de 2014 – Serra Negra – SP - Brasil RELAXANTE MUSCULAR: PARÂMETROS CINÉTICOS DA DECOMPOSIÇÃO TÉRMICA Almeida, A.E.1*; Crespi, M.S.2; Almeida, S.3; Ribeiro, C. A.4 Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Departamento de Fármacos e Medicamentos. Rodovia Araraquara-Jau Km 1 CP 502, CEP 14801-902, Araraquara, SP, Brazil 2,3,4 Universidade Estadual Paulista, Instituto de Química, Departamento de Química Analítica. R. Prof. Francisco Degni, s/n, CP 355, CEP 14801-970, Araraquara, SP, Brazil *[email protected], (55) 16-3301-6969, (55)-16-3301-6960 (fax). 1 Resumo Um relaxante muscular bastante utilizado e comercializado na forma de comprimido é constituído dos seguintes princípios ativos: paracetamol (350 mg), carisoprodol (150 mg) e cafeína (50 mg). O carisoprodol é um relaxante muscular de ação central, quimicamente relacionado ao meprobamato, que reduz indiretamente a tensão da musculatura esquelética em seres humanos. O paracetamol é um derivado p-aminofenol que apresenta atividade analgésica e antipirética. A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central, que age sobre a musculatura estriada, aumentando o seu tônus, tornando-a menos suscetível à fadiga e melhorando o seu desempenho. O objetivo desse trabalho foi estudar a estabilidade térmica do carisoprodol, paracetamol e da cafeína, bem como determinar os parâmetros cinéticos das reações de decomposição térmica desses princípios ativos, usando o método de Flynn-Wall–Ozawa. Dados das curvas TG/DTA e DSC indicam a ocorrência de interação entre os constituintes individuais na mistura. A primeira etapa de decomposição da matéria orgânica presente no relaxante muscular é próxima à observada para o carisoprodol e a segunda etapa para a cafeína. Verificaram-se picos de fusão deslocados para valores menores que os apresentados para os componentes individuais. Os valores médios de energia de ativação e de lnA foram determinados e seguem a ordem de grandeza carisoprodol < paracetamol < relaxante < cafeína. A relação entre Ea e alfa apresentou valor menor que 10% tratando-se portanto, de uma reação de termo decomposição mais simples. Palavras-chaves: relaxante muscular, paracetamol, carisoprodol, cafeína, análise térmica 1. INTRODUÇÃO Miorrelaxantes são fármacos usados para relaxar os espasmos que acompanham as síndromes musculares crônicas dolorosas. Este efeito pode ser obtido por ação central ou periférica. Um relaxante muscular (RM) de ação central bastante utilizado e comercializado na forma de comprimido é constituído dos seguintes princípios ativos: paracetamol 350 mg; carisoprodol 150 mg e cafeína 50 mg. O carisoprodol (dicarbamato derivado do propanodiol) é um relaxante muscular de ação central, quimicamente relacionado ao meprobamato, que reduz indiretamente a tensão da musculatura esquelética em seres humanos. O paracetamol é um derivado p-aminofenol com ação analgésica e antipirética. A cafeína, uma metilxantina, é um estimulante do sistema nervoso central e atua sobre a musculatura estriada, aumentando o seu tônus, tornando-a menos suscetível à fadiga e melhorando o seu desempenho [1]. IX Congresso Brasileiro de Análise Térmica e Calorimetria 09 a 12 de novembro de 2014 – Serra Negra – SP - Brasil 2. OBJETIVO Estudar a estabilidade térmica do carisoprodol, paracetamol e da cafeína, bem como determinar os parâmetros cinéticos das reações de decomposição térmica desses princípios ativos, usando o método de Flynn-Wall-Ozawa [2,3]. 3. EXPERIMENTAL O relaxante muscular e os princípios ativos (carisoprodol, paracetamol e cafeína) foram adquiridos de uma farmácia comercial. As curvas TG e DTA foram obtidas em um módulo de análise térmica simultâneo SDT-2960, Simultaneous (TA Instruments®), capaz de operar da temperatura ambiente até 1500ºC, sob atmosfera de nitrogênio (100 mL min-1), massa de amostra de 7,2 mg e razões de aquecimento: 5, 15 and 20oC min-1. O módulo apresenta sensibilidade da balança de 0,1µg, com precisão de ± 1%. Para as curvas DSC foi utilizado Mettler Toledo DSC 1 Star®, capaz de operar de 25 a 350ºC, sob atmosfera de nitrogênio (50 mL min-1), razão de aquecimento de 10°Cmin-1em cadinhos de alumínio tampados e massa de amostra de 2 mg. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como pode ser observado através das curvas TG/DTG (Figura 1) o carisoprodol é menos estável que a cafeína e o paracetamol, enquanto que o relaxante muscular (MR) apresentou estabilidade intermediária. 100 80 Mass/% 60 0 carisoprodol 20 C/min 0 -1 cafeína 20 C min RM 40 0 paracetamol 20 /min 20 0 0 50 100 150 200 0 250 300 350 Temperature / C Figura 1: Curvas TG do relaxante muscular (MR) e princípios ativos: carisoprodol, paracetamol e cafeína. IX Congresso Brasileiro de Análise Térmica e Calorimetria 09 a 12 de novembro de 2014 – Serra Negra – SP - Brasil Na Figura 2, a cafeína apresenta dois picos de fusão na curva DSC, sendo o primeiro pequeno e largo (159oC) e segundo intenso (238oC), indicando a presença em maior quantidade da segunda isoforma na amostra estudada. A cafeína sofre fusão seguida de vaporização/decomposição. Como pode ser observado na Figura 2, o carisoprodol apresenta na curva DSC, pico de fusão (97oC) e um segundo pico de vaporização/decomposição. Enquanto que o paracetamol apresenta pico de fusão (170oC) e pico de decomposição (300oC). Quando analisada no DSC a mistura de cafeína-carisoprodol 1:1, verifica-se pico (95oC) que se deve ao carisoprodol e (149oC, 210oC) são picos da cafeína, mostrando que não houve a solubilização da mesma no carisoprodol. O terceiro pico (299oC) se deve a decomposição da mistura. A mistura de cafeína-paracetamol 1:1 mostra pico (144oC) que se deve e a fusão da cafeína, na temperatura (321oC) o pico se deve a decomposição. A ausência de pico em torno de 170oC indica a solubilização do paracetamol na cafeína. A mistura física de carisoprodol-paracetamol 1:1 apresenta pico de fusão (95oC) que se deve ao carisoprodol e um pico largo a (150oC) que não é do paracetamol, indicando a solubilização do mesmo no carisoprodol. O relaxante muscular RM apresenta cinco picos na curva DSC (70oC, 90oC, 151oC, 264oC, 340oC), o primeiro é devido a perda de água, segundo refere-se ao carisoprodol, o terceiro é devido a uma interação entre constituintes e o quarto e quinto são decorrentes da decomposição da mistura. 2 0 -2 Fluxo de calor/u.a -4 -5 -6 -8 -10 -12 -14 -15 -16 cafeína paracetamol RM -18 carisoprodol caffeine carisoprodol 1:1 -20 caffeine paracetamol 1:1 -22 paracetamol carisoprodol 1:1 -24 -25 0 50 100 150 200 0 250 300 350 400 Temperatura/ C Figura 2: Curvas DSC da cafeína, carisoprodol, paracetamol, cafeína-carisoprodol 1:1, cafeína-paracetamol 1:1, carisoprodolparacetamol 1:1 e do relaxante muscular (MR). IX Congresso Brasileiro de Análise Térmica e Calorimetria 09 a 12 de novembro de 2014 – Serra Negra – SP - Brasil Dados das curvas TG/DTA e DSC indicam a ocorrência de interação entre os constituintes individuais na mistura. A primeira etapa de decomposição da matéria orgânica presente no relaxante muscular é próxima da observada para o carisoprodol e a segunda etapa para a cafeína. Verificaram-se picos de fusão deslocados para valores menores que os apresentados para os componentes individuais. Os valores médios de energia de ativação e de lnA foram determinados e seguem a ordem de grandeza carisoprodol < paracetamol < relaxante < cafeína (Tabela 1). A relação entre Ea e alfa apresentou valor menor que 10% tratando-se portanto, de uma reação de termo decomposição mais simples. Tabela 1: Temperatura onset, Tempertura de pico, Entapia( ∆H),) para a cafeína, paracetamol, carisoprodol, cafeína + paracetamol 1:1, cafeína + carisoprodol 1:1, carisoprodol + paracetamol 1:1 e para o relaxante muscular (RM). Energia de ativação para a cafeína, paracetamol, e carisoprodol. Tonset (oC) Amostra Tpico (oC) ∆H (J/g) Ea (J/mol) cafeína 147, 236 158, 238 50, 274 59 paracetamol 170 172 379 53 carisoprodol 93, 248 97, 238 284, 1457 45 Cafeína/paracetamol 1:1 140, 263 144, 321 125, 467 - Cafeína/carisoprodol 1:1 91, 142, 194, 256 95, 149, 210 46, 9, 15, 173 - Carisoprodol/paracetamol 1:1 88, 132, 265 95, 150 81, 43, 271 - RM 84, 128, 228 70, 90, 264, 341 33, 56, 133 57 151, 5. CONCLUSÃO O presente trabalho permitiu verificar a interação dos princípios ativos e a estabilidade térmica dos mesmos no relaxante muscular, mostrando menor estabilidade para o carisoprodol. 6. REFERÊNCIAS 1. Francisco Faustino de A. Carneiro de França. Dicionário Terapêutico Guanabara. Editora Guanabara/Koogan S.A. 2013/2014, p. 1.34, 5.1. 2. Flynn JH, Wall J. A quick direct method for the determination of activation energy from termogravimetric. Polym Let. 1996;4:323-8. 3. Ozawa T. A new method of analyzing thermogravimetric data. B Chem Soc Jpn. 1965;38:1881-6.