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22/11/2016
Flash
Macroeconômico
Eduardo Teixeira 1
O Brasil e o Trumponomics
A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos continua a gerar ondas de perturbação no
mundo, afetando em algum grau diversos países. Em termos políticos, imediatamente reforçou o discurso
populista, já estimulado primeiro pela campanha e depois pelo resultado do referendo que decidiu pela saída do
Reino Unido da União Europeia (BREXIT), e levou ao poder Thereza May como primeira ministra e Boris Johnson
como Ministro das Relações Exteriores.
Não sem razão existe hoje um temor de retorno do nacionalismo exacerbado no ambiente político internacional,
com representantes dessa corrente despontando com chances concretas de vitória, ou ao menos protagonismo
eleitoral em diversos países, como, por exemplo, França, Holanda e Áustria. Note-se que esse fenômeno começa
numa conjuntura em que diversos países europeus já possuem governos conservadores e populistas, com
destaque para a Rússia.
Apesar de ainda ser um processo que se encontra longe de consolidação, não custa nos lembrarmos da situação
política nos anos 30 na Europa, quando partidos populistas, de corte marcadamente totalitário, arrebataram,
usando diferentes caminhos, o poder em diversos países como Alemanha, Itália, Espanha e Portugal, enquanto
que em outros, tradicionais bastiões dos princípios democráticos, como França e Inglaterra, essas mesmas
forças assumiram importância crescente, que, ainda bem, resultaram em desfechos diferentes. De qualquer
forma, naquela época o resultado foi um conflito militar sem precedentes, que levou à morte cerca de 60 milhões
de pessoas e destruiu a infraestrutura econômica da Europa, algo que, após a tragédia da Primeira Guerra
Mundial (a chamada guerra para terminar todas as guerras), era considerado impossível.
Destaque-se uma diferença fundamental: naquela época, os EUA eram presididos por Roosevelt, eleito e reeleito
diversas vezes (ganhou 4 mandatos, o último na eleição de novembro de 1944), estadista na acepção do termo,
com sólidos compromissos com a democracia, enquanto que agora o presidente é Trump, que aparenta ter um
preocupante viés populista, autoritário e xenófobo.
Se a eleição de Donald Trump abalou o mundo político, não foi menor seu impacto inicial sobre a situação
econômica mundial. Seu discurso econômico que mistura rejeição à globalização (decisivo na vitória no chamado
rust belt), aumento dos investimentos em infraestrutura e redução de impostos, pareceu inicialmente ao mercado
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Consultor Associado da MacroSector Consultores
Flash Macroeconômico
MacroSector | São Paulo: [11] 3589 9020
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A MacroSector elaborou este informativo com informações disponíveis até 22/11/2016. Apesar de cuidar da exatidão dos dados, a MacroSector
não se responsabiliza pela total precisão das informações que poderão, eventualmente, estar incompletas e/ou resumidas. A MacroSector também
não se responsabiliza por qualquer operação que venha a ser feita considerando os prognósticos sobre o comportamento dos ativos / indicadores
aqui mencionados.
como inconsistente. Como resultado os juros subiram, as bolsas caíram e o dólar se enfraqueceu em relação a
outras moedas conversíveis, se bem que se valorizou (mais uma vez o sempre destacado aumento da aversão
ao risco) frente às moedas inconversíveis, como no caso do real.
No entanto, começam a aparecer análises que, mesmo discordando das linhas gerais até agora enunciadas da
política econômica da administração Trump, sugerem que medidas como aumento do protecionismo e dos gastos
em infraestrutura podem sim acelerar o crescimento no curto prazo. Se isso acontecer o impacto político será
imediato, não apenas em diversos países que, como mencionado acima, a onda populista está sendo
impulsionada, mas também nos Estados Unidos, que terão uma eleição importantíssima daqui a dois anos, a
chamada “Eleição de Meio de Mandato”.
Quaisquer que sejam os desenvolvimentos de curto e médio prazo, já está claro que mudanças devem ocorrer na
economia mundial, expressando a insatisfação generalizada de grande parte do eleitorado, com os resultados
das ações de enfrentamento da crise de 2008. Afinal, esta é uma das características do populismo: defender,
propor e, se possível, executar, políticas públicas que induzidas ou não pelo poder incumbente, possuam apoio
da maioria da população.
O resultado eleitoral americano aumentou a volatilidade nos mercados internacionais. No Brasil os reflexos foram
imediatos. A bolsa caiu e o dólar se valorizou, enquanto que as previsões de um corte mais acelerado da SELIC
perderam força. Estima-se agora que a taxa cairá apenas 0,25 pontos percentuais, o que a levaria a fechar o ano
em 13,75% ao invés de 13,50% previstos anteriormente, o que sinaliza a manutenção de uma taxa de juros real,
independentemente da sua forma de cálculo, extremamente elevada, especialmente numa economia que
permanece em recessão e não dá sinais consistentes de recuperação.
O Banco Central agiu rápido, tentando ao menos refrear a forte desvalorização da moeda nacional, que atingiu
8,63% desde o fechamento de 08/11. Interveio no mercado de câmbio anunciando rolagem dos “swaps” cambiais
tradicionais e um leilão de novos contratos. É importante reter que, ao contrário de momentos anteriores, a
autoridade monetária possui espaço para assim proceder, pois o volume desses contratos foi reduzido nos
últimos meses. Além disso, conta ainda com instrumentos de ação adicionais como os chamados leilões de linha
e mesmo a venda direta de dólares no mercado, perfeitamente factível face o elevado nível das reservas
internacionais do país.
De qualquer forma, essa possível nova configuração internacional não nos parece favorável ao Brasil,
especialmente tendo em vista o momento por que passamos. Após dois anos de recessão aberta (em 2014 o PIB
cresceu pífio 0,5%), o nível de atividade ainda não dá sinais consistentes de que a recuperação esteja perto de se
iniciar. As estimativas acerca do desempenho do PIB para 2017 tem sofrido revisão para baixo, com até mesmo o
governo admitindo que a expansão deverá se situar em 1,0%, o que, se acontecer, não caracterizará de forma
alguma uma recuperação efetiva.
Assim sendo, mesmo concordando que a vitória de Trump aumenta a volatilidade e pesa no curto prazo na matriz
de riscos, entendemos que o BCB deveria cortar a taxa SELIC de maneira relevante, ao mesmo tempo em que
caberia priorizar a estabilidade da taxa de câmbio. Se a isso for agregada uma programação fiscal plurianual que
defina um horizonte crível para a recuperação das finanças públicas (aqui entendida como o resultado nominal),
estímulos ao investimento em infraestrutura e a estabilização política, acreditamos que o Brasil finalmente pode
começar a superar a recessão em que está mergulhado nos últimos anos.
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aqui mencionados.
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