Ciência mitificada: a construção das matérias científicas no jornal “A

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Ciência mitificada: a construção das matérias científicas no jornal “A
Notícia”
SANTOS, Robson Souza dos.
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira da Universidade
Federal de Santa Catarina. Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo.
Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Santa Catarina. [email protected] . Grupo de
trabalho: GT 2 - Divulgação Científica
RESUMO
Esta pesquisa reforça a importância dos meios de comunicação na democratização do
conhecimento científico, enfatizando a necessidade de que a linguagem empregada nos
textos e reportagens jornalísticas seja de fácil compreensão para qualquer segmento da
sociedade. O estudo em questão é um trabalho de reflexão sobre as notícias científicas
veiculadas pelo jornal A Notícia, da cidade de Joinville/SC, onde, a partir de dados
levantados em um estudo exploratório identificou-se o discurso sobre a ciência utilizado
por este jornal. Foi verificado se o jornal cumpre o seu papel de informar e se encontra
formas que aproximem as notícias científicas do público geral. A partir do discurso
analisado, pode-se constatar que as Ciências físicas e biológicas ocupam papel de
destaque as quais são tratadas de forma mítica, distanciando o conhecimento transmitido
dos leitores de outras áreas de atuação.
PALAVRAS-CHAVE: jornalismo científico, discurso, ciência.
INTRODUÇÃO
Os estudos na área de Comunicação têm demonstrado a necessidade de um
número maior de pesquisas referentes ao Jornalismo Científico. Nos poucos trabalhos já
desenvolvidos, há um consenso entre os pesquisadores no que diz respeito à necessidade
de popularizar o conhecimento científico.
Cada vez mais o homem procura fazer com que os fatos científicos favoreçam o
desenvolvimento social. O público em geral deve ser informado sobre esses fatos, para
que seus benefícios sejam utilizados convenientemente.
O progresso da ciência depende da compreensão do público, pois é dele que
saem os representantes responsáveis pela elaboração das leis e traçar as políticas,
inclusive as científicas.
É necessário sistematizar, aumentar e melhorar o volume e os conteúdos da
informação científica que chega ao público. O acontecimento científico pertence ao
patrimônio universal da cultura e cabe ao jornalista enriquecê-lo, transmitindo da forma
mais adequada possível. Faz-se necessário o aprimoramento do jornalista científico na
própria universidade, assim como a realização de pesquisas nesta área que levem à
reflexão da importância do Jornalismo Científico e da maneira adequada de conduzir
essas matérias. O jornalista passaria a exercer a sua função de mediador entre os
acontecimentos científicos e sociedade em geral.
Não são apenas os avanços espetaculares que fazem a ciência. A prática
incorreta do jornalismo científico faz com que, muitas vezes, o trabalho do pesquisador
seja ignorado ou incompreendido. Essa realidade precisa ser refletida e modificada para
que esta área do jornalismo não se torne mais um instrumento de manutenção do poder
e de centralização do conhecimento deixando à margem a grande massa da população,
que permanece sem usufruir os privilégios das conquistas científicas.
De acordo com Burkett (1990), a redação científica como é hoje, deriva de um
sistema de comunicação secular. Teve seu início no século XVI quando os primeiros
cientistas se defrontavam com a censura e suas atividades da Igreja e do Estado no
exercício de suas atividades. Encontravam-se às escondidas em várias cidades para
informarem uns aos outros sobre suas descobertas relativas à nova filosofia natural. Das
reuniões desses grupos de elite, que compreendia nobres, eruditos, artistas e
mercadores, brotou a tradição da comunicação aberta e oral sobre assuntos científicos.
A redação de Ciência é um entre muitos novos tipos de comunicação
especializada que evoluem no século XX. Os redatores de ciência podem ou não ser
formalmente treinados em uma ou mais ciências. A redação científica tende a ser
dirigida para fora, para audiências além da estreita especialidade científica onde a
informação se origina. (idem)
“O escritor de ciência torna-se parte de um sistema de educação e
comunicação tão complexo como a ciência moderna e a sociedade mais
ampla. Em seus alcances mais extremos, a redação científica ajuda a
transpor a barreira entre cientistas e não – cientistas” (Burkett, 1990, pag. 6)
Os estudos na área de Comunicação têm demonstrado a necessidade de um
número maior de pesquisas referentes ao Jornalismo Científico. Nos poucos trabalhos já
desenvolvidos, há um consenso entre os pesquisadores no que diz respeito à necessidade
de popularizar o conhecimento científico. Cada vez mais o homem procura fazer com
que os fatos científicos favoreçam o desenvolvimento social. O público em geral deve
ser informado sobre esses fatos, para que seus benefícios sejam utilizados
convenientemente.
O progresso da ciência depende da compreensão do público, pois é dele que
saem os representantes responsáveis pela elaboração das leis e diferentes políticas,
inclusive as científicas. É necessário sistematizar, aumentar e melhorar o volume e os
conteúdos deste tipo de informação. O acontecimento científico pertence ao patrimônio
universal da cultura e cabe ao jornalista enriquecê-lo, transmitindo-o da forma mais
adequada possível. O aprimoramento do jornalista científico na própria universidade é
importante, como também a realização de pesquisas nesta área que levem à reflexão,
pois cabe ao jornalista exercer a função de mediador entre os acontecimentos científicos
e sociedade em geral.
Para Mello (1982), o jornalismo científico não é e não tem sido uma atividade
voltada para a democratização do conhecimento, para a divulgação daqueles processos
de produção do conhecimento novo, capaz de adquirir relevância social. “Tal como tem
sido concebido e praticado entre nós, o jornalismo científico converteu-se em
instrumento de transferência tecnológica e manutenção do poder”(Mello, 1982)
O jornalismo científico tem tratado a ciência de forma mítica e acaba atuando
em função do poder científico e quase nada contribuindo para democratizar o
conhecimento. Tem assumido uma posição em certo sentido marginalizada e atrofiada.
Essa marginalização vem do pequeno espaço que consegue conquistar nos meios de
comunicação, seja os impressos ou os audio-visuais. A atrofia acontece porque,
geralmente, a presença dos fatos científicos no noticiário cotidiano se faz sob o signo do
fantástico, do sensacional, do inusitado. (idem)
Segundo Assmann (1982) o jornalista científico enfrenta obstáculos em seu dia –
a – dia, o que tem contribuído para a permanência do modelo de jornalismo científico
adotado em nossa sociedade. Para o autor, esses obstáculos são:
...“a compartimentação das seções nos jornais e periódicos, que restringe o
conceito de ‘científico’ a áreas separadas dos assuntos econômicos e
políticos; a preferência pelas ‘coisas curiosas e extravagantes’ e não pelos
fatos relevantes para o povo; a secundarização dos assuntos ‘científicos’,
enviados a páginas de menor leitura; a des–informação sistemática
praticada, neste campo, pelas agências noticiosas; o caráter de ‘pré –
selecionado’ do pouco que as agências informam, o hermetismo e
secretismo das instituições científicas, a necessidade de armar-se de fontes
alternativas de informação”...
Segundo Mello (1982), o Jornalismo Científico deve ser uma atividade
educativa, dirigida à grande massa e não apenas á elite. Deve promover a popularização
do conhecimento, utilizando uma linguagem que permita o entendimento das
informações pelo cidadão comum. Deve gerar o desejo do conhecimento permanente,
despertando interesse pelos processos científicos e não pelos fatos isolados e seus
personagens. Deve discutir a política científica, conscientizando a população. Para
atender a esses objetivos, o Jornalismo Científico é uma atividade a ser desenvolvida
pelo jornalista e não pelo cientista.“Ao cientista cabe produzir o conhecimento. Ao
jornalista compete democratizá-lo” (Mello, 1982)
Nesta pesquisa, analisamos e refletimos sobre as matérias científicas produzidas
em Santa Catarina, especificamente no Jornal “A Notícia”, da cidade de Joinville,
veículo que mais cresce em número de assinantes e de tiragem e também que apresenta
um quadro de desenvolvimento e modernização equivalente ao dos grandes jornais
brasileiros.
Nossa proposta foi de verificar se o jornal está cumprindo com o seu papel de
democratizador da informação tentando, desta forma, encontrar sugestões que mais
aproximem as notícias científicas do público em geral. Buscamos resgatar o papel
principal do Jornalismo Científico: o de mediador entre as descobertas da ciência e a
grande massa, para que toda a sociedade tenha condições de refletir sobre os benefícios
e conseqüências da Ciência.
Neste sentido, a questão problema que norteou este estudo foi: qual o tratamento
dado pelo jornal “A Notícia” às matérias científicas? Sendo que, tivemos como objetivo
principal verificar se os discursos construídos nas matérias científicas do jornal “A
Notícia” são acessíveis à população em geral e como objetivos específicos, observar, a
partir dos conteúdos e discursos das matérias, o vocabulário léxico utilizado;
discriminar os espaços, as ilustrações, forma do texto, editorias e a posição na página;
identificar qual o leitor – modelo previsto por essas matérias; verificar a preparação do
profissional que produz as matérias; levantar, junto a um grupo de pessoas que
receberam as matérias para leitura, qual a compreensão das mesmas sobre o tema;
analisar os resultados usando o modelo teórico de Umberto Eco.
METODOLOGIA
Esta pesquisa seguiu uma abordagem qualitativa, que segundo Minayo (1993),
tem por objetivo responder a questões muito particulares nas ciências sociais, dentro de
um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, este tipo de pesquisa
trabalha com um universo de significados, ligados a valores, crenças e atitudes,
correspondendo ao espaço das relações humanas e de fenômenos que na maioria das
vezes não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. É uma pesquisa
exploratória do tipo documental. Segundo Laville & Dionne (1999), nas pesquisas com
base documental, um documento pode ser algo mais do que um pergaminho poeirento: o
termo designa toda fonte de informações já existente. Entre as fontes impressas,
distinguem-se vários tipos de documentos, desde as publicações de organismos,
documentos pessoais, dossiês, sem esquecer os jornais e periódicos nem as diversas
publicações científicas.
A análise considerou 7 (sete) matérias do jornal A Notícia da cidade de Joinville.
Consistiu de coleta documental de matérias científicas veiculadas nos jornal “A
Notícia” da cidade de Joinville/SC. Esta coleta foi realizada na Hemeroteca do curso de
Jornalismo da Univali. Cada notícia foi mapeada e reproduzida em xerox, com todos os
dados considerados importantes para a análise das mesmas.
Para interpretação dos resultados, utilizamos a técnica de Análise de Discurso.
Esta forma de análise nasceu com Michel Pêcheux na década de 60 na França, e tem por
proposta realizar uma reflexão sobre as condições de produção e apreensão dos
significados de textos produzidos nos mais distintos campos. Neste tipo de análise
existem várias formas de condução ou modelos teóricos possíveis para desenvolver uma
análise de discurso, o modelo que resolvemos adotar é o desenvolvido por Umberto Eco
(1986), que opta por uma reflexão apenas sobre o texto e seu contexto sócio – cultural.
O autor pressupõe um leitor – modelo, que irá interpretar o que ler a partir de
dois grandes campos: o campo da expressão ou manifestação linear e o campo do
conteúdo atualizado. No primeiro campo, Eco (idem) faz uma análise dos códigos que
compõem o texto (dicionário de base, regras de co – referência, seleções contextuais e
circunstanciais, encenações ou frames e hipercodificação ideológica), no segundo
campo, ele observa quais as circunstâncias que levaram a enunciação do texto.
Existem outros elementos utilizados pelo autor para fazer uma análise,
resolvemos, entretanto concentrar-nos apenas nestes dois campos, porque acreditamos
serem eles suficientes para a nossa análise de notícias. Cada notícia foi analisada
individualmente e posteriormente, foi realizada uma comparação dos dados de cada uma
delas para responder aos objetivos propostos.
Num segundo momento, as matérias foram entregues para a leitura de um grupo
de pessoas para verificar qual a compreensão dos mesmo referente ao assunto tratado.
Este grupo constituiu-se de 60 pessoas, sendo os entrevistados homens e mulheres, das
mais diversas faixas etárias e condições sócio – econômicas e nível de escolaridade,
para que pudéssemos ter um grupo bastante diversificado. As matérias foram entregues
e lidas pelos mesmos e posteriormente foi utilizado um instrumento de coleta de dados,
utilizando a técnica de entrevista que foi manuscrita conforme a autorização de cada
entrevistado. Os resultados obtidos junto a esse grupo de pessoas foram comparados
com os resultados da análise de discurso para que pudéssemos traçar o perfil do leitor
modelo e responder aos objetivos propostos.
RESULTADOS
Nosso principal objetivo era o de verificar se os discursos construídos nessas
matérias são acessíveis à população em geral. Para isso, resolvemos observar o
vocabulário léxico utilizado, discriminar os espaços, ilustrações, forma do texto,
editorias e posição que essas notícias ocupam na página bem como verificar a
preparação do profissional que produz as matérias.
Para responder aos objetivos propostos, utilizamos os níveis de cooperação
textual de Umberto Eco (1986), buscando identificar o possível leitor – modelo desse
tipo de notícias e verificar, desta forma, se os discursos científicos são dirigidos para a
população em geral.
De forma sintética, levando-se em conta os objetivos acima, obtivemos os
seguintes resultados:
A partir da leitura das notícias, observamos que os termos empregados são de
difícil compreensão e, na maioria das vezes, os termos técnicos não são explicados.
Algumas informações são dispostas em infográficos, no entanto, as fontes utilizadas não
chamam a atenção devido ao seu tamanho reduzido.
Quanto à diagramação, percebemos que:
Não existe uma editoria específica para essas notícias. Das matérias analisadas,
quatro estavam dispostas na editoria de Geral, uma no caderno de Economia, uma
na Contracapa e uma como matéria Especial;
Quatro das matérias estudadas ocuparam espaço total da página, uma delas ocupou
três páginas e apenas duas não dispuseram do espaço total;
Três das notícias tiveram chamada da capa, duas das quais com ilustração. No
entanto, essas chamadas estavam posicionadas em locais de baixa visualização do
jornal;
Uma das matérias era de contracapa, página colorida do jornal;
Todas as matérias continham fotos e algumas apresentavam também ilustrações e
infográficos;
Todas apresentavam título bem destacado, olho e subtítulos;
Todas as matérias eram assinadas, sendo que, em cada subdivisão da matéria, no
final vinham as iniciais do repórter;
A fonte utilizada nos textos seguia o padrão das demais matérias;
As matérias de maior destaque apresentavam box e, em todas, a matéria principal
estava subdividida em retrancas;
Todas as matérias estavam dispostas em página par, com exceção daquelas que
ocuparam mais de uma página. A página par é a de menor visualização no jornal;
Seis matérias foram veiculadas na edição de Domingo, o que nos leva a supor que o
jornalista dispôs de tempo suficiente para apuração, pesquisa e elaboração do texto.
Apenas uma foi veiculada na edição de quarta – feira. Uma das matérias de
Domingo teve suíte no dia seguinte.
Observamos que não há um jornalista específico para as matérias científicas,
uma vez que todas elas estavam assinadas por profissionais distintos. Em entrevista com
a editora do caderno AN Cidades, esta nos revelou que não há nenhuma preparação
específica para o jornalista que vai produzir essas matérias, nenhum tipo de curso ou pré
requisito. O jornalista que estiver disponível no momento é quem irá escrever a matéria.
Para chegarmos na identificação dos discursos, definimos um corpus1 de
controle, uma vez que a identificação do leitor-modelo2, dentro da perspectiva de
Umberto Eco (1986), não exige, em um primeiro momento, a necessidade de uma
comparação entre a análise do pesquisador e a opinião de uma terceira pessoa.
De um modo geral, os conteúdos das matérias eram ligados à área da medicina,
biologia, química e apenas uma matéria referia-se a área de Ciências Humanas, o que
reforça a opinião de Mello (1982) de que o jornalismo científico tem sido entendido e
praticado como divulgador de fatos ligados às ciências básicas e às ciências aplicadas,
deixando de lado as ciências humanas: “É quase residual o interesse pelos fatos gerados
no âmbito da Sociologia, Antropologia, Política, História. Quando muito, as ciências
humanas conseguem eclodir no noticiário científico através das novas tecnologias
criadas pela indústria: objetos pedagógicos, instrumentos psicológicos, recursos de
comunicação”. (Mello, 1982, p. 20)
Observamos que a veiculação dos fatos era realizada por meio de linguagem
técnica, expressões científicas pouco explicadas, em um nível discursivo assimilado
apenas por aqueles que pertençam a esta área ou que já estejam familiarizados com estes
termos. Com base no nível discursivo, o leitor-modelo a quem se dirigem estas matérias,
seriam os profissionais que possuem conhecimento na área enfocada, o que exclui a
grande massa da população no que se refere ao entendimento dessas matérias.
Seguindo o modelo de cooperação textual de Eco (idem), analisamos as
estratégias discursivas utilizadas na construção deste quadro, que busca no texto o “não
dito”, o que é atualizado pelo leitor a partir de marcadores discursivos, palavras,
expressões ou frases, onde existe a predisposição de criar interação com o leitor e a
possibilidade inclusive de persuadi-lo a pensar ou “comprar” idéias vendidas através da
matéria publicada. Essa forma de análise, desenvolvida por Eco em “Lector in Fabula”
(1986), é orientada pelas etapas que descrevemos abaixo.
ACHADOS E COMENTÁRIOS DOS RESULTADOS
1. CIRCUNSTÂNCIAS DE ENUNCIAÇÃO: é tudo o que se refere à produção do
texto, seu enunciado (se é assinado, data, página, título, olho, etc.). De uma forma geral,
1
Em análise de discurso (AD), o termo corpus é utilizado para definir o modelo teórico escolhido para efetuá-la.
Quando Eco (1986) estuda o leitor-modelo, ele deixa claro que este leitor é aquele imaginado e até planejado pelo autor de um
texto. Este autor ao construir sua mensagem, idealiza um personagem com determinados pré-requisitos, que seria o leitor-modelo,
aquele que junto com o autor do texto termina de construir/produzir a matéria ou texto escrito.
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todas as matérias estavam assinadas, dispostas geralmente em página par, a maioria
veiculada aos domingos e não há uma editoria específica para essas matérias. Na
abertura de cada notícia, há sempre o nome da cidade onde o fato está acontecendo.
2. DICIONÁRIO DE BASE: constituído por palavras de difícil compreensão, bem
como termos técnicos. Algumas das palavras utilizadas foram: aveloz, euphorbiaceas,
ortomolecular, nutrólogo, antioxidantes, mineralograma, sambaqui, aquilatar,
calcinados, carbono 14, geólogo, geomorfologista, orlistat, endocrinologista,
geriatra,
anorexígenos,
calorigênicos,
transgênicos,
drawbach,
terminator,
linfócitos, imunológicos, herbicida, massoterapeuta, chacras, alopatia, mazelas,
quiropatia, osteopatia, fomento, germoplasma, alopáticos, fitoterapia, entre outras.
Os termos, em sua maioria, não foram explicados no contexto das notícias, ou estas
explicações apareceram em infográficos, cujas fontes dificultavam a leitura.
3. REGRAS DE CO-REFERÊNCIA: são termos ou frases relacionados ao tema
estudado. Também demonstram a falta de explicação dos termos técnicos utilizados.
Exemplo: O novo gene é introduzido no núcleo da bactéria, este micro-organismo
infecta a célula vegetal. Paralelamente, a bactéria infecta o gene dominante que
caracteriza a célula vegetal (referindo-se ao que seja um alimento transgênico).
Forma de manipulação visceral, óssea e articular que atua sobre as doenças
funcionais do organismo (explicando sobre a Osteopatia). Implementando a
pesquisa, objetivando coletar
e preservar
germoplasmas nativos de plantas
medicinais, além de identificar e caracterizar botânica e fenologicamente as
espécies (referindo-se ao projeto da Epagri em Campos Novos). Moléculas
desequilibradas que buscam estabilidade em células saudáveis provocando sua
morte e degeneração. A combustão do oxigênio nas células produz radicais livres
(explicando sobre os radicais livres). Busca da saúde através da reposição de
minerais e vitaminas e desintoxicação provocada por metais no organismo
(referindo-se ao método ortomolecular).
4. SELEÇÕES CONTEXTUAIS E CIRCUNSTANCIAIS: são palavras ou frases que
identificam o contexto e a circunstância da ocorrência do fato registrado. Estão
diretamente ligadas às regras de co – referência, estabelecendo relações de causa e
efeito. Como por exemplo: *Embora pareçam grandes vilões, os radicais são fortes
aliados do organismo quando este é atingido em processos infecciosos. * O processo
de recuperação foi lento, mas compensado pela garantia de uma vida saudável. Em
vista dos exemplos acima, podemos perceber que os contextos são sempre positivos,
enaltecendo o fato exposto e conduzindo o leitor a uma aceitação da idéia sem que haja
uma reflexão. Os pontos negativos aparecem, mas existe sempre uma colocação positiva
para superá-los.
5. HIPERCODIFICAÇÃO IDEOLÓGICA: são frases ou palavras que, usadas de forma
estereotipada ou com sentido duplo, podem conduzir a um julgamento, à indução de um
comportamento. Exemplos: garantia de uma vida saudável; o segredo da juventude e da
maturidade sadia; benefício certo e duradouro; trabalho sério que está desenvolvendo;
seus pacientes não têm economizado elogios à novidade.
6. FRAMES: são informações associadas à temática geral que podem levar a um
pensamento ou idéia estereotipada. A “frame” leva o leitor a um julgamento da situação
apresentada. Os exemplos podem ser os mesmos utilizados na Hipercodificação
Ideológica.
As entrevistas realizadas com o grupo de 60 pessoas reforçaram os dados
encontrados a partir da análise do discurso das reportagens. Foi possível perceber que os
leitores encontraram dificuldades em compreender as expressões técnicas, usadas de
forma acentuada em todas as matérias analisadas, o que reforça os resultados obtidos
através da análise de discurso de que as expressões técnicas utilizadas dificultam a
leitura interpretativa por parte das pessoas que não estão familiarizadas com o tema
enfocado, mas uma vez confirmando que as matérias científicas veiculadas pelo jornal
não se dirigem a população em geral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na análise dos resultados, pudemos perceber que o modelo de
jornalismo científico adotado pelo jornal A Notícia é o mesmo que já foi
exaustivamente criticado pelos teóricos da Comunicação. As matérias não são escritas
para popularizar o conhecimento, o que pode ser observado pelos termos técnicos
empregados na elaboração das mesmas. O vocabulário léxico é de difícil compreensão,
voltado para os profissionais da área científica abordada. Os termos técnicos
empregados não são explicados no contexto da notícia.
O conceito de ciência está associado às grandes descobertas ou assuntos de
repercussão nacional e estão sempre relacionados às ciências físicas, biológicas e
químicas. As ciências humanas não ocupam igual espaço na divulgação científica,
sendo que das sete matérias analisadas, apenas uma refere-se a esta área e,
provavelmente, só obteve destaque porque se tratava de um assunto de repercussão
internacional.
A Ciência é vista como verdade absoluta. Isso é demonstrado pelo discurso
dogmático empregado nos textos. Ressaltam-se os pontos positivos que se referem ao
fato. A utilização de verbos imperativos conduz o leitor a uma tomada de posição
favorável ao assunto abordado. O discurso utilizado induz a um comportamento sem
reflexão por parte do leitor e a centralização do conhecimento científico.
Este estudo reforça que, para que o jornalismo científico deixe de ser um
mero divulgador e mantenedor do conhecimento centralizado, é necessário que o
jornalista esteja preparado para no mínimo, traduzir termos técnicos para uma
linguagem mais comum, tornando os textos mais simples. Como afirma Burkett:
“A medida que uma compreensão mais completa e realística se desenvolver
a partir de seus textos a respeito das Ciências Físicas, bem como das
Sociais, você estará realizando um serviço educacional para seus leitores e a
sociedade em geral. Está em voga diminuir o efeito que qualquer indivíduo
pode ter sobre a sociedade. Entretanto, o escritor que respeita a verdade e o
bem – estar de seu público terá um impacto que vai muito além de palavras
sobre o papel...”. (Burkett, 1990, pág. 02)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BURKETT, W. Jornalismo Científico. Rio de Janeiro: Forense Univesitária, 1990
ECO, U. Lector in Fabula: A cooperação interpretativa nos textos narrativos. São
Paulo: Ed. Perspectivas, 1986.
LAVILLE, C. & DIONNE, J. A Construção do Saber: Manual de metodologia da
pesquisa em Ciências Humanas. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda; Belo
Horizonte: Editora UFMG, 1999.
MELLO, J. M. Impasses no Jornalismo Científico. In: Revista Comunicação e
Sociedade – Jornalismo Científico; Jornalismo Brasileiro. Campinas. Ano IV, nº 7. Pag.
19 – 24. Março de 1982.
MINAYO, M. C. de S. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde.
São Paulo/Rio de Janeiro: HUCITEC – ABRASCO, 1993.
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