Caracterização do perfil epidemiológico das hepatites

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“Caracterização do perfil epidemiológico das hepatites
virais no estado de Rondônia no período de 1999 a 2009”
por
Rosângela Alves da Silva Olsson
Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre
Modalidade Profissional em Saúde Pública.
Orientador: Prof. Dr. Valmir Laurentino Silva
Rondônia, março de 2011.
2
Esta dissertação, intitulada
“Caracterização do perfil epidemiológico das hepatites
virais no estado de Rondônia no período de 1999 a 2009”
apresentada por
Rosângela Alves da Silva Olsson
foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes
membros:
Prof. Dr. Fabrício Calvo
Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Escobar
Prof. Dr. Valmir Laurentino Silva – Orientador
Dissertação defendida e aprovada em 16 de março de 2011.
3
Dedico
à
minha
família,
como
reconhecimento ao incentivo e apoio em
todos os momentos de minha vida.
4
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, que me guia e de quem acredito receber todas as bênçãos.
Aos meus pais, pela educação que me deram, e por serem a minha rocha nos
momentos de tempestade.
Ao Cesar, pelo companheirismo e carinho.
À Quételins e Valéria, pela preocupação nos momentos de cansaço.
À Profª Mestre Maria Augusta Ramalhães, pelas poucas palavras que muito
modificaram os meus objetivos.
Aos amigos da AGEVISA, que forneceram informações e apoio.
Às companheiras de luta do mestrado, pelos momentos compartilhados de
incertezas e vitórias.
Ao Dr. Valmir, meu orientador, pelo conhecimento e paciência com que me
conduziu.
A todos os professores, pelas informações transmitidas.
5
“Sempre que a ambição e o orgulho são
tolerados, a vida é maculada; pois o
orgulho,
não
sentindo
necessidade,
cerra o coração para as bênçãos
infinitas do Céu.”
Ellen G. White
6
OLSSON, R. A. S. Caracterização do perfil epidemiológico das hepatites virais no
Estado de Rondônia no período de 1999 a 2009. Porto Velho, 2011. 85 f. Dissertação
do Mestrado Profissional em Vigilância em Saúde na Amazônia – Escola Nacional de
Saúde Pública Sergio Arouca.
RESUMO
As hepatites virais referem-se a cinco tipos de vírus (A, B, C, D, e E), de distribuição
universal, que causam dano hepático e, ainda que apresentem semelhanças clínicolaboratoriais, proporcionam diferenças epidemiológicas quanto à sua evolução. Sendo
assim, buscamos caracterizar o perfil epidemiológico das hepatites virais em Rondônia,
no período de 1999 a 2009. O tipo de estudo desenvolvido foi o epidemiológico
descritivo e retrospectivo, utilizando-se da base de dados disponível no Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Verificamos que a falta de
preenchimento dos campos nas Fichas de Investigação Epidemiológica (FIE) não
inviabilizaram o estudo, mas mostrou-se evidente a necessidade de treinamento dos
profissionais de saúde para o seu adequado preenchimento. A aplicação do critério de
“sorologia reagente” para cada marcador viral, na FIE, como meio para melhor
conclusão do tipo de vírus proporcionou resultados mais confiáveis. O estudo mostrou
também certa conformidade entre os 52 municípios do estado. Porém, os municípios de
Candeias, Pimenta Bueno, Monte Negro, Ariquemes, Guajará-Mirim e Vilhena
destacaram-se pela elevada incidência dos vírus A e B. A precariedade da infraestrutura de saneamento básico e a carência das ações de educação em saúde da
população contribuem para a persistência dos casos de hepatite A no estado. A detecção
do vírus B em pré-escolares pressupõe transmissão vertical e a soroprevalência de
Hepatite B entre os adolescentes de Rondônia aponta para a necessidade de se repensar
as estratégias de vacinação contra o vírus B. Apesar dos esforços para a ampliação da
cobertura vacinal em todo o estado, a endemicidade do vírus B continua elevada e com
tendência ao crescimento.
PALAVRAS-CHAVE: Perfil epidemiológico, população, vírus da hepatite, notificação
de doenças e tendências.
7
OLSSON, R. A. S. Characterization of the epidemiology of viral hepatitis in the
State of Rondônia in the period 1999 to 2009. Porto Velho, 2011. 85 f. Thesis of the
Professional Masters in Health Surveillance in the Amazon – Escola Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca.
SUMMARY
Viral hepatitis refers to five types of viruses (A, B, C, D and E), of universal
distribution, which cause liver damage and, although they have similar clinical and
laboratory data, provide epidemiological differences as to its evolution. So we try to
understand the epidemiology of viral hepatitis in Rondônia, in the period 1999 to 2009.
The type of study developed was descriptive epidemiological and retrospective study,
using the database available in the Information System for Notifiable Diseases (ISND).
Concluded that the lack of completed fields in Sheets for Epidemiological Research
(SER) did not hamper the study, but was a clear need for training of health professionals
to adequately fill them. Applying the criterion of "seropositive" for each viral marker in
SER, as a means to better conclusion on the virus strain provided more reliable results.
The study also showed some conformity in to the 52 municipalities. However, the
municipalities of Candeias, Pimenta Bueno, Monte Negro, Ariquemes, Vilhena and
Guajará-Mirim distinguished by a high incidence of virus A and B. The precariousness
of the infrastructure in the state of sanitation and lack of health education activities in
the population contribute to the persistence of cases of hepatitis A. The detection of
hepatitis B virus among preschool children requires transmission and prevalence among
teenagers of the State of Rondônia, points to the need to rethink strategies for
vaccination against hepatitis B. While efforts to increase immunization coverage
throughout the state, the endemicity of hepatitis B virus remains high and constant
growth.
KEYWORDS: Health profile, population, hepatitis viruses, disease notification and
trends.
8
SUMÁRIO
1.
2.
2.1.
2.2.
2.2.1.
2.2.2.
2.2.3.
2.2.4.
2.2.5.
2.2.6.
2.3.
2.4.
2.4.1.
3.
3.1.
3.2.
3.3.
3.4.
3.5.
3.6.
3.7.
4.
5.
5.1.
5.2.
6.
7.
INTRODUÇÃO ............................................................................................
REFERENCIAL TEÓRICO .........................................................................
UM POUCO MAIS SOBRE AS HEPATITES VIRAIS ..............................
HEPATITES VIRAIS A, B, C, D e E ..........................................................
HEPATITE A ...............................................................................................
HEPATITE B ................................................................................................
HEPATITE C ................................................................................................
HEPATITE D ...............................................................................................
HEPATITE E
CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS HEPATITES VIRAIS A, B, C, D e
E ....................................................................................................................
ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE EM RONDÔNIA: LEMBRANDO
FATOS ..........................................................................................................
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: CONTANDO HISTÓRIA .............
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS HEPATITES VIRAIS ............
METODOLOGIA .........................................................................................
BASE DE DADOS .......................................................................................
INSTRUMENTO DE NOTIFICAÇÃO/INVESTIGAÇÃO (FICHA) .........
FLUXO DE DADOS ....................................................................................
DIFERENÇAS NAS VERSÕES DO SINAN .............................................
LOCAL DO ESTUDO .................................................................................
CAMINHO PARA ANÁLISE DOS DADOS ..............................................
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ......................................................................
RESULTADOS ............................................................................................
DISCUSSÃO
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS PARA AS HEPATITES EM
RONDÔNIA .................................................................................................
CARACTERÍSTICAS DOS MUNICÍPIOS PARA AS HEPATITES
VIRAIS .........................................................................................................
CONCLUSÕES ............................................................................................
REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................
ANEXO A - Frente da Ficha de investigação das hepatites virais (versão
Windows) ......................................................................................................
ANEXO B - Verso da Ficha de investigação das hepatites virais (versão
Windows).......................................................................................................
ANEXO C - Frente da Ficha de investigação das hepatites virais (versão
Net).. .............................................................................................................
ANEXO D - Verso da Ficha de investigação das hepatites virais (versão
Net) ...............................................................................................................
13
17
17
17
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87
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Mapa 1
Gráfico 1
Mapa 2
- Distribuição dos níveis de endemicidade da hepatite A na população do
18
mundo
- Evolução dos títulos dos marcadores sorológicos da infecção pelo HAV
19
segundo meses de exposição
- Distribuição da prevalência do HBsAg na população do mundo
21
Figura 1
- Fluxograma para a investigação laboratorial da hepatite B
Gráfico 2
- Curso sorológico da infecção da hepatite B aguda
Gráfico 3
- Curso sorológico da infecção da hepatite B crônica
Figura 2
- Número de casos confirmados x cobertura vacinal de menores de um ano de
27
idade em rotina com a terceira dose. Brasil, 1993-2002*
- Distribuição da prevalência do anti-HCV na população do mundo
29
Mapa 3
23
24
25
Gráfico 4
- Marcadores sorológicos da infecção pelo HCV
Figura 3
- Fluxograma para a investigação laboratorial da hepatite C
Mapa 4
- Distribuição da prevalência do HDV na população do mundo
Figura 4
- Fluxograma para a investigação laboratorial da hepatite D
Mapa 5
- Representação das regionais de saúde no estado de Rondônia
Gráfico 5
- Taxa de incidência das hepatites virais por 100 mil habitantes segundo local
44
de residência, Brasil, região norte e Rondônia, no período de 2001 a 2006.
- Esquema do fluxograma de dados no SINAN.
46
Figura 5
Gráfico 6
Gráfico 7
Gráfico 8
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
- Taxa média dos casos confirmados de hepatite A segundo faixa etária e sexo.
Rondônia – 1999 a 2009.
- Taxa média dos casos confirmados de hepatite B segundo faixa etária e sexo.
Rondônia – 1999 a 2009.
- Taxa média dos casos confirmados de hepatite C segundo faixa etária e sexo.
Rondônia – 1999 a 2009.
- Visualização da taxa de incidência dos casos confirmados de hepatite A por
10 mil habitantes, no mapa do estado de Rondônia, no período de 1999 a 2009.
- Visualização da taxa de incidência dos casos confirmados de hepatite B por
10 mil habitantes, no mapa do estado de Rondônia, no período de 1999 a 2009.
- Visualização da taxa de incidência dos casos confirmados de hepatite C por
10 mil habitantes, no mapa do estado de Rondônia, no período de 1999 a 2009.
- Visualização da taxa de incidência dos casos confirmados de hepatite D por
10 mil habitantes, no mapa do estado de Rondônia, no período de 1999 a 2009
29
30
31
32
39
54
54
54
58
59
60
61
10
Figura 10
Gráfico 9
Gráfico 10
Gráfico 11
Gráfico 12
Gráfico 13
Mapa 6
Gráfico 14
- Visualização da taxa de incidência dos casos confirmados de hepatite E por
10 mil habitantes, no mapa do estado de Rondônia, no período de 1999 a 2009.
- Taxa de incidência dos casos confirmados de hepatites virais segundo ano de
notificação e classificação etiológica. Rondônia – 1999 a 209.
- Taxa de incidência média dos vírus A, segundo regiões de saúde. Rondônia –
1999 a 2009.
- Taxa de incidência média dos vírus B, segundo regiões de saúde. Rondônia –
1999 a 2009.
- Taxa de incidência média dos vírus C, segundo regiões de saúde. Rondônia –
1999 a 2009
- Dispersão dos municípios de residência, casos confirmados, segundo taxa
média da hepatite pelos vírus A e B. Rondônia – 1999 a 2009.
- Localização do distrito sanitário indígena de Porto Velho no estado de
Rondônia.
- Casos confirmados de hepatites virais segundo classificação etiológica e ano
de notificação, com linha de tendência da hepatite B. Rondônia – 1999 a 2009.
62
63
64
64
65
66
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75
11
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 1
Quadro 1
- Casos de hepatite B confirmados, segundo regiões de residência no Brasil,
no período 2007 - 2009
- Interpretação dos resultados de sorologia para hepatite B
Quadro 2
- Marcadores sorológicos da hepatite D
Quadro 3
- Resumo das características dos vírus das hepatites
Quadro 4
- Coeficiente de incidência por doenças transmissíveis no estado de Rondônia
Quadro 5
- Distribuição dos municípios do estado de Rondônia segundo pactuação no
PDR/2010, por tipo de atendimento à saúde regionalizado e população
atendida.
- Percentual de casos encerrados segundo ano de encerramento, quantidade de
notificações e casos não encerrados. Rondônia 1999 a 2009.
- Casos confirmados de hepatites virais segundo classificação etiológica, faixa
etária e taxa média por 10 mil habitantes. Rondônia 1999 a 2009.
- Casos confirmados de hepatites virais segundo classificação etiológica, sexo
e razão (M/F). Rondônia 1999 a 2009.
- Casos confirmados de hepatites virais segundo raça/cor e classificação
etiológica. Rondônia 1999 a 2009.
- Casos confirmados de hepatites virais segundo escolaridade e classificação
etiológica. Rondônia 1999 a 2009.
- Taxa de incidência (por 100 mil habitantes) de hepatites virais segundo zona
de residência e classificação etiológica. Rondônia, 1999 a 2009.
- Números absolutos e proporções de casos confirmados de hepatites virais em
gestantes segundo classificação etiológica Rondônia, 1999 a 2009.
- Percentual dos casos confirmados de hepatites virais com esquema completo
de vacinação para hepatites A e B, segundo classificação etiológica. Rondônia,
1999 a 2009.
- Comparação entre municípios quanto à proporção de habitantes por tipo
predominante de saneamento básico e principais causas de internação.
Tabela 2
Tabela 3
Tabela 4
Tabela 5
Tabela 6
Tabela 7
Tabela 8
Tabela 9
Quadro 6
22
25
32
35
37
40
52
53
53
55
55
56
56
57
72
12
LISTA DE SIGLAS
AGEVISA – Agência Estadual de Vigilância em Saúde
AIDS – sigla em inglês da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
ALT – enzima alanina aminotransferase
AST – enzima aspartato aminotransferase
CEMETRON - Centro de Medicina Tropical de Rondônia
DATASUS - banco de dados do Sistema Único de Saúde
DNA – sigla em inglês ácido desoxirribonucléico
DST – Doença Sexualmente Transmissível
FIE – Ficha de Investigação Epidemiológica
GPS – sigla em inglês do Sistema de Posicionamento Global
HAV – sigla em inglês do vírus da hepatite A
HBeAg – sigla em inglês do antígeno de replicação da hepatite B
HBsAg – sigla em inglês do antígeno de superfície da hepatite B
HBV– sigla em inglês do vírus da hepatite B
HBV-DNA – método de biologia molecular para quantificação viral do vírus B
HCV – sigla em inglês do vírus da hepatite C
HDV – sigla em inglês do vírus da hepatite D
HEV – sigla em inglês do vírus da hepatite E
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LACEN - Laboratório Central
OMS – Organização Mundial de Saúde
PEHV – Programa Estadual para o Controle e a Prevenção das Hepatites Virais
PNHV – Programa Nacional para o Controle e a Prevenção das Hepatites Virais
RNA – sigla em inglês do ácido ribonucléico
SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SINAN web – site do Sistema de Informação de Agravo de Notificação
SIS net – Sistema para a transferência dos dados do SINAN
SUS – Sistema Único de Saúde
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
13
1. INTRODUÇÃO
A palavra hepatite é o termo geral usado para designar a inflamação do fígado,
que, convencionalmente, indica, também, alterações degenerativas ou necróticas dos
hepatócitos. Essa inflamação pode ser aguda ou crônica e ter como causa uma variedade
de agentes infecciosos ou de outra natureza (REY, 1999). Um sinal característico de
hepatite é a icterícia. Existem relatos de icterícia desde a época de Hipócrates (por volta
de 406 a 370 a.C) apontando que essa doença acomete a humanidade há muitos anos
(SILVA et al., 2003). As hepatites virais são doenças infecciosas de transmissibilidade
de pessoa a pessoa que, pela alta morbidade mundial, constituem importante problema
de saúde pública.
Antes da descoberta dos vírus, a diferenciação das hepatites só era possível
através da observação do tempo de incubação da doença e da forma provável de
contágio. Assim, eram identificados apenas dois tipos de hepatite: a de transmissão
fecal-oral, transmitida pela água ou alimentos contaminados, e a de transmissão
sanguínea (BRASIL, 1998).
Na década de 1960, Blumberg, pesquisando as proteínas do sangue, observou no
soro de um australiano a presença de um antígeno ao qual denominou de “antígeno
Austrália”, hoje reconhecido como o antígeno de superfície do vírus da hepatite B
(HBsAg). Desde então, a rápida evolução dos conhecimentos possibilitou a detecção de
diferentes vírus capazes de causar hepatites na espécie humana (PASSOS, 2003).
Com o avanço das descobertas, chegou-se atualmente a sete tipos de vírus que
possuem hepatotropismo, os quais são representados pelas letras maiúsculas: A, B, C,
D, E, G e TT (FERREIRA & SILVEIRA, 2004). Porém, o Programa Nacional para o
Controle e a Prevenção das Hepatites Virais (PNHV) propõe ações apenas para cinco
tipos de vírus: da hepatite A (HAV), da hepatite B (HBV), da hepatite C (HCV), da
hepatite D (HDV) e da hepatite E (HEV), por apresentarem relevância clínica e
epidemiológica. Esses cinco tipos de vírus das hepatites estão disseminados
mundialmente, com muitas variações em sua distribuição geográfica, na prevalência e
também no quadro clínico.
Alguns pesquisadores, como Focaccia (2005), utilizam uma categoria
classificatória adicional, além das que o Ministério da Saúde trabalha denominada
14
hepatites não A-E, que engloba as hepatites causadas pelos vírus G, TT e por outros
vírus ainda não caracterizados.
Salientamos que seguimos a orientação do PNHV na construção do perfil
epidemiológico das hepatites virais no estado de Rondônia, utilizando apenas os cinco
tipos mencionados.
De modo geral, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que bilhões de
pessoas já tenham entrado em contato com os vírus que causam hepatite e que milhões
delas são portadoras crônicas do vírus. Esses portadores crônicos são de grande
relevância para a perpetuação da doença, o que contribui para que as hepatites virais se
perpetuem como um grave problema de saúde pública (FERREIRA & SILVEIRA,
2004).
Além da manutenção da doença pelos portadores crônicos, as hepatites virais
apresentam outros problemas: 65% dos casos de cirrose são decorrentes da hepatite B e
C; dos casos de hepatite B, 10% serão crônicos em 15 a 30 anos e destes, 25% evoluirão
para cirrose; o vírus C desenvolve casos crônicos em 85% dos portadores, e destes, 20%
desenvolverão cirrose (LEITE et al., 2002). Essa conjuntura de problemas acarreta
custos para o sistema de saúde. No final da década de 1990, estimou-se que os gastos
anuais no Brasil com internações por problemas decorrentes das hepatites, cirrose e de
hepatocarcinoma perfizeram o montante de 16,5 milhões de dólares (MORAES &
CASTILLO, 1998 apud GAZE et al., 2002).
Em decorrência da importância dos problemas causados pelas hepatites virais,
estas passaram a integrar a relação das doenças de notificação compulsória desde o ano
de 1996, com a portaria n° 1.100 do Ministério da Saúde. A captação dos dados para a
vigilância epidemiológica das hepatites virais ocorre por meio da ficha de notificação do
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Esse sistema de captação pode ser chamado de passivo, uma vez que está
baseado na notificação passiva dos casos, ou seja, aguarda o paciente procurar o serviço
de saúde para, nesse momento, realizar o diagnóstico e a notificação. Sendo assim, há
uma grande tendência às subnotificações, pelo longo curso da doença sem sintomas ou
sinais relevantes nos indivíduos (GAZE, 1999). Visto que as hepatites virais podem
cursar, principalmente, de forma assintomática ou com manifestações clínicas leves,
muitas pessoas podem deixar de procurar as unidades de saúde, ocasionando não
somente subnotificação, mas também subestimação da prevalência das hepatites. Essas
15
dificuldades na notificação são amenizadas pela busca ativa dos comunicantes dos casos
confirmados de hepatite viral.
Ressaltamos que comunicante é a pessoa que mora na mesma residência do caso
confirmado ou que tem contato sexual com o mesmo. A busca ativa também não ocorre
como preconizada pelo Ministério da Saúde. O processo de trabalho na maioria das
vigilâncias epidemiológicas municipais não permite a ida do técnico até os
comunicantes, por várias alegações, como falta de transporte ou de pessoal. Sendo
assim, os comunicantes são convocados a comparecer nas unidades básicas de saúde ou
na própria vigilância epidemiológica das Secretarias Municipais de Saúde. Mediante o
comparecimento, serão esclarecidas suas dúvidas e, principalmente, solicitado o exame
de pesquisa sorológica das hepatites. Com essa abordagem, novamente retornamos à
total dependência da notificação passiva de novos casos, retornando ao mesmo ponto,
como num círculo vicioso.
Uma solução para essa situação é a notificação no laboratório, na ocorrência de
alteração de no mínimo três vezes o valor normal das aminotransferases ou na
positividade de exames de sorologia para hepatites virais. Com essa estratégia,
ampliaria a possibilidade de se encontrar casos de hepatites virais. Outra ação é a
divulgação de informação sobre transmissão e prevenção, com a possibilidade de
notificação on line de casos suspeitos.
Apesar da pouca adesão a outras fontes de notificação, o SINAN é um sistema
que concentra muitas informações importantes para o acompanhamento dos casos de
hepatites virais, sendo relevante sua utilização. Desta forma, este estudo teve como
objetivo geral caracterizar o perfil epidemiológico das hepatites virais em Rondônia, no
período de 1999 a 2009, empregando, como fonte de dados, o SINAN.
Para alcançar tal objetivo, foi necessário: a) identificar os casos de hepatites
virais segundo os critérios de caso confirmado; b) descrever os casos confirmados de
hepatites virais segundo dados pessoais e de localidade; c) descrever a evolução dos
casos confirmados de hepatites virais no período, segundo município de residência e d)
caracterizar os casos confirmados nos municípios de residência segundo aspectos
históricos e socioeconômicos.
O tipo de estudo desenvolvido foi o epidemiológico descritivo e retrospectivo,
por estar baseado na população de Rondônia e visar a caracterização do perfil das
hepatites virais num período de tempo passado.
16
O presente estudo possui relevância para embasar ações de prevenção e
promoção da saúde ou, ainda, suscitar outros estudos.
17
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 UM POUCO MAIS SOBRE AS HEPATITES VIRAIS
O termo hepatite viral refere-se aos cinco vírus (A, B, C, D e E) que causam
dano hepático e são classificados, conforme sua transmissão, em dois grupos:
parenterais e enterais. As hepatites B, C e D estão incluídas nas hepatites parenterais e
possuem potencial evolutivo para a hepatite crônica, cirrose e carcinoma hepatocelular.
Já as hepatites A e E nunca se tornam crônicas e, geralmente, são doenças autolimitadas
(PAIXÃO, 2001). Assemelham-se a uma síndrome gripal.
Cronologicamente, as hepatites virais foram descobertas na seguinte ordem:
1965 – hepatite B, descobridor Blumberg;
1973 – hepatite A, descobridor Fainstone;
1977 – hepatite D, descobridor Rizzetto;
1989 – hepatite C, descobridores Choo, Kuo, Bradley e Hougthon;
1990 – hepatite E, em 1983 o pesquisador Balayan mostrou a existência
de um novo vírus. Porém, foi em 1990 que Reyes conseguiu fazer a
clonagem desse vírus (FONSECA, 2010).
2.2 HEPATITES VIRAIS A, B, C, D e E
2.2.1 HEPATITE A
A hepatite viral A é também conhecida, entre muitas outras terminologias, como
“hepatite infecciosa”, “hepatite epidêmica” ou “hepatite de período de incubação curto”.
O HAV é um pequeno vírus de capsídeo icosaédrico, que não possui envelope e
apresenta em seu interior uma hélice simples de ácido ribonucléico (RNA), sendo
classificado como um Picornaviridae do gênero Hepatovirus (CONCEIÇÃO &
FOCACCIA, 1997). Foi visualizado em fezes de pacientes por Stephen Feinstone,
Albert Kapikian e Robert Purcel, em 1973 (SARACENI, 2001; FONSECA, 2010).
18
Existem sete genótipos, sendo que quatro infectam o homem, e os mais
freqüentes são os genótipos I e III. Esse vírus pode ser encontrado na água (inclusive do
mar) e no solo, é resistente no meio ambiente, onde mantém seu potencial infeccioso
por até duas semanas. Sua transmissão ocorre principalmente pela via fecal-oral
(FERREIRA & SILVEIRA, 1997; BRAGA et al., 2008).
EPIDEMIOLOGIA:
A hepatite pelo vírus A possui alta prevalência nos países com condições
sanitárias e socioeconômicas precárias (mapa 1). Estudos demonstram a redução da
circulação do vírus relacionada à melhoria das condições de saneamento básico, à oferta
de água tratada e à ampliação do acesso à educação sanitária (CONCEIÇÃO &
SICILIANO, 2005).
Mapa 1 - Distribuição da hepatite A no mundo.
Fonte: Brasil, 2008, pág. 23
Na década de 1990, era muito comum que as crianças até os cinco anos de idade
fossem infectadas, mas essa tendência foi se modificando (PASSOS, 2003). Apesar de
ainda ser incidente em crianças e adolescentes, verificou-se elevação da idade média de
infecção, podendo ocorrer uma tendência ao aumento das infecções e internações na
19
faixa etária economicamente ativa, com repercussões para a população trabalhadora
(GAZE et al., 2002).
Apesar da hepatite A ser prevalente em praticamente todos os países do mundo,
no Brasil, a região norte aparece como de alta endemicidade, principalmente pela falta
de saneamento básico.
MARCADORES SOROLÓGICOS:
Visando subsidiar os profissionais das vigilâncias epidemiológicas, o PNHV
elaborou o Material Instrucional para Capacitação em Vigilância Epidemiológica das
Hepatites Virais. Neste material, são elencados os principais marcadores para o
diagnóstico das hepatites.
Gráfico 1 - Evolução dos títulos dos marcadores sorológicos da infecção pelo HAV segundo
meses de exposição
Fonte: Brasil, 2008, pág. 21
ALT (Alanina Aminotransferase)
É indicativa de lesão hepática
Presença elevada ocorre geralmente na fase aguda
Não é específica para nenhum tipo de hepatite.
Anti-HAV IgM
Surgem precocemente, na fase aguda da doença, desaparecendo após
três meses
Anticorpo específico para hepatite A encontrado no soro de todos os
indivíduos infectados recentemente
É o anticorpo de infecção aguda ou recente
Anti-HAV IgG
Anticorpos da classe IgG contra o vírus da hepatite A.
É indicativo de infecção passada
20
Estão presentes na fase de convalescença e persistem indefinidamente
É importante marcador epidemiológico por demonstrar a prevalência da
infecção em determinada população (BRASIL, 2008).
VACINAÇÃO:
Desde o ano de 1988, estudos clínicos foram desenvolvidos para mostrar a
segurança da vacina contra a hepatite A. Somente em 1995 é que foi licenciada; na sua
composição possui vírus inativado. Apresenta “excelente imunogenicidade, pequena
reatogenicidade para adultos e crianças com mais de dois anos de idade” (SANTOS &
LOPES, 1997).
Após a primeira dose, a proteção é de 95% para adultos e de 97% para crianças
acima de dois anos e adolescentes.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza a vacina para crianças
com mais de 12 meses e somente para casos especiais como, por exemplo, portadores
crônicos dos vírus da hepatite B e C. Sua aplicação se dá em duas doses com intervalo
de seis meses entre elas, e está disponível no Centro de Referência para
Imunobiológicos Especiais (CRIE) (BRASIL, 2008).
TRATAMENTO:
O tratamento é realizado por acompanhamento ambulatorial e, uma vez que essa
doença é autolimitada, sua forma aguda possui poucas complicações no quadro clínico.
No primeiro mês, são duas consultas com intervalo de 15 dias e depois consultas
mensais até ocorrer duas dosagens normais com intervalo de quatro semanas. Se
necessário, acompanhar com intervalo de tempo menor. Em cada consulta, deve-se
solicitar exames de dosagem das aminotransferases, bilirrubinas, albumina e tempo de
protrombina e avaliar critério de gravidade. Clinicamente, a gravidade observa-se por:
...vômitos repetidos, febre prolongada, hálito hepático, hemorragias
espontâneas e sinais de encefalopatia hepática (sonolência e/ou
agitação psicomotora, asterixis¹ – “flapping”, torpor e coma).
Laboratorialmente, pode-se avaliar a gravidade pelo tempo de
protrombina (ou tempo de atividade de protrombina) (TP) ou tempo
de atividade de protrombina – TP > 4 segundos em relação ao controle
ou INR > 1.5 – que não responde ao uso de vitamina K por via
parenteral. (BRASIL, 2008)
21
2.2.2 HEPATITE B
Baruch Blumberg, em 1963, ao estudar anticorpos contra lipoproteínas séricas
em pacientes transfundidos, observou a reação de um novo antígeno. Essa descoberta só
foi publicada em 1965, quando o antígeno Austrália (AgAu) passou a ser conhecido
(FONSECA, 2010).
O HBV é um vírus que apresenta em seu interior o ácido desoxirribonucléico
(DNA). Pertencente à família Hepadnavírus, é muito resistente no meio ambiente e
suporta extremos de temperatura. Sua transmissão ocorre por meio de contato da pessoa
susceptível com sangue ou outros fluídos corpóreos infectados pelo vírus (FERREIRA
& SILVEIRA, 1997; BABINSKI et al., 2008).
A destruição dos hepatócitos ocorre pela resposta imune do hospedeiro,
principalmente pela ação dos Linfócitos T citotóxicos. O quadro clínico é muito
variável, ocorrendo de casos assintomáticos até carcinoma hepatocelular (BARROS
JUNIOR et al., 2008).
EPIDEMIOLOGIA:
Áreas com prevalência do HBsAg superior a 7% ou prevalência de infecção
prévia superior a 60% são consideradas de alta endemicidade. Isto ocorre na África,
América do Sul, sudeste da Ásia, China, partes do Oriente Médio e ilhas do Pacífico
(mapa 2). Também é observado que na população geral a faixa etária mais atingida é de
20 a 40 anos (CHAVEZ et al., 2003).
Mapa 2 - Distribuição da prevalência do HBsAg na população do mundo
Fonte: Brasil, 2008, pág. 39
22
Segundo Ferreira & Silveira (1997; 2004), as taxas de incidência da hepatite B
variam muito no mundo, de 0,1% a superior a 30% (como observado em países da
Ásia). Essa distribuição variada dos casos de hepatite B também ocorre no Brasil. Na
tabela 1 observamos que, no Brasil, a região norte é a que possui a maior taxa de
incidência (51,97/100 mil).
Tabela 1 - Casos de hepatite B confirmados, segundo regiões de residência no Brasil, no período
2007 - 2009.
Regiões
Brasil
População residente em 2008
Casos hepatite B
Taxa média por 100 mil
habitantes
189.612.814
62.881
33,16
Norte
15.142.684
7.870
51,97
Nordeste
53.088.499
4.996
9,41
Sudeste
80.187.717
30.771
38,37
Sul
27.497.970
12.409
45,13
Centro-Oeste
13.695.944
6.835
49,91
Nota: População residente do DATASUS e casos de hepatite B do SINAN-Web, acesso em 01/04/10.
INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL:
Os exames para triagem de qualquer caso suspeito são: HBsAg e anti-HBc total.
Pelos resultados apresentados, segue-se o fluxo (figura 1). É importante salientar que a
região norte, por ser endêmica para o vírus B, deve estar atenta para a infecção pelo
vírus D. Sendo assim, é recomendação do Ministério da Saúde que todo paciente com
HBsAg + seja testado imediatamente para verificar a presença do vírus D. Ou seja, o
laboratório que identificar o HBsAg +, deve realizar automaticamente a pesquisa para o
vírus D, sem que seja necessária uma nova solicitação de exame, determinação que
resulta em maior agilidade no diagnóstico.
23
Figura 1 - Fluxograma para a investigação laboratorial da hepatite B
Fonte: Brasil, 2008, pág. 21
MARCADORES SOROLÓGICOS:
Conforme Material Instrucional para Capacitação em Vigilância Epidemiológica
das Hepatites Virais, os marcadores sorológicos para o vírus B são:
HBsAg (antígeno de superfície do vírus da hepatite B)
Antigamente conhecido como antígeno Austrália
Aparece em torno de 30 a 45 dias após a infecção
Pode permanecer detectável por até 120 dias nos casos de hepatite
aguda
Primeiro marcador sorológico a aparecer na infecção aguda
Persistindo por mais de 180 dias, caracteriza infecção crônica
pelo HBV
Anti-HBc total
Detectável durante a fase aguda e na fase crônica da doença
Marcador sorológico detectado no período de janela imunológica
Marcador de contato prévio com o vírus
Permanece por toda a vida nos indivíduos que tiveram a infecção
pelo vírus da hepatite B
Importante marcador para os estudos epidemiológicos
Anti-HBc IgM (anticorpos da classe IgM contra o antígeno
do núcleo do vírus da hepatite B)
Importante marcador de infecção aguda
24
Marcador que diferencia a infecção aguda da crônica
Pode persistir por até 180 dias após a infecção
Anti-HBs (anticorpos contra o antígeno de superfície
do vírus da hepatite B)
Indica imunidade contra o vírus
Encontrado isoladamente em pacientes vacinados
Detectado geralmente entre 1 a 10 semanas após o
desaparecimento do HBsAg
O surgimento do anti-HBs, no curso de infecção aguda, é sinal de
cura
HBeAg (antígeno “e” do vírus da hepatite B)
Indicativo de alta replicação viral
Aparece na fase aguda após o HBsAg
Pode permanecer por até dez semanas na fase aguda
Anti-HBe (anticorpo contra o antígeno “e” do vírus
da hepatite B)
Marcador de bom prognóstico nas hepatites agudas
Aparece nos casos de soroconversão do HBeAg (BRASIL, 2008).
Gráfico2 - Curso sorológico da infecção da hepatite B aguda
Fonte: Brasil, 2008, pág. 44
25
Gráfico 3 - Curso sorológico da infecção da hepatite B crônica
Fonte: Brasil, 2008, pág. 44
INTERPRETAÇÃO DOS EXAMES:
Quadro 1 - Interpretação dos resultados de sorologia para hepatite B
Fonte: Brasil, 2008, pág. 16
26
VACINAÇÃO:
Para a prevenção da hepatite B, foi desenvolvida a vacina contra o vírus B. No
ano de 1982, foram licenciadas as primeiras vacinas contra a hepatite B, extraída do
plasma de pacientes crônicos. Em 1986, começou a utilização da vacina produzida a
partir de DNA recombinante. A vacina tem resposta em mais de 90% dos vacinados,
porém essa resposta diminui gradativamente a partir dos quarenta anos de idade
(DIVISÃO DE IMUNIZAÇÃO, 2006). A prevalência da hepatite B está reduzindo em
países que implantaram a vacinação (SOUZA et al., 2007). Em Taiwan, depois de oito
anos do início da vacinação, a redução foi de cinco vezes no percentual de criança
HBsAg positivo. No Alaska, após dez anos de imunização, de 271 crianças observadas
nenhuma apresentou caso crônico e apenas quatro mostraram cicatriz sorológica para a
infecção pelo vírus B (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2006).
Entretanto, essa doença ainda permanece alta em algumas populações.
Conforme calendário do Programa Nacional de Imunização, a vacinação contra a
hepatite B está disponível em todo o Brasil para indivíduos de zero até dezenove anos
de idade, com esquema vacinal que preconiza a aplicação de três doses com os
intervalos de 0, 1 e 6 meses, preferencialmente com a primeira dose ao nascimento.
Porém, conforme Nota Técnica nº 89 de 04/08/2010, a faixa etária para a vacinação será
ampliada a partir de 2011, passando a contemplar também as pessoas de vinte a vinte e
quatro anos. E, em 2012, a faixa etária novamente será ampliada, chegando até aos vinte
e nove anos. Para os povos indígenas, a vacina contra hepatite B é recomendada em
dotas as faixas etárias.
A vacinação iniciou de forma gradual no país, começando na Amazônia
Ocidental em 1989 (Purus, Boca do Acre e Lábrea). A obrigatoriedade em todo o Brasil
teve início em 1996, época em que “foi ampliada a oferta de vacinas para todas as
crianças abaixo de um ano de idade, com ênfase na vacinação de recém-nascidos”
(BRASIL et al., 2003).
No estado de Rondônia, a vacinação contra hepatite B teve alguns marcos
importantes:
1993, segundo semestre, iniciou-se a vacinação na rede pública para
menores de um ano;
1994,foi liberada para faixa até cinco anos de idade, a cobertura vacinal
de 50,1% (Relatório do Plano Plurianual de Saúde de 1996);
27
2005, o estado passou a comprar os insumos para garantir a ampliação da
faixa etária para até trinta anos. Isto ocorreu pela existência de muitos
casos de hepatite pelo vírus B em Rondônia.
Estudos realizados em Taiwan, Espanha, Canadá e Índia demonstraram redução
no número de casos de hepatite B após implantação da vacinação (SILVA, 2003). No
Brasil, Figura 2, também ocorre tendência de queda no número de casos.
Figura 2 - Número de casos confirmados x cobertura vacinal de menores de um ano de idade em
rotina com a terceira dose. Brasil, 1993-2002*
Fonte: Brasil, 2003, pág. 44
TRATAMENTO:
O tratamento da hepatite B aguda ocorre por acompanhamento ambulatorial,
com duas consultas no primeiro mês e consultas mensais posteriormente, a realização de
dosagens laboratoriais mensais e a observação dos critérios de gravidade. Depois disso,
se dá alta com duas dosagens normais no intervalo de um mês (BRASIL, 2008). O
tratamento da hepatite B crônica está indicado nas seguintes situações:
Idade superior a dois anos;
HBsAg (+) por mais de seis meses;
HBeAg (+) ou HBV-DNA > 104 cópias/ml ou 1.900 ui/ml (fase
de replicação);
ALT/AST > 2 vezes o limite superior da normalidade;
Ter realizado, nos últimos 24 meses, biopsia hepática onde tenha
sido evidenciada atividade necro-inflamatória de moderada a
intensa (maior ou igual a a2 pela classificação metavir ou
atividade portal ou peri-septal grau 2 ou maior pela classificação
da Sociedade Brasileira de Patologia) e/ou presença de fibrose de
moderada a intensa (maior ou igual a f2 pela classificação metavir
28
ou Sociedade Brasileira de Patologia); ausência de contraindicação ao tratamento (BRASIL, 2008).
2.2.3 HEPATITE C
Entre 1982 e 1989, Qui-Lim-Choo, George Kuo, Daniel Bradley e Michael
Hougthon fizeram estudos de biologia molecular até descobrirem o genoma de um novo
vírus. Esse vírus era responsável por 80 a 90% das hepatites após transfusão sanguínea
(FONSECA, 2010).
Embora, frequentemente, não haja identificação da via de infecção da hepatite C,
sabe-se que sua transmissão ocorre por meio de contato direto com sangue infectado.
Esse vírus pertence ao gênero Hepacivirus da família Flaviridae. Seu genoma apresenta
uma fita simples de RNA. Possui uma variedade de genótipos, reunidos em seis grupos
principais, com vários subtipos. No Brasil, os genótipos mais freqüentes são 1, 2 e 3
(FERREIRA & SILVEIRA, 2004).
EPIDEMIOLOGIA:
A prevalência da infecção pelo vírus C (figura 3), em média, é de 1 a 1,5% da
população dos Estados Unidos, Europa e Japão. Em países menos desenvolvidos,
encontra-se em torno de 4 a 6%. Os dados do Brasil estimam, em média, 1,5%
(FOCACCIA, 2005).
29
Mapa 3 - Distribuição da prevalência do anti-HCV na população do mundo
Fonte: Brasil, 2008, pág. 85
MARCADORES SOROLÓGICOS:
Para a hepatite C, utiliza-se o marcador anti-HCV (gráfico 4) como triagem.
Quando reagente, deve-se confirmar com o exame de biologia molecular para pesquisa
do vírus C (HCV-RNA) como se demonstra no fluxograma (figura 3).
Gráfico 4 - Marcadores sorológicos da infecção pelo HCV.
Fonte: Brasil, 2008, pág. 87
30
Figura 3 - Fluxograma para a investigação laboratorial da hepatite C
Fonte: Brasil, 2008, pág. 87
2.2.4 HEPATITE D
A hepatite pelo HDV ou vírus delta foi descoberta em 1977 por Mario Rizzetto e
colaboradores, enquanto realizavam biopsias hepáticas em pessoas com hepatite B. Esse
vírus pertencente ao gênero Deltavirus, é uma pequena partícula com genoma RNA e
uma proteína estrutural simples, que são encapsuladas pelo HBsAg. O vírus delta (D)
depende do vírus B para ser infectante. É muito mais agressivo do que os vírus B e C,
causando formas graves, que podem culminar em cirrose e formas fulminantes
(FONSECA, 2002).
Quando sua infecção ocorre simultaneamente com o vírus B chama-se coinfecção, podendo nesse caso ocasionar a hepatite fulminante. Porém, quando o
portador crônico do vírus B é infectado pelo vírus delta chama-se superinfecção,
levando à agudização da hepatite (VIANA, 2003).
31
EPIDEMIOLOGIA:
A hepatite D ocorre em área onde há prevalência, de moderada à alta, de hepatite
B crônica (mapa 4). As maiores prevalências de hepatite delta ocorrem no sul da Itália e
em algumas áreas da ex-URSS, da África, e da Bacia Amazônica. No Brasil, em 1966
houve relatos da “Febre Negra de Lábrea”, que somente em 1987 foi associada ao vírus
delta. O seu mecanismo de transmissão também é semelhante ao do vírus B. A
prevenção ocorre por meio da eliminação da circulação do vírus B pela vacinação
(VIANA, 2003; BRASIL, 2008).
Mapa 4 - Distribuição da prevalência do HDV na população do mundo
Fonte: Brasil, 2008, pág. 74
MARCADORES SOROLÓGICOS:
Os marcadores mais importantes para a hepatite delta estão no quadro 2, abaixo:
32
Quadro 2 - Marcadores sorológicos da hepatite D
Fonte: Brasil, 2008, pág. 17
A aplicação do fluxograma com verificação do anti-HDV para todo paciente
com HBsAg + é essencial para o correto diagnóstico e tratamento.
Figura 4 - Fluxograma para a investigação laboratorial da hepatite D
Fonte: Brasil, 2008, pág. 825
33
2.2.5 HEPATITE E
Na década de 1950, havia a suspeita de um vírus causador de hepatite, não-A e
não-B, que tinha como meio de transmissão a água, mas com características distintas da
hepatite A, posteriormente descrita (1973). Essas características foram evidenciadas em
um surto ocorrido na Somália, África, em 1988. Houve 11.413 casos de hepatite aguda
e 146 óbitos Desses óbitos, 13,8% foram em gestantes. Balayan MS e colaboradores, no
ano de 1983, realizaram dois estudos para comprovar a existência de um novo tipo de
vírus não-A e não-B:
No primeiro estudo, conseguiram produzir hepatite aguda em pessoas
que já haviam desenvolvido hepatite pelo vírus A. Para isso, ofereceram
como dieta às pessoas do estudo, “iogurte” com “pool de fezes
humanas”. Essas fezes vieram de pessoas com suspeita de hepatite nãoA e não-B. No final, as pessoas do estudo eliminaram partículas
esféricas nas fezes;
No segundo estudo, utilizaram-se macacos, que foram infectados com
“extrato de fezes” de pessoas com suspeita de hepatite não-A e não-B.
Os macacos desenvolveram hepatite aguda e tiveram comprovação
histológica, enzimática e de anticorpos; também nas fezes teve excreção
de partículas virais.
Foi em 1990 que Reyes e colaboradores fizeram a clonagem do vírus da hepatite
E (FONSECA, 2010).
O HEV possui mecanismo de transmissão semelhante ao vírus A, fecal-oral.
Salientamos que apesar das semelhanças, esses vírus apresentam variações
epidemiológicas distintas como, por exemplo, a de o vírus E ser mais frequente entre
adultos jovens e ter alta taxa de mortalidade entre mulheres grávidas. Foram relatados
alguns surtos pelo vírus E na Ásia Central, Sudeste Asiático, Oriente Médio, norte da
África, África Subsaariana e no México (TRINTA et al., 2001).
No Brasil, a prevalência do vírus E não apresenta diferença entre as regiões. Um
estudo realizado em doadores de sangue mostra que a positividade do anti-HEV IgG nos
garimpos de ouro é de 6,1%; na população geral é de 3,3%; nos doadores de sangue
varia entre 2,0 a 7,5%; nas grávidas, 1% e, em crianças, 4,5% (BORTOLIEIRO, 2006).
34
2.2.6 CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS HEPATITES VIRAIS A, B,
C, D e E
Para melhor compreensão dos diferentes tipos de vírus causadores de hepatites,
utilizaremos o quadro 3, com um resumo das principais características desses vírus.
35
Quadro 3 - Resumo das características dos vírus das hepatites.
Tipo de vírus
Fonte de infecção
(continua)
A
B
C
D
E
Fezes
Sangue e derivados, fluídos
corpóreos
Sangue e derivados,
fluídos corpóreos
Sangue e derivados,
fluídos corpóreos
Fezes
- Sexual,
-Parenteral: sangue e
hemoderivados
-Compartilhamento de
objetos contaminados para
uso de drogas, para higiene
pessoal, para confecção de
tatuagens e piercings
-Procedimentos cirúrgicos e
odontológicos sem a
adequada biossegurança
- Vertical: mãe-filho
-Sexual: pouco freqüente
-Parenteral: sangue e
hemoderivados
-Compartilhamento de
objetos contaminados
para uso de drogas, para
higiene pessoal, para
confecção de tatuagens e
piercings
Procedimentos cirúrgicos
e odontológicos sem a
adequada biossegurança
- Vertical: mãe-filho
- Sexual,
-Parenteral: sangue e
hemoderivados
-Compartilhamento de
objetos contaminados,
para higiene pessoal,
para confecção de
tatuagens e piercings
Procedimentos
cirúrgicos e
odontológicos sem a
adequada biossegurança
- Vertical: mãe-filho
- Fecal-oral:
pela ingestão de água ou
alimentos contaminados
ou objetos inanimados
contaminados, pessoa a
pessoa (contato
intrafamiliar ou
institucional)
Via de transmissão -Fecal-oral: ingestão de
água ou alimentos
contaminados ou
objetos inanimados
contaminados, pessoa a
pessoa (contato
intrafamiliar ou
institucional).
Período de
incubação
Período de
transmissibilidade
15-45 dias
30-180 dias
15-150 dias
40 –180 dias
28-48 dias
15 dias antes dos
sintomas até 7 dias
após o início da
icterícia.
Semanas antes do início dos
sintomas até o
desaparecimento do antígeno
(forma aguda) ou enquanto
persistir o antígeno de
superfície do vírus B HBsAg (forma crônica)
Semanas antes do início
dos sintomas persistindo
por período indefinido
Pouco antes do início
dos sintomas persistindo
por período indefinido
Aproximadamente 10 dias
antes do início dos
sintomas até 15 dias após
início da icterícia
Risco de
cronificação
Inexistente
Alto (85 a 95% em neonatos
e 5 a 10% em adultos)
Alto (70 - 85%)
Inexistente
Genoma
RNA
DNA
RNA
Alto (79% na
superinfecção e menor
que 5% na co-infecção)
RNA
Família
Picornaviridae
Hepadnaviridae
Flaviriridae
Deltaviridae
Caliciviridae
RNA
36
Quadro 3 - Resumo das características dos vírus das hepatites.
Tipo de
vírus
Prevenção e
controle
B
C
D
E
-Saneamento
Básico: melhorias
sanitárias
domiciliares e
públicas.
-Tratamento de
água com
produtos à base
de cloro.
- Limpeza de
caixa d’água
-Desinfecção de
alimentos que são
ingeridos crus:
frutas, legumes e
verduras com
produtos à base
de cloro
-Cozimento de
alimentos como
mariscos,
mexilhões, ostras,
etc.
- Seguir as
normas do PNI
-Vigilância
ambiental
-Educação em
saúde: higiene
pessoal e
ambiental
- Vacinação para hepatite B,
seguindo normas do PNI
- Hemodiálise – cuidados
específicos com os procedimentos
- Hemovigilância
-Respeito às Normas de
Biossegurança em serviços de
saúde
-Educação em Saúde:
-Uso de preservativos em
relações sexuais
-Utensílios de
manicure/pedicure (alicates,
pau-de-laranjeira) de uso
individual ou esterilizados
-Não compartilhamento de
objetos para higiene pessoal:
lâminas de barbear, escovas
dentais, etc.
-Não compartilhamento de
instrumentos para uso de
drogas: seringas e agulhas para
drogas injetáveis, canudos para
drogas aspiradas (ex. cocaína) e
cachimbos para drogas fumadas
(ex. crack)
-Seguir normas de
biossegurança para confecção
de tatuagem e piercings
(instrumentos
esterilizados/descartáveis)
-Hemodiálise – cuidados
específicos com os
procedimentos
- Hemovigilância
-Respeito às Normas de
Biossegurança em serviços de
saúde
-Educação em Saúde:
-Uso de preservativos em
relações sexuais
-Utensílios de
manicure/pedicure (alicates,
pau-de-laranjeira) de uso
individual ou esterilizados
-Não compartilhamento de
objetos para higiene pessoal:
lâminas de barbear, escovas
dentais, etc.
-Não compartilhamento de
instrumentos para uso de
drogas: seringas e agulhas
para drogas injetáveis,
canudos para drogas
aspiradas (ex. cocaína) e
cachimbos para drogas
fumadas (ex. crack)
-Seguir normas de
biossegurança para
confecção de tatuagem e
piercings (instrumentos
esterilizados/descartáveis)
- Vacinação para hepatite B,
seguindo normas do PNI
- Hemodiálise – cuidados
específicos com os procedimentos
- Hemovigilância
-Respeito às Normas de
Biossegurança em serviços de
saúde
-Educação em Saúde:
-Uso de preservativos em
relações sexuais
-Utensílios de
manicure/pedicure (alicates,
pau-de-laranjeira) de uso
individual ou esterilizados
-Não compartilhamento de
objetos para higiene pessoal:
lâminas de barbear, escovas
dentais, etc.
-Não compartilhamento de
instrumentos para uso de
drogas: seringas e agulhas
para drogas injetáveis,
canudos para drogas aspiradas
(ex. cocaína) e cachimbos para
drogas fumadas (ex. crack)
-Seguir normas de
biossegurança para confecção
de tatuagem e piercings
(instrumentos
esterilizados/descartáveis)
- Saneamento
Básico:
melhorias
sanitárias
domiciliares e
públicas
- Tratamento de
água com
produtos à base
de cloro
- Limpeza de
caixa d’água
-Desinfecção
de alimentos
que são
consumidos
crus: frutas,
legumes e
verduras com
produtos à base
de cloro
-Cozimento de
alimentos como
mariscos,
mexilhões,
ostras, etc.
-Vigilância
Ambiental
-Educação em
saúde: higiene
pessoal e
ambiental
Fonte: Brasil, 2008, pág.
11
(conclusão)
A
37
2.3 ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE EM RONDÔNIA: LEMBRANDO
FATOS
As doenças mais prevalentes no estado de Rondônia no ano de 1996 foram apontadas
através de um levantamento de dados tendo como base o ano de 1994 (quadro 4). Desse
levantamento de dados, tem-se a malária como o grande problema de saúde, com 133.838
casos; logo em seguida, vem a leishmaniose, com 2.249 casos. A leishmaniose era muito
freqüente na DRS de Cacoal, provavelmente associada ao grande desmatamento ocorrido
naquela região. Naquele ano, o município de Cacoal teve 50,27% de desmatamento de sua
área, o que corresponde a 0,79% da área Rondônia. Em relação às hepatites virais,
ocorreram 1.455 casos, sendo apontada como o terceiro problema de saúde. O incremento
das hepatites em 214,7% neste período pode estar associado a dois fatos: primeiro, “a
inauguração do ambulatório especializado em hepatites do CEMETRON (1993), e em
segundo, a realização de sorologia pelo LACEN (1995), seguramente aliada à melhora na
notificação de casos” (Relatório do Plano Plurianual de Saúde, 1996; FEDERAÇÃO DAS
INDÚSTRIAS DO ESTADO DE RONDÔNIA, 1997).
Quadro 4 - Coeficiente de incidência por Doenças Transmissíveis no estado de Rondônia
Fonte: FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE RONDÔNIA, 1997, pág. 57
A Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS), de 2002, propôs a
regionalização do sistema de saúde, seguindo a lógica de hierarquização dos serviços, com
os objetivos de melhorar o acesso da população aos serviços oferecidos, organizar a média e
38
alta complexidade e fortalecer a descentralização dos serviços para os municípios. Com a
NOAS, houve a necessidade de elaboração de Planos Diretores de Regionalização – PDR.
O PDR é um planejamento em saúde que mostra a pactuação dos gestores em relação
aos serviços oferecidos à saúde. Com isso, organiza o serviço, fortalecendo as ações
desenvolvidas por cada município e integrando os mesmos às Regionais de Saúde. Esse
processo de regionalização está em constante transformação, pois os gestores estão em
contínua pactuação entre si.
O primeiro PDR da Saúde de Rondônia foi elaborado em 2003. Em junho de 2004,
iniciou-se uma nova etapa do processo de organização no município de Ji-Paraná, com a
realização de uma oficina de mobilização dos gestores de saúde da região, que culminou
com a assinatura de uma Carta de Compromisso. A partir daí, realizaram-se outras oficinas
para fortalecimento da gestão regional do SUS nas regiões de Vilhena e Cacoal, criando-se
os Conselhos Gestores Regionais – CGR.
O CGR é composto por representantes da gestão estadual, municipal e do Conselho
de Secretários Municipais de Saúde - COSEMS. Em 2005, como decorrência desse processo
de regionalização fomentado pela NOAS, havia oficialmente quatro regiões de saúde no
estado: Vilhena, Ji-Paraná, Cacoal e Ariquemes. Porém, extra-oficialmente, a região de
Porto Velho era considerada como existente. Neste mesmo ano, ocorreu a revisão do PDR e
a Programação Pactuada Integrada - PPI. Com essa revisão, o sistema foi reorganizado e,
por iniciativa de alguns gestores região de saúde de Cacoal, houve a formação de uma nova
região, denominada Rolim de Moura.
Em 2006, observou-se uma incoerência entre a abrangência das Gerências Regionais
de Saúde – GRS e sua respectiva região de saúde, conforme pactuado na PPI da Assistência.
Através do consenso entre os gestores, na esfera municipal e estadual, e com o Conselho
Estadual de Saúde – CES ocorreu a unificação do território político-administrativo com o
território sanitário. Em 2009, foi criada oficialmente a região de Porto Velho. Atualmente,
existem seis regionais de saúde em Rondônia, com seus respectivos Conselhos Gestores de
Saúde – CGS: Ariquemes, Cacoal, Ji-Paraná, Porto Velho, Rolim de Moura e Vilhena (PDR,
2010)
A distribuição dos municípios nas regiões de saúde pode ser visualizada no mapa 5.
39
Legenda
Saúde:
das
Regionais
de
I Regional de Saúde de JiParaná
II Regional de Saúde de
Cacoal
III Regional de Saúde de
Vilhena
IV Regional de Saúde de
Ariquemes
V Regional de Saúde de
Rolim de Moura
VI Regional de Saúde de
Porto Velho
Mapa 5 - Representação das Regionais de Saúde de Rondônia
Fonte: Rondônia, 2010, pág. 14
Ainda pelo PDR/2010, o estado de Rondônia está organizado, em relação à assistência à
saúde, em:
22 municípios com HPP (Hospitais de Pequeno Porte);
30 municípios com AMC (Assistência em Média Complexidade);
Dez municípios micro regionais;
Seis municípios sede de região;
Dois municípios pólos estaduais.
A seguir, podemos visualizar a distribuição dos municípios conforme a assistência à
saúde oferecida (quadro 5):
40
Quadro 5 - Distribuição dos municípios de Rondônia segundo pactuação no PDR/2010, por tipo de
atendimento à saúde regionalizado e população atendida.
(continua)
Estado de Rondônia
Município
População
residente
Vilhena
69.866
Chupinguaia
Colorado d´Oeste
Cabixi
7.843
17.822
6.695
Cerejeiras
16.622
Município
com Hospital
de Pequeno
Porte (HPP)
Chupinguaia
Cabixi
Município com
Assistência em Média
Complexidade (AMC)
Colorado d´Oeste
(Pop atend 24.577)
Cerejeiras
Pimenteiras
2.415
Pimenteiras
9.680
Corumbiara
Alta Floresta
24.354
Alto Alegre
11.875
Alto Alegre
Alta Floresta
(Pop atend 36.229)
Rolim de Moura
Castanheiras
50.499
3.685
Castanheiras
Rolim de Moura
(Pop atend 54.184)
Novo Horizonte
9.720
17.698
Santa Luzia
Parecis
9.348
4.802
Seringueiras
12.117
São Miguel
23.201
Cacoal
78.675
Parecis
33.984
Primavera de Rondônia
3.765
Primavera de
Rondônia
São Felipe
6.412
São Felipe
53.943
10.325
9.100
Gov. Jorge Teixeira
11.593
Ouro Preto
Teixeirópolis
Vale do Paraíso
Urupá
Mirante da Serra
Nova União
36.725
5.010
8.913
13.661
12.363
7.944
Ji-Paraná
111.010
Presidente Médici
22.519
Alvorada d´Oeste
17.127
São Francisco
16.491
Costa Marques
14.452
(Pop atend
131.003)
(Pop atend
131.003)
Alta Floresta
(Pop atend
36.229)
Novo Horizonte
(Pop atend 9.720)
Nova Brasilândia
(Pop atend 17.698)
Rolim de
Moura
Santa Luzia
(Pop atend 14.150)
(Pop atend
131.070)
Ministro Andreazza
(Pop atend 10.572)
Pimenta Bueno
Jarú
Theobroma
Vale do Anari
Vilhena
(Pop atend 28.717)
Cacoal
(Pop atend 78.675)
10.572
28.892
Vilhena
Polo
Estadual
Rolim de
Moura (Pop
atend
167.299)
Seringueiras
(Pop atend 12.117)
São Miguel
(Pop atend 23.201)
Ministro Andreazza
Espigão d´Oeste
Sede de
Região de
Saúde
Vilhena
(Pop atend 77.709)
Corumbiara
Nova Brasilândia
Município
MicroRegião
Pimenta Bueno
(Pop atend 44.161)
Espigão d’Oeste
(Pop atend 28.892)
Theobroma
Vale do Anari
Jarú
(Pop atend 73.368)
Gov. Jorge Teixeira
(Pop atend 11.593)
Teixeirópolis
Vale do Paraíso
Urupá
Nova União
Ouro Preto
(Pop atend 64.309)
Cacoal
(Pop atend
89.247)
Pimenta
Bueno
Cacoal (Pop
atend
162.300)
(Pop atend
73.053)
Jarú
(Pop atend
84.961)
Ouro Preto
(Pop atend
84.616)
Mirante da Serra
(Pop atend 20.307)
Ji-Paraná
(Pop atend 111.010)
Presidente Médici
(Pop atend 22.519)
Alvorada d´Oeste
(Pop atend 17.127)
São Francisco
(Pop atend 16.491)
Costa Marques
(Pop atend 14.452)
Cacoal
Ji-Paraná
(Pop atend
181.599)
Ji-Paraná
(Pop atend
351.176)
(Pop
atendida
811.778)
41
Quadro 5 - Distribuição dos municípios de Rondônia segundo pactuação no PDR/2010, por tipo de
atendimento à saúde regionalizado e população atendida.
(conclusão)
Ariquemes
85.541
Cujubim
Rio Crespo
Alto Paraíso
Cacaulândia
14.889
3.290
17.569
5.736
Machadinho d´Oeste
33.159
Monte Negro
12.708
Campo Novo de
Rondônia
12.915
Buritis
34.693
Porto Velho
382.829
Candeias do Jamary
17.547
Candeias do
Jamary
Itapuã d´Oeste
8.235
Itapuã d´Oeste
Guajará-Mirim
40.762
Nova Mamoré
22.337
Cujubim
Rio Crespo
Alto Paraíso
Cacaulândia
Ariquemes
(Pop atend 127.025)
Machadinho d´Oeste
(Pop atend 33.159)
Campo Novo de
Rondônia
Ariquemes
(Pop atend
220.500)
Ariquemes
(Pop atend
220.500)
Monte Negro
(Pop atend 25.623)
Porto Velho
(Pop atend
692.210)
Buritis
(Pop atend 34.693)
Porto Velho
(Pop atend 408.611)
Guajará-Mirim
(Pop atend 40.762)
Nova Mamoré
(Pop atend 22.337)
Porto Velho
(Pop atend
471.710)
Porto Velho
(Pop atend
471.710)
Nota: Elaborado conforme descrição no PDR/2010
2.4 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: CONTANDO HISTÓRIA
A vigilância das doenças é uma prática que remonta à Inglaterra do século XIX,
graças ao trabalho de William Farr. Reconhecido como o pioneiro do conceito moderno de
vigilância, Farr também foi responsável pelo aprimoramento da estatística vital. Ele
classificou as doenças em três grupos: 1) epidêmicas; 2) esporádicas; e 3) causa externa. A
partir do êxito que obteve, vários países passaram a coletar informações sobre as doenças
visando aplicar medidas de controle (WALDMAN, 1991).
Com o progresso das ações para o controle das doenças, o conceito de vigilância foi
ampliado para além do cuidado com as doenças transmissíveis, incorporando a análise dos
fatores gerais que comprometem a saúde das pessoas. O termo vigilância epidemiológica foi
utilizado pela primeira vez em 1964, num artigo publicado por Raska (WAKIMOTO, 1997).
No século XX, havia grande mobilização para a vigilância das doenças
transmissíveis. Nesse contexto, a OMS (1959) havia desencadeando ações para a
erradicação da varíola, como por exemplo, o estabelecimento de pelo menos 80% de
cobertura vacinal da população. Destacamos a campanha contra a varíola por representar a
42
primeira ação de vigilância em todo o Brasil. Porém, apesar de toda mobilização dos países,
no Brasil, em 1965, a campanha contra a varíola ainda não havia produzido o controle da
doença. Essa primeira ação teve mais destaque entre os anos de 1966 a 1973. Pois, foi nesse
período que a campanha contra a doença foi retomada. Para isso, o governo brasileiro
instituiu a fase de ataque contra a varíola fazendo a uma vacinação em massa. Os primeiros
estados que participaram nessa campanha foram Alagoas, Paraíba e Pernambuco. Na
Paraíba, em especial, foi estimada uma cobertura vacinal de quase 95%. Devido às
experiências obtidas durante a campanha de ataque, a vigilância epidemiológica se tornou
melhor estruturada (CHAGAS, 2008).
Com o passar dos anos, a vigilância epidemiológica (VE) no Brasil foi se adaptando
às mudanças ocorridas no território nacional e, principalmente à dinâmica internacional das
doenças. Atualmente, a definição de VE adotada pelo Ministério da Saúde está na lei nº.
8080/90, art. 6º §2. Sendo assim, a VE é “um conjunto de ações que proporciona o
conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e
condicionantes de saúde individual ou coletiva”. Esse conhecimento tem como finalidade a
recomendação e a adoção de medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos
(BRASIL, 1990).
Para que a VE exerça as suas ações de maneira organizada e homogênea em todo o
Brasil é normatizada no Guia de Vigilância Epidemiológica, publicação do Ministério da
Saúde. Conforme o guia, as funções da VE são de responsabilidade dos três níveis:
municipal, estadual e federal. Cada nível desenvolve as funções integradamente, mas com
capacidades diferentes. Os níveis federal e estadual devem realizar “ações de caráter
estratégico e de longo alcance”.
De modo geral, podemos enumerar as funções da VE em: 1) coletar, processar, analisar e
interpretar os dados; 2) recomendar e promover ações de controle; e 3) avaliar a
eficácia/efetividade das ações e divulgar informações (BRASIL, 2009).
A captação dos dados para a VE se dá por meio das notificações compulsórias, tendo
como instrumento a ficha de notificação do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN). Outras fontes de informações podem ser: laudos dos laboratórios,
ficha de investigação epidemiológica, imprensa e população. Os dados que o sistema de
vigilância em saúde produz são importantes principalmente quando transformados em
informações; esses dados podem ser utilizados para produzirem perguntas que levam à
formulação de análises (MALTA et al., 2008).
43
2.4.1 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS HEPATITES VIRAIS
Para a epidemiologia de qualquer agravo, é primordial compreender as características
relacionadas ao tempo, lugar e pessoa, como também, comparar diferentes populações por
meio das taxas, ou ainda, fazer associações entre diferentes variáveis. Sendo assim, a partir
do ano de 1996, as hepatites virais passaram a compor a lista das doenças de notificação
compulsória. Com este fato, os dados coletados no SINAN passaram a fazer parte das ações
da vigilância epidemiológica das hepatites virais (BRASIL, 1996). Porém, devido à revisão
ocorrida no ano de 1998, as hepatites virais foram quase todas excluídas da lista nacional,
restando apenas a hepatite B (BRASIL. 1998; GAZE, 1999). Do ano de 1999 até 2002, a
lista de notificação compulsória mencionava apenas as hepatites B e C.
Com a criação do PNHV, em fevereiro de 2002 e, em especial, a portaria GM nº
2325 de 08/12/2003, as hepatites virais voltaram a compor a lista de notificação
compulsória,. A falta de continuidade nas notificações das hepatites causa comprometimento
nos dados no SINAN, mas não inviabiliza a análise dos mesmos.
O Guia de Vigilância Epidemiológica (2009) emprega algumas definições
fundamentais, que servem de base técnica para a vigilância das hepatites virais frente à
notificação compulsória dos casos. O sistema de notificação está baseado:
Na notificação de todos os casos suspeitos;
Na forma passiva de notificação;
Em instrumento único de notificação (ficha), e;
Na dependência de resultados laboratoriais para a confirmação dos casos.
Os dados coletados através da ficha de notificação e complementados pela ficha de
investigação (em anexo) são registrados e compõem o sistema de informação da vigilância
das hepatites no SINAN. Os dados dos casos confirmados estão disponíveis para consulta
pública no banco de dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS).
Em Rondônia, a vigilância epidemiológica das hepatites virais não tem registro de seu início
de atuação. As atividades de vigilância começam no ano de 1999, por meio da notificação
dos casos no SINAN.
44
Gráfico 5 - Taxa de incidência das hepatites virais por 100 mil habitantes segundo local de
residência, Brasil, Região Norte e Rondônia, no período de 2001 a 2006.
Como se observa no gráfico 5, as taxas de incidência hepatites virais mantêm-se
elevadas em Rondônia, quando comparadas às taxas médias verificadas no Brasil. O ano de
2002 apresenta queda da incidência, provavelmente pela implantação do Programa Nacional
das Hepatites Virais naquele ano, o que levou à modificações no fluxo das notificações no
estado. Antes de 2002, muitos municípios enviavam as notificações para serem digitadas na
Secretaria Estadual de Saúde/Gerência Técnica de Vigilância Epidemiológica e Ambiental.
Com a implantação do programa, no nível estadual, essas notificações passaram a ser
digitadas nos municípios. Isso provavelmente acarretou na não digitação de muitas
notificações. Em 2006, se deu a mudança da versão do SINAN Windows para a versão
SINAN Net, que também ocasionou alterações no fluxo de informações no estado, o que
justifica novamente a queda no número de notificações.
45
3. METODOLOGIA
3.1 BASE DE DADOS
A base de dados utilizada foi a disponível em agosto de 2010 no SINAN, no PEHV.
Essa base foi atualizada no início daquele mês. Acreditamos que ela estivesse com todos os
casos de 2009 encerrados, uma vez que, para o encerramento dos casos de hepatites virais no
SINAN, há a disponibilidade de 180 dias (seis meses). Nessa lógica, os casos notificados no
último dia útil de dezembro de 2009 já deveriam estar todos encerrados.
Não utilizamos a base que está no site do DATASUS/SINAN pelo fato de que há
municípios que não cumprem o calendário estabelecido para o envio de informações ao
Ministério da Saúde. Sendo assim, o Ministério adotou o seguinte critério para que os dados
sejam considerados nos cálculos estatísticos: aceitar as informações enviadas até 30 de
outubro de cada ano, relativas aos dados do ano anterior. Desta forma, a base do PEHV está
com dados mais completos. Ao utilizar esse banco, nos pautamos em conformidade com a
resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, seguindo os princípios de autonomia,
beneficência, não maleficência, justiça e equidade. Por ser realizada com dados secundários,
obtivemos permissão através do Termo de Consentimento, assinado pela Direção Geral da
Agência Estadual de Saúde (AGEVISA).
3.2 INSTRUMENTO DE NOTIFICAÇÃO/INVESTIGAÇÃO (FICHA)
A ficha de notificação do SINAN possui três partes, quais sejam: dados gerais,
notificação individual e dados de residência. Essas partes também compõem a ficha de
investigação epidemiológica. Por isso, em muitos é utilizada somente a ficha de
investigação. Na ficha de investigação epidemiológica (FIE), além das três partes já
mencionadas, há ainda as seguintes partes: antecedentes epidemiológicos, dados
laboratoriais, conclusão, observações e investigador (dados da pessoa que preencheu a
ficha).
Conforme as Normas e Rotinas do SINAN (2007), as fichas no sistema possuem
campos-chave, quais sejam: número da notificação, data da notificação, município de
notificação, código do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e agravo. Esses
46
campos são essenciais para a realização de busca no sistema. Outros campos também são
muito importantes para a vigilância epidemiológica, como os campos que sinalizam o
encerramento dos casos notificados: diagnóstico final (versão Windows) ou classificação
final (na versão Net) e data do encerramento.
3.3 FLUXO DE DADOS
Os dados são transmitidos do nível local até chegar ao Ministério da Saúde. Em
Rondônia, essa transferência ocorre da seguinte forma (figura 16): as secretarias municipais
de saúde enviam por e-mail os dados (lotes) para AGEVISA, a qual envia pelo sistema
(Sisnet) ao Ministério da Saúde.
Figura 5 - Esquema do fluxograma de dados no SINAN.
Fonte: Brasil, 2007, pág. 28
3.4 DIFERENÇAS NAS VERSÕES DO SINAN
Como o SINAN tem duas versões, Windows (até 2006) e Net (a partir de 2007), a
ficha de investigação teve alterações de uma versão para a outra. Mas estas alterações não
comprometeram a descrição dos dados, pois fizemos duas tabulações através do TabWin,
uma na versão Windows e outra na Net. Em alguns momentos, juntamos as duas tabulações
no próprio TabWin, incluindo planilha. Quando os campos da ficha estavam com diferença
de sintaxe, realizamos as tabulações no aplicativo Excel.
47
3.5 LOCAL DO ESTUDO
O estado de Rondônia foi criado pela lei complementar nº 41 de 22/12/1981. De
acordo com o Censo 2010, o estado possui área de 237.590,864 km², população de
1.560.501 habitantes, taxa média de crescimento anual de 1,24% e densidade demográfica
de 6,6 hab/km². Embora baixa, sua densidade está acima da média da região norte, que é de
4,6 hab/km². Sua população está distribuída em 52 municípios, sendo que oito deles estão
situados na área de fronteira do Brasil com a Bolívia. Em seus limites, Rondônia também faz
divisa com os estados do Acre, Amazonas e Mato Grosso. A capital, Porto Velho, tem
426.558 habitantes, o que corresponde a 27% da população do estado.
Economicamente, Rondônia possui suas bases na “pesca, comércio, agricultura e
pecuária, indústria de madeira e extração de minério (cassiterita e ouro)” (OLIVEIRA,
2005). Conforme dados do IBGE do ano de 2008, 34% da sua área estão comprometidas
com a agropecuária. O produto interno bruto (PIB) foi de 15.917 milhões de reais e o PIB
per capita, de R$ 11.977,00. A composição do PIB é de: serviços (65%), agropecuária
(23%) e indústria (12%). O índice de pobreza é de 27,02%, com índice de Gini de 0,46.
O índice de Gini mede a desigualdade das pessoas em relação à renda familiar per
capita. Seu valor varia entre zero e um. Quanto mais próximo de zero, melhor a distribuição
de renda. O valor máximo e mínimo desses indicadores para os municípios de Rondônia são,
respectivamente:
PIB per capita: R$ 24.485,28 (Pimenteiras do Oeste) e R$ 7.389,27 (Costa
Marques);
Índice de Gini: 0,34 (Campo Novo) e 0,47 (Porto Velho e Guajará-Mirim).
3.6 CAMINHO PARA ANÁLISE DOS DADOS
Normalmente, quando se deseja saber a freqüência dos casos de hepatites virais, no
TabWin, selecionam-se os campos que estão na parte de conclusão da ficha (ANEXOS A e
D). Na FIE de hepatites virais da versão SINAN net, esses campos são: classificação final,
forma clínica, classificação etiológica, fonte de infecção e data de encerramento. Com a
nossa experiência na realização rotineira de monitoramento do banco de dados, sabemos que
48
os chefes de vigilância epidemiológica têm muitas dificuldades para interpretar os exames
de sorologia e preencher a parte da conclusão da FIE. Sendo assim, optamos em utilizar os
seguintes campos:
Na parte dos dados laboratoriais, utilizamos o campo resultado de
sorologia. Nesse campo, empregamos o critério do Ministério da Saúde para
caso confirmado. Ou seja, só foram incluídos os exames que foram reagentes
para os marcadores específicos dos vírus da hepatite ;
Na parte da conclusão, aproveitamos o campo data de encerramento. Foram
incluídos os casos que estavam com a data de enceramento preenchida.
Utilizar essa metodologia evitou falsas interpretações sorológicas no encerramento
da ficha de investigação.
Outra medida adotada foi a de utilizar, para a hepatite pelo vírus C, somente o
marcador sorológico anti-HCV. Pela orientação do Ministério da Saúde, seria o anti-HCV
reagente com o HCV-RNA detectável. Porém, o campo do HCV-RNA na FIE tem 65% dos
casos em branco ou não realizado. Essa incompletitude ocorre pelo fato de que o exame de
HCV-RNA somente é realizado em Porto Velho, no CEPEM, e a contra-referência não é
realizada como rotina de serviço.
No mês de junho de 2010, realizamos a rotina de investigar a duplicidade registros na
base; encontramos quase cinqüenta casos de possível duplicidade. A maioria deles era do
ano de 2010. Desta forma, não há prejuízos nas informações coletadas no banco.
Finalmente, utilizamos as seguintes definições:
Caso notificado: todo o caso digitado no SINAN no período de 1999 a 2009.
No momento em que obtivemos os dados, excluímos 1.592 casos do ano de
2010;
Casos confirmados:
o Caso com data de notificação entre 1999 e 2009;
o Caso com ano de encerramento preenchido (inclusive encerrado em
2010). Foram excluídos 577 casos sem data de encerramento (337
casos do período de 1999 a 2006 e 240 casos do período de 2007 a
2009);
o Caso com sorologia reagente para os marcadores de cada tipo de vírus.
A exceção de marcador reagente foi no vírus A e E, pois há a
possibilidade de encontrar casos com vínculo epidemiológico. Ou seja,
49
pessoa que preenche as condições de caso suspeito e que apresente
vínculo epidemiológico com caso confirmado de hepatite A (mora na
mesma casa ou estuda no mesmo local ou participa de outra instituição
comum ao caso de hepatite).
Ainda visando melhorar a compreensão dos resultados encontrados, enfatizamos as
definições conforme a normativa do PNHV:
Caso suspeito são todas as pessoas que apresentam uma ou mais das situações
descritas abaixo:
o Suspeita clínica/bioquímica:
- Sintomático ictérico:
* Indivíduo que desenvolveu icterícia subitamente com ou sem:
febre, mal estar, náuseas, vômitos, mialgia, colúria e hipocolia fecal.
* Indivíduo que desenvolveu icterícia subitamente e evoluiu para
óbito, sem outro diagnóstico etiológico confirmado.
- Sintomático anictérico:
* Indivíduo sem icterícia, com um ou mais sintomas (febre, mal
estar,
náusea,
vômitos,
mialgia)
e
valor
aumentado
das
aminotransferases.
- Assintomático:
* Indivíduo exposto a uma fonte de infecção bem documentada
(hemodiálise, acidente ocupacional, transfusão de sangue ou
hemoderivados, procedimentos cirúrgicos/odontológicos/colocação
de "piercing"/tatuagem com material contaminado, uso de drogas
com compartilhamento de instrumentos).
* Comunicante de caso confirmado de hepatite, independente da
forma clínica e evolutiva do caso índice.
* Indivíduo com alteração de aminotransferases igual ou superior a
três vezes o valor máximo normal destas enzimas.
o Suspeito com marcador sorológico reagente:
- Doador de sangue:
* Indivíduo assintomático doador de sangue, com um ou mais
marcadores reagentes de hepatite B e C.
50
- Indivíduo assintomático com marcador: reagente para hepatite viral A,
B, C, D ou E.
Caso notificado - é aquele digitado e incluído no SINAN;
Caso encerrado – aquele que está com a data de encerramento (campo 52)
preenchida. Salientamos que, conforme os resultados dos exames
laboratoriais, outros campos podem necessitar de preenchimento, quais
sejam: resultados sorológicos (46), classificação final (48), forma clínica
(49) e classificação etiológica (50);
Caso confirmado - aquele que preenche as condições de caso suspeito e
possui resultados de sorologia (campo 46) reagente. Porém, para cada tipo de
vírus, os exames são específicos:
o Vírus A - apresenta anti-HAV IgM reagente ou vínculo
epidemiológico com caso confirmado (anti-HAV IgM reagente) de
hepatite A. Lembramos que a categoria de vínculo epidemiológico
está no campo 48 (classificação final);
o Vírus B - apresenta um ou mais dos exames abaixo:
- HBsAg reagente;
- Anti-HBc IgM reagente;
- HBeAg reagente;
- DNA do HBV detectável.
o Vírus C - apresenta anti-HCV reagente e HCV-RNA detectável.
o Vírus Delta - apresenta HBsAg ou anti-HBc IgM ou HBeAg
reagentes e um ou mais dos marcadores sorológicos conforme
listado abaixo:
- Anti-HDV total reagente;
- Anti-HDV IgM reagente.
o Vírus E: apresenta anti-HEV IgM reagente ou pessoa que preenche
as
condições
de caso suspeito
e que apresenta vínculo
epidemiológico com caso confirmado (anti-HEV IgM reagente) de
hepatite E.
51
3.7 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Em conformidade com a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, a
presente dissertação utilizou os dados seguindo os princípios de autonomia, beneficência,
não maleficência, justiça e equidade. Por ser realizada com dados secundários, obtivemos
permissão através do Termo de Consentimento, assinado pela Direção Geral da Agência
Estadual de Vigilância em Saúde (AGEVISA) do estado de Rondônia.
52
4. RESULTADOS
Ao realizarmos a descrição dos casos de hepatites virais segundo os critérios de caso
confirmado, apresentamos, na tabela 2, todos os casos notificados no SINAN divididos em
dois grupos: notificados e encerrados. Podemos verificar que, a partir do ano de 2002, mais
de 50% dos casos notificados eram encerrados no mesmo ano de notificação. E o número de
anos para o encerramento também diminuiu de nove, em 1999, para dois anos, em 2009,
com 98,4% de casos encerrados nesse ano. Esses percentuais sugerem melhoria na
oportunidade dos dados no SINAN.
Tabela 2 - Percentual de casos encerrados segundo ano de encerramento, quantidade de notificações
e casos não encerrados. Rondônia 1999 a 2009.
Ano da notificação
Ano do
encerramento
1999
Total
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
(%)
1999
27,2
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1,4
2000
8,9
23,6
0,1
-
-
-
-
-
-
-
-
1,7
2001
0,2
12,9
18,3
-
-
-
-
-
-
-
-
1,8
2002
0,3
0,2
8,1
57,4
-
-
-
-
-
-
-
2,6
2003
0,1
2,5
5,9
25,8
60,8
0,1
2004
4,1
4,6
4,7
4,6
22,8
61,3
-
-
-
-
-
7,1
2005
22,9
15,1
5,4
2,7
6,6
26,8
54,0
-
-
-
-
9,4
2006
19,6
14,8
8,9
4,6
5,8
4,3
35,3
54,8
-
-
-
11,1
2007
10,4
17,6
39,8
4,4
3,3
6,3
10,4
39,9
51,7
-
-
16,4
2008
-
-
-
-
-
0,1
-
-
42,7
69,5
0,1
0,3
1,0
27,0
70,9
18,2
0,2
0,6
27,5
5,5
2009
5,1
2010
16,5
Não
Nº
54
81
93
3
8
14
4
80
105
79
56
577
encerrado
%
6,1
8,6
8,8
0,5
0,8
1,0
0,3
5,0
4,3
3,0
1,6
3,3
881
943 1.056
Notificados
(Nº)
632 1.060 1.380 1.455 1.606 2.422 2.677 3.441 17.553
Para realizar as próximas descrições, utilizaremos apenas os casos confirmados de
hepatites virais.
Na tabela 3, verifica-se que os casos de hepatite pelo HAV concentram-se na faixa
etária mais jovem (0 a 19 anos). O HBV e HDV estão na faixa de jovens e adultos (20 a 59
anos), o HCV está predominante na faixa de 40 a 59 anos e o HEV, diferentemente do vírus
A, está na faixa de jovens (20 a 49 anos).
53
Tabela 3 - Casos confirmados de hepatites virais segundo classificação etiológica, faixa etária e taxa
média por 10 mil habitantes. Rondônia 1999 a 2009.
Faixa etária
Total
Classificação
0 a 19
20 a 39
40 a 59
60 e mais
etiológica
Nº
Taxa
Nº
Taxa
Nº
Taxa
Nº Taxa
Nº
Taxa
Vírus A
1085
15,96
173
3,49
31
1,36
17
2,22
1306
8,82
Vírus B
549
8,08
2007
40,53
709
31,04
104
13,59 3.356 22,68
Vírus C
57
0,84
325
6,56
385
16,86
75
9,80
842
5,69
Vírus D
16
0,24
62
1,25
42
1,84
1
0,13
121
0,82
Vírus E
2
0,03
5
0,10
1
0,04
0
0,00
8
0,05
Total
1.709
25,14
2.572
51,94
1.168
51,14
197
25,74 5.633 38,06
Observamos que a razão de sexos na tabela 4 indica o sexo masculino como
dominante na infecção pelos vírus B, C e D.
Tabela 4 - Casos confirmados de hepatites virais segundo classificação etiológica, sexo e razão
(M/F). Rondônia 1999 a 2009.
Sexo
Classificação etiológica
Razão
M
F
Vírus A
648
658
0.98
Vírus B
1.718
1.634
1.05
Vírus C
540
302
1.79
Vírus D
75
46
1.63
Vírus E
3
6
0.50
2.984
2.646
1.13
Total
Ao fazermos a análise dos casos confirmados de hepatites virais segundo sexo e faixa
etária, por meio de pirâmides para os três tipos de vírus mais incidentes, evidencia-se
claramente as características descritas nas tabelas anteriores. O gráfico 6 mostra o HAV com
a base larga (faixa etária 0 a 19 anos) e com quase a mesma proporção entre os sexos. No
gráfico 7, vemos o HBV com o meio da pirâmide mais largo, porém o que chama a atenção
é a predominância do sexo feminino na faixa etária de 20 a 39 anos, provavelmente devido à
fase reprodutiva da mulher, com a facilidade para os exames no pré-natal. O gráfico 8 tem o
HCV com a pirâmide invertida e grande incidência no sexo masculino, praticamente em
todas as faixas etárias acima dos 20 anos.
54
Gráfico 6 - Taxa média dos casos confirmados de hepatite A segundo faixa etária e sexo. Rondônia –
1999 a 2009.
Gráfico 7 - Taxa média dos casos confirmados de hepatite B segundo faixa etária e sexo. Rondônia –
1999 a 2009.
Gráfico 8 - Taxa média dos casos confirmados de hepatite C segundo faixa etária e sexo. Rondônia –
1999 a 2009.
55
A categoria de raça/cor parda apresenta maior frequência dos casos no total geral,
bem como, também é referida com maior incidência em cada tipo de vírus.
Tabela 5 - Casos confirmados de hepatites virais segundo raça/cor e classificação etiológica.
Rondônia 1999 a 2009.
Classificação etiológica
Raça/cor
Total
Vírus A
Vírus B
Vírus C
Vírus D
Vírus E
Branca
344
1.009
244
12
3
1.612
Preta
39
244
47
9
1
340
Amarela
25
96
32
7
0
160
436
1.355
388
64
5
2.248
46
199
27
6
0
278
890
2.903
738
98
9
4.638
Parda
Indígena
Total
Na tabela 6, vemos que, entre os casos confirmados de hepatites virais, houve maior
freqüência de pessoas com ensino fundamental incompleto (1ª a 8ª série incompleta). Com
base nesses dados é possível afirmar que as hepatites virais em Rondônia estão afetando a
população com o menor grau de instrução. O que demanda ações educativas melhor
elaboradas para essa população. Poderíamos supor, como fatores de risco, o baixo nível
educacional e as condições sócio-econômicas, ainda que, com base em números absolutos de
casos, fique inseguro inferir risco.
Tabela 6 - Casos confirmados de hepatites virais segundo escolaridade e classificação etiológica.
Rondônia – 1999 a 2009.
Classificação etiológica (freqüência)
Escolaridade
Analfabeto
Vírus
Vírus
Vírus
Vírus
Vírus
A
B
C
D
E
26
279
61
17
1
1ª a 4ª série incompleta
184
405
106
20
0
5ª a 8ª série incompleta
298
1.162
289
47
4
96
683
163
21
2
51
411
149
11
0
655
2.940
768
116
7
Médio incompleto
Médio completo e superior (completo e
incompleto)
Total
56
O local de residência informado pelas pessoas confirmadas com os vírus das
hepatites é na zona urbana (tabela 7). Isso nos leva a supor que o acesso às informações
sobre prevenção podem ser melhoradas.
Tabela 7 - Taxa de incidência (por 100 mil habitantes) de hepatites virais segundo zona de residência
e classificação etiológica. Rondônia, 1999 a 2009.
Classificação etiológica
Zona
Vírus A
Vírus B
Vírus C
Vírus D
Vírus E
Urbana
116
285
85
11
1
Rural
34
151
20
5
1
É reconhecida a maior utilização de serviços de saúde do SUS pelas mulheres, em
comparação aos homens, principalmente pelo acesso ao pré-natal e também em decorrência
da presença mais freqüente nos serviços de saúde, para acompanharem seus filhos nas
consultas de puericultura. Esses dois momentos facilitam a verificação de seu estado de
saúde. Com exceção do vírus delta, todos os outros vírus foram mais freqüentes em
mulheres gestantes (tabela 8), sugerindo a importância do pré-natal na detecção das hepatites
virais.
Tabela 8 – Números absolutos e proporções de casos confirmados de hepatites virais em gestantes
segundo classificação etiológica Rondônia, 1999 a 2009.
Gestante
Classificação etiológica
Total de casos
Casos
%
Vírus A
1.245
747
60.00
Vírus B
3.440
1.987
57.76
Vírus C
898
453
50.45
Vírus D
128
59
46.09
Vírus E
9
6
66.67
5.721
3.252
56.84
Total
Como a região norte é considerada endêmica para a hepatite B, há sempre a
preocupação em relação à vacinação. Algumas das perguntas que nos fazemos há a se a
vacina foi tomada a tempo de realmente evitar a infecção. Observando apenas os dados no
SINAN (tabela 9) não é possível responder essa indagação, mas foi possível verificar que o
percentual de pessoas que referem ter completado o esquema vacinal (3 does) é pequeno
(menor de 8% para os vírus A e B).
57
Tabela 9 - Percentual dos casos confirmados de hepatites virais com esquema completo de vacinação
para hepatites A e B, segundo classificação etiológica. Rondônia, 1999 a 2009.
Classificação etiológica
% Vacina completa contra vírus A
% Vacina completa contra vírus B
Vírus A
Vírus B
Vírus C
Vírus D
Vírus E
2.60
2.71
1.54
4.96
12.50
3.75
7.03
6.65
4.96
12.50
Nas próximas cinco figuras, são apresentados os casos de hepatites virais segundo
cada tipo de vírus, destacando as regiões de saúde. Foram construídos, para cada tipo de
vírus, seis mapas contendo a evolução, a cada dois anos, da taxa de incidência da hepatite
nos municípios de residência.
58
VÍRUS A
Ano de 1.999
Maior
freqüência
de casos
por
município
Ano de 2.001
Ano de 2003
Ano de 2.005
Ano de 2.007
Ano de 2009
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
0,00 ┤1,08
0,00 ┤3,39
0,00 ┤3,19
0,00 ┤2,65
0,00 ┤3,28
0,00 ┤2,42
1,08 ┤1,61
3,39 ┤5,08
3,19 ┤4,78
2,65 ┤3,98
3,28 ┤4,92
2,42 ┤3,63
1,61 ┤2,16
5,08 ┤8,47
4,78 ┤6,38
3,98 ┤5,31
4,92 ┤6,56
3,63 ┤4,85
14
31
74
25
28
79
Figura 6 - Visualização da taxa de incidência dos casos confirmados de hepatite A por 10 mil habitantes, no mapa do Estado de Rondônia, no período de 1999 a
2009.
Aparentemente, não há padrão na evolução da taxa de incidência de hepatite A nos municípios de residência selecionados. Destacamos as
regiões de Porto Velho e Cacoal que, em alguns momentos, tiveram muitos de seus residentes com casos de hepatite A, mas não necessariamente
tinham a maior taxa de incidência.
59
VÍRUS B
Ano de 1.999
Maior
freqüência
de casos
por
município
Ano de 2.001
Ano de 2003
Ano de 2.005
Ano de 2.007
Ano de 2009
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
0,00 ┤3,36
0,00 ┤1,17
0,00 ┤1,87
0,00 ┤6,63
0,00 ┤1,10
0,00 ┤1,11
3,36 ┤5,03
1,17 ┤1,76
1,87 ┤2,81
6,63 ┤9,95
1,10 ┤2,93
1,11 ┤2,69
5,03 ┤8,39
1,76 ┤2,35
2,81 ┤3,75
9,95 ┤13,27
2,93 ┤9,13
2,69 ┤23,62
46
58
65
90
126
72
Figura 7 - Visualização da taxa de incidência dos casos confirmados de hepatite B por 10 mil habitantes, no mapa do Estado de Rondônia, no período de 1999 a
2009.
A evolução do vírus B ocorreu de forma acentuada em todo o estado, com a presença do vírus na maioria dos municípios. Vilhena chama a
atenção pois, com exceção do ano de 2005, este município sempre apresentou taxa de incidência mais alta.
60
VÍRUS C
Ano de 1.999
Maior
freqüência
de casos
por
município
Ano de 2.001
Ano de 2003
Ano de 2.005
Ano de 2.007
Ano de 2009
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
0,00 ┤0,27
0,00 ┤0,00
0,00 ┤0,72
0,00 ┤1,20
0,00 ┤2,08
0,00 ┤0,79
0,27 ┤0,40
0,00 ┤0,00
0,72 ┤1,08
1,20 ┤1,80
2,08 ┤3,12
0,79 ┤1,18
0,40 ┤0,54
0,00 ┤2,18
1,08 ┤1,45
1,80 ┤2,40
3,12 ┤4,17
1,18 ┤1,58
14
22
17
37
60
28
Figura 8 - Visualização da taxa de incidência dos casos confirmados de hepatite C por 10 mil habitantes, no mapa do estado de Rondônia, no período de 1999 a
2009.
Aparentemente, o vírus C está mais presente na região de Porto Velho, mas parece ter havido redução das taxas de incidência, de forma geral,
ao longo do período analisado.
61
VÍRUS D
Ano de 1.999
Maior
freqüência
de casos
por
município
Ano de 2.001
Ano de 2003
Ano de 2.005
Ano de 2.007
Ano de 2009
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
0,00 ┤0,06
0,00 ┤0,09
0,00 ┤0,34
0,00 ┤0,31
0,00 ┤0,35
0,00 ┤1,18
0,06 ┤0,10
0,09 ┤0,14
0,34 ┤0,50
0,31 ┤0,46
0,35 ┤0,53
1,18 ┤1,77
0,10 ┤0,17
0,14 ┤0,19
0,50 ┤0,68
0,46 ┤0,62
0,53 ┤0,71
1,77 ┤2,37
5
3
7
3
14
11
Figura 9 - Visualização da taxa de incidência dos casos confirmados de hepatite D por 10 mil habitantes, no estado de Rondônia, no período de 1999 a 2009
A visualização dos mapas relativos ao vírus delta sugere uma interiorização dos casos, que aos poucos avançou para o cone sul do estado.
Recomendamos a análise em terras indígenas, onde talvez haja um padrão, principalmente por diversos estudos terem demonstrado a prevalência da
infecção em indígenas.
62
VÍRUS E
Ano de 2003
Maior freqüência
de casos por
município
Ano de 2.005
Ano de 2.007
Ano de 2009
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
Até 0,00
0,00 ┤0,19
0,00 ┤0,17
0,00 ┤0,12
0,00 ┤0,53
0,19 ┤0,28
0,17 ┤0,25
0,12 ┤0,18
0,53 ┤0,80
0,28 ┤0,38
0,25 ┤0,34
0,18 ┤0,24
0,80 ┤1,07
1
1
1
1
Figura 10 - Visualização da taxa de incidência dos casos confirmados de hepatite E por 10 mil habitantes, no mapa do estado de Rondônia, no período de 1999 a
2009.
Não encontramos padrão para a evolução do vírus E nas regiões de saúde ou, individualmente, nos municípios selecionados.
63
O gráfico 9 apresenta a evolução das taxas de incidência das hepatites virais no
estado de Rondônia no período 1999 a 2009. Verifica-se que se destacam os vírus HBV,
HAV e HCV. Sendo assim, procuramos verificar se há diferenças no comportamento desses
três vírus nas regiões de saúde do estado numa série histórica (veja também os gráficos 10,
11 e 12).
Gráfico 9 - Taxa de incidência dos casos confirmados de hepatites virais segundo ano de notificação
e classificação etiológica. Rondônia – 1999 a 2009.
Verificamos queda na taxa de incidência do vírus A em todas as regiões, com
exceção da região de Porto Velho, que ainda se mantém.
64
Gráfico 10 - Taxa de incidência média dos vírus A, segundo regiões de saúde. Rondônia – 1999 a
2009.
Gráfico 11- Taxa de incidência média dos vírus B, segundo regiões de saúde. Rondônia – 1999 a
2009.
65
O vírus B apresenta-se ocmo problema relevante no estado de Rondônia. No gráfico
11, vemos a elevação das taxas de incidência ao longo dos anos. A região de Porto Velho
chama atenção para o ano de 2009, com uma acentuada queda (gráficos 11 e 12). Essa queda
pode ser atribuída à falta de notificação, pois dois locais importantes estão com dificuldades
para realizar as notificações dos casos (CEMETRON e Banco de Sangue no Hospital de
Base).
Gráfico 12 - Taxa de incidência média dos vírus C, segundo regiões de saúde. Rondônia – 1999 a
2009
O vírus C se mantém com taxa mais baixa do que o B e o A, porém também
apresenta crescimento nas regiões de saúde do estado.
Como o vírus A e B apresentam maior incidência, buscamos verificar se há alguma
relação entre esses vírus. Para isso, utilizamos o gráfico de dispersão (gráfico 13). Vemos
que, à medida que aumenta a taxa do vírus A, também aumenta a taxa do vírus B,
destacando-se seis municípios.
66
Gráfico 13 - Dispersão dos municípios de residência, casos confirmados, segundo taxa média da
hepatite pelos vírus A e B. Rondônia – 1999 a 2009.
67
5. DISCUSSÃO
Buscar as características das hepatites virais na população em determinado local e
tempo é um objetivo da vigilância epidemiológica. Sendo assim, iniciamos falando de um
problema que angustia todo profissional da VE, qual seja: a falta de preenchimento dos
campos das FIE (incompletitude). Com relação a este problema, Oliveira et al. (2009) e
Saraceni et al. (2005) realizaram estudos visando avaliar a completitude dos campos das
fichas de investigação da febre tifóide na Bahia e da sífilis congênita no Rio de Janeiro.
Esses trabalhos mostraram a importância e a necessidade de avaliar os dados das fichas do
SINAN, principalmente em relação à adoção de medidas de informação para os profissionais
nos locais da notificação. Pois, como vimos nos dados deste estudo, o grau de 65% de
incompletitude no campo do exame de HCV-RNA inviabiliza a sua utilização. Porém,
mostra a necessidade de mais capacitações e melhoria do fluxo de informações.
Estatisticamente, campos com incompletitude maior de 10% não são aceitáveis para
análise. Para Romero (2007), a incompletitude pode ser classificada assim: excelente (menor
de 5%), bom (5 a 10%), regular (10 a 20%), ruim (20 a 50%) e muito ruim (50% ou mais).
Com exceção do exame de HCV-RNA, os campos essenciais/obrigatórios da FIE das
hepatites virais no SINAN apresentam incompletitude de: data de encerramento (2,85%),
classificação final/diagnóstico (1%) e classificação etiológica (10,14%). Usando a
classificação de Romero. Podemos afirmar que os dados estão bons, mas há a necessidade
de melhorá-los. Quem sabe, uma opção para aumentar as notificações e melhoria dos dados
do SINAN fosse o maior incentivo das notificações nos hospitais e laboratórios, como já foi
proposto na década de 90 e até hoje ainda pouco explorado. Porém, também devemos
considerar a grande importância da busca ativa dos casos (WALDMAN, 1991). Para isso, é
necessária a articulação do sistema de vigilância epidemiológica com a atenção básica e com
outros profissionais de áreas afins, como associações de bairro, igrejas etc.
Buscar o conhecimento sobre as hepatites e divulgar a problemática no estado é uma
obrigação para todo profissional da saúde. Pessoas informadas conduzem melhor os fatos
quando são apresentados a eles. Para aprimorar o banco de dados, todos devem estar
envolvidos pois quando as assistências médica, farmacêutica ou laboratorial identificam e
informam um novo caso, estamos, acima de tudo, melhorando a qualidade de vida da
população e, também, auxiliando o sistema a empregar recursos financeiros e outras
medidas necessárias para minimizar os danos, tanto na fase aguda quanto na fase crônica da
68
doença, principalmente pelas complicações que os casos agudos e crônicos podem
desenvolver (CRUZ et al., 2009).
Outra dificuldade para o banco de dados é a demora para o encerramento dos casos.
Vemos que na base do SINAN (hepatites virais) para Rondônia, de 1999 a 2004, a média de
tempo entre a notificação e o encerramento dos casos foi de sete anos. No período de 2005 a
2009, essa média foi de três anos e dois meses. A normativa do SINAN preconiza que os
casos sejam encerrados em um período máximo de 180 dias (seis meses). Mas, a demora de
mais de dois anos para o encerramento dos casos inviabiliza a análise da situação de saúde,
pois, não há como identificar os problemas no momento real; assim, a adoção de medidas de
controle é prejudicada (BRASIL, 2007).
5.1 CARACTERÍSTICAS PESSOAIS PARA AS HEPATITES EM
RONDÔNIA
Os resultados apresentados a partir dos dados disponíveis no SINAN em Rondônia
mostram que, para a hepatite A, há predominância na faixa etária de 0 a 19 anos (base da
pirâmide), mas, não há diferença significativa entre os sexos. Esse achado está de acordo
com a literatura referente à Rondônia, porque para a hepatite A, os estudos nesse estado não
têm evidenciado associação com sexo ou raça/cor. Ela está relacionada com as condições de
saúde do local onde a pessoa vive (saneamento básico e água tratada, principalmente) ou
ainda cuidados com a higiene pessoal e dos alimentos (FERREIRA, 2004). Moreira (2002),
estudando a prevalência do anti-HAV em crianças de duas escolas, uma pública e outra
particular, no município de Porto Velho, identificou presença do vírus nos escolares, com
maior incidência na escola pública localizada na periferia, sem significância quanto à
associação com sexo. Assis (2002), no município de Peixoto de Azevedo, no Mato Grosso
do Sul, achou alta prevalência do vírus A desde as faixas etárias mais baixas, e sem relação
com sexo ou outra variável do local. Porém, vale ressaltar a predominância nas crianças
como característica dos locais com grande endemicidade do vírus. Outros estudos mostram
resultados um pouco diferenciados dos achados em Rondônia, como Braga et al., (2008),
que mostraram a soroprevalência do vírus A em crianças de um a dez anos no município do
Rio de Janeiro, com maior ocorrência na faixa até cinco anos e no sexo feminino. Para
69
Babinski et al. (2008) a prevalência da infecção pelo vírus A ocorreu na faixa etária de um a
quatorze anos e no sexo masculino.
O vírus B está acentuadamente presente na faixa etária de 20 a 39 anos. Nas faixas
de 40 a 59 anos e 60 e mais anos, sua incidência é menor. As taxas de incidência (por 10 mil
habitantes) para estas faixas etárias foram, respectivamente, de 40,53; 31,04 e 13,59.
Vários estudos mostram alta incidência do vírus B, alguns também apresentam o
vírus C incidente na faixa de 20 anos, chegando até os 50 anos, como um pouco de
predominância no sexo masculino (CRUZ et al., 2009; BABINSKI et al., 2008; MARTINS
et al., 2008; ARAUJO, 2004; Chávez et al., 2003). Verificamos que, em Rondônia, há maior
incidência no sexo masculino na faixa de 40 a 59 anos.
A história natural da hepatite B evidencia a facilidade de transmissão por contato
intradomiciliar e sexual, alta sobrevida do vírus no meio ambiente (até uma semana) com
viabilidade de causar infecção. Sendo assim, há maior possibilidade para contato e infecção
pelo vírus B (FONSECA, 2007). Santana (2003) e Rosa (2004) ressaltaram a prevalência da
hepatite B em parturientes de um hospital público de Porto Velho. Santana enfatiza a faixa
etária reprodutiva como prevalente o que ocasiona risco para a transmissão vertical. Porém,
Rosa observou 3,1% de prevalência para casos crônicos, mas com baixa replicação viral, o
que sugere menor risco para a transmissão vertical. Todavia são importantes as medidas de
prevenção para o recém-nascido (vacina e imunoglobulina).
Diferentemente, a hepatite C mostra mais predominância no sexo masculino na faixa
etária dos 40 a 59 anos de idade, Na pirâmide etária dos casos de hepatites, ficam bem
evidenciadas as características desses três vírus (A, B e C). O A com base larga (faixa etária
mais baixa 0 a 19 anos), o B com o meio mais proeminente e o C com os casos de mais
idade.
O vírus C atinge pessoas com mais idade pelo fato de ser uma infecção silenciosa.
Estes indivíduos são em maior parte do sexo masculino, principalmente pela identificação
dos casos nos bancos de sangue (CARSTEN, 2005).
Um dado que chamou a atenção neste estudo foi o percentual de mulheres grávidas
identificadas em cada tipo de vírus. Mais de 46% das infecções por hepatite viral acometeu
grávidas. Acreditamos que este fato seja possível pela inserção na rotina de pré-natal da
pesquisa de marcadores para as hepatites virais, principalmente, B e C. Esse resultado está
de acordo com o trabalho de Kiesslich et al. (2003) que encontrou elevada prevalência do
vírus B em grávidas em sub-regiões do Amazonas. Mais uma vez, reforça a necessidade de
70
continuar e intensificar a busca de casos durante o pré-natal, pelo fato de a hepatite B
representar uma grande ameaça para a saúde do bebê (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PEDIATRIA, 2006).
A raça/cor predominante foi à parda, com escolaridade do ensino fundamental
incompleto e residência na zona urbana. Em relação à escolaridade e zona de residência,
também não há surpresas nos achados, pois a escolaridade com maior freqüência foi o
fundamental incompleto e local de residência mais comum está na zona urbana. Isto ocorre
porque os dados do SINAN são informados, na grande maioria, nas unidades de saúde
pública. Nesses locais, a maior parte da população que procura atendimento é formada por
pessoas com menos instrução e que moram nas cidades.
Pessoas que declararam estar vacinadas foram menos de 15%. Estudos mostram a
melhoria da adesão à vacina entre populações específicas, como profissionais de saúde
(SILVA et al., 2003). Porém, na população em geral, principalmente adolescente, existe a
necessidade de aumentar a cobertura vacinal (SOUTO et al., 2001).
5.2 CARACTERÍSTICAS DOS MUNICÍPIOS PARA AS HEPATITES
VIRAIS
Os vírus com maior incidência no estado são das hepatites A, B e C; representam
mais de 90% dos casos confirmados. Desta forma, nos deteremos mais nas características
relacionadas a estes vírus.
Visualizando os mapas de Rondônia e as taxas de incidências dos casos de hepatites,
observamos que o município de Guajará-Mirim se tornou um município importante no
estudo da evolução de casos de hepatite. Este município está no gráfico de dispersão no
quadrante de taxa alta para o vírus A e B (gráfico 13). Guajará-Mirim tem duas
características que chamam a atenção: os limites municipais localizam-se na fronteira do
Brasil com a Bolívia e o município possui uma grande área indígena. Não conseguimos
detectar quantos bolivianos fazem sorologias e outros procedimentos no Brasil,
especificamente em Guajará-Mirim, pois no banco de dados do SINAN o endereço
registrado é apenas nacional.
71
A população indígena de Guajará-Mirim era composta por 4.120 índios, dados do
SIASI/2007 (mapa 6). No ano de 2008, a FUNASA (Fundação Nacional de Saúde),
prosseguiu com um levantamento sorológico que havia sido realizado entre 2004 e 2005, e
realizou uma nova pesquisa sorológica nessa região (o projeto estimava 2791 indígenas não
testados para a sorologia das hepatites). Não sabemos se foi alcançada toda essa população
estimada. Porém, ao final, encontraram a seguinte situação: 175 indígenas já em tratamento
no CEPEM, 48 casos novos, 11 indígenas com cicatriz sorológica e seis óbitos por hepatite
viral. Desses 237 casos, 178 eram pelo vírus B (75%). Esses achados contribuíram muito
para entender o aumento dos casos de hepatites nesse município - de acordo com o SINAN,
de 2007 até 2009, os casos confirmados em indígenas representam 62%. Esse percentual é
cinco vezes maior do que o segundo município, Cacoal, onde 12% dos casos de hepatites
ocorreram em indígenas. Estudos com comunidades indígenas mostram alta prevalência do
vírus B e alguns fazem associação com a transmissão sexual (DIAS, 2009). Esses dados
mostram a importância de se elaborar ações conjuntas com a FUNASA para a melhoria do
atendimento e da prevenção dessa população específica.
Mapa 6 – Localização do distrito sanitário indígena de Porto Velho no estado de Rondônia.
Fonte: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/area.cfm?id_area=1775
Outro município que chama a atenção é Vilhena, que também está no quadrante de
taxa alta para o vírus A e B (gráfico 13). Situa-se no extremo sul do estado, e tem muita
72
participação nos casos de hepatites virais. Acreditamos que a grande quantidade de casos
encontrados decorra da atuação do banco de sangue na vigilância epidemiológica das
hepatites virais. E também, pela inserção da equipe do Serviço de Atendimento
Especializado do Programa de DST/Aids, que busca oferecer tanto a assistência médica,
como a realização das notificações dos casos.
A região de Vilhena é composta por sete municípios, a população varia de 2.411
habitantes, em Pimenteiras d’Oeste, até 69.866, na sede (Vilhena). O município de
Pimenteiras chama a atenção por ser o maior PIB per capita do estado (R$ 24.485,28), com
índice de Gini de 0,36 (terceiro município em menor desigualdade de renda). Ao longo de
onze anos de série histórica não houve caso confirmado (e somente um caso notificado).
Essa situação sugere falta de sensibilidade da vigilância para detectar casos suspeitos
porque, embora tenha bons indicadores socioeconômicos, Pimenteiras apresenta deficiência
no saneamento básico (quadro 6). Desta maneira, a expectativa era de ocorrência de alguns
casos de hepatite A neste município.
Quadro 6 - Comparação entre municípios quanto à proporção de habitantes por tipo predominante de
saneamento básico e principais causas de internação.
Município
% habitantes
% habitantes
% habitantes
% de internação
(justificativa)
abastecidos pelo abastecidos pelo
abastecidos
pelo principal
serviço
serviço
pelo serviço
grupo de causas
(Tipo
(Tipo
(Tipo
(principal grupo
predominante de predominante de
predominante
causas de
abastecimento
instalação
de destino de
internações)
de água)
sanitária)
lixo)
Campo Novo
94,1
66,2
63,6
25,7
(município com maior
(poço na
(fossa
(queimado na
(algumas doenças
desigualdade de
propriedade)
rudimentar)
propriedade)
infecciosas e
renda)
parasitárias)
Candeias
54,5
69,8
54,2
20,9
(município com
(rede geral)
(fossa séptica)
(coletado)
(gravidez, parto e
incidência alta para o
puerpério)
vírus A)
Costa Marques
68,4
70,7
60,0
35,2
(município com menor
(poço na
(fossa
(queimado na
(gravidez, parto e
renda per capita)
propriedade)
rudimentar)
propriedade)
puerpério)
Guajará-Mirim
52,9
81,8
66,2
23,1
(município com menor
(poço na
(fossa
(coletado)
(lesões e outras
desigualdade de
propriedade)
rudimentar)
consequências
renda)
por causas
externas)
Pimenta Bueno
59,2
76,8
74,7
17,9
(município com
(rede geral)
(fossa
(coletado)
(algumas doenças
incidência alta para o
rudimentar)
infecciosas e
vírus A)
parasitárias)
Pimenteiras
97,7
89,0
63,1
17,7
(município com maior
(poço na
(fossa
(queimado na
(doenças do
73
renda per capita)
propriedade)
rudimentar)
propriedade)
Porto Velho
(menor desigualdade
de renda)
60,5
(poço na
propriedade)
52,0
(fossa séptica)
80,8
(coletado)
aparelho
respiratório)
33,6
(gravidez, parto e
puerpério)
Nota: dados sobre saneamento coletados no Censo 2000 e internações referentes ao ano de 2009 (IBGE).
O município de Candeias do Jamari tem alta taxa de incidência para o vírus A e
aparente tendência de elevação também para a taxa do vírus B. Esse município possui boas
condições de saneamento básico (quadro 6), porém, a explicação para a incidência do vírus
A pode estar relacionada com as informações sobre a contaminação das águas. Nessa
perspectiva, tanto o município de Candeias como o de Porto Velho apresentam elevada
contaminação. Isso faz diferença para os 40% dos moradores de Candeias que utilizam poço
em sua propriedade. Além de particularmente nos preocupar a disseminação do vírus A
nesses dois municípios, outros estudos sinalizam para uma situação de dano ambiental
irreparável em relação ao mau uso das águas (MARTINS, 2009; RODRIGUES, 2008;
LIMA, 2008; SILVA, 2006; BAHIA, 1997).
As figuras 26 e 28 mostram as taxas de incidência média das regiões de saúde. Nelas,
há duas situações que aparecem mais evidentes: a aparente tendência de crescimento do
número de casos relacionados ao vírus C e decréscimo dos relacionados ao vírus A. O
município de Vilhena foi o responsável por essa variação dos dados.
O aumento da incidência do vírus C traz preocupação com o uso de drogas como via
de transmissão. No período de 2007 a 2009, pessoas que foram confirmadas como caso de
hepatite C se referiram ao uso de droga inalável (9%) e droga injetável (6%) e 11%
relataram a ocorrência de transfusão sanguínea e hemoderivados. Medidas de prevenção
para essa população são necessárias, o mais breve possível.
Para o vírus B, podemos observar nos mapas a predominância dos casos nos
municípios com maior população e que estão localizados no eixo da BR-364. A rodovia traz
dois problemas sociais que podem agravar o aparecimento dos casos de hepatite B: a
prostituição e o tráfico/consumo de drogas. As profissionais do sexo (principalmente não
vacinadas) representam risco para essa infecção (PASSOS et al., 2007).
Os municípios de Ariquemes e Monte Negro estão com elevadas taxas de incidência
de hepatite B. Ariquemes é um município que vem realizando muitas campanhas para
avaliação sorológica, desde o ano de 2007. Aquino (2008) apresenta estudo no qual mostra a
74
alta endemicidade para esse vírus no Pará e enfatiza outros estudos que mostram uma
soroprevalência de 4,9% para Rondônia, 3,3% para o Acre para Lábrea, no Amazonas.
A busca por casos novos deve ser uma rotina nas vigilâncias epidemiológicas de
Rondônia, pois os casos crônicos são os grandes reservatórios para novas infecções, e por
isso necessitam de identificação rápida.
Monte Negro é um município pertencente à região de Saúde de Ariquemes. E em
estudo realizado por Khouri et al. (2005) esse município apresentava-se como área endêmica
para a hepatite B. O vírus da hepatite B tem uma longa história na região norte. Seus
registros tiveram início em 1966, com a hepatite de Lábrea (DIAS Jr., 2005). Naquela época,
pessoas morriam de uma doença ainda pouco conhecida. Porém, questionava-se por que
tantos casos de hepatite B ali, uma vez que esse tipo de vírus não apresenta predominância
por características pessoais (raça, sexo, idade etc.); está associado a comportamentos de
risco, como relações sexuais sem proteção, uso de drogas ilícitas com compartilhamento de
seringas e outros. Fonseca (2010) traz uma explicação bem plausível: em 1940, o estado do
Espírito Santo teve um surto de icterícia depois de vacinação com soro humano, inclusive
com a ocorrência de óbitos. Ele supôs que, na região, o emprego da vacina contra febre
amarela com derivado de plasma humano (1940 a 1950) e a utilização de agulhas e seringas
não descartáveis tenha sido o mecanismo para a propagação do vírus. Outro suposto meio de
infecção considerado foi a reutilização de lancetas para o exame de malária. Esse fato foi
inclusive presenciado pelo autor.
É muito controverso um estudo de base populacional realizado pelo PNHV, em 2007
e 2008. Mesmo que haja apenas a divulgação parcial de seus resultados, uma de suas
conclusões é que a prevalência do antígeno de superfície do vírus B (HBsAg) está baixa em
todas as regiões do Brasil.
O que percebemos em Rondônia é exatamente o contrário, a endemicidade do vírus
B continua elevada e com tendência de crescimento.
75
Gráfico 14 - Casos confirmados de hepatites virais segundo classificação etiológica e ano de
notificação, com linha de tendência da hepatite B. Rondônia – 1999 a 2009.
Devemos salientar a presença do vírus E. Não é de rotina a realização da sorologia
para este vírus. Acreditamos que os casos mais antigos, de 2003 a 2005, sejam erros,
principalmente com a confusão relacionada ao marcador de replicação viral pra a hepatite B
(HBe).
Conforme informações do chefe de Biologia Médica do LACEN, nos anos mais
recentes, houve a realização de alguns exames para a pesquisa do vírus E através de um kit
extra disponível naquele laboratório. Mas, como ressaltam alguns estudos, além do exame,
há necessidade de verificar a circulação desse vírus e identificar os riscos para essa infecção
(BORTOLIERO et al., 2006; ASSIS et al., 2002; TRINTA et al., 2001).
76
6. CONCLUSÕES
Ao desenvolver esse estudo sobre a caracterização do perfil epidemiológico das
hepatites virais no estado de Rondônia, pôde-se perceber a extensa responsabilidade em
analisar dados relacionados a vírus com peculiaridades tão distintas. Esses vírus, apesar de
atingirem o mesmo órgão do corpo humano, apresentam características clínicas e
epidemiológicas diversas. Se dedicar com a devida atenção a todos os vírus em separado foi
uma das dificuldades encontradas ao longo do estudo. Mas, mesmo assim, foi possível
chegar a algumas conclusões importantes para o planejamento e execução das atividades
junto ao PEHV, dentre as quais se destacam as seguintes:
A falta de preenchimento dos campos das Fichas de Investigação
Epidemiológica (FIE) não inviabilizou o estudo, mas mostrou-se evidente a
necessidade de treinamento dos profissionais de saúde no adequado
preenchimento das FIE.
O perfil epidemiológico para cada uma das hepatites virais em Rondônia no
período estudado assemelha-se aos encontrados na literatura nacional e
internacional, sendo os vírus B, A e C os mais incidentes.
A ocorrência da hepatite B é alta em todos os municípios do estado de
Rondônia.Se destacam os municípios de Gujará-Mirim e Vilhena.
Apesar dos esforços para a ampliação da cobertura vacinal em todo o estado
de Rondônia, a endemicidade do vírus B continua elevada e com tendência
de crescimento.
Não foram notificados muitos casos relacionados ao vírus Delta, mas existe a
possibilidade de aumento da frequência desse agente em decorrência dos
casos de hepatite B crônica, que não são encontrados, muitas vezes por falta
da busca ativa dos comunicantes dos casos já confirmados.
A precariedade da infra-estrutura de saneamento básico no estado e a carência
das ações de educação em saúde da população contribuem para a persistência
dos casos de hepatite A.
Há a possibilidade de aumento da infecção pelo vírus A, em decorrência da
contaminação da água para consumo retirada de poços.
Existe uma forte tendência de aumento da frequência da hepatite C nos
usuários de drogas em Rondônia.
77
A presença do vírus E é um sinal para que se realizem ações visando a
elucidar casos não confirmados por outros tipos de vírus.
Existe muita dificuldade para o preenchimento dos campos de conclusão da
FIE. Essa dificuldade compromete as tabulações realizadas no SINAN.
A aplicação do critério de sorologia reagente para cada marcador viral no
preenchimento dos campos de conclusão da FIE proporcionam resultados
mais confiáveis.
A análise em relação ao “município de residência” mostra certa conformidade
entre os cinquenta e dois municípios do estado, ainda que se destaquem os
municípios de Candeias, Pimenta Bueno, Monte Negro, Ariquemes, GujaráMirim e Vilhena, quanto à elevada incidência dos vírus A e B.
A notificação das hepatites virais no SINAN ainda é bastante incompleta e
apresenta demora em seu encerramento.
A predominância dos casos de hepatite C em indivíduos do sexo masculino
em Rondônia encontra-se na faixa etária de 40 a 59 anos.
A inserção da pesquisa de marcadores para as hepatites virais, principalmente
B e C, na rotina de pré-natal explica, pelo menos em parte, a elevada
proporção de casos (superior a 46%) em mulheres grávidas.
Os vírus A, B e C das hepatites representam as maiores incidências no estado
de Rondônia, com mais de 90% dos casos confirmados.
Quanto à infecção pelo HBV, além dos riscos de transmissão sexual e
sanguínea, a sua detecção em pré-escolares pressupõe transmissão vertical.
A soroprevalência entre os adolescentes do estado de Rondônia, mais elevada
que a encontrada em países desenvolvidos, aponta para a necessidade de se
repensar as estratégias de vacinação.
78
7. REFEREÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO A - Frente da Ficha de investigação das hepatites virais (versão Windows)
85
ANEXO B - Verso da Ficha de investigação das hepatites virais (versão Windows)
86
ANEXO C - Frente da Ficha de investigação das hepatites virais (versão Net)
87
ANEXO D - Verso da Ficha de investigação das hepatites virais (versão Net)
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