Lousa Digital: investigando o uso na rede estadual de ensino com o apoio de um curso de formação Eloisa Rosotti Navarro1 GD6 – Educação Matemática, Tecnologias Informáticas e Educação à Distância O presente trabalho objetiva investigar a utilização da Lousa Digital (LD), considerada uma Tecnologia de Comunicação e Informação (TIC), como um recurso pedagógico na disciplina de Matemática da Rede Estadual de Ensino. Esta investigação será realizada a partir da realização de um curso de formação sobre a Lousa Digital para cerca de 20 professores, do Colégio Estadual Dr. Xavier da Silva, de diversas disciplinas sendo que, dentre estes, quatro são professores de Matemática, enfatizando a possível contribuição que a LD pode oferecer, e vir a auxiliar o professor na preparação de aulas mais dinâmicas e participativas. Para realização desta pesquisa de caráter qualitativo, serão propostas reuniões com atividades que visam o conhecimento e inserção da Lousa Digital como um recurso pedagógico no ensino de matemática. Palavras-chave: Educação. Educação Matemática. Formação de Professores. Novas Tecnologias de Informação e Comunicação. Lousa Digital. Introdução As Tecnologias de Informação e Comunicação estão se desenvolvendo de forma a estabelecer uma relação com a Educação, possibilitando ao professor modernizar sua prática de ensino. Segundo Pretto (1995), as TIC ganham incremento a partir do movimento de aproximação entre as diversas indústrias da eletrônica, informática, entretenimento e comunicação, objetivando o aperfeiçoamento dessas novas tecnologias e o aumento das possibilidades de comunicação entre as pessoas. Desse modo, as escolas vêm refletindo a posição do professor diante da utilização de recursos tecnológicos nos ambientes educacionais, uma vez que o professor tem a possibilidade de modernizar e enriquecer sua prática pedagógica com atuais métodos que satisfaçam às necessidades do educando. Vale lembrar que cada tecnologia possui suas potencialidades de uso e particularidades, e que sua contribuição ao processo de aprendizagem dos alunos está vinculada à ação do professor, devendo este conhecer bem a tecnologia utilizada em sala de aula. O professor deve estar disposto a mudar sua prática, buscar novas habilidades para sanar as dificuldades na obtenção da atenção dos alunos e, principalmente, buscar a interação entre 1 Universidade Federal do Paraná, e-mail: [email protected], orientador: Marco Aurélio Kalinke. eles. A Lousa Digital é um recurso que pode fazer os alunos, além de interagirem com o professor, interagirem entre si, tornando a aula mais dinâmica e participativa. A LD oportuniza a incorporação de uma linguagem audiovisual que, segundo Pérez (1978, p.17): O encanto característico da imagem provém de seu imediatismo. O imediatismo das imagens, como representação do mundo e dos seres, é o que produz um choque direto na afetividade e sensibilidade do consumidor de imagens. As imagens nos oferecem informações concretas, polimorfas e vivenciais (...). As imagens chegam a dominar o homem em seu próprio inconsciente. Impulsionado a todo o momento pelo imediatismo das imagens e dos sons, o homem moderno se converteu num consumidor satisfeito com o encanto da imagem. Essa força das percepções e dos choques afetivos tem uma poderosa influência que escapa ao controle dos métodos tradicionais de aprendizagem. Além disso, o aluno poderá atuar como produtor da informação, acreditando na importância de expor seu conhecimento e pensamento a respeito de determinados assuntos, socializando suas ideias de forma livre e criativa. Nessa perspectiva, Amaral (2003, p.113), reforça essa ideia afirmando que: Um questionamento sobre a relação ensino-aprendizagem deve considerar todas essas modificações presentes na realidade social, na qual as crianças em idade escolar encontram-se inseridas, para que novas metodologias mais convincentes e atraentes sejam criadas. O objetivo deve ser, portanto, fazer com que os recursos disponibilizados pelas novas tecnologias da informação e da comunicação contribuam para a reflexão e o desenvolvimento do espírito crítico, quebrando as barreiras entre o espaço escolar e o mundo exterior, integrando-os de forma consciente e enriquecedora. Até mesmo a simples transmissão de informações pode ser feita mais ativamente, com recursos de animação e de som, desenvolvendo novas formas de lidar com o conhecimento disponível. Nesse sentido, o presente trabalho tem o intuito de investigar as possíveis contribuições que um curso de formação para uso da Lousa Digital pode oferecer aos professores em relação às suas aulas. O professor diante da Tecnologia A relevância deste trabalho fundamenta-se em compreender e assumir que, como afirma Nóvoa (1991), os professores são peças fundamentais no processo de ensino e aprendizagem, não sendo os únicos responsáveis pelo sucesso ou insucesso do processo educativo, no entanto, assumem grande importância na sala de aula, devido sua ação como pessoas e como profissionais. Propor um estudo que tem como objetivo investigar a utilização da Lousa Digital como um recurso pedagógico na disciplina de Matemática da Rede Estadual de Ensino, a partir de um curso de formação, visa compreender os diferentes conhecimentos necessários para o uso das novas tecnologias, pois, segundo Kalinke (2004), acredita-se que não serão apenas os equipamentos que evoluirão, os espaços sociais, o ensino, alunos e professores estarão numa constante mutação, seja na maneira de ensinar ou aprender. Nesta perspectiva, como afirmam Borba e Bicudo (2012) fica entendido que o professor necessita estar sempre em processo de formação, estando atento ao surgimento de uma nova educação, justificando a formação continuada dos professores de Matemática. Segundo esses autores: O processo de ensino-aprendizagem, envolvendo o aluno, o professor e o saber matemático, é visto como um dos principais projetos de investigação em Educação Matemática. (BORBA; BICUDO, 2012). Borba e Bicudo (2012) dizem que muitos professores pensam erroneamente ao acreditarem que o fracasso educacional é consequência dos próprios alunos, como, por exemplo, a falta de interesse ou capacidade. A falta de interesse ou capacidade para estudar Matemática pode ser resultante do método de ensino empregado pelo professor. Tal fato justifica a importância da formação continuada, mantendo os professores atualizados. Para que o professor consiga a atenção dos alunos e resultados positivos com sua prática de ensino, ele precisa, primeiro, perder o medo de se aventurar fora da zona de conforto e entrar na zona de risco, ousar e ter curiosidade em aprender novas habilidades de ensino. Ele precisa ter em mente, segundo Kenski (2006), que não será mais o detentor do monopólio do saber, e esteja disposto a mudar sua prática a fim de que os alunos consigam interagir e se posicionarem como coatores do processo de ensino. Essa postura encaminha o aluno diante das múltiplas possibilidades e formas de se alcançar o conhecimento e de se relacionar com ele. Kenski (2003, p. 95) também acredita que o professor deve estar em constante estudo visto que, somente assim, poderá “contribuir para a formação de pessoas ativas socialmente, cidadãos de seu próprio país e do mundo e que possam ter autonomia e conhecimento suficiente para a compreensão e análise crítica”. O uso da Tecnologia na Educação Borba (2012) diz que o professor deve se preparar de tal forma que o ambiente educacional consiga proporcionar ao aluno a oportunidade de construir seu conhecimento a partir da facção de algo partindo da sua própria ação. Um dos recursos que pode proporcionar essa construção é a tecnologia, quando usada de modo a proporcionar motivação, incentivo à discussão e interação entre os alunos. Segundo Kalinke (2003, p. 27) “a utilização de recursos tecnológicos, como elemento diferencial nas atividades escolares, vem se constituindo num dos principais campos de estudo, tanto para professores quanto para pesquisadores, na área de educação”. Nakashima e Amaral (2006) destacam ainda que em vários ambientes da sociedade há presença das tecnologias, e a escola, como ambiente social, é afetada. Mas o que irá fazer a diferença para o aluno em relação à aprendizagem não é a simples presença da tecnologia, e sim o modo como é utilizada. Lévy (1999) também defende a importância do modo de uso da tecnologia no cotidiano escolar, e afirma que a predominância de determinadas tecnologias desenvolvidas para garantir ao homem a superação de obstáculos naturais e a sobrevivência com melhor qualidade de vida, em cada lugar e em cada época, necessariamente, encaminha as pessoas para novas aprendizagens. A tecnologia pode ser entendida como um novo recurso pedagógico, mas para isso há a necessidade de utilizá-la para realizar novas tarefas, habilidades que não podiam ser alcançadas em sala de aula sem o uso da mesma, necessitando que o educador tenha a possibilidade de adquirir conhecimento prévio de suas potencialidades, pois, conforme Miskulin, Os educadores devem estar abertos a essas novas formas do saber, novas maneiras de gerar e dominar o conhecimento, novas formas de produção apropriação do saber científico, pois, assim, poderiam compatibilizar os métodos de ensino das teorias de trabalho com as TICs, tornando-as partes integrantes da realidade do aluno (MISKULIN, 2006, p.154). A autora evidencia que o professor deve compreender a importância da tecnologia como uma nova forma do saber, mas também compreender a necessidade do seu uso adequado de forma a causar interação e interatividade na sala de aula. Entende-se por interação em sala de aula como sendo uma relação entre humano-humano, ou seja, a relação entre aluno-aluno, aluno-professor. E, segundo Jensen (2003), o significado de interatividade provém de interação, sendo um processo mais amplo, no qual as ações do indivíduo se sobrepõem as tecnologias, ou seja, é uma relação entre humanomáquina. Para que isso ocorra, é necessário o conhecimento sobre as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação que estão sendo disponibilizadas para as escolas, pois, segundo Pierre Lévy (1999): [...] quanto mais ativamente uma pessoa participar da aquisição de um conhecimento, mais ela irá integrar e reter aquilo que aprender. Ora, a multimídia interativa, graças à sua dimensão reticular e não-linear, favorece uma atitude exploratória, ou mesmo lúdica, face ao material a ser assimilado. É, portanto, um material bem adaptado a uma pedagogia ativa (1999, p. 40). Nessa perspectiva, Keski (2003) defende que as TICs vêm transformando os ambientes sociais, interferindo na comunicação, cultura e, até mesmo, na aprendizagem. Porém, é preciso ter um amplo conhecimento de suas especificidades, pois, conhecer apenas o modo de uso de um determinado suporte, não garante a aprendizagem por parte dos alunos. Lousa Digital O presente trabalho objetiva uma investigação sobre o uso da Lousa Digital, a qual pode ser usada de forma a estabelecer uma relação de discussão entre alunos e alunos, alunos e professores e sua utilização pode ser feita pelos próprios alunos, desenvolvendo a interação e interatividade em sala de aula. Para o funcionamento da LD é necessária a conexão com um computador e este a um projetor multimídia. Com o uso da tecnologia Digital Vision Touch (DViT), a superfície onde a lousa é instalada torna-se sensível ao toque, possibilitando a interatividade tanto do professor quanto do aluno. A LD permite a utilização da linguagem audiovisual dinâmica, mas não deixa de lado a opção de explorar a oralidade e escrita, permitindo ao aluno não ser apenas receptor, mas podendo atuar como produtor de informações. Segundo Lopez (2010), a Lousa Digital pode ser considerada um recurso tecnológico interativo, pois o professor pode, pelo seu uso, encaminhar os alunos para uma nova forma de aprendizagem de modo que a aula se torne mais dinâmica, podendo desenvolver atividades que utilizem imagens, textos, sons, vídeos, páginas da internet e outras ferramentas. A Lousa Digital apresenta múltiplos recursos multimídia que podem ajudar na aprendizagem dos alunos, pois promove possibilidades diferentes para que o aluno possa explorar suas ideias e terem uma ampla variedade de informações. Gallego e Gatica (2010) acreditam que a Lousa Digital em sala de aula tem como finalidade potencializar as possibilidades de aprendizagem, visando ao trabalho em conjunto, desenvolvendo nos alunos opinião crítica, autonomia e agilidade para atuar de forma criativa e cooperativa. Segundo Tijibol et al. (1999, p. 20): O processo de interação entre indivíduos possibilita intercambiar pontos de vista, conhecer e refletir sobre diferentes questionamentos, refletir sobre seu próprio pensar, ampliar com autonomia sua tomada de consciência para buscar novos rumos. Sendo assim, pelo uso da Lousa Digital, o professor pode propor atividades utilizando recursos da LD comum, recursos do computador, e a criação de um ambiente de aprendizagem cooperativo. Metodologia De acordo com Bastos e Keller (1995, p.53) “a pesquisa científica é uma investigação metódica acerca de um determinado assunto com o objetivo de esclarecer aspectos do objeto em estudo”. No caso desta pesquisa, o objeto em estudo é a Lousa Digital, investigando as possíveis contribuições que um curso de formação pode oferecer aos professores da Rede Estadual de Ensino em relação às suas aulas. No Colégio, será realizado um curso de formação sobre a Lousa Digital com duração de 20 horas para cerca de 20 professores de diversas disciplinas, sendo 4 de Matemática. No primeiro encontro deste curso, será feita a apresentação de todos os participantes e da pesquisadora; a intenção é conhecer os participantes e seus respectivos vínculos com a tecnologia. Será investigado neste encontro quem já teve acesso à Lousa Digital, quem já a havia utilizado em sala de aula, qual a reação dos participantes ao se tocar no assunto da LD em sala de aula. Será apresentada a evolução do quadro até chegar à Lousa Digital. Em seguida, será explicado cada componente que acompanha a Lousa Digital e suas funcionalidades, assim como a paleta de funções e algumas potencialidades da LD. Por fim, serão vistos alguns Repositórios de Objetos de aprendizagem, o que são e suas finalidades de uso. Para a realização do segundo encontro, os professores participantes terão que analisar alguns objetos e escolherem pelo menos três, os quais usariam em sala de aula, indagandoos como se daria esse uso, quantos alunos participarão de cada objeto, em qual conteúdo esse objeto se encaixa, se ele acredita que isso mudaria a forma de ensinar e a maneira de aprender do aluno. No terceiro encontro, falar-se-á de alguns autores que exemplificam a presença da tecnologia e suas funcionalidades em sala de aula. Os professores estarão livres para manipularem a Lousa Digital, fazerem indagações a respeito de tecnologia, lousa digital, objeto de aprendizagem, entre outros relacionados ao curso. Serão analisadas algumas possibilidades de atividades que podem ser realizadas com o auxílio da lousa digital. Após esses encontros, a pesquisadora acompanhará cada professor da disciplina de Matemática durante uma semana para investigar o uso da Lousa Digital que os professores participantes do curso estariam ou não fazendo. O papel da pesquisadora será apenas o de observação, para poder analisar os conhecimentos aprendidos no curso que se fazem presentes nas aulas, e o quanto a formação influenciou nesses conhecimentos. Em seguida, haverá uma conversa com esses professores para analisar a utilização da Lousa Digital em suas aulas: se acharam o uso conveniente, quais foram as dificuldades, qual foi a reação dos alunos, se houve maior ou menor compreensão sobre o conteúdo explorado. A intenção é que cada encontro seja gravado com o objetivo de ter em mãos as contribuições de cada professor, Para que se possa organizar, analisar, interpretar e discutir os dados coletados. Referências AMARAL, S. F. As novas tecnologias e as mudanças nos padrões de percepção da realidade. In: SILVA, T. E. 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