Ana Ruth Silva de Araújo

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL
DOUTORADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS
CARACTERIZAÇÃO DA RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA AO HCV DE
PACIENTES COM HEPATITE C CRÔNICA ANTES E DURANTE O TRATAMENTO
COM INTERFERON ALFA E RIBAVIRINA.
ANA RUTH SILVA DE ARAÚJO
MANAUS
2010
i
ANA RUTH SILVA DE ARAÚJO
CARACTERIZAÇÃO DA RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA AO HCV DE
PACIENTES COM HEPATITE C CRÔNICA ANTES E DURANTE O TRATAMENTO
COM INTERFERON ALFA E RIBAVIRINA.
Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Medicina Tropical da
Universidade do Estado do Amazonas –
UEA, em convênio com a Fundação de
Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado
– FMT-HVD, como requisito para obtenção
do título de Doutor em Doenças Tropicais e
Infecciosas.
Orientadora: Profª. Dra. Adriana Malheiro
Co-Orientador: Prof. Dr. Sinésio Talhari
MANAUS
2010
Ficha Catalográfica
A663c
Araújo, Ana Ruth Silva de
Caracterização da resposta imune adaptativa ao HCV de
pacientes com hepatite C crônica antes e durante o tratamento
com interferon alfa e ribavirina / Ana Ruth Silva de Araújo. -Manaus: Universidade do Estado do Amazonas, 2010.
xv, 100f. : il.
Tese (Doutorado) - Universidade do Estado Amazonas Programa de Doutorado em Doenças Tropicais e Infecciosas,
2010. Orientadora: Profª. Drª.Adriana Malheiros.
Coorientador: Dr. Sinésio Talhari.
1. Hepatite C 2. Interferon 3. Ribavirina 4. Citocinas. I.
Malheiros, Adriana II. Talhari, Sinésio III. Título.
CDU: 616.91/97(043)
Ficha catalográfica elaborada por
Maria Eliana N. Silva – CRB- 11/248
ii
FOLHA DE JULGAMENTO
CARACTERIZAÇÃO DA RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA AO
HCV DE PACIENTES COM HEPATITE C CRÔNICA ANTES E
DURANTE O TRATAMENTO COM INTERFERON ALFA E
RIBAVIRINA.
ANA RUTH SILVA DE ARAÚJO
“Esta Tese foi julgada adequada para obtenção do Título de Doutor em Doenças
Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo programa de PósGraduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas, em
convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”.
Banca Julgadora:
_________________________________
Profª. Adriana Malheiro, Dra.
Presidente
___________________________________
Prof. Alex Vianey Calado França, Dr.
Membro
_________________________________
Prof. Luiz Carlos de Lima Ferreira, Dr.
Membro
___________________________________
Profª. Maria Cristina dos Santos, Dra.
Membro
____________________________________
Profª. Maria Paula Gomes Mourão, Dra.
Membro
iii
DEDICATÓRIA
Aos meus pais,
Pedro e Ruth
Aos meus filhos,
Fernando e Mônica, todo o meu amor
iv
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, pelo carinho e apoio incondicional em todos os momentos e ao
meu pai pelo exemplo de perseverança e determinação.
Aos meus filhos, Mônica e Fernando, pela compreensão e força para continuar,
aguentando firmes as minhas ausências e me ajudando, tantas vezes, apenas
com um sorriso e um abraço.
Aos pacientes, que, embora sofrendo, entenderam a importância de sua
contribuição para a pesquisa científica, tendo participado deste estudo com
disciplina e boa vontade.
À minha orientadora, Dra. Adriana Malheiro, pela orientação nesta pesquisa.
Ao Dr. Sinésio Talhari, pelas correções inteligentes e objetivas.
À Gina, pelo apoio fundamental para concretização deste trabalho, além do
exemplo de vida, coragem e ética que representa.
À minha irmã Iara, pela sua fé e alto astral, com que sempre se pode contar.
Ao Rodopho, meu filho de coração, pela dedicação e esforço, quando eu mais
precisei de ajuda na faculdade de Medicina.
Ao Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas da
Universidade do Estado do Amazonas e a todos os seus integrantes, em
especial à Dra. Graça Barbosa e à Conceição, pela oportunidade de
concretização deste trabalho.
À SUFRAMA, pelo suporte financeiro ao Programa de Pós-Graduação em
Doenças Tropicais e Infecciosas.
À Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM), pela contribuição
através do ambulatório de hepatites, onde foi possível a construção do nosso
banco de dados e acompanhamento dos pacientes.
À Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (FHEMOAM), pela
realização de exames de citometria de fluxo e ELISA.
Ao Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMT-SP), na pessoa do Dr.
José Eduardo Levi, por ceder o laboratório para processamento de amostras
do HCV.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo
apoio financeiro ao projeto.
v
Aos queridos professores da FMT-AM Dr. Luiz Ferreira Dr. Silas Guedes e Dr.
Araújo.
Às funcionárias competentes e amigas da FMT-AM, Conceição, Waldirene,
Liane, Sarah e Rosana, pelo carinho e atenção.
Ao estatístico Edson da Fonseca de Lira, da FHEMOAM, pelas contribuições
nas análises dos resultados.
Aos professores, funcionários e amigos da UFAM, especialmente Antonino,
Tavares, Rodrigo, Miralha e Alline por respeitarem e apoiarem o trabalho na
faculdade de Medicina durante esse período de mudanças primordiais no curso
e na minha formação acadêmica.
Aos amigos e colegas do grupo de pesquisa da FHEMOAM: Andréa, Kátia,
Tatiane, João Paulo, Laura, Liziara e Walter, que, de diversas formas,
contribuíram com esta pesquisa.
Aos amigos da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), Alfredo, Andréa, José
de Jesus, Joaquim, Margareth e tantos outros.
Ao Professor José Carlos Fonseca, pelo encaminhamento de pacientes.
Ao Professor Fernando Ferreira (In Memoriam), mestre e amigo, que me
incentivou e me ajudou a abraçar a hepatologia.
A uma família especial que conheci nesse caminho: Naíza, Edvaldo, Nádia,
Naiana e Thiago, pelo exemplo de união e fé.
Aos meus alunos Anthony e Izabella, pelo interesse pela hepatologia.
Ao laboratório Roche, especialmente aos amigos Ed, Rafael, Gabi, Fábio,
Cavalcante, Salomão e Flávio.
Ao poeta Dori Carvalho, pelo amor.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a concretização deste
sonho.
vi
RESUMO
A infecção pelo HCV está estimada em mais de 200 milhões de pessoas em
todo o mundo, correspondendo a mais de 3% de toda a população mundial. Até
o momento, identificaram-se 6 genótipos do vírus, além de múltiplos subtipos:
1a, 1b, 2a, 2b, 3, 4, 5 e 6. A determinação do genótipo relacionado a cada
indivíduo é importante por apresentar valor preditivo em termos de resposta à
terapia antiviral, com melhor resposta associada aos genótipos 2 e 3 do que ao
genótipo 1. A resposta imune celular parece desempenhar um papel crucial no
controle da hepatite C crônica. Durante a terapia combinada, as respostas
imunológicas celulares podem contribuir para o sucesso ou falha terapêutica. O
objetivo desse trabalho foi fazer a caracterização da resposta imune adaptativa
ao HCV de pacientes com hepatite C crônica, antes e durante o tratamento
com interferon alfa 2a e ribavirina. Foram estudados 14 pacientes com hepatite
C crônica atendidos na FMT-AM, no pré-tratamento, 4a, 12a e 24a semanas
após o início do tratamento. O genótipo e a carga viral foram determinados por
biologia molecular, o perfil celular foi analisado por citometria de fluxo e as
citocinas foram dosadas por ELISA. Os dados demonstraram que 78% dos
pacientes apresentavam genótipo 1, e 22%, o 3. Todos os pacientes
apresentaram diminuição dos níveis séricos de ALT na 4a semana após o
tratamento. Após o início do tratamento, foi observado leucopenia, que se
manteve até a 24a semana. Observou-se aumento de células TCD4+ na
semana 4, com diminuição na 12a e 24a semanas após o início do tratamento.
Esta diminuição também foi observada para LTCD8+ nas semanas 12 e 24.
Houve aumento crescente da IL-12 a partir da 4a semana, mantendo-se
elevada nas semanas 12 e 24. Não foram observadas diferenças estatísticas
significativas em relação a IL-4, IL-5, IL-8, IL-10 e IFN-γ. Observou-se aumento
significativo da expressão da molécula CD69 (marcador de ativação celular) em
linfócitos, na 4a semana, com diminuição na 12a, se mantendo-se baixa até a
semana 24. Houve diferenças significativas de CD69 em eosinófilos, neutrófilos
e em monócitos nas diferentes semanas. De acordo com os resultados
encontrados, sugere-se que o tratamento parece induzir a produção da IL-12,
que desempenha importante papel no direcionamento da resposta imune para
o perfil Th1, induzindo aumento de LTCD4+ no início do tratamento e ativação
celular. Não foi observado aumento de IFNγ, o que corrobora com a idéia da
diminuição de LTCD4+ e CD8+ após a 12a semana, sugerindo que esta citocina
seria importante para a manutenção deste perfil de resposta imune.
Palavras-chaves: Hepatite C, interferon, ribavirina, reposta imune, citocinas.
vii
ABSTRACT
Hepatitis C virus affects an estimated 200 million people worldwide, which
corresponds to 3% of the world population. Six virus genotypes, and several
subtypes, have been found so far: 1a, 1b, 2a, 2b, 3, 4, 5, and 6. Genotype
identification for each individual is important inasmuch as it is predictive as
regards responses to antiviral therapy. Genotypes 2 and 3 respond better than
genotype 1. Cellular immune response has been a crucial role in the control of
chronic C-hepatitis. Cellular immunological responses may contribute to the
success or failure of combined therapies. The objective of this study was a
molecular characterisation of HCV, while describing the immunological profile of
chronic C-hepatitis patients, before and during treatment with alpha 2A
interferon and ribavirin. The sample of the 14 patients from FMT-AM were
study before the beginning of treatment and on the 4th, 12th, and 24th weeks
after the treatment. It identifies genotype and viral load through molecular
biology, analyses cellular profile through flux cytometry, and measures
cytokines through ELISA. Collected data show that 78% of the patients had
genotype 1, while 22% had genotype 3. All patients underwent a reduction of
ALT concentration on the 4th week after beginning of treatment. There occurs a
remarkable decrease of the leuKocytes until the 24th week after beginning of
treatment. There is a remarkable growth of TCD4+ on the 4th week, with a
subsequent decrease on 12th and 24th weeks after treatment begins. A similar
LTCD8+ decrease takes place on 12th and 24th weeks. IL-12 gradually grows
from the 4th week onwards, keeping at high level on the 12th and 24th weeks.
There is no remarkable statistical difference regarding IL-4, IL-5, IL-8, IL-10,
and IFN-γ. There is a remarkable increase in CD69 expression (a cellular
activation marker) in lymphocytes on the 4th week, which in turn decreases on
the 12th, keeping at a low level until the 24th week. There are significant CD69
differences in eosinophils, neutrophils, and monocytes for several weeks. The
final results suggest that treatment seems to induce the production of IL-12,
which plays an important role in directing an immune response toward a Th1
profile, inducing an increase of LTCD4+ and cellular activation at the beginning
of treatment. Meanwhile there is no remarkable increase of IFN-γ, which
suggests that this would be an important cytokines for the maintenance of such
an immune response profile.
Keywords: C-hepatitis, interferon, ribavirin, immune response, cytokines.
viii
LISTA DE FIGURAS – TESE
Figura 1.
Fluxograma de inclusão de pacientes no estudo.................. 22
Figura 2.
Sequência de procedimentos utilizados para as análises
dos percentuais de populações celulares por citometria de
fluxo....................................................................................... 26
Figura 3.
Árvore filogenética de uma amostragem de indivíduos
portadores do HCV, com as sequências representadas
para os genótipos 1, 2 e 3.................................................... 36
ix
LISTA DE FIGURAS – ARTIGO III
Figura 1. Concentração de hemoglobina, hematócrito, percentual
leucócitos totais e concentração de ALT de pacientes com
hepatite C crônica, submetidos a tratamento com
interferon alfa 2a peguilado associado à ribavirina............
70
Figura 2. Percentual de linfócitos TCD3+/CD4+ (A) LTCD3+/CD8+
(B) no sangue periférico de pacientes com hepatite C
crônica, tratados com interferon alfa 2a peguilado
associado à ribavirina.........................................................
71
Figura 3. Análise da concentração das citocinas IL-12, IFN-У e IL10 e IL-8 no sangue periférico de pacientes com hepatite
C crônica tratados com interferon peguilado alfa 2a
associado à ribavirina..........................................................
73
Figura 4. Análise da concentração das citocinas IL-4, IL-5 e IL-8 no
sangue periférico de pacientes com hepatite C crônica
tratados com interferon peguilado alfa 2a associado à
ribavirina...............................................................................
74
Figura 5. Análise das citocinas IL-6 e TNF-α no sangue periférico
de pacientes com hepatite C crônica, tratados com
interferon peguilado alfa 2a associado à ribavirina............
75
Percentual de leucócitos ativados, marcados com CD69,
linfócitos CD69+ (A), eosinófilos CD69+ (B), monócitos
CD69+ (C) e neutrófilos CD69+ (D) no sangue periférico
de pacientes com hepatite C crônica, tratados com
interferon peguilado alfa 2a associado à ribavirina............
76
Figura 6.
x
LISTA DE QUADROS – TESE
Quadro 1.
Gradiente de temperatura no termociclador ..........................
29
Quadro 2.
Sequência de nucleotídeos dos iniciadores HC11 e HC18 ...
30
Quadro 3.
Programa utilizado no termociclador para a reação de
amplificação por PCR ............................................................ 30
Quadro 4.
Programa utilizado no termociclador Mastercycler Gradient
– Eppendorf para a primeira reação do Nested-PCR ............ 31
Quadro 5.
Sequência de nucleotídeos iniciadores P32, P36, P33 e P48
Quadro 6.
Programa utilizado no termociclador para a segunda reação
do Nested-PCR ...................................................................... 32
32
xi
LISTA DE TABELAS – ARTIGO II
Tabela 1.
Distribuição dos genótipos do Vírus da Hepatite C em
pacientes com Hepatite C crônica ....................................
52
xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEP
Comitê de Ética em Pesquisa
CD
Cluster Differentiation (Linhagem de Diferenciação Celular)
CNPq
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
DNA
Ácido Desoxirribonucléico
D0
Dia 0 da Pesquisa (antes do início do tratamento) – Base Line
EDTA
Etilenodiaminotetraacetato
(anticoagulante
para
coleta
de
sangue)
ELISA
Enzyme Linked Imunnesorbant Assay (Ensaio Imunoenzimático)
FAPEAM
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
FHEMOAM
Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas
FMTAM
Fundação de Medicina Tropical do Amazonas
FVS
Fundação de Vigilância em Saúde
HCV
Vírus da hepatite C
IL
Interleucina
IL 2 R
IL 2 Recombinante
IL 10 R
IL 10 Recombinante
INF
Interferon
NK
Célula Natural Killer
NKT
Célula Natural Killer T
PCR
Reação em Cadeia de Polimerase
RBV
Ribavirina
RNA
Acido Ribonucléico
RT-PCR
Reação em Cadeia de Polimerase por Transcriptase Reversa
RVP
Resposta virológica precoce
RVR
Resposta virológica rápida
RVS
Resposta virológica sustentada
TCLE
Termo de consentimento livre e esclarecido
TH1
Linfócito T Auxiliar do Tipo 1
TH2
Linfócito T Auxiliar do Tipo 2
TNF-ALFA
Fator de Necrose Tumoral Alfa
UEA
Universidade Estadual do Amazonas
xiii
SUMÁRIO
1
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
1.6.1
1.6.2
1.6.3
1.6.4
1.6.5
1.6.6
1.7
INTRODUÇÃO....................................................................................
O vírus da hepatite C..........................................................................
Impacto e epidemiologia da infecção pelo HCV.................................
História natural e quadro clínico da hepatite C...................................
Diagnóstico laboratorial da infecção pelo HCV..................................
Manejo clínico da hepatite C...............................................................
Imunidade ao HCV e suas implicações terapêuticas........................
Interação vírus-hospedeiro..................................................................
Resposta imune celular.......................................................................
Resposta imune humoral. Citocinas e regulação da reposta imune
Evasão à resposta imune....................................................................
Dano tecidual e apoptose....................................................................
Perfil imunológico do hospedeiro e resposta terapêutica.................
Perspectivas atuais de pesquisa sobre o HCV...................................
1
1
2
4
5
6
9
9
10
12
14
15
16
18
2
2.1
2.2
OBJETIVOS........................................................................................
Geral...................................................................................................
Específicos..........................................................................................
20
20
20
3
3.1
3.2
3.3
3.4
3.5
3.6
3.7
3.8
3.8.1
3.8.2
3.8.3
3.8.4
3.8.5
3.9
3.9.1
3.9.2
3.9.3
3.9.4
3.9.5
3.9.6
3.9.7
3.9.8
3.9.9
3.9.10
3.10
3.11
3.12
MATERIAL E MÉTODOS...................................................................
Modelo do estudo................................................................................
Descrição da área do estudo..............................................................
População de estudo e amostragem..................................................
Critérios de inclusão e exclusão.........................................................
Esquema terapêutico..........................................................................
Seguimento do estudo........................................................................
Avaliação clínica.................................................................................
Avaliação laboratorial..........................................................................
Procedimento para coleta de sangue periférico.................................
Perfil hematológico de sangue periférico............................................
Perfil bioquímico de sangue periférico................................................
Análise celular em sangue periférico por citometria de fluxo..........
Perfil imunológico de citocinas no sangue periférico.......................
Técnicas moleculares do HCV............................................................
Extração do RNA do plasma...............................................................
Síntese de DNA complementar (cDNA)..............................................
Reação em cadeia de polimerase (PCR)............................................
Nested PCR........................................................................................
Purificação dos produtos amplificados...............................................
Semi-quantificação dos produtos purificados....................................
Reação de sequenciamento e purificação do produto
Sequenciamento.................................................................................
Análise das sequências.......................................................................
Determinação da carga viral...............................................................
Ultrasonografia....................................................................................
Biópsia hepática..................................................................................
Metodologia estatística........................................................................
21
21
21
21
22
23
23
24
24
24
25
25
25
27
28
28
29
29
31
33
34
34
35
35
36
37
37
38
xiv
3.13
Aspectos éticos...................................................................................
38
4
4.1
RESULTADOS....................................................................................
Artigo 1 : Resposta virológica sustentada em paciente com
co-infecção pelos genótipos 1 e 2 do vírus da hepatite C, com
apenas nove semanas de terapêutica antiviral: Relato de caso ........
Artigo 2: Genótipos do vírus da hepatite C em pacientes com
hepatite C crônica, Manaus, Brasil......................................................
Artigo 3: Perfil imunológico celular e humoral de pacientes com
hepatite C crônica tratados com interferon alfa e ribavirina...............
39
5
DISCUSSÃO......................................................................................
87
6
CONCLUSÕES...................................................................................
95
6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................
96
7
ANEXOS.............................................................................................. 102
4.2
4.3
40
48
58
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 O vírus da Hepatite C
O vírus da hepatite C (HCV) é uma das principais causas conhecidas de
doença hepática crônica em todo o mundo. A prevalência da infecção pelo
HCV é estimada em torno de 3% de toda a população mundial, ou seja,
aproximadamente 170 a 210 milhões de pessoas em todo o mundo 1.
O HCV foi identificado por Choo e colaboradores em 1989, na Chiron
Corporation, na Califórnia, ao investigarem a etiologia da hepatite “não-A, nãoB”. Aqueles autores conseguiram clonar o genoma viral do HCV, isolando ácido
desoxirribonucléico (DNA) complementar a partir de soro humano que continha
uma fita positiva de ácido ribonucléico (RNA). As pesquisas de tratamentos
para a hepatite C aumentaram quando, em 1989, este vírus foi isolado e
identificado como o principal responsável pelas hepatites pós-transfusionais
“não-A não-B” 2.
O HCV é o único representante do gênero Hepacivirus, incluído na
família Flaviviridae. É um pequeno vírus com cerca de 30 a 60 nm de diâmetro
e apresenta um genoma de RNA linear com hélice única e positiva, cuja
organização assemelha-se a de outros flavivírus, como o vírus da dengue 3.
Seu genoma contém 9400 nucleotídeos, possuindo uma única fase de
leitura aberta (open reading frame), que codifica uma poliproteína de pouco
mais de 3000 aminoácidos, contendo uma região estrutural e uma nãoestrutural. Estas regiões são clivadas por proteases, liberando as proteínas
estruturais e não estruturais do vírus 4.
A região estrutural localiza-se na porção aminoterminal, codificando a
proteína core do nucleocapsídeo viral (proteína C, com cerca de 19 kD) e as
glicoproteínas E1 (gp33) e E2 (gp72), constituintes do envelope viral. Esta
região do genoma representa a sequência mais altamente conservada,
sugerindo um papel regulador durante a replicação viral [3]. As proteínas não
2
estruturais NS2, NS3, NS4A, NSB, NS5A e NS5B representam a extremidade
carboxiterminal do genoma viral 5.
Identificaram-se 6 genótipos de HCV, distintos mas relacionados, além
de múltiplos subtipos, por meio de correlações moleculares: 1a, 1b, 2a, 2b, 3,
4, 5 e 6. A determinação do genótipo relacionado a cada indivíduo é importante
por apresentar valor preditivo em termos de resposta à terapia antiviral, com
melhor resposta associada aos genótipos 2 e 3 do que ao genótipo 1 4.
Como ocorre com todos os RNA-vírus, falta à polimerase do HCV, uma
função de leitura de prova (proof-reading function). Isto permite que, no curso
de infecção persistente, a replicação viral propensa a erros gere um repertório
de variantes virais altamente relacionadas, mas geneticamente distintas, ou
quasispécies. Esta variabilidade genética concede ao HCV um notável
potencial adaptativo, tendo sido implicado com a evasão e controle da resposta
do hospedeiro à infecção e a uma sensibilidade diferencial à terapia com
Interferon 6.
1.2 Impacto e epidemiologia da infecção pelo HCV
A hepatite C é considerada um grave problema de saúde pública pela
alta incidência na população e por sua evolução silenciosa para doença crônica
que compromete a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes 7.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estima-se que
170 milhões de pessoas em todo o mundo estejam infectadas pelo HCV8.
Dados mais recentes sugerem que o HCV seja responsável pela infecção de
cerca de 200 milhões de pessoas em todo o mundo afetando indivíduos de
ambos os sexos e de todas as idades e etnias 9.
A infecção pelo HCV causa em torno de 100.000 casos anuais de câncer
hepático e índice semelhante de hemorragias digestivas altas
10
, causando,
também, grande impacto e significante mortalidade e constituindo a causa mais
comum de transplante hepático em adultos 11, 12.
3
Dados de triagem sorológica da Fundação de Hematologia e
Hemoterapia do Amazonas (HEMOAM) revelam que 0,32% dos doadores
apresentam soropositividade para o HCV. No entanto, constitui sub-estimativa,
ao desconsiderar populações de risco, as quais devem ser descartadas na
triagem clínica antes da doação como encarcerados e outros indivíduos
institucionalizados, usuários de drogas injetáveis e etc 13.
A transmissão do HCV se dá essencialmente por via sanguínea,
constituindo
fatores
de
risco
o
uso
de
drogas
ilícitas
injetáveis,
hemotransfusões e lesões cutâneas em profissionais de saúde14. Devido à
transmissão predominantemente parenteral, os grupos que apresentam maior
prevalência da infecção são os que estiveram expostos a transfusões de
sangue ou hemoderivados ou a transplantes de órgãos ou tecidos antes de
1992, quando o teste para a pesquisa do anti-HCV passou a ser rotina nos
bancos de sangue. Considerando relatos de maior prevalência, o risco parece
ser ainda maior em hemofílicos, usuários de drogas injetáveis, portadores do
vírus da imunodeficiência humana (HIV), portadores de doença renal crônica
submetidos à hemodiálise, indivíduos com vida sexual promíscua e indivíduos
expostos a outras potenciais fontes de contaminação parenteral, como
tatuagens, acupuntura ou piercings 4, 14.
Na cidade de Manaus, em um estudo do perfil epidemiológico de 231
pacientes com hepatite C, Araújo e cols, 2007 demonstraram que houve
predominância absoluta das formas crônicas e que os principais fatores de
risco associados à ocorrência de hepatite C foram transfusão sanguínea e
história de cirurgia prévia 15.
A medida preventiva que mais efetivamente diminuiu o risco de
transmissão do HCV em larga escala foi a triagem sorológica para o HCV nos
hemoderivados, a partir de sua utilização rotineira pelos bancos de sangue na
maioria dos países do mundo no início da década de 1990 4. Esta medida
permitiu reduzir drasticamente o risco de transmissão associada aos
hemocomponentes, sendo estimada em quase 50% menor que para o vírus da
hepatite B (HBV) e 5 vezes maior que para o HIV. A inativação de produtos
4
sanguíneos e o uso sistemático de seringas e agulhas descartáveis também
são medidas eficazes de prevenção
12
. Não há vacina disponível para o HCV
até o momento 16.
Uma
das
características
mais
importantes
do
HCV
é
a
sua
heterogeneidade genética. De acordo com o sistema de classificação de
Simmonds (1993), um total de seis genótipos são reconhecidos e denominados
de 1 a 6, e os seus correspondentes subtipos designados por letras (1a, 1b, 1c,
2a, 2b, 2c, 3a, 3b, 4a, 5a, 6a). Os diferentes genótipos estão associados a
alguns aspectos relativos à infecção, como distribuição geográfica, patogenia e
resposta ao tratamento com INF 17.
No Brasil, o genótipo 1b ocorre com maior frequência na população de
doadores de sangue, sendo também encontrados em outros grupos os
subtipos 1a, 2a, 2b e 3 [13]. Recentemente, foram detectados os subtipos 4 e 5
no Brasil 18.
1.3 História natural e quadro clínico da hepatite C
Na grande maioria das vezes a doença apresenta-se de forma
assintomática, oligossintomática ou associada a sintomas inespecíficos, sendo
portanto difícil avaliar a história natural da hepatite C bem como definir o
diagnóstico na fase aguda ou no início da infecção crônica. Geralmente o
diagnóstico é acidental, ocorrendo, algumas vezes, durante triagem sorológica
para doação de sangue e exames médicos de rotina ou, ainda, durante as
recentes campanhas de detecção da hepatite C
17
. Mesmo quando presentes,
os sintomas podem ser os mesmos da hepatite aguda com dor abdominal,
febre, icterícia, mal-estar, náuseas e vômitos ou apresentar-se de forma leve e
inespecífica com fadiga, náuseas, anorexia, mialgia e artralgias 4,17.
Aproximadamente 80 a 90% dos indivíduos agudamente infectados pelo
HCV desenvolvem persistência viral e, consequentemente têm maior risco de
desenvolver cirrose hepática e carcinoma hepatocelular enquanto uma
pequena porção dos pacientes (10 a 20%) elimina o vírus
6, 18
. Acredita-se que
5
a capacidade de resolver a infecção aguda é determinada pela competência
das respostas inata e adaptativa do hospedeiro e que seria necessária uma
vigorosa e sustentada resposta imune para exercer este controle eficazmente
19
.
Uma vez estabelecida a infecção crônica, a possibilidade de ocorrer
eliminação viral espontaneamente é remota. Cerca de 50 a 85% dos casos de
infecção pelo HCV evoluem para a infecção crônica
20
, desencadeando, a
longo prazo, complicações como a fibrose hepática, cirrose e o carcinoma
hepatocelular 1, 4. Estima-se, ainda, que 20% dos pacientes portadores crônicos
de HCV desenvolverão cirrose hepática após 20 anos de doença, elevando o
risco de desenvolver carcinoma hepatocelular9. A velocidade com que a
doença progride é variável e está relacionada a fatores que interferem na
progressão da fibrose hepática, como a idade mais avançada ao contrair o
HCV, o consumo de álcool e as co-infecções com outros vírus, como o HIV e o
HBV 21.
Além da doença hepática, há importantes manifestações extra-hepáticas
da infecção pelo HCV, sendo a maioria destas síndromes associadas a estados
autoimunes
ou
linfoproliferativos,
provavelmente
em
consequência
da
replicação do HCV em células linfóides 4. A principal delas é a crioglobulinemia
mista (90% dos pacientes são HCV RNA positivos); nos casos sintomáticos
e/ou associados à glomerulopatia membranoproliferativa ou linfomas nãoHodgkin está indicado o tratamento da infecção pelo HCV, mesmo que não
exista doença hepática significativa. Nesses casos a supressão da viremia
frequentemente vem acompanhada de melhora do quadro extra-hepático
21
.
Outras doenças associadas ao HCV são o líquen plano e a porfiria cutânea 14.
1.4 Diagnóstico laboratorial da infecção pelo HCV
A detecção do HCV é de crucial importância para o controle da doença
em nível global, sendo que mesmo em países desenvolvidos, o número de
mortes tende a continuar aumentando devido à inadequada detecção, o que
posterga o tratamento 10.
6
Esta detecção é baseada em dois tipos de testes: os ensaios sorológicos
para detecção de anticorpos específicos e os testes moleculares para detecção
de partículas virais. Especificamente em relação aos testes moleculares, a
determinação da carga viral permite avaliar a evolução da resposta terapêutica,
enquanto a genotipagem prediz a resposta e influencia no regime de
tratamento escolhido 4.
A avaliação virológica do HCV depende de uma série de ensaios que
são essenciais para o diagnóstico e para a conduta terapêutica, sendo esses
ensaios classificados em 3 grupos: ensaios dirigidos à detecção de anticorpos
específicos contra o HCV; técnicas que detectam e quantificam a carga viral; e
testes que determinam o tipo de HCV infectante. O teste de detecção do HCVRNA seria particularmente útil naqueles pacientes que apresentam sorologia
negativa para o HCV - anti-HCV negativo 22.
Por sua vez, Pawlotsky, 2003, ao analisar a utilidade dos 4 marcadores
biológicos para o HCV: anticorpos anti-HCV, HCV-RNA, HCV antígeno core e
genótipo do HCV, ressalta que a hepatite C, tanto aguda quanto crônica, é
diagnosticada pelo ensaio imunoenzimático ou enzyme-linked immunosorbant
assay (ELISA Anti-HCV) e pelo HCV-RNA, com sensível técnica de biologia
molecular
23
. Além disso, o autor defende a utilização de ferramentas como a
determinação do genótipo e a quantificação do HCV-RNA, especialmente para
guiar a escolha terapêutica individual e para monitorar a resposta à terapia 23.
1.5 Manejo clínico
O HCV é notadamente bem sucedido, produzindo uma infecção
persistente que continuará por toda a vida do indivíduo, com vastas
oportunidades de transmissão dentro da população humana, a menos que
interrompida por uma terapia baseada no interferon 6.
Basicamente, o tratamento da hepatite C visa deter a progressão da
doença hepática pela inibição da replicação viral
24
. Apesar do vírus
permanecer latente em algumas células do organismo, é possível erradicá-lo
7
do sangue e do tecido hepático com as medicações disponíveis. A eficácia,
entretanto, ainda é reduzida em muitos pacientes e o tratamento é de elevado
custo, pouco específico e de difícil adesão 25.
O protocolo terapêutico preconizado atualmente pelo Ministério da
Saúde do Brasil que vai ao encontro das recomendações dos protocolos
americano (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 2002) e europeu (EASL,
1999), inclui a administração de interferon alfa em associação com o antiviral
ribavirina, que potencializa o efeito do primeiro 26.
A monoterapia com interferon alfa foi a primeira alternativa terapêutica,
aprovada em 1990. Contudo, associa-se a baixas taxas de resposta inicial
(cerca de 40%) com taxa de resposta sustentada de menos de metade deste
índice, principalmente em portadores de HCV genótipo 1a ou 1b, os mais
prevalentes no ocidente e associados às piores taxas de resposta 4.
A taxa de resposta virológica sustentada relaciona-se com a ausência de
RNA viral após 6 meses de tratamento e com a regressão da fibrose
27
e
oscilam na literatura mundial entre 33% e 37%. A falha do tratamento com IFN
em erradicar a infecção é multifatorial, enquanto o sucesso terapêutico é
determinado principalmente pela eliminação de células infectadas
20
. Segundo
estudo de Kontouras, 2003, o efeito antiviral também poderia ser alcançado por
meio da indução de apoptose 28.
O interferon em formulação peguilada (peginterferon), associado à
molécula de polietilenoglicol, que o torna mais pesado, dando-lhe meia-vida
mais longa,
pode
ser administrado em esquema terapêutico que inclui a
ribavirina, e apresenta maior eficácia em várias situações clínicas
29
, podendo
gerar resposta terapêutica sustentada em torno de 50% dos pacientes 10, 30, 31.
Tem sido sistematicamente descrita uma correlação entre o genótipo
viral e a resposta terapêutica. Em 2003, Hugle e Cerny relataram que, para os
genótipos 2 e 3, o IFN-peguilado, em combinação com a ribavirina, é eficaz em
80% dos casos 32.
8
Para os genótipos 2 e 3, em um ensaio clínico conduzido por Mangia et
cols., 2005 demonstraram que um curso menor de 12 semanas de
peginterferon e ribavirina seria tão eficaz quanto um esquema de 24 semanas.
Estes dados evidenciam que o tratamento pode ser mais ou menos eficaz de
acordo com o genótipo viral encontrado, sendo a resposta clínica melhor com
os genótipos 2 e 3 quando comparada ao genótipo 133.
Ainda em relação ao tratamento, é importante o acompanhamento da
cinética viral pela reação em cadeia de polimerase por transcriptase reversa
(RT-PCR). Pode-se fazer a confirmação da persistência do vírus pelo teste de
PCR qualitativo e determinar a carga viral apresentada pelo paciente. O
monitoramento destes dados influencia decisivamente na condução do
tratamento de indivíduos com hepatite C crônica
resposta ao tratamento
34, 35
e pode predizer a
10
.
Os efeitos colaterais relacionados ao interferon, considerados muito
comuns, com frequência acima de 30%, são: síndrome “influenza-like”,
cefaléia, fadiga, febre, mialgia, trombocitopenia e indução de anticorpos; os
efeitos comuns, com frequência entre 1% e 30%, são anorexia, eritema no local
da aplicação, insônia, alopécia, dificuldade de concentração, irritabilidade,
labilidade emocional, depressão, diarréia, indução de doença autoimune,
leucopenia e alteração de paladar. Os efeitos colaterais considerados raros,
com freqüência abaixo de 1%, são polineuropatia, paranóia, ideação suicida,
diabetes, retinopatia, neurite óptica e alteração da audição. Quanto aos efeitos
colaterais relacionados à ribavirina temos comumente: hemólise, anemia,
náuseas, congestão nasal e prurido e, mais raramente, a gota 4.
Em relação à terapêutica complementar ou adjuvante, o uso de fatores
de crescimento hematopoiético poderia reverter alguns dos efeitos adversos
das drogas incluídas no protocolo de tratamento e melhorar a qualidade de vida
dos pacientes36. A administração de ácidos biliares foi relacionada à
significante melhora das concentrações séricas de transaminases na hepatite
C, mas não há evidência suficiente de efeito nos marcadores virais, na
mortalidade, na histologia hepática ou na incidência de cirrose 37.
9
1.6 Imunidade ao HCV e suas implicações etiopatogênicas e terapêuticas
1.6.1 Interação vírus-hospedeiro
O HCV é um vírus hepatotrópico, mas não diretamente citopático, que
suscita resposta inflamatória que produz lesões hepáticas progressivas, e
resultando,
finalmente,
efetivamente erradicado
em
doença
hepática
terminal,
a
menos
que
19, 38
.
A interação entre o hospedeiro e a hepatite C resulta na eliminação do
vírus ou no estabelecimento da infecção crônica 39.
mamíferos
por
vírus
rapidamente
desencadeia
A infecção de células de
eventos
sinalizadores
intracelulares que levam à produção de IFN alfa e beta, bem como a um estado
celular antiviral que propicia uma barreira inicial à replicação e à disseminação
viral. Contudo, o HCV evade a resposta imune por uma complexa combinação
de interferência na sinalização celular do hospedeiro, na modulação de funções
imunológicas efetoras e na variação genética contínua. Estas estratégias
permitem a persistência viral no ser humano mesmo em pacientes
imunocompetentes
6, 40
. Assim, a interação vírus-hospedeiro pode determinar a
persistência viral, a extensão e a gravidade da inflamação hepática e,
possivelmente, a hepato-carcinogênese 28.
Tanto as respostas imunológicas celulares como humorais participam na
defesa do hospedeiro contra a infecção pelo HCV, mas há crescente
reconhecimento
do
papel
da
resposta
celular
e
das
citocinas
na
imunopatogênese da hepatite C crônica. Esta resposta celular depende da
atividade de linfócitos T citotóxicos e auxiliares (helper) pela ação de citocinas
reguladoras de macrófagos, célullas natural killer (NK) e proteínas celulares
antivirais 41.
A infecção crônica é induzida pelo HCV em 50 a 80% dos indivíduos
infectados, sendo que a ineficiência do sistema imunológico em eliminar o vírus
não é bem compreendida, já que o vírus induz resposta imune celular e
humoral
42
. Então, o desfecho da infecção pelo HCV é determinado pela
10
interação entre o vírus e o sistema imunológico do hospedeiro, que responde
com mecanismos efetores celulares, humorais e com citocinas, sendo que, na
maioria das vezes, esses mecanismos são insuficientes para erradicar a
infecção 43.
Embora os fatores relacionados à eliminação viral espontânea ou o
desenvolvimento de infecção persistente ainda não estejam bem definidos, um
crescente número de estudos de associação genética tem revelado o impacto
dos genes relacionados à imunidade na suscetibilidade da evolução da
infecção pelo HCV 44.
O HCV, como muitos outros vírus, vem desenvolvendo maneiras de
subverter tanto a resposta imune inata quanto a resposta imune adaptativa do
hospedeiro, para estabelecer a persistência da infecção. O sistema imune
primeiramente tenta erradicar o vírus, entretanto, quando ocorre a infecção
crônica, provavelmente promove dano hepatocitário e fibrose pela toxicidade
celular direta e da relação com citocinas inflamatórias
45
. Diversos tipos de
linfócitos citotóxicos, envolvidos no microambiente imune hepático, parecem
estar na patogênese do dano hepático induzido pelo HCV. O dano hepático da
infecção pelo HCV depende do balanço entre os mecanismos antivirais do
hospedeiro e a “habilidade” do vírus de evadi-los 45.
1.6.2 Resposta imune celular
A resposta imune na infecção pelo HCV pode desempenhar um
importante papel nos vários estágios da infecção: existem evidências de que,
durante a infecção aguda, a resposta imune celular tem um importante papel
no controle da replicação viral nos pacientes que subsequentemente controlam
a infecção
16
. A literatura é unânime em considerar como muito importante o
papel desempenhado pelos linfócitos T no controle e no clareamento HCV 40, 46,
47, 19
.
A erradicação espontânea do HCV durante a fase aguda da infecção
requer uma resposta CD4+ e CD8+ contra múltiplos epitopos virais. Pacientes
11
que falham em desenvolver resposta vírus-específica ou aqueles que
respondem mais tardiamente podem tornar-se cronicamente infectados pelo
HCV 48,49.
Uma vez estabelecida a infecção crônica, a resposta de células T
específica é quantitativamente fraca, provendo apenas mínima pressão seletiva
para mais mutações de escape
40, 50
. Sun et cols., 2004 referem que cada uma
daquelas células T deve ter um papel específico
no processo, e que o
interferon gama intra-hepático, produzido por estas células, é importante para a
ação antiviral daquelas células. Eles relatam que os interferons, alfa e beta,
sozinhos, sem desencadear uma resposta celular T específica contra o HCV,
podem não levar a uma resposta viral sustentada in vivo 51.
Quanto ao papel de outras células na imunidade ao HCV, o sinergismo
entre linfócitos T, células natural killer (NK) e células NKT (outro tipo de NK) é
importante para a resolução da doença; possivelmente, a eliminação viral e o
dano tecidual são causados por diferentes mecanismos efetores celulares
Takehara & Hayashi, 2005
52
51
.
referem que as células NK provêem ao
hospedeiro uma primeira linha de defesa por sua habilidade de eliminar células
transformadas e células infectadas por patógenos, sendo geralmente ativados
numa fase precoce da infecção viral 53.
O fígado é particularmente rico em células NK, que são ativadas por
vírus hepatotrópicos como o HCV, desempenhando um papel crucial no
recrutamento de células T HCV-específicas e na indução da atividade antiviral
específica. Estas células podem eliminar hepatócitos infectados diretamente
por citólise ou indiretamente pela secreção de citocinas, que induzem um
estado antiviral nas células do hospedeiro. Assim, elas seriam importantes para
limitar a replicação viral naquele órgão, ainda que também pudessem contribuir
para o dano tecidual hepático durante a resposta imunológica 53.
Vale ainda ressaltar que, recentemente, tem-se demonstrado que o HCV
não somente infecta hepatócitos como também as próprias células do sistema
12
imune, linfócitos B e T, cujo resultado é a disfunção da resposta imune àquele
vírus 54.
1.6.3 Resposta imune humoral. Citocinas e a regulação da resposta imune
A produção de anticorpos é fundamental para a neutralização de
partículas virais livres e para impedir a entrada do vírus nas células do
hospedeiro. Por outro lado, apesar da existência de anticorpos neutralizantes,
como aqueles que atuam contra a região E2 HVR, a resposta humoral é muito
ineficiente, talvez pela rápida seleção de variantes de escape ou porque estes
anticorpos falhem em induzir eliminação viral 40.
Há evidência de que uma vigorosa resposta imune tipo 1 contra as
proteínas virais torna-se necessária para a eliminação viral e que o
recrutamento de tais efetores celulares para o fígado depende da atividade
local de quimiocinas especificamente induzidas. Múltiplos fatores determinam a
capacidade do HCV de sobreviver à resposta imune do hospedeiro, incluindo a
habilidade de alterar o perfil de citocinas secretadas pelas células T e o poder
de causar resistência aos efeitos de citocinas antivirais como o interferon 11.
As citocinas produzidas no fígado são essenciais para defender o
hospedeiro contra a infecção pelo HCV, mas elas também têm sido implicadas
na lesão hepatocelular vista na maioria dos pacientes infectados cronicamente.
Além disso, a infecção persistente perturba o equilíbrio entre citocinas
imunoestimulatórias e inibitórias, o que pode prolongar a inflamação e levar a
necrose, fibrose e doença hepática crônica 41,55.
Alterações no balanço das citocinas da resposta Th1 como as
interleucinas (IL-2, IL-12 e IL-18), citocinas pró-inflamatórias como as
interleucinas (IL-1 e IL-6), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e citocinas da
resposta Th2 (IL-4) e regulatória como a IL-10 no tecido hepático e no sangue
periférico, podem contribuir para a persistência viral e lesão hepática crônica 56.
13
Citocinas imunorregulatórias desempenham um papel crucial na
resposta do hospedeiro ao HCV. Enquanto as citocinas Th1 são necessárias
para a resposta imune antiviral, citocinas Th2 podem inibir o desenvolvimento
desses mecanismos efetores. Em seu estudo com 30 pacientes e 25 controles
negativos, Abayali et cols., 2003 observaram que as concentraçoes de IL4
(Th2) e IL10 (regulatória), mas não IFN-У (Th1), estavam significativamente
elevados em pacientes com hepatite C crônica quando comparados aos
controles
57
. Um estudo de Torre et cols., 2004 descreve um papel central da
IL10 ao orquestrar a resposta imune antiviral, sendo que seu declínio precoce
pode favorecer uma mudança de reposta imune tipo Th2 para Th1, levando a
uma resposta terapêutica sustentada 58.
O TNF-α, citocina pró-inflamatória, é secretado pelos macrófagos e
pelos linfócitos Th1, enquanto a IL-4 é secretada pelas células Th2 e descritas
como citocina anti-inflamatória. O equilíbrio entre a imunidade Th1 e Th2 pode
ser um fator determinante em muitas infecções virais ou não virais. Estudos
prévios in vitro demonstraram que as concentrações de proteínas e mRNA de
várias citocinas, incluindo as de resposta Th1 e Th2, de pacientes com hepatite
C crônica eram significativamente mais altos que os controles. Estudos in vivo
também
demonstraram
que
as
concentrações
séricas
de
citocinas
especialmente as Th2, de pacientes com hepatite C crônica estavam
significativamente aumentadas 44.
As células T regulatórias antígeno-específicas, que secretam interleucina
10 (IL-10), contribuem para a persistência viral, e as células mononucleares de
pacientes com infecção crônica pelo HCV, secretam IL-10, mas não IFN-У em
resposta às proteínas não estruturais do vírus
59
. Por outro lado, a resposta
celular também predominantemente tipo 1 (Th1) exerce papel central no
controle da replicação viral 60, 46.
Uma nova família de citocinas relacionadas ao IFN tem sido descrita e
designada como IL-29, IL-28A, IL-28B. Estas citocinas induzem a expressão de
genes normalmente ativados pelo IFNα/β. Similar ao IFNα/β, a expressão da
IL-29 é induzida pelos receptores Toll-like, que sinalizam a infecção viral, e é
14
altamente produzida pelas células dendríticas. Além disso a IL-29 possui
atividade antiviral e inibe a replicação de vários vírus como o do herpessimples, o vírus da encefalomiocardite, o HBV e o HCV 61.
1.6.4 Evasão à resposta imune
O HCV, como muitos outros vírus, vem desenvolvendo métodos de
subverter a resposta imune inata e adaptativa do hospedeiro à infecção
45
.O
sucesso da infecção pelo HCV está ligado à sua habilidade de evadir e
antagonizar as respostas do sistema imune, além de resistir às ações antivirais
da terapia baseada em interferon 6.
O HCV evade o sistema imune por várias estratégias, por exemplo, a
serina-protease NS3/4A, que bloqueia um fator de transcrição chave para
iniciar a resposta celular ao interferon 51.
Numa fase precoce da infecção aguda, o HCV continua a se replicar no
fígado, sugerindo uma capacidade do vírus de inibir a resposta imune inata.
Por outro lado, uma vez que se desenvolva a persistência, o vírus utiliza-se de
múltiplas estratégias para subverter os vários efetores do sistema imune do
hospedeiro 19.
Vários mecanismos podem explicar a falha imunológica como a variação
viral por geração de escapes mutantes que levam à persistência viral. Estudos
da proteína E2 marcada por anticorpos também demonstraram evidências de
seleção imunológica na infecção aguda
45
. A atenuação ou modulação de
células T evidenciada, em modelos murinos, onde a alta carga viral leva a um
processo de exaustão clonal. Esse processo pode ser acelerado na ausência
funcional de células TCD4+, anticorpos neutralizantes ou citocinas como o IFNУ. Pode ocorrer, antes, uma perda transitória da capacidade de secretar IFN-У.
Existem,
ainda,
evidências
importantes
do
papel
apresentação do antígeno e na indução da tolerância 45.
do
hepatócito
na
15
Dados de Brady et cols., 2003 sugerem que o HCV subverte o sistema
imune ao induzir a produção de IL10 e inibir a de IL12 pelos monócitos, o que
por sua vez inibe a ativação de células dendríticas que levam à diferenciação
de células Th1
59
. Estes dados corroboram o achado de Sarih et cols., 2000
que indicam que a produção diminuída tanto de IL12 quanto de interferon gama
pode contribuir para a persistência viral 62.
Dados sugerem que existe uma desregulação da população de células
TCD4+ no sangue periférico com a produção inapropriada de citocinas aos
antígenos virais contribuindo para a persistência viral e para a doença crônica.
Entretanto, os resultados de diferentes estudos são conflitantes no que diz
respeito ao predomínio de citocinas de resposta Th1 ou Th2 que resulta na
inabilidade do hospedeiro de resolver a infecção pelo HCV 50.
1.6.5 Dano tecidual e apoptose
O dano celular e a patogênese no fígado causado pela infecção crônica
não estão totalmente esclarecidos
60
. Depois de estabelecida a infecção
crônica pelo HCV, linfócitos citotóxicos podem exercer algum controle sobre a
infecção viral. Entretanto, estes mesmos efetores são responsáveis pelo dano
hepático progressivo, característico da hepatite C crônica
63
. Leroy et al., 2003
encontraram forte evidência do papel de células TCD8+ como efetoras de dano
hepático e de sua incapacidade de controlar a replicação viral 60.
A apoptose é um processo que parece contribuir como mecanismo de
defesa contra infecções virais e tumorigênese. A modulação da apoptose pode
envolver a ligação da proteína core do HCV com porções transdutoras de
sinais intracelulares dos receptores apoptóticos e desarranjo de moléculas de
sinalização. A apoptose pode, ainda ocorrer na ausência de elevação
significante de transaminases, explicando assim a ausência de correlação entre
atividade bioquímica e lesão hepatocelular. Além disso, o efeito antiviral do
interferon poderia se dar pela indução da apoptose. Contudo, há evidência de
que a apoptose representa mais um mecanismo para a proliferação viral do
que para proteção 28.
16
O HCV exibe atividade tanto proapoptótica quanto antiapoptótica
7, 28
.
Enquanto a indução da apoptose pode contribuir criticamente para o dano
hepático, a inibição deste processo pode resultar em persistência viral e no
desenvolvimento de carcinoma hepatocelular 7.
Kanto & Hayashi, 2006 observaram que células TCD8+ HCV-específicas
são elementos importantes para a eliminação viral ao induzir apoptose do
hepatócito, no qual o antígeno fas/CD95 estaria envolvido 19.
1.6.6 Perfil imunológico do hospedeiro e resposta terapêutica
Na fase crônica da infecção, a resposta imune potencialmente determina
a taxa de progressão da doença tanto na limitação da replicação viral como por
contribuir com a imunopatologia. Finalmente, durante a terapia combinada, a
resposta imune celular pode contribuir para o sucesso ou para o fracasso do
tratamento
16
. A restauração da concentração de citocinas também poderia
contribuir para alcançar resultados terapêuticos na hepatite C crônica 64.
O tratamento atual baseia-se na utilização do interferon peguilado
associado à ribavirina em regimes individualizados na dose e duração,
constituindo a abordagem de terapia guiada pela resposta (response guided
therapy - RGT). O objetivo da terapia atual é a não detecção persistente do
HCV seis meses após o término do tratamento, com a definição da Resposta
Virológica Sustentada (RVS). Quando, durante a terapia, não ocorre a
negativação ou ocorre recidiva após a não detecção ou término da terapia
caracterizam-se os insucessos: a não resposta (NR) e a recidiva (REL),
respectivamente. A não detecção do HCV na quarta semana da terapia
constitui a Resposta Virológica Rápida (RVR), enquanto a não-detecção na 12ª
semana da terapia constitui a Resposta Virológica Precoce completa (RVPc),
sendo a redução em 2logs a Resposta Virológica Precoce parcial (RVPp) 65.
Os fatores associados com a não-resposta ao tratamento são o genótipo
viral, a carga viral, idade, sexo, grau de fibrose hepática e cirrose. Os fatores
metabólicos também podem interferir na resposta ao tratamento. Pacientes
17
infectados com genótipo 3 e com esteatose apresentaram pior resposta ao
tratamento quando comparados a pacientes sem esteatose. Estes achados
corroboram a afirmação de que o diabetes, a obesidade e a resistência à
insulina são descritos como fortes co-fatores relacionados à doença crônica do
fígado pelo HCV, e que podem ser indicadores de não-resposta ao tratamento.
Finalmente, recentes estudos relacionaram a resposta ao tratamento antiviral a
uma variedade de genes, em particular à super expressão do gene sinalizador
de supressão de citocina 3 (SOCS3) no tecido hepático associado a uma pobre
resposta ao tratamento 66.
Pacientes respondedores à terapia padrão demonstram concentrações
aumentadas de IFN-У e IL10 quando comparados a pacientes nãorespondedores. Além disso, o equilíbrio entre a resposta Th1 e Th2 parece
representar um evento chave na evolução da infecção pelo HCV e pode
representar um dos principais efeitos da terapia com interferon e ribavirina 67.
Em um estudo de Jia et cols., 2003, observou-se que as concentrações
de citocinas IL18, IL10 e IL2R (recombinante) solúvel foram mais elevadas em
portadores de hepatite C crônica que em pessoas saudáveis e portadores
assintomáticos e concluiu-se que as duas últimas são importantes preditores
da resposta à terapia baseada em interferon 68.
Bozkaya et cols., 2000, avaliando 37 pacientes que receberam interferon
por 6 meses (18 respondedores e 19 não respondedores), concluíram que não
há alteração constante e regular das concentrações de citocinas com o uso do
interferon em relação à resposta terapêutica 69.
Vrolijk et cols. analisaram 17 pacientes cronicamente infectados com
HCV e tratados com IFN e ribavirina por 26 semanas e observaram que o
número de células TCD8+ presentes no espaço porta antes de começar a
terapia foi significativamente maior em pacientes que responderam do que nos
não-respondedores. Naquele estudo, eles ainda relatam que nem as
concentrações periféricas de citocinas nem a reatividade de células T
18
específicas contra o HCV em células mononucleares de sangue periférico
mostraram correlação com a terapia 70.
1.7 Perspectivas atuais de pesquisa sobre o HCV
Os mecanismos pelos quais as células T controlam a replicação viral, o
papel dos anticorpos em conferir proteção, e como as imunidades, inata e
adquirida, são subvertidas durante a infecção persistente permanecem como
questões a serem esclarecidas 47.
Segundo Gremion e Cerny, 2005 falta uma explicação convincente para
a cronicidade da infecção na presença de um sistema imune funcional, sendo
esta uma importante área de pesquisa para compreender a imunopatogênese
do HCV. Além disso, conforme aqueles autores, a pesquisa futura deveria
dissecar os mecanismos que levam a respostas imunes inadequadas do ponto
de vista qualitativo ou quantitativo, bem como o papel da alta variabilidade do
vírus, a relevância de fatores genéticos do hospedeiro e os mecanismos de
imunossupressão induzida pelo vírus 42.
Mais estudos são necessários a fim de se compreender o papel das
células NK na defesa do hospedeiro e no dano tecidual durante a infecção pelo
HCV [53]. A natureza da imunidade protetora, incluindo o papel da resposta
imune inata logo após a exposição ao HCV, permanece por ser definido 63.
Chang, 2003 afirma serem necessárias mais pesquisas para definir o
mecanismo de persistência viral e a lesão do hepatócito, constituindo um
desafio o desenvolvimento de vacina e imunoterapia para o HCV. Ele também
ressalta que uma melhor compreensão dos fatores virais e do hospedeiro,
relevantes para o desfecho clínico e virológico, bem como do mecanismo de
defeito imune seletivo contra o HCV, ajudará a melhorar o tratamento dos
pacientes 40.
O recente desenvolvimento de modelos de infecção pelo HCV em
cultura de células possibilitará definir os mecanismos moleculares e sítios de
19
ação para a modulação terapêutica dos controles de resposta imune que
regulam a infecção e o ciclo de replicação do HCV 6. Além disso, tem-se
acumulado evidências de que o desenvolvimento de resistência irá limitar a
eficácia de novas drogas, exigindo novas terapias com múltiplos agentes 71.
Ao se compreender fatores virais e do hospedeiro que influenciam a
manutenção e a função de células T HCV-específicas, haverá mais evidências
para o desenvolvimento de terapias imunomodulatórias e vacinas que induzam
imunidade duradoura e robusta 46.
Com os avanços dos sistemas de culturas de células na última década,
o desenvolvimento de antivirais de ação direta (DAAS) para o HCV tem se
tornado possível. Existem atualmente mais de 50 ensaios clínicos na área
terapêutica e os inibidores de protease NS3/4A estão entrando em estudos de
fase III 72.
Estes
dados
evidenciam
a
necessidade
do
entendimento
dos
mecanismos etiopatogênicos e imunológicos envolvidos na infecção pelo HCV,
que poderiam diferir conforme o genótipo e interferir no sucesso do tratamento.
20
2. OBJETIVOS
2.1 Geral
● Caracterizar a resposta imune adaptativa de pacientes com hepatite
C crônica antes e durante o tratamento com interferon alfa e
ribavirina na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas.
2.2 Específicos
● Caracterizar o genótipo e quantificar a carga viral do HCV em
pacientes com hepatite C crônica.
● Quantificar o perfil de células TCD4+ e TCD8+.
● Quantificar o perfil da citocinas IL-4, IL-5, IL-6, IL-8, IL-10, IL-12, IFNУ e TNF-α.
21
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Modelo de estudo
O estudo é do tipo observacional, descritivo, clínico evolutivo de uma
série de pacientes com hepatite C crônica, que avalia resposta imune celular e
humoral antes e durante o tratamento com interferon alfa 2a e ribavirina.
Este estudo foi financiado com recursos do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo convênio 208460/20055. Faz parte da linha de pesquisa sobre HCV desenvolvida pela Diretoria de
Ensino e Pesquisa da FHEMOAM.
3.2 Descrição da área de estudo
O estudo foi desenvolvido na Fundação de Medicina Tropical do
Amazonas (FMTAM), centro de referência no ensino, pesquisa e assistência
para doenças infecciosas e parasitárias no Estado do Amazonas. A FMTAM
possui uma unidade de internação e serviços de urgência e emergência. Sua
estrutura é dotada de ambulatórios especializados para atendimento de
pacientes com doenças infecciosas, entre eles o ambulatório de hepatites
virais.
3.3 População de estudo e amostragem
Foi tomada uma amostra não-probabilística de conveniência, constituída
de pacientes de ambos os sexos, acima de 18 anos, moradores na cidade de
Manaus, portadores de hepatite C crônica, atendidos no Ambulatório de
Hepatites da FMTAM.
Foram incluídos os pacientes que obedeceram a todos os critérios de
inclusão e concordaram voluntariamente em participar da pesquisa após a
apresentação dos objetivos e métodos da mesma, e cujos registros foram feitos
22
pela assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido – TCLE. (Anexo
1).
O período de inclusão foi de 01/08/2007 a 30/08/2009, e o
acompanhamento para fins de pesquisa foi realizado até 24 semanas após o
início do tratamento do último paciente incluído no protocolo. Após este
período, foi mantido o tratamento dos pacientes com genótipo 1, até a 48ª
semana, e mantido o acompanhamento ambulatorial de todos os pacientes.
Vinte e dois pacientes iniciaram o tratamento e o acompanhamento para
fins de pesquisa, entretanto seis pacientes foram excluídos entre a 4ª e a 12ª
semana: três pacientes por mudança de domicílio e de cidade e três por
apresentarem reações adversas, que os levaram a desistir do tratamento; e
ocorreu, ainda, perda de mais dois pacientes por não terem comparecido para
a coleta da 12ª semana (Figura 1).
Convidados a iniciar o
tratamento e participar
do estudo
Pré-tratamento
Semana 4
69 pacientes
22 pacientes
Semana 12
16 pacientes
Semana 24
14 pacientes
Figura 1: Fluxograma de inclusão de pacientes ao estudo.
3.4 Critérios de inclusão e exclusão
Foram considerados critérios de inclusão: pacientes adultos com mais
23
de 18 anos, com diagnóstico de infecção pelo HCV confirmado por, pelo
menos, um anti-HCV pela técnica de ELISA e um Imunoblot positivos.
Foram excluídos do estudo:

Pacientes gestantes (triagem com beta-HCG).

Pacientes que apresentaram co-infecção, detectada por meio de
reação positiva para marcadores da Hepatite B (anti-HBc, HBsAg),
HIV (anti-HIV-I e II), HTLV (anti-HTLV- I e II), Doença de Chagas
(teste ELISA), Sífilis (VDRL).

Pacientes que apresentaram quadro clínico-laboratorial de cirrose
hepática descompensada.

Pacientes diabéticos descompensados.

Pacientes com história de uso de drogas ilícitas nos últimos sete
anos.

Pacientes com relato de consumo diário de bebida alcoólica.

Pacientes com distúrbios psiquiátricos.

Pacientes renais crônicos.

Pacientes com síndrome plurimetabólica.
3.5 Esquema Terapêutico
O esquema terapêutico utilizado em todos os pacientes foi interferon
peguilado α 2a (40KD), na dose de 180 µcg por via subcutânea, semanalmente
associado à ribavirina na dose de 1,0 g, por via oral, diariamente.
3.6 Seguimento do estudo
Os pacientes foram submetidos a avaliação clínica, mensalmente. A
avaliação laboratorial foi realizada em quatro momentos:
•
Pré-tratamento;
•
Final da 4ª semana de tratamento;
•
Final da 12ª semana de tratamento;
•
Final da 24ª semana de tratamento.
24
3.7 Avaliação clínica
O protocolo de pesquisa e o termo de consentimento livre e esclarecido
foram apresentados aos pacientes pelo investigador médico responsável pela
pesquisa, seguindo-se abordagem clínica, epidemiológica e exame físico dos
voluntários, pela aplicação de um roteiro estruturado para anamnese e exame
físico (anexo 2).
As manifestações hepáticas e extra-hepáticas da infecção pelo HCV,
estigmas de hepatopatia crônica e a presença de co-morbidades foram
avaliadas mensalmente.
3.8 Avaliação laboratorial
As amostras foram coletadas na FHEMOAM, onde foram fracionadas e
enviadas às instituições colaboradoras, com as seguintes finalidades:

triagem sorológica para co-infecções – DO;

confirmação sorológica para hepatites virais - D0;

determinação de carga viral - D0, 4ª, 12ª e 24ª semanas;

seqüenciamento e genotipagem do HCV - D0;

perfil bioquímico e avaliação da função hepática - D0, 4ª, 12ª e 24ª
semanas;

perfil hematológico de sangue periférico - D0, 4ª, 12ª e 24ª semanas;

perfil imunológico celular (LTCD3+/CD4+, L TCD3+/CD8+, LTCD69+;

perfil imunológico humoral (IL4, IL5, IL8 IL10, IL12, TNF-α e IFN) de
sangue periférico - D0, 4ª, 12ª e 24ª semanas);
3.8.1 Procedimento para a coleta de amostra de sangue periférico
As amostras de sangue - 30 mL de cada paciente, foram coletadas no
HEMOAM. Após punção venosa, o sangue foi acondicionado em seis tubos
EDTA (Vacutainer BD, Franklin Lakes, NJ,USA) e em um tubo PPT/Plasma
Preparation Tube (Vacutainer BD, Franklin Lakes, NJ, USA).
25
O material foi identificado e centrifugado a 200 rpm durante 10 minutos.
O soro foi separado em tubos livres de RNAse de 1,5 mL e armazenado a –
800C. Parte do material desta coleta foi enviada para o Instituto de Medicina
Tropical de São Paulo – IMT-SP e o restante da amostra foi processado na
FHEMOAM. Os exames de hemograma e bioquímicos foram realizados no
laboratório de análises clínicas da FMTAM,.
3.8.2 Perfil hematológico de sangue periférico
Foi realizado hemograma completo.
3.8.3 Perfil bioquímico de sangue periférico
Para fins de acompanhamento ambulatorial foram realizados os
seguintes exames:

Bioquímico: aspartato aminotransferase, glutamato aminotransferase,
bilirrubina direta e indireta, dosagem sérica de desidrogenase láctica
e glicemia de jejum;

Função renal: uréia, creatinina, sódio e potássio séricos;

Função hepática: tempo de protrombina ativada e proteínas séricas.
3.8.4 Análise celular em sangue periférico por citometria de fluxo
Amostras de 50 µL foram incubadas com anticorpos monoclonais por 20
minutos à temperatura ambiente e ao abrigo da luz. Foram avaliados: antiCD8+ (code MHCD0801, lote 08090506, marca CALTAG), marcados com
isotiocianato de fluoresceína (FITC), anti-CD4 (code MHCD0404, lote
23031206, marca CALTAG) marcados com ficoeritrina (PE) e anti-CD3 (code
MHCD0306, lote 60010708, marca CALTAG).
Após a marcação dos leucócitos, as hemácias presentes foram: lisadas
com 2 ml de solução de lise, lavadas com 2 mL de PBS (solução fisiológica
tamponada com fosfato) e centrifugadas por 7 minutos, a 1300 rotações por
minuto. Posteriormente, desprezou-se o sobrenadante por inversão e
26
adicionou-se 300 µL de PBS a 1% de formaldeído. A leitura foi realizada no
citômetro de fluxo FACScalibur com sistema de detecção de quatro cores
(Becton Dickinson).
A identificação das populações celulares de interesse foi realizada
utilizando-se o programa Cell-Quest. Primeiro identificou-se a população de
linfócitos, neutrófilos, monócitos e eosinófilos, utilizando gráficos “dot plot” onde
a população de interesse ocupa região característica após ajustes de ganhos
de seu tamanho (FSC) e granulosidade (SSC) (Figura 2A).
Após a seleção da região de interesse, foi analisada a intensidade de
fluorescência apresentada pelas células marcadas nesta região, pelo
histograma de fluorescência 1 (FL1) versus fluorescência 2 (FL2) (Figura 2B).
Figura 2: Sequência de procedimentos utilizados para as análises de
populações celulares por citometria de fluxo. (A) Gráficos Dot plot FSC x SSC,
utilizados para seleção da população linfocitária – R2. (B) Histograma; FL1 x
FL2, utilizados para avaliar parâmetros de interesse em populações celulares
específicas.
Após a definição das regiões, o percentual de células positivas foi
determinado utilizando-se histograma simples de análise das regiões. Os
27
resultados obtidos foram anexados à ficha de acompanhamento dos pacientes
padronizada para este estudo.
3.8.5 Perfil imunológico de citocinas no sangue periférico
As citocinas foram dosadas no soro do sangue periférico por ensaio
imunoenzimático (ELISA - Enzyme-Linked Immunosorbent Assays) no
Laboratório de Pesquisa Multidisciplinar do HEMOAM, utilizando-se pares de
anticorpos (Anticorpo Primário e Anticorpo Secundário) e respectivos padrões
recombinantes obtidos comercialmente OpteiaTm Set Human (BD Biosciences.
Pharmingen, San Diego, CA, US), conforme as recomendações do fabricante.
Foram quantificadas as concentrações séricas das citocinas IL-4, IL-5, IL-6, IL8, IL-10, IL12, IFN-У e TNF-α em pg/mL.
Microplacas de 96 poços foram sensibilizadas com 100μL de anticorpo
de captura (anticorpo primário) diluído em tampão de ligação (Carbonato de
Sódio 0,1 M, pH 9,6). A placa foi envolvida em papel alumínio e incubada por
12 horas, a 4°C. Após esse período de incubação, os poços foram aspirados e
lavados 3 vezes com 300 µL de tampão de lavagem (PBS 1X + 0,05% de
Tween-20%). Concluída a última lavagem, as placas foram aspiradas e
invertidas em papel absorvente para remover qualquer tampão residual.
Duzentos microlitros de diluente de ensaio (Solução Salina Tamponada de
Fosfato - PBS 1X + 10% de Soro Bovino Fetal - SBF) foram acrescentados em
cada poço e a placa foi envolvida em papel laminado e incubada a temperatura
ambiente por 1 hora.
Durante essa incubação foram preparadas diluições seriadas de cada
citocina, cujas concentrações seguiram as especificações do fabricante. As
diluições foram realizadas em microtubos utilizando-se um volume inicial de
500 µL no primeiro tubo e, em outros 7 tubos, foram adicionados 250 µl da
solução diluente. Depois de acrescido o volume exigido de citocina no primeiro
tubo, foram transferidos 250 µL para o próximo tubo, agitando entre cada
transferência, até a obtenção de uma curva de diluição seriada.
28
Após o término do período de incubação, as placas foram aspiradas e
lavadas novamente por 3 vezes, com 300 µL de tampão de lavagem e, em
seguida, invertidas em papel absorvente para remover qualquer tampão
residual. Foram adicionados 50 µL de cada amostra, padrão de referência e
solução diluente (PBS + 10% SBF, como controle negativo) dentro dos poços
apropriados, a placa foi envolvida em papel alumínio e incubada a temperatura
ambiente, por 2 horas. Após esta incubação, as placas foram aspiradas e
lavadas com 5 ciclos de lavagens. Logo em seguida, foram adicionados 100 µL
do anticorpo de detecção associado à enzima (anticorpo secundário + reagente
SAv-HRP) para cada poço. Novamente, a placa foi envolvida em papel
alumínio e incubada à temperatura ambiente, por 1 hora. As placas foram
aspiradas e lavadas em 7 ciclos no total, deixando de molho por 30s em cada
ciclo. Foram adicionados 100 µL de solução de substrato em cada poço, a
placa foi envolvida em papel alumínio e incubada à temperatura ambiente por
30 minutos. Para o bloqueio da reação foram acrescidos 50 µL de H 2 SO 4 (2N)
em cada poço e realizada a leitura da absorbância a 450 nm em aparelho da
marca ASYS (Microplate reader v.1.14) em até 30 minutos após o término da
reação.
3.9 Técnicas moleculares do HCV
3.9.1 Extração do RNA do plasma
A extração do RNA das amostras foi realizada no laboratório de virologia
do IMT-SP, a partir de 140μL de soro utilizando-se o Kit QIAamp® Viral RNA
(Qiagen, Uniscience do Brasil-SP). As amostras foram inicialmente lisadas em
tampão de denaturação para inativação de RNases e para assegurar o
isolamento de RNA intacto. As condições de tamponamento foram ajustadas
para promover uma ótima ligação do RNA à coluna. O RNA fica ligado à coluna
e os contaminantes foram eficientemente lavados e retirados em duas etapas
utilizando-se dois diferentes tampões de lavagem (PBS 1X com 0,05% de
Tween-20 (p.ex.: 500mL de PBS 1X + 250μL de Tween-20). O RNA foi diluído
em um tampão especial livre de RNase que favorece a estocagem e também o
uso direto do RNA. O RNA extraído ficou livre de proteínas, nucleases e outros
29
contaminantes e inibidores, de acordo com as instruções do fabricante. Após o
término da extração do RNA, realizou-se a síntese do DNA complementar
(cDNA).
3.9.2 Síntese de DNA complementar (cDNA)
A síntese de cDNA foi realizada pela reação de Transcrição Reversa (RT),
utilizando-se reagentes da InvitrogenTM Life Technologies, Carlsbad, CA, USA.
O volume final da reação foi de 40,1µL nas seguintes condições: Tampão PCR
1X sem Magnésio, 0,2mM de dNTP´s, 5mM de MgCl 2, 10-3 M de DTT, 2,5 µM
de primer randômico PDN (6), 1 unidade de enzima inibidora de RNAse, e 2,5
unidades de enzima Transcriptase Reversa do Vírus da Leucemia Murina de
Moloney (M-MLV).
As
amostras
foram
submetidas
a
gradiente
de
temperatura
no
termociclador Veriti Thermal Cycler – Applied Biosystems, conforme o quadro
abaixo:
Quadro 1. Gradiente de temperatura no termociclador.
Temperatura
Minutos
65º C
5 minutos
22º C
10 minutos
37º C
30 minutos
95º C
5 minutos
3.9.3 Reação em cadeia da polimerase (PCR)
Os iniciadores utilizados para a reação em cadeia da polimerase foram
desenhados a partir da região conservada 5’NCR do genoma do HCV (SMITH
et al., 1995). Após a etapa de síntese, o DNA complementar foi amplificado
pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), utilizando-se reagentes da
InvitrogenTM Life Technologies, Carlsbad, CA, USA, nas seguintes condições:
30
tampão PCR 1X, 0,16 mM de dNTP, 0,2 µM de cada iniciador HC11 e HC18
(Quadro 2); 1 unidade de Taq Platinum DNA polimerase; 0,1µg/µL de cresol
red; 10 µL de cDNA, para uma reação com volume final de 50 µL. O programa
que foi utilizado para a amplificação por PCR, no termociclador Veriti Thermal
Cycler – Applied Biosystems, está representado no quadro 3. O produto
amplificado pelos iniciadores HC11 e HC18 gera um fragmento de 331 pares
de base da região 5'NTR do genoma do HCV.
Quadro 2. Sequência de nucleotídeos dos iniciadores HC11 e HC18
Quantidade de
Iniciadores
Sequência 5’- 3’
HC 18
GGTGCACGGTCTACGAGACCT
21
HC 11
GGCGACACTCCACCATAGATCACT
24
bases
Quadro 3. Programa utilizado no termociclador para a reação de
amplificação por PCR
Etapa 1
Desnaturação inicial por 5 minutos a 95º C
Etapa 2
Desnaturação por 30 segundos a 94º C
Etapa 3
Hibridização por 30 segundos a 55º C
Etapa 4
Extensão por 1 minuto a 72º C
Etapa 5
Repetição das etapas 2 a 4 por 50 ciclos
Etapa 6
72º C por 7 minutos
3.9.4 Nested PCR
31
Para amostras que não amplificaram pela técnica da reação em
cadeia da polimerase com a utilização dos primers HC11 e HC18, foi realizada
a técnica de Nested-PCR, como uma segunda estratégia devido à sua maior
sensibilidade, utilizando-se reagentes da InvitrogenTM Life Technologies,
Carlsbad, CA, USA. O primeiro ciclo do Nested-PCR foi realizado nas
seguintes condições: tampão PCR 1X, 0,16 mM de dNTP, 2,8 mM de MgCl 2 ,
0,2 µM de cada iniciadores P32 e P36 (Quadro 7), 1,25 unidades de Taq
Platinum DNA polimerase; 0,1 µg/µL de cresol red; 10 mM de cDNA, para uma
reação com volume final de 25µL. O programa utilizado para a amplificação por
PCR, no termociclador
Veriti Thermal Cycler – Applied Biosystems, está
representado no quadro 6.
Quadro 4. Programa utilizado no termociclador Mastercycler Gradient –
Eppendorf para a primeira reação do Nested-PCR
Etapa 1
Desnaturação inicial por 5 minutos a 95º C
Etapa 2
Desnaturação por 30 segundos a 94º C
Etapa 3
Hibridização por 30 segundos a 55º C
Etapa 4
Extensão por 1 minuto a 72º C
Etapa 5
Repetição das etapas 2 a 4 por 50 ciclos
Etapa 6
72º C por 7 minutos
Após o término do primeiro ciclo do Nested-PCR, iniciou-se o segundo
ciclo utilizando reagentes da InvitrogenTM Life Technologies, Carlsbad, CA,
USA, nas seguintes condições: tampão PCR 1X, 0,16 mM de dNTP, 2,0 mM de
MgCl 2 , 0,2 µM de cada iniciador P33 e P48, 1,5 unidades de Taq Platinum
DNA polimerase, 10 µL do produto amplificado no primeiro ciclo, para uma
reação com volume final de 25 µL. Utilizou-se o programa para a amplificação
32
por PCR, no termociclador Veriti Thermal Cycler – Applied Biosystems (quadro
6).
Quadro 5. Sequência de nucleotídeos iniciadores P32, P36, P33 e P48
Iniciador
Sequência 5’- 3’
Quantidade de bases
P32
CTGTGAGGAACTACTGTCTT
20
P36
ACTGCTAGCCGAGTAGTGTT
20
P33
TTCACGCAGAAAGCGTCTAG
20
P48
GGGTCCTTTCTTGGATCAAA
20
Quadro 6. Programa utilizado no termociclador para a segunda reação do
Nested-PCR
Etapa 1
Desnaturação inicial por 5 minutos a 95º C
Etapa 2
Desnaturação por 30 segundos a 94º C
Etapa 3
Hibridização por 30 segundos a 55º C
Etapa 4
Extensão por 1 minuto a 72º C
Etapa 5
Repetição das etapas 2 a 4 por 45 ciclos
Etapa 6
72º C por 7 minutos
O produto amplificado pelos iniciadores P32 e P36 gera um fragmento
de 220 pares de base e, pelos iniciadores P33 e P48, um fragmento de 145
pares de bases da região 5'NTR do genoma do HCV.
Após o término da PCR, para a identificação das amostras positivas, o
produto amplificado foi submetido à eletroforese em gel de agarose a 1,5%,
contendo Gel Red (InvitrogenTM Life Technologies, Carlsbad, CA, USA), na
33
proporção de 10 µL: 50 mL de Agarose. Foi aplicado 5 µL de cada amostra e 1
µL do marcador de 50 pares de bases (InvitrogenTM
Life
Technologies,
Carlsbad,CA,USA).
A reação foi realizada montando-se uma mistura de volume final de 50μl
contendo 5μl de Tampão de PCR 10x (Invitrogen® - Minus MgCl 2 ) com
concentração final de 1X, 3,2μL de dNTP’s (2,5mM) com concentração final de
0,16mM (Invitrogen®, Brasil), 1μL do Primer HC11(sense) (10uM) com
concentração final de 0,2 μL, 1μL do primer HC18 (antisense) (10uM) com
concentração final de 0,2 μL (Invitrogen, Brasil), 0,5μL de Taq DNA Polimerase
(5U/μL) com concentração final de 2,5U/μL (enzima Platinum Taq DNA
Polimerase (Invitrogen TM Life Technologies, Carlsbad, CA, USA), 5μL de
Glicerol (57%) com concentração final de 5,7mM (Invitrogen®, Brasil), 2μL de
Cresol red (2,5μg/UL) com concentração final de 0,1 μg/UL, 22,3μL de H 2 O
deionizada e 10μL de cDNA. Nesta mistura não foi acrescido MgCl 2
considerando que no cDNA sintetizado já existe uma concentração final de
1mM de MgCl 2 . Esta mistura foi submetida a condições de 95oC por 5 minutos
para provocar desnaturação das fitas seguido de 40 ciclos nas seguintes
condições: 94oC por 30 segundos, 55ºC por 30 segundos, 72oC por 1 minuto e
no fim a 72 oC por 7 minutos.
3.9.5 Purificação dos produtos amplificados
A purificação dos produtos amplificados foi feita com a utilização de
colunas do Kit Microcon Centrifugal Filter Devices ® (Milipore). Para cada
produto de PCR foi utilizada uma coluna sobre um tubo de 1,5 ml. Foram
adicionados 300μL de H2O MiliQ ultra-pura no topo da coluna sem tocar a
membrana; posteriormente foram adicionados todo volume do produto de PCR
(cerca de 50µL) no centro da coluna sem tocá-la. As colunas foram
centrifugadas por 15 minutos a 550 x g, à temperatura ambiente. Em seguida
as colunas foram invertidas sobre outro tubo de 1,5 ml limpo e estéril e foram
adicionados 35μL de água MiliQ no centro da coluna e a mesma foi novamente
centrifugada por 5 minutos a 650 x g.
34
3.9.6 Semi-quantificação dos produtos purificados
Após purificação foi feito uma eletroforese em gel de agarose 1,5%
(Ultrapure TM Invitrogen®) contendo 0,5µl/mL de brometo de etídio em tampão
TAE 1X (50X - Invitrogen®) para favorecer uma semi-quantificação do produto
amplificado para posterior seqüenciamento, utilizando como marcador 4µl do
marcador Low Mass Ladder (Gibco®).
Para tal, foram aplicados 5µl do tampão de corrida (Loading Buffer 2xInvitrogen®) e 5μL do produto amplificado e purificado aplicando-se a mistura
de 10μL no gel de agarose. Esta etapa de semi-quantificação permitiu uma
comparação visual da intensidade das bandas da amostra com o marcado.
Desta forma, foi possível a semi-quantificação do produto amplificado de modo
a permitir o uso de aproximadamente 100 ng do material na reação de
sequenciamento.
3.9.7 Reação de sequenciamento e purificação do produto
Baseando-se na semi-quantificação descrita anteriormente, cerca de 100
ng de produto amplificado foi adicionado a um micro-tubo com 3,2 pmol do
primer HC11 (sense), 2μL de Mix ABI PRISM Big Dye Terminator ready
reaction (Applied Biosystem Incorporation, Foster City, Califórnia, EUA), 4,4μL
de Save Money (Tris-HCl 200 mM (pH 9,0) e 5mM de MgCl2). A extensão
enzimática foi realizada em termociclador Eppendorf durante 25 ciclos de 96o C
por 10 segundos para desnaturação do DNA molde, 50o C por 10 segundos,
para anelamento do primer e 60o C por 4 minutos para extensão.
O produto foi novamente purificado visando a remoção de excesso de
dideoxinucleotídeos “terminadores” presentes na reação, através do método de
precipitação. Para tal foi adicionado 80μL de isopropanol (75%) à reação de
seqüenciamento e incubado por 15 minutos à temperatura ambiente (protegido
da luz) e foi realizada centrifugação entre 15.000 e 20.000 x g por 20 minutos.
Então, foi descartado o sobrenadante por aspiração, seguido de lavagem com
160μL de etanol a 80%, seguido de agitação em vortex por 15 segundos,
35
centrifugação por 5 minutos (20.000 g), e aspiração do sobrenadante. Após
secagem do pellet a 45o C por 10 minutos as amostras foram re-suspensas
utilizado-se 4μL de loading buffer (Applied Biosystem Incorporation, Foster City,
Califórnia, EUA).
3.9.8 Sequenciamento
Foi montado o gel de eletroforese utilizando-se o Kit Long Ranger
Acrilamide® (CAMBREX Bio Science Rockland Inc. ME- EUA) segundo
recomendações do fabricante.
A eletroforese do gel de acrilamida foi realizada no seqüenciador ABI
PRISM TM 377 Applied Biosystems Incorporation, Foster City, California, EUA.
No momento anterior a aplicação no gel foi feita a desnaturação da amostra a
95° C por 2 minutos e as amostras foram mantidas em gelo para em seguida
serem aplicados 2μL de cada amostra no gel de seqüenciamento.
O alinhamento das seqüências foi realizado utilizando-se o software ABI
377-96 collection v. 2.6.
3.9.9 Análise das sequências
A genotipagem foi feita através da edição e alinhamento das seqüências
das regiões 5'NCR, utilizando o programa Sequence Navigator v.3.4 (Applied
Biosystems), em conjunto com as seqüências padrão obtidas do GenBank,
verificando os genótipos de cada amostra através do acesso on-line para
consulta ao banco de dados do Los Alamos National Laboratory nos Estados
Unidos conforme descrito por Kuiken et al. (2006). As análises das seqüências
foram realizadas no Laboratório do IMT-SP.
36
CrINF32
CrINF34
CrINF12
CrINF11
CrINF06
CrINF03
CrINF26
NC 009824.1|HCVgp3
CrINF04
CrINF07
NC 009825.1|HCVgp4
NC 009826.1|HCVgp5
CrINF20
NC 004102.1|HCVgp1
CrINF19
CrINF02
CrINF27
CrINF05
CrINF28
CrINF10
CrINF22
CrINF33
CrINF35
NC 009827.1|HCVgp6
CrINF29
NC 009823.1|HCVgp2
CrINF09
CrINF15
CrINF18
CrINF21
CrINF25
0.01
Figura 3: Árvore filogenética de uma amostragem de indivíduos portadores do
HCV, com as seqüências representadas para os genótipos 1, 2 e 3, grifados
em verde, rosa e azul, respectivamente.
3.9.10 Determinação da carga viral
A determinação da carga viral foi realizada através da técnica de
amplificação de ácidos nucléicos utilizando-se o kit Amplicor HCV MonitorTM
Test (Roche) v.2.0.
Este ensaio baseia-se em cinco processos principais: preparação da
amostra; transcrição reversa do RNA alvo para produzir DNA complementar
(cDNA); amplificação por PCR do cDNA alvo usando iniciadores específicos
complementares do HCV; hibridização dos produtos amplificados com sondas
37
oligonucleotídicas específicas do alvo; e detecção dos produtos amplificados
fixos à sonda por determinação colorimétrica.
Esta metodologia baseada em PCR permitiu a determinação precisa da
carga viral presente no soro/plasma, pela inclusão de um controle, um RNA
artificial, contendo as mesmas regiões de ligação dos primers ao HCV-RNA,
mas com outra seqüência nucleotídica entre os primers. Os produtos de RTPCR foram hibridizados com uma sonda interna imobilizada em placa de 96
poços. Os primers foram marcados com molécula de biotina, o que permitiu a
posterior detecção e leitura por sistema enzimático como os utilizados nas
reações sorológicas rotineiras. A relação entre as leituras óticas derivadas do
HCV-RNA e do controle, cujo número de cópias incluído na reação é
conhecido, permitiu estimar a carga viral da amostra. De acordo com o
fabricante, o limite inferior deste método é de 600 UI/mL e o superior é de
850.000 UI/mL.
3.10 Ultrasonografia
Antes do início do tratamento todos os pacientes foram submetidos a
ultrassonografia de abdome total. O exame de imagem foi realizado como
exame complementar diagnóstico visando a avaliar a estrutura hepática e os
outros órgãos abdominais.
3.11 Biópsia Hepática
Oito pacientes foram submetidos à biópsia hepática antes do início do
tratamento. As biópsias foram realizadas através de punção aspirativa percutânea, de acordo com o protocolo da FMTAM.
As
biópsias
foram
necessárias
para
se
avaliar
o
grau
de
comprometimento hepático. Os achados histopatológicos foram descritos de
acordo com a classificação de METAVIR. A fibrose foi avaliada como: F0 – sem
fibrose; F1 – fibrose portal sem septos; F2 – fibrose portal com pouca formação
de septo; F3 – fibrose portal com muitos septos; F4 – cirrose.
38
3.12
Metodologia estatística
O banco de dados foi construído utilizando-se a plataforma Excell. Os
dados foram apresentados por meio de gráficos e tabelas de freqüência. A
análise dos dados foi iniciada com descrição estatística simples, sendo
utilizado o intervalo de confiança ao nível de 95%, adotando-se nível de
significância igual a 0,05 em todas as análises.
Fez-se análise estatística através do programa R; a normalidade foi
objeto do teste de Shapiro-Wilk. Após definição de quais eram os dados
paramétricos e não-paramétricos, realizaram-se os testes ANOVA com pósteste de Tukey para os dados paramétricos, e de Kruskal-Wallis para os dados
não-paramétricos. Para a análise de grupos pareados foram utilizados os
testes de Tukey e de Kruskal-Wallis.
3.13
Aspectos éticos
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos (CEP) da FMTAM em 27/07/2007, processo número 0913/2007FMT-AM (anexo 3) e está de acordo com as normas previstas na Resolução N0
196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
39
4. RESULTADOS
Os resultados e a discussão estão apresentados na forma de artigos
originais.
O primeiro artigo relata o caso de um paciente excluído do estudo na 9ª
semana de tratamento face à ocorrência de efeitos colaterais.
O segundo artigo mostra os dados demográficos e a caracterização
molecular dos 69 pacientes convidados a participar do estudo.
No terceiro artigo estão apresentados os resultados do perfil celular e de
citocinas de 14 pacientes acompanhados até a 24ª semana de tratamento.
40
4.1 ARTIGO I
Publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical no
volume 43(4) jul-ago, 2010
Relato de Caso/Case Report
Resposta virológica sustentada em paciente com co-infecção pelos
genótipos 1 e 2 do vírus da hepatite C, com apenas nove semanas de
terapêutica antiviral: Relato de caso
Sustained virological response in patients with coinfection by hepatitis C virus
genotypes 1 and 2, after just nine weeks of antiviral therapy: Case report
Ana Ruth Araújo1,2, José Eduardo Levi4, Carlos Mauríco de Almeida1, Tatiane
Amábili de Lima1,3, Laura Patrícia Viana Maia2,3, Kátia Luz Torres3, Andréa
Monteiro Tarragô3, Flamir Victória1, Marilu Victória1, Sinésio Talhari1 e
Adriana Malheiro1-3
1. Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus, AM. 2. Universidade
Federal do Amazonas, Manaus, AM. 3. Fundação de Hematologia e
Hemoterapia do Amazonas, Manaus, AM. 4. Instituto de Medicina Tropical de
São Paulo, São Paulo, SP.
Endereço para correspondência: Dra. Adriana Malheiro. HEMOAM. Av.
Constantino Nery 4397 69050-002 Manaus, AM, Brasil.
Tel: 55 92 3655-0113
e-mail: [email protected]
Recebido para publicação em 08/04/2010
Aceito em 12/05/2010
41
RESUMO
Relata-se um paciente do sexo masculino com 67 anos e sorologia positiva
para o vírus da hepatite C (HCV). Exames moleculares revelaram a presença
do RNA do HCV, com carga viral de 2.000 cópias/mL e genótipos 1 e 2. O
tratamento
foi
com
alfapeginterferon-2a,
180mcg/semana
e
ribavirina,
1000mg/dia. Na quarta semana de tratamento, a carga viral para o HCV era
indetectável. Na nona semana, o paciente apresentou hematêmese, piora do
quadro de astenia, inapetência e comprometimento do estado geral, quando o
tratamento foi descontinuado. O PCR foi negativo após 6 meses e permaneceu
assim após um ano. O paciente encontra-se assintomático.
Palavras-chaves: Vírus da hepatite C. Co-infecção. RVS.
ABSTRACT
A report of a 67 year-old male patient with positive serology for HCV. PCR
revealed the presence of HCV RNA, viral load of 2,000 copies/mL and
genotypes 1 and 2. The pacient was treated with peginterferon alfa-2a at 180
mcg/week and Ribavirin at 1,000 mg/day. In week four of treatment, HCV viral
load was undetectable. In week nine, the patient developed hematemesis,
worsening of asthenia, anorexia and impaired general condition, so the
treatment was discontinued. The PCR was negative six months and one year
after the cessation of treatment. The patient remains asymptomatic.
Key-words: Hepatite C virus. Co-infection. SRV.
INTRODUÇÃO
A infecção pelo HCV está estimada em mais de 200 milhões de pessoas em
todo o mundo, correspondendo a mais de 3% de toda a população mundial1. É
um vírus emergente e constitui significativa causa de morbimortalidade
humana2. Desta forma, constitui um grave problema de saúde pública. O
objetivo deste trabalho é relatar sobre um paciente atendido na Fundação de
Medicina Tropical do Amazonas.
42
RELATO DO CASO
Paciente do sexo masculino, com 67 anos de idade, caucasiano, procedente
de Manaus, Estado do Amazonas que utilizava glucanergan há 40 anos e
negava o uso de álcool ou outras drogas. Não havia histórico de transfusões
sanguíneas. Queixava-se de astenia, gosto amargo na boca e gases.
Os exames apresentaram os seguintes resultados (Hto 36,8, Hb 12,4,
plaquetas 113.000, leucócitos 3.900, ALT 99, alfa-feto proteína 3,3). A
ultrassonografia
revelou
fígado
com
aspecto
normal.
As
sorologias
confirmatórias revelaram positividade para Anti-HCV, sendo negativas para
(HBsAg-, anti-HBc-, anti-HBs-). Os exames de biologia molecular revelaram a
presença do RNA do HCV, com carga viral de 2.000 cópias/mL e através da
análise filogenética, concluiu-se que o paciente apresentava os genótipos 1 e
2. Esta etapa do trabalho foi realizada no Laboratório de virologia do Instituto
de Medicina Tropical de São Paulo (IMT-SP). A extração do RNA das amostras
foi realizada a partir de 140μL de soro utilizando-se o Kit QIAamp® viral RNA
(Qiagen, Uniscience do Brasil-SP), de acordo com as especificações do
fabricante. Para a síntese de DNA complementar (cDNA) foi realizada a reação
de transcrição reversa (RT), utilizando-se a enzima transcriptase reversa
Moloney Murine Leukemia Vírus (M-MLV) (Invitrogen® Brasil) que utiliza
moléculas de RNA fita simples, na presença de Random Hexamers N6
(Random primers) para sintetizar fitas de DNA e a reação foi submetida as
condições de termociclagem. Após a obtenção do cDNA, o mesmo foi
amplificado pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR), utilizandose a enzima Platinum Taq DNA Polimerase (Invitrogen® TM Life Technologies,
Carlsbad, CA, USA). Os primers foram desenhados a partir da região
conservada 5’NCR do genoma do HCV. O Produto amplificado foi identificado
por eletroforese em gel de agarose 1,5% (agarose ultrapureTM - Invitrogen Life
Technologies). A amostra do paciente continha RNA do HCV no plasma e foi
submetida a nova reação em cadeia da polimerase que gerou um produto
amplificado de 308pb ideal para análise dos genótipos do HCV. O
sequenciamento do HCV foi realizado no sequenciador ABI PRISM TM 377
Applied Biosystems Incorporation, Foster City, California, EUA. O alinhamento
das sequências foi realizado utilizando-se o software ABI 377-96 collection v.
43
2.6. A genotipagem foi feita pela edição e alinhamento das sequências das
regiões 5'NCR, utilizando o programa Sequence Navigator v.3.4 (Applied
Biosystems), em conjunto com as sequências padrão obtidas do GenBank,
(acessoon-line) no banco de dados do Los Alamos National Laboratory nos
Estados Unidos. A carga viral foi determinada por meio da quantificação do
RNA viral pela técnica de amplificação de ácidos nucléicos, pelo Kit Amplicor
HCVTM Test (Roche).
O paciente iniciou o tratamento com alfapeginterferona-2a (40KD),
180mcg/semana, associada à ribavirina, 1.000mg/dia, conforme protocolo do
Ministério da Saúde para tratamento do HCV genótipo 1. Na segunda semana
após o início do tratamento, observou-se queda discreta do hematócrito,
hemoglobina, plaquetas e leucócitos. A partir da quarta semana de tratamento,
o paciente passou a apresentar astenia, anorexia e perda de peso, com queda
progressiva do hematócrito, hemoglobina, plaquetas e leucócitos. Na quarta
semana de tratamento, a carga viral para o HCV era indetectável (<200
cópias/ml) e valores alterados de ALT= 82 UI/l e AST= 73 UI/L.
Na nona semana de tratamento, o paciente apresentou hematêmese, piora
do quadro de astenia, inapetência e comprometimento do estado geral. Foi
internado no Serviço de Pronto Atendimento da Fundação de Medicina Tropical
do Amazonas, com quadro de pancitopenia. Na internação, apresentava
hemoglobina-3,7 hematócrito-11,8, plaquetas-22.000, Leucócitos-1.500, AST73, ALT-82. O paciente recebeu 4 unidades de concentrado de plaquetas e 04
unidades de concentrado de hemácias. O tratamento preconizado inicialmente
(interferon associado à ribavirina) foi descontinuado e fez-se hemograma,
bioquímica, nova carga viral e ressonância magnética (RNM).
A carga viral permanecia inferior ao limite de detecção e as enzimas
hepáticas estavam normais. A RNM revelou sinais de hepatopatia crônica. A
endoscopia digestiva alta revelou presença de dois cordões varicosos de fino
calibre em segmento distal, sugerindo quadro de hipertensão portal por doença
hepática crônica.
44
Após seis meses da suspensão do tratamento, o paciente estava
assintomático. Os resultados dos novos exames demonstraram: Hto-33,8, Hb11,6, plaquetas-100.000, TAP-70,7% e ALT-58. O PCR qualitativo, seis meses
após a suspensão do tratamento foi negativo e permaneceu assim após um
ano. O paciente encontra-se assintomático, com perfil bioquímico dentro dos
parâmetros de normalidade.
DISCUSSÃO
O HCV é um vírus emergente1 em todo o mundo e constitui significativa
causa de morbimortalidade humana2. O HCV é o único representante do
gênero Hepacivirus, incluído na família Flaviviridae. É um pequeno vírus, com
30 a 60 nm de diâmetro, e apresentando um genoma de RNA linear, com
hélice única e positiva, cuja organização assemelha-se a de outros flavivírus,
como o vírus do dengue3.
Até o momento, foram Identificados 6 genótipos de HCV, distintos mas
relacionados, além de múltiplos subtipos, por meio de correlações moleculares:
1a, 1b, 2a, 2b, 3, 4, 5 e 6. A determinação do genótipo relacionado a cada
indivíduo é importante por apresentar valor preditivo em termos de resposta à
terapia antiviral, com melhor resposta associada aos genótipos 2 e 3 do que ao
genótipo 14. Como relatado neste trabalho, observamos que o paciente
apresentava infecção por dois diferentes genótipos 1 e 2 do HCV. Este fato
explica-se porque como ocorre com todos os RNA-vírus, falta à polimerase do
HCV, uma função de leitura de prova (proof-reading function). Isto permite que,
no curso de infecção persistente, a replicação viral propensa a erros gere um
repertório de variantes virais altamente relacionadas, mas geneticamente
distintas, ou quasispécies. Esta variabilidade genética concede ao HCV um
notável potencial adaptativo, tendo sido implicado com a evasão e controle da
resposta do hospedeiro à infecção e a uma sensibilidade diferencial à terapia
com Interferon5. Além disso, trabalhos recentes do nosso grupo demonstraram
que o genótipo 1 do HCV é o de maior prevalência no Estado do Amazonas,
seguido dos genótipos 2 e 3, podendo sugerir ainda que este paciente tenha
tido contato com ambos os genótipos dos vírus.
45
O tratamento da hepatite C visa deter a progressão da doença hepática pela
inibição da replicação viral7. O protocolo terapêutico do Ministério da Saúde
preconiza a administração de interferon alfa em associação com a ribavirina,
variando o tempo de tratamento de acordo com o genótipo do HCV.
Considerando que o genótipo 1 tem sido descrito como o que apresenta pior
resposta à terapia, o Ministério da Saúde, preconiza, nestes casos, um
tratamento mais prolongado, com interferon peguilado. Desta forma, optou-se
por tratar o paciente considerando o genótipo 1.
Tem sido sistematicamente descrita uma correlação entre o genótipo
viral e a resposta terapêutica. Dados da literatura indicam que para os
genótipos 2 e 3 o IFN-α em combinação com a ribavirina são eficazes em 80%
dos casos. Tempo inferior a 12 semanas de interferon-α e ribavirina seria tão
eficaz quanto um esquema de 24 semanas8. Estes dados evidenciam que o
tratamento pode ser mais ou menos eficaz de acordo com o genótipo viral
encontrado, sendo a resposta clínica melhor com os genótipos tipos 2 e 3
quando comparada aos genótipos 1a e 1b, como exposto anteriormente.
Após quatro semanas de tratamento, o paciente relatado apresentou
carga viral indetectável, sugerindo que o mesmo seja bom respondedor ao
tratamento, mesmo apresentando a co-infecção com os genótipos 1 e 2. Estes
dados estão de acordo com a literatura. Alguns autores relatam que um
percentual de pacientes tratados com interferon e ribavirina que apresenta
resposta virológica na 4a semana de tratamento, têm maior probabilidade de
manter a resposta virológica sustentada (PCR qualitativo negativo após 6
meses de suspensão do tratamento)9. Por outro lado, dados de estudo
realizado na China com 40 pacientes com hepatite C crônica, submetidos a
terapia com IFN-g e ribavirina por 48 semanas, tiveram resposta viral
sustentada; dentre estes, 28% a 31% apresentavam genótipo 1 e 64% a 66%
genótipos 2 ou 310.
Após a 4ª semana, apesar da boa resposta do paciente ao tratamento
foram observadas alterações laboratoriais. Houve queda do hematócrino,
46
hemoglobina e quadro de anemia severa, com diminuição de leucócitos e
plaquetas, havendo hemorragia digestiva e comprometimento do estado geral
do paciente. O tratamento foi descontinuado na nona semana face à
pancitopenia e comprometimento do estado geral do paciente.
Todas as manifestações e alterações laboratoriais parecem estar
relacionado aos efeitos colaterais ocasionados pelo interferon peguilado,
associado à ribavirina. Em 2010, Rumi e cols10, observaram que o tratamento
com interferon associado à ribavirina pode causar pancitopenia, anemia grave
e hemorragias digestivas. Estes autores sugeriram que este quadro pode estar
associado ao tipo de interferon peguilado utilizado e o genótipo do HCV. Sendo
que nestas situações é indicado descontinuar o tratamento, até que haja
melhora do paciente.
No
presente
estudo,
o
tratamento
foi
eficaz,
mesmo
sendo
descontinuado na nona semana após seu início, uma vez que manteve RVS no
controle de 6 e 12 meses após a suspensão do tratamento e até o momento
apresenta-se assintomático, com concentrações normais das transaminases. A
RNM mostrou fígado de aspecto normal, sugerindo que o tratamento foi eficaz
neste paciente, tanto para o genótipo 1, como para o 2.
SUPORTE FINANCEIRO
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM e
Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq.
47
REFERÊNCIAS
1. Pavio N, Lai MMC. The hepatitis C virus persistence: how to evade the
immune system? J Biosci 2003; 28:287-304.
2. Bowen DG, Walker CM. Adaptive immune responses in acute and chornic
hepatitis C virus infection. Nature 2005; 436:946-952.
3. Houghton M, Weiner A, Han J, Kuo G, Choo QL. Molecular biology of the
hepatitis C viruses: implications for diagnosis, development and control of
viral disease. Hepatol 1991; 14:381-388.
4. Lauer GM, Walker BD. Hepatitis C virus infection. N. Engl. J. Med 2001;
345:41-52.
5. Galé-Jr M, Foy EM. Evasion of intracellular host defence by hepatitis C virus.
Nature 2005. 436:939-945.
6. Torres KL, Malheiro A, Tateno A, Lima TA, Mia LPV, Pimentel JPD, et al.
Hepatitis C vírus in blood donors, Brazil. Emerg Infect Dis 2009; 15:676-678.
7. Strauss, E. Hepatite C. Rev Soc Bras Med Trop 2001; 24:69-82.
48
4.2 ARTIGO II
Aceito para publicação na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical (Anexo 4)
Genótipos do Vírus da Hepatite C em Pacientes com Hepatite C Crônica,
Manaus, Brasil
Hepatitis C Virus in cronic hepatitis patiens, Manaus, Brasil
Ana Ruth Araújo1,2(MSc), Carlos Mauríco de Almeida1(MSc), Liziara Fraporti3,
Nadja Garcia3, Tatiane Amábili de Lima1,3, Laura Patrícia Viana Maia2,3(MSC),
Kátia Luz Torres3(PhD), Andréa Monteiro Tarragô3, Flamir Victória1(PhD), Marilu
Victória1(PhD), Adriana Tateno4(PhD), José Eduardo Levi4(PhD)SinésioTalhari1(PhD) e
Adriana Malheiro1-3(PhD).
1. Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus, AM. 2. Universidade
Federal do Amazonas, Manaus, AM. 3. Fundação de Hematologia e
Hemoterapia do Amazonas, Manaus, AM. 4. Instituto de Medicina Tropical de
São Paulo, São Paulo, SP.
Aprovado pelo CEP da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas
Endereço para correspondência: Dra. Adriana Malheiro. HEMOAM. Av.
Constantino Nery 4397 69050-002 Manaus, AM, Brasil.
Tel: 55 92 36550113
e-mail: [email protected]
Recebido para publicação em 12/08/2010
Aceito em 16/11/2010
49
RESUMO
No Estado do Amazonas os dados sobre a prevalência dos genótipos do HCV
ainda são escassos. Neste estudo foram determinados os genótipos do HCV
em 69 pacientes da FMT-AM. O RNA do HCV foi detectado pela técnica de RTPCR, utilizando-se iniciadores HC11/HC18 para a região 5’não traduzida. Dos
69 pacientes estudados, 65,2% era do sexo masculino e 34,8% do feminino. O
genótipo 1 foi o mais prevalente, seguidos dos 3 e 2. Estes dados sugerem que
Manaus é porta de entrada do vírus HCV no Estado do Amazonas.
Palavras chaves: Vírus da Hepatite C, Genotipagem, Hepatites
ABSTRACT
In Amazonas state data about the prevalence of the different genotypes of HCV
are still scarce. For the study the genotype of 69 patients HCV positive was
determined. An in-house standardized nested-PCR was used to detected HCV
RNA. Genotypes assignment was based on type-specific motifs on the
sequenced amplicons delimited by primers HC11/HC18 from the 5’ untranslated
region. Of the 69 patients studied, 65,2% were male and 34,8% were female.
We found the genotype 1, with most prevelance, followed by 3 and 02. These
data suggesting that Manaus is the point of arrival of HCV in the Amazon state.
Key words: HCV and genotypes
A infecção pelo Vírus da Hepatite C (HCV) está estimada em mais de
200 milhões de pessoas em todo o mundo, correspondendo a mais de 3% de
toda a população mundial 1. O HCV é o único representante do gênero
Hepacivirus, incluído na família Flaviviridae. É um pequeno vírus com cerca de
30 a 60 nm de diâmetro e apresenta um genoma de RNA linear com hélice
única e positiva, cuja organização assemelha-se a outros flavivírus, como o
vírus do dengue 2.
Seu genoma contém 9400 nucleotídeos, possuindo uma única fase de
leitura aberta (open reading frame), que codifica uma poliproteína de pouco
50
mais de 3000 aminoácidos, contendo uma região estrutural e uma nãoestrutural 3. Estas regiões são clivadas por proteases, liberando as proteínas
estruturais e não estruturais do vírus. A região estrutural localiza-se na porção
aminoterminal, codificando a proteína core do nucleocapsídeo viral (proteína C,
com cerca de 19 kD) e as glicoproteínas E1 (gp33) e E2 (gp72), constituintes
do envelope viral 2. Esta região do genoma representa a sequência mais
altamente conservada, sugerindo um papel regulador durante a replicação
viral2. As proteínas não estruturais NS2, NS3, NS4A, NSB, NS5A e NS5B
representam a extremidade carboxiterminal do genoma viral 4.
Os genótipos do HCV são determinados pelo sequenciamento de
nucleotídeos do genoma inteiro seguido por uma composição da árvore
filogenética. Este é atualmente o padrão-ouro para a detecção e identificação
dos diferentes genótipos do HCV. Outros métodos de genotipagem são
baseados em técnicas sorológicas e moleculares. A reação da polimerase
(PCR) com métodos de genotipagem incluem o uso de primers para
amplificação, análise de hibridização reversa, usando sondas específicas para
uma região do HCV e por análises da técnica de “restriction fragment length
polymorphism” (RFLP) 5.
Até o momento foram identificados 6 genótipos de HCV, distintos mas
relacionados,
além
de
múltiplos
subtipos,
por
meio
de
correlações
moleculares3: 1a, 1b, 2a, 2b, 3, 4, 5 e 6. A determinação do genótipo
relacionado a cada indivíduo é importante por apresentar valor preditivo em
termos de resposta à terapia antiviral, com melhor resposta associada aos
genótipos 2 e 3 do que ao genótipo 1 3.
Basicamente, o tratamento da hepatite C visa deter a progressão da
doença hepática pela inibição da replicação viral 6. O protocolo terapêutico
preconizado atualmente pelo Ministério da Saúde do Brasil7 inclui a
administração de interferon alfa em associação com o antiviral ribavirina, que
potencializa o efeito do primeiro.
51
O impacto do HCV na saúde pública abrange desde a alta prevalência
na população em geral, cujos dados ainda são pontuais e escassos, até o alto
custo do tratamento das co-morbidades observadas no decorrer do curso
clínico. Observa-se, ainda, alta mortalidade na fase terminal da doença, com
frequentes hospitalizações e intercorrências de difícil manejo, especialmente
em locais de poucos recursos para assistência à saúde.
Sobre
esta
infecção, vários aspectos ainda não são conhecidos, especialmente na região
amazônica, onde faltam estudos epidemiológicos e moleculares na área. Este
trabalho visou caracterizar os genótipos do vírus da Hepatite C, em pacientes
atendidos na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas.
Foram incluídos no estudo 69 pacientes, moradores da cidade de
Manaus, portadores de hepatite C crônica, cadastrados no Ambulatório da
Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, hospital de referência em
doenças tropicais na cidade de Manaus, Amazonas. As técnicas de biologia
molecular foram realizadas no laboratório de virologia do Instituto de Medicina
Tropical de São Paulo (IMT-SP).
A extração do RNA das amostras foi
realizada a partir de 140μL de soro utilizando-se o Kit QIAamp® Viral RNA
(Qiagen, Uniscience do Brasil-SP), de acordo com as especificações do
fabricante. Para a síntese de DNA complementar (cDNA) foi realizada a reação
de Transcrição Reversa (RT), utilizando-se a enzima Transcriptase Reversa
Moloney Murine Leukemia Vírus (M-MLV) (Invitrogen
®
Brasil) que utiliza
moléculas de RNA fita simples, na presença de Random Hexamers N6
(Random primers) para sintetizar fitas de DNA e a reação foi submetida as
condições de termociclagem. Após a obtenção do cDNA, o mesmo foi
amplificado pela técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR),
utilizando-se a enzima Platinum Taq DNA Polimerase (Invitrogen® TM Life
Technologies, Carlsbad, CA, USA). Os primers foram desenhados a partir da
região conservada 5’NCR do genoma do HCV. O Produto amplificado foi
identificado por eletroforese em gel de agarose 1,5% (Agarose UltrapureTM Invitrogen Life Technologies). As amostras dos pacientes que continham RNA
do HCV no plasma foram submetidas à nova PCR que gerou um produto
amplificado de 308pb ideal para análise dos genótipos do HCV. Os genótipos
foram determinados utilizando-se iniciadores genótipos específicos nas
52
sequências delimitadas pelos iniciadores HC11/HC18 para a região 5’não
traduzida. O sequenciamento do HCV foi realizado no sequenciador ABI
PRISM TM 377 (Applied Biosystems Incorporation, Foster City, California,
EUA). O alinhamento das sequências foi realizado utilizando-se o software ABI
377-96 collection v. 2.6. A genotipagem foi feita pela edição e alinhamento das
sequências das regiões 5'NCR, utilizando o programa Sequence Navigator
v.3.4 (Applied Biosystems), em conjunto com as sequências padrão obtidas do
GenBank, (acesso on-line) no banco de dados
do Los Alamos National
Laboratory nos Estados Unidos.
As análises estatísticas foram feitas no programa GraphPad Prism
versão 4.0.
Foram incluídos no estudo 69 pacientes, sendo a maior prevalência do
sexo masculino (65,2%) em comparação ao feminino (34,8%). Sendo que a
média de idade para o sexo feminino foi 45±15,31 e para o masculino de
46±11,92, não apresentando diferença estatística significativa entre ambos os
sexos. Não foram observadas alterações significativas em relação a AST,
(48,54±36,98)
e
(54,64±33,86),
para
o
sexo
feminino
e
masculino,
respectivamente. No entanto, foram observadas alterações nas concentrações
de ALT entre ambos os sexos, quando comparado aos valores de referência.
Todos os pacientes foram reativos no teste sorológico anti-HCV e as
amostras foram submetidas a técnica de PCR para confirmação do diagnóstico
e posteriormente a determinação do genótipo viral como preconizado pelo
Ministério da Saúde. Como mostra a tabela 1, foram detectados os genótipos
1em (54,2%), 3 (25%) e 2 (20,8%) das mulheres. Para o sexo masculino
observamos, assim como para o feminino, a maior prevalência do genótipo 1
(76,1%), 3 (19,6%) e 2 (4,3%) (tabela 1).
53
Tabela 1: Distribuição dos genótipos do Vírus da Hepatite C em
pacientes com
Hepatite C crônica.
MÉDIA
SEXO
DE
GENÓTIPO
IDADE
Feminino
Masculino
34,8%
(N=24)
65,2%
(N=45)
AST
ALT
UI/mL
UI/mL
1 (54,2%)
45±15,31
2 (20,8%)
48,54±36,98 74,13±66,23
3 (25%)
1 (76,1%)
46±11,92
2 (4,3%)
54,64±33,86 100,3±100,1
3 (19,6%)
A detecção do HCV é de crucial importância para o controle da doença
em nível global, sendo que mesmo em países desenvolvidos, o número de
mortes deve continuar aumentando devido à inadequada detecção, o que
posterga o tratamento 8. Esta detecção é baseada em 2 tipos de testes: os
ensaios
sorológicos
para
detecção
de
anticorpos
específicos
(cuja
sensibilidade tem aumentado progressivamente) e os testes moleculares para
detecção de partículas virais
3
. Especialmente em relação aos testes
moleculares, a determinação da carga viral permite avaliar a evolução da
resposta terapêutica, enquanto a genotipagem prediz a resposta e influencia no
regime de tratamento escolhido 3.
O HCV é notadamente bem sucedido, produzindo uma infecção
persistente que continuará por toda a vida do indivíduo, com vastas
oportunidades de transmissão dentro da população humana, a menos que
interrompida por uma terapia baseada no uso do interferon (IFN) 9. Neste
estudo, amostras de 69 pacientes com diagnóstico de hepatite C foram
analisadas. Nesta população de estudo a maioria dos indivíduos infectados era
do sexo masculino, e encontrava-se na faixa etária acima dos 40 anos. Estes
54
dados estão de acordo aos encontrados por Torres e colaboradores, 2009
10
em doadores de sangue. Naquele estudo os autores relataram uma relação
estatística entre a viremia do HCV e a faixa entre 45-55 anos. Estes dados
sugerem que estes indivíduos foram infectados pelo HCV antes da inclusão de
exames sorológicos obrigatórios no Brasil e por se tratar de uma infecção
latente e muitas vezes silenciosa passaram a apresentar alterações do quadro
clínico mais tardiamente.
O protocolo terapêutico preconizado atualmente pelo Ministério da
Saúde do Brasil 7, inclui a administração de interferon alfa em associação com
o antiviral ribavirina, de acordo com o genótipo viral. Desta forma, é obrigatório
a genotipagem de amostras de pacientes soropositivos antes do início do
tratamento. Apesar desta obrigatoriedade, dados relacionados à prevalência do
HCV no Estado do Amazonas, ainda são escassos. Em 2005, Campiotto e
colaboradores11, em um estudo multicêntrico, descreveram que o genótipo 1
era o mais prevalente no Estado do Amazonas. No entanto, poucos indivíduos
foram analisados naquela época.
No presente estudo foi observado uma maior prevalência do genótipo 1,
seguido do 3 e 2. O Genótipo 1 é predominante em todo o mundo, e é
composto de dois subtipos principais, 1a e 1b. Além disso, tem sido
demonstrado que as taxas de crescimento destes subtipos são maiores do que
os genótipos 4 e 6. Na população de Alagoas, a prevalência do subtipo 1b
(65,2%) foi maior do que a observada em Salvador, Bahia, onde este subtipo
só ocorreu em 38,6% dos amostras positivas para o anti-HCV. No entanto, foi
muito semelhante aos resultados obtidos a partir de amostras de HCV
positivas de outros estados brasileiros, como Acre, Amazonas e Pará (Região
Norte), bem como Pernambuco, com frequências de 60% e 71% para cada
região, respectivamente 12.
Ainda, Campiotto e colaboradores (2005)
11
, demonstraram que a
frequência do genótipo 3 variou entre as diferentes regiões brasileiras, com
maior prevalência em Santa Catarina (50%) e Paraná (41,7%), Região Sul,
bem como Goiás, região Centro-oeste (37,1%), e Pernambuco (36,9%).
55
Dados semelhantes foram publicados por Torres e colaboradores em
2009. Estes autores demonstraram a maior prevalência do genótipo 1, seguido
do genótipo 3, na população de doadores de sangue do Estado do Amazonas
10
.
Estes dados corroboram com os encontrados para a população de
pacientes da Fundação de Medicina Tropical, onde observamos maior
prevalência do genótipo 1, seguido do 3.
No entanto, naquele estudo os
autores não detectaram o genótipo 2 na população de doadores de sangue.
Segundo estes autores, a distribuição geográfica demonstra os genótipos 1 e 3
em Manaus, e somente o 1, em amostras obtidas em doadores de sangue do
interior do Estado. Esta distribuição dos genótipos é semelhante ao que é
encontrada por muitas cidades brasileiras e países do Oriente e pode refletir na
via de introdução do HCV na Amazônia. O vírus foi provavelmente introduzido
na Região Amazônica por imigrantes europeus e medicamentos importados
derivados do sangue para o Brasil. Esta hipótese é corroborada pela
identificação do genótipo 3, exclusivamente, em Manaus, sugerindo que esta
cidade é o ponto de chegada do HCV e que novas cepas foram disseminadas a
partir de Manaus para o interior
11
, revisto por Torres e colaboradores
10
. Em
nosso estudo foi também detectado o genótipo 2 do HCV em pacientes
moradores de Manaus, reforçando a hipótese de que esta cidade é a porta de
entrada de diferentes genótipos do HCV e distribuição do mesmo para outras
localidades, como descrito anteriormente.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao serviço de atendimento aos pacientes da Fundação
de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus, Amazonas, Brasil. Nós também
agradecemos ao Edson da Fonseca Lira pela análise estatística e aos
pacientes pelo consentimento em participar do estudo.
SUPORTE FINANCEIRO
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM e
Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq
56
CONFLITOS DE INTERESSE
Os autores declaram que não existem conflitos de interesses.
REFERÊNCIAS
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immune system? J Biosci 2003; 28:287-304.
2. Houghton M, Weiner A, Han J, Kuo G, Choo QL. Molecular biology of the
hepatitis C viruses: implications for diagnosis, development and control
of viral disease. Hepatology 1991; 14:381-388.
3. Lauer GM, Walker BD. Hepatitis C virus infection. N. Engl. J. Med 2001;
345:41-52.
4. Sáez-Alquezar, A; Bassit, L.; Sabino, E.C. Hepatites virais. In:
Ferreira,W.A. & Ávila,S.L.M. Diagnóstico laboratorial das principais
doenças infecciosas e auto-imunes. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2001.
5. Bezzera C.S., Lima C.M.J., Vilar J.L., et al. Viral hepatitis C in a leading
brazilian Hospital: epidemiological factors and genotyping. Braz J Microb
2007; 38:656-661.
6. Strauss, E. Hepatite C. Rev Soc Bras Med Trop 2001; 24:69-82.
7. Brasil. Programa Nacional de Hepatites Virais (PNHV), 2006. Disponível
em: www.saude.gov.br/porta/saude. Acessado em 15 de fevereiro de
2010.
8. Poynard, T.; Yuen, M.F.; Ratziu, V.; Lai, C.L. Viral hepatitis C. Lancet
2003; 362(9401):2095-100.
9. Gale Jr, M. & Foy, E.M. Evasion of intracellular host defence by hepatitis
C virus. Nature 2005; 436(7053):939-45.
10. Torres KL, Malheiro A, Tateno A, Lima TA, Mia LPV, Pimentel JPD, et al.
Hepatitis C vírus in blood donors, Brazil. Emerg Infect Dis 2009; 15:676678.
57
11. Campiotto S., Pilho, J.R.R., Carrilho F.J., et al. Geografic distribution of
Hepatitis C vírus genotypes im Brazil. Braz J Med Biol Res 2005; 38(1):
41-49.
12. Gonzaga R.M., Rodart I.F., Reis M.G.,et al. Distribution Of Hepatitis C
Virus (HCV) Genotypes In Seropositive Patients In The State Of
Alagoas, Brazil. Brazilian Journal of Microbiology 2008; 39:644-647.
58
4.3 ARTIGO III
A ser submetido à revista indexada para publicação.
Efeito do tratamento com Interferon-α 2A peguilado e ribavirina na
resposta imune celular de pacientes com hepatite C crônica
Ana Ruth Araújo1,2,3, Laura Patrícia Viana Maia3,4; Tatiane Amábili de Lima1,2,4;
João Paulo Diniz Pimentel4; Lúcia de Paula3,6; Carlos Maurício de Almeida1;
Andréa Monteiro Tarragô3,4 ; Adriana Tateno5; José Eduardo Levi5; Andrea
Teixeira-Carvalho7, Olindo de Assis Martins-Filho7; Edson da Fonseca Lira4,
Kátia Luz Torres4; Sinésio Talhari1,2; Adriana Malheiro3,4.
1. Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus, AM, Brasil, 2. Universidade
do Estado do Amazonas- UEA, Manaus, AM, Brasil 3. Universidade Federal do
Amazonas, Manaus, AM, Brasil. 4. Fundação de Hematologia e Hemoterapia do
Amazonas-Hemoam, Manaus, AM, Brasil, 5. Instituto de Medicina Tropical de São
Paulo-IMT, São Paulo, SP, Brasil, 6. Fundação Alfredo da Matta – FUAM, Manaus,
AM, Brasil 7. Laboratório de Biomarcadores de Diagnóstico e Monitoração, Centro de
Pesquisas René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz, Belo Horizonte, MG, Brasil.
Endereço para correspondência:
Dra. Adriana Malheiro
Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas - HEMOAM.
Av. Constantino Nery 4397
69050-002 Manaus, AM, Brasil.
Tel: 55 92 36550113
e-mail: [email protected]
59
RESUMO
O objetivo desse trabalho descrever o perfil imunológico de pacientes com
hepatite C crônica, antes e durante o tratamento com interferon alfa 2a e
ribavirina. Foram estudados 14 pacientes com hepatite C crônica atendidos na
FMT-AM, no pré-tratamento, 4a, 12a e 24a semanas pós o início do tratamento.
O genótipo e a carga viral foram determinados por Biologia Molecular, o perfil
celular foi analisado por citometria de fluxo e as citocinas foram dosadas por
ELISA. Os dados demonstraram que 78% dos pacientes apresentavam
genótipo 1 e 22% o genótipo 3. Todos os pacientes apresentaram diminuição
da concentração de ALT na 4a semana após o tratamento. Foi observado
leucopenia após o início do tratamento que se manteve até a 24a semana.
Dentre os sintomas clínicos apresentados, destacam-se febre, astenia,
depressão e anemia. Observou-se aumento de células TCD4+ na semana 4,
com diminuição na 12a e 24a semanas após o início do tratamento. Esta
diminuição também foi observada para LTCD8+ nas semanas 12 e 24. Houve
aumento crescente da IL-12, a partir da 4a semana, se mantendo elevado nas
semanas 12 e 24. Não foram observadas diferenças estatísticas significativas
em relação a IL-4, IL-5, CXCL-8, IL-10 e IFN-γ. Observou-se aumento
significativo da expressão da molécula CD69 (marcador de ativação celular),
em linfócitos, na 4a semana, com diminuição na 12a, se mantendo baixo até a
semana 24. Houve diferenças significativas de CD69 em eosinófilos, neutrófilos
e monócitos entre as diferentes semanas. De acordo com os resultados
encontrados, sugere-se que o tratamento parece induzir a produção da IL-12
que desempenha importante papel no direcionamento da resposta imune para
o perfil Th1, induzindo aumento de células CD4+ no início do tratamento e
ativação celular. No entanto, não foi observado aumento de IFN-γ, o que
corrobora a diminuição de CD4+ e CD8+ após a 12a semana, sugerindo que
esta citocina seria importante para a manutenção deste perfil de resposta
imune.
Palavras-chaves: Hepatite C, interferon, ribavirina, reposta imune, citocinas.
60
ABSTRACT
The purpose of this study was to examine HCV genotypes and phenotypic
features of peripheral blood leukocytes and the seric levels of cytokine, before
and 4, 12 and 24 weeks after beginning of treatment with alpha 2A interferon
and ribavirin. In the present study was analized 14 patients at the Fundação de
Medicina Tropical do Amazonas. The genotypes was identify for molecular
biology and immunophenotypic analysis was performed by flow cytometry and
seric cytokines quantified by ELISA. Our findings demonstrated that 78% of the
patients had genotype 1, while 22% had genotype 3. The HCV patients
displayed of ALT concentration decreased on the 4th week of treatment. The low
levels of leukocytes was observed until the 24th week after beginning of
treatment. The most evident clinical symptoms included fever, asthenia,
depressien, and anaemia. Increased levels of LTCD4+, but not LTCD8+ on the
4th week were found, with a subsequent decrease in CD4+/CD8+ on 12th and
24th weeks after treatment begins. Increased seric concentration of IL-12 was
observed on 4th week, keeping at high level on the 12th and 24th weeks. While
low levels of IL-8, IL-10, IL-4, IL-5, and IFN-γ were observed. Enhanced
frequency of activated lymphocytes on the 4th week with reduced on the 12th
and 24th weeks are observed in the peripheral blood of HCV patients. Whereas
higher activation status of lymphocytes was found, low levels of activated innate
immunity leukocytes were observed. This results suggest that IL-12 plays an
important role in directing a immune response for Th1 profile, inducing LTCD4+
enhanced with higher activation status in this cells.
Key words: C hepatitis, interferon, ribavirin, immune response, cytokines
61
INTRODUÇÃO
A hepatite C é considerada um grave problema de saúde pública pela
alta incidência na população e por sua evolução silenciosa para doença crônica
que compromete a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes1. A
prevalência da infecção pelo HCV é estimada em torno de 3% de toda a
população mundial, ou seja, aproximadamente 170 a 210 milhões de pessoas
em todo o mundo2.
De acordo com o sistema de classificação de Simmonds (1993), o HCV
pode ser classificado em um total de seis genótipos
já descritos e
denominados de 1 a 6, e os seus correspondentes subtipos designados por
letras (1a, 1b, 1c, 2a, 2b, 2c, 3a, 3b, 4a, 5a, 6a). Os diferentes genótipos estão
associados a alguns aspectos relativos à infecção, como distribuição
geográfica, patogenia e resposta ao tratamento com IFN-α 3.
Uma vez estabelecida a infecção crônica, a possibilidade de ocorrer
eliminação espontânea do vírus é remota. Cerca de 50 a 85% dos casos de
infecção pelo HCV evoluem para a infecção crônica4, e estima-se que 20% dos
pacientes portadores crônicos de HCV desenvolverão cirrose hepática após 20
anos de doença, elevando o risco de desenvolver hepatocarcinoma5. A
velocidade com que a doença progride é variável e está relacionada a fatores
que interferem na progressão da fibrose hepática, como a idade mais avançada
ao contrair o HCV, o consumo de álcool e as co-infecções com outros vírus,
como o HIV e o HBV6. Além disso, as respostas imunes inata e adaptativa do
hospedeiro exercem papel fundamental no controle eficaz contra a infecção7.
A taxa de resposta virológica sustentada relaciona-se com a ausência de
RNA viral após 6 meses de tratamento e com a regressão da fibrose8 e oscilam
na literatura mundial entre 33% a 37%. A falha do tratamento com IFN em
erradicar a infecção é multifatorial, enquanto o sucesso terapêutico é
determinado principalmente pela eliminação de células infectadas9.
62
O interferon em formulação peguilada (peginterferon), associado à
molécula de polietilenoglicol, torna-se mais pesado, o que lhe confere meiavida mais longa, possibilitando sua administração em esquema terapêutico com
a ribavirina e apresentando maior eficácia em várias situações clínicas10
podendo gerar resposta terapêutica sustentada em torno de aproximadamente
50% dos pacientes11, 12, 13.
A infecção de células pelo HCV desencadeia rapidamente eventos
sinalizadores intracelulares, que levam à produção de IFN alfa e beta e a um
estado celular antiviral, propiciando uma barreira inicial à replicação e à
disseminação viral. Contudo, o HCV evade à resposta imune através de uma
complexa combinação de interferência na sinalização celular do hospedeiro,
modulação de funções imunológicas efetoras e variação genética contínua.
Estas estratégias permitem a persistência viral no ser humano mesmo em
pacientes imunocompetentes14,8. Assim, a interação vírus-hospedeiro pode
determinar a persistência viral, a extensão e gravidade da inflamação hepática
e, possivelmente, a hepatocarcinogênese15.
Tanto as respostas imunológicas celulares como humorais participam na
defesa do hospedeiro contra a infecção pelo HCV, com crescente
reconhecimento
do
papel
da
resposta
celular
e
das
citocinas
na
imunopatogênese da hepatite C crônica. Esta resposta celular depende da
atividade de linfócitos T citotóxicos e auxiliares (helper) e age através de
citocinas reguladoras de macrófagos, células natural killer (NK) e proteínas
celulares antivirais16.
O HCV, como muitos vírus, vem desenvolvendo maneiras de subverter
tanto a resposta imune inata quanto a resposta imune adaptativa do hospedeiro
à infecção. As proteínas do HCV parecem modular a apoptose, a esteatose,
em último estágio, a fibrose e o carcinoma hepatocelular. Além disso, o HCV
manipula o sistema imune, rompendo tanto a resposta inata quanto a
adaptativa para estabelecer a infecção persistente. Existem evidências que
durante a infecção aguda, a resposta imune celular tem um importante papel
63
no controle da replicação viral nos pacientes que subsequentemente controlam
a infecção10.
A infecção persistente é geralmente associada a fraca resposta de
células T CD4+ e CD8+ durante a fase aguda, não havendo boa explicação
sobre o porque desta resposta ser suficientemente eficaz para erradicar o vírus
nesta fase em 20% dos infectados, ou seja, naqueles que naturalmente
resolvem a infecção. Tem-se enfatizado, ainda, a importância da resposta de
células T auxiliares CD4+ tanto na expansão quanto na manutenção de células
TCD8+ HCV específicas17.
Na infecção crônica estabelecida, a resposta de células T específicas é
quantitativamente fraca, provendo apenas mínima pressão seletiva para mais
mutações de escape [8, 18]. Sun et al,( 2004), referem que cada uma destas
células T deve ter um papel específico no processo e que o
IFN-γ intra-
hepático, produzido por estas células, é central para a ação antiviral . Estes
autores relatam que os interferons, alfa e beta, sozinhos, podem não levar à
resposta viral sustentada in vivo sem desencadear uma resposta de células T
específicas contra o HCV19.
Quanto ao papel de outras células na imunidade ao HCV, o sinergismo
entre linfócitos T, células NK e células NKT parece ser importante para a
resolução da doença e, possivelmente, a eliminação viral e o dano tecidual são
causados por diferentes mecanismos celulares efetores19.
O fígado é particularmente rico em células NK, que são ativadas por
vírus hepatotrópicos como o HCV, desempenhando um papel crucial no
recrutamento de células T HCV-específicas e na indução da atividade antiviral
específica. Estas células podem eliminar hepatócitos infectados diretamente
por citólise ou indiretamente pela secreção de citocinas, que induzem um
estado antiviral nas células do hospedeiro. Assim, elas seriam importantes para
limitar a replicação viral naquele órgão, ainda que também pudessem contribuir
para o dano tecidual hepático durante a resposta imunológica20.
64
Vale ainda ressaltar que, recentemente, tem-se demonstrado que o HCV
não somente infecta hepatócitos como também as próprias células do sistema
imune, tais como linfócitos B e T, resultando em disfunção da resposta imune
àquele vírus21.
As citocinas produzidas no fígado são essenciais para defender o hospedeiro
contra a infecção pelo HCV, mas algumas delas também tem sido implicadas
na lesão hepatocelular vista na maioria dos pacientes infectados cronicamente.
Além disso, a infecção persistente perturba o equilíbrio entre citocinas
imunoestimulatórias e inibitórias, o que pode prolongar a inflamação e levar a
necrose, fibrose e doença hepática crônica [16]. Alterações no balanço das
citocinas da resposta Th1 como as interleucinas (IL-1, IL-2, IL-6, IL-12, IL-18),
fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e citocinas da resposta Th2 (IL-4) e
regulatórias (IL-10) no tecido hepático e no sangue periférico podem contribuir
para a persistência viral e lesão hepática crônica22.
Citocinas imunorregulatórias desempenham um papel crucial na
resposta do hospedeiro ao HCV. Enquanto citocinas Th1 são necessárias para
a resposta imune antiviral, as citocinas Th2 podem inibir o desenvolvimento dos
mecanismos efetores.
Na fase crônica da infecção, a resposta imune potencialmente determina
a taxa de progressão da doença tanto na limitação da replicação viral, como
também por contribuir com a imunopatologia. Finalmente, durante a terapia
combinada, a resposta imune celular pode contribuir para o sucesso ou
fracasso do tratamento23. A restauração das concentrações de citocinas
também pode contribuir para alcançar melhores resultados terapêuticos na
hepatite C crônica24.
O objetivo da terapia atual é a não detecção persistente do HCV seis
meses após o término do tratamento, com a definição da resposta virológica
sustentada (RVS). Durante esta terapia, não ocorre a negativação ou surge
recidiva, após a não detecção ou término da terapia caracterizam-se os
insucessos, não resposta (NR) e recidiva (REL). A não detecção do HCV na
65
quarta semana da terapia constitui a resposta virológica rápida (RVR),
enquanto a não-detecção na 12ª semana da terapia constitui a resposta
virológica precoce completa (RVPc), e a redução em 2log em reação à
resposta virológica precoce parcial (RVPp) 25.
Pacientes respondedores à terapia padrão exibem altas concentrações
de IFN-γ e IL-10 quando comparados aos pacientes não-respondedores. Além
disso, o equilíbrio entre a reposta Th1 e Th2 parece representar um evento
chave na evolução da infecção pelo HCV e pode representar um dos principais
efeitos da terapia com interferon e ribavirina26. Outras citocinas como IL-18, IL10 e receptores para citocinas como IL-2R (recombinante) solúvel também são
descritos em concentrações mais elevadas em portadores de hepatite C
crônica que em pessoas saudáveis e portadores assintomáticos, demonstrando
que são importantes preditores da resposta à terapia baseada em interferon27.
Apesar dos crescentes estudos da relação entre o sistema imune e a
infecção pelo HCV, além dos efeitos do tratamento sobre o sistema imune e
vice-versa, esta interação ainda não está bem compreendida. Compreender
fatores virais e do hospedeiro que influenciem na manutenção e na função de
células T HCV-específicas, fornecerá mais evidências para o desenvolvimento
de terapias imunomodulatórias e vacinas que induzam imunidade eficaz e
duradoura. Este estudo avaliou o perfil da resposta imune pré e pós a 4a, 12a e
24a semanas de tratamento com interferon-α 2a peguilado, em pacientes com
hepatite C crônica.
PACIENTES E MÉTODOS
PACIENTES
O estudo é do tipo observacional, descritivo, clínico evolutivo de uma
série de pacientes com hepatite C crônica, que avalia resposta imune celular e
humoral, pré e pós-tratamento, com interferon alfa 2a e ribavirina. Foi tomada
uma amostra não-probabilística de conveniência, constituída de pacientes de
66
ambos os sexos, acima de 18 anos, moradores na cidade de Manaus,
portadores de hepatite C crônica, atendidos no Ambulatório de Hepatites da
Fundação de Medicina Tropical do Amazonas – FMTAM. Foram incluídos no
estudo 14 pacientes, todos recrutados para o tratamento. Dentre os 14
pacientes seguidos no estudo, 8 eram do sexo masculino e 6 do sexo feminino.
Sendo que a maior concentração de positivos para o HCV está nas faixas
etárias entre 30 e 60 anos, sendo a maior prevalência entre 40 e 50 anos.
Acima de 60 anos houve apenas um infectado, assim como na faixa etária
entre 20 e 30 anos. Não houve casos com menos de 20 anos. As amostras
foram submetidas à técnica de PCR para confirmação do diagnóstico e
posteriormente a determinação do genótipo viral. Todos os pacientes foram
tratados com interferon alfa 2a (40KD), na dose de 180 µcg por via subcutânea,
semanalmente associado à ribavirina na dose de 1,0 g, por via oral,
diariamente. O acompanhamento para fins de pesquisa foi realizado até 24ª
semanas após o início do tratamento do último paciente incluído no protocolo.
Foram excluídos do estudo: gestantes (triagem com beta-HCG), pacientes com
co-infecção, detectada por meio de reação positiva para marcadores da
hepatite B (anti-HBc, HBsAg), HIV (anti-HIV-I e II), HTLV (anti-HTLV- I e II),
doença
de
Chagas
(teste
ELISA),
sífilis
(VDRL);
cirrose
hepática
descompensada; diabéticos descompensados; história de uso de drogas ilícitas
nos últimos sete anos; relato de consumo diário de bebida alcoólica; pacientes
com distúrbios psiquiátricos; renais crônicos; síndrome plurimetabólica. Os
pacientes foram submetidos à avaliação clínica mensalmente. A avaliação
laboratorial foi realizada pré e pós tratamento, sendo este realizado ao final das
semanas 4, 12 e 24 após o início do tratamento. Foram realizadas
ultrassonografia abdominal e biópsia hepática. A carga viral, o perfil bioquímico,
hematológico e celular também foram avaliados nos diferentes tempos - S0, 4ª,
12ª e 24ª semanas. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Fundação de Medicina Tropical-AM (Processo N0. 093/2007) e
todos os pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
67
Detecção do RNA do HCV e genotipagem
Amostras de soro foram estocadas a -80 C, e o RNA viral foi extraído
usando o Kit QIAamp® Viral RNA (Qiagen, Uniscience do Brasil-SP). Para a
síntese de DNA complementar (cDNA) foi realizada a reação de Transcrição
Reversa (RT), utilizando-se a enzima Transcriptase Reversa Moloney Murine
Leukemia Vírus (M-MLV) (Invitrogen ®Brasil) que utiliza moléculas de RNA fita
simples, na presença de Random Hexamers N6 (Random primers) para
sintetizar fitas de DNA e a reação foi submetida as condições de
termociclagem. Após a obtenção do cDNA, o mesmo foi amplificado pela
técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), utilizando-se a enzima
Platinum Taq DNA Polimerase (Invitrogen® TM Life Technologies, Carlsbad,
CA, USA). Os primers foram desenhados a partir da região conservada 5’NCR
do genoma do HCV. O Produto amplificado foi identificado por eletroforese em
gel de agarose 1,5% (Agarose UltrapureTM - Invitrogen Life Technologies). As
amostras dos pacientes que continham RNA do HCV no plasma foram
submetidas à nova PCR que gerou um produto amplificado de 308 pb ideal
para análise dos genótipos do HCV. Os genótipos foram determinados
utilizando-se iniciadores genótipos específicos nas sequências delimitadas
pelos
iniciadores
HC11/HC18
para
a
região
5’
não
traduzida.
O
sequenciamento do HCV foi realizado no sequenciador ABI PRISM TM 377
(Applied Biosystems Incorporation, Foster City, California, EUA). O alinhamento
das sequências foi realizado utilizando-se o software ABI 377-96 collection v.
2.6. A genotipagem foi feita pela edição e alinhamento das sequências das
regiões 5' NCR, utilizando o programa
Sequence Navigator v.3.4 (Applied
Biosystems), em conjunto com as sequências padrão obtidas do GenBank,
(acesso on-line) no banco de dados do Los Alamos National Laboratory nos
Estados Unidos. A carga viral foi determinada por meio da quantificação do
RNA viral pela técnica de amplificação de ácidos nucléicos, pelo Kit Amplicor
HCVTM Test (Roche).
68
Biópsia de fígado
Oito pacientes foram submetidos à biópsia de fígado antes do início do
tratamento. Os demais pacientes apresentavam diminuição de plaquetas,
cirrose hepática ou não aceitaram fazer a biópsia. O grau de fibrose foi
caracterizado de acordo com a classificação do Metavir, considerando
aspectos básficos: F0, sem fibrose; F1, fibrose portal sem septos; F2, fibrose
portal com pouco septo; F3, fibrose portal com muitos septos; F4, cirrose
hepática.
Dosagem de ALT no soro
O nível sérico da ALT foi determinada no soro, usando amostras
coletadas por punção venosa obtidas antes do início do tratamento, 4, 12 e 24
semanas após o início do tratamento, usando-se o teste ALT (Abbott
Laboratories,Chicago). Os valores foram apresentados em concentração.
Imunofenotipagem de leucócitos do sangue periférico por citometria de
fluxo
Coletou-se 50 µL de sangue venoso em EDTA; foram incubadas com
anticorpos monoclonais por 20 minutos à temperatura ambiente e ao abrigo da
luz. Foram avaliados: anti-CD8+ (code MHCD0801, lote 08090506, marca
CALTAG), marcados com isotiocianato de fluoresceína (FITC), anti-CD4 (code
MHCD0404, lote 23031206, marca CALTAG) marcados com ficoeritrina (PE) e
anti-CD3 (code MHCD0306, lote 60010708, marca CALTAG).
Após a marcação dos glóbulos brancos, as hemácias presentes foram:
lisadas com 2 mL de solução de lise, lavadas com 2 mL de PBS (solução
fisiológica tamponada com fosfato) e centrifugadas por 7 minutos, a 1300
rotações por minuto. Posteriormente, desprezou-se o sobrenadante por
inversão e adicionou-se 300 µL de PBS a 1% de formaldeído. A leitura foi
realizada no citômetro de fluxo FACScalibur com sistema de detecção de
quatro cores (Becton Dickinson).
69
A identificação das populações celulares de interesse foi realizada
utilizando-se o programa Cell-Quest. Primeiro identificou-se a população de
linfócitos, neutrófilos, monócitos e eosinófilos, utilizando gráficos “dot plot” onde
a população de interesse ocupa região característica após ajustes de ganhos
de seu tamanho (FSC) e granulosidade (SSC).
Após a seleção da região de interesse, foi analisada a intensidade de
fluorescência apresentada pelas células marcadas nesta região, pelo
histograma de fluorescência 1 (FL1) versus fluorescência 2 (FL2) (Figura 1B).
Após a definição das regiões, o percentual de células positivas foi
determinado utilizando-se histograma simples de análise das regiões. Os
resultados obtidos foram anexados na ficha de acompanhamento dos
pacientes, padronizada para este estudo.
Análise estatística
As análises estatísticas foram feitas usando-se o programa R e
Graphpad Prism version 5.01 (Graphpad Software, San Diego, CA, USA). A
análise dos dados foi iniciada com descrição estatística simples, sendo
utilizado o intervalo de confiança ao nível de 95%, adotando-se nível de
significância igual a 0,05 em todas as análises. A normalidade foi testada pelo
teste de Shapiro-Wilk. Após definição de quais eram os dados paramétricos e
não-paramétricos, realizaram-se os testes ANOVA com pós-teste de Tukey
para os dados paramétricos, e de Kruskal-Wallis para os dados nãoparamétricos. Para a análise de grupos pareados foram utilizados os testes de
Tukey e de Kruskal-Wallis.
70
RESULTADOS
Genótipo, carga viral, biópsia hepática, hemograma e ALT
Os genótipos do HCV foram determinados nesta população de estudo e
11 pacientes apresentavam genótipo 1 e apenas em três foi detectado o
genótipo 3. Com relação à atividade inflamatória, seis pacientes foram
classificados como A2 e dois foram A3. Em relação fibrose hepática, cinco
pacientes foram classificados como F1, um F2 e dois como F3.
A carga viral de todos os pacientes, no pré-tratamento era superior a
600.000 UI/ml. Após a quarta semana de tratamento oito pacientes
apresentaram carga viral inferior ao limite de detecção e seis tornaram-se
negativos na 12ª semana.
A figura 1 demonstra que houve diminuição significativa da hemoglobina
(A) e do hematócrito (B) na 4a,12a, 24a semanas após o tratamento, quando
comparado com o pré-tratamento (S0).
Como se pode observar na figura 1C houve redução significativa do
número de leucócitos totais na 4a, após o início do tratamento. Demonstrou-se
diferença estatisticamente significativa quando se comparou os valores da
semana do pré-tratamento com os valores das demais semanas. Observou-se
diminuição significativa das concentrações de ALT na 4a semana após o início
do tratamento que se manteve até a 24a semana (Figura 1D).
71
Figura 1: Concentração de hemoglobina (A), hematócrito (B), percentual
leucócitos totais (C) concentração de ALT (D) de pacientes com hepatite C
crônica, submetidos a tratamento com interferon alfa 2a peguilado associado
à ribavirina. As análises foram feitas antes do tratamento, 4, 12 e 24 semanas
de tratamento. *(p < 0,05)
Linfócitos TCD4+ aumentam na 4a semana após o início do tratamento,
enquanto LTCD8+, diminuem a partir da 12a semana.
Os resultados evidenciam que a subpopulação de LTCD4+ apresenta
aumento na quarta semana após o início do tratamento, voltando à
quantidades semelhante ao pré-tratamento na 12ª e 24a semanas após o início
do tratamento (figura 2-A). Por outro lado não foi observado aumento de CD8+
no início do tratamento, mas estas células aparecem diminuidas na 12a e 24a
semanas após o início do tratamento (figura 2-B).
72
Figura 2: Percentual de linfócitos TCD3+/CD4+
(A) e LTCD3+/CD8+ (B) no sangue periférico de
pacientes com hepatite C crônica, tratados com
interferon alfa 2a peguilado e ribavirina. As
análises foram feitas antes do tratamento e após
4, 12 e 24 semanas de tratamento. *(p < 0,05)
O tratamento com Interferon alpha peguilado induz aumento de IL-12, mas
não IFN- γ, IL-10, IL-4, IL-5, IL-8, IL-6 e TNF-α.
Ao analisarmos as concentrações destas citocinas observamos que a IL12, mostrou aumento progressivo entre as semanas alcançando concentrações
mais elevadas na semana 24 após o início do tratamento quando comparado
às de pré-tratamento (Figura 3- A). Paradoxalmente, com relação ao IFN-У,
73
que sustenta a resposta Th1, notou-se redução importante em suas
concentrações logo após o início do tratamento, ou seja, na 4a semana
mantendo baixas nas semanas 12 e 24 (Figura 3-B). Não foram observadas
diferenças significativas nas concentrações de IL-10, no entanto, observa-se
uma tendência ao aumento desta citocina, que atua regulando a resposta
imune, na 4ª e 12ª semanas após o início do tratamento, com redução na 24ª
semana (Figura 3-C). Para as citocinas IL-4, IL-5, CXCL-8 (figura 4 A, B e C),
assim como para a IL-6 e o TNF-α, não foram observadas diferenças
significativas entre as diferentes semanas analisadas.
74
Figura 3: Análise da concentração das citocinas IL-12,
IFN-У e IL-10 e CXCL-8 no sangue periférico de
pacientes com hepatite C crônica tratados com
interferon peguilado alfa 2a e ribavirina. As análises
foram feitas antes do tratamento e após 4, 12 e 24
semanas de tratamento.
75
Figura 4: Análise da concentração das citocinas IL-4,
IL-5 e CXCL-8 no sangue periférico de pacientes com
hepatite C crônica tratados com interferon peguilado
alfa 2a e ribavirina. As análises foram feitas antes do
tratamento e após 4, 12 e 24 semanas de tratamento.
76
Figura 5: Análise das citocinas IL-6 e TNF-α no
sangue periférico de pacientes com hepatite C
crônica, tratados com interferon peguilado alfa 2a e
ribavirina.
As
análises
foram
feitas
antes
do
tratamento e após 4, 12 e 24 semanas de tratamento.
O tratamento com interferon peguilado α-2A induz a aumento da ativação
de linfócitos e neutrófilos na 4ª semana de tratamento
Na análise das sub-populações de leucócitos ativados no sangue
periférico demonstrou-se um aumento de linfócitos CD69+ entre as semanas 0
e 4, seguindo-se com uma redução significativa entre as semanas 4 e 12, e
mantendo baixo até a semana 24 (figura 6-A). Este perfil também foi observado
77
para neutrófilos (figura 6-B). No entanto, o tratamento induziu redução da
ativação em monócitos (figura 6-C) na 4ª semana, com discreta elevação na
12ª, apresentando nova redução na 24ª semana após o início do tratamento.
Como mostra a figura (6-D) houve menor expressão de CD69 em eosinófilos, a
partir da 4ª semana, mantendo-se baixa até a 24ª semana de tratamento.
Figura 6: Percentual de leucócitos ativados, marcados com CD69, linfócitos
CD69+ (A), eosinófilos CD69+ (B), monócitos CD69+ (C) e neutrófilos
CD69+ (D) no sangue periférico de pacientes com hepatite C crônica,
tratados com interferon peguilado alfa 2a e ribavirina. As análises foram
feitas antes do tratamento e após 4, 12 e 24 semanas de tratamento. *(p <
0,05)
78
DISCUSSÃO
A terapia atual para a infecção pelo vírus da hepatite C consiste no uso de
interferon-α peguilado (IFN) associado à ribavirina, um análogo da guanosina.
O tratamento suprime a infecção viral em 70-80% dos pacientes infectados
pelos genótipos 2 e 3, e 40-50% dos pacientes infectados com genótipo 1 28.
No presente trabalho foram analisadas 14 pacientes, sendo que 78%
apresentava o genótipo 1, enquanto que 22% o 3. A terapia atual é modesta
na obtenção de RVS. Pouco mais de 50% dos portadores de infecção pelo
genótipo 1 e em torno de 80% dos infectados pelo genótipo 3 obtêm RVS 6.
Em nossa amostra de 14 pacientes, seis apresentaram resposta
virológica rápida (RVR), sendo que dentre estes, três apresentavam o genótipo
3 e outros três, o genótipo 1, ou seja, negativaram a carga viral na quarta
semana de tratamento. Os oito pacientes que não tiveram RVR apresentaram
queda superior a 2 logs na carga viral. No entanto, estes pacientes
apresentaram negativação da carga viral na 12ª semana de tratamento,
resposta
virológica
precoce
completa
(RVPc).
apresentavam o genótipo 1, tiveram recidiva 6 meses
Três
após
pacientes,
o
que
final
tratamento de 48 semanas (dados não mostrados), demonstrando
do
que o
mesmo não foi eficaz em manter a RVS nesta população, assim como
demonstrado pelo trabalho citado anteriormente6.
Considerando o importante papel das transaminases no diagnóstico da
hepatite C, as concentrações de ALT foram avaliadas no pré-tratamento, na
4ª, 12ª e 24ª semanas após o início do tratamento. Foi observado que todos os
pacientes apresentavam ALT elevada no pré-tratamento, o que demonstra
estar ocorrendo lesão hepatocitária. Após a 4ª semana do tratamento com IFN
e ribavirina observou-se uma diminuição significativa desta enzima, e se
manteve baixa até o final do tratamento. Estes dados vão de encontro com a
diminuição da carga viral, observada nestes pacientes, como citado
anteriormente 29.
79
Vários estudos avaliando os efeitos do tratamento com IFN associado à
ribavirina sobre a resposta imune tem apresentado resultados conflitantes.
Neste estudo avaliamos o efeito do tratamento sobre a resposta imune celular
e perfil da produção de citocinas na população de pacientes com hepatite C
crônica. Nossos dados demonstraram que o tratamento induziu leucopenia,
observado após a 4ª semana de tratamento que se manteve até a 24ª semana.
Estes dados são semelhantes aos encontrados por Lee et al., 2010 28. Naquele
estudo os autores relataram que o tratamento induziu uma intensa leucopenia
na população de pacientes com hepatite C crônica estudada por eles.
Os linfócitos TCD4+ reconhecem antígenos apresentados nas moléculas
MHC de classe II presentes nas APCs e células TCD8+ em MHC de classe I.
Subsequentemente linfócitos TCD4+ desempenham inúmeras funções efetoras,
incluindo ativação direta de macrófagos e linfócitos B antígeno específicos,
assim como a ativação de linfócitos TCD8+ dependentes de citocinas, e estas
células tem efeito direto na eliminação de células infectadas por mecanismos
citolíticos e não citolíticos 30.
Nossos resultados demonstraram que houve aumento de TCD4+ na
quarta semana, com redução do número destas células na 12a e 24a semanas
após o início do tratamento. Estes dados sugerem um importante papel dos
TC4+ no início da resposta imune, culminando com a diminuição da carga viral
e induzindo a RVR. Dados da literatura demonstram que na infecção
persistente pelo HCV ocorre redução substancial de células TCD4+ antígeno
específicas
31
e que em indivíduos cronicamente infectados não é comum
encontrar forte resposta de células TCD4+ de forma sustentada, o que difere
naqueles indivíduos que eliminam o vírus espontaneamente 23.
Quando se avalia o perfil de TCD8+ observa-se que houve redução
significativa no número destas células na 12a e 24a semanas após o
tratamento. Estes dados corroboram aos encontrados por Lee et al., 2010
28
.
Essa redução pode sugerir um importante papel dos linfócitos TCD8+ na fase
inicial da resolução da infecção mesmo naqueles pacientes cronicamente
infectados quando estimulados pela ação do IFN. Provavelmente o interferon
80
promova a migração destas células para o fígado, levando a redução das
mesmas na circulação periférica. Após a exposição ao vírus as células da
resposta imune são recrutadas para o fígado para o controle da replicação
viral, entretanto na maioria dos casos a infecção crônica é estabelecida. A
resposta imune nesta fase pode ter papel benéfico ou deletério ao
hospedeiro32.
O interferon aumenta a produção de citocinas Th1. O aumento da
resposta Th1 está associado ao aumento de linfócitos TCD4+, TCD8+ com
consequente redução da carga viral. As citocinas IL-12 e IFN-У tem ações de
indução de resposta Th1. No presente estudo avaliou-se o perfil de citocinas
nestes pacientes, nos diferentes tempos estudados. Não observou-se
diferenças estatísticas significativas em relação a IL-4, IL-5, CXCL-8 e IFN-γ.
No entanto, quando analisou-se o perfil da IL-12, foi observado aumento
crescente, na 4a, 12a e 24a semanas após o início do tratamento. Este fato é
interessante uma vez que a IL-12 tem importante papel no direcionamento da
resposta imune para o perfil Th1. Diferente dos dados encontrados neste
estudo, Brady et al., 2003 demonstram que o HCV subverte o sistema imune
ao induzir a produção de IL10 e inibir a produção de IL12 pelos monócitos, o
que por sua vez inibe a ativação de células dendríticas que levam à
diferenciação de células Th1
33
. Os dados encontrados por estes autores
corroboram os achados de Sarih et al., 2000, que indicam que a produção
diminuída tanto de IL12 quanto de IFN-γ pode contribuir para a persistência
viral 34.
Contrariando nossos dados, em outro estudo com 30 pacientes e 25
controles negativos, Abayali et al., 2003, observaram que as concentrações de
IL4 e IL10, estavam signicativamente elevados nos pacientes com hepatite C
crônica quando comparados aos controles
35
. Corroborando os dados do
presente estudo, os autores citados anteriormente35, não observaram
diferenças significativas em relação ao IFN-γ. Estes dados sugerem que o
aumento da IL-12 observado no presente trabalho tem importante papel na
indução da resposta Th1 e eliminação viral no início da infeção, como citado
81
anteriormente. No entanto, a ausência do IFN-γ, nestes indivíduos poderia
estar relacionado com a diminuição dos (LTCD4+/CD8+), observado na 12a e
24a semanas após o início do tratamento. As células T regulatórias antígenoespecíficas, que secretam (IL-10), contribuem para a persistência viral, e as
células mononucleares de pacientes com infecção crônica pelo HCV, secretam
IL-10, mas não IFN-gama em resposta às proteínas não estruturais do vírus 33.
Por outro lado, a resposta celular também predominantemente (Th1) exerce
papel central no controle da replicação viral 17, 36.
Além disso, dados sugerem que existe uma desregulação da população
de células TCD4+ no sangue periférico com a produção inapropriada de
citocinas aos antígenos virais contribuindo para a persistência viral e para a
doença crônica. Entretanto, os resultados de diferentes estudos são
conflitantes no que diz respeito ao predomínio de citocinas de resposta Th1 ou
Th2 que resulta na inabilidade do hospedeiro em resolver a infecção pelo
HCV18. Depois de estabelecida a infecção crônica pelo HCV, linfócitos
citotóxicos podem exercer algum controle sobre a infecção viral. Entretanto,
estes mesmos efetores são responsáveis pelo dano hepático progressivo,
característico da hepatite C crônica
31
. Leroy et al., 2003, encontraram forte
evidência do papel de células TCD8+ como efetoras de dano hepático e de sua
incapacidade de controlar a replicação viral 36.
Neste estudo observou-se aumento da frequência de ativação de
linfócitos na 4ª semana após o início do tratamento, o que corresponde ao
aumento de TCD4+ e IL-12. Estes dados sugerem que o tratamento com IFN
parece induzir aumento de IL-12 que por sua vez modula a expressão de
CD69, o marcador de ativação celular. Por outro lado, leucócitos da imunidade
inata, apresentaram menor frequência do marcador de ativação celular,
sugerindo que a infecção pelo HCV induz uma resposta vírus-específica que
pode ser potenciada pela ação do tratamento com IFN. Este parece ser um
evento importante uma vez que os resultados apresentados demonstraram
diminuição da carga viral na maioria dos pacientes na 4ª e 12ª semanas após o
82
início do tratamento. No entanto, alguns pontos ainda precisam ser melhor
elucidados para o completo entendimento dos mecanismos efetores da
resposta imune sobre o controle da infecção pelo HCV.
83
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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem os pacientes que doaram sangue para este estudo e ao
Departamento de atendimento ao paciente da Fundação de Medicina Tropical
do Amazonas, Manaus, Brasil. Este estudo recebeu suporte financeiro do
CNPq, FAPEAM, FINEP, IMT-SP, FMT-AM e HEMOAM.
CONFLITOS DE INTERESSE
Os autores declaram não haver conflitos de interesses
87
5. DISCUSSÃO
A discussão deste trabalho envolve três momentos distintos: 1) o relato de
um caso de paciente portador de dois diferentes genótipos que apresenta
resposta virológica sustentada, 2) a distribuição dos genótipos de 69 indivíduos
no estado do Amazonas e 3) a análise do perfil imunológico de pré-tratamento
e de resposta ao tratamento na quarta, décima segunda e vigésima quarta
semana.
O HCV constitui significativa causa de morbimortalidade humana, é um vírus
emergente1 do gênero Hepacivirus, incluído na família Flaviridae. Até o
momento, foram Identificados seis genótipos de HCV, distintos, mas
relacionados, além de múltiplos subtipos, por meio de correlações moleculares:
1a, 1b, 2a, 2b, 3, 4, 5 e 6. A determinação do genótipo relacionado a cada
indivíduo é importante por apresentar valor preditivo em termos de resposta à
terapia antiviral, com melhor resposta associada aos genótipos 2 e 3 do que ao
genótipo 14. Como relatado neste trabalho, observamos que o paciente
apresentava infecção por dois diferentes genótipos 1 e 2 do HCV. Este fato
explica-se porque como ocorre com todos os RNA-vírus, falta à polimerase do
HCV, uma função de leitura de prova (proof-reading function). Isto permite que,
no curso de infecção persistente, a replicação viral propensa a erros gere um
repertório de variantes virais altamente relacionadas, mas geneticamente
distintas, ou quasispécies. Esta variabilidade genética concede ao HCV um
notável potencial adaptativo, tendo sido implicado com a evasão e controle da
resposta do hospedeiro à infecção e a uma sensibilidade diferencial à terapia
com Interferon5. Além disso, trabalhos recentes do nosso grupo demonstraram
que o genótipo 1 do HCV é o de maior prevalência no Estado do Amazonas,
seguido dos genótipos 2 e 3, podendo sugerir ainda que o paciente relatado
tenha tido contato com ambos os genótipos dos vírus.
O tratamento da hepatite C visa deter a progressão da doença hepática pela
inibição da replicação viral. O protocolo terapêutico do Ministério da Saúde
preconiza a administração de interferon alfa em associação com a ribavirina,
variando o tempo de tratamento de acordo com o genótipo do HCV.
88
Considerando que o genótipo 1 tem sido descrito como o que apresenta pior
resposta à terapia, o Ministério da Saúde, preconiza, nestes casos, um
tratamento mais prolongado, com interferon peguilado.
Tem sido sistematicamente descrita uma correlação entre o genótipo
viral e a resposta terapêutica. Dados da literatura indicam que para os
genótipos 2 e 3 o IFN-α em combinação com a ribavirina são eficazes em 80%
dos casos. Tempo inferior a 12 semanas de interferon-α e ribavirina seria tão
eficaz quanto um esquema de 24 semanas8. Estes dados evidenciam que o
tratamento pode ser mais ou menos eficaz de acordo com o genótipo viral
encontrado, sendo a resposta clínica melhor com os genótipos tipos 2 e 3
quando comparada aos genótipos 1a e 1b, como exposto anteriormente.
No caso relatado neste trabalho, o tratamento foi eficaz, mesmo sendo
descontinuado na nona semana após seu início, uma vez que manteve
resposta virológica sustentada no controle de 6 e 12 meses após a suspensão
do tratamento e manteve-se assintomático, com concentrações normais das
transaminases.
A detecção do HCV é de crucial importância para o controle da doença
em nível global, sendo que mesmo em países desenvolvidos, o número de
mortes deve continuar aumentando devido à inadequada detecção, o que
posterga o tratamento 8. Esta detecção é baseada em 2 tipos de testes: os
ensaios
sorológicos
para
detecção
de
anticorpos
específicos
(cuja
sensibilidade tem aumentado progressivamente) e os testes moleculares para
detecção de partículas virais
3
. Especialmente em relação aos testes
moleculares, a determinação da carga viral permite avaliar a evolução da
resposta terapêutica, enquanto a genotipagem prediz a resposta e influencia no
regime de tratamento escolhido 3.
O HCV é notadamente bem sucedido, produzindo uma infecção
persistente que continuará por toda a vida do indivíduo, com vastas
oportunidades de transmissão dentro da população humana, a menos que
89
interrompida por uma terapia baseada no uso do interferon (IFN) 9. Neste
estudo, amostras de 69 pacientes com diagnóstico de hepatite C foram
analisadas. Nesta população de estudo a maioria dos indivíduos infectados era
do sexo masculino, e encontrava-se na faixa etária acima dos 40 anos. Estes
dados estão de acordo aos encontrados por Torres e colaboradores, 2009
10
em doadores de sangue. Naquele estudo os autores relataram uma relação
estatística entre a viremia do HCV e a faixa entre 45-55 anos. Estes dados
sugerem que estes indivíduos foram infectados pelo HCV antes da inclusão de
exames sorológicos obrigatórios no Brasil e por se tratar de uma infecção
latente e muitas vezes silenciosa passaram a apresentar alterações do quadro
clínico mais tardiamente.
O protocolo terapêutico preconizado atualmente pelo Ministério da
Saúde do Brasil 7, inclui a administração de interferon alfa em associação com
o antiviral ribavirina, de acordo com o genótipo viral. Desta forma, é obrigatório
a genotipagem de amostras de pacientes soropositivos antes do início do
tratamento. Apesar desta obrigatoriedade, dados relacionados à prevalência do
HCV no Estado do Amazonas, ainda são escassos. Em 2005, Campiotto e
colaboradores11, em um estudo multicêntrico, descreveram que o genótipo 1
era o mais prevalente no Estado do Amazonas. No entanto, poucos indivíduos
foram analisados naquela época.
Neste estudo foi observado uma maior prevalência do genótipo 1,
seguido do 3 e 2. O Genótipo 1 é predominante em todo o mundo, e é
composto de dois
subtipos
principais
- 1a e
1b.
Além disso,
tem
sido demonstrado que as taxas de crescimento destes subtipos são maiores do
que os genótipos 4 e 6. Na população de Alagoas, a prevalência do subtipo 1b
(65,2%) foi maior do que a observada em Salvador, Bahia, onde este subtipo
só ocorreu em 38,6% das amostras positivas para o anti-HCV. No entanto, foi
muito semelhante aos resultados obtidos a partir de amostras de HCV
positivas de outros estados brasileiros, como Acre, Amazonas e Pará (Região
Norte), bem como Pernambuco, com frequências de 60% e 71% para cada
região, respectivamente 12.
90
Ainda, Campiotto e colaboradores (2005)
11
, demonstraram que a
frequência do genótipo 3 variou entre as diferentes regiões brasileiras, com
maior prevalência em Santa Catarina (50%) e Paraná (41,7%), Região Sul,
bem como Goiás, região Centro-oeste (37,1%), e Pernambuco (36,9%).
Dados semelhantes foram publicados por Torres e colaboradores em
2009. Estes autores demonstraram a maior prevalência do genótipo 1, seguido
do genótipo 3, na população de doadores de sangue do Estado do Amazonas
10
.
Estes dados corroboram com os encontrados para a população de
pacientes da Fundação de Medicina Tropical, onde observamos maior
prevalência do genótipo 1, seguido do 3.
No entanto, naquele estudo os
autores não detectaram o genótipo 2 na população de doadores de sangue.
Segundo estes autores, a distribuição geográfica demonstra os genótipos 1 e 3
em Manaus, e somente o 1, em amostras obtidas em doadores de sangue do
interior do Estado. Esta distribuição dos genótipos é semelhante ao que é
encontrada por muitas cidades brasileiras e países do Oriente e pode refletir na
via de introdução do HCV na Amazônia. O vírus foi provavelmente introduzido
na Região Amazônica por imigrantes europeus e medicamentos importados
derivados do sangue para o Brasil. Esta hipótese é corroborada pela
identificação do genótipo 3, exclusivamente, em Manaus, sugerindo que esta
cidade é o ponto de chegada do HCV e que novas cepas foram disseminadas a
partir de Manaus para o interior
11
, revisto por Torres e colaboradores
10
. Em
nosso estudo foi também detectado o genótipo 2 do HCV em pacientes
moradores de Manaus, reforçando a hipótese de que esta cidade é a porta de
entrada de diferentes genótipos do HCV e distribuição do mesmo para outras
localidades, como descrito anteriormente.
A terapia atual para a infecção pelo vírus da hepatite C consiste no uso de
interferon-α peguilado (IFN) associado à ribavirina, um análogo da guanosina.
O tratamento suprime a infecção viral em 70-80% dos pacientes infectados
pelos genótipos 2 e 3, e 40-50% dos pacientes infectados com genótipo 1 28.
91
Neste trabalho foram analisados 14 pacientes, sendo que 78%
apresentava o genótipo 1, enquanto que 22% o 3. A terapia atual é modesta
na obtenção de RVS. Pouco mais de 50% dos portadores de infecção pelo
genótipo 1 e em torno de 80% dos infectados pelo genótipo 3 obtêm RVS 6.
Em nossa amostra de 14 pacientes, seis apresentaram resposta
virológica rápida (RVR), sendo que dentre estes, três apresentavam o genótipo
3 e outros três, o genótipo 1, ou seja, negativaram a carga viral na quarta
semana de tratamento. Os oito pacientes que não tiveram RVR apresentaram
queda superior a 2 logs na carga viral. No entanto, estes pacientes
apresentaram negativação da carga viral na 12ª semana de tratamento,
resposta
virológica
precoce
completa
(RVPc).
apresentavam o genótipo 1, tiveram recidiva 6 meses
Três
após
pacientes,
o
que
final
tratamento de 48 semanas (dados não mostrados), demonstrando
do
que o
mesmo não foi eficaz em manter a RVS nesta população, assim como
demonstrado pelo trabalho citado anteriormente6.
Considerando o importante papel das transaminases no diagnóstico da
hepatite C, as concentrações de ALT foram avaliadas no pré-tratamento, na 4ª,
12ª e 24ª semanas após o início do tratamento. Foi observado que todos os
pacientes apresentavam ALT elevada no pré-tratamento, o que demonstra
estar ocorrendo lesão hepatocitária. Após a 4ª semana do tratamento com IFN
e ribavirina observou-se uma diminuição significativa desta enzima, e se
manteve baixa até o final do tratamento. Estes dados vão de encontro com a
diminuição da carga viral, observada nestes pacientes, como citado
anteriormente 29.
Vários estudos avaliando os efeitos do tratamento com IFN associado à
ribavirina sobre a resposta imune têm apresentado resultados conflitantes.
Neste estudo avaliamos o efeito do tratamento sobre a resposta imune celular
e perfil da produção de citocinas na população de pacientes com hepatite C
crônica. Nossos dados demonstraram que o tratamento induziu leucopenia,
observado após a 4ª semana de tratamento que se manteve até a 24ª semana.
Estes dados são semelhantes aos encontrados por Lee et al., 2010 28. Naquele
92
estudo os autores relataram que o tratamento induziu uma intensa leucopenia
na população de pacientes com hepatite C crônica estudada por eles.
Os linfócitos TCD4+ reconhecem antígenos apresentados nas moléculas
MHC de classe II presentes nas APCs e células TCD8+ em MHC de classe I.
Subsequentemente linfócitos TCD4+ desempenham inúmeras funções efetoras,
incluindo ativação direta de macrófagos e de linfócitos B antígeno-específicos.
Assim como a ativação de linfócitos TCD8+ dependentes de citocinas, e estas
células tem efeito direto na eliminação de células infectadas por mecanismos
citolíticos e não citolíticos 30.
Nossos resultados demonstraram que houve aumento de TCD4+ na
quarta semana, com redução do número destas células na 12a e 24a semanas
após o início do tratamento. Estes dados sugerem um importante papel dos
TC4+ no início da resposta imune, culminando com a diminuição da carga viral
e induzindo a RVR. Dados da literatura demonstram que na infecção
persistente pelo HCV ocorre redução substancial de células TCD4+ antígenoespecíficas31 e que em indivíduos cronicamente infectados não é comum
encontrar forte resposta de células TCD4+ de forma sustentada, o que difere
naqueles indivíduos que eliminam o vírus espontaneamente 23.
Quando se avalia o perfil de TCD8+ observa-se que houve redução
significativa no número destas células na 12a e 24a semanas após o
tratamento. Estes dados corroboram aos encontrados por Lee et al., 2010
28
.
+
Essa redução pode sugerir um importante papel dos linfócitos TCD8 na fase
inicial da resolução da infecção mesmo naqueles pacientes cronicamente
infectados quando estimulados pela ação do IFN. Provavelmente o interferon
promova a migração destas células para o fígado, levando a redução das
mesmas na circulação periférica. Após a exposição ao vírus as células da
resposta imune são recrutadas para o fígado para o controle da replicação
viral, entretanto na maioria dos casos a infecção crônica é estabelecida. A
resposta imune nesta fase pode ter papel benéfico ou deletério ao
hospedeiro32.
93
O interferon aumenta a produção de citocinas Th1. O aumento da
resposta Th1 está associado ao aumento de linfócitos TCD4+, TCD8+ com
consequente redução da carga viral. As citocinas IL-12 e IFN-У tem ações de
indução de resposta Th1. No presente estudo avaliou-se o perfil de citocinas
nestes pacientes, nos diferentes tempos estudados. Não observou-se
diferenças estatísticas significativas em relação a IL-4, IL-5, CXCL-8 e IFN-γ.
No entanto, quando analisou-se o perfil da IL-12, foi observado aumento
crescente, na 4a, 12a e 24a semanas após o início do tratamento. Este fato é
interessante uma vez que a IL-12 tem importante papel no direcionamento da
resposta imune para o perfil Th1. Diferente dos dados encontrados neste
estudo, Brady et al., 2003 demonstram que o HCV subverte o sistema imune
ao induzir a produção de IL10 e inibir a produção de IL12 pelos monócitos, o
que por sua vez inibe a ativação de células dendríticas que levam à
diferenciação de células Th1
33
. Os dados encontrados por estes autores
corroboram os achados de Sarih et al., 2000, que indicam que a produção
diminuída tanto de IL12 quanto de IFN-γ pode contribuir para a persistência
viral 34.
Contrariando nossos dados, em outro estudo com 30 pacientes e 25
controles negativos, Abayali et al., 2003, observaram que as concentrações de
IL4 e IL10, estavam signicativamente elevados nos pacientes com hepatite C
crônica quando comparados aos controles
35
. Corroborando os dados do
presente estudo, os autores citados anteriormente35, não observaram
diferenças significativas em relação ao IFN-γ. Estes dados sugerem que o
aumento da IL-12 observado no presente trabalho tem importante papel na
indução da resposta Th1 e eliminação viral no início da infeção, como citado
anteriormente. No entanto, nestes indivíduos, a ausência do IFN-γ poderia
estar relacionada com a diminuição dos (LTCD4+/CD8+), observado na 12a e
24a semanas após o início do tratamento. As células T regulatórias antígenoespecíficas, que secretam (IL-10), contribuem para a persistência viral, e as
células mononucleares de pacientes com infecção crônica pelo HCV, secretam
IL-10, mas não IFN-gama em resposta às proteínas não estruturais do vírus
33
.
94
Por outro lado, a resposta celular também predominantemente (Th1) exerce
papel central no controle da replicação viral 17, 36.
Além disso, dados sugerem que existe uma desregulação da população
de células TCD4+ no sangue periférico com a produção inapropriada de
citocinas aos antígenos virais contribuindo para a persistência viral e para a
doença crônica. Entretanto, os resultados de diferentes estudos são
conflitantes no que diz respeito ao predomínio de citocinas de resposta Th1 ou
Th2 que resulta na inabilidade do hospedeiro em resolver a infecção pelo
HCV18. Depois de estabelecida a infecção crônica pelo HCV, linfócitos
citotóxicos podem exercer algum controle sobre a infecção viral. Entretanto,
estes mesmos efetores são responsáveis pelo dano hepático progressivo,
característico da hepatite C crônica
31
. Leroy et al., 2003, encontraram forte
+
evidência do papel de células TCD8 como efetoras de dano hepático e de sua
incapacidade de controlar a replicação viral 36.
Neste estudo observou-se aumento da frequência de ativação de
linfócitos na 4ª semana após o início do tratamento, o que corresponde ao
aumento de TCD4+ e IL-12. Estes dados sugerem que o tratamento com IFN
parece induzir aumento de IL-12 que por sua vez modula a expressão de
CD69, o marcador de ativação celular. Por outro lado, leucócitos da imunidade
inata, apresentaram menor frequência do marcador de ativação celular,
sugerindo que a infecção pelo HCV induz uma resposta vírus-específica que
pode ser potenciada pela ação do tratamento com IFN. Este parece ser um
evento importante uma vez que os resultados apresentados demonstraram
diminuição da carga viral na maioria dos pacientes na 4ª e 12ª semanas após o
início do tratamento. No entanto, alguns pontos ainda precisam ser melhor
elucidados para o completo entendimento dos mecanismos efetores da
resposta imune sobre o controle da infecção pelo HCV.
95
6. CONCLUSÕES
- O genótipo 1 foi mais prevalente que os genótipos 2 e 3 e acometeu mais o
sexo masculino que o feminino na população estudada.
- Em nosso estudo foi também detectado o genótipo 2 do HCV em pacientes
moradores de Manaus, reforçando a hipótese de que esta cidade é a porta de
entrada de diferentes genótipos do HCV e distribuição do mesmo para outras
localidades, como descrito anteriormente.
- Ocorreu redução significativa das concentrações de ALT após a 4ª semana
em todos os pacientes submetidos ao tratamento com IFN-α 2a e ribavirina.
- Obtivemos taxa de RVR de 42,8% e RVP de 57,1%, tendo 100% de
negativação da carga viral até a 12ª semana de tratamento.
- O tratamento parece induzir a produção da IL-12 que desempenha importante
papel no direcionamento da resposta imune para o perfil Th1, induzindo
aumento de células CD4+ no início do tratamento e ativação celular.
-- Não foi observado aumento de IFN-γ, corroborando a diminuição de LTCD4+
e CD8+ após a 12a semana, sugerindo que esta citocina seria importante para a
manutenção do perfil de resposta Th 1.
- A redução significativa dos linfócitos TCD8+ na 12a e 24a semanas após o
tratamento, pode sugerir um importante papel destas células naqueles
pacientes cronicamente infectados pelo HCV quando estimulados pela ação do
IFN-α.
96
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62. Sarih M, Bouchirit N, Benslimane A. Different cytokine profiles of
peripheral blood mononuclear cells from patients with persistent and selflimited hepatitis C virus infection. Immunol Lett 2000; 74(2):117-20.
63. Freeman AT, Marinos G, Ffrench RA, Lloyd AR. Immunopathogenesis of
hepatitis C vírus infection. Immunol Cell Biol 2001; 79(6) :515-36.
64. Piazzolla G, Torotorella C, Schiraldi O, Antonaci S. Relationship between
interferon-gamma, interleukine-10, and interleukine-12 production in
chronic hepatitis C and in vitro effects of interferon-alpha. J Clin Immunol
2000; 20(1):54-61.
65. Ghany MG, Strader DB, Thoma DL, Seef LB.Diagnosis, management
andtreatment of hepatitis C: an update. Hepatology 2009; 49:1335-74.
66. Persico M, Capasso M, Persico E, Svelto M, Russo R, Spano D, Crocè
L, La Mura V, Moschella F, Masutti F, Torella R, Tiribelli C, Iolascon A.
Supressor of Cytokine signaling 3 (SOCS3) expression and hepatitis C
virus-related chronic hepatitis: Insulin resistance and response to
antiviral therapy.
67. Amati L, Caradonna L, Magrone T, Mastronardi ML, Cuppone R,
Cozzolongo R et. al. Modifications of the immune responsiveness in
patients with hepatitis C virus infection following treatment with IFNalpha/ribavirin. Curr Pharm Des 2002; 8(11):981-93.
68. Jia H, Du J, Zhu S, Ma, Y, Cai H. Clinical observation of serum IL-18, IL10 and sIL-2R levels inpatients with chronic hepatitis C pré- and post
antiviral treatment. Chin Med J (Engl) 2003; 116(4):605-8.
69. Bozkaya H, Bozdayi AM, Aslan N, Turkay C, Sarioglu M, Cetinkaya H et
al. Circulating IL-2 and IL-10 in chronic active hepatitis C with respect to
the response to IFN treatment. Infection 2000; 28(5):309-13.
70. Vrolijk JM, Kwekkeboom J, Janssen HL, Hansen BE, Zondervan PE,
Osterhaus AD, Schalm SW, Haagmans BL. Pretreatment intrahepatic
CD8+ cell count correlates with virological response to antiviral therapy in
chronic hepatitis C virus infection. J Infect Dis 2003; 188(10):1528-32.
71. De Francesco R, Migliaccio G. Challenges and successes in developing
new therapies for hepatitis C. Nature 2005; 436(7053) :953-60.
102
ANEXOS
ANEXO 1
103
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PESQUISA
Conforme Resolução N° 196/1996 do CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE
TÍTULO DO PROJETO:
AVALIACÃO DO PERFIL IMUNOLÓGICO DE INDIVÍDUOS COM HEPATITE C CRÔNICA TRATADOS
COM INTERFERON ALFA E RIBAVIRINA NA FUNDAÇAO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS
Você está sendo convidado para participar de uma pesquisa clínica e laboratorial, a ser
realizado na fundação de Medicina Tropical do Amazonas em parceria com a Fundação
HEMOAM.
Você só deve participar pior livre vontade.
Leia atentamente as informações abaixo e faça qualquer pergunta que desejar, para que todos
os procedimentos desta pesquisa sejam esclarecidos.
Este estudo irá contribuir com informações sobre a resposta imune e os subtipos do vírus da hepatite C
que atingem pacientes em todo o Estado do Amazonas, com o objetivo de descrever a evolução clínica e o
sistema imunolóqico (defesas) durante o tratamento da hepatite C.
Para este estudo será coletada amostra de 20ml de sangue. Serão feitos testes para verificar a presença
do vírus e conhecer o subtipo envolvido. Alguns destes testes serão realizados na Fundação de
Hematologia e Hemoterapia do Amazonas - HEMOAM em Manaus e outros na Fundação Medicina Tropical
do Amazonas (FMT-AM), como a ultrassonografia abdominal e para HIV (o teste de HIV não será utilizado
para estudo, ele apenas faz parte da rotina de acompanhamento). A coleta do líquor será realizada por'
punção em região lombar e a coleta da saliva por um esfregaço oral.
Para as amostras sanguíneas e líquor haverá o desconforto da picada da agulha. Em 10% dos pacientes
após a coleta do liquor poderá haver dor de cabeça passageira, dor no local da coleta e dormência
transitória nas pernas. A ocorrência de lesão neurológica com a punção lombar é raríssima. A coleta de
saliva e a Ultrassonografia não são exames invasivos e não acarretarão nenhum risco a você.
A participação neste estudo não traz nenhum beneficio direto e imediato para o individuo, mas ajudará no
conhecimento, na prevenção e no acompanhamento de pessoas com hepatite C.
Os indivíduos participantes deste estudo terão, sempre que necessário, esclarecimentos de dúvidas,
acompanhamento clínico e laboratorial no que diz respeito ao HCV, podendo entrar em contato com a Dra.
Adriana Malheiro e Dr. Ian Lima Feitosa (Tel: 92-3655-0111/ 92-3656-0113/ 92-91792413). Sempre que
necessário será prestada orientação médica adequada ou encaminhamentos necessários, feitos pela
equipe médica da Fundação de Medicina Tropical.
A participação neste estudo é voluntária. Os participantes deste estudo podem retirar sua participação a
qualquer momento, sem que isso atrapalhe o seu atendimento na Fundação de Medicina Tropical.
Os dados pessoais referentes à participação dos indivíduos neste estudo permanecerão confidenciais, não
sendo divulgada a identidade dos participantes.
Para eventuais danos decorrentes da pesquisa, a equipe da Fundação de Medicina Tropical e HEMOAM
envolvida na pesquisa se propõe a atender os participantes.
104
USO DE. MATERIAL BIOLÓGICO COLETADO: O material biológico coletado (sangue periférico, líquor e
saliva), será utilizado somente para fins de pesquisa e será armazenado para estudos posteriores.
( ) Autorizo que minhas amostras possam ser armazenadas para estudos posteriores
( ) Não autorizo que minhas amostras possam ser armazenadas para estudos posteriores
CONSENTIMENTO PÓS-INFORMACÃO
Após ter recebido informações claras, eu concordo.em participar do estudo em questão.
__________________________________
(Assinatura do participante)
__________________________________
(Assinatura do pesquisador)
Manaus, _____/ _____/ _____.
_
(Impressão dactiloscópica)
105
ANEXO 2
FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO
AVALIAÇÃO PERFIL IMUNOLÓGICO DE INDIVÍDUOS COM HEPATITE C CRÔNICA
TRATADOS NA FUNDAÇAO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS
Paciente:
Prontuário:
Data do atendimento inicial:
Nasc:
/
/
/
/
Idade:
Data de retorno:
Sexo: ( )M ( )F
/
/
Nº pesquisa:
Endereço:
RG:
Órgão:
UF:
CPF:
Naturalidade:
Nacionalidade: ( )BRA ( )_______________
Profissão:
Fone:
Pai:
Mãe:
Acompanhante ou Parente:
Fone:
Mádico:
CRM/AM:
Queixa principal
Tempo de evolução
Sim Não
Sim
Assintomático
Febre
Calafrios
Perda de peso
Fadiga/astenia
Mialgia
Anorexia
Cefaléia
Náuseas / vômitos
Icterícia
História da doença atual
Sim Não
Colúria
Acolia fecal
Dor-abdominal
Diarréia
Melena
Dispepsia
Constipação
Tontura
Ansiedade
Irritabilidade
História Epidemiológica
Não
Sim
Não
Transfusão de sangue
Quando:
/
/
Cirurgia
Quando:
/
/
Procedimento médico
Quando:
/
/
Sim Não
Sim
Dif. de concentração
Labilidade emocional
Depressão
Psicose
Alt. sono e vigília
Alt. da libido
Pele seca
Queda de cabelo
Dispnéia
Artralgia
Não
Drogas injetáveis
Drogas inaláveis
Anabolizantes
Escarificações
Tatuagem
Icterícia anterior
Hist. fam. hepatite
Tungíase
Escabiose
Hemofílico
Contactante HBV
Contactante HCV
Piercing
Homossexualidade
História Patológica Pregressa
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
DST
Turberculose
Hipertensão
Anemia
Diabetes
Asma
História Social
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
106
Uso de bebidas
Fermentada
Tabagismo
Destilada
Uso diário de Álcool
> 1º cigarros/dia
Exame Físico
Estatura
Massa
IMC
PA
FC
FR
Estado Geral
Sim Não
Sim Não
Palidez
Icterícia
Desnutrição
Febre
Pele seca
Spiders >10
Ascite
Dor abdominal
Ginecomastia
Traube ocupado
Hepatomegalia
Esplenomegalia
__________ cm
___________cm
Sangramento
Torpor
AC:
AP:
Abd:
Ext:
Neurológico:
Exames
Leucograma
Plaquetas
Na
K
Ur
Cr
Glicemia
AL T/TGO
AST/TGP
BD
BI
TAP
Albumina
Anti HCV
Genótipo
Carga viral
CD4+
CD8+
IL-4
IL-5
IL-6
IL-10
IL-12
Data
Sup. Corpo.
Temp.
Sim Não
Anasarca
Perda ponderal
Edema de MMII
Eritema palmar
Hipertrofia Parotídea
Circulação Colateral
Faetor Haepaticus
Encefalopatia
107
ANEXO 3
APROVAÇÃO DO CEP
108
109
ANEXO 4
ACEITE DO SEGUNDO ARTIGO
110
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