UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - UEA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS - FMTAM MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS AVALIAÇÃO in vitro DA SENSIBILIDADE DO Plasmodium falciparum AOS ANTIMALÁRICOS, PELO ELISA COM CAPTAÇÃO DA PROTEINA 2 RICA EM HISTIDINA YONNE FRANCIS CHEHUAN MELO MANAUS 2005 ii YONNE FRANCIS CHEHUAN MELO AVALIAÇÃO in vitro DA SENSIBILIDADE DO Plasmodium falciparum AOS ANTIMALÁRICOS, PELO ELISA COM CAPTAÇÃO DA PROTEINA 2 RICA EM HISTIDINA Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientadora: Profª Dra. Maria das Graças Costa Alecrim Co-orientadores: Profª Dra. Maria das Graças Barbosa Prof º MSc. Wilson Duarte Alecrim MANAUS 2005 CHEHUAN, Yonne Francis Avaliação in vitro da sensibilidade do Plasmodium falciparum aos antimaláricos pelo ELISA pela captação da Proteína 2 Rica em Histidina / Yonne Francis Chehuan - Manaus AM; Universidade do Estado do Amazonas, 2005. 88 p. Dissertação de Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas. 1. Malária 2. P. falciparum 3. ELISA 4. Proteína Rica em Histidina 5. In vitro 6. Quinino 7. Mefloquina I. Titulo iii FOLHA DE JULGAMENTO AVALIAÇÃO in vitro DA SENSIBILIDADE DO Plasmodium falciparum AOS ANTIMALÁRICOS, PELO ELISA COM CAPTAÇÃO DA PROTEINA 2 RICA EM HISTIDINA YONNE FRANCIS CHEHUAN MELO “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas.” Banca Julgadora: ______________________________________ Profª. Maria das Graças Costa Alecrim, Dra. Presidente ______________________________________ Profª. Ivete de Araújo Roland, Dra. ______________________________________ Profª. Marinete Marins Póvoa, Dra. iv DEDICATÓRIA Aos meus pais (in memorium) Mansour Francis Chehuan e Julia Abrahim Chehuan Seus exemplos, dedicação e amor, são os meus alicerces e guia para não me desviar dos caminhos que me ensinaram como percorrer com simplicidade, ética e respeito ao próximo. Aos meus amados filhos Dessana e Tigran pela compreensão dos inúmeros momentos de ausência e sacrifício em nosso convívio diário. Ao meu esposo Henrique pelo seu carinho e estimulo sempre presente nos momentos mais árduos. Não existem palavras que expressem a gratidão e o amor que sinto por vocês. Espero ser sempre motivo de orgulho e alegria. Dedico-lhes esta conquista com gratidão. v Mais do que julgar, o importante é ensinar com amor, mostrando que sempre é possível seguir adiante. (Autor desconhecido) O mundo amazônico não poderá ficar isolado ou alheio ao desenvolvimento brasileiro e internacional, porém ele terá que se auto-sustentar em quatro parâmetros e paradigmas fundamentais: deve ser economicamente viável, ecologicamente adequado, politicamente equilibrado e socialmente justo. Prof. Samuel Benchimol vi AGRADECIMENTOS A conquista para ser plenamente vitoriosa deve ser compartilhada. Assim, com o cuidado que merece de não cometermos o descuido da omissão, reverenciamos com profunda gratidão a todas as pessoas e Instituições, indistintamente, que de maneira direta ou indireta foram agentes incentivadores para a realização desta Dissertação de Mestrado, sem os quais teria sido difícil desenvolve-la. De modo particular a: Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos. Agradeço, por Sua infinita benção em minha vida. A Profª Dra Maria das Graças Costa Alecrim pela orientação e ao Professor Wilson Duarte Alecrim pela co-orientação com os quais iniciei o aprendizado da pesquisa, pelo incentivo e apoio para a concretização deste estudo. Aos meus queridos irmãos Naylê, Neydelê, Yvone, Francis e Iman sempre presentes apoiando e incentivando a conquista da vitória independente dos obstáculos; amo todos vocês. A minha co-orientadora Profª Dra Maria das Graças Barbosa, pela orientação, apoio, confiança, estimulo e paciência para a conclusão desta jornada, tantas vezes difícil. Ao Marcus Vinícius Lacerda o meu reconhecimento e sincera gratidão pelo apoio e orientação para a conclusão deste estudo. À Gerente de Malária da FMTAM MSc Mônica Regina Farias Costa Manso, pela compreensão para a conclusão deste trabalho. À Ana Ruth Lima Arcanjo, Márcia Almeida de Araújo e Flor Ernestina Martinez amigas certas das horas incertas nesta conquista. Ao mestrando Franklin Simões Santana Filho, companheiro de lutas e ideais, muito obrigado pela amizade, apoio, solidariedade, incentivo e paciência ao longo desta trajetória. A Eva Batista Carvalho pelo incentivo amigo. À técnica Maria José Siqueira e as bolsistas Glenda Janaína de Souza Oliveira, Dácia Sarina de Azevedo Parente e Danielly de Alencar Arruda Almeida pela contribuição valiosa na execução deste estudo. Aos funcionários, Raimunda Ericilda de Araújo, Marly Marques, Rosemary Santos, Eckner Falcão e Laurendina Pereira Batalha, pelo apoio e colaboração constante. vii Aos funcionários da Gerência de Malária da FMTAM pelo convívio diário amistoso e apoio administrativo. Aos microscopistas pela contribuição no diagnóstico dos portadores de malária falciparum incluídos neste estudo. Ao Dr. Pedro Paulo Vieira,, MSc Michele de Souza Bastos e a Bioquímica Eliete Pereira de Azevedo pelo apoio durante a execução deste trabalho e colaboração na execução dos testes. Ao Gerente de Informática da FMTAM, Marco Antonio Sabóia pela competência e prestimosa colaboração prestada. A Profª Dra Marinete Marins Póvoa agradeço a amizade, o apoio, o incentivo, os ensinamentos e a oportunidade de compartilhar e aprimorar os meus conhecimentos e experiência profissional. Ao Prof Dr Álvaro Augusto Ribeiro D’Almeida Couto que concedeu gentilmente um exemplar da sua Tese de Doutorado, o meu especial agradecimento. Ao Dr. Leonardo Carvalho do Laboratório de Pesquisa em Malária da FIOCRUZ que à distância reservou espaço nos seus compromissos para compartilhar seus conhecimentos técnicos com importantes sugestões nos momentos críticos, meu agradecimento pela atenção e o apoio. À Universidade do Estado do Amazonas pela criação do Curso de Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas. Aos professores, colegas de curso e as funcionárias Maria da Conceição dos Santos Tufic e Luzanira Araújo da Silva do Curso de Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas, pelo apoio e solidariedade. À Fundação de Medicina Tropical do Amazonas pela oportunidade concedida para o aprimoramento do conhecimento. A Superintendência da Zona Franca de Manaus e Ministério da Saúde do Brasil como fontes financiadoras deste estudo. A Fundação de Apoio Institucional MURAKI, pelo suporte na compra dos insumos para a realização deste estudo. Aos amigos que à distância me acompanharam, auxiliaram e orientaram para a conclusão desta jornada, o meu reconhecimento e gratidão. A cada um dos pacientes de malária que foram imprescindíveis para o desenvolvimento deste estudo, mais que agradecimento, meu respeito. Ao Ministério da Saúde (Secretaria de Vigilância em Saúde/GerênciaTécnica de Malária) e a Organização Pan-Americana da Saúde que através RAVREDA deram suporte técnico-financeiro e confiança para o desenvolvimento deste estudo proporcionando o aprimoramento da minha formação como pesquisadora. viii RESUMO Os rápidos e progressivos mecanismos que os plasmódios desenvolvem para subterfugir aos efeitos dos quimioterápicos têm se tornado o principal agravante no controle da malária no Brasil e no mundo. A expansão da resistência do plasmódio aos antimaláricos dimensiona a magnitude e gravidade do problema, frente à limitação da ausência de uma vacina antimalárica, tornando cada vez mais importante, iminente e indispensável como fonte de dados para a vigilância de droga-resistência, o desenvolvimento e aplicação in vitro de métodos simples e confiáveis, particularmente sob condições de campo. Como parte do protocolo multicêntrico da Rede Amazônica de Vigilância da Resistência às Drogas Antimaláricas (RAVREDA), executou-se um estudo para avaliação do desempenho do método ELISA baseado na quantificação da Proteína 2 Rica em Histidina (HRP2) na estimativa da sensibilidade com isolados frescos do Plasmodium falciparum às drogas antimaláricas em análise de correlação dos resultados com os obtidos pelo método da maturação de esquizontes (microteste/OMS), em um laboratório de referência, na cidade de Manaus. Os 35 isolados frescos de P. falciparum testados com sucesso pelo ELISA HRP2 e analisados em função da concentração da inibição 50% (IC 50 ) com o intervalo de confiança 95% foram de 225,19 nM (IC95%: 182,24 – 268,14 nM) e 40,03 nM (IC95% 32,54 – 47,52 nM) ao quinino e à mefloquina, respectivamente Os resultados mostraram uma associação fortemente significante com aqueles obtidos com o teste padrão de maturação de esquizontes da Organização Mundial da Saúde (OMS) (R=0,977; p<0,001) para quinino e (R=0,946; p<0,001) para mefloquina. Com base no ponto de corte do microteste/OMS, a resistência in vitro do P. falciparum ao quinino foi de 22,8% e 42,8% à mefloquina. A aplicação deste novo método ELISA HRP2 sugere ser factível em estudos epidemiológicos do monitoramento da resistência às drogas antimaláricas, na medida em que a técnica é sensível, permite a execução de múltiplos testes simultaneamente, podendo ser adaptada facilmente às exigências de laboratórios individuais em áreas endêmicas. Palavras-chaves: Malária. P. falciparum. ELISA. Proteína Rica em Histidina. in vitro. Quinino. Mefloquina. ix ABSTRACT The Plasmodium resistance to the antimalarials is becoming the major problem for the malaria control in Brazil and worldwide. With the increase of the resistance to antimalarials, of single and reliable methods for in vitro continuous studies of the Plasmodium sensitivity to antimalarial drugs, as data source for the surveillance of drug resistance is a need. As part of the multicenter activities of the Amazon Network of Surveillance of Resistance to Antimalarial Drugs (RAVREDA), an experimental study was performed in order to evaluate the sensitivity to antimalarials using the ELISA test based on the quantification of the Histidine-rich Protein 2 (HRP2) with fresh isolates of Plasmodium falciparum, in a laboratory of reference, in the Manaus city. The 35 fresh isolates of P. falciparum tested with success disclosed inhibitory concentration at 50% (IC50) of 225.19 nM and 40.03 nM, to quinine and mefloquine, respectively. The results showed a highly significant association with those obtained with the standard test of maturation of schizonts from the World Health Organization (WHO) for quinine (R=0.977; p<0.001) and mefloquine (R=0.946; p<0.001). Based on the cut-off from the microtest/WHO, the in vitro resistance of P. falciparum to quinine was 22.8% and 42.8% to mefloquine. The use of the new method seems to be useful in epidemiological studies for the monitoring of resistance to antimalarial drugs, since the technique is sensitive, rapid and of easy execution, with the possibility of adaptation in individual laboratories in endemic areas. Key words: Malaria. P. falciparum. ELISA. Histidine-rich Protein. in vitro. Quinine. Mefloquine. x LISTA DE FIGURAS E TABELAS FIGURA 1 Quimioterapia da malária 22 FIGURA 2 Representação estrutural das quinolinas-metanóis FIGURA 3 Ciclo biológico do P. falciparum FIGURA 4 Princípio do método imunoenzimático da quantificação da 4 26 PfHRP2 41 FIGURA 5 Setores da Gerência de Malária FMTAM 45 FIGURA 6 Concentração das drogas quinino e mefloquina nas microplacas 48 FIGURA 7 Preparação do sangue e teste de sensibilidade in vitro do P. falciparum 50 FIGURA 8 Técnica ELISA PfHRP2 54 FIGURA 9 Distribuição dos pacientes segundo sexo a faixa etária 56 FIGURA 10 Distribuição dos 59 participantes do estudo por local provável de infecção 57 FIGURA 11 Distribuição dos 32 participantes do estudo por local provável de infecção no município de Manaus 58 FIGURA 12 Microteste (OMS): a) Trofozoítos pela gota espessa; b) Trofozoítos e pré-esquizontes cultura; c e d) esquizontes com três ou mais cromatinas 59 FIGURA 13 Distribuição dos resultados das culturas de P. falciparum após o período de incubação 60 FIGURA 14 Resultados dos 39 Microteste (OMS) relação de maturação de esquizontes e inibição do crescimento sob as diversas 62 concentrações do quinino FIGURA 15 Resultados dos 39 Microteste (OMS) relação de maturação de esquizontes e inibição do crescimento sob as diversas concentrações da mefloquina FIGURA 16 Resultados dos 35 Microteste (OMS) relação de maturação de 63 xi esquizontes e inibição do crescimento sob as diversas concentrações do quinino 65 FIGURA 17 Resultados dos 35 Microteste (OMS) relação de maturação de esquizontes e inibição do crescimento sob as diversas 65 concentrações da mefloquina FIGURA 18 Média do IC50 nos 35 testes concordantes da sensibilidade do P. falciparum às drogas quinino e mefloquina pelo ELISA HRP2 66 FIGURA 19 Média do IC50 nos 35 testes concordantes da sensibilidade do P. falciparum às drogas quinino e mefloquina pelo Microteste 67 (OMS) FIGURA 20 Análise de correlação do IC50 do quinino determinado pelos métodos de ELISA HRP2 e Microteste (OMS) 68 FIGURA 21 Análise de correlação do IC50 da mefloquina determinado pelos TABELA 1 métodos de ELISA HRP2 e Microteste (OMS) Classificação da resistência in vivo do P. falciparum às drogas TABELA 2 Concentrações das drogas in vitro para aos níveis 68 34 de sensibilidade/ resistência TABELA 3 Concordância dos resultados entre os métodos Microteste (OMS) e ELISA HRP2 TABELA 4 Avaliação dos 39 isolados pela (CMI%) e IC50 do 61 P. falciparum ao quinino (QN) e mefloquina (MF) pelo microteste (OMS) 52 64 xii LISTA DE ABREVIAÇÕES Ag-Ac Antígeno/anticorpo AP Amapá APAD Acetil Piridina Adenina Dinucleotídeo cm Centímetro CMI Concentração Mínima Inibitória CO 2 Gás Carbônico Cut-off Ponto de corte D0 Dia zero D28 Dia 28 DDT Dicloro-difenil-tricloroetano DHFR Dihidrofolato-redutase DNA Ácido desoxirribonucléico DO Densidade ótica EDTA Ácido etileno-diamino-tetracético EGCM Estratégia Global para o Controle da Malária ELISA Enzyme-linked immunosorbent FMTAM Fundação de Medicina Tropical do Amazonas FNS/ FUNASA Fundação Nacional de Saúde HRP2/ PfHRP2 Proteína 2 Rica em Histidina IC50 Concentração inibitória 50% do crescimento IC90 Concentração inibitória 90% do crescimento IC95 Intervalo de confiança 95% L Litro LDH Lactado desidrogedonase humano MF Mefloquina mg Miligrama mL mililitro MS Ministério da Saúde do Brasil N2 Nitrogênio NAD Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo NaHCO3 Bicarbonato de sódio nM Nanomolar xiii O2 Oxigênio OMS/WHO Organização Mundial de Saúde OPS/PAHO Organização Pan-Americana da Saúde P. falciparum Plasmodium falciparum P. malariae Plasmodium malariae P. ovale Plasmodium ovale P. vivax Plasmodium vivax PA Pará Pfcrt Pfdhfr Plasmodium falciparum transporter Plasmodium falciparum Pfdhps Plasmodium falciparum Pfmdr I Plasmodium falciparum multi-drug resistance gene I PIACM Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária pLDH Lactado desidrogedonase Parasito PM Peso molecular pmol Picomol PNCM Programa Nacional de Controle da Malária QN Quinino RAVREDA RI, II e III Rede Amazônica de Vigilância da Resistência às Drogas Antimaláricas Resistência in vivo tipo I, II e III RNA Ácido ribonucléico RPMI Roswell Park Memorial Institute S Sensível SP Sulfadoxina+pirimetramina SUCAM Superintendência de Campanhas de Saúde Pública SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus SVS Secretaria de Vigilância em Saúde TA Temperatura ambiente USAID United States Agency for International Development μg/mL Micrograma °C Graus Celsius µL Microlitro chloroquine resistance-related xiv SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1 1.1 ASPECTOS GERAIS 1 1.2 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS 4 1.3 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS 6 1.3.1 Vetor 6 1.3.2 Agente etiológico 6 1.3.3 Ciclo biológico do plasmódio 7 1.4 CARACTERÍSTICAS DAS DROGAS ANTIMALÁRICAS 8 1.5 RESISTÊNCIA DO P. FALCIPARUM AOS ANTIMALÁRICOS 12 1.6 HISTÓRIA DA RESISTÊNCIA DO P. FALCIPARUM 15 1.7 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMALÁRICOS 18 1.8 TESTES IN VITRO 21 2. OBJETIVOS 29 3. MATERIAL E MÉTODOS 30 3.1 MODELO DO ESTUDO 30 3.2 LOCAL DO ESTUDO 30 3.3 POPULAÇÃO ESTUDADA 30 3.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO 32 3.5 ASPECTOS ÉTICOS 32 3.6 RECURSOS FINANCEIROS 33 3.7 PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS 33 3.7.1 PLACAS PRÉ-DOSADAS DE DROGAS QUININO E MEFLOQUINA 33 3.7.2 COLETA E PREPARAÇÃO DO SANGUE 34 3.7.3 CULTURA E TESTE DE SENSIBILIDADE DO P. FALCIPARUM ÀS DROGAS ANTIMALÁRICAS (MICROTESTE/OMS) 3.7.4 TESTE IN VITRO DE SENSIBILIDADE DO PROTEINA 2 RICA ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO – ELISA QUANTIFICAÇÃO DA EM P. 35 FALCIPARUM PELA HISTIDINA (PFHRP2) PELO 38 xv 3.8 ANÁLISES ESTATISTICAS 41 4. RESULTADOS 42 4.1 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS 42 4.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS TÉCNICAS 44 4.3 COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS 46 5. DISCUSSÃO 56 5.1 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS 56 5.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS TÉCNICAS 58 5.3 COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS 59 5.4 LIMIAR DE SENSIBILIDADE/RESISTÊNCIA DO P FALCIPARUM ÀS DROGAS ANTIMALÁRICAS 5.5 AVALIAÇÃO DA QUINOLINAS-METANOIS SENSIBILIDADE DO P. FALCIPARUM ÀS DROGAS 62 64 6. CONCLUSÃO 73 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 74 8. ANEXOS 88 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 Aspectos gerais A malária apesar de ser uma doença que tem sua história intrinsecamente relacionada com a própria história da humanidade, continua sendo ainda hoje um grande obstáculo ao desenvolvimento socioeconômico e político nos países tropicais e subtropicais, não obstante os resultados alcançados pelos programas de controle que reduziram sua extensão geográfica ou sua incidência em muitas áreas (PAHO/WHO, 1997). Segundo Bruce-Chwatt (1985), o número expressivo de baixas provocadas pela malária durante a Primeira Guerra Mundial motivou principalmente na Europa o desenvolvimento de pesquisas que objetivavam encontrar medidas eficazes para o combate e controle da doença, que teve na cloroquina e no DDT (dicloro-difeniltricloroetano) importantes resultados. Em 1955, a Organização Mundial de Saúde (OMS), diante dos resultados promissores, elaborou um conjunto de medidas visando à erradicação da malária no mundo (NAJERA, 1989). Todavia, ao longo das últimas décadas, a malária vem reaparecendo ou se intensificando em regiões no mundo, conseqüência do surgimento e dispersão de parasitos resistentes às drogas antimaláricas e de mosquitos resistentes aos inseticidas, associados à desestruturação dos programas de controle da malária resultado das dificuldades sociais, políticas e econômicas (TRIGG e KONDRACHINE, 1998; GREENWOOD e MUTABINGWA, 2002). A doença foi erradicada da Europa e América do Norte, contudo permanece como grave problema de Saúde Pública nos países em desenvolvimento pelos 2 fatores condicionantes e determinantes relacionados à população suscetível, ao agente etiológico e ao vetor, associados às condições ecológicas, geográficas, econômicas, sociais e culturais. A mais recente intervenção para o controle da malária no Brasil foi em 2000, com a implantação do Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária (PIACM) na Região Amazônica, pelo Ministério da Saúde (MS), em parceria com estados e municípios com os objetivos de reduzir a incidência, evitar o surgimento de epidemias localizadas, reduzir a gravidade da doença e, conseqüentemente, o número de internações e óbitos. Dentre outras, as estratégias estavam centradas nos seguintes pontos: a) estruturação dos sistemas locais de saúde; b) diagnóstico e tratamento precoce; c) intervenções seletivas para o controle vetorial; d) aprimoramento e agilização do sistema de informação; e) detecção imediata de epidemias; f) capacitação de recursos humanos; g) monitoramento da resistência às drogas e inseticidas (BRASIL/MS/SVS, 2005). Empenhado em estabelecer uma política permanente para a prevenção e o controle dessa endemia, e consolidar o processo de descentralização, inclusive na região extra-amazônica, o Ministério da Saúde editou, em 2003, o Programa Nacional de Controle da Malária (PNCM) pactuado com os governos estaduais e municipais, em parceria com a sociedade organizada, a fim de executar as atividades necessárias ao controle da doença, dando continuidade aos avanços já proporcionados pelo PIACM (BRASIL/MS/SVS, 2003). Em 2001, foi criado a Rede Amazônica de Vigilância da Resistência às Drogas Antimaláricas (RAVREDA), para subsidiar a política de medicamentos, com 3 a execução de um sistema de vigilância de fármaco-resistência aos antimaláricos em toda Região Amazônica, com propósito de efetivar as ações de controle. Fazem parte da rede amazônica os oito países que compõem a Bacia Amazônica Sul Americana. O Projeto é coordenado pela Organização Pan-americana da Saúde (OPS) e OMS, apoiado com recurso da United States Agency for International Development (USAID). No Brasil, a gestão e gerenciamento da RAVREDA pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, com a participação dos Centros Colaboradores instalados em sete dos nove, estados da Amazônia Legal (divisão política do território nacional que engloba os Estados: Amazonas, Pará, Acre, Roraima, Rondônia, Amapá, Tocantins e Maranhão), estão realizando estudos de resposta terapêutica dos esquemas de primeira linha preconizados pelo PNCM/MS de adesão do paciente ao tratamento para malária, controle de qualidade dos medicamentos, sensibilidade e estabilidade de testes de diagnostico rápido e estudos in vitro de avaliação da suscetibilidade aos antimaláricos (MANGABEIRA e MONTOYA, 2004; BRASIL/MS/SVS, 2005). A resistência do plasmódio às drogas antimaláricas tem se tornado o principal agravante no controle da malária no Brasil e no mundo. Os rápidos e progressivos mecanismos que os plasmódios desenvolvem para subterfugir aos efeitos dos quimioterápicos dimensionam a magnitude e gravidade do problema. Frente à limitação da ausência de uma vacina antimalárica, o controle da malária depende quase exclusivamente da quimioterapia que é ofertada gratuitamente à população e do controle de vetores. 4 1.2 Aspectos Epidemiológicos A malária configura-se como a antropozoonose de maior prevalência no mundo. A doença é endêmica em 107 países, com aproximadamente 3,2 bilhões de pessoas expostas ao risco de infecção. Nas Américas, cerca de 36% da população vivem em áreas favoráveis à transmissão da doença. Estima-se que anualmente entre 350 a 500 milhões pessoas adquirem malária com mais de um milhão de mortes no mundo, principalmente crianças, ao lado das infecções respiratórias e diarréicas, figura como uma das principais causas de mortalidade no mundo. Na África sub-Saárica são registrados 60% de todos os casos de malária do mundo, o restante está distribuído por regiões da Ásia, América do Sul e Oceania (PAHO/WHO, 2001; TAYLOR-ROBINSON, 2002; WHO, 2002a; OMS e UNICEF, 2005a). Em 2002, o Brasil contribuiu com aproximadamente 40% do número total dos casos de malária nas Américas. Mais de 99% dos casos diagnosticados pelo exame parasitoscópico ocorreram na Amazônia Legal, onde residem cerca de 12% da população de país. Destacaram-se pela intensidade de transmissão os Estados do Pará, Amazonas e Rondônia, responsáveis por 88% dos casos relatados (OMS e UNICEF, 2005a). No Brasil, no início da década de 70, a malária apresentava sinais de controle, com 66.689 casos registrados em 1974. A partir de 1975, houve um aumento progressivo, registrando-se em 1989 577.520 casos (BRASIL/MS/SUCAM, 1989). Comparando os 459.013 casos notificados na Amazônia Legal no ano de 5 2004, em relação aos 635.646 em 1999; observa-se resultado positivo com uma redução da doença, atribuída à política de intensificação das ações do controle da malária do Ministério da Saúde em parceria com estados e municípios (BRASIL/MS/SVS, 2005). A elevação da ocorrência da doença nas décadas de 70 e 80 no Brasil estava relacionada a diversos fatores, com uma forte influência do movimento migratório movido por projetos desenvolvimentistas na ocupação de grandes espaços da Amazônia. Destacam-se as grandes invasões nas áreas periurbanas das cidades de Manaus e Porto Velho, ocasionando uma ocupação espacial desordenada, e ainda associada às alterações ambientais com a construção de estradas e hidrelétricas, extração de madeira e minérios, assim como as precárias condições de infraestrutura e socioeconômicas da população migrante não imune (MARQUES e PINHEIRO, 1982; SAWYER, 1986; TAUIL, 1986; BRASIL/FUNASA, 2000). O ecossistema característico da Amazônia, com alto índice pluviométrico, uma ampla malha hídrica e a densa vegetação, aliados aos fatores sociais e ambientais citados, favorecem a proliferação do vetor e a exposição de grande quantidade de pessoas à doença. No Estado do Amazonas, a malária tem se comportado com períodos variáveis e nos últimos anos, ascendente, com 70.223 casos diagnosticados em 2002 e 140.642 casos em 2003, representando um acréscimo de 100% em relação ao ano anterior e continuando a aumentar em 2004, com 146.296 casos e 100.567 6 até junho de 2005, com um aumento de 35,7% comparado ao mesmo período do ano anterior (BRASIL/MS/SVS, 2005; FMTAM, 2005). É importante considerar no agravamento progressivo da malária como problema de Saúde Pública os seguintes fatores: a) resistência do vetor aos inseticidas; b) hospedeiro; c) parasitos; d) meio ambiente; e) quimioterapia antimalárica. Os notáveis avanços científicos nas áreas do diagnóstico, tratamento, fisiopatologia, imunologia, biologia molecular e inúmera constatações epidemiológicas não refletiram um melhor paralelo com o controle da endemia ao longo desses anos (WONGSRICHANALAI et al., 2002; RIGBY et al., 2002). 1.3 Características Clínicas e Epidemiológicas 1.3.1 Vetor - Os transmissores da malária aos mamíferos são insetos da ordem dos dípteros, da família Culicidae do gênero Anopheles. No Brasil, as espécies de vetores em potencial são: A. darlingi, A. aquasalis, espécies do complexo A. albitarsis, A. cruzii e A. bellator. O A. darlingi destaca-se pela sua importância epidemiológica, particularmente na região da Amazônia Brasileira, pelo seu hábito antropofílico e endofílico, e a elevada suscetibilidade à infecção plasmodial (TADEI e DURATY THATCHER, 2000; BRASIL/MS/FUNASA, 2002). 1.3.2 Agente etiológico - Os parasitos causadores da malária fazem parte do Filo Apicomplexa, Ordem Eucoccidiidae, Subordem Haemosporinae, Família Plasmodiidae, Gênero Plasmodium. 7 A malária humana é causada por uma ou mais das quatro espécies de protozoários esporozoários intracelulares do gênero Plasmodium. Segundo Garnham e Duggan (1986) essas espécies são: Plasmodium malariae (Laveran, 1881), Plasmodium vivax (Grassi e Feletti, 1890), Plasmodium falciparum, (Welch, 1897) e Plasmodium ovale (Stephens, 1922). No Brasil, destaca-se com maior importância epidemiológica o P. vivax e o P. falciparum. Embora com baixa letalidade, o P. vivax constitui importante causa de morbidade e é responsável por grande número de recaídas nas regiões endêmicas. O P. falciparum é a espécie responsável pela maioria dos casos graves e óbitos, além de desenvolver com maior freqüência resistência às drogas usadas no tratamento da malária (WHO, 2001b; BANNISTER e MITCHELL, 2003). 1.3.3 Ciclo biológico do plasmódio - O ciclo evolutivo dos plasmódios da malária se caracteriza por apresentar duas fases distintas de reprodução: a) Sexuada do tipo esporogonia, que se passa no hospedeiro invertebrado – ocorre na fêmea do mosquito anofelino após o repasto sangüíneo; os eventuais gametas existentes no estômago do mosquito se unem formando o ovo ou o zigoto e, por esporogonia, formam-se os esporozoítos, que são inoculados por hematofagia no homem. b) Assexuada do tipo esquizogonia, que ocorre no hospedeiro vertebrado – o homem - inicia quando esporozoítos infectantes são inoculados no homem pelo vetor; após um curto período na circulação sangüínea (30-60 minutos), alojam-se nos hepatócitos onde, por esquizogonia tissular, formam merozoítos, que são lançados na circulação e vão invadir os eritrócitos; reproduz-se por esquizogonia, formando novos merozoítos e, por ruptura das células sangüíneas, ao final do ciclo, 8 se libertam para em seguida invadir novos eritrócitos, reiniciando o ciclo. Depois de algumas gerações de merozoítos sangüíneos, algumas formas se diferenciam em estágios sexuados (os gametócitos) que não mais se dividem e continuarão os seus desenvolvimentos nos mosquitos vetores. A esquizogonia sangüínea se repete em intervalos regulares para cada espécie: a cada 48 horas, nas infecções pelo P. falciparum e P. vivax, e a cada 72 horas nas infecções por P. malariae (NEVES, 1979; SOUZA et al., 1997). 1.4 Características das Drogas Antimaláricas A eficácia de um agente terapêutico no tratamento da malária depende da interação de três fatores: humano (imunidade), do parasito (resistência à droga) e da farmacocinética (variação individual). A quimioterapia adequada e oportuna da malária é hoje fundamental no controle da doença. Tão importante quanto é o conhecimento das características químicas e farmacológicas dos antimaláricos é o entendimento das propriedades farmacocinéticas, eficácia, grau de tolerância e a capacidade de induzir os efeitos tóxicos do parasito (PAGE et al., 1999) (Figura 1). Farmacocinética Farmacogenética (Efeitos adversos) Imunidade Humano (DNA) Parasito (DNA) Droga Farmacodinâmica (Resistência à droga) Figura 1: Quimioterapia da malária 9 Os antimaláricos podem ser classificados de acordo com as características químicas, farmacológicas, locais de ação no ciclo biológico do parasito, entre outras. Dois grandes grupos de drogas têm sido muito utilizados no tratamento da malária: os alcalóides, que são substâncias encontradas em alguns grupos vegetais, em geral nitrogenados, heterocíclicos, com pronunciada ação sobre os animais, e os antifolatos que agem sobre a síntese do DNA, representados pelos inibidores da dihidrofolato-redutase (DHFR) e as sulfas. As drogas antimaláricas podem ser classificadas pelo grupo químico e de acordo com o local de ação no ciclo do parasito (RANG e DALE, 1993; PAGE et al., 1999; BRASIL/MS/FNS, 2001) e os principais em uso são: 4-aminoquinolinas (cloroquina e amodiaquina) – o complexo mecanismo de ação envolve a fragmentação do RNA do parasito e é capaz de se intercalar no DNA. Atua por concentrar-se nos lisossomos dos parasitos, inibindo a digestão da hemoglobina, reduzindo o suprimento de aminoácidos necessários para a viabilidade do parasito. 8-aminoquinolinas (primaquina) – agem inibindo a respiração mitocondrial do parasito; são particularmente ativas contra as fases estacionárias (sem crescimento) do parasito. Peróxido de lactona sesquiterpênica (derivados de artemisinina) – são os princípios ativos de um tradicional medicamento chinês para o tratamento da malária – a erva quinghao. O composto ativo foi isolado e caracterizado em 1971. A artemisinina e seus derivados possuem uma configuração peróxido (trioxano), responsável pela ação no metabolismo das proteínas. 10 Antibióticos (tetraciclina, doxiciclina e clindamicina) – possuem uma ação marcante, porém lenta, sobre os estágios eritrocitários da malária. São agentes inibidores da síntese de proteínas ribossômicas. Arilaminoálcoois (quinino, mefloquina, e halofantrina) - os metanóis da quinolina e o fenantreno metanol são esquizonticidas sangüíneos eficazes nos estágios sangüíneos do parasito da malária envolvidos na digestão da hemoglobina. As duas quinolina-metanóis mais usadas são: o quinino e a mefloquina (Figura 2). CH=CH2 NH N CHOH CHOH CH3O CF3 N N CF3 Quinino Mefloquin Figura 2: Representação estrutural das Quinolinas-metanóis A porção quinolina é representada em cor laranja O quinino é o principal alcalóide derivado da casca da cinchona, também conhecida como casca peruana; as propriedades dessa planta foram reconhecidas em 1630 na América do Sul (TRACY e WEBSTER Jr., 1996). O mecanismo de ação 11 como antimalárico não é bem conhecido, mas, como a cloroquina, sabe-se que inibe a polimerização da hemina tóxica em hemozoína (pigmento malárico), esse grupo heme quando livre é tóxico para o parasito, e acredita-se que seja inserida no DNA. A droga é eficaz esquizonticida de ação contra cepas de P. falciparum. A mefloquina é um composto quinolina-metanol, quimicamente relacionada ao quinino e como tal, também se liga ao pigmento malárico (hemozoína), mas ao contrário deste (quinino), não se insere no DNA. É um esquizonticida sangüíneo de ação prolongada (até 30 dias), eficaz contra todas as espécies de malária, incluindo parasitos P. falciparum multi-resistentes. As pressões seletivas das drogas antimaláricas são geralmente classificadas em termos de ação contra os diferentes estágios do ciclo do parasito (Figura 3): Esquizonticidas teciduais ou hipnozoiticidas - atuam nas formas exoeritróciticas no fígado, destruindo os hipnozoítas latentes de P. vivax e P. ovale. Esquizonticidas sangüíneos - atacam os parasitos nas células sangüíneas, prevenindo ou terminando a crise clínica. Gametocitocidas - destroem as formas sexuadas do parasito (gametócitos) no sangue, impedindo a transmissão. Esporontocidas - interrompem o desenvolvimento da fase esporogônica nos mosquitos que se alimentaram de portadores de gametócitos, de modo que os mosquitos não conseguem transmitir a infecção. Até o momento não existe nenhuma droga desse grupo disponível para uso em humanos. 12 DROGAS ESQUIZONTICIDAS TECIDUAIS: 8-aminoquinolinas Inibidores de folato Inoculação dos esporozoítas pelo Anopheles MOSQUITO TROFOZOÍTOS DROGAS ESQUIZONTICIDAS SANGÜÍNEAS: Artemisinina Quinolinas Inibidores de folato GAMETÓCITOS DROGAS GAMETOCITOCIDAS 8-aminoquinolinas Figura 3: Ação dos antimaláricos no ciclo biológico do P. falciparum 1.5 Resistência do P. falciparum aos antimaláricos O início da resistência do plasmódio falciparum à cloroquina marcou um capítulo novo na história da malária. A cloroquina foi sintetizada 1934 e representou nas últimas quatro décadas a droga mais importante no tratamento da malária (RIDLEY, 1998). É o antimalárico mais amplamente prescrito nos trópicos, entretanto, o seu uso atualmente não é 13 recomendado para o tratamento das infecções pelo P. falciparum, em razão do elevado nível de resistência em vários países (FOOTE et al., 1990; TRIGG e KONDRACHINE, 1998; BRAY et al., 1998), conduzindo ao aumento significativo da taxa de mortalidade (THIMASARN, 1999). Apesar da alta prevalência da resistência do parasito à cloroquina, essa droga ainda permanece como uma das mais importantes para o tratamento da malária pelo P. falciparum em muitas regiões da África (KYLE et al., 2002), embora exista a necessidade de antimaláricos alternativos. A rápida propagação mundial da malária falciparum resistente à cloroquina levou em 1973, finalmente, à substituição dessa droga pela combinação de sulfadoxina+pirimetramina (SP) como esquema de tratamento de primeira escolha. O problema da resistência tornou-se ainda mais grave pela crescente prevalência de resistência do parasito às associações de drogas. Nos anos 80 a mefloquina se tornou à droga de escolha em áreas onde as 4-aminoquinolinas e os antifolatos não eram mais suficientemente efetivos (WERNSDORFER, 1998). O desenvolvimento rápido da resistência à mefloquina (WONGSRICHANALAI et al. 1992a) conduziu, na metade da década de 90, à introdução da artemisinina e seus derivados, tendo o combate à malária assumido novas perspectivas. De fato, esta droga propicia um rápido clareamento parasitário, com boa evolução clínica do paciente. Suas propriedades têm levado ao uso indiscriminado da droga, o que gerou opiniões consensuais sobre o possível desenvolvimento de resistência, especialmente quando ingeridos por via oral (WHO, 1998). 14 Desde a adaptação da Estratégia Global para o Controle da Malária (EGCM) no ano de 1992, em Amsterdã, o Brasil e outros países seguiram a recomendação da OMS, transformando o antigo programa de erradicação em programa de controle da malária, re-direcionando objetivos, metodologia e estratégias. Vários problemas de ordem administrativos, financeiros e técnicos (esses representados principalmente pela resistência dos plasmódios aos antimaláricos) contribuíram para que os programas de erradicação ou controle no Brasil não atingissem seus objetivos finais (ANDRADE et al., 1992; HAWLEY et al., 1998; HEPPNER e BALLOU, 1998; BRASIL/FUNASA, 2000). A resistência do P. falciparum às drogas antimaláricas emergiu como um dos maiores desafios a ser enfrentado para o controle de malária, com implicações no aumento da mortalidade nas áreas hiper e holoendêmicas (HOWELLS, 1992; TRAPE et al., 2002) e contribuiu para o aparecimento e ampliação de novos focos de malária falciparum, mas acima de tudo foi identificado como um fator no contingenciamento econômico do controle da malária (BLOLAND, 2001). Diferentes mecanismos podem modificar o padrão de sensibilidade de vários organismos às drogas (BEALE, 1980). No caso particular do P. falciparum, o aparecimento da resistência, atribuído em primeiro lugar à ocorrência de mutações gênicas espontâneas (embora não exista ainda comprovação científica demonstrando que os antimaláricos utilizados rotineiramente exerçam efeitos mutagênicos sobre os plasmódios) e, em segundo lugar, à pressão seletiva desenvolvida pelos medicamentos sobre as populações de parasitos sensíveis e parasitos resistentes, independentes da dose utilizada. Assim, a resistência que 15 aparece em casos tratados com pequenas doses torna os plasmódios refratários também a altas doses da droga (WHO, 1973; ROSÁRIO, 1976, WONGSRICHANALAI et al., 2002). 1.6 História da resistência do P. falciparum Historicamente, a resistência do P. falciparum aos antimaláricos é conhecida desde o início do século passado quando Neiva (1910) e Nocht e Werner (1910) assinalaram no Brasil os primeiros insucessos no tratamento da malária com quinino. Em 1947, começaram a surgir referências ao aparecimento de plasmódios resistentes de regiões tratadas com antimaláricos sintéticos. Peters (1970) descrevem, a primeira evidência da diminuição da sensibilidade do P. falciparum à cloroquina em 1957 na Tailândia. Em 1958, Bustamante referiu que o aparecimento da resistência do P. falciparum ao quinino se tornou um sério problema à terapêutica da malária. Moore e Lanier (1961) notificaram o primeiro caso de P. falciparum cloroquina-resistente em dois pacientes procedentes de Bogotá. No mesmo ano, Young e Moore, em estudo posterior, comprovaram a resistência da cepa à cloroquina. No Brasil, no início da década de 60, foram descritos os primeiros casos de resistência à cloroquina, em pacientes com malária falciparum procedentes da região Amazônica e do Nordeste (RODRIGUES, 1961; SILVA, 1961a; 1961b; SILVA 16 et al., 1961). Ferraroni e Hayes (1979) descreveram resistência à cloroquina em índios do Estado do Amazonas. Na década de 80, Alecrim (1981, 1986), em estudos in vivo e in vitro sobre a resistência às drogas antimaláricas na Amazônia, demonstra 100% de resistência in vitro à cloroquina. Santos et al., (1987), em estudo in vitro, no período de 1983 a 1986, com cepas da Amazônia Brasileira, mostraram 83% de resistência à cloroquina, 56% e 51% ao quinino e à amodiaquina, respectivamente, e 2,3% à mefloquina. Kremsner et al., (1989a; 1989b), no Estado do Acre, em área de colonização, verificaram através de testes in vitro cepas resistentes à cloroquina (84%), amodiaquina (73%) e quinino (2,3%) e 100% de sensibilidade à mefloquina. Couto et al., (1993a), avaliando a resposta de cepas de P. falciparum em testes in vitro em sete municípios do sul do Estado do Pará em diferentes períodos, observaram resistência elevada para cloroquina (71%), relativamente baixa para amodiaquina (25,8%) e para o quinino apenas 8,2%. Para a mefloquina, apesar de não ter sido evidenciada resistência em nenhum dos isolados, os resultados demonstraram perda da sensibilidade, quando comparada a resistência em dois períodos distintos. Evidenciaram também cepas multi-resistentes em dois dos municípios estudados. 17 Wongsrichanalai et al., (1992a, 1992b), na Tailândia, no período de 1980 a 1990, identificaram a modificação do padrão de resistência do P. falciparum às drogas antimaláricas, em um estudo epidemiológico onde os dados demonstravam claramente a expansão e o aparecimento da resistência a mefloquina. Couto et al., (1995), ao realizarem os resultados análise temporal do perfil de resistência no período de 1983 a 1991, com cepas isoladas de Paragominas (PA) e Lourenço (AP), revelaram nas duas áreas uma aparente semelhança no padrão de resposta do P. falciparum, com alta prevalência de resistência à cloroquina (68,4% e 79,8%, respectivamente) flutuação, dependendo do período, para amodiaquina e quinino, e sensibilidade para mefloquina, embora descreva discreta perda de sensibilidade nas amostras coletadas no Amapá quando comparadas com as do Pará. Alin e Bjorkman (1997), na Tanzânia, em estudos in vitro com isolados de P. falciparum, mostraram alta sensibilidade à mefloquina e artemisinina. Cerutti et al., (1999b), testando a suscetibilidade do P. falciparum às drogas antimaláricas in vivo e in vitro, no Estado do Mato Grosso, constataram in vivo uma elevada sensibilidade ao quinino e à mefloquina e reportaram in vitro a resistência de 96,6% à cloroquina, 3,3% ao quinino, enquanto 100% dos isolados foram sensíveis à mefloquina. Segundo FUNASA (2000), a migração na Amazônia é um importante fator para o aumento da transmissão e disseminação de cepas multi-resistentes entre 18 localidades e Couto (2001), observou esta forte influência no estudo de caracterização das cepas de P. falciparum e monitoramento longitudinal da resistência às drogas em duas áreas da Amazônia Brasileira. Calvosa et al., (2001) relataram pela primeira vez resistência à mefloquina in vitro em cepas isoladas na parte oriental da Amazônia Brasileira, no município de Marabá, no Estado do Pará. Noeld et al., (2003c), em um estudo in vitro com cepas de P. falciparum de Bangladesh e da Tailândia, observaram altos níveis de resistência à cloroquina e acentuada para mefloquina. Os resultados demonstraram também, na maioria dos isolados, alta sensibilidade para quinino e 100% para artemisinina. Os autores concluíram que a alta prevalência da resistência do parasito à mefloquina em Bangladesh sugere a necessidade de uma ação de vigilância para verificar problemas de difusão de cepas multi-resistentes na área. 1.7 Métodos de avaliação de resistência aos antimaláricos Um importante fator limitante do sucesso no tratamento da malária é a resposta variada dos parasitos às drogas usadas. Considerando esse fato, recomenda-se que o estudo da resistência seja sistemático, como instrumento para o controle da endemia (KROGSTAD et al., 1987; SUROLIA e PADMANABAN, 1991; SANCHEZ e LANZER, 1997; VASCONCELOS et al., 2000). 19 Os estudos de eficácia terapêutica, testes in vitro e marcadores moleculares tornaram-se ferramentas que se complementam para o entendimento de uma visão global da suscetibilidade do P. falciparum às drogas antimaláricas (WHO, 2002a). O primeiro protocolo padronizado para avaliação da resposta in vivo do P. falciparum à droga foi elaborado pouco tempo depois do conhecimento sobre a resistência dessa espécie à cloroquina (WHO, 1965). Esse sistema de avaliação foi posteriormente revisado em 1967, modificado em 1972 (WHO, 1973) sendo a versão mais atual de 2001 (WHO, 2003). Esses protocolos foram editados originalmente para cloroquina, entretanto, com as modificações pertinentes, são aplicáveis também para avaliar a resposta a outros medicamentos esquizonticidas sangüíneos. Em 1973, a OMS, baseada em observações clínicas e parasitológicas, definiu como resistência à capacidade do plasmódio de sobreviver e multiplicar-se, apesar da administração e absorção de um medicamento em doses iguais ou superiores às prescritas habitualmente, observando-se os limites de tolerância dos pacientes (WHO, 1973; WERNSDORFER e PAYNE, 1988). Os estudos de seguimento da eficácia terapêutica e a resposta qualitativa ao tratamento permitem a interpretação do nível de suscetibilidade do plasmódio sem excluir o papel da imunidade inata do organismo nos pacientes com malária. O perfil de resposta dos parasitos assexuados às drogas esquizonticidas sangüíneas segue o modelo direcionado geralmente para o clareamento parasitário e a ocorrência da recrudescência dentro de um período de observação, que varia entre o início do tratamento, ou seja, dia zero (D0) num período de observação de 28 dias (D28) de 20 acordo com a classificação em sensível (S) e três níveis de resistência (RI, RII e RIII) (Tabela 1). Tabela1: Classificação da resistência in vivo do P. falciparum às drogas antimaláricas (MS/FNS, 2001) Resposta Símbolo Sinais Observados Sensibilidade S Negativação da parasitemia assexuada dentro de sete dias após o 1º dia de tratamento, sem recrudescência. RI Negativação da parasitemia assexuada como na sensibilidade, porém seguida da recrudescência. Resistência RII Redução acentuada da parasitemia assexuada, porém sem negativação. RIII Não apresenta redução acentuada da parasitemia assexuada. Nas áreas de alta transmissão da doença, os métodos de avaliação in vivo tanto de sete dias (RII) quanto o de 14 dias (RIII) só são capazes de detectar resistência em nível avançado, o que dificulta e retarda as medidas de avaliação e ações de intervenção. Além disso, casos verdadeiros de resistência da droga podem não ser identificados devido a variações da farmacocinética, re-infecção, múltiplas infecções e interferência da resposta imune adquirida (BASCO e RINGWALD, 2000). Em 2000, Basco e Ringwald propuseram estabelecer novos critérios para resistência a drogas, baseados no fracasso terapêutico, no valor alto da 21 concentração inibitória 50% (IC50), nas populações de parasitos idênticos no início e durante o tratamento, na presença de mutações associadas com a resistência da droga in vitro e em concentrações plasmáticas adequadas da droga. A vigilância da sensibilidade dos plasmódios às drogas antimaláricas se tornou mundialmente uma ação de importância extrema para a conduta terapêutica, bem como para o planejamento de políticas de controle da malária. 1.8 Testes in vitro As dificuldades associadas à avaliação da resistência às drogas antimaláricas in vivo levaram, no final dos anos 70, à introdução de uma variedade de testes in vitro capazes de medir a suscetibilidade do P. falciparum aos medicamentos. Embora as provas in vitro de sensibilidade do P. falciparum aos medicamentos antimaláricos não substituam as observações verificadas in vivo, elas constituem ferramenta útil na investigação básica que serve de suporte para a elaboração e avaliação das políticas de saúde em malária (WHO, 1990). É um importante instrumento de avaliação na estimativa da resposta temporal e geográfica aos medicamentos, na vigilância da introdução de novos isolados em uma dada região e fundamentalmente no estudo pré-clínico de uma nova droga antimalárica (WHO, 1994). O teste in vitro permite com a remoção do parasito da circulação sangüínea do paciente e sua transferência para um ambiente de laboratório altamente 22 controlável, uma avaliação mais específica da sensibilidade do parasito à droga, independentemente do sistema imune do hospedeiro, e revela com maior precisão a resistência à droga antimalárica. Esses métodos não só expressam resultados quantitativos como também determinam o fenótipo do parasito, independente da imunidade e das condições fisiopatológicas do hospedeiro (TALISUNA et al., 2004), além de oferecer a oportunidade de executar ensaios com múltiplos isolados, avaliar várias drogas simultaneamente e testar drogas experimentais (BLOLAND, 2001). Tradicionalmente os testes in vitro de sensibilidade do plasmódio às drogas são todos baseados na medida do efeito da droga no crescimento e desenvolvimento dos parasitos da malária. Tal efeito permite observar o grau de inibição do crescimento e/ou morte parasitário, refletindo o grau de suscetibilidade do parasito a um determinado fármaco e a uma determinada concentração. Inicialmente, as investigações in vitro com plasmódios de malária humana eram limitadas, principalmente pela indisponibilidade de método apropriado para a produção de biomassa parasitária suficiente para a realização das técnicas. A possibilidade de manter in vitro cepas de P. falciparum em cultura contínua (TRAGER e JENSEN, 1976) revolucionou as investigações sobre a malária humana, dando início a uma nova fase de grande importância no estudo da malária. A capacidade de cultivar o P. falciparum in vitro representou um avanço importante para a evolução de muitos estudos na bioquímica, parasitologia, imunologia e quimioterapia, além de propiciar a criopreservação de parasitos vivos, principalmente para entender a biologia dos parasitos que causam a malária 23 falciparum (DIGGS et al., 1975; TRAGER e JENSEN, 1997) e a identificação de populações de diferentes áreas geográficas (CARTER e VOLLER, 1985; ROSÁRIO et al., 1986a, 1986b). O primeiro ensaio laboratorial descrito capaz de medir a capacidade do parasito se desenvolver da fase de anel jovem para esquizonte, usando as mudanças morfológicas para o monitoramento dos antimaláricos, foi o macroteste, desenvolvido por Rieckmann et al. (1968). O método foi aplicado pela primeira vez no mundo em 1969, num estudo realizado em Cuiabá, no Brasil, com cepas cloroquina-resistentes (RIECKMANN e LOPEZ-ANTUÑANO, 1971). Dez anos depois Rieckmann et al. (1978), vislumbrando determinar as áreas "cloroquina-resistentes", pelas evidências da resistência do P. falciparum às drogas, simplificaram o procedimento em microcultura para medir a inibição de maturação de esquizonte em 24 horas, que passou a ser conhecida como microtécnica. O aprimoramento da técnica teve por objetivo tornar sua execução mais prática e de baixo custo para utilização no monitoramento da sensibilidade do P. falciparum às drogas antimaláricas em condições de campo (PAYNE, 1984), e permanece até o presente como uma das técnicas mais simples para a avaliação de sensibilidade de drogas in vitro. Os estudos com cepas cloroquina-resistentes foram bem sucedidos e os autores começaram a usar a técnica para testar outras drogas. Desjardins et al. (1979b), avaliaram cepas já resistentes e sensíveis in vivo à cloroquina, quinino, primaquina, amodiaquina e mefloquina, mostrando predomínio da sensibilidade para 24 a mefloquina. Richards e Maples (1979) testaram o efeito da cloroquina e pirimetamina para inibir o crescimento do parasito em cultura contínua. Nguyen-Dinh e Trager (1980) e Nguyen-Dinh e Payne (1980), estudaram a resistência do P. falciparum in vitro, com modificação da microtécnica de Rieckmann, que teve como justificativa o período de incubação de 48 horas para completar o ciclo biológico do parasito. Em 1981, foi produzida uma grande quantidade de kits para a execução da microtécnica, a pedido da OMS, que investia numa técnica simples a ser aplicada em condição de campo, altamente efetiva para o monitoramento emergencial de áreas de resistência do P.falciparum às drogas antimaláricas (PAYNE e WERNSDORFER, 1989). O método de maturação de esquizontes fundamenta-se na avaliação dos processos metabólicos do P. falciparum em cultura, e a susceptibilidade às drogas antimaláricas e combinações fundamenta-se no crescimento e desenvolvimento do plasmódio, baseado na observação morfológica e quantitativa do parasito. Embora extremamente útil em situações de campo, a microtécnica tem como desvantagens ser bastante laboriosa e exaustiva devido ao resultado do teste requerer leitura por microscopia ótica. As limitações naturais do processo, aliadas ao resultado subjetivo propenso à variabilidade de interpretação, não recomendam o método como o mais apropriado para avaliação de grandes amostragens (KYLE et al., 2002). Diante da necessidade de métodos mais adequados, surgiram, então, outras técnicas que permitem leitura automatizada. 25 Desjardins et al. (1979a), desenvolveram um ensaio para o estudo da suscetibilidade do P. falciparum com o emprego de material radioativo baseado na inibição da incorporação da hipoxantina tritiada pelo parasito para demonstrar o efeito da droga. Esse método tem alto grau de reprodutibilidade, consideravelmente mais rápido na sua execução do que o teste baseado na avaliação morfológica de crescimento do parasito, além de ser mais sensível e objetivo, reduzindo os fatores relacionados à falha humana. Porém, essa técnica apresenta limitação para ser executada em campo, por necessitar de equipamentos específicos, envolve a manipulação de material radioativo (regulamentos relativos à manipulação de material radioativo desde os anos 70 ficaram consideravelmente mais restritivos), e a necessidade que o método requer de densidade elevada de parasitos (KYLE et al., 2002; NOEDL et al., 2003b). Com base no conhecimento de que a atividade da enzima lactado desidrogedonase do Plasmodium (pLDH) é distinguível da atividade de LDH humano na base do epítopo da proteína usado o 3-Acetil Piridina Adenina Dinucleotídeo (APAD) análogo da Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo (NAD), na conversão do lactado a piruvato, Makler et al. (1993a), Makler e Hinrichs (1993b) desenvolveram um ensaio que determina o perfil da inibição da sensibilidade do parasito à droga, medindo a atividade enzimática de pLDH através de espectrofotometria. Esse método tem a vantagem sob o método com radioisótopos, por ser simples e não usar material radioativo, porém, requer densidade parasitária inicial de 1-2% e, em testes com isolado a fresco, o resultado não foi suficientemente sensível para recomendar sua aplicação em campo (BASCO et al., 1995). 26 As limitações associadas ao teste conduziram ao desenvolvimento de um novo ensaio, também baseado na LDH. Entretanto, nesse caso, ao invés de determinar a atividade enzimática, o método quantifica a enzima produzida pelo plasmódio através do método de ELISA (enzyme-linked immunosorbent) sanduíche de alta sensibilidade, utilizando dois anticorpos monoclonais (captura e revelador) direcionados contra epítopos distintos da LDH. É conhecido como chamado DELItest, e é consideravelmente mais sensível que a versão anterior (DRUILHE et al., 2001). Estudos realizados na África, comparando o teste radiométrico com o DELItest, na avaliação da resistência dos plasmódios aos antimaláricos, demonstraram resultados comparáveis entre os dois métodos (MORENO et al., 2001a; 2001b). Na Tailândia, um estudo de campo com DELI-Test usando anticorpo e kit comercial, comparando com a técnica de radioisótopo em isolados de sangue a fresco, permitiu concluir ser o método de ELISA sensível mesmo com baixa densidade parasitária, factível de prover uma avaliação in vitro relativamente rápida e precisa dos padrões de suscetibilidade da droga nas populações de parasitos e não usar material radiativo (BROCKMAN et al., 2004). A mais recente adição à lista de testes in vitro de sensibilidade aos antimaláricos para o P. falciparum fundamenta-se na medida quantitativa da Proteína 2 Rica em Histidina (HRP2) produzida pelo plasmódio, que tem meia vida longa principalmente na fase de trofozoíto. É detectável aproximadamente por duas semanas, é muito estável, e tem maior concentração nos eritrócitos do que no plasma (NOEDL et al., 2002). 27 A HRP2 tem sido usada no diagnóstico rápido para malária (BEADLE et al., 1994). A meia-vida longa dessa enzima presente em pacientes com malária falciparum, tratados com sucesso limita a utilização do teste imunocromatográfico para o monitoramento da eficácia terapêutica (MAYXAY et.al., 2001), por outro lado para análise in vitro de suscetibilidade às drogas, a estabilidade desta proteína pode ser a principal vantagem. A quantidade de HRP2 produzida pelo P. falciparum está associada ao desenvolvimento e multiplicação do parasito, e serve como indicador para refletir inibição do crescimento na medida de suscetibilidade à droga (DESAKORN et al., 1997). A técnica que quantifica a produção de HRP2 é baseada na medida do aumento da proteína produzida pelo P. falciparum (PfHRP2) no curso de crescimento, desenvolvimento e multiplicação, em 72 horas de cultivo. A concentração de HRP2 produzida pelo parasito é medida pelo método de ELISA. A inibição do crescimento do parasito pela droga antimalárica é quantificada pelo nível de produção da HRP2 (Figura 4). CULTURA INICIAL CULTURA APOS 72 H HRP2 Anti-HRP2 COMPLEXO Ag-AC Figura 4: Princípio do método imunoenzimático da quantificação da PfHRP2 (Adaptado de www.malaria.farch.net) 28 Na luta contra a malária, torna-se cada vez mais importante, iminente e indispensável para a avaliação in vitro, o desenvolvimento e aplicação de novos métodos simples e confiáveis para a avaliação de droga-resistência, particularmente sob condições de campo. Os métodos tradicionalmente usados há mais de 20 anos (maturação de esquizontes/OMS e radioisótopos) apresentam limitações econômicas e operacionais para a utilização em campo (NOELD et al., 2004). Considerando as questões pertinentes de operacionalização, executou-se um estudo experimental de avaliação quantitativa in vitro da sensibilidade de P. falciparum às drogas antimaláricas utilizando um método imunoenzimático baseado na captura do antígeno HRP2 em amostras de sangue a fresco do paciente, cultivada, por 72 horas (NOELD, 2003) usando como padrão ouro o microteste MARK III (WHO, 2001a). O estudo propõe validar o teste ELISA-sanduiche para detecção de HRP2 para estudos de sensibilidade do P. falciparum às drogas antimaláricas, no Laboratório da Gerência de Malária da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, estimando seu desempenho, vantagens e limitações a fim de recomendar sua aplicação já que é tão sensível quanto e menos laboriosa que o microteste/OMS, podendo assim facilitar estudos dessa natureza no futuro. 29 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Verificar o desempenho do ensaio imunoenzimático para a medida da Proteína 2 Rica em Histidina (HRP2) na avaliação in vitro da sensibilidade do P. falciparum às drogas antimaláricas, na cidade de Manaus. 2.2 ESPECÍFICOS • Estimar a sensibilidade do P. falciparum ao quinino e à mefloquina, pelo método da maturação de esquizontes (microteste/OMS) em amostras de sangue frescas de pacientes infectados. • Estimar a sensibilidade do P. falciparum ao quinino e à mefloquina, pela quantificação da HRP2 pelo método imunoenzimático ELISA em amostras de sangue frescas de pacientes infectados. • Comparar o desempenho da técnica imunoenzimática com detecção da HRP2, com o microteste (OMS). • Descrever as vantagens e as limitações do método de estudo in vitro de resistência do P. falciparum aos antimaláricos. 30 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Modelo do estudo Executou-se um estudo, comparativo de dois métodos de avaliação in vitro da sensibilidade do P. falciparum às quinolinas-metanóis (quinino e mefloquina). 3.2 Local do estudo A Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM) está situada na cidade de Manaus, desenvolvendo atividades nas áreas de assistência à saúde, pesquisa científica e formação de recursos humanos em doenças tropicais. Atualmente está sendo considerada como Centro de Referência nacional e internacional para o tratamento de enfermidades tropicais. A FMTAM tem importante participação no diagnóstico e tratamento da malária sendo responsável por 25% das notificações de casos de malária de todo o município de Manaus (FMTAM, 2005) (Figura 5). 3.3 População estudada Os parasitos da malária estudados foram isolados de 59 amostras de sangue doadas por pacientes de livre demanda que procuraram a Gerência de Malária da FMTAM para o diagnóstico de malária. A determinação do número de amostras foi considerada com base na recomendação da OMS (2001a) de série de no mínimo 10 testes e 30 ou mais como ideal para o modelo do estudo. Tratou-se de uma amostra de conveniência, sem qualquer técnica de aleatorização empregada. 31 Figura 5a: FMTAM Figura 5c: Atendimento diagnóstico Figura 5e: Sala de microscopia Figura 5b: Recepção Figura 5d: Coleta gota espessa Figura 5f: Entrevista Figura 5: Setores da Gerência de Malária da FMTAM 32 3.4 Critérios de inclusão e exclusão Para o estudo foram selecionados aqueles portadores de malária causada exclusivamente por P. falciparum pelo diagnóstico parasitológico utilizando a distensão sangüínea espessa (gota espessa) corada pelo método descrito por Walker (OPS/OMS, 1975), com parasitemia mínima de 1000 parasitos assexuados/µL de sangue, idade igual ou maior que 12 anos, de ambos os sexos, sem quadro clínico de malária grave, e sem uso de antimaláricos nos últimos 30 dias, em função de provável efeito residual durante a realização dos testes. 3.5 Aspectos éticos O estudo foi conduzido com pacientes voluntários que, após entrevista individual, entenderam os objetivos do estudo e aceitaram participar através do termo de consentimento livre e esclarecido dentro dos preceitos da ética em pesquisa com humanos, sem prejuízo para o seu atendimento ou seu tratamento (Anexo A). Esse estudo fez parte de um protocolo científico multicêntrico com a participação de outros países latino-americanos integrantes da Rede Amazônica de Vigilância da Resistência às Drogas Antimaláricas (RAVREDA), sob a supervisão da Organização Pan-americana da Saúde (OPS) e, no Brasil, pelo Ministério da Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúde (Anexo B). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMTAM em 15.12.2003 (Anexo C). 33 3.6 Recursos financeiros O estudo foi financiado com recursos do projeto RAVREDA oriundos do Convênio USAID (United States Agency for International Development)/ OPAS/MINISTÉRIO DA SAÚDE/SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - Carta Acordo FMTAM/OPAS/MINISTÉRIO DA SAÚDE/RAVREDA, nº BRA/03/00679-5 e pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA). 3.7 Procedimentos laboratoriais O planejamento da metodologia foi padronizado para os dois métodos na execução de: coleta de sangue, preparação da suspensão de hemácias parasitadas, utilização do mesmo meio de cultura RPMI 1640 (Roswell Park Memorial Institute®), sob as mesmas condições de parasitemia e hematócrito, em duplicata, em volumes iguais distribuídos na mesma placa com a droga correspondente. 3.7.1 Placas pré-dosadas de quinino e mefloquina Para a avaliação da suscetibilidade do P. falciparum às drogas antimaláricas foram utilizadas placas padronizadas de 96 poços, sendo 12 em cada uma das oito filas, estéril, de formato quadrangular, medindo 12,5 cm de comprimento por 8,0 cm de largura, pré-dosadas: no poço “A” livre de droga, usado como controle, e nos poços B ao H com as quantidades ascendentes de dihidrosulfato de quinino (PM: 785.06) e hidrocloridrato de mefloquina (PM: 414.778) nas concentrações 34 finais de 4–256pmol (0,08-5,12µmol/lBMM) e 2–128pmol (0,4–25,6µmol/lsangue) respectivamente; adquiridas comercialmente de fabricante recomendado pela OMS (Figura 6). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 A A 4 B B C C D D E E F F G 256 GH 2 H Quinino 128 Mefloquina Poço A* = sem droga ¨Controle¨ Poços B – H = concentrações ascendentes das drogas (pmol) Figura 6: Concentração das drogas nas microplacas 3.7.2 Coleta e preparação do sangue Foram coletados 5 mL de sangue venoso periférico de cada paciente pelo método a vácuo (Vacuntainer) em tubos com anticoagulante (EDTA) e em seguida confeccionada uma distensão sangüínea fina (esfregaço) corada pelo método hematológico de coloração rápida (panótico) para determinar a densidade parasitária. O sangue obtido diretamente do paciente foi centrifugado e lavado por três vezes consecutivas com meio RPMI 1640 tamponado com 35 mM de HEPES, 24 mM de bicarbonato de sódio, 0,5% de Albumax®, 1mg/L de hipoxantina e 5 μg/mL de 35 gentamicina. Foram preparados 20 mL de suspensão de hemácias parasitadas em hematócrito de 1,5%, aproximadamente. As amostras de sangues com densidade parasitária inicial acima de 1% tiveram a parasitemia ajustada para 0,5% com hemácias do grupo sanguíneo O, obtidas da agência transfusional da FMTAM (Figura 7). 3.7.3 Cultura e Teste de sensibilidade do P. falciparum às drogas antimaláricas (Microteste (OMS)) Empregamos o protocolo MARK III (OMS, 2001a) com modificações, sendo elas: remoção dos leucócitos, meio de crescimento (RPMI1640) suplementado com Albumax® e incubação das amostras de sangue na presença de mistura de gases. Imediatamente após a preparação da suspensão de hemácias parasitadas, conforme detalhado no item anterior, alíquotas de 100μL foram distribuídas em duplicatas diretamente nos poços das microplacas pré-dosadas com as drogas quinino e mefloquina. As placas foram incubadas sob tensão de mistura de gases (5% CO 2 , 5% O 2 balanceado com 90% N 2 ) a 37°C por 24 - 30 horas (considerando que as amostras de sangue não foram pré-selecionadas, as culturas foram monitoradas para finalizar sempre que o parasito tivesse amadurecido a esquizonte). Ao fim de cada período de incubação foram confeccionados, com alíquotas de sedimento de hemácias retiradas de cada poço, esfregaços corados, seguidos de leitura por microscopia ótica (Figura 7). Todas as leituras microscópicas foram feitas por duas únicas pessoas com reconhecido treinamento nesta técnica. 36 Diagnóstico positivo P. falciparum Coletar 5 mL de sangue venoso com anticoagulante Lavar 3 vezes RPMI 1640 HEPES/NaHCO3/Antibiótico/ Albumax Suspensão hemácias parasitadas 1,5% Hematócrito Placas pré-dosadas 100µL/poço duplicata Incubar a 37ºC Mistura de gases (5% CO2, 5%O2, 90%N2) 24h – 30h ................. 72h Microteste/OMS Gota espessa Leitura microscópica ELISA HRP2 Gota espessa (crescimento de parasito) Armazenamento das placas a –20ºC Figura 7: Preparação do sangue e teste in vitro de sensibilidade do P. falciparum 37 Os resultados dos testes de maturação de esquizonte (Microteste (OMS)) foram expressos pela contagem de pré-esquizontes e esquizontes com 3 ou mais núcleos visíveis em 200 parasitos, observados em microscópio ótico. O teste foi considerado válido quando a maturação dos esquizontes no poço controle (poço A sem droga) foi observado crescimento de 10% ou mais de esquizontes com 3 ou mais núcleos em 200 parasitos (OMS/2001a). O total de parasitos do poço controle (100%) foi à base do cálculo para comparação da maturação dos parasitos nos poços com droga. O cálculo segue a fórmula: Percentual de Nº esquizontes por 200 parasitos do poço com droga = inibição X100 Nº de esquizontes por 200 parasitos do poço controle Para a avaliação da sensibilidade/resistência, foram empregados na interpretação dos resultados dois critérios: Concentração mínima inibitória (CMI) – concentração mínima da droga que inibe a completa maturação dos esquizontes no ponto de corte (PC) para cada uma das drogas (WHO, 2001a) (Tabela 2). Concentração inibitória 50% (IC50) – concentração da droga na qual são inibidos 50% do crescimento dos parasitos (IC50). O PC do IC50 usado para cada droga foi o determinado previamente por Brasseur et al (1988), pelo método isotópico sendo: > 300 nM para quinino e >30nM para mefloquina. 38 Tabela 2 Concentração das drogas in vitro para os níveis de sensibilidade/resistência DROGA Quinino Mefloquina SENSÍVEL (*) RESISTENTE (**) 128 pmol ou menos 256 pmol ou mais 16 pmol ou menos 32 pmol ou mais (*) Inibição da maturação de esquizontes (**) Ocorrência da maturação de esquizontes 3.7.4 Teste in vitro de sensibilidade do P. falciparum pela quantificação da Proteína 2 Rica em Histidina (PfHRP2) pelo ensaio imunoenzimático-ELISA. A técnica de ELISA utilizada corresponde ao método descrito por Noedl, (2003a) com modificação, onde incluímos a lavagem das hemácias. 1ª Fase - cultura Os procedimentos seguiram os mesmos descritos na técnica do Microteste (OMS), diferindo apenas no período de incubação que foi de 72 horas. No final das primeiras 24 horas de incubação o volume de um poço “controle” (sem droga) foi transferido para um tubo eppendorf e armazenado em freezer a -20ºC, esta amostra foi usada como background no ELISA. O desenvolvimento dos parasitos foi verificado por esfregaço sangüíneo com as hemácias de um poço controle livre de droga. No tempo final de incubação (72 horas) o acompanhamento do aumento da densidade parasitária foi verificado por um novo esfregaço de outro poço controle. 39 As placas de culturas foram armazenadas a -20ºC e processados posteriormente o teste de ELISA. 2ª Fase - Hemólise das hemácias - As hemácias parasitadas após cultura foram lisadas pelo processo de congelamento e descongelamento. 3ª etapa – Técnica imunoenzimática – Teste de ELISA Os kits para o ELISA usado para quantificar a HRP2 produzido pelo parasito em cultura de sangue (Malaria Ag CELISA®, Cellabs Pty. Ltd., Brookvale, NSW, Austrália) foram adquiridos comercialmente. As amostras de cultura das placas pré-dosadas com quinino e mefloquina, após o processo de congelamento e descongelamento, foram diluídas com água destilada, de acordo com a densidade parasitária inicial para obter uma parasitemia com aproximadamente 0,05 % no equivalente de 100 µL de suspensão por poço, em duplicata, diretamente na microplaca de ELISA com os poços previamente recobertos com o anticorpo monoclonal PfHRP2. O mesmo procedimento se repetiu para as amostras de 24 horas (background). As microplacas foram incubadas por 1 hora em câmara úmida à temperatura ambiente (TA). Os poços foram lavados quatro vezes com PBSTween em lavadora automática de microplacas marca (Organon®). Em seguida, 100 µL do conjugado anti-P. falciparum foi adicionado em todos os poços. As microplacas foram mais uma vez incubadas por 1 hora em câmara úmida à temperatura ambiente e posteriormente os poços foram lavados novamente quatro vezes com PBS-Tweem. Aplicaram-se 100 µL de substrato cromógeno em 40 todos os poços. Incubadas por 15 minutos ao abrigo da luz à temperatura ambiente. Interrompe-se a reação pela adição de 50 µL de ácido sulfúrico. Para a leitura dos testes foi usado um espectrofotômetro para microplacas (Organon® Teknika Reader 230S, Version 1.23) em comprimento de onda 450nm (Figura 8), sendo aferida a densidade óptica (DO). Foram considerados nos teste os valores das DOs para os controle positivo entre 1,2 a 2,0, e para o background 0,2 a 0,4. Placas com poços previamente recobertos com anticorpos monoclonal PfHRP2 Suspensão de hemácias após congelamento/descongelamento 1 hora/TA/Câmara úmida Lavar PBS/Tween 4 vezes POD S POD S POD S B POD S CONJUGADO 1 hora/TA/Câmara úmida Lavar PBS/Tween 4 vezes POD S B POD S B POD S B POD S B SUBSTRATO CROMÓGENO 15 minutos - TA/Câmara úmida Abrigo da luz Reação interrompida com Ácido sulfúrico Leitura em 450nm Figura 8: Técnica ELISA PfHRP2 41 3.8 ANÁLISES ESTATISTICAS Os dados foram armazenados e analisados no programa EPI Info, versão 6.0. As concentrações inibitórias individuais IC50 para os dois ensaios foram determinadas por análise de regressão não linear usando o software HN-NonLin V.1.05 Beta, com acesso disponível gratuitamente na internet http://malaria.farch.net. baseado no modelo de regressão de polinômio (Anexo D). O Teste do qui-quadrado ou o Teste de Fischer foram utilizados para determinar a existência de diferenças significativas entre proporções. O Coeficiente de correlação entre variáveis quantitativas foi determinado pelo teste paramétrico de Pearson ou pelo teste não-paramétrico de Spearman. Para a análise de concordância entre os dois métodos, foi utilizado o coeficiente kappa. 42 4 RESULTADOS 4.1 Dados epidemiológicos No total das amostras de sangue coletadas de pacientes sintomáticos com malária falciparum, 21 (35,6%) foram do gênero feminino e 38 (64,4%) do masculino. A idade variou de 12 a 75 anos, com média de 36,4 anos (Figura 9). Masculino Feminino >60 3 41-60 1 12 21-40 8 19 7 12-20 4 25 20 15 10 5 5 0 2 4 6 8 10 Figura 9: Distribuição dos pacientes segundo sexo a faixa etária O local de infecção informado no momento da entrevista revela que 54,2% suspeitaram ter contraído a infecção em Manaus, enquanto 42,4% acreditaram ter adquirido em outros municípios do estado do Amazonas (sendo a maioria nos municípios adjacentes de Manaus), 1,7% de outro estado da federação (Porto Velho-RO) e um de outro país (Guiana) (Figura 10). 43 Guyana (1) IRANDUB (5) PRESIDENTE FIGUEIREDO (1) SAO SEBASTIAO DO UATUMA (1) MANAUS (32) CAREIRO DA (1) AUTAZES (4) MANAQUIRI (2) CAREIRO (8) PROTO (1) MANACAPURU (1) Figura 10: Distribuição dos 59 pacientes por local provável de infecção malárica Entre os 32 pacientes que relataram o município de Manaus como local provável de infecção, constatou-se que 18 pacientes eram oriundos da Zona Oeste (56,2%), 10 da Zona Norte (31,6%) e 4 distribuídos pelas Zonas Leste e Sul (12,2%) (Figura 11). 44 Zona Oeste (18) Zona Norte (10) Zona Leste (3) Zona Sul (1) Figura 11: Distribuição dos 32 pacientes quanto ao local provável de infecção no município de Manaus Evidenciaram-se nos relatos de antecedentes de malária dos 59 participantes que 25 (42,4%) eram primoinfectados, 34 (57,6%) não-primoinfectados, destes, 10 (29,4%) referiam mais de três infecções maláricas. 4.2 Considerações sobre as técnicas O tempo médio de incubação para as culturas dos microtestes (OMS) foi de 28 horas (24–30 horas). Os testes de ELISA HRP2 mostraram-se de execução simples, sendo realizados em média de três horas para um grupo de seis amostras em duplicatas. 45 A figura 12 mostra quatro momentos de um microteste: em 12a, a amostra original no momento de sua aplicação na placa pré-dosada, onde se evidenciam as formas de trofozoítos; em 12b, notam-se trofozoítos e pré-esquizontes e 12c e 12d esquizontes indicando a maturação das formas anteriores em concentrações de droga não suficiente para inibir o desenvolvimento do parasito. Figura 12a: Trofozoítos pela gota espessa Figura 12b: Trofozoitos e pré-esquizontes Figura 12c: Esquizontes Figura 12d: Esquizonte 46 A albumina comercial (Albumax, Gibco®) em substituição ao soro humano apresentou praticidade, com bom desempenho. Do total dos 59 testes realizados, duas (3,4%) amostras contaminaram 18 (30,5%) não mostraram crescimento adequado do parasito em nenhuma das duas análises (ELISA HRP2 e microteste-OMS) e 39 (66,1%) isolados completaram o ciclo biológico dos parasitos com maturação de esquizontes nos poços controles em ambos os ensaios para as drogas quinino e mefloquina (Figura 13). Testes válidos 66,1 % Contaminação; 3,4 % Crescimento insatisfatório; 30,5 % Figura 13: Distribuição dos resultados das culturas de P. falciparum após o período de incubação. 4.3 Comparação entre as técnicas Dos 18 isolados que tiveram crescimento insatisfatório dos parasitos nos poços livres de droga, 8 (44,4%) foram testados pelo método imunoenzimático pela captura HRP2, para as drogas quinino e mefloquina. A densidade ótica (DO) nessas 47 amostras revelou, de fato, uma leitura muito baixa, com 100% de concordância com os resultados da leitura microscópica do microteste (OMS), assumindo-se como verdadeiramente negativos. Os 39 isolados testados nos dois métodos nesse estudo experimental comparativo, em quatro (10,2%) as DO’s foram muito baixas (menor que 0,8) não permitindo avaliar essas amostras pelo teste ELISA HRP2 para as duas drogas, tendo resultado apenas pela visualização microscópica da maturação de esquizontes. Quando analisada a concordância entre os testes, a co-positividade foi de 89,7%, [Intervalo de confiança 95% (IC95) de 74,8 a 96,7%] e a co-negatividade de 100% [IC95 78,1 a 100,0%] e o coeficiente kappa de 0,860, considerado ótimo (Tabela 3). Tabela 3 Concordância dos resultados entre os métodos Microteste (OMS) e ELISA HRP2 MICROTESTE (OMS) TOTAL ELISA HRP2 + - + 35 0 35 - 4 18 22 TOTAL 39 18 57 Co-positividade= 89,74% Co-negatividade= 100% Coeficiente kappa= 0,860 48 A média geométrica da densidade de parasitas nas amostras de sangue colhidas foi de 0,3 % (0,07–1,8 %), com 15,453µL-1 de sangue, e o intervalo de confiança 95% (IC95): 9,374–21,531µL-1. Sete amostras de sangue tiveram densidades parasitárias maior de 1% (1,2–1,8%). A correlação da densidade parasitária com o IC50 de ambos os métodos e as drogas estudadas não foi estatisticamente significante (teste de Pearson; p>0,005). Analisando-se os 39 resultados do Microteste (OMS) a relação de maturação de esquizontes e inibição do crescimento dos parasitos sob as diversas concentrações das drogas testadas, demonstrou que 82,63% da população de parasitos exibem inibição da maturação de trofozoítos para esquizontes na concentração limite entre sensibilidade e resistência (128pmol) para quinino (Figura 14) e 73,63% para mefloquina na concentração limite (32pmol) de parasitos com maturação de esquizontes (Figura 15). Os níveis de cepas resistentes detectáveis foram de 9/39 (23,1%) ao quinino e 16/39 (41,0 %) para mefloquina. Figura 14: Resultados dos 39 Microteste (OMS) relação de maturação de esquizontes e inibição do crescimento sob as diversas concentrações do quinino 49 Figura 15: Resultados dos 39 Microteste (OMS) relação de maturação de esquizontes e inibição do crescimento sob as diversas concentrações da mefloquina Estes 39 ensaios quando analisados também em função da concentração de inibição (IC50), ou seja, a concentração da droga capaz de inibir o desenvolvimento de 50% da população dos parasitos, individualmente 35,89% (14/39) e 51,28% (20/39) para as drogas quinino e mefloquina respectivamente, tiveram a concentração inibitória acima do limiar de sensibilidade (Tabela 4). As médias do IC50 neste grupo de 39 amostras foram de 236,61 nM (IC95%: 192,92-280,30 nM) para o quinino e 38,15 nM (IC95%: 32,06-44,25 nM) para a mefloquina (Tabela 4). 50 Tabela 4 Avaliação dos 39 isolados pela (CMI %), IC50% do P. falciparum ao quinino (QN) e mefloquina (MF) pelo microteste (OMS) DROGA QUININO MEFLOQUINA N 39 39 CMI (%) I IC50 (%) 9 23,01% 14 35,89% 16 41,02% 20 51,28% IC50% (IC95%) 236,61 (192,92 -280,30) 38,15 (32,06 – 44,25) Analisando-se os resultados dos 35 concordantes em ambos os métodos a relação de maturação de esquizontes e inibição do crescimento dos parasitos sob as diversas concentrações das drogas testadas, demonstrou que 80,52% da população de parasitos exibem inibição da maturação de trofozoítos para esquizontes na concentração limite entre sensibilidade e resistência (128pmol) para quinino (Figura 16) e 71,22% para mefloquina na concentração limite (32pmol) de parasitos com maturação de esquizontes (Figura 17). Os níveis de cepas resistentes detectáveis foram de 8/35 (22,85%) ao quinino e 15/35 (42,85 %) para mefloquina. 51 Figura 16: Resultados dos 35 Microteste(OMS) relação de maturação de esquizontes e inibição do crescimento sob as diversas concentrações do quinino Figura 17: Resultados dos 35 Microteste (OMS) relação de maturação de esquizontes e inibição do crescimento sob as diversas concentrações da mefloquin A avaliação dos 35 testes concordantes em ambos os métodos as respostas individuais dos IC50 foram 37,14% (13/35) e 54,28% (19/35) às drogas respectivas pelo microteste (OMS) e 31,42% (11/35) e 45,71% (16/35) para quinino e mefloquina, pelo método do ELISA HRP2. 52 As médias das concentrações inibitórias 50% (IC50) com os intervalos de confiança dos 35 testes concordantes para o experimento ELISA HRP2 foram 225,19 nM (IC95%: 182,24–268,14 nM) e 40,03 nM (IC95% 32,54–47,52 nM), para quinino e mefloquina, respectivamente (Figura 18). 500 400 300 200 100 0 Maxima Minima Média Quinino (nM) Mef loquina (nM) 483,94 70,79 225,19 95,53 11,8 40,03 Figura 18: Média do IC50% nos 35 testes concordantes da sensibilidade do P. falciparum às drogas quinino e mefloquina pelo método de ELISA HRP2 No método de maturação de esquizontes (OMS) o valor médio do IC50% e os intervalos de confiança (IC95%) foram 246,54 nM (IC95%: 200,81–292,81 nM) e 38,88 nM (IC95%: 32,13–45,64 nM) para quinino e mefloquina, respectivamente, (Figura 19). 53 600 500 400 300 200 100 0 Maxima Minima Média Quinino (nM) Mef loquina (nM) 528,86 77,12 246,54 85,32 12,41 38,88 Figura 19: Média do IC50% nos 35 testes concordantes da sensibilidade do P. falciparum às drogas quinino e mefloquina pelo microteste (OMS) A análise de correlação dos resultados do ELISA HRP2 com às duas drogas antimaláricas, individualmente, mostrou uma associação fortemente significante com aqueles obtidos dos microteste (OMS) em análise de IC50 (n= 35; R= 0.977; P < 0.001) para quinino (Figura 20) e (n=35; R = 0.946; P < 0.001) para mefloquina (Figura 21). 54 IC50 determinado por microteste/WHO 600 QUININO R^=0,977 p<0,001 500 400 300 200 100 0 0 100 200 300 400 500 IC50 determinado por ELISA/HRP-2 Figura 20: Análise de correlação do IC50 do quinino determinado pelos métodos ELISA HRP2 e Microteste (OMS) IC50 determinado pelo microsteste/WHO 100 MEFLOQUINA R^= 0,946 p<0,001 80 60 40 20 0 0 20 40 60 80 100 IC50 determinado pelo ELISA/ HRP-2 Figura 21: Análise de correlação do IC50 da mefloquina determinado pelos métodos ELISA HRP2 e Microteste (OMS) 55 Quanto aos resultados de IC50 obtidos da análise do ELISA HRP2 para avaliar indícios de resistência cruzada dos parasitos entre os dois compostos químicos, não houve associação estatisticamente significante (r=0,369; p=0,019), sugerindo, portanto que não há resistência cruzada evidente entre estas drogas. Os padrões de sensibilidade foram idênticos aos testados pelo método microteste (OMS). 56 5 DISCUSSÃO A história da resistência aos antimaláricos, exaustivamente investigados, documenta que antes do fracasso do tratamento acontece uma redução progressiva da sensibilidade, facilmente detectável pela avaliação da mudança na concentração inibitória 50% (IC50) da droga in vitro. Os resultados dos estudos in vitro regulares emitem precocemente sinais de iminente resistência desses parasitos às drogas de uso habitual ou em fase experimental, podendo nortear a tomada de decisões na política dos antimaláricos nos paises onde há a endemia malárica (OMS, 2005b). 5.1 Dados epidemiológicos A topografia de Manaus é caracterizada por inúmeros igarapés e coleções de água formadas pela estação das chuvas, os quais propiciam condições adequadas para o desenvolvimento da população anofélica. A periferia da cidade tem como particularidade tipos de moradias toscas, edificadas com madeira e em muitas situações encontram-se estruturas quando muito protegidas apenas por papelão, lona ou palha, localizadas freqüentemente próxima a coleções hídricas. Quanto as informações relativas a presente avaliação, observou-se a maior incidência da malária em pacientes adultos do sexo masculino, possivelmente este dado relaciona-se com à exposição mais freqüente pelo exercício de sua atividade tais como: agricultor, caseiro, no desmatamento de áreas para assentamentos desordenados (invasões) em horários de maior vulnerabilidade na cadeia de transmissão da doença. 57 Neste estudo 54,2%, de pacientes com suspeita de terem contraído a doença malárica em Manaus observou-se que as maiores concentrações foram em três zonas geográficas (Oeste, Norte e Leste), possivelmente como resultado da explosão demográfica urbana desordenada pelo movimento migratório em conseqüência da expansão da fronteira econômica, com invasões dando origem a novos bairros formados por bolsões de carências sociais, originados por alterações ambientais. A movimentação constante da população exibe o perigo potencial de disseminação de cepas de parasitos sensíveis ou resistentes aos medicamentos. A OMS (1987) e Di Souza (1992) associaram a migração humana à disseminação de cepas de parasitos resistentes, principalmente em áreas de elevada transmissão. Estudos sobre fatores de risco relacionados com padrões socioeconômicos e ambientais têm apresentado fortes associações com a transmissão da malária em diversas regiões do mundo (BANGUERO, 1984; BUTRAPORN et al., 1986; KORAM et al., 1995). No Brasil, Terrazas et al. (2004), analisando a distribuição espacial da malária em Manaus, por meio de geoprocessamento, demonstraram que as zonas Leste e Norte e parte da Oeste são as que mais concentram as localidades de alto risco de transmissão da doença, superpondo-se às áreas de invasão guardando semelhança com o que foi observado no presente. Suárez Mutis (1997), estudando o processo de transmissão da malária em área de invasão recente na cidade de Manaus, constatou não poder afirmar a existência da urbanização da malária, embora a população se encontre em processo de periferização, em condições precárias do espaço ocupado, propiciando a ocorrência de surto da doença durante o período de consolidação de infra-estrutura 58 socioeconômico e ambiental. Similarmente na avaliação, 57,6% dos pacientes mencionaram terem sido acometidos por vários episódios de malária ao longo dos anos, evidenciando, assim, habitual exposição com conseqüente risco de contrair a doença, particularmente em áreas próximas ao habitat do vetor. 5.2 Considerações sobre as técnicas Tendo como único critério para a seleção das amostras de sangue a densidade parasitária inicial, as culturas de P. falciparum realizadas sob as mesmas condições em ambos os métodos testados, após os respectivos períodos de incubação (30h e 72h), tiveram aproveitamento final (66,1%) em ambas as técnicas, sugerindo que um ciclo eritrocítico assexuado completo (48h) produz um aumento significativo nas concentrações da HRP2 correspondente à elevação do nível de parasitemia. Estes achados divergiram dos encontrados por Noedl et al. (2004), que relataram uma taxa de sucesso, diferenciado de 87% após 72 horas de cultivo (HRP2) comparado com 61% do microteste/OMS com o tempo de incubação que não excedeu a 30 horas, sugerindo que a incubação longa (72 horas) permite testar drogas de ação lenta (antifolatos e antibióticos) sem necessidade de modificar o protocolo. Não podendo ser estas informações comparadas com outros estudos realizados na Bacia Amazônica, uma vez que os critérios metodológicos não guardam similaridades. A opção neste experimento de substituir o soro humano pela albumina comercial (Albumax, Gibco) como fonte de proteína para os parasitos foi de ordem metodológica do protocolo, justificado pelo padrão mais uniforme e o controle da 59 qualidade das proteínas. Na execução dos testes, a utilização do Albumax também demonstrou praticidade conforme os estudos que mostraram ser o soro bovino fetal ou Albumax® um substituto satisfatório para o soro humano no cultivo in vitro do P. falciparum (BASCO, 2003), além de eliminar a necessidade de armazenamento e controle do soro no campo (BASCO 2004). Embora os resultados com albumina comercial não sejam necessariamente idênticos aos obtidos com o soro humano, o resultado final facilita a comparação (RINGWALD et al., 1999). A maturação de parasitos das formas de anéis jovens em esquizontes, em ambos os métodos, não foi satisfatória em 30,5% das culturas, supõe-se que este fato tenha relação com automedicação recente. O critério adotado para a exclusão do uso de antimaláricos foi determinado apenas pela informação verbal no momento da entrevista, contrariando o recomendado para a confirmação da ausência do uso de antimaláricos pelo exame de urina. Provavelmente esta dificuldade técnica pode ter contribuído para o não sucesso com diversas amostras, inclusive aquelas com baixas parasitemias. Em acordo com o observado por Basco et al. (2002), nas amostras de sangue de paciente com medicação recente, o ciclo biológico do parasito foi incompleto ou teve pouco crescimento, com a diminuição do IC50 pela presença da droga no sangue. Cravo e Rosário (2004) citaram como um dos problemas de execução dos testes in vitro a dificuldade no controle dos níveis dos fármacos em cultura devido à ingestão prévia de antimaláricos pelo doente. 5.3 Comparação entre as técnicas Apesar da concordância entre os resultados do método de ELISA HRP2 e o microteste (OMS) mostrarem especificidade de 100% e a co-positividade 89,74%, 60 com índice kappa ótimo, quatro (10,2%) isolados testados pelo ELISA HRP2 para as droga tiveram valores muito baixos de densidades óticas (DOs), o que condicionou avaliar as mesmas apenas pela leitura microscópica. As observações sugerem certa dificuldade para o reconhecimento do teste, primeiramente atribuída a problemas logísticos, no armazenamento e transporte dos kits, no processo de importação da Austrália para Manaus em condição recomendável de temperatura. Outra hipótese recai sobre a sensibilidade do kit, quando se observa que a densidade parasitária mínima no estudo foi de 0,07%, bem acima da parasitemia inicial (0,01%) descrita pelo fabricante. Todavia, tornam-se imperiosa a condução de novos estudos para uma caracterização mais clara e mais precisa dos questionamentos acima. Noedl et al. (2004) fazem referência ao ensaio supra citado como sensível o bastante para detectar parasitemias de 0,01%, comparável ao microteste (OMS) e dez vezes mais sensível que o método isotópico. Entretanto, ressalvam os pesquisadores que a densidade parasitária de 0,03% seria valor mínimo ideal para o início dos testes nos quais se incluem a maioria dos casos de malária falciparum sintomáticos. O IC50 do ensaio ELISA HRP2 não indicou associação significativa com a densidade parasitária inicial (p>0,05), sugerindo que a densidade parasitária nesse teste não tem grande relevância. Duraisingh et al. (1999) e Noedl et al. (2002) fazem referência ao ajuste da parasitemia, diluindo a amostra original de sangue para eliminar completamente qualquer efeito inócuo ao parasito. A preferência neste estudo pelo kit de ELISA (Malaria Ag CELISA®) para a quantificação da PfHRP2 em relação outras apresentações de anticorpos 61 monoclonais específicos comercializados por diversos laboratórios, se deu por ser dispensável a padronização do procedimento de análise e pela aparente facilidade de reprodução do teste em avaliação, este comercializado atualmente para o diagnóstico em Bancos de Sangue e ainda em fase de estudos no Brasil pela RAVREDA. O presente estudo, realizado em condições de laboratório, teve um bom desempenho e foi de fácil execução, mostrando-se ser factível sua implementação, quando adaptado, em condições de campo. Os resultados dessa avaliação com o método do ELISA foram comparáveis aos do microteste (OMS), concordando com o que referem Noeld et al. (2002) avaliando o ELISA HRP2 em laboratório com cepas adaptadas em cultura. O método provou ser tão seguro quanto o ensaio tradicional (microtécnica/OMS) e tão sensível quanto o ensaio isotópico, mais fácil de executar e de baixo custo em relação a este último. Em outro estudo com isolados frescos de P. falciparum cultivados por 72 horas, em condições de campo, omitindo os procedimentos de centrifugação, lavagens das hemácias, uso de soro e diluição com células vermelhas de sangue, evidenciaram resultados muito próximos aos comparados com o ensaio modificado de maturação de esquizontes da OMS (NOEDL et al., 2004). O elevado custo do kit comercial para a realização das provas em nosso estudo apresentou-se como sendo uma desvantagem. Noeld et al. (2005) testando o desempenho de um novo teste de ELISA, com anticorpos monoclonais disponíveis comercialmente, descrevem resultados de sensibilidade comparáveis aos obtidos 62 usando o kit ELISA HRP2, com uma redução considerável de 80% no custo final. Pode ser uma nova perspectiva de alternativa no futuro a aplicação nas avaliações de sensibilidade do plasmódio as drogas antimaláricas. Melo (2004), ao fazer uma revisão das vantagens e desvantagens dos métodos disponíveis usando anticorpos monoclonais específicos para os estudos in vitro, observa a nova geração dos ensaios de sensibilidade sinalizando na direção de recursos essenciais, tais como, alta sensibilidade, alta reprodutibilidade, semiautomatização, não utilização de material radioativo, viabilidade técnica de aplicação sob condições de campo, particularmente em regiões endêmicas. Com argumentos semelhantes, Moreno et al. (2001a) referem que métodos imunoenzimáticos apresentam facilidade de reprodução e podem despertar um interesse renovado neste campo de pesquisa essencial similar a Noedl et al. (2005), os autores atentam para importância do sucesso dos ensaios de resistência às drogas antimaláricas em campo, pela simplicidade de implementação e execução e alta sensibilidade do teste. 5.4 Limiar de sensibilidade/resistência do P. falciparum às drogas antimaláricas Devido às peculiaridades de cada um dos ensaios (microteste/OMS e ELISA HRP2), tornou-se realmente impossível executá-los sob condições idênticas e, embora as leituras das duas técnicas sejam diferentes, ainda assim, o método do ELISA HRP2 demonstrou resultados muito próximos quando correlacionados com os produzidos pelo microteste/OMS, este padrão ouro. É necessário entender que as modificações dos protocolos podem alterar os resultados obtidos, ajuntando-se a 63 isso os diversos fatores com influencia com a resposta in vitro do parasito. Alguns desses fatores são citados por Basco (2004), como a substituição do soro como fonte de proteína para os parasitos, o ajuste do hematócrito e da parasitemia inicial, o período de incubação e a mistura de gases. Entre as orientações da MIM/TDR (2002) destacam-se os métodos atuais disponíveis para a avaliação do perfil da sensibilidade do P. falciparum às drogas antimaláricas mais seguras, porém, faz ressalvas para as variações nas técnicas que nem sempre originam resultados uniformes, impossibilitando comparações entre diferentes estudos. As constatações mencionadas fazem ver com clareza a necessidade de se adotar um protocolo padronizado que permita a comparação de resultados entre os testes de sensibilidade executados em diversas regiões, em condições laboratoriais controladas, assim como para pesquisa em campo, com a possibilidade de validar, in vitro, os limites de resistência na Bacia Amazônica. As análises do limiar de sensibilidade/resistência interpretadas de formas distintas, CMI/OMS e IC50 nos dois métodos, ofereceram dificuldades na análise global dos dados. Basco e Ringwald (2000) referem que os resultados do microteste isotópico e o microteste (OMS) não são comparáveis, mencionando que um dos principais problemas com os testes in vitro é a determinação dos valores do limiar do IC50 que distingue parasitos sensíveis de resistentes. Contudo, comentam que o IC50 resultante do método enzimático que detecta a presença da desidrogenase láctica produzida pelo parasito (pLDH) está altamente correlacionada com IC50 obtida pelo microteste isotópico. 64 A associação fortemente significativa dos resultados encontrados com o ELISA HPR2 e os obtidos pelo microteste (OMS) estão em concordância com os resultados de outros estudos in vitro de sensibilidade realizados com o método imunoenzimático, em paralelo com o método isotópico e o de maturação de esquizontes/OMS (NOEDL et al., 2002; NOEDL et al., 2004). De acordo com a OMS (2005b), a padronização do método e dos resultados está ganhando importância crescente para o estudo in vitro. Refere que os resultados não deveriam ser expressos em percentual de resistência, especialmente quando não são validados os limites de resistência, e sim relatados como média geométrica do IC50 ou CMI, permitindo dessa forma uma comparação quantitativa mais precisa entre regiões de um determinado país na relação tempo-espaço. 5.5 Avaliação da sensibilidade do P. falciparum às drogas quinolinas-metanóis Os resultados deste ensaio mostram característica distinta da sensibilidade do P. falciparum para cada uma das drogas estudadas. Diversos fatores sugerem associação à emergência e disseminação da quimiorresistência dos parasitos da malária, como o uso inadequado dos medicamentos, a automedicação, sendo provavelmente a pressão de seleção dos antimaláricos um dos mais importantes (YOUNG e MOORE, 1961; PETERS, 1970; 1998; DE SOUZA, 1992). A resistência do P. falciparum ao quinino (22,85% com IC50: 246,54 nM pelo microteste/OMS) observada corrobora resultados in vitro similares de outros investigadores, em diversas regiões do país, utilizando a mesma técnica (Reickmann 65 et al.) por Rosário et al. (1986a) (Acre, Amazonas, Roraima, 11,8%), Santos et al. (1987) (Pará e Amapá, Rondônia, Maranhão - 56,5%), Di Santi et al. (1988) (Pará, Acre - 2%), Kremsner et al. (1989) (Acre - 2,3%), Couto et al. (1993a) (Pará - 8,2%), Cerutti et al. (1999b) (Mato Grosso - 3,3%) pelo método isotópico com cepas adaptadas em cultivo e Zalis et al. (1998) (Mato Grosso) pelo método modificado de Desjardins et al, e Lebras e Deloron, que citam a redução da sensibilidade (IC50=40280nM). Esses achados previsíveis são indicativos da evolução natural da resistência do plasmódio ao quinino em áreas onde a pressão da droga sobre a população de parasitos é usada no tratamento padrão para malária não grave ou complicada e onde se observa uma elevada ocorrência de infecções não curadas (SUEBSAENG et al., 1986). Cerutti Jr (1999a), em estudo comparativo in vivo e in vitro da sensibilidade do P. falciparum em área endêmica de malária na Amazônia Brasileira, faz referência a 10,6% dos isolados que apresentaram resistência ou baixa sensibilidade ao quinino, com o IC50 igual a 1,13µmol/l. Não houve correlação entre as concentrações inibitórias e o clareamento parasitário. A média do IC50 (225,19 nM) detectada no estudo pelo método ELISA HRP2 apresenta um perfil da sensibilidade P. falciparum ao quinino. Noeld et al. (2002), no período de 1994 a 2001, avaliando a suscetibilidade parasitária aos antimaláricos na Ásia (Tailândia, Myanmar e Bangladesh), com cepas criopreservadas e adaptadas em cultura, registram a média geométrica do IC50 343,86 nM, e, em 2004, Noedl et al obtiveram com isolados frescos de P. falciparum, em estudo de campo, em região endêmica da Tailândia, IC50 igual a 326,75 nM ao quinino. 66 Por recomendação do Ministério da Saúde do Brasil, o esquema de primeira linha no tratamento da malária falciparum não complicada, continua sendo o quinino em associação com antibióticos (BRASIL/MS/SVS, 2001). O perfil do P. falciparum ao antimalárico observado neste estudo, avaliando-se a média do IC50 por ambos os métodos, sugere boa suscetibilidade parasitária à droga, porém não sendo possível correlacionar com a eficácia da droga in vivo, uma vez que já se observou, na Amazônia Ocidental, falhas terapêuticas com esta droga (ALECRIN, et al., 1986; ALECRIN et al., 1988; SILVA et al., 1988; SAMPAIO et al., 1991; SAMPAIO et al., 1992). Em ensaio multicêntrico de avaliação da eficácia do quinino realizado pela RAVREDA, em 14 municípios da Amazônia Legal, os dados preliminares advertem para fracasso terapêutico em 14,3% dos pacientes, atribuindo os resultados encontrados à qualidade do medicamento utilizado ou à resistência dos parasitos ao esquema de tratamento (BRASIL/MS/SVS, 2005). No Amazonas avaliando-se a sensibilidade do P. falciparum in vivo no município de Coari, no ano em curso, os resultados provisórios, demonstram alto percentual de fracasso terapêutico observado nos pacientes tratados com quinino sinalizam um aumento da tolerância dos parasitos ao fármaco (Alecrim, MGC; comunicação pessoal). Naquelas áreas onde as cepas do P. falciparum ainda não desenvolveram resistência ao quinino, freqüentemente a resistência é superestimada, associada à baixa adesão ao esquema terapêutico de múltiplas doses durante sete dias, raramente respeitados, e o limiar para resistência in vitro não está claramente definido (SUEBSAENG et al., 1986; WHO, 2005b). No entanto, dados oriundos da 67 sensibilidade dos plasmódios nos estudos in vitro podem predizer a ocorrência de pouca efetividade curativa dos antimaláricos, observando-se maior número de fracassos terapêuticos em áreas onde já se percebe a resistência parasitária. Os resultados dos testes in vitro para mefloquina mostraram que 42,85% dos isolados de P. falciparum resistentes ao antimalárico, sugerindo a emergência de resistência no Amazonas. A resistência teria sido muito mais alta (54,28%) se o valor de limiar padrão de 30nM para o IC50 como referência tivesse sido usada (Brasseur et al., 1988). Estes achados advertem para a diminuição da sensibilidade dos plasmódios, corroborando os dados de outros estudos realizados na região Amazônica Brasileira e em outros países, reportando o aumento da resistência do P. falciparum à droga. A diminuição da sensibilidade do P. falciparum in vitro à mefloquina é notória, com maior relevância na Ásia. Na Tailândia, após introdução do uso da droga em 1985, a resistência ao fármaco vem sendo observada desde década de 90, tornando-se um problema de saúde pública em áreas onde a mefloquina foi intensamente empregada (WHITE, 1994; MOCKENHAUPT, 1995; WONGSRICHANALAI et al., 2002). Wongsrichanalai et al. (2001) estudando a suscetibilidade do P. falciparum na Ásia com cepas adaptadas em cultura isoladas de quatro regiões de Myanmar (Myitkyina, Lashio, Mawlamyine, Dawei), identificaram Mawlamyine como a área de transmissão de P. falciparum mefloquinaresistente na região de fronteira com a Tailândia. 68 A alta prevalência da resistência in vitro à mefloquina em Bangladesh foi documentada por Noedl, et al. (2003c). No Gabão (Ramharter et al., 2004), avaliando-se atividade das quinolinas pelo método de maturação de esquizontes no intervalo de 24 horas, apontam para diminuição significativa da sensibilidade do P. falciparum à mefloquina. Um estudo na África Ocidental mostrou a existência de parasitos com sensibilidade diminuída para mefloquina antes mesmo de sua introdução na região para uso terapêutico (WHO, 2005b). Na América do Sul, em particular na Colômbia e na Venezuela, Espinal et al. (1985) e Maynadie et al. (1989) reportaram populações de parasitos resistentes ou com redução da sensibilidade observada na análise in vitro. No Brasil, Alecrim (1981) fez o primeiro relato de resistência a mefloquina e já alertava para a diminuição da sensibilidade à mefloquina quando a droga ainda encontrava-se em estudo clínico em fase de validação da dose terapêutica. Cronologicamente, estudos que correlacionaram a resposta de sensibilidade in vivo e in vitro, realizados no decorrer das últimas décadas no Brasil, também manifestaram a preocupação com a redução da sensibilidade ou resistência do plasmódio à mefloquina devido à provável ocorrência da pressão de seleção da droga pelo uso inadequado no que se refere a posologia diferentes áreas da Amazônia Brasileira ( ALECRIM, 1986; ALECRIM et al., 1986; COUTO et al, 1993b; CERUTTI. Jr et. al., 1999; Di Santi et al.,1986,1988; CALVOSA et al., 2001; COUTO, 2001). 69 Noronha et al. (2000) relatam a ocorrência de resistência ao nível de RIII, à mefloquina, em crianças com malária falciparum não complicada tratadas na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, em Manaus. A redução da sensibilidade do P. falciparum in vitro à mefloquina observada no estudo pode estar relacionada ao provável reflexo do uso precoce da droga com entrada ilegal pela Guiana Francesa, antes mesmo de ser usada oficialmente em 1987 pelo Governo do Brasil (BRASIL. MS/SUCAM/DR.PA, 1986). A ocorrência da pressão da mefloquina sob a população de parasitos circulantes pelo uso facilitado com o comércio livre clandestino, principalmente nos garimpos, pode ter provocado seleção de parasitos menos sensíveis. Ainda que a mefloquina faça parte do esquema terapêutico como droga de segunda escolha para o tratamento de malária falciparum no Brasil, o emprego rotineiro desse medicamento tem sido usual em alguns estados. Com base nas informações das avaliações recentes de resistência dos plasmódios divulgadas pela RAVREDA, as médias das IC50 de 40,03 nM e IC50 de 38,88 nM à mefloquina obtidas pelos métodos ELISA HRP2 e Microteste/OMS, respectivamente não guardam relação com o nível da resistência in vivo do P. falciparum ao fármaco dos estudos de eficácia desenvolvidos na Bacia Amazônica. Estes mostraram à resposta terapêutica dos parasitos ao antimalárico foi satisfatória apresentando baixo percentual de fracassos terapêuticos (4,3%). O alto nível de resistência in vitro observado no presente estudo guardada semelhança com os observados em relatório do MS recentemente divulgado (42,8%) (BRASIL, 2005). 70 Para Di Santi et al. (1988), o fato da meia-vida de eliminação da mefloquina ser longa (21 dias) tornar-se importante fator na seleção de cepas resistentes. O uso generalizado da mefloquina provavelmente poderá acelerar o desenvolvimento da resistência como ocorreu no sudeste da Ásia (FONTANET et al., 1993). A taxa de fracasso terapêutico da mefloquina como monoterapia em regiões de fronteira na Ásia (Tailândia/Camboja e Myanamar/Tailândia), excede a 50%, principalmente como resistência de nível I e II (WERNSDORFER, 1998). O uso isolado da mefloquina em algumas áreas da Amazônia Brasileira, como na cidade de Manaus, bem como o seu emprego indistintamente para qualquer caso de malária falciparum, sem respeitar a sua indicação como droga de segunda escolha, pode ter contribuindo para a maior tolerância dos parasitos ao fármaco. Sabe-se que pela comodidade posológica a mesma é usada mais freqüentemente do que é recomendado, e é mais aceitável pelos pacientes em virtude de não apresentar tantos efeitos indesejados. A utilização de ferramentas moleculares no mapeamento da quimiorresistência da malária está ainda numa fase inicial. Na última década, os progressos no conhecimento molecular da resistência do P. falciparum a diversos antimaláricos foram significativos, devido à decodificação do genoma do P. falciparum (GARDNER et al., 2002). Mutações nos genes Pfdhfr e Pfdhps foram assosciadas à resistência à SP (sulfadoxina-pirimetamina), enquanto que as mutações nos genes Pfcrt à resistência à cloroquina. Os polimorfismos no Pfmdr1 parecem alterar a suscetibilidade dos parasitos à mefloquina, quinino e cloroquina. Embora os marcadores moleculares não tenham sido objetos deste estudo, a 71 aplicação dessa ferramenta é de real importância para a compreensão dos mecanismos de resistência da droga, na definição concreta dos perfis do P. falciparum aos antimaláricos e no planejamento de estratégias no controle da malária e na padronização do uso de antimaláricos. Como observado, a aplicação do ensaio imunoenzimático ELISA HRP2 de sensibilidade do P. falciparum às drogas antimaláricas neste experimento, poderia ser recomendada em estudos epidemiológicos, na medida em que a técnica demonstrou ser sensível rápida e de simples execução, sendo adaptada às exigências de laboratórios individuais sem dificuldades, podendo ser empregada com diferentes densidades de parasitemias. O procedimento da cultura do plasmódio é semelhante ao microteste (OMS). vantagem por ser automatizado, o cultivo O método ELISA apresenta a dos parasitos, em diferentes concentrações de antimaláricos, pode ser realizado in loco e a placa de experimentação pode ser congelada e enviada posteriormente para um laboratório de referência. Como observações desvantajosas constatadas, o método enzimático apresenta um custo elevado de aquisição, a dificuldade no processo de importação, a manutenção dos kits dos anticorpos monoclonais inalterados frente às variações de temperatura e umidade no seu transporte e acondicionamento local e a necessidade de uma leitora de ELISA, nem sempre disponível em laboratórios de pequeno porte. A despeito da variedade de métodos empregados nos estudos publicados, tem se observado uma mudança do perfil de sensibilidade in vitro do P. falciparum aos antimaláricos utilizados na Amazônia Brasileira. Contudo, evidencia-se a 72 necessidade de se rever o limiar in vitro da sensibilidade das cepas de plasmódio às drogas na região amazônica brasileira, em concordância com Di Santi et al. (1988), Couto et al. (1995) e Zalis, et al. (1998). Uma amostragem maior de isolados a serem avaliados pela RAVREDA, os estudos de monitoramento da resistência às drogas antimaláricas em toda a Região Amazônica, utilizando protocolos padronizados para avaliação in vitro da sensibilidade dos parasitos aos medicamentos, possibilitarão o esclarecimento de algumas situações particulares, como as observadas em nosso estudo e por outros pesquisadores. Será possível futuramente comparação entre os países signatários da Rede. se estabelecer parâmetros de 73 6. CONCLUSÃO 1. Com base na concentração mínima inibitória pelo microteste (OMS), a resistência do P. falciparum foi de 22,8% e 42,8% ao quinino e à mefloquina respectivamente. 2. Com base na concentração de inibição 50% pelo microteste (OMS), a resistência do P. falciparum ao quinino foi de 37,2% e à mefloquina de 54,3% , com a média da IC50 de 246,5 nM e 38,9 nM respectivamente 3. Pelo ELISA HRP2, a resistência do P. falciparum ao quinino foi de 31,4% e à mefloquina de 45,7%, com a média da IC50 de 225,19 nM e 40,03 nM respectivamente. 4. Os níveis de IC50 determinados pelo ELISA-HRP2 apresentaram alta correlação com os determinados pelo microteste (OMS). 5. O teste de sensibilidade pelo método do ELISA HRP2 demonstrou vantagens operacionais, tais como: Fácil execução técnica. Possibilidade de análises de múltiplas amostras simultaneamente em curto período de tempo. Conveniência de armazenamento da placa de cultura a –20ºC após a fase de incubação por longo período. Não utilização de material radioativo. Semi-automação, evitando os riscos de falha humana na interpretação dos resultados. Fácil adaptação às exigências de laboratórios individuais. 74 7. Referências Bibliográficas ALECRIM, M.G.C. Estudo da resistência do P. falciparum às drogas antimaláricas in vivo e in vitro na Amazônia. 121p. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília,DF, (1981). 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WILSON DUARTE ALECRIM Mestranda: Yonne Francis Chehuan Melo DESCRIÇÃO E OBJETIVO DO ESTUDO Este é um estudo que estamos fazendo na Fundação de Medicina Tropical (FMTAM), com o objetivo de estudar, in vitro, a sensibilidade do Plasmodium falciparum as drogas antimaláricas em pacientes atendidos na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT/AM). Para isso, é preciso que sejam colhidos 5 mL de sangue da veia do antibraço para se realizar exames de sangue. Os possíveis desconfortos e riscos, se ocorrerem, são aqueles relacionados com a retirada de sangue, como dor local e/ou hematoma (“rouxidão”) no local da punção, com duração de 3 a 4 dias. Após a coleta o (a) paciente será atendido pelo médico. BENEFÍCIOS: Participando desse estudo o (a) paciente não receberá qualquer benefício adicional, nem ganhará dinheiro, mas estará contribuindo para o conhecimento científico da malária. Todos os cuidados apropriados serão tomados, como o uso de seringa, agulha e gaze descartável assim como álcool para assepsia local, entre outros. 90 Em caso de prejuízo ou dano a saúde decorrente da pesquisa, a responsabilidade indenizatória caberá ao coordenador do estudo e a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. O (a) paciente receberá informações sobre os mecanismos de transmissão da doença e as formas de evitar uma nova infecção. QUEM VAI FICAR SABENDO DO RESULTADO DOS EXAMES? A participação nesse estudo será confidencial e os resultados dos exames serão mostrados as pessoas da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas que trabalham com malária ou pesquisadores de outras cidades ou países, mas o nome da pessoa que participa nunca será revelado. O QUE ACONTECE SE O PACIENTE QUISER DESISTIR DE PARTICIPAR DA PESQUISA? A pessoa que participa da pesquisa tem todo o direito de desistir a qualquer momento do estudo. E mesmo que isso aconteça, a pessoa será tratada e terá um médico para atendê-la sempre que for possível. NENHUM PESQUISADOR PODE DEIXAR DE TRATAR BEM O PACIENTE QUE NÃO QUEIRA PARTICIPAR DA PESQUISA !!!! O PACIENTE GUARDARÁ ALGUM PAPEL DIZENDO QUE PARTICIPOU DA PESQUISA? A pessoa que aceitar participar da pesquisa guarda uma cópia deste documento que será assinado duas vezes, uma cópia fica com o pesquisador e a outra com o paciente. E O QUE FAZER SE ACONTECER ALGUMA COISA COM O PACIENTE DEPOIS DA PESQUISA? A Dra. YONNE FRANCIS C. MELO, cujo número de telefone é 238-1711 (ramal 219), terá disponibilidade para atender e esclarecer quaisquer dúvidas. 91 CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO: Eu,....................................................................................................................., recebi a explicação de que serei um (a) dos (as) participantes dessa pesquisa. Se eu não souber ler ou escrever, uma pessoa de minha confiança lerá este documento para mim e depois escreverá nesta página o meu nome. E por estar devidamente informado e esclarecido sobre o conteúdo deste termo, livremente, sem qualquer pressão por parte dos pesquisadores, expresso meu consentimento para minha inclusão nesta pesquisa. Data......../......./......... ...................................................................... Assinatura do (a) paciente ou representante legal Impressão do polegar direito do (a) paciente, caso esta não saiba escrever seu nome. ................................................................................ .......... Nome do pesquisador que conversou com o (a) paciente ............................................................................................ Assinatura do pesquisador que conversou com o (a) paciente 92 ANEXO B 93 ANEXO C 94 ANEXO D – HN- NonLin V.1.05 Beta