do artigo

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Maschio-Lima et al.
Indicadores de Prescrição na Cardiologia
Artigo Original
Artigo
Original
Rev Bras Cardiol. 2014;27(5):333-341
setembro/outubro
Avaliação Preliminar de Prescrições para Idosos em Serviço de Cardiologia de
um Hospital de Ensino
Preliminary Assessment of Prescriptions for Elderly Patients in the Cardiology Unit of a Teaching Hospital
Tiago Aparecido Maschio de Lima1, Marcelo Arruda Nakazone2, Adriana Antonia da Cruz Furini3
Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - Centro Integrado de Pesquisa - São José do Rio Preto, SP - Brasil
Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - Unidade Coronária e Unidade de Pós-operatório de Cirurgia Cardíaca São José do Rio Preto, SP - Brasil
3
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - Centro de Investigação de Microrganismos - São José do Rio Preto, SP - Brasil
1
2
Resumo
Abstract
Fundamentos: Indicadores são ferramentas úteis para
se conhecer o perfil da prescrição.
Objetivo: Analisar os indicadores de prescrição
medicamentosa recomendados pela Organização
Mundial da Saúde em prescrições de pacientes idosos
internados em enfermaria de cardiologia do sistema
público de saúde.
Métodos: Estudo exploratório-descritivo de abordagem
qualitativa através da análise de 1 382 prescrições,
durante o período de internação, de 223 pacientes
idosos admitidos na enfermaria da cardiologia clínica
de um hospital de ensino.
Resultados: A média de medicamentos por prescrição
foi 11,66. Foram prescritos 16 117 medicamentos:
72,69% prescritos pelo nome genérico; 99,39%
padronizados pela instituição; 2,86% antimicrobianos;
41,87% injetáveis e 4,39% medicamentos psicotrópicos.
Os medicamentos mais prescritos foram: dipirona
sódica (7,84%), omeprazol (4,80%) e maleato de
enalapril (4,78%). No primeiro nível da classificação
do Anatomical Therapeutic Chemical, as classes mais
utilizadas foram: sistema cardiovascular (35,18%),
trato gastrintestinal (23,42%), sangue e órgãos
hematopoiéticos (17,81%). No segundo nível, as classes
predominantes foram: antitrombóticos (17,61%),
analgésicos (9,30%) e antieméticos (8,20%).
Conclusões: Nas prescrições analisadas, o consumo
médio de medicamentos foi alto, justificado pela
complexidade, idade e doenças concomitantes dos
pacientes; parte dos medicamentos foi prescrita pelo
nome comercial, contrariando a legislação vigente para
o serviço público. Para uma utilização de medicamentos
mais racional e segura em idosos no serviço de
Background: Indicators are useful tools for examining
drug prescription profiles.
Objective: To analyze drug prescription indicators
recommended by the World Health Organization
in prescriptions for elderly patients in a cardiology
ward under Brazil’s Unified National Health
System (SUS).
Methods: This exploratory descriptive study
uses a qualitative approach through analyzing
1,382 prescriptions issued during the hospitalization
of 223 elderly patients in the clinical cardiology ward
of a teaching hospital.
Results: The average number of drugs per prescription
was 11.66, with a total of 16,117 medications
prescribed: 72.69% prescribed by their generic names;
99.39% listed as approved by the institution;
2.86% antimicrobials; 41.87% injectables; and 4.39%
psychotropics. The medications most frequently
prescribed were dipyrone (7.84%), omeprazole (4.80%)
and enalapril maleate (4.78%). At the first ATC
classification level, the classes most used were:
cardiovascular system (35.18%), gastrointestinal tract
(23.42%); and blood or blood-forming organs (17.81%).
At the second level, the predominant classes were:
antithrombotics (17.61%), analgesics (9.30%) and
antiemetics (8.20%).
Conclusions: In the prescriptions analyzed, average
drug consumption was high, justified by the
complexity, age and concomitant diseases of the
patients, with some medications prescribed by
brandname, breaching Brazilian National Health
System law. This leads to the conclusion that, in order
to ensure safer and more rational use of medications
Correspondência: Tiago Aparecido Maschio de Lima
Av. Brigadeiro Faria Lima, 5544 - Vila São José - 15090-000 - São José do Rio Preto, SP - Brasil
E-mail: [email protected]
Recebido em: 22/04/2014 | Aceito em: 03/10/2014
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Rev Bras Cardiol. 2014;27(5):333-341
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Indicadores de Prescrição na Cardiologia
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cardiologia, conclui-se que há necessidade de se
estabelecerem padrões mínimos para os indicadores
de prescrição referentes ao número de medicamentos,
injetáveis, antimicrobianos e psicotrópicos, de acordo
com a complexidade do âmbito hospitalar na faixa
etária estudada.
for elderly patients in cardiology units, minimum
indicator standards must be established for the
number of injectable, antimicrobial and psychotropic
drugs prescribed, tailored to the complexity of the
hospital environment for the age bracket addressed
by this study.
Palavras-chave: Indicadores; Prescrições de
medicamentos; Idoso; Cardiologia
Keywords: Indicators; Drug prescriptions; Aged;
Cardiology
Introdução
cruciais da prática farmacêutica no campo da atenção
primária2,4,5. Refletem o funcionamento do serviço de
saúde, principalmente no que se refere às práticas
gerais de prescrição com independência dos
diagnósticos específicos2,6,10. Também são considerados
ferramenta útil em ambientes de cuidados secundários
e terciários para avaliar a situação de uso de
medicamentos em serviços de saúde mais complexos,
por isso, destaca-se a importância de serem utilizados
no âmbito hospitalar4.
A prescrição é um documento preenchido por
profissional legalmente habilitado, destinada ao
paciente, ao farmacêutico e demais profissionais de
saúde. Deve conter informações sobre a terapêutica e
sobre o medicamento a ser dispensado. Por isso, possui
valor legal, pelo qual se responsabilizam os profissionais
que prescrevem, dispensam e administram os
medicamentos1-4.
Constitui instrumento essencial para a terapêutica e
para o Uso Racional de Medicamentos (URM). A
promoção do URM compreende a prescrição
apropriada; a farmacoeconomia; a dispensação em
condições adequadas; o consumo nas doses
indicadas, nos intervalos definidos e no período
de tempo indicado, além da eficácia, segurança
e qualidade dos medicamentos 5-7. Trata-se de
importante fator para a qualidade e quantidade do
consumo de medicamentos, embora o ato da
prescrição sofra influências do conhecimento do
prescritor, das expectativas do paciente e da
indústria farmacêutica8-10.
Diante da crescente preocupação em promover o
URM, a Organização Mundial da Saúde (OMS) 11
desenvolveu indicadores de prescrição medicamentosa
como uma maneira de descrever e avaliar com
segurança aspectos que afetam a prática farmacêutica
em grandes e pequenos centros de saúde3,4,12. Dessa
maneira é possível conhecer as práticas terapêuticas
correntes, comparar parâmetros entre instituições
similares e descrever as necessidades de medicamentos
da população atendida6,7,10.
Os indicadores de prescrição recomendados pela OMS
possibilitam discutir situações da prática diária dos
profissionais, gerenciadores e usuários do sistema de
saúde, assim como avaliar com segurança os aspectos
334
Esses indicadores incluem: o número médio de
medicamentos por prescrição com o objetivo de
medir o grau de polifarmácia; a porcentagem de
medicamentos prescritos pela denominação genérica
para mensurar a tendência do prescritor em utilizar o
nome comercial; a porcentagem de prescrições com
pelo menos um antimicrobiano para dimensionar o
uso dessa classe terapêutica relacionada a custos
elevados e multirresistência; a porcentagem de
prescrição com pelo menos um medicamento injetável
para medir o nível geral de uso dessa forma
farmacêutica de elevado custo em relação às demais
utilizadas por outras vias de administração; a
porcentagem de prescrição com pelo menos um
medicamento controlado para medir o grau de
prescrição de psicotrópicos e entorpecentes; e a
porcentagem de medicamentos prescritos que fazem
parte da lista de padronização de medicamentos do
estabelecimento de saúde elaborada a partir da Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME)
para medir o grau em que as práticas de prescrição
estão em conformidade com a Política Nacional de
Medicamentos (PNM)1-13.
Este trabalho teve por objetivo analisar os indicadores
de prescrição recomendados pela OMS em prescrições
medicamentosas de pacientes idosos internados em
enfermaria de cardiologia do sistema público de saúde
de um hospital de ensino.
Maschio-Lima et al.
Indicadores de Prescrição na Cardiologia
Artigo Original
Métodos
Estudo retrospectivo, exploratório-descritivo de
abordagem qualitativa, realizado no período de abril
de 2013 a julho de 2013, no Hospital de Base da
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto,
região noroeste paulista. Analisadas as prescrições
medicamentosas de 223 idosos (>60 anos), de ambos
os sexos, admitidos na enfermaria de cardiologia
clínica do SUS, totalizando 1 382 prescrições
eletrônicas.
O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de São
José do Rio Preto (FAMERP), sob o nº CAAE
14772313.4.0000.5415. Houve dispensa do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, justificado pela
análise das prescrições por meio de prontuário
eletrônico e a não utilização de entrevistas com os
pacientes. Neste artigo não há dados que divulguem
a identidade dos pacientes.
Nas prescrições analisadas foram coletados os
seguintes dados:
a) Demográficos: sexo e idade.
b)Classes terapêuticas mais prescritas: os
medicamentos foram classificados segundo a
Denominação Comum Brasileira (DCB) e de acordo
com os dois primeiros níveis do índice de classificação
do Anatomical Therapeutic Chemical (ATC), proposto
pela OMS em 19903,4,6,10-12. As associações encontradas
foram consideradas sem informação, devido ao fato
de que o sistema ATC não as classifica13.
c) Indicadores de prescrição medicamentosa3,4,6,10-12:
- número de medicamentos por prescrição (total
de medicamentos prescritos/prescrições
analisadas);
- porcentagem de medicamentos prescritos pelo nome
genérico (total de medicamentos genéricos
prescritos/total de medicamentos prescritos,
multiplicando-se por 100);
- porcentagem de medicamentos prescritos pertencentes
à lista de medicamentos padronizados (LMP) pelo
hospital, vigente em 2013 (total de medicamentos
prescritos que figuram na LMP/total de medicamentos
prescritos, multiplicando-se por 100);
- porcentagem de antimicrobianos prescritos (prescrição
em que foi prescrito ao menos um antimicrobiano/
total de prescrições, multiplicando-se por 100);
- porcentagem de injetáveis prescritos (prescrições
em que foi prescrito ao menos um injetável/total
de prescrições, multiplicando-se por 100);
- porcentagem de medicamentos controlados
(psicotrópicos e entorpecentes) prescritos
(prescrições em que foi prescrito ao menos um
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medicamento controlado/total de prescrições,
multiplicando-se por 100).
Resultados
A média de idade dos pacientes foi 71,98±7,66 anos,
variando entre 60-92 anos. A prevalência situou-se na
faixa etária entre 60-80 anos (88,95%). Dos 223 idosos,
117 (52,47%) eram do sexo masculino (Tabela 1).
Tabela 1
População estudada de acordo com a idade e o sexo
Variáveis
n
%
Feminino
106
47,53
Masculino
117
52,47
60 - 69
101
45,29
70 - 79
92
41,25
80 - 89
29
13,01
90 - 99
1
0,45
Sexo
Faixa etária (anos)
Foram prescritos 16 117 medicamentos em 1 382 prescrições
analisadas durante todo o período de internação dos
223 pacientes idosos com doenças cardiovasculares.
Houve, no mínimo, duas prescrições por paciente. Em
relação ao número de dias de internação dos pacientes,
encontrou-se o mínimo de dois, máximo de 29 dias e
média de 7,13 dias. Os dados das prescrições foram
utilizados para os cálculos dos indicadores de
prescrição da OMS (Tabela 2).
Na Tabela 3 encontram-se as classes terapêuticas mais
prescritas de acordo com o primeiro nível da
classificação ATC.
O segundo nível da ATC com os grupos farmacológicos
mais prescritos estão apresentados na Tabela 4.
Os medicamentos mais prescritos foram: dipirona
sódica (7,84%), omeprazol (4,80%), enalapril (4,78%),
atorvastatina (4,65%) e insulina regular (4,29%).
A Tabela 5 apresenta uma comparação entre os
resultados encontrados neste estudo e outros estudos,
de acordo com as recomendações da OMS.
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Indicadores de Prescrição na Cardiologia
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Tabela 2
Indicadores de prescrição medicamentosa da Organização Mundial da Saúde, aplicados nas 1 382 prescrições analisadas
Indicadores de prescrição medicamentosa da OMS
Valores
Número médio de medicamentos por prescrição
11,66
% de medicamentos prescritos pelo nome genérico
72,69
% de medicamentos prescritos incluídos na LPM do hospital
99,39
% de antimicrobianos prescritos
2,86
% de medicamentos injetáveis prescritos
41,87
% de medicamentos controlados prescritos
4,39
LPM - lista de medicamentos padronizados
Tabela 3
Medicamentos mais prescritos de acordo com a classificação da ATC nível 1
ATC 1
Classe terapêutica
%
C
Sistema cardiovascular
35,18
A
Trato gastrintestinal e metabolismo
23,42
B
Sangue e órgãos hematopoiéticos
17,81
N
Sistema nervoso
12,67
R
Sistema respiratório
4,98
J
Anti-infecciosos gerais para uso sistêmico
3,33
H
Medicamentos hormonais sistêmicos, exceto hormônios sexuais e insulinas
2,09
P
Antiparasitários, inseticidas e repelentes
1,13
M
Sistema musculoesquelético
0,13
G
Sistema geniturinário e hormônios sexuais
0,068
ATC - Anatomical Therapeutic Chemical
Tabela 4
Subníveis da classificação ATC mais frequentes nas prescrições analisadas
ATC 2
Grupo farmacológico
%
B01
Antitrombóticos
N02
Analgésicos
9,3
A04
Antieméticos
8,2
C03
Diuréticos
7,84
A02
Distúrbios de acidez
7,67
C07
Bloqueadores dos receptores beta-adrenérgicos
6,37
A10
Diabetes
5,48
C01
Terapêutica cardíaca
5,28
C09
Sistema renina-angiotensina
5,11
R03
Antiasmáticos de inalação
3,61
ATC - Anatomical Therapeutic Chemical
336
17,61
Maschio-Lima et al.
Indicadores de Prescrição na Cardiologia
Artigo Original
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Tabela 5
Indicadores de prescrição de medicamentos encontrados comparados com outros estudos
Autor
Maschio- Desalegn10 Ferreira
Lima
et al.4
et al.**
Souza
et al.2
Oliveira Frohlich& Medeiros Oliveira Emerick OMS11
et al.7
Mengue12
et al.8
et al.5
et al.16
Local/ano
SJRP, SP Hawassa,
Sul e
Santa Salvador,
(2014)
Etiópia Centro- Catarina
BA
(2013)
Oeste
(2012)
(2012)
(2013)
Santa
Cruz do
Sul, RS
(2011)
Brasília,
DF
(2011)
Marília,
SP
(2009)
Brasil
(2009)
-
Média de
medicamentos
por prescrição
11,7
1,9
2,2
2,4
2,0
1,8
3,1
3,0
2,3
2,0 ou
menos
% nome genérico
72,7
98,7
86,1
86,8
72,3
84,0
43,0
85,5
84,2
100
% padronizados
99,4
96,6
77,4
91,5
99,0
81,0
68,6
77,0
78,3
70
2,9
58,1
13,1
19,0
5,4
8,0
não
coletado
10,1
40,1
20 ou
menos
41,9
38,1
2,5
3,0
21,5
3,0
não
coletado
3,7
6,9
10
% antimicrobianos
% injetáveis
** - trata-se do presente estudo; SJRP - São José do Rio Preto
Discussão
O presente estudo apresenta como fato inovador a
aplicação dos indicadores de prescrição da OMS na
alta complexidade hospitalar. Além disso, trata-se de
uma população de faixa etária homogênea (idosos)
atendida por uma especialidade médica específica
(cardiologia clínica).
Os dados coletados possibilitaram a caracterização
dos medicamentos prescritos aos idosos quanto aos
indicadores de prescrição medicamentosa, as classes
farmacológicas, bem como a comparação do padrão
de prescrição com outros serviços de saúde.
Em alguns casos, a comparação com outros trabalhos
não foi linear em consequência da escassez de estudos
com utilização dos indicadores de prescrição da OMS
com população, especialidade e nível de complexidade
semelhantes, ou seja, idosos na cardiologia clínica da
atenção terciária de alta complexidade.
No que se refere ao sexo dos idosos, houve prevalência
do sexo masculino, representando 52,47% da
população estudada. Este resultado é contrário ao
obtido por Oliveira et al.5, em estudo realizado na
cidade de Marília, SP, com 382 idosos, sendo 58,6%
mulheres.
O consumo médio de medicamentos foi 11,66 por
prescrição. Estudos internacionais, como o realizado
no Hospital Referência Universitário em Hawassa, sul
da Etiópia, por Desalegn 10 obteve média de
1,9 medicamentos por prescrição em 1 290 prescrições
analisadas de pacientes ambulatoriais; 2,94 em estudo
realizado por Cima et al.9 em 4 500 prescrições de
pacientes de um Centro de Saúde na região norte de
Portugal.
Em estudos ambulatoriais nacionais, como o de Vooss
& Diefenthaeler6, verificou-se um consumo médio de
2,03 em Getúlio Vargas, RS em 1 030 prescrições de
pacientes de uma Unidade Básica de Saúde (UBS).
Flores & Mengue14 verificaram 3,2 medicamentos em
prescrições de 215 idosos em Porto Alegre, RS;
Medeiros et al.8 encontraram 3,1 medicamentos em
prescrições de 130 pacientes idosas de Brasília;
Oliveira et al.7 constataram 2,0 medicamentos em
1 230 prescrições na Unidade Saúde da Família em
Salvador, BA; Portela et al.3 encontraram 2,4 nas
prescrições de 474 pacientes das UBS do município
d e Esperança, PB; Souza et al. 2 verificaram
2,4 medicamentos nas prescrições de 100 pacientes de
um município no sul de Santa Catarina; Bertoldi et al.15,
em estudo realizado com 3 182 indivíduos no
município de Pelotas, RS, constataram que 18,0% dos
medicamentos prescritos a indivíduos >20 anos são
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utilizados por idosos; Emmerick et al.16, em estudo
para avaliação farmacológica no Brasil, demonstrou
a média de 2,7 para a faixa etária >60 anos em cinco
estados brasileiros.
Embora a OMS proponha como padrão a prescrição
de 1,3 a 2,2 medicamentos por consulta médica, tal
critério não diferencia as faixas etárias, o que se torna
insuficiente na comparação com os dados da
população avaliada, em decorrência da maior
frequência de utilização dos serviços de saúde e
também maior quantidade de medicamentos. Porém,
estes resultados reforçam que idosos consomem
muitos medicamentos. A população idosa é mais
vulnerável às alterações no estado de saúde, tais como
quedas, múltiplas doenças, obesidade, dependências
diversas e, consequentemente, o uso de múltiplos
medicamentos, sendo a prescrição de medicamentos
a forma de intervenção mais frequente5,8. Além disso,
a alta complexidade possui prescrição com número
maior de medicamentos por motivos relacionados à
gravidade das doenças, sendo necessário estabelecer
valores mínimos com o número de medicamentos por
prescrição para o âmbito hospitalar.
O número médio de medicamentos por prescrição tem
o propósito de verificar o grau de polifarmácia que,
em alguns casos, é necessária. Quanto maior o número
de medicamentos prescritos há maior risco de
interações e eventos adversos relacionados aos
medicamentos. A polifarmácia favorece o sinergismo
e o antagonismo não desejado, o descumprimento das
prescrições de medicamentos não essenciais e gastos
excedentes com aqueles de uso supérfluo, além de
duplicidade ou erros na administração5. A idade da
população deve ser considerada, uma vez que a
tendência é aumentar o número de medicamentos por
prescrição quanto mais idosa for população, pois
maior é o número de morbidades. Com o aumento da
idade cronológica, podem surgir inúmeras causas de
fragilidade e risco. Estima-se que a população idosa
brasileira consuma 60,0% da produção nacional
de medicamentos14. O estudo de Cima et al.9, em
4 500 prescrições na região norte de Portugal,
descreveu a prevalência de polimedicação e uso
crônico de medicamentos em idosos, sendo os mais
prescritos: os anti-hipertensivos, os antidislipidêmicos
e os anticoagulantes/antitrombóticos, refletindo a
elevada prevalência de fatores de risco e de doença
cardiovascular na população.
O número de antimicrobianos por prescrição está em
conformidade com a orientação da OMS, que
preconiza seja inferior a 20% do total de medicamentos
prescritos, e neste estudo representaram 2,86% das
prescrições. O número reduzido de prescrições de
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Maschio-Lima et al.
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Artigo Original
antimicrobianos deve-se ao fato de a população
constituir-se de pacientes de cardiologia, que apresentam
baixa incidência de infecções. O valor (2,86%) para a
utilização dessa classe farmacológica é muito inferior
quando comparado aos dados de estudos com amostra
representada pela população geral e diversas
especialidades médicas: Desalegn10 descreveu valores
de 58,0%, Vooss & Diefenthaeler6, de 21,7%; Souza et
al.2 de 19,0%, enquanto Portela et al.3 de 9,3% e Carmo
& Nitrini17 de 5,6%.
Quanto aos medicamentos injetáveis, a recomendação
é que corresponda até 10% dos medicamentos
prescritos. Estes ocorreram pelo menos uma vez em
41,87% das prescrições, resultado semelhante ao
encontrado por Desalegn10 em Hassawa, Etiópia em
1 290 pacientes hospitalizados com 38,1% de injetáveis
prescritos; Portela et al. 3, em 474 pacientes do
município de Esperança, PB, descreveram 2,97% de
injetáveis; Vooss & Diefenthaeler6 encontraram 2,4
em Getúlio Vargas, RS a partir de prescrições de
1 030 pacientes; e Souza et al.2, 3,0% nas prescrições de
100 pacientes de município de Santa Catarina. As
principais consequências do uso indevido dessa forma
farmacêutica ou da aplicação incorreta são as reações
anafiláticas, necroses teciduais ou infecções por
deficiência de assepsia. Além disso, a utilização da via
injetável é uma das causas da não adesão à terapêutica,
desistência ou tratamentos incompletos, razão pela
qual a opção pela terapêutica medicamentosa por essa
via deve ser avaliada.
É muito difícil definir valores ótimos para a prescrição
de injetáveis; isto ocorre em razão de tais indicadores
sofrerem influência de diferentes fatores fortemente
dependentes de características regionais e locais,
principalmente perfil de morbidade e características
dos serviços de saúde18. Portanto, a elevada taxa de
medicamentos injetáveis neste estudo deve-se ao alto
grau de complexidade dos pacientes internados.
Adicionalmente, no presente estudo, 16 017 (99,39%)
dos medicamentos prescritos pertencem à LMP do
hospital. Resultado muito superior ao encontrado por
Furini et al.13, nas prescrições de gestantes em Mirassol,
SP, onde 151 (58,0%) dos medicamentos prescritos
para gestantes pertenciam à padronização. Neste
aspecto, o hospital se apresenta dentro do padrão
recomendado pela OMS, que é de, pelo menos, 70%.
Em outros estudos foram encontradas frequências que
variaram de 77,0% a 96,6%, dados considerados mais
próximos aos achados no presente estudo2,3,5,6,10,18-20.
A padronização visa a elencar aqueles medicamentos
considerados essenciais, o que pressupõe que esses
produtos irão atender a maioria das necessidades da
Maschio-Lima et al.
Indicadores de Prescrição na Cardiologia
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população, já que se baseiam no perfil epidemiológico
de doenças1.
Em relação à prescrição pelo nome genérico, no
presente estudo, totalizaram 72,69%. A Lei 9 787 de
10/2/199921 define a obrigatoriedade dos serviços
públicos em prescreverem a totalidade dos
medicamentos pelo nome genérico. Tais dados, apesar
de não estarem em consonância com a meta de 100%,
podem representar um avanço quando comparados
com os de outros estudos. O fato de o hospital deste
estudo ser informatizado e utilizar a prescrição
eletrônica poderia contribuir para o cumprimento dessa
meta, através da formatação das prescrições somente
pela nomenclatura genérica, ou seja, a Denominação
Comum Brasileira. As estratégias de marketing da
indústria farmacêutica, com ênfase na marca de
produtos, também contribuem para esse achado. A
prescrição pelo nome genérico é uma das estratégias
da OMS para aumentar o acesso da população aos
medicamentos e promover seu uso racional22.
Desalegn10 demonstrou resultado superior, com 98,7%
dos medicamentos prescritos pelo nome genérico.
Estudos brasileiros revelaram valores inferiores:
Souza et al.2 com 86,8% no sul de Santa Catarina;
Oliveira et al.7 com 72,0% em Salvador, BA; Vooss &
Diefenthaeler6 com 72,8% em Getúlio Vargas, RS;
Medeiros et al.8 com 42,97% no Distrito Federal; Carmo
& Nitrini17 em Piracicaba, SP com 49,4%; Santos &
Nitrini18 com 30,6% em Ribeirão Preto, SP; e Girotto &
Silva 23 que obtiveram 70,2% em Ibiporã, PR. Já
Oliveira et al. 5, em estudo sobre indicadores de
medicamentos em Unidades Saúde da Família, em
Marília, SP, demonstraram resultados superiores com
frequências de 91,7%; 88,3%; 87,2% e 85,7%, nos
medicamentos prescritos pelo nome genérico em
quatro unidades; Portela et al.3 encontraram 85,3%.
A conscientização dos prescritores sobre o seu papel
fundamental no cumprimento da legislação para a não
utilização de nomes comerciais, bem como o
desenvolvimento de programas de educação
continuada e de monitoramento, são ações que podem
resultar em farmacoeconomia, melhorias das práticas
de prescrição, além da minimização da influência da
indústria farmacêutica.
As classes de medicamentos mais utilizadas de acordo
com o primeiro nível de classificação ATC para as
prescrições analisadas foram: medicamentos para o
sistema cardiovascular (35,18%), trato gastrintestinal
(23,42%) e para o sangue e órgãos hematopoiéticos
(17,81%). Resultados semelhantes aos de Oliveira et al.5
que acharam prevalência dos medicamentos para o
sistema cardiovascular (27,9%) e que atuam no
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setembro/outubro
metabolismo e sistema digestivo (15,1%). No estudo
de Flores & Mengue14 foram prescritos 18% da última
classe para idosos; Medeiros et al.8 encontraram 53,7%
para o sistema cardiovascular; Cima et al.9 acharam
para o sistema cardiovascular (51,6%), sistema nervoso
(38,3%) e metabolismo (25,4%).
Girotto & Silva 23 encontraram para este nível de
classificação 20,7% de medicamentos para o aparelho
respiratório, 17,8% para o sistema nervoso e 12,2% para
o aparelho digestivo e metabolismo; já Souza et al.2
encontraram para o sistema nervoso 49,4%, seguido
do aparelho digestivo e metabolismo que representou
11,9%.
A utilização de medicamentos para o sistema
cardiovascular é notável na população idosa com
doenças cardíacas, tais como síndrome coronariana
aguda, arritmias, insuficiência cardíaca e hipertensão
arterial24,25. Neste estudo, os idosos apresentaram
diagnósticos principais das doenças como síndrome
coronariana aguda, insuficiência cardíaca, arritmias,
diabetes, dislipidemias e hipertensão.
Quanto à análise do segundo nível da ATC, as três
classes predominantes foram: antitrombóticos
(17,61%), analgésicos (9,30%) e antieméticos (8,20%).
Os medicamentos mais prescritos para idosos foram
a dipirona sódica (7,84%), omeprazol (4,80%) e maleato
de enalapril (4,78%). Vale ressaltar que não há padrão
de prescrição, pois esta ocorre de acordo com as
doenças apresentadas pelos idosos, porém a prescrição
de dipirona pode ser justificada pelo fato de os idosos
apresentarem muitas dores; omeprazol utilizado para
profilaxia de distúrbios gástricos e enalapril o antihipertensivo para tratamento da hipertensão. Este
resultado difere do referido por Oliveira et al.5, no qual
os medicamentos mais prescritos para idosos foram os
hipotensores (15,2%) e diuréticos (10,7%), seguidos por
anti-inflamatórios não esteroides, analgésicos e
antimicrobianos (26,1%), justificados pela alta
ocorrência de dor em idosos, frequentemente associada
a desordens crônicas, particularmente as doenças
musculoesqueléticas como artrites e osteoporoses.
Desalegn10 em 1 290 prescrições no sul da Etiópia
descreve 34,3% como sendo de antimicrobianos a
classe mais prescrita. No estudo de Portela et al.3, em
prescrições de 474 pacientes na Paraíba, os grupos
farmacológicos mais prescritos foram os do aparelho
circulatório (41,6%) e os anti-hipertensivos (41,5%),
seguidos dos analgésicos não opioides (18,8%).
Oliveira et al.7, em prescrições de 1 230 prescrições na
Bahia, encontraram os anti-hipertensivos (28,0%),
antimicrobianos tópicos (12,0%) e contraceptivos
(11,0%), sendo que o medicamento mais prescrito foi
339
Rev Bras Cardiol. 2014;27(5):333-341
setembro/outubro
a hidroclorotiazida presente em 20,2% das prescrições.
Vooss & Diefenthaeler6, em prescrições de 1 030 pacientes
no Rio Grande do Sul encontraram o diclofenaco
(14,3%) e acetoaminofen (11,7%).
Vieira & Cassiani24 estudaram o perfil de utilização de
medicamentos em grupo de pacientes idosos,
hipertensos, atendidos em Unidade Básica de Saúde,
e verificaram a utilização de 8,0±2,3 tipos de
medicamentos por dia, sendo a classe mais utilizada
a cardiovascular (50,2%). No estudo de Secoli et al.25,
foram avaliadas 90 receitas de pacientes coronariopatas;
houve uso de 6,6±2,0 medicamentos por dia, 96,7% de
polifarmácia e foram identificados 54 medicamentos
distintos, dentre os quais: ácido acetilsalicílico (94,4%),
estatinas (91,1%), betabloqueadores (91,1%) e inibidores
da enzima conversora de angiotensina (79,9%).
Maschio-Lima et al.
Indicadores de Prescrição na Cardiologia
Artigo Original
injetáveis, antimicrobianos e psicotrópicos, para uma
utilização mais racional e segura de medicamentos.
Potencial Conflito de Interesses
Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes.
Fontes de Financiamento
O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.
Vinculação Acadêmica
Este artigo representa o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
de Especialização em Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica
de Tiago Aparecido Maschio de Lima pelo Centro Universitário
de Rio Preto.
Referências
Conclusões
1.
Idosos com doenças cardiovasculares frequentemente
apresentam múltiplas comorbidades, sendo expostos
a regimes terapêuticos complexos e por tempo
prolongado. A intervenção interdisciplinar,
envolvendo farmacêuticos, médicos e enfermeiros,
contribui para o Uso Racional dos Medicamentos na
cardiologia.
2.
Nas prescrições analisadas parte dos medicamentos
foi prescrita pelo nome comercial, contrariando a
legislação vigente aplicável ao sistema público de
saúde que torna obrigatório a prescrição todos os
medicamentos usando a denominação genérica; foram
prescritos alguns medicamentos não padronizados,
descumprindo a padronização proposta pela
instituição, mas justificado pela necessidade individual
dos pacientes. Em relação ao número de medicamentos
e injetáveis prescritos, faz-se necessário estabelecer
padrões mínimos para esses indicadores em relação à
complexidade do âmbito hospitalar do serviço de
cardiologia na população idosa. Portanto, são
necessários mais estudos utilizando esses indicadores
na atenção terciária, onde o padrão de uso de
medicamentos é mais complexo e de acordo com faixa
etária analisada, uma vez que a classificação da OMS
não considera esses fatores.
Concluiu-se que há necessidade de aprimoramento
da prática de prescrição de medicamentos,
independentemente do nível de prestação de cuidados
de saúde, implantando diretrizes institucionais, a fim
de atingir os padrões de prescrição mais adequados
com base na lista de medicamentos padronizados e
prescritos pelo nome genérico, além de reduzir,
sempre que possível, a prescrição de medicamentos
340
3.
4.
5.
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