ESTUDO NACIONAL SOBRE PRESCRIÇÃO E/OU UTILIZAÇÃO DO MEDICAMENTO NO BRASIL • Os medicamentos são os tratamentos mais utilizados nos serviços de saúde, sendo que nos países em desenvolvimento cerca de 30% dos recursos da saúde são destinados para estes produtos. • Estima-se que 50% de todos os medicamentos usados no mundo são prescritos, dispensados, vendidos ou usados de uma maneira incorreta. • 66% dos antibióticos comercializados são vendidos sem receita • O uso irracional de medicamentos constitui uma séria ameaça à saúde pública: nos EUA, o uso indevido de medicamentos é uma das 10 principais causas de mortalidade. • O uso inapropriado de antibióticos e antimaláricos no mundo significa que tratamentos de primeira linha (baixo custo) não são mais efetivos. • No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, tem ressaltado a importância do uso inadequado de medicamentos como um problema de Saúde Pública prevalente em todo o mundo. • Ainda, segundo informações do Sistema Nacional de Informações TóxicoFarmacológicas – Sintox, os medicamentos ocupam o primeiro lugar entre os agentes causadores de intoxicações em seres humanos e o segundo lugar nos registros de mortes por intoxicação. Exemplos Comuns de Uso Irracional • Muitos medicamentos são prescritos por paciente (polifarmácia) • Injeções são usadas quando fórmulas orais seriam mais adequadas • Antimicrobianos são prescritos em doses inadequadas, ou de forma não apropriada • As prescrições não seguem as diretrizes clínicas A auto-medicação pelo paciente leva ao uso inapropriado Estudos de Utilização de Medicamentos – EUM A Organização Mundial de Saúde – OMS conceitua Estudos de Utilização de Medicamentos como : “Estudos que englobam o mercado, distribuição, prescrição, dispensação de medicamentos em uma sociedade com ênfase em suas conseqüências sanitárias, sociais e econômicas” (ORGANIZATION, 1977). • Este conceito inclui o estudo de uma variedade de problemas que requer conhecimentos e ações das autoridades sanitárias, indústria farmacêutica, profissionais de saúde, instituições de ensino, economistas e sociólogos. • Desse modo a definição de Estudos de Utilização de Medicamentos inclui não somente estudos dos aspectos médicos e não médicos que influem a utilização de medicamentos, mas também o efeito da utilização de medicamentos em todos o níveis. • Segundo Lunde e Baksas os objetivos gerais dos estudos de utilização são: • identificar problemas relativos ao uso de medicamentos e analisá-los quanto a sua importância, causas e conseqüências; • estabelecendo bases para a solução dos problemas e avaliação das soluções adotadas. • Estes objetivos são relevantes para identificar problemas e orientar decisões a ser tomadas em toda cadeia dos medicamentos. • São vários os tipos de Estudo de Utilização de Medicamentos classificados como: estudos sobre oferta, quantitativos (consumo), qualitativos (valor terapêutico) e da propaganda. • A abordagem desses estudos varia de acordo com os propósitos e as necessidades dos usuários, incluindo autoridades sanitárias, profissionais de saúde, pesquisadores, fabricantes de medicamentos, cientistas sociais, bem como os meios de comunicação e consumidores. • A INRUD (A Rede Internacional para o Uso Racional de Medicamentos ) foi estabelecida em 1989 para conduzir uma pesquisa de intervenção multidisciplinar para promover o uso racional de medicamentos • Em 1993, a INRUD(The International Network for Rational Use of Drugs (INRUD) e a OMS publicam uma metodologia padrão para indicadores de uso de medicamentos em unidades de saúde Estudos múltiplos completados, e um documento avaliado é apresentado na 1ª Conferência Internacional para a Melhora do Uso de Medicamentos, em 1997, na Tailândia Indicadores OMS / INRUD para o uso de medicamentos nas Unidades de Atenção à Saúde Primária • • Indicadores de Prescrição – Número médio de medicamentos prescritos por encontro com o paciente – Porcentagem de medicamentos prescritos por nome genérico – Porcentagem de encontros com a prescrição de um antibiótico Indicadores de Atenção ao Paciente – Média de tempo de consulta – Media de tempo de dispensação – Porcentagem de medicamentos dispensados – Porcentagem de pacientes com conhecimento de dose correta Indicadores de disponibilidade – Disponibilidade de lista de medicamentos essenciais ou formulário para médicos – Disponibilidade de diretrizes clínicas – Porcentagem de disponibilidade de medicamentos chaves Indicadores Complementares de Uso de Medicamentos – Média do custo dos medicamentos por encontro – Porcentagem de prescrições de acordo com diretrizes clínicas Quadro 1 – Classificação dos estudos de utilização de medicamentos (EUM) Estudos de consumo Descrevem quais medicamentos são empregados e em que quantidade Estudos de prescrição-indicação Descrevem as indicações de utilização de um determinado fármaco ou grupo de fármacos Estudos indicação-prescrição Descrevem os fármacos utilizados em uma determinada indicação ou grupo de indicações Estudos sobre o esquema terapêutico Descrevem as características da utilização prática dos medicamentos (doses, acompanhamento dos níveis plasmáticos, duração do tratamento, observância etc.) Estudo dos fatores que condicionam os hábitos de prescrição e dispensação Descrevem características dos prescritores, dos dispensadores, dos pacientes e de outros elementos atinentes aos medicamentos e sua relação com os hábitos de prescrição e dispensação. Estudos das conseqüências práticas da utilização dos medicamentos Descrevem benefícios, efeitos indesejáveis e custos reais do tratamento farmacológico; podem, ainda, expor sua ligação com as características da utilização de medicamentos. Estudos de intervenção Descrevem as características da utilização dos medicamentos vinculados a um programa de intervenção concreta sobre seu uso DENTRE OS POSSÍVEIS TEMAS PARA INVESTIGAÇÃO, ENCONTRAM-SE: • Como a terapêutica se desenvolve nas várias esferas da assistência; como se efetiva a demanda; as possibilidades de ocorrência de abuso, mau uso, subuso, uso incorreto de medicamentos e cumprimento de regimes terapêuticos; • Como se faz a seleção, a procura e a distribuição dos medicamentos e que fatores influenciam sua utilização; Como se desenvolve o processo da prescrição; • Estimativas de efetividade, segurança, razão de risco/benefício de dado medicamento e prevalência de efeitos adversos (hoje área temática limítrofe com a farmacovigilância); • Análises de preços e custos; • Desenvolvimento e efetivação de programas educacionais e informativos para promover o uso racional dos medicamentos; • Levantamento e avaliação das políticas governamentais e institucionais relativas a medicamentos. QUADRO 2 – ASPECTOS E CONSEQÜÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS A SEREM EXPLORADOS Médicos Benefícios: eficácia na prevenção, alívio e cura de doenças ou seus sintomas e complicações. Riscos: efeitos adversos de curto prazo e longo prazo, em especial fatores de risco associados com genética, doença e meio ambiente, nutrição, idade, sexo, gravidez, Lactação, entre outros. Relação risco/benefício: a extensão na qual a prescrição ou o uso inapropriado pode reduzir os benefícios e aumentar os riscos. Adaptado de: Laporte; Baksaas & Lunde (1993). In: Marin et al. (2003). QUADRO 2 – ASPECTOS E CONSEQÜÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS A SEREM EXPLORADOS Sociais Atitude quanto aos medicamentos, à saúde e suas bases; padrões correntes na “cultura de medicamentos” versus o uso persistente ou ressurgente da medicina tradicional. Abuso de medicamentos e dependência, bem como suas causas e padrões. Uso impróprio de medicamentos (não cumprimento, uso dos medicamentos para propósitos para os quais eles não foram prescritos ou não são recomendados); incidência dessas ocorrências e posterior formulação e teste de hipóteses. Discriminação e injustiça social (não disponibilidade de medicamentos importantes para pessoas que deles necessitem). Efeitos de informação e medidas regulatórias Adaptado de: Laporte; Baksaas & Lunde (1993). In: Marin et al. (2003). QUADRO 2 – ASPECTOS E CONSEQÜÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS A SEREM EXPLORADOS Econômicos Preços e custos de medicamentos e produtos; importação versus produção local; custos de novas drogas versus drogas antigas e especialidades versus produtos genéricos; custos de tratamentos com medicamentos versus tratamentos não medicamentosos. Razão custo/efetividade/segurança de medicamentos para todas as comparações já listadas. Alocação atual e futura de recursos nacionais (financeiros, humanos e físicos) para medicamentos. QUADRO 2 – ASPECTOS E CONSEQÜÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS A SEREM EXPLORADOS Uso racional de medicamentos no nível local Se os medicamentos foram receitados somente quando realmente necessários; Se o produto farmacêutico prescrito se enquadra dentro do conceito de medicamento essencial, eficácia e segurança comprovada; Se o medicamento foi receitado no momento preciso e na quantidade correta; Se o paciente toma (ou tomou) o medicamento de acordo com as instruções médicas; Se o produto farmacêutico estava disponível a preço compatível com paciente.