FACULDADE DE PARÁ DE MINAS - FAPAM Curso de enfermagem Nayra Lopes Medina O TRATAMENTO DE ÚLCERAS NOS MEMBROS INFERIORES NA ATENÇÃO BÁSICA Pará de Minas 2015 Nayra Lopes Medina O TRATAMENTO DE ÚLCERAS NOS MEMBROS INFERIORES NA ATENÇÃO BÁSICA Monografia apresentada à Coordenação de Enfermagem da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Enfermagem. Orientadora: Professora Dra. Edna Lúcia Campos Wingester Pará de Minas 2015 Nayra Lopes Medina O TRATAMENTO DE ÚLCERAS NOS MEMBROS INFERIORES NA ATENÇÃO BÁSICA Monografia apresentada à Coordenação de Enfermagem da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Enfermagem. Aprovada em _____ / _____ / _____ _______________________________________ Professora Dra. Edna Lúcia Campos Wingester _______________________________________ Professor (a) Meirielle Tavares de Araújo AGRADECIMENTO Primeiramente, a Deus, pela saúde e força para a conclusão desse trabalho. À minha orientadora Edna, pelo suporte e incentivo na realização dessa pesquisa. Aos meus pais, que acreditaram que eu poderia concluir o curso, mesmo com tantas dificuldades e esforço. À minha irmã que, com seu conhecimento, pode me auxiliar em minhas dúvidas no decorrer da minha monografia. Ao meu namorado que teve paciência e compressão. Aos funcionários da atenção primária básica das duas cidades, que me auxiliaram nesse estudo, em especial a Cleide e a Gabriela. Enfim, a todos que acreditaram e me ajudaram direta ou indiretamente, meu muito obrigada. "A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes!" (Florence Nightingale) RESUMO Várias doenças sistêmicas crônicas podem ter como consequências as úlceras, que são a destruição das estruturas cutâneas, podendo ser do tipo arterial, venosa, neuropática, entre outras. É um grande problema de saúde pública devido ao seu alto grau de prevalência, custo elevado dos tratamentos, além da alteração do estilo de vida do usuário que possui a lesão. Considerando a importância de um tratamento de qualidade para a população, a assistência sistematizada da enfermagem ao paciente deve ser realizada pelo enfermeiro que possui conhecido técnico e científico, que se inicia na atenção primária à saúde. Trata-se de um estudo de caso descritivo-comparativo, com abordagem qualitativa tendo como objetivo conhecer o tratamento de úlceras nos membros inferiores na atenção básica e os processos assistenciais que o envolve nas perspectivas dos pacientes. O estudo foi baseado no levantamento de dois casos clínicos com diagnóstico de úlcera de perna, coletados ocasionalmente durante o atendimento clínico de enfermagem, no período de junho a agosto de 2015. Os dados foram coletados nas cidades de Pará de Minas/MG e de Pitangui/MG, em duas unidades básicas de saúde. Os resultados apontam que há uma carência de informações dos entrevistados sobre todos os questionamentos. Conforme o que a literatura preconiza sobre o tratamento das úlceras, na realidade muitas das vezes não ocorre, as coberturas utilizados são incorretas, retardando o processo cicatricial. Assim, a partir dessa pesquisa, foi possível perceber a importância que deve ser dada à assistência de enfermagem no processo saúde/doença/cuidado, considerando o aspecto geral do paciente. Palavras-chave: Atenção primária básica. Úlceras. Assistência de enfermagem. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Região posterior do MID..................................................................... 29 Figura 2 – Região anterior do MID..................................................................... 29 Figura 3 – Região lateral do MID......................................................................... 30 Figura 4 – Pé com hálux amputado..................................................................... 30 Figura 5 – Coto de membro inferior esquerdo .................................................... 30 Figura 6 – Região tornozelo do MIE..................................................................... 32 Figura 7 – Membro inferior esquerdo................................................................... 32 Figura 8 – Região tornozelo do MID.................................................................... 33 Figura 9 – Membro inferior direito........................................................................ 33 LISTA DE TABELA Tabela 1 – Aspectos importantes da úlcera e da pele adjacente no diagnóstico diferencial ............................................................................................................ 23 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 10 2 OBJETIVOS........................................................................................................ 12 2.1 Objetivo Geral................................................................................................. 12 2.2 Objetivo Específico........................................................................................ 12 3 METODOLOGIA ................................................................................................ 13 4 RESULTADOS.................................................................................................... 15 4.1 Análise de referencial téorico....................................................................... 15 4.1.1 Anatomia e fisiopatologia do sistema venoso dos membros inferiores......... 15 4.1.2 Anatomia e fisiopatologia do sistema arterial dos membros inferiores......... 19 4.1.3 Tipos de úlceras ........................................................................................... 20 4.1.3.1 Úlcera Arterial.......................................................................................... 20 4.1.3.2 Úlcera Venosa.......................................................................................... 21 4.1.3.3 Úlcera Neurotrófica.................................................................................. 22 4.1.4 Assistência de enfermagem ao portador de úlceras nos membros 23 inferiores ............................................................................................................... 4.2 Estudo de caso.............................................................................................. 27 4.2.1 Identificação do paciente 1 ........................................................................... 27 4.2.2 História familiar ............................................................................................. 27 4.2.3 Hábitos ......................................................................................................... 28 4.2.4 História pregressa ........................................................................................ 28 4.2.5 Exame físico completo ................................................................................. 29 4.2.6 Fotografias dos membros inferiores paciente 1 ........................................... 29 4.3 Identificação paciente II ................................................................................ 30 4.3.1 História familiar ............................................................................................. 31 4.3.2 História pregressa ........................................................................................ 31 4.3.3 Antecedentes obstétricos ............................................................................. 31 4.3.4 Exame físico completo ................................................................................. 31 4.3.5 Fotografias dos membros inferiores do paciente 2 ...................................... 32 4.4 Análise de entrevista ..................................................................................... 33 4.4.1 Processo de adoecimento ............................................................................ 33 4.4.2 Núcleo familiar............................................................................................... 34 4.4.3 Autonomia e autocuidado.............................................................................. 34 4.4.4 Percepção dos portadores a assistência de enfermagem............................ 35 4.4.5 Interações sociais.......................................................................................... 36 5 DISCUSSÃO....................................................................................................... 37 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 39 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 40 APÊNDICE A......................................................................................................... 42 APÊNDICE B......................................................................................................... 45 10 1 INTRODUÇÃO Na área de saúde, os avanços tecnológicos e científicos, com o auxílio do processo de transição demográfica-epidemiológica, proporcionaram o aumento da expectativa de vida da população brasileira nos últimos anos. Todavia, em pleno século XXI, muitos problemas continuam a afetar a saúde das pessoas como as doenças degenerativas e não degenerativas (COSTA et al., 2011). Existem vários fatores envolvidos no desenvolvimento de úlceras, entre esses, destaca-se o envelhecimento populacional com consequência do aumento de doenças crônicas, especialmente as cardiovasculares e o diabetes. Tais doenças se relacionam ao desenvolvimento de feridas, como úlceras arteriais, úlceras diabéticas, úlceras venosas, úlceras por pressão, dentre outras (SILVA, 2012). A insuficiência venosa crônica (IVC) é uma anormalidade da ação do sistema venoso, o que implica na insuficiência valvular, associada ou não a obstrução do fluxo venoso (LOPES et al., 2013). A úlcera venosa (UV) é uma ferida crônica resultada da IVC, é caracterizada por uma perda irregular do tegumento (derme ou epiderme) podendo atingir os tecidos subcutâneos, podendo se tornar profunda, ter bordas definidas ou irregulares, comumente com exsudato, iniciando de forma espontânea ou traumática (FIGUEIREDO et al.,2011; COSTA et al., 2011). No Brasil, estima-se que 3% da população possui UV, com aumento para 10% no caso de pessoas diabéticas. A úlcera venosa lesiona com mais frequência os membros inferiores, comumente no terço distal da região média da perna, próximas ao maléolo medial, correspondendo a 70 a 90 % das úlceras de perna (REIS, 2013). A úlcera arterial é ocasionada pela desnutrição cutânea devido a uma insuficiência arterial tendo como resultado a isquemia, evidenciando clinicamente por extremidade fria e escura. Possui a diminuição ou ausência das pulsações das artérias do pé, dor aguda aumentada com a elevação das pernas, ausência de estase, retardo no retorno da cor após a elevação do membro, perda de pelos (BRASIL, 2002). As úlceras neurotróficas são provocadas pela neuropatia periférica que afeta os nervos sensoriais, ocasionando a perda da sensibilidade e por doença vascular periférica devido à hiperglicemia causada pelo diabetes (SILVA,2011). 11 O conhecimento dessas doenças é de suma importância para um diagnóstico e tratamento adequado, favorecendo a cicatrização e prevenção de feridas recidivas com mais sucesso. As úlceras, em geral, são um grande problema para a saúde pública devido ao seu alto grau de prevalência, custo elevado dos tratamentos, provoca ausência no serviço ou desemprego, além da alteração do estilo de vida do usuário que possui a lesão. (SILVA et al., 2012; MALAGUTTI; KAKIHARA; 2011). Considerando a importância de um tratamento de qualidade para a população, a assistência sistematizada ao paciente deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar, adotada de protocolos, conhecimento técnico e específico, também uma comunicação ativa dos usuários com seus familiares (FIGUEIREDO et al.,2011; SANT'ANA et al.,2012). Segundo Silva et al (2012), no Brasil, estudos apontam a falta de sistematização da assistência ao usuário com úlceras na atenção básica. A atenção básica se caracteriza por um grupo de ações de saúde, no contexto individual e coletivo, que atua na promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o intuito de desenvolver uma atenção integrativa da população que tenha impacto positivo na saúde no coletivo (BRASIL, 2012). Na atenção básica, o enfermeiro, com seu conhecimento técnico e científico, é fundamental no atendimento do paciente com úlceras, pois saberá qual cobertura utilizar no curativo da lesão. O enfermeiro tem como função realizar a consulta de enfermagem, para avaliar a ferida, planejar, orientar o paciente sobre seu tratamento, fazer o curativo e se necessário fazer o desbridamento. É necessário ter habilidade técnica na realização dos curativos, prestar cuidados éticos, humanizados e individualizados, conforme a necessidade de cada cliente(REIS, 2013). Contudo, as úlceras têm alto índice de prevalência, um impacto socioeconômico e influência na qualidade de vida ao paciente, sendo importante realizar um tratamento correto conforme a literatura e pelo profissional capacitado para evitar a recidiva da ferida (REIS, 2013). É neste contexto que se inseriu o presente estudo que busca averiguar como estão sendo realizados o tratamento de úlceras na atenção básica e a percepção do paciente sobre seu processo assistencial. 12 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Conhecer o tratamento de úlceras nos membros inferiores na atenção básica e os processos assistenciais que o envolve nas perspectivas dos pacientes. 2.2 Objetivo Específico Relacionar a literatura com a prática das coberturas realizadas nos curativos em portadores de úlceras. Conhecer como a assistência é prestada aos portadores de úlceras na atenção básica. 13 3 METODOLOGIA Trata-se de um estudo de caso descritivo-comparativo, com abordagem qualitativa tendo como base a investigação do tratamento de úlceras na atenção básica pelos profissionais de saúde. A abordagem qualitativa é aquela em que predominam informações coletadas pelo pesquisador, não sendo descrita em um instrumento estatístico como suporte do problema. O foco do pesquisador é a interpretação que os próprios participantes têm sobre o assunto (DALFOVO, LANA, SILVEIRA; 2008). O estudo descritivo visa detalhar as características de um determinado sujeito, estabelecendo correlações entre variáveis. As coletas de dados podem ser por meio de questionário ou uma observação sistemática, fazendo um levantamento do assunto para se alcançar o objeto do estudo (SILVA, MENEZES; 2005). Segundo Fialho (2008), o estudo de caso mostra a realidade, tendo como instrumento a discussão, a análise e a busca de solução de um determinado problema extraído da vida real. Em verdade, trata-se de uma estratégia metodológica de amplo uso, quando se pretende responder às questões 'como' e 'por que' determinadas situações acontecem, principalmente quando têm poucas possibilidades de interferir ou controle sobre o assunto estudado. O estudo foi baseado em dois casos clínicos com diagnóstico de úlcera de perna, coletados ocasionalmente durante o atendimento clínico de enfermagem, no período de junho a agosto de 2015. Os dados foram coletados em duas cidades Pará de Minas- MG na Unidade de Atenção Primária a Saúde (UAPS) Dagmar Pereira de Oliveira e em Pitangui-MG no PSF Tonho Filinto. O estudo de caso comparativo tem como objetivo comparar os dois pacientes escolhidos, conforme a duração da lesão, idade, o tratamento utilizado nas diferentes unidades, como é a percepção do cliente sobre a assistência de enfermagem. Os sujeitos deste trabalho foram escolhidos aleatoriamente, por terem as úlceras mais interessantes para tratamento, não tendo nenhum critério de inclusão, sendo um paciente atendido na Unidade de Atenção Primária a Saúde (UAPS) Dagmar Pereira de Oliveira e a outra cadastrada pelo PSF Tonho Filinto, sendo visitada em seu próprio domicílio. 14 Para a efetivação da coleta de dados, foi primeiramente apresentado aos pacientes/colaboradores o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A) de acordo com a resolução 466/12 do Conep, que assinaram aceitando o estudo. Foi realizado um roteiro de perguntas semiestruturadas (APÊNDICE B), permitindo ao entrevistado a livre expressão de suas ideias perante o objetivo de colher as principais informações e dificuldades vivenciadas pelo paciente que possui a úlcera. A entrevista foi gravada pelo celular Samsung S4 mini, no formato MP4, transcrita na íntegra. Após o final da pesquisa os arquivos de áudio foram excluídos. Os entrevistados eram vistos uma vez por semana para ser analisado o curativo, seguido de uma avaliação da evolução da lesão por fotografias. O curativo era realizado por uma técnica de enfermagem responsável pelos curativos daquele serviço. 15 4 RESULTADOS 4.1 Análise do referencial teórico Após uma leitura sistemática dos textos selecionados foi realizada análise do referencial teórico, encontrados e desenvolvidos quatro subtemas que são apresentados a seguir: 4.1.1 Anatomia e fisiopatologia do sistema venoso dos membros inferiores O sistema vascular, para cada tecido, possui suas próprias características, sendo assim alguns itens se aplicam a todo o sistema. As partes funcionais da circulação têm um papel importante para se compreender (GUYTON,2006). A artéria tem como função transportar o sangue com pressão para todos os tecidos, possuindo paredes vasculares mais fortes, fazendo com que o sangue flua mais rápido (GUYTON,2006). As arteríolas são as últimas e menores ramificações do sistema arterial e atuam como válvula de controle pelas quais o sangue é liberado pelos capilares (GUYTON,2006). A função dos capilares é promover a troca do líquido, nutrientes, eletrólitos, hormônios e outras substâncias entre o sangue e o líquido intersticial. E o sangue é captado pelas vênulas que convergem e se ligam para formar as veias maiores (GUYTON,2006). E as veias que compõem o sistema venoso são conjuntos de pequenos vasos que se reúnem e formam vasos mais calibrosos, tendo como função de recolher o sangue da periferia e direcionar ao coração novamente, fechando a circulação sistêmica (AIRES, 1999). No entanto, não se resume apenas em um sistema condutor, por meio da bomba venosa; também possui a função de contrair e relaxar; armazenar grande quantidade de sangue, tornando disponível para o restante da circulação quando necessário e controlam o volume sanguíneo mantendo a pressão fisiológica (BRITO, 2008). A parede venosa possui três camadas: a íntima, a média e a adventícia. A íntima consiste em uma lâmina única de células endoteliais, classificando histologicamente como epitélio simples pavimentoso. A camada média é composta 16 por lâminas de células musculares lisas dispostas em círculos entre a elastina, colágeno e proteoglicans. A adventícia é a camada mais externa e mais espessa da parede venosa, sendo compostas por fibras entrelaçadas de colágeno (MAFFEI, 2008). Além das camadas, as veias de pequeno e médio calibre possuem também válvulas no seu interior, que direcionam o sangue sentido ao coração, quando há a contração dos tecidos musculares vizinhos, por causa da compressão das veias (MAFFEI, 2008). O sistema venoso dos membros inferiores constituído por veias valvadas é classificado conforme sua localização anatômica, dividido em: o sistema venoso superficial, localizado entre a derme e a fáscia que envolve os músculos e o sistema venoso profundo, que possui músculos e ossos, enfim as perfurantes são as veias que se comunicam entre os dois sistemas, pois atravessam a fáscia muscular (MAFFEI, 2008; BRITO, 2008). O sistema venoso superficial é composto pela veia safena interna, veia safena externa e suas tributárias. A veia safena interna é a veia mais extensa do corpo humano, ela se origina na junção da extremidade medial do arco venoso dorsal com a veia marginal medial do pé, seguindo pela frente do maléolo medial da tíbia. Enquanto a veia safena interna alcança a perna e a coxa, recebe várias tributárias e comunica-se com a veia safena externa em vários pontos (MAFFEI, 2008). O refluxo superficial do membro inferior é responsável, principalmente, pelas veias safenas internas e suas tributárias. Mas, a doença venosa pode ser causada também pelas veias que se localizam nas regiões vulvar, glútea, póstero-lateral da coxa, cavo poplíteo e lateral do joelho, composto por veias reticulares subdérmicas (MAFFEI, 2008). A veia safena externa (parva) se origina da junção da extremidade lateral do arco venoso dorsal com a veia marginal lateral do pé, seguindo por trás do maléolo lateral da tíbia. A veia safena parva possui em média 13 valvas em seu percurso, com espaçamento entre elas, em comparação com a veia safena magna, podendo ocorrer doença varicosa com menor frequência (MAFFEI, 2008). As veias do sistema venoso profundo são homônimas das artérias e as perseguem em seus trajetos. Esse sistema é composto pelas veias tibiais posteriores, formadas pela união das veias plantares seguidamente do maléolo medial e das veias tibiais anteriores, originadas nas veias dorsais do pé e se reúnem 17 com as veias tibiais posteriores para formar a veia poplítea que se passa a ser chamada de veia femoral a partir do anel adutor (MAFFEI, 2008; BRITO,2008). É de grande importância no sistema venoso a presença de válvulas, cuja função é a de orientar a direção do fluxo venoso. Os sistemas venosos possuem válvulas bicúspides, faz com que o sangue flua na direção cefálica, em condições normais para evitar o refluxo sanguíneo. Na grande circulação o sangue irá se mover dos pés em direção ao coração pela propulsão da musculatura da panturrilha conforme a compressão da esponja plantar. Em repouso, na posição vertical, a pressão na veia dorsal do pé se aproxima de 80 mmHg. Durante a movimentação, a musculatura da panturrilha se contrai, as veias profundas são comprimidas, a pressão cai subitamente no sistema profundo, permitindo a propulsão sanguínea até o cérebro. As válvulas fecham-se quando a pressão sobe no sistema profundo, para evitar o fluxo retrógrado e a emissão de altas pressões ao sistema superficial. Assim sendo, é necessário manter o sistema venoso com a bomba da panturrilha íntegra para evitar o refluxo sanguíneo (DADALTI-GRANJA, 2005; BRITO, 2008). A insuficiência venosa crônica (IVC) é resultado da doença venosa crônica grave, que evidencia edema, alterações tróficas da pele e ulcerações (BRITO,2008). O resultado da disfunção no sistema venoso está relacionado com a hipertensão venosa prolongada que acontece quando uma pressão venosa está aumentada e o retorno do sangue é diminuído (SILVA et al, 2011). Essa sobrecarga venosa ocorre pelo intenso refluxo sanguíneo que sobrecarrega o músculo da panturrilha não deixando bombear a quantidade de sangue necessária para balancear a insuficiência valvular venosa (CARMO et al, 2007). A insuficiência valvular pode acontecer devido a um episódio de trombose venosa profunda (TVP) que resultou em uma sequela, que gera uma destruição ou uma alteração das válvulas, por uma dilatação venosa afastando as cúspides ou por obstrução, ou ambos (BRITO,2008). A insuficiência venosa crônica de membros inferiores é caracterizada pelos sintomas de dor, sensação de peso e cansaço nas pernas, câimbras, prurido, queimação, edema dos membros inferiores e síndrome das pernas inquietas. Os sinais são alterações tróficas da pele como a hiperpigmentação, a dermatolipoesclerose, o eczema e a ulceração (BRITO, 2008; CARMO et al, 2007). A prevalência de IVC aumenta mais na população idosa, atingindo de 2 a 7% da população, sendo que a complicação da doença, a úlcera venosa, atinge 1 a 3% 18 das pessoas (LOPES et al, 2013). O elevado número de recidivas das úlceras (66%) é uma das maiores dificuldades para a assistência aos portadores de IVC (CARMO et al, 2007). O diagnóstico da insuficiência venosa crônica pode ser formado por meio de uma história clínica e exame clínico detalhado. As características que decorrem da hipertensão venosa no dia a dia devem ser lembradas: os sintomas acentuados no final da rotina diária, temperatura no ambiente elevado pode haver piora na sintomatologia, no sexo feminino a ação hormonal pode influenciar o quadro, história pregressa de traumas ou cirurgias podem influenciar, histórias familiares de doenças varicosas e úlceras devem ser analisadas (BRITO, 2008). A úlcera venosa (UV) é uma das enfermidades causada pela IVC quando está em estágio mais avançado, é caracterizada pela perda tegumentar irregular de forma superficial (COSTA et al, 2011). Inicialmente a UV pode se localizar próxima ao maléolo medial, podendo evoluir de forma progressiva acometendo todo o diâmetro da perna. O formato pode ser circular, oval, possuir bordas definidas, se tornar profunda, comumente com exsudato amarelado nos casos de infecção, podem surgir espontaneamente ou por traumas (BRITO, 2008). A formação da úlcera venosa pode estar associada pela desnutrição dos tecidos superficiais, causada pela formação de manguitos ocasionados pelo acúmulo de líquido e o depósito de fibrina no interstício. Outro mecanismo que ocasiona a UV pode ser pelo processo de inflamação, devido à reação entre os leucócitos e moléculas de adesão do endotélio que liberam a citocina e radicais livres, que podem deformar as válvulas venosas e seus tecidos adjacentes aumentando a sensibilidade das ulcerações (CARMO et al, 2007). Esse tipo de lesão de perna possui um alto índice de prevalência, natureza recorrente, constituindo um problema de saúde pública, pode gerar dependência dos serviços de saúde, provoca absenteísmo no trabalho ou até a perda do emprego e altera o estilo de vida do paciente, pois envolve todos os componentes da condição de vida humana, aspecto físico, psicológico, social, cultural ou espiritual (COSTA et al, 2011; SANT’ANA et al, 2012). 19 4.1.2 Anatomia e fisiopatologia do sistema arterial dos membros inferiores Para um diagnóstico clínico o conhecimento anatômico e a distribuição do suprimento arterial dos membros inferiores são muito importantes (MAFFEI, 2008). O aspecto da parede arterial varia de acordo com a localização, função das artérias, configuração geométrica, que determina o fluxo sanguíneo. Essas variáveis estão caracterizadas nos detalhes das 3 camadas que compõem uma artéria: íntima, média e adventícia (BRITO, 2008). Na região da coxa, possui o trígono femoral, está localizado na face anterior e porção superior da coxa. A cobertura anterior é composta por pele e tecido celular subcutâneo, sendo utilizada cirurgicamente para cateterismos diagnósticos e terapêuticos. O canal dos músculos adutores equivale a um túnel de aproximadamente 15 cm de extensão, onde passam a artéria e veia femorais, nervo safeno e o nervo para o músculo vasto medial (MAFFEI, 2008). A artéria ilíaca externa, após atravessar profundamente o ligamento inguinal, nomeia-se de artéria femoral. Localizando-se em um ponto médio entre a linha traçada, a espinha ilíaca ântero-superior e o tubérculo púbico. A artéria femoral possui vários ramos no trígono femoral, o ramo profundo é a artéria principal de distribuição do fluxo sanguíneo para a coxa, originando a artéria poplítea, sendo uma de circulação colateral para o membro inferior (MAFFEI, 2008; BRITO, 2008). Na região do joelho, a artéria poplítea recebe esse título devido à passagem da artéria femoral superficial pelo hiato do músculo adutor magno, e está ligada à veia homônima (MAFFEI, 2008). Na região da perna, a tíbia, a fíbula, a membrana interóssea, a fáscia crural e os septos intermusculares, dividem a perna em três principais compartimentos. O compartimento anterior corresponde à membrana interóssea anterior, entre o septo intermuscular anterior da perna e a face lateral da tíbia. Situa-se ainda nesse compartimento o nervo fibular profundo, a artéria tibial anterior e as veias tibiais anteriores. A artéria tibial anterior inicia-se na borda inferior do músculo poplíteo e termina na articulação do tornozelo, entre os maléolos, onde se torna a artéria dorsal do pé (pediosa) (MAFFEI, 2008). O compartimento lateral é definido na face lateral da fíbula, septos intermusculares anteriores e posterior, e fáscia da perna e não possui artérias. O compartimento posterior situa-se atrás da tíbia, membrana interóssea, fíbula e septo 20 intermuscular. A artéria tibial posterior origina-se da artéria poplítea, segue profundamente ao sóleo e dá origem a artéria fibular (MAFFEI, 2008). A região dorsal do pé possui a pediosa que é a continuação da artéria tibial anterior. Tem origem no ponto médio entre os maléolos e segue ântero-médio até a localização posterior do primeiro espaço interósseo. As artérias plantares do pé se originam da bifurcação distal da artéria tibial posterior que se divide em lateral, medial e ramos para o calcâneo. A artéria mais específica é a artéria plantar lateral, que possui trajeto oblíquo na planta do pé se ligando com a artéria plantar profunda formando o arco plantar (MAFFEI, 2008). A doença vascular periférica (DVP) é evidenciada por doença aterosclerótica obstrutiva crônica nos vasos sanguíneos nos membros inferiores. A aterosclerose apresenta prevalência elevada em indivíduos com diabetes, hipertensão arterial e em tabagistas (SILVA et al, 2011), caracteriza-se pelo depósito irregular de lipídios na camada íntima da artéria causando estreitamento do lúmen arterial e progredindo, ocasionalmente, para fibrose e calcificação (BRITO, 2008). A diminuição do fluxo sanguíneo pela aterosclerose ocasiona a restrição na distribuição do oxigênio, nutrientes, células de defesa e mediadores químicos. As complicações: ruptura, fissura, ulceração, trombose e fenômenos trombóticos ou embólicos caracterizam a doença aguda, com placa instável (BRITO, 2008; SILVA et al, 2011). A hipertensão arterial sistêmica é uma das doenças que podem interferir no processo cicatricial, pois possui ligação com a aterosclerose, devido à alteração endotelial, inibição da síntese de colágeno e diminuição do aporte de oxigênio tecidual, devido à vasoconstrição, ocasionando o retardo no processo de cicatrização (MAFFEI, 2008). 4.1.3 Tipos de úlceras 4.1.3.1 Úlcera Arterial A úlcera arterial é causada pela insuficiência arterial, ocasionando a desnutrição cutânea, sendo caracterizada ao exame clínico por extremidade fria palidez por elevação, ausência de estase, retardo no retorno da cor após a elevação do membro, pele atrófica, perda de pelos da extremidade inferior, diminuição ou 21 ausência das pulsações das artérias do pé e dor severa aumentada com a elevação das pernas. A pele pode ficar seca e descamativa, atrófica, e as unhas podem estar frágeis, sem brilho e quebradiças ou fissuradas longitudinalmente (BRASIL, 2002;BRITO 2008). As úlceras arteriais estão frequentemente localizadas nos locais onde há mais pressão ou outros pontos mais comuns a traumatismos: artelhos, proeminências ósseas, nas regiões pré-tibial ou maleolar lateral. A úlcera tende a ser de bordas regulares, base pálida e fria e pode ter regiões necróticas e cianóticas. Possui como fator predisponente o tabagismo, diabetes mellitus, hipertensão arterial, hiperlipidemia (BRITO, 2008). A prevenção da úlcera arterial consiste em: elevar a cabeceira da cama em 20 cm; proteger-se contra traumatismos térmicos, mecânicos e químicos no membro afetado; cuidar das unhas, evitando paroníquias (inflamação ao redor da unha) e unha encravada; manter o controle de triglicérides e colesterol, controlar a hipertensão arterial e o diabetes mellitus, diminuir o uso de cafeína e tabaco (BRASIL, 2002). 4.1.3.2 Úlcera Venosa O diagnóstico diferencial das úlceras crônicas nos membros inferiores em relação da úlcera venosa é a não cicatrização dentro do período de seis semanas. A úlcera venosa é causada pela insuficiência venosa crônica por varizes primárias, consequência de trombose profunda, anomalias valvulares venosas ou diferentes causas que interferem no retorno venoso (BRITO, 2008; BRASIL, 2002). As características clínicas são extremidade quente, edema, presença de varizes, alterações dermatolipoesclerose, cutâneas como hiperpigmentação, eczema eritema, de estase, descamação, esclerose, prurido, a dor pontiagudas e tem uma coloração marrom ou marrom avermelhada. Geralmente localizada na região do maléolo e terço distal da perna. A evolução é lenta, possui bordas infiltradas, irregular, com fibrina e é comum estar seguida de infecção secundária, que pode ocorrer após um trauma (MAFFEI, 2008; BRITO, 2008). 22 4.1.3.3 Úlcera Neurotrófica Esta úlcera é causada por neuropatia periférica, em consequência de algumas doenças de base, tais como: hanseníase, diabetes mellitus, alcoolismo e outras e podem ser geralmente causados após pequenos traumas, acarretados por objetos cortantes ao andar descalço, uso de calçados impróprios, dermatoses comuns, ou manipulações incorretas dos pés e unhas por pessoas não habilitadas que se complicam surgindo a gangrena e infecção, devido ao déficit cicatricial e podem resultar em amputação, se não for tratado imediatamente com o tratamento correto (BRITO, 2008; VIGO et al, 2006). É frequente em áreas submetidas a uma pressão maior, a primeira articulação metatarsofalangiana, base do quinto metatarso e calcâneo. Ao exame clínico as lesões são detectadas por serem indolores (anestésicas), profundas, circulares, geralmente quentes, com halo de hiperceratose (calosidades), constituindo uma porta de entrada frequente para infecção (BRITO, 2008; BRASIL, 2002) As pessoas portadoras da neuropatia periférica têm maior risco de desenvolver lesões das fibras autonômicas que são responsáveis pela manutenção das glândulas sebáceas e sudoríparas, ocasionando a diminuição das secreções, fazendo com que a pele fique seca, inelástica, ficando mais propensa a ocasionar fissuras. As fibras sensitivas e motoras podem resultar em lesões primárias, como mão em garra, pé caído e anquilose (BRASIL, 2002). A úlcera neurotrófica é causada pela perda de sensibilidade protetora (térmica, dolorosa e tátil) ou anestesia na região plantar, por lesão do nervo tibial posterior e a paralisia dos músculos intrínsecos do pé, a perda do coxim normal sob a cabeça dos metatarsianos e a pele ressecada atuando como meio de agentes infecciosos (BRASIL, 2002). O desenvolvimento das úlceras neuropáticas é considerado como fator de risco a perda da sensibilidade e aumento da pressão sendo necessárias algumas medidas para diminuir a pressão nas áreas de proeminências ósseas, usando calçados apropriados, palmilhas especiais e adaptando os instrumentos no serviço (BRASIL,2002). 23 Tabela 1- Aspectos importantes da úlcera e da pele adjacente no diagnóstico diferencial Fonte: BRITO, 2008. 4.1.4 Assistência de enfermagem ao portador de úlceras nos membros inferiores Novos tempos revelam que o enfermeiro tem uma metodologia de assistência com o paciente com tratamento de lesões teciduais, deixando apenas atenção para a técnica de curativo, sendo necessário avaliar o estado geral do paciente, exame físico, escolha do tratamento, cobertura, registrar todas as ações de enfermagem e prever um resultado esperado (CARMO et al, 2007). A doença venosa crônica dos membros inferiores pode apresentar vários quadros clínicos, com diversas formas anatômicas e fisiológicas sendo primárias ou secundárias ao sistema de drenagem. É imprescindível tanto para o diagnóstico quanto para a terapia correta a interpretação dessas variações para evitar sua recorrência e distúrbios ao paciente (MAFFEI, 2008). O diagnóstico da insuficiência venosa crônica necessita de realizar o exame clínico, através da anamnese e o exame físico. Na anamnese os itens pesquisados são: a avaliação do estado geral do paciente, como é a higiene, estado nutricional, hidratação oral, sono/repouso, eliminações, etilismo/tabagismo, alergias, medicamentos em uso, idade, estresse, ansiedade, condições da pele, além da 24 queixa principal, a duração dos sintomas, a história da moléstia atual; se ocorreu alguma doença anterior importante como a TVP, trauma e alguma doença varicosa (FRANÇA; TAVARES, 2003; CARMO et al, 2007). Os sintomas mais comuns são: a sensação de peso e dor nos membros inferiores em especial no final da jornada diária, em alguns casos pode haver o prurido nos membros (FRANÇA; TAVARES, 2003). No exame físico deve observar os sinais: hiperpigmentação (a hemoglobina que continua no interior tissular modifica-se em hemossiderina que dá coloração castanha à pele), lipodermatosclerose (alteração da troca da pele e do tecido subcutâneo pela fibrose), edema, presença de veias varicosas, varizes de localização incomuns (FRANÇA; TAVARES, 2003). Contanto que o diagnóstico clínico das úlceras esteja preconizado, são necessários exames complementares para ser feito um diagnóstico mais exato como o duplex scan,a plestimografia e o doppler que trará uma melhor visualização das alterações na estrutura e função dos sistemas. E existem os exames laboratoriais que podem ser pedidos pelos enfermeiros conforme a resolução 195 do Conselho Federal de Enfermagem - COFEN, que são o exame de hemograma completo, glicemia em jejum, dosagem de albumina sérica, proteínas totais e fracionadas podem ser pesquisados para auxiliar nos elementos que influenciam na cicatrização da úlcera (ABBADE; LASTÓRIA, 2006). Almejando à cicatrização da úlcera, o tratamento para um melhor retorno venoso deve ser prescrito pela equipe de saúde com a colaboração do paciente. E o tratamento clínico inclui a realização do curativo, terapia compressiva, dieta balanceada que melhore a cicatrização, orientações quanto à importância de repouso e do uso de meias de compressão após a cura da ferida (BORGE, CALIRI, HAAS, 2007; CARMO et al, 2007). A terapia compressiva é a medida essencial do tratamento da pessoa com UV, em razão de que favorece a estase e o edema, significando melhoras nas condições clínicas na lesão e aumenta a taxa de cicatrização. E os profissionais precisam ser capacitados, a compressão tem sua vantagem, mas usando incorretamente pode gerar complicações ao paciente (BORGE,CALIRI,HAAS, 2007; SANT’ANA, 2012). Para o tratamento local, inicialmente se deve realizar a limpeza do leito da ferida, para promover um meio propício à cicatrização. No Brasil, recomenda-se a 25 limpeza da ferida com solução fisiológica 0,9% morna, em jato. Essa técnica é usada para remoção de corpos estranhos, tecidos frouxos aderidos, além de manter o tecido de granulação. O método de limpeza aplicado deve evitar traumas mecânicos e químicos na ferida e manter a temperatura local em torno de 37ºC (SILVA et al, 2012; ABBADE; LASTORIA, 2006). O uso de antissépticos (clorexidine,iodo-povidona, acido acético, hipoclorito de sódio, entre outras) não é indicado, pois podem comprometer a reparação tecidual por serem citotóxicos aos fibroblastos, impedindo a granulação eficaz (SILVA et al, 2012; ABBADE; LASTORIA, 2006). Após a limpeza se ainda houver tecido necrosado pode retirá-lo por meio de desbridamento, pois esses tecidos inviáveis favorecem para infecções e não permite o processo para tecido de granulação. Existem os desbridamentos autolítico e o mecânico. O desbridamento autolítico podem ser utilizado em conjunto com outros, é alcançado através da aplicação de curativos oclusivos, pela ação de enzimas do exsudato que permanece em contato com a úlcera propiciando para a autodestruição tecidual (ABBADE, LASTORIA, 2006; CARMO et al, 2007). Já o desbridamento mecânico é retirar o tecido de necrose de uma área extensa, que possui exsudato amarelo/esverdeado, tecido desvitalizado e infeccionado com o auxílio de instrumentos cirúrgicos como bisturi, tesoura e outros. É a técnica mais rápida e efetiva para a remoção da necrose (CARMO et al, 2007). A escolha da cobertura a ser utilizada é conforme os aspectos e localização da lesão cutânea. A cobertura para a ferida tem como função captar o exsudato, manter o leito da ferida úmido, para ser fácil à remoção evitando traumas durante a troca do curativo (ABBADE; LASTORIA; 2006). Existem várias coberturas cada uma com suas funções são elas: hidrocolóide que é indicado em feridas com pouco a moderado exsudato, é composto por pectinas, carbozimetilcelulose sódica e gelatina revestida por camada de poliuretano, partícula de alginato de cálcio. Possuem a forma de pó ou em pasta servindo para úlceras com profundidade que irá aumentar a capacidade de absorção. Se a úlcera apresentar necrose com moderado exsudato pode se combinar o hidrocolóide com o filme transparente, ou a gaze não aderente. Realizar o desbridamento autolítico com hidrogel e hidrocolóide combinado desbridamento instrumental. (CARMO et al, 2007; SELLMER et al, 2013) com 26 O alginato de cálcio é usado em feridas com moderado a muito exsudato auxiliando no desbridamento, realizando a hemóstase no processo autolítico. O hidrogel é indicado nas feridas que já estão em processos de necrose, possuem em seus componentes a carboximetilcelulose e propileno-glicol e partículas de alginato de cálcio. Pode associar o desbridamento autolítico com hidrogel, filme transparente com desbridamento instrumental (CARMO et al, 2007; SELLMER et al, 2013). Já o carvão ativado é aplicado em feridas infectadas que drena moderadamente ou em abundância exsudato, possui ação bactericida de prata eliminando odores desagradáveis e tem a capacidade de filtrá-los. E possuem também a espuma de poliuretano é em forma de almofadas de espuma com camadas sobrepostas e hidropolímero, revestida de poliuretano e prata é indicado em feridas que estão em moderado à alta de exsudação infectada que irá tratar a infecção e estimulará o desbridamento autolítico (CARMO et al, 2007). A úlcera pode estar em processo de necrose e apresentar esfacelos, possui então o desbridamento enzimático que se utiliza papaína diluída 10% ou papaína gel 1% associado com desbridamento instrumental (SELLMER et al, 2013). A papaína tem como função a proteólise, isto é, a decomposição das proteínas simples em aminoácidos, ocorrendo também a remoção da secreção, ativando o processo de regeneração. Tem como ação bactericida, bacteriostática e anti-inflamatória, agindo nos tecidos desvitalizados, necrosados, não interferindo no tecido de granulação (MALAGUTTI; KAKIHARA, 2011) Para um processo de cicatrização ser eficaz, o estado nutricional do paciente tem que estar equilibrado, pois para que haja a reparação tecidual necessita de proteínas, minerais, vitaminas e calorias. O enfermeiro ao realizar o exame clínico pode verificar se há déficit nutricional aos portadores e encaminhá-los aos serviços de nutrição que estarão presente na equipe multiprofissional que prestam atendimento a esses pacientes (SANT’ANA et al, 2012; CARMO et al, 2007). As coberturas são escolhidas conforme a presença de tecido necrótico, granulação, exsudato e infecção na ferida, sendo que existe a indicação de coberturas para o tratamento tópico de úlceras, mas necessitam ser associadas à terapia compressiva (SILVA, 2012). A terapia compressiva é usada por meio de meias de compressão ou bandagens, sendo essencial para que seja efetivo o tratamento da úlcera venosa, pois controla hipertensão venosa. A compressão externa é aplicada nos membros 27 inferiores decrescendo a intensidade no sentido tornozelo para o joelho, a fim de regressar o aumento da pressão hidrostática intravascular (CARMO et al, 2007). A bota de unna constitui uma das formas de terapia compressiva inelástica, é uma atadura cuja sua composição é de óxido de zinco com glicerina, água destilada e gelatina. A troca deve ser deve ser realizada em até sete dias, porém sua utilização se limita a pacientes com diagnóstico médico de insuficiência venosa e a pacientes que deambulam (OLIVEIRA, 2012; CARMO et al, 2007). No Brasil, o Ministério da Saúde preconiza que a bota de unna só pode ser realizada com indicação médica (SANT’ANA et al, 2012). Cabe ressaltar que o repouso com a elevação dos membros inferiores, favorece para diminuir o edema de tornozelo e a perna, amenizando a dor nos membros inferiores (CARMO et al, 2007). Várias atitudes incorretas do paciente resultam do desconhecimento da importância dos fatos, a equipe de enfermagem deve fazer as orientações de todas as técnicas e prevenção dos sintomas recorrentes. Possibilitando ao paciente maior adesão ao tratamento, evitando assim sua recorrência (CARMO et al, 2007). 4.2 Estudo de caso 4.2.1 Identificação paciente I Nome: J.R.S. Idade: 49 anos Sexo: Masculino Estado Civil: Casado Profissão: Motorista Grau de escolaridade: Ensino fundamental incompleto Residente: Pará de Minas Natural de: Pará de Minas 4.2.2 História familiar Relata mãe ser diabética, já falecida. 28 4.2.3 Hábitos Moradia em área urbana, com saneamento básico, cuidado corporal presente, possui dificuldade para dormir devido à dor crônica em MID. Não realiza nenhum exercício físico. Possui hora de lazer diário como assistir tv, ir até a porta de casa para rever os amigos. Costuma ter uma alimentação balanceada devido a doença crônica. Em uso de: Monocordil – 40 mg 1 comp. pela manhã e 1 comp. a tarde, carvedilol 6,25 mg – 1 comp. pela manhã e 1 comp. a noite, clopidogrel 75 mg – 1 comp. a tarde, omeprazol 20 mg – 1 comp. em jejum e 1 comp. as 16:00 hrs, cilostazol 100 mg – 1 comp. pela manhã e 1 comp. a noite, lasix 40 mg – 2 comp. pela manhã, 2 comp. a tarde e 2 comp. a noite, captopril 25 mg – 1 comp. pela manhã e 1 comp. a noite, ibuprofeno – 1 comp. de 8/8 horas se dor, ácido fólico 5 mg - 1 comp. em jejum, l – Carnitina 500 mg – 1 comp. de 12/12 horas. 4.2.4 História Pregressa Diabético há 3 anos. Paciente relata que a unha no membro inferior direito machucou em setembro de 2014, e cicatrizou. Após a cicatrização iniciou uma nova ferida, onde o dedo começou a ficar com características necróticas. Passado um tempo apareceram algumas bolhas com secreção no mesmo membro, que ao estourar iniciava uma nova ferida, de início pequena, mas que se agravou com o passar do tempo, sendo necessária a ajuda do médico da UAPS que prescreveu antibioticoterapia, não tendo melhora alguma. Foi hospitalizado várias vezes por esse motivo, sendo que a última vez em março/2015 foi transferido do Hospital Nossa Senhora da Conceição de Pará de Minas-MG para Santa Casa de Misericórdia de Pitangui, para avaliação com angiologista, que diagnosticou gangrena úmida de MID associada à gangrena de hálux, linforréia em MIE com hipoproteínemia e disfunção hepática originário de outra unidade. No dia 26 de março de 2015 foi realizado um desbridamento cirúrgico na perna direita e amputação de hálux. Diagnosticando isquemia aguda classe III de Ruthefor no membro inferior esquerdo, sendo realizada a amputação na altura da coxa no dia 31.03.2015. 29 4.2.5 Exame físico completo Consciente, orientado em tempo e espaço, ativo e colaborativo. Não deambula, cliente portador de cadeiras de rodas. Anictérico, acianótica, corado, hidratado, afebril, normotenso. Crânio sem anormalidades, não possui lesões no couro cabeludo. Esclera ocular ictérica. Boca com falhas dentárias. Pescoço com presença de cicatriz por punção em jugular esquerda. Membros superiores com manchas hipercrômicas no antebraço e braço direito. Tórax simétrico, ausente de edemas, deformidades, lesão e dor. PA: 100x70 mmHg, Tax: 35,8 °c. Eupnéico, 18 irpm. Eucárdico, BNRNF, 90 bpm, Abdome levemente saliente, ausente de massas palpáveis. Membro inferior direito na região tibial ântero-posterior possui uma úlcera infectada em estágio 2, aberta, crônica, de grande extensão, presença de tecido necrosado em aproximadamente 1/3 da região; com bordas aderidas. Pele periulceral com descamação, hipercorada. Realizado curativo na UAPS, com soro fisiológico 0,9 % em jato, passando hidrogel em toda extensão da ferida, cobrindo com gaze estéril embebida de ácido graxo essencial, ocluindo com atadura de crepom. Membro inferior esquerdo amputado na região da coxa, coto cicatrizado. 4.2.6 Fotografias dos membros inferiores do paciente 1 Figura 1- Região posterior do MID Figura 2- Região anterior do MID 30 Figura 3- Região lateral do MID Fonte: próprio autor Fonte: próprio autor Figura 5- Coto de MIE Fonte: próprio autor 4.3 Identificação paciente II Nome: M.C.S.D. Idade: 68 anos Sexo: Feminino Figura 4- Pé com hálux amputado 31 Estado Civil: Casada Profissão: Aposentada Grau de escolaridade: Ensino fundamental incompleto Residente: Pitangui Natural de: Pitangui 4.3.1 História Familiar Mãe cardiopata e hipertensa já falecida. Pai hígido já falecido. 4.3.2 História Pregressa Diabética há 5 anos. Hipertensa e cardiopata há 10 anos. A lesão iniciou há mais ou menos 10 anos, a paciente relata ter começado com um pequeno furinho e aumentando com o decorrer dos dias, já cicatrizou várias vezes. Iniciando uma nova ferida em outros locais nos membros inferiores, não possui controle com angiologista para suas lesões. Afirma está cansada de ir aos médicos e não melhorar, faz o curativo em casa sem auxílio de profissionais, apenas adquire os materiais no PSF. Foi diagnosticado desgaste nos ossos há quatro anos e necessita de cirurgia, mas precisa que suas úlceras cicatrizem para fazer procedimento ortopédico. Não possui alimentação balanceada. Presença de distúrbio alimentar obesidade. Nega tabagismo e etilismo.. Não possui alergia. Em uso de: Insulina NPH 20 unidades pela manhã e 15 unidades a noite, Amiodarona 200 mg 12/12 horas, Marevan 1 comp.1/2 por dia, Losartana 50 mg, 12/12, Caverdilol 40 mg 2 vezes ao dia, Cincordil 40 mg, Furosemida 40 mg 2 comp pela manhã, Aldactone 25 mg pela manhã, Digoxina 0,25. 4.3.3 Antecedentes obstétricos G7PN6C1A0 4.3.4 Exame físico completo Consciente, ativa, colaborativa, orientada em tempo e espaço. Anictérica, acianótica, 32 corada, hidratada. Tórax simétrico. Mamas volumosas. Eupnéica, MVFSA, taquicárdica, arrítmica, hipertensa, PA: 150 x 90. Membros superiores ausente de dor e edema. Abdome globoso, ausente de massas palpáveis. Membros inferiores com edema ++/4+, mobilidade comprometida em auxílio de andador. Membros inferiores possuem úlceras infectadas, abertas, crônicas. No membro inferior direito, na região do maléolo interno possui uma lesão já com o tecido fibrótico, com 4 cm de descamação na pele peri ulceral. Na região posterior da perna acima do tornozelo possui uma úlcera de aproximadamente 6 cm com tecido de granulação desvitalizado e fibrina ao redor, bordas aderidas, pele peri ulceral hipocorada. Na região medial da perna possui pele hiperemiada com lesão de 2 cm aproximadamente com tecido epitelizado. No membro inferior esquerdo, no pé na região da falange proximal do IV dedo possui úlcera aproximadamente 2 cm, com tecido desvitalizado e fibrina. Região acima do tornozelo com ferida de tecido desvitalizado, com bordas irregulares com fibrina, pele peri ulceral endurecida, coloração hipocorada. Na região medial da perna tecido epitelizado com apenas 1 cm de descamação. Realizando curativo conforme a paciente, limpando com soro fisiológico a 9% a jato, passando em toda extensão neomicina, ocluindo com gaze e ataduras de crepom. 4.3.5 Fotografias dos membros inferiores paciente 2 Figura 6- Região tornozelo MIE Figura 7- MIE Fonte: próprio autor Fonte: próprio autor 33 Figura 8 – Região do tornozelo MID Figura 9 - MID Fonte: próprio autor Fonte: próprio autor 4.4 Análise da entrevista 4.4.1 Processo de adoecimento A percepção do processo de adoecimento tem como suporte a educação em saúde que cada paciente tem direito em se informar sobre determinada doença, para a devida aceitação, suas consequências na vida diária, influência na sua família e para um tratamento correto sendo fundamental para evitar deformidades e incapacidades (BRASILIA, 2008). Durante a entrevista, paciente 1 e paciente 2 relatam em forma muito resumida sem detalhes como e quando iniciou sua ferida, podemos perceber que é por falta de informação ou argumentação na seguinte pergunta. “Umas boia d’agua que arrebentou e deu essa ferida.” (p1) “Uai abriu um buraquinho e foi crescendo.” (p2) 34 4.4.2 Núcleo familiar O cuidador domiciliar de pacientes dependentes demanda de muita atenção, afeto e força, pois é uma tarefa de muita responsabilidade podendo ter algumas frustações. O núcleo familiar é um item básico no cuidado e atenção ao paciente, repercutindo de forma positiva na saúde do doente (ANTUNES et al, 2012). De acordo com os entrevistados, eles possuem um cuidador familiar que os ajuda nos afazeres domésticos e cuidados pessoais. “Minha esposa” (p.1) “Minha filha me ajuda” (p.2) 4.4.3 Autonomia e autocuidado Segundo a teoria de Orem, o autocuidado é descrito pelas ações que o próprio indivíduo consegue realizar para sua sobrevivência em manter a vida, a saúde e o bem estar. E o conceito de autonomia é o ato ou efeito de se autogovernar, ser autônomo nas suas ações e escolhas. É reconhecer que o paciente tem domínio de sua própria vida, limitando a influência dos outros na vida da pessoa doente(SILVA, MURAI; 2012). Após o relato dos pacientes, devido às úlceras presentes nos membros inferiores, eles necessitam de muita ajuda em casa, pois não conseguem ser independentes mais, são dependentes em quase todas as ações. O autocuidado sempre deve estar presente na pessoa, o cuidador deve atuar apenas onde possui a limitação do paciente. “Praticamente todas preciso de ajuda, sozinho consigo muito pouco...” (p.1) “Preciso de ajuda do caminhador pra fazer almoço, preciso escorar nele, lavar vasilha escorar nele, andar dentro de casa é nele e a hora que eu saio minha filha me ajuda.” (p.2) Como exemplo de autonomia paciente 1, conseguiu adaptar seu carro mesmo tendo o membro inferior esquerdo amputado, consegue dirigir e tem muito orgulho do que faz. “Eu consigo dirigir, consigo dirigir sozinho”. (p.1) 35 4.4.4 Percepção dos portadores a assistência de enfermagem Os pacientes que precisam de ajuda do profissional de saúde têm uma tendência a ter confiança, e por com um cargo de poder, pelo fato de estar sendo cuidado, e ser dependente daquele serviço. Com isso o relacionamento entre profissional e paciente tem um benefício entre a terapia e a cura, sendo uma transferência positiva. Os pacientes que se sentem negativados pela própria doença, tratam o profissional com regressão, possuem sentimento de desconfiança e desprezo. Essa transferência ocorre pela falta de compreensão do cuidado e não possui cooperação durante o tratamento, ocasionando o atraso do tratamento (MARTINS,2006). Os entrevistados relatam que o trabalho dos profissionais de saúde que realizam o curativo: “Muito bom, muito bão, excelente”. (p.1) “Muito bom”. (p.2) Diante da realidade desses assistidos durante todo o processo do estudo de caso, percebo que podem estar omitindo informações. O paciente 2 é atendido em seu próprio domicílio por não conseguir se locomover à unidade de saúde. É uma paciente com úlceras recidivadas, possui o negativismo no tratamento, fazendo com que os profissionais não façam o trabalho correto diariamente, deixando a paciente à mercê do seu próprio cuidado liberando apenas os materiais. Os profissionais afirmaram que quando marcam consulta para a paciente ela não comparece, então não tem nenhum compromisso com a atual doença. O atendimento à saúde é imprescindível à eficácia técnica e científica e o cuidado ao portador de ferida precisa ser um atendimento mais humanizado, exigindo do profissional orientar, tirar todas as dúvidas, proporcionando segurança e tranquilidade ao paciente (FARIAS et al, 2014). Em uma análise curiosa da seguinte pergunta: o que poderia mudar na assistência ao paciente que possui uma úlcera? Paciente 1 possui uma percepção em que o cuidado depende de cada um, se quiser melhorar, ser curado vai depender da pessoa se ajudar e não do cuidador. Quando a pessoa possui uma doença e consegue se superar, tiver a autoestima boa, o cuidado se torna cada vez melhor. 36 “... cada um é cada um, como se diz se eu melhorar vai ser uma benção, vou acelerar aqui e posso até jogar bola”. (p1) 4.4.5 Interações sociais Para a pessoa que possui uma lesão que ocasiona uma deformidade, os sentimentos que ela possui muitas das vezes são ocasionados pela cultura em que a sociedade contemporânea está inserida, o preconceito. O preconceito e seus efeitos prejudicam o processo saúde-doença (LARA et al, 2011). Paciente 1 afirmou que não sofreu nenhum preconceito e que nada mudou na sua vida depois da ferida, ele não se apegou às consequências e não se afastou de ninguém. “...não adianta ficar com constrangimento, ficar chorando, pra mim não significou nada” (p.1) Já a paciente 2 é mais lamuriosa, são muitos anos com a lesão, já possui aspecto depressivo. “...as pessoas ficam olhando pra minha perna, reparando a gente.” “...Mudou muita coisa, a gente só fica triste né, vê todo mundo sair de casa e a gente não pode sair”. 37 5 DISCUSSÃO A realização desse trabalho permitiu que os objetivos fossem alcançados através dos relatos dos entrevistados, ficando claras as perspectivas dos pacientes em relação ao processo assistencial de enfermagem na atenção primária, as alterações do estilo de vida e os sentimentos que os envolve devido à presença da lesão. Na percepção dos pacientes o processo assistencial é muito bom, não obteve nenhum ponto negativo. Na análise da pesquisa podemos perceber que os entrevistados não quiseram falar o que realmente achavam por medo de serem prejudicados em sua assistência devido à presença do profissional de saúde na sala no momento da entrevista. Os resultados apontam que há uma carência de informações dos entrevistados sobre todos os questionamentos, pois todas as perguntas foram respondidas muito rapidamente sem muitas palavras, devido ao grau de escolaridade ser deficitário. Em comparação entre os dois pacientes há disparidades entre si, como o sexo, a idade, duração da lesão. O paciente 1 é do sexo masculino, tem aproximadamente 1 ano que possui a ferida, 49 anos, membro esquerdo amputado, tem autoestima alta, tem esperanças de melhora e conseguiu se readaptar a nova situação de vida. Já a paciente 2 tem 68 anos é do sexo feminino, tem a ferida há 10 anos e esta recidiva com frequência. Tem características depressivas, já não aguenta mais se tratar, tudo que o povo fala para passar na lesão ela utiliza. Estas ações pioram o prognóstico de melhora da ferida e ela já perdeu todas as expectativas. A análise dos dados aponta que quando a pessoa tem pensamento positivo e não se entrega à doença, associado ao conhecimento da patologia e adesão ao tratamento corretamente, a evolução para ela é satisfatória. Conforme a análise do referencial teórico, o tratamento da úlcera deve ser analisado por uma equipe multidisciplinar, tendo o enfermeiro para avaliar o estado geral do paciente, a escolha da cobertura correta e registrar todas as ações de enfermagem propondo um resultado esperado. O estudo de caso mostra a realidade em que ocorre o tratamento, em ambos os casos são avaliados por uma técnica de enfermagem, utilizando o material em 38 que a unidade possui podendo ser o correto ou não e a enfermeira não tem contato com esses pacientes. O paciente 1 tem a orientação de um angiologista, tendo a prescrição das coberturas, mas a unidade não tem o material necessário, sendo preciso o paciente comprar e devido a situação financeira ser precária, o curativo não é realizado corretamente, atrasando todo o processo de cicatrização. Já a paciente 2 não tem prescrição médica, utiliza pomadas de costume e a técnica de enfermagem não pode passar a cobertura correta por que a mesma não deixa, cronificando mais a lesão. 39 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim, diante dessa pesquisa, ficou claro a importância que deve ser dada pela equipe de enfermagem que está envolvida no processo saúde-doença-cuidado ao paciente que possui úlcera de perna, dando uma assistência de qualidade ao cliente incluído todos os aspectos tanto físico como psíquico. Portanto esse estudo apontou para relevância em se conhecer o paciente que é acometido por uma ferida pois sem cuidados apropriados pode durar muito tempo, ocasionando várias consequências ao paciente como angústia, dor, sofrimento, medo e desesperança. Mas esse estudo também sugere que com um bom cuidado da enfermagem todos esses sentimentos podem ser amenizados. Conforme o que a literatura preconiza sobre o tratamento das úlceras, na realidade muitas das vezes não ocorre, as coberturas utilizados são incorretas, retardando o processo cicatricial. O paciente que possui uma úlcera podendo ser arterial, venosa ou neuropática, tipos que foram citados nessa pesquisa, tem como direito serem avaliados multidisciplinarmente para que o seu tratamento possa ter um prognóstico positivo e que não ocorra uma úlcera recidiva. Tendo como sugestão para a atenção básica se sistematizar para ter um melhor atendimento ao paciente acometido pela lesão, podendo diminuir a dor do cliente e o custo-benefício. 40 REFERÊNCIAS AIRES, M.M. Fisiologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. ABBADE, L.P.F; LASTÓRIA S. Abordagem de pacientes com úlcera de perna de etiologia venosa. Anais Brasileiros de Dermatologia. 2006. ANTUNES F et al. Vivência do cuidador familiar na prática do cuidado domiciliar ao doente crônico dependente. Cienc Cuid Saude. 2012. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de condutas para úlceras neurotróficas e traumáticas. Brasília, 2002 BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica: O que é Atenção Básica? Brasília, 2012. BORGES, E. L.; CALIRI, M. H. L.; HAAS, V.J. Revisão sistemática do tratamento tópico da úlcera venosa. Rev. Latino-Am.Enfermagem. 2007. BRITO, J. C. Cirurgia Vascular: Cirurgia endovascular e Angiologia. 2. ed. São Paulo: Revinter, 2008. CARMO S.S. et al. 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Acta Paul Enferm 2006. 42 Apêndice A - Termo de consentimento livre e esclarecido Pará de Minas 27 de julho de 2015 Título da Pesquisa: Tratamento de úlceras nos membros inferiores na atenção básica Nome do Pesquisador: Nayra Lopes Medina Nome da Orientadora: Edna Lúcia Campos Wingester Natureza da pesquisa: O Sr. está sendo convidado a participar desta pesquisa que tem como análise o tratamento de úlceras na atenção primária pelos profissionais de saúde e os processos assistenciais que o envolve. ___________________________________________________________________ 1. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo o sr. permitirá que o pesquisador faça perguntas referentes a seu histórico pessoal, sobre a moléstia atual. O sr. permitirá que tire fotografias da úlcera relacionada a pesquisa. O sr. tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo. Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone do pesquisador do projeto. 2. Sobre as entrevistas: As respostas serão gravadas. 3. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Os riscos e/ou desconfortos possíveis neste estudo pode ser de você ficar constrangido durante a entrevista. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade. 4. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente o pesquisador e o orientador terão conhecimento dos dados. 5. Benefícios: ao participar desta pesquisa o sr. terá benefício de contribuir para a melhoria da prestação de serviços destinados ao atendimento de portadores de úlceras na atenção básica. 43 6. Pagamento: O sr. não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem: 44 Consentimento Livre e Esclarecido Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. ___________________________ Nome do Participante da Pesquisa ______________________________ Assinatura do Participante da Pesquisa __________________________________ Assinatura do Pesquisador ___________________________________ Assinatura da Orientadora Para maiores esclarecimentos, entrar em contato com o pesquisador no endereço abaixo relacionado. Rua Ricardo Marinho, 110 - São Geraldo, Pará de Minas – MG, (37) 3237-2000 _________________________________________________ Assinatura do sujeito __________________________________________________ Assinatura do Pesquisador 45 Apêndice B 1- Você se lembra como e quando iniciou a ferida? 2- Quem te ajuda nos afazeres de casa e cuidado pessoal? 3- Quais as tarefas que você consegue fazer sozinho e para quais precisa de ajuda? 4- O que você acha do trabalho dos profissionais de saúde que fazem seu curativo? 5- Você já sofreu algum preconceito por ter esta ferida? 6- O que mudou na sua vida e da sua família após aparecer esta ferida? 7- Quantas pessoas moram na sua casa? 8- Na sua opinião, o que poderia mudar na assistência as pessoas que tem ferida 46