DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: DA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA À PRÁTICA EDUCATIVA BELUCE, Andrea Carvalho - UEL [email protected] VASCONCELLOS, Maura Maria Morita– UEL [email protected] Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A formação pedagógica do docente universitário traz implicações diretas para a sua prática educativa, construção de sua identidade profissional e qualidade do ensino superior. O presente estudo, resultado de trabalho final de disciplina de um Programa de Mestrado em Educação de uma universidade pública, realizou uma revisão de literatura que objetivou levantar as reflexões, pesquisas e produções científicas nacionais que trataram da formação pedagógica e da prática educativa do docente universitário no Brasil. Para tanto, foram pesquisadas publicações nacionais nas bases de dados do Scielo, Lilacs e INEP, no período compreendido entre os anos de 2006 e primeiro semestre do ano de 2011, e selecionados os estudos que abordaram a formação pedagógica do professor do ensino superior. Priorizaramse àqueles que discutiram o espaço indicado pela legislação vigente e vivenciando na maioria das instituições do ensino superior para esta formação docente, os cursos de pós-graduação stricto sensu de mestrado e doutorado. As análises partem do pressuposto teórico que concebe a formação de professores como uma área de investigação e de práticas que no âmbito da didática e da organização escolar estuda os processos pelos quais os professores adquirem ou melhoram seus conhecimentos para intervirem profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da instituição (PACHANE, 2006). Os resultados obtidos com esse estudo possibilitaram inferir que os desafios concernentes à docência no ensino superior implicam questões diversas que requerem urgentes discussões da comunidade acadêmica em prol de uma política de formação que contemple o desenvolvimento profissional dos professores universitários. Ainda que, se observe um avanço tímido nas discussões sobre essa problemática educacional, faz-se urgente uma política de formação do professor universitário que contemple o desenvolvimento profissional dos docentes que atuam no ensino superior. Palavras-chave: Ensino Superior. Stricto sensu. Formação pedagógica. Introdução Na literatura nacional, são recentes os estudos que discutem a formação do professor universitário. Comumente, os estudos que tratavam da formação pedagógica de professores destinavam-se a questões relativas à docência no ensino fundamental, tratando a formação do 1040 docente universitário dispensável, visto que os requisitos para atuar nesta modalidade de ensino concentravam-se na titulação acadêmica e na experiência profissional. (PACHANE & PEREIRA, 2004, BELEI, GIMENIZ-PASCHOAL, NASCIMENTO & NERY, 2006) Segundo estudos realizados por Andre, Simões, Carvalho e Brszenzinski (1999), com base em análises em dissertações e testes até o final da década de 90, a temática referente à docência no ensino superior foi pouco explorada. Lacerda (2009), em um mapeamento realizado a partir dos anos 90 até o ano de 2008 junto à base de dados da CAPES, identifica um aumento, ainda que tímido, de estudos realizados, a partir do ano de 2000. Estes estudos evidenciam a importância da formação pedagógica do professor universitário, demonstrando que assim como a formação exigida para as demais modalidades de ensino, o ensino superior também requer um preparo direcionado e específico que assegurem à ação educativa deste docente a legitimidade e a qualidade profissional (BELEI et al, 2006, CUNHA, 2006, SEVERINO, 2006, LACERDA, 2009). O reconhecimento desta formação pedagógica, segundo Cunha (2009), advém principalmente da natureza complexa da docência que requer para sua efetivação uma prática educativa comprometida com os processos de ensino e aprendizagem exigindo do professor o acionar de uma multiplicidade de saberes. Pachane e Pereira (2004) atribuem à cultura universitária o crédito que relega para um segundo plano a tarefa de ensinar e indicam três fatores que sustentam esta concepção cultural e influenciam diretamente a formação do docente universitário: a ênfase na preparação e condução de pesquisas em detrimento da formação pedagógica, a valorização da produção acadêmica que é indicada como principal critério avaliativo de produtividade e qualidade docente e a omissão da legislação vigente quanto regularização da formação pedagógica do professor universitário. Esta cultura universitária reforça crenças como “quem sabe fazer, sabe ensinar” (CUNHA, 2009) ou colocações como “eu também trabalho, além de dar aulas” (ASSIS & CASTANHO, 2006). Assis e Castanho (2006) também discorrem quanto à LDBEN 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) destacando que a legislação vigente não se preocupa em determinar como exigência a formação pedagógica do docente do ensino superior, limitando-se a citar um possível espaço de formação, ou seja, estabelecendo que o exercício do magistério superior seja realizado, prioritariamente, em programas de mestrado e doutorado. Para Cunha (2009) este posicionamento legal alenta a concepção de que a 1041 formação do professor universitário restringe-se ao domínio de conhecimentos específicos de sua área de atuação profissional. Belei et al (2006) analisando o perfil do docente universitário, apontam que esses professores, atuantes em diferentes áreas (medicina, direito, engenharia e outras) e com formação acadêmica específica compartilham como característica comum uma formação didático-pedagógica insuficiente, ou até mesmo inexistente. Corroborando este apontamento, Pachane e Pereira (2004) relatam que os estudantes comumente se queixam que os professores universitários dominam os conteúdos científicos e as especificidades profissionais da sua área de atuação, contudo, não conseguem sistematizar as informações e transmiti-las viabilizando a compreensão, a aprendizagem dos alunos. Os cursos de graduação, em sua maioria, não ofertam o mínimo de formação pedagógica necessária à docência e conforme relatam Belei et al (2006) e as próprias instituições de ensino superior limitam aos cursos de pós-graduação a disciplina de Didática. Amaral (2004), atribui esse cenário a um discurso político que “demonizou” a Didática conferindo-lhe um caráter essencialmente tecnicista. A autora explicita que muitos educadores, ansiando realizar competentemente uma ação docente crítica e reflexiva, pautada na concepção da educação como prática social, equivocaram-se e confundiram técnicas de ensino com tecnicismo. Abdalla (2010) ressalta a importância da Didática na formação do professor universitário contribuindo diretamente para a construção da sua identidade profissional, articulando prática e experiência pessoal em atividades referentes ao ensino e à pesquisa. Nesse sentido, Amaral (2004) destaca que é preciso instrumentalizar a prática docente, investindo em fundamentos didáticos que irão trabalhar técnicas de ensino necessárias à competência do professor, sem, contudo, desconsiderar as dimensões sociais, políticas, epistemológicas e históricas da educação. Diante do exposto, este estudo, objetivou realizar uma revisão de literatura, levantando reflexões, pesquisas e produções científicas nacionais publicadas nos últimos anos que trataram da formação pedagógica e da prática educativa do professor universitário no Brasil. Método Esta revisão de literatura levantou reflexões, estudos e pesquisas nacionais referentes à formação pedagógica do docente universitário no Brasil, no período compreendido entre os 1042 anos de 2006 e primeiro semestre do ano de 2011. As bases de dados utilizadas nesta pesquisa foram Scielo, Lilacs e INEP, utilizando para tanto, descritores, palavras-chave e assuntos em consonância com esse estudo, no caso, “docência no ensino superior” mais derivadores do tema. Foram realizadas também, buscas na internet em referências bibliográficas dos estudos selecionados. Os estudos incluídos nesta revisão foram considerados a partir da correspondência entre formação pedagógica e docência no ensino superior, e buscou-se priorizar àqueles que discutiram o espaço de formação do docente universitário, que é indicado pela legislação vigente e vivenciando na maioria das instituições do ensino superior (IES) nos programas de mestrado e doutorado. Docência no ensino superior: da formação pedagógica à prática educativa A área de formação de professores, segundo Pachane (2006) se preocupa em estudar os processos pelos quais os professores aprendem e desenvolvem sua competência profissional tanto individual quanto coletivamente. A formação de professores é uma área de investigação e de práticas que no âmbito da didática e da organização escolar estuda os processos pelos quais os professores adquirem ou melhoram seus conhecimentos para intervirem profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da instituição. Com base neste pressuposto, apresentamos a seguir, os resultados de nossa investigação. Cunha (2006) acompanhou e investigou as relações existentes entre o Exame Nacional de Cursos, o modelo de avaliação implantado pelo MEC e os impactos nos saberes construídos pelos professores universitários e na reconfiguração da docência na universidade. O estudo mobilizou dez cursos de graduação, distribuídos em três universidades localizadas no estado do Rio Grande do Sul, sendo uma pública e duas privadas. A partir de entrevistas intensivas, o estudo investigou as trajetórias acadêmicas e experiências educativas dos professores participantes, assim como a percepção destes sobre os processos de avaliação externa, com especial enfoque no “provão”, como é conhecido o exame do MEC que avalia os cursos do ensino superior. Os resultados obtidos evidenciaram que há relação entre a reconfiguração da prática educativa e a construção do saberes selecionados e construídos pelos professores e o modelo avaliativo analisado. A pesquisadora explicita ainda que foi possível perceber as influências indiretas desta avaliação na ação docente do professor universitário, que demonstraram concordância com a lógica competitiva no processo de qualificação universitária. 1043 Preocupadas com a posição do professor universitário com relação às exigências dos novos paradigmas emergentes, voltados para a inovação de qualidade, Assis e Castanho (2006) refletiram sobre a concepção atual do ato de inovar, a qual tem aparecido intrinsecamente ligada à pesquisa, sobre o papel do professor no ensino superior, a partir das perspectivas legais e pedagógicas e sobre o trabalho inovador de qualidade do docente universitário. Para esta pesquisa, as autoras problematizaram a prática docente no ensino superior ressaltando as exigências de inovação de qualidade para qual vem sendo submetida sem, no entanto, deixar de destacar as latentes necessidades didático-pedagógicas deste profissional. Assis e Castanho (2006) chamaram a atenção para o fato de que inovar não se traduz necessariamente em qualidade, pois para tanto é preciso que se atenha a forma como é trabalhado o processo de inovação que pressupõe originalidade, consciência da realidade e crítica transformadora. Nesse sentido, o estudo evidenciou que é preciso que o professor universitário inove a sua ação docente de forma a qualificá-la, refletindo sua prática docente e possibilitando um ensino que atenda às necessidades acadêmicas e profissionais do aluno. Para tanto, concluíram as autoras, é preciso garantir a esse profissional uma formação didático-pedagógica direcionada a sua área de atuação que proporcione os saberes, competências e habilidades necessárias a uma atuação docente inovadora de qualidade. Desvelar os elementos do processo histórico de profissionalização do ensino superior no Brasil estabelecendo uma relação com os atuais problemas apresentados no processo de ensino aprendizagem foi o objetivo de Belei, Gimezes-Paschoal, Nascimento e Nery (2006). A revisão de literatura realizada pelas autoras considerou as características da criação dos cursos superiores no Brasil, a expansão no ensino superior e a avaliação da aprendizagem no ensino superior. Os resultados deste estudo evidenciaram que as carências didáticopedagógicas da formação do docente universitário contribuem para agravar a situação atual do ensino nacional, visto que sem nenhuma capacitação específica continuam a reproduzir o ensino tradicional, ensinando da mesma forma como foram ensinados. O estudo salienta a necessidade de uma profunda reflexão sobre formação pedagógica deste profissional buscando desenvolver iniciativas que ocasionem mudanças urgentes neste cenário educacional. O estudo realizado por Barreto e Martinez (2007) investigou as possibilidades de professores atuantes nos cursos de pós-graduação stricto sensu tornarem sua prática educativa 1044 e orientação acadêmica um processo de ensino-aprendizagem criativo e inovador. Participaram da pesquisa quatro professores de pós-graduação stricto sensu do município de Salvador, Bahia. Embora estes professores fossem todos da área de ciências humanas, apresentavam uma trajetória acadêmica bastante diversificada e uma vasta experiência profissional, reconhecida, principalmente, a partir do tempo de atuação desses docentes que variou entre 10 e 30 anos para a graduação e entre 5 a 12 anos para a pós-graduação stricto sensu. Fundamentando-se na abordagem da pesquisa qualitativa, a análise de estudos de casos foi realizada em cinco fases e contou com três instrumentos individuais e uma técnica de trabalho em grupo. A seleção de instrumentos e técnicas de pesquisa referenciou-se em González Rey, cujo processo de análise das informações pauta-se no caráter construtivointerpretativo do conhecimento. As pesquisadoras confirmaram com este estudo que é possível, por meio de um programa de formação continuada, a implementação de uma prática educativa e orientação acadêmica promotoras da criatividade e inovação. Vale ressaltar que ao final do estudo, os professores reconheceram a necessidade de uma prática educativa que trabalhe os conteúdos com criatividade, assim como, do aprimoramento constante dos processos de orientação acadêmica. Evidenciou-se também a necessidade de investimento na formação docente nos programas de pós-graduação stricto sensu por meio de estratégias didáticas que viabilizem a criatividade dos estudantes. Contribuir para a discussão e compreensão das concepções adjacentes à formação pedagógica dos professores universitários que fundamentam sua ação docente foi o que objetivou o estudo realizado por Lacerda (2009). A autora confrontou o paradigma positivista de formação de professores a partir da uma abordagem reflexiva que levanta dois tópicos para discussão: a problemática da formação pedagógica do professor do ensino superior e as concepções inerentes a esta formação. Este estudo ressaltou o desprestígio da docência no ensino superior face à ênfase na pesquisa acadêmica, contribuindo para uma dissociação entre ensino e pesquisa respaldada pela omissão da LDB nº 9395/96 e apresentou algumas das concepções teóricas, que fundamentam as propostas para essa formação e que vêm sendo consideradas pelas instituições. A autora analisou as concepções comportamentalista, personalista, artesanal tradicional e a orientada para pesquisa e reflexão. O estudo evidenciou que a formação pedagógica realiza-se na reflexão crítica sobre a prática educativa, e na socialização dos 1045 saberes e que sua implementação deve ser considerada dentro de um plano macroinstitucional articulado a partir de uma política de desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional As experiências e investigações realizadas por Beraldo (2009) como docente do ensino superior na Universidade Federal do Mato Grosso motivaram a realização de um estudo cujo objetivo foi analisar a formação de docentes universitários a partir do levantamento de três questões: a importância dada a esta formação na pauta de discussões dos problemas educacionais, as instituições responsáveis pela promoção desta formação e os desafios que se apresentam nos cursos de pós-graduação referentes a essa temática. Os resultados que respondem a primeira das questões levantadas pela autora, que analisaram a pouca importância conferida à formação do professor universitário nas temáticas educacionais, apontam cinco fatores causais: a crença de que os conhecimentos específicos da disciplina sejam suficientes para formação do professor universitário, a cisão entre ensino e pesquisa alimentada pela supervalorização da pesquisa em detrimento do ensino, o descaso da legislação vigente em regularizar e legitimar a formação da educação superior, o pouco interesse demonstrado nos estudos e pesquisas no que se concerne à formação e trabalho do docente desta modalidade educacional e a compreensão insuficiente do que significa docência no ensino superior. A resposta à segunda pergunta levantada por Beraldo (2009) quanto à competência da promoção da formação docente dos professores que atuam no ensino superior, destacou que a legislação vigente indica que a formação do docente universitário deva ser realizada prioritariamente nos cursos de pós-graduação lato ou stricto sensu. Diante desta situação, a autora relatou que os programas de mestrado e doutorado buscaram como alternativa para ofertar esta formação pedagógica o estágio da docência. Os resultados deste estudo indicaram que o estágio resultou em uma alternativa válida, contudo não se constituiu como uma solução suficiente para sanar o problema. Os resultados que responderam a terceira e última pergunta apresentada pela autora indicaram a complexidade dos desafios que os programas de pós-graduação têm a enfrentar quanto à formação do docente universitário e apontaram que para solucionar essa problemática, quatro aspectos principais devem ser considerados: a ampliação do acesso aos programas de pós-graduação em educação, a assunção de que a titulação é insuficiente para formação docente, a superação da dicotomia ensino-pesquisa e o rompimento com a lógica produtivista que permeiam os atuais processos avaliativos. 1046 Mapear as diferentes alternativas e espaços de formação profissional do docente do ensino superior foi o objetivo principal da pesquisa realizada por Cunha (2009) que também buscou contribuir para promoção de discussões e reflexões sobre esta temática no contexto das políticas da pós-graduação. Algumas questões nortearam este estudo: O que leva um professor da educação superior, com origem em áreas específicas, procurar uma formação de mestrado e/ou doutorado no campo da educação? O que os motivam? Como os Programas de Pós-Graduação acolhem esses estudantes? A pesquisadora iniciou este estudo realizando um levantamento de toda a produção (dissertações e teses) que indicava a interface do campo da educação com outras áreas acadêmicas da universidade. Um questionário, com perguntas abertas que buscaram cobrir as questões da pesquisa e identificar as motivações, percursos e impactos da formação dos docentes foi elaborado, testado por especialistas da área e enviado via online para uma seleção de docentes. Foram selecionados doze docentes universitários de diferentes áreas do conhecimento (arquitetos, médicas, informata, enfermeira, nutricionista, fisioterapeuta e docentes de matemáticas), sendo sete professores com titulação em mestrado e cinco em doutorado concluídos em cursos de pós-graduação de universidades do Rio Grande do Sul. Os resultados obtidos com os professores pesquisados referentes às motivações que os conduziram a buscarem um curso de pós-graduação em educação apresentaram razões de naturezas específicas. Entre as motivações apontadas, destacou-se a busca pela compreensão e aperfeiçoamento da sua prática docente, devido ao reconhecimento que os conhecimentos específicos da sua área não contemplavam os saberes necessários à docência. Os resultados da pesquisa instigaram ainda novas reflexões que visem a investigar se os cursos de pósgraduação em educação estão se reconhecendo enquanto espaço de formação desses professores universitários originários de diferentes áreas e quais medidas vêm realizando para atender essa demanda. O papel da Didática na formação de professores para educação básica e superior foi o que objetivou investigar a pesquisa interinstitucional realizada por Damis (2010) em três universidades. A pesquisa qualitativa coletou os dados utilizando a análise documental dos planos de ensino, a observação das aulas de Didática, entrevistas com os docentes que ministram essa disciplina e discussões de grupo focal com os estudantes dos cursos de licenciatura e pós-graduação. A partir dos resultados obtidos com este estudo, a pesquisadora apresentou uma constatação e a um pressuposto. Segundo Damis (2010), constatou-se com 1047 essa pesquisa de que o ensino da Didática apresenta uma prática sobre o ato de ensinar que se fundamenta na ação do docente para estimular a participação do estudante na aula. A pesquisadora relatou também que foi possível pressupor que a aula de Didática, abordada como um estudo sistemático sobre a arte de ensinar, expressa concepções de educação, de ensino, de aprendizagem, de sociedade, de mundo por meio das relações e ações que se estabelecem em um determinado momento e lugar. Discutir a formação de professores em nível superior foi o propósito do estudo realizado por Amaral (2010). Para tanto, a autora pautou-se nas contribuições que a Pedagogia e a Didática trazem à temática e nas reflexões realizadas ao longo de dez anos como docente do ensino superior da disciplina de Didática, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em cursos de licenciatura e cursos de Pós-Graduação em Educação (lato e stricto sensu). No decorrer do estudo, Amaral (2010) percorreu significados, contradições, desafios e perspectivas que perfazem os processos de formação de professores, destacando a “demonização” das técnicas de ensino, confusão realizada por muitos professores ao tratar técnica com o tecnicismo da ditadura militar, a resistência à formação pedagógica reforçada pela crença de que o dominar o conteúdo específico de uma determinada área é o suficiente para atura como docente, a pluralidade dos saberes dos docentes, os equívocos da avaliação e concluiu convocando os educadores a não somente pensar e discutir a Educação, mas, sobretudo, fazê-la. Analisar e refletir sobre as necessidades formativas dos docentes universitários, que se encontram no início da atuação profissional, foram os objetivos centrais da pesquisa realizada por Ferenc e Saraiva (2010). Neste estudo, as autoras analisaram o contexto de atuação docente, as modalidades de formação reclamada e as condições profissionais enfrentadas pelo professor universitário na atualidade. Ferenc e Saraiva (2010) aplicaram um questionário que investigou as necessidades formativas (pessoais e institucionais) apontadas pelos professores, em diferentes situações de sua atuação profissional, e os meios, condições ou ações formativas possíveis ao atendimento dessas necessidades. Os resultados obtidos a partir da análise dos dados coletados com a pesquisa indicaram como necessidade primordial a formação pedagógica, destacando como indispensáveis ao processo de formação profissional do docente universitário os cursos de metodologia do ensino e de didática. Os professores pesquisados sinalizaram também as possíveis ações que trariam contribuições à formação pedagógica e à prática educativa do professor universitário: 1048 cursos, oficinas e seminários sobre didática no ensino superior, encontros para trocas de experiências e interação entre colegas professores e entre instituições de ensino e replanejamento das atividades docentes objetivando disponibilizar um aumento de carga horária para o aperfeiçoamento e atualização profissional em detrimento de horas de trabalho destinadas a atividades administrativas ou burocráticas. Montagnini e Suanno (2011) preocuparam-se em contribuir com a formação continuada e pedagógica do docente universitário instigando a necessidade de se dialogar sobre a situação atual do ensino e da aprendizagem nos cursos de graduação. Ressaltaram que, ainda hoje, a universidade e a sociedade apresentam a crença de que a docência é um dom, e que essa crença fortalece o desprestígio desta no mundo acadêmico que considera suficiente à prática educativa o domínio de conhecimentos específicos de uma determinada área. As autoras destacaram a importância da formação pedagógica do professor universitário, que é realizada nos cursos de stricto sensu, nos programas de mestrado e doutorado, apresentando possíveis caminhos para esse viabilizar esse processo, dentre eles, a elaboração de um curso de Pedagogia Universitária. Montagnini e Suanno (2011) concluíram o estudo instigando as universidades a construírem espaços e projetos institucionais que promovam o diálogo e a reflexão sobre questões referentes ao ensino, a didática a formação e docência universitária. Considerações finais Considerando a relevância tema e a necessidade de estudos que investiguem e discutam a docência no ensino superior e as questões pertinentes a sua formação pedagógica, organização, legitimação e avaliação, são escassos os achados na literatura nacional, sobretudo àqueles que se atêm aos cursos de pós-gradução stricto sensu. Dentre questões apontadas junto aos estudos levantados, destaca-se o reconhecimento e a preocupação da necessidade de formação pedagógica ao professor universitário, que é realizada, conforme nos recomenda a legislação vigente, prioritariamente nos cursos de pósgraduação stricto sensu. Contudo, delegar aos cursos de mestrado e doutorado a incumbência de atender os docentes universitários, originários de diferentes cursos, no que concerne a sua formação pedagógica, tem se mostrado uma alternativa momentaneamente válida, conteúdo distante de ser reconhecida como a solução final para essa problemática educacional. Observa-se, na história educacional brasileira que a ênfase dos cursos de pósgraduação stricto sensu está na pesquisa e não na formação docente, cuja responsabilidade é 1049 habilitar o professor-aluno à compreensão do sistema educacional, da sua práxis educativa, dos processos e relações que perfazem o ensino e na aprendizagem e de tantas outras considerações referentes à docência. Entre múltiplas possibilidades de lidar com a complexidade da questão da capacitação docente, pode se inscrever a decisão institucional de inserir nos cursos de pós-graduação discussões que tratassem dessa questão específica, associada às políticas educacionais que dessem continuidade a isso. É possível inferir, a partir da revisão de literatura realizada neste estudo, que os desafios relativos à docência no ensino superior englobam uma série de questões que requerem a realização de revisões e discussões tanto pela legislação vigente como pela comunidade acadêmica. Ainda que, se observe um avanço tímido nas discussões sobre essa problemática educacional, faz-se urgente uma política de formação do professor universitário que contemple o desenvolvimento profissional dos docentes que atuam no ensino superior. REFERÊNCIAS ABDALLA, M.F. B. A didática e a formação do professor universitário: desafios e perspectivas. In: Congresso de 2010 da LASA (Associação de Estudos Latino-Americanos). Toronto, Canadá. Centro Internacional de Estudos em Representações Sociais e Subjetividade-Educação – CIERS - Ed/Fundação Carlos Chagas. Universidade Católica de Santos - UNISANTOS, 2010. Disponível em: http://lasa.international.pitt.edu/members/congress-papers/lasa2010/files/1226.pdf. Acesso em: 04 de julho de 2011. ANDRÉ, M. et al. Estado da arte da formação de professores no Brasil. Educação & Sociedade. Campinas, ano XX, n. 68, p. 301-309, dez. 1999. AMARAL, A. L. 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