Contribuição à História do Pensamento Geográfico: estudo do mapa de Ímola (1502) de Leonardo Da Vinci Stefan Valim Menke1 Instituto de Geociências – Unicamp 1 Objetivos O enfoque do presente trabalho recai sobre o conhecimento cartográfico de Leonardo da Vinci, num contexto de revalorização e redescoberta de pensadores clássicos, como Platão, Euclides, Ptolomeu, etc. É relevante lembrar que, apesar de pouco estudado, o período escolhido é de grande importância para a geografia (MORAES, 1989), em virtude de sua relevância no processo de formação da geografia moderna, e no âmbito da construção do método científico, que se dava simultaneamente ao avanço do capitalismo mercantil nas cidadesEstado da porção setentrional da atual Itália. O objetivo específico da pesquisa é a análise contextualizada do Mapa de Ímola, encomendado por César Bórgia em 1502, período em que Leonardo trabalhou como cartógrafo e engenheiro militar. Busca-se alcançar um entendimento da ligação entre a arte científica e o conhecimento geográfico do período abordado através da revalorização e redescoberta da Geographia de Ptolomeu, base de toda a formação da geografia (cartografia) moderna – obra esta aceita como pilar dos geógrafos e cosmógrafos renascentistas. O trabalho busca desmistificar Leonardo da Vinci como um gênio à frente de seu tempo ou acima da sociedade em que estava inserido. Materiais e Métodos Esta pesquisa tem como base metodológica a contextualização de Leonardo da Vinci inserido numa sociedade, num determinado contexto histórico - segunda metade do século XV e começo do século XVI - afetado por forças políticas, sociais, econômicas e culturais. Para tanto, recorre-se a uma vasta revisão bibliográfica, seja de textos em português, seja em outras línguas, seja de textos de História da ciência, de História da Geografia, ou de História geral. O mapa analisado – da cidade de Ímola – apresenta-se como um documento histórico, de acesso livre pela internet, sendo o tema e base desta pesquisa. Atualmente, o original pertence à coleção da Royal Library, Windsor Castle. Resultados e Discussão Os estudos permitem afirmar que o contexto em que o mapa de Ímola foi produzido era de grande instabilidade política com a invasão de César Bórgia aos territórios do atual norte da Itália, em 1502. Nesse ano, Leonardo produz o mapa de Ímola – o ponto situado na parte mais setentrional do território controlado por Bórgia (Clayton, 1996). A elaboração deste mapa seguiu preceitos teóricos de Leon Battista Alberti, com influência de teorias de projeção ptolomaicas. “Leonardo construiu o mapa a partir de uma combinação de distâncias medidas no solo e ângulos medidos de um ponto fixo (a torre do Palazzo Comunale no centro da encruzilhada), um método descrito por Leon Battista Alberti no seu Ludi mathematici de 1450” (CLAYTON, 1996, p.91). Alberti tem um débito com Ptolomeu, influenciando subseqüentemente Leonardo da Vinci. Entretanto, não deve ser descartada a idéia de que Leonardo tenha tido contato direto com o material de Ptolomeu, já que Florença foi um dos grandes centros de tradução e difusão da Geografia. Destaca-se a representação do rio Santerno (na parte meridional do mapa) transmitindo uma clara idéia de movimento e força da água, lembrando seus diversos estudos de observação desse meio fluido. Conclusões Leonardo da Vinci confeccionou o mapa de Ímola seguindo teorias e métodos para a representação da realidade característicos do período renascentista, ou seja, “naturalísticos”. Baseou-se em postulados de projeção e representação ptolomaicos. Referências Bibliográficas CLAYTON, M. Leonardo Da Vinci: A curious vision. Londres: Merrell Holberton Pub., 1996. KEMP, M. Leonardo da Vinci. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005 MORAES, A. C. R. A gênese da geografia moderna. São Paulo: Hucitec, 1989.